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O Homem Cordial
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No Brasil sempre imperou o tipo primitivo de
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vos faz do isolamento um cativeiro”.
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Nosso pendor pelo uso dos diminuitivos.
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A tendência para a omissão do nome de
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as barreiras determinadas pelo fato de
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umas das outras.
O Homem Cordial
O desconhecimento de qualquer forma de
convívio que não seja ditada por uma ética de
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brasileira que raros estrangeiros chegam a
penetrar com facilidade. Esta é tão
caraterística essa maneira de ser.
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Um negociante de Filadélfia tinha um espanto:
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Nosso velho catolicismo, tão caraterístico, que
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quase desrespeitosa. Em São Paulo
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Todos, fidalgos e plebeus, querem estar em
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religioso.
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No Brasil foi justamente o nosso culto sem
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Uma religiosidade de superfície, menos atenta
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incompreensão de toda verdadeira espiritua-
lidade; transigente, por isso mesmo que pronta
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que se levasse a produzir qualquer moral
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O Homem Cordial
Assim, nenhuma elaboração política seria
possível fora dela [Religiosidade], fora de um
culto que só apelava para sentimentos e os
sentidos e quase nunca para a razão e a
vontade.
O Homem Cordial
A democracia no Brasil foi sempre um
lamentável mal-entendido. Uma aristocracia
rural e semifeudal importou-a e tratou de
acomodá-la, onde fosse possível, aos seus
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que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da
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O Homem Cordial
No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito
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O Homem Cordial: a contribuição brasileira para a civilização

  • 1. O Homem Cordial Sérgio Buarque de Holanda de sua obra Raízes do Brasil
  • 3. No Brasil sempre imperou o tipo primitivo de família patriarcal. Por isso aos detentores de posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, não era fácil distinguir entre o domínio do privado e do público. O Homem Cordial
  • 4. Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão é de interesse particular. A escolha dos homens que vão exercer cargos públicos faz-se de acordo com a confiança pessoal e não em suas capacidades. Foi a família sem dúvida que mais exprimiu força e desenvoltura na sociedade. O Homem Cordial
  • 5. Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será a cordialidade – daremos ao mundo o “homem cordial”. (Cordialidade esta, aqui, no sentido de coração, homem emocional, passional e não de gentil, homem que age ao torrencial das emoções pouco dado ao racional). O Homem Cordial
  • 6. A polidez, a reverência e o ritualismo japonês, maneiras sociais de mostrar respeito. Nenhum povo esta mais distante dessa noção ritualística da vida do que o brasileiro. Nossa forma é o contrário da polidez. A polidez, de algum modo, é organização de defesa ante a sociedade. O Homem Cordial
  • 7. No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão é antes um viver nos outros. Nietzsche: “Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”. O Homem Cordial
  • 8. Nosso pendor pelo uso dos diminuitivos. O Homem Cordial
  • 9. A tendência para a omissão do nome de família no tratamento social. Em regra é o nome de batismo que prevalece. O uso do prenome importa em abolir psicologicamente as barreiras determinadas pelo fato de existirem famílias diferentes e independentes umas das outras. O Homem Cordial
  • 10. O desconhecimento de qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que raros estrangeiros chegam a penetrar com facilidade. Esta é tão caraterística essa maneira de ser. O Homem Cordial
  • 11. Um negociante de Filadélfia tinha um espanto: no Brasil como na Argentina, para conquistar um freguês tinha a necessidade de fazer dele um amigo. O Homem Cordial
  • 12. Nosso velho catolicismo, tão caraterístico, que permite tratar os santos com uma intimidade quase desrespeitosa. Em São Paulo conhecem a história de Cristo que desce do altar para sambar com o povo. O Homem Cordial
  • 13. Todos, fidalgos e plebeus, querem estar em intimidade com as sagradas criaturas e o próprio Deus é um amigo familiar, doméstico e próximo. Oposto do cavaleiro, de joelhos, vai prestar sua homenagem, como a um senhor feudal. Um horror à distância até no domínio religioso. O Homem Cordial
  • 14. No Brasil foi justamente o nosso culto sem obrigações e sem rigor, intimista e familiar, um culto que dispensava no fiel todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si mesmo, o que corrompeu, pela base o nosso sentimento religioso. O Homem Cordial
  • 15. Uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto e em sua rancorosa incompreensão de toda verdadeira espiritua- lidade; transigente, por isso mesmo que pronta para acordos, ninguém pediria, certamente, que se levasse a produzir qualquer moral social poderosa. O Homem Cordial
  • 16. Assim, nenhuma elaboração política seria possível fora dela [Religiosidade], fora de um culto que só apelava para sentimentos e os sentidos e quase nunca para a razão e a vontade. O Homem Cordial
  • 17. A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos e privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas. O Homem Cordial
  • 18. No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. O Homem Cordial