O documento discute como José Saramago representa personagens femininas em sua obra "Memorial do Convento". A rainha Maria Ana é retratada como infeliz em seu casamento sem amor com o rei, enquanto Blimunda é uma mulher livre que desafia os papéis de gênero da época através de seu amor com Baltasar.
2. A obra
• A obra percorre um período de
aproximadamente 30 anos na
história de Portugal durante a época
da Inquisição.
• O autor critica Portugal que
submetia o povo à exploração e à
miséria, apesar da riqueza fecunda
do país.
3. • As suas personagens estão
divididas entre a sofisticação
da Corte e a simplicidade da
vida popular. Nesses dois
grupos distintos, José
Saramago trata as
personagens femininas de
forma especial, mostrando
seus diferentes
comportamentos.
4. Maria Ana Josefa – Quem
Foi?
• Maria Ana Josefa, arquiduquesa de Áustria, era filha do
imperador Leopoldo I e da sua terceira mulher, a condessa
Leonor Madalena.
• Foi rainha de Portugal de 1708 a 1750, enquanto mulher
do Rei D. João V de Portugal. Três dos seus filhos
sentaram-se no trono: D. José, Rei de Portugal, D. Pedro e
D. Maria Bárbara, Rainha de Espanha pelo casamento.
• Muito culta, conhecia e falava alemão, francês, italiano,
espanhol, latim e português, além de perceber inglês.
5. Como é representada?
• A personagem D. Maria Ana é apresentada como uma rainha triste e insatisfeita que vive um casamento de
aparências, onde as regras e as formalidades se estendem até o leito conjugal, fazendo do ato de amor com
el-rei um encontro frio.
• Essa carência deixa à rainha somente a possibilidade de realizar os seus desejos através dos sonhos noturnos
que tem com o seu cunhado. E é também por essas fraquezas e por se sentir culpada.
• D. Maria Ana vive pressionada pela responsabilidade de dar herdeiros ao marido, já que a culpa de tal ainda
não ter acontecido é dela, pois a esterilidade como o narrador lembra ironicamente, não é problema dos
homens.
• , fazendo do ato de amor com el-rei um encontro frio, programado e indiferente, que tem como maior
objetivo o milagre da fecundação, o que levou el-rei a fazer uma promessa de levantar um convento em
Mafra, caso a conceção ocorresse.
6. Blimunda sete luas – Quem foi?
• A personagem Blimunda é usada pelo autor para mostrar
suas incredulidades em relação ao clero, à nobreza, aos
falsos conceitos morais da época.
• Blimunda aparece na obra fortemente caracterizada por
Saramago como sensual e inteligente.
• É através desta fictícia, (que nunca existiu na realidade) ,
personagem que o autor trata as grandes dúvidas e as
grandes inquietações do ser humano em relação à morte,
ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
7. Como é representada?
• Jovem mulher do povo, tem a capacidade de ver as pessoas por dentro e perceber as
suas vontades.
• Afirma o narrador que estes poderes excecionais a heroína de “Memorial do
Convento” ganhou na barriga da mãe, onde esteve o tempo todo de olhos abertos.
Conheceu Baltasar num auto-de-fé e logo ali nasceu um amor para a vida.
• Ela representa a vida do povo. Blimunda é verdadeira, sem subterfúgios, mulher de
poderes incomuns.
• Blimunda é o que é. Apesar da vida simples e pobre, à ela é dado o direito ao amor,
à liberdade, à plenitude.
8. Rainha vs
Blimunda
nas suas
relações
• .
O Rei e a rainha tinham um casamento
de conveniência, sem amor; com
obrigações e datas marcadas.
Ao longo do romance o narrador opõe
a vivência amorosa destes 2 casais:
Blimunda e Baltazar e D. João com D.
Maria Ana.
As diferenças entre ambos são evidentes
e tornam-se ainda mais acentuadas com
a caricatura e tom irónico usado pelo
narrador na descrição do casal real.
Enquanto Baltazar e Blimunda
partilham um amor-perfeito,
entregando-se um ao outro sem olhar a
datas ou lugares, o rei e a rainha
encontra-se unidos por um casamento
de conveniência que tem como
objectivo a obtenção de herdeiros para a
coroa portuguesa.
Na relação dos monarcas tudo é
assumido como um compromisso e, até
as relações sexuais, são para o rei uma
obrigação que ele cumpre em datas
previamente definidas.
Outro aspecto que distingue os dois
casais é a fidelidade.
O facto de Baltazar apenas se dar a
Blimunda opõe-se às constantes traições
praticadas por D. João V.
9. Conclusão
•O papel de objeto de subserviência e passividade que a rainha representa, limitada
unicamente à condição de reprodutora, é descrito exemplarmente na seguinte
passagem: “porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há de ser
naturalmente suplicante”.
•Blimunda tem uma postura totalmente em desacordo daquela que se esperaria de
uma mulher em suas representações tradicionais, uma personagem era dona de
decisão sobre o espaço corporal.