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1
O pensar e a redação científica
Antonio Nunes Barbosa Filho*
Centro de Tecnologia e Geociências
Universidade Federal de Pernambuco - Brasil
nunes@ufpe.br
* O autor expressa seu agradecimento à Livraria Almedina
pela gentil permissão para a reprodução desta imagem,
coletada em seu sítio internet [http://www.almedina.net].
Ao longo de quase duas décadas
como professor universitário, ano após ano,
período letivo após outro, costumeiramente,
ouço queixas e lamentos de estudantes da
graduação e mesmo da pós-graduação (lato
e stricto sensu) acerca de suas dificuldades
para escreverem em geral e, em especial,
para redigirem textos científicos, sejam
artigos, simples comunicações e até teses e
dissertações.
São verdadeiras confissões face ao
reconhecimento de que a habilidade para a
escrita e, por conseguinte, para a
comunicação nesta forma é tão importante
quanto todas as demais desejáveis a um bom
profissional. E mais, todos os que professam
tal sentimento, reconhecem que aqueles que
têm tal habilidade, ou seja, escrevem bem,
têm larga vantagem competitiva sobre os
demais, inclusive sobre si mesmos.
Para a construção do presente texto e
para a discussão a respeito de reflexões
muito pessoais acerca desta dificuldade e de
como superá-las, este ensaio está estruturado
em três partes:
a) A primeira tenta lançar luzes à
compreensão acerca da dificuldade
da escrita em geral para jovens
cientistas em formação;
b) A segunda traz à cena um conjunto
de seis deveres do pensar científico,
premissas básicas sobre a particular
maneira de um pesquisador se
colocar diante de um texto científico,
como requisitos a serem perseguidos
e necessariamente observados para a
sua devida construção e validação;
c) Na terceira destas, à guisa de
tentativa de convergência entre as
duas anteriores, tento explicitar
alguns elementos finais acerca da
redação de textos científicos.
Parte I:
Creio que a dificuldade para a escrita
apresentada pelos alunos se origina em
quatro lacunas de sua formação e que podem
ser sanadas por cada um destes, pelos
próprios interessados. Duas destas são de
caráter geral e outras duas mais são
específicas.
A primeira delas diz respeito ao
exercício rotineiro da escrita. O treinamento,
a repetição, o esforço para a melhoria e o
aprimoramento não podem ser relegados a
um plano inferior. Escrever bem requer
prática, aprendizado. Se possível, cotidiana.
Tal dificuldade ganha corpo,
principalmente, em razão da limitação
temporal imposta para a conclusão da
redação de trabalhos científicos e isso
implica, na maior parte das vezes, numa
tentativa exasperada de fazê-lo de forma
abrupta, concentrando-se e se dedicando
Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato.
2
esforços àquele projeto em curto espaço de
dias (quando não horas), na expectativa
ilusória de que o conteúdo e a forma final
sejam alcançados de maneira satisfatória ao
colocar-lhe o ponto final. Pouco há tempo
para se refletir sobre o que se escreve e,
igualmente, para a forma como se escreve.
Contribui ainda para a redução da
qualidade textual o restrito domínio do
vernáculo, seja em seus aspectos estruturais
ou gramaticais, seja quanto ao léxico. Pouco
se conhecem as regras para uso da língua e o
acervo de palavras necessário para o uso
desejado em relação a um dado contexto.
Acredito que este empobrecimento da
capacidade de se comunicar seja decorrente,
principalmente, mas não exclusivamente, do
reduzido hábito e acesso à variedade de
leituras desde a primeira infância e que,
infelizmente, na maior parte das vezes, se
perpetua até a idade adulta. Esta é a segunda
lacuna de caráter geral.
Já para a redação de textos
científicos, além da habilidade geral para a
escrita (o que poderá contribuir
significativamente para a adequação e
sucesso do texto à finalidade que se destina)
será preciso conhecer as características
requeridas para esta natureza textual e, antes
de tudo, desenvolver uma maneira bem
própria de pensar que conduzirá,
inevitavelmente, à redação de textos de
acordo com tais requisitos.
Podemos, então, sintetizar dizendo
que a escrita de um texto delineado por um
pensar científico conduzirá,
necessariamente, à redação de um texto
científico. Sendo assim, tal se processará de
maneira natural.
Ainda hoje, muitas pessoas
acreditam que a redação de um texto
científico difere substancialmente de um
texto geral. Talvez seja resquício de uma
época em que os “não-iniciados” em
determinado assunto ou conhecimento –
muitas vezes também desprovidos da
capacidade de comunicação escrita e, por
conseguinte, da própria leitura –
necessitavam da ajuda daqueles que
dominavam a linguagem em uso. Surgiu,
neste sentido, o estereótipo de que estes
eram “seres especiais”, acima e distanciados
dos “seres comuns”, posto que mais
próximos dos saberes e, portanto, dos deuses
e, como tal, devendo ser reverenciados. E
receber reverências sempre foi sinal de
status e de poder. De tal modo, não era
incomum utilizarem frases lapidares,
erudição ostentosa, ornamentos de estilo e
tudo o mais que buscasse assegurar tal
posição, o que contribuiu e ainda contribui
para que boa parte da população seja
mantida à margem da educação formal em
muitos países do mundo.
É de senso comum afirmar que
persistem e diariamente surgem jargões e
expressões típicas ou específicas de
determinadas áreas do conhecimento.
Todavia, é indiscutível também que é
imprescindível alargar o acesso aos
conhecimentos e que tal intento – como
fator contribuinte para uma humanidade
igualitária e democrática – somente se
alcançará com o uso de uma linguagem
clara, sem distinções exclusivistas ou
privilegiadora de poucos. O que, sem
dúvida, poderá ser obtido em todas as
línguas, face à riqueza expressiva de cada
uma destas. Do contrário, significa dizer que
o pretenso cientista que não consiga fazê-lo
desconhece a própria língua.
E é esta, justamente esta, a terceira
lacuna na formação do candidato a redigir
um bom texto científico. Desconhecer a sua
própria essência.
Bem, então nesta transição entre a
redação geral e a de um texto científico
convém conhecermos a natureza e as
particularidades deste último.
Em primeiro lugar cabe destacar ou
distinguir esta adjetivação: científico. E,
para tanto, devemos formular uma
conceituação ou entendimento sobre o que
entendemos por “Ciência”.
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3
A ciência nada mais é do que a busca
do conhecimento sobre as coisas. Não
apenas o conhecimento já existente, mas
numa perspectiva de ir sempre além do que
está anteriormente estabelecido. Significa,
assim, buscar atingir uma pretensão de
universalidade ou o domínio total sobre
todos os aspectos dos objetos de um estudo,
sejam seres vivos ou inanimados,
sociedades, enfim, da vida em seus mais
distintos prismas.
Então, a tarefa da “Ciência” – e dos
cientistas, por sinal – é, partindo de um
ponto já conhecido, buscar alargar a
fronteira do saber avançando em direção ao
desconhecido, em moto ininterrupto,
contínuo, até desvendar por completo o
conjunto de conhecimentos sobre
determinado objeto de estudo.
Este avançar constante, no desejo de
reduzir a porção do “desconhecido” no
universo das “verdades sobre as coisas”, de
modo a, se possível, um dia, torná-lo
inteiramente conhecido, ou seja, alcançando
a totalidade ou universalidade do
conhecimento a respeito deste objeto, é a
força motriz dos trabalhos científicos. É o
que podemos, por fim, definir como a
pretensão de domínio irrestrito dos saberes.
Se pudermos expressar tal busca em
forma de um gráfico, acredito que será
conforme abaixo:
Todavia, uma dúvida persistirá
indefinidamente: quando teremos a certeza
de que conhecemos tudo o que há para se
saber sobre determinada coisa? A resposta é
simples e direta, conforme afirmamos ao
inicio deste parágrafo: jamais saberemos!
Esta é a essência da Ciência, sua qualidade
(ou beleza) fundamental: sempre nos
conduzir a algo novo, que nos seduzirá, que
nos encantará e que nos desafiará
permanentemente enquanto seres providos
de consciência e de capacidade de reflexão e
de interpretação. Senão, vejamos: basta uma
pergunta aparentemente banal para
desconstruir qualquer pretensão em sentido
contrário.
Afinal, quem é você? Você, em sua
totalidade!
E quando nos expressamos sobre a
totalidade das coisas, de modo que não haja
nenhum aspecto a ser descoberto no domínio
do conhecimento acerca destas, significa
dizer que alcançamos a “verdade” sobre as
coisas, posto que, saberemos nos expressar
com propriedade absoluta sobre todas as
suas dimensões, de maneira inconteste.
Talvez surja, neste momento, em seu
pensar, um novo questionamento: Mas esta
forma de se posicionar diante do mundo diz
respeito exclusivamente aos cientistas e isto
se passa distante de mim!
Eu diria que na formulação deste
pensamento há um equívoco fundamental e
este, por sua vez, dificulta sobremaneira a
redação de textos científicos, seja em
qualquer grau ou intuito, conforme anotei ao
início deste artigo.
Em geral, pessoas que estão a
elaborar um texto científico para as mais
distintas finalidades, não introjetam a ideia
de que justamente por estarem escrevendo
um texto de caráter científico, exatamente
por isso, devem assumir que, nesta tarefa,
efetivamente, o são. Este fenômeno, que
chamo de “distanciamento” ou de “negação
do cientista interior”, é a quarta e última
lacuna de que gostaria de comentar na
primeira parte deste texto.
“O conhecido”
“O desconhecido”FRONTEIRA
ORIGINAL
Ciência
NOVA
FRONTEIRA
υ“O conhecido”
“O desconhecido”FRONTEIRA
ORIGINAL
Ciência
NOVA
FRONTEIRA
υ“O conhecido”
“O desconhecido”FRONTEIRA
ORIGINAL
Ciência
NOVA
FRONTEIRA
υυ
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4
Há no imaginário da população a
equivocada percepção de que cientista é
aquele ser de cabelos grisalhos,
desgrenhados e por pentear, quase sempre
excêntrico – quando não completamente
maluco – e que vive e trabalha recluso, à
parte da sociedade e, por conseguinte, do
convívio social. Convenhamos, é realmente
desejoso – quiçá imperioso – afastar de si tal
rótulo.
Talvez esta imagem – que considero
grotesca, mais que irreal – seja originada nos
longínquos filmes de ficção científica (ou
quem sabe, de terror!) e se perpetue à custa
da falta de esclarecimentos à grande
população e de incentivos à carreira
científica em nossa recente história
acadêmico-universitária.
Em algumas ocasiões em que
ministrei aulas ou seminários sobre questões
relacionadas com o tema “metodologia da
ciência”, quando questionei estudantes que
se preparavam para escrever suas
monografias se se consideravam cientistas,
quase que unanimemente a resposta foi:
Não! Surpreendente?!? Também não.
Talvez predomine a noção de
cientista profissional, aquele que transforma
em sua razão de viver o seu labor e que vive
em função deste, pelo que os aspirantes à
redação de textos científicos preferem não se
identificar com, se inserir entre estes,
negando tal condição, posto que indesejada
a própria percepção estigmatizada, da qual,
inconscientemente, partilha.
Suas pretensões científicas se
deparam com um quase intransponível
obstáculo: o desejo de concluir o texto
científico, muitas vezes significando uma
possibilidade de ascensão social, e a
necessidade de negar a sua inserção em um
grupo social desvalorizado – ou
marginalizado em decorrência da construção
de imagem equivocada – pela sociedade em
que vive.
É preciso, portanto, desconstruir esta
figura no âmbito popular, para que, mesmo
aqueles que não se tornem “cientistas
profissionais”, possam expressar satisfação
em sê-lo ao momento em que exercem tal
papel social, ainda que em determinada e
reduzida parcela de suas vidas.
Para concluirmos esta primeira parte
deste texto, trago para reflexão uma bela
frase do escritor Gustave Flaubert (1821 -
1880) que nos ensina que: “Quanto mais os
telescópios forem aperfeiçoados, mais
estrelas surgirão”.
Parte II:
Pois bem, nesta segunda parte deste
breve relato, voltaremos as atenções para a
maneira do cientista se colocar diante do
desafio de trazer a público um texto que
expresse adequadamente os estudos que
desenvolveu (ou que pretender vir a
desenvolver). Considero que para que tenha
melhores chances de lograr êxito neste
intuito, o cientista deverá estar atento para
atender ou cumprir seis deveres
fundamentais na redação do texto. Vejamos
quais são estes.
Sendo impossível abarcar todos os
aspectos de um objeto a ser cientificamente
tratado, se requer uma delimitação precisa, a
definição das dimensões a partir das quais se
pretenderá estudá-lo e se dissertar, narrar a
respeito. Tal definição de fronteiras dentre
os distintos ramos e campos de
conhecimento é o que convencionamos
chamar de “Recorte epistemológico”.
Quanto mais abrangente o número destas
fronteiras, dentre as incontáveis arestas do
polígono dos saberes, mais complexos serão
os estudos a serem conduzidos e também
mais amplos em sua duração e em recursos
requeridos para a sua execução, vez que uma
cifra maior de elementos e de contextos
deverão ser verificados no seu decorrer, o
que, igualmente, amplia as chances de
insucesso e de falhas na sua condução, desde
a sua concepção e construção, passando por
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sua implementação e, por último, nas
conclusões que possa vir a alcançar.
Assim sendo, para ampliar as
chances de que todo o estudo transcorra a
contento, se impõe ao pesquisador o
primeiro de seus deveres: humildade no
estabelecimento de seus horizontes, a cada
estudo a ser conduzido, de modo a permitir,
pouco a pouco, um avançar contínuo e
seguro. Reside, então, justamente aí a
importância deste recorte ou demarcação de
fronteiras preliminares visando a novos
horizontes.
Já que a expectativa central da
ciência – e de cada estudo conduzido em seu
nome – é avançar rumo à totalidade do
conhecimento acerca de cada um dos mais
distintos objetos, impõe-se ao cientista um
segundo dever, que diz respeito às
contribuições a serem prestadas por seu
estudo à humanidade: ampliar o
conhecimento acerca do objeto tratado,
mesmo que estendendo apenas uma das
fronteiras limitantes em direção para além
de seu ponto anteriormente estabelecido.
Com o estabelecimento desta nova
posição fronteiriça, impõe-se que esta seja
estável e que tão logo quanto possível possa
ser consolidada, de maneira a não permitir
retrocessos, neste avançar tão desejado.
Desta forma, poderá ser considerada como
definitiva. Para tanto, se requererá, como um
terceiro dever, que conduz desde a fronteira
anterior até esta mais recente possa ser
seguido ou trilhado por outrem além daquele
que a determinou, estabeleceu. Dizemos,
então, que este deve ser reproduzível. Ou
seja, que outros que venham a adotá-lo
possam alcançar o mesmo ponto final desta
jornada, de idêntica maneira, incluindo o
desprendimento de esforços em condições
similares.
Se o estudo deve acrescentar novos
saberes, é preciso a cada nova proposta
estabelecer os limites da nova fronteira a ser
buscada. Ou seja, a meta a ser perseguida,
ainda que esta não venha a ser alcançada por
completo, observando-se o primeiro dever
de adequação de magnitude de expectativas,
ou, mesmo, que seja ultrapassada em seu
transcurso.
O partir de um ponto já estabelecido,
confirmado e o trilhar em direção a uma
meta por um percurso que pode ser
reproduzido por terceiros, assegurando
resultados uniformes ou compatíveis com o
atingido pelo pesquisador original, configura
o que denominamos de “Método” e será
descrito em um capítulo próprio no trabalho
a ser redigido. O grande desafio do cientista
é, portanto, construir e descrever, de
maneira consistente, o caminho (hodos) que
o levará a alcançar a meta (Método = meta +
hodos).
Como este caminhar, desde o seu
início até o seu ponto final, deve ser
registrado na forma de texto – de que
estamos tratando ao longo deste ensaio –, e
que este não pode se desconstituir em si
mesmo, desde o primeiro contato dos
futuros leitores com este, ou seja, com o seu
título, que tem o intuito ou o desejo de
informar, com clareza e exatidão, de que
trata em seu conteúdo, atraindo o interesse
destes para o seu teor, até o seu desfecho,
onde se espera tenha conseguido cumprir o
prometido àqueles que sobre este se
debruçaram, surge, assim, o quarto dever
para o cientista.
E, então, em que consiste este dever?
Como explicitamos ao longo deste
escrito, para que o leitor de um texto
científico se dê por satisfeito, não apenas a
redação geral deve ser adequada, com o uso
de um vocabulário apropriado, com correção
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
“META”
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
Fronteira
Atual
Fronteira
Buscada
Desafio
“META”
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gramatical etc. Se faz necessário também,
que sendo este posto à prova, questionado –
e esta é uma das principais funções do texto
científico, submeter-se (ou ao seu redator) à
avaliação dos pares da Academia –, este
deverá ser capaz de se sustentar, de receber
valor de credibilidade. Ou seja, que seja
sustentável, mereça o reconhecimento de
validade, seja provedor de confiança para
aquele que dele se utilizar. Enfim, que tenha
sustentabilidade.
E esta sustentabilidade se dará em
dois níveis, quais sejam:
a) Intrínseca – de modo que o texto
não se desconstitua em si mesmo,
em toda a extensão de sua redação,
desde o título até a última linha de
sua conclusão;
b) Extrínseca – incorporando e
demonstrando serem elementos
confiáveis as referências ou fontes
externas para os dados ou
informações que não forem originais
do estudo. E isto se obtém na
própria literatura anteriormente
revisada, anotada e devidamente
registrada no texto, segundo normas
de citação, direta ou indireta,
conforme o caso.
O quinto dever do cientista funciona
como um contrapeso entre um possível
excesso de ambições, de um lado, e, de
outro, a acomodação que poderá se abater
sobre o cientista. Este é o dever de
adequação temporal. Ou seja, de observar a
relação entre os objetivos traçados para um
estudo (e a pertinente redação do respectivo
texto científico) e o tempo disponível para a
sua consecução. Assim, caberá ao cientista
ter sempre em mente o requisito da
correspondência no tempo entre os
propósitos estabelecidos e o horizonte
efetivamente existente para torná-los
factíveis (e tal, inclui necessariamente, a
avaliação dos recursos requeridos e a
disponibilidade destes para uso imediato ou
quando demandados).
O sexto dever, por sua vez, diz
respeito à capacidade de prospectar, apontar
ou oferecer novos caminhos a serem
trilhados, para que ele próprio ou outros
pesquisadores possam deslocar, mais uma
vez, a fronteira do conhecimento ainda mais
em direção ao desconhecido, reduzindo a
sua proporção no universo do conhecimento.
Por esta razão, todos os textos científicos
devem indicar oportunidades ou
questionamentos a serem descortinados em
estudos futuros. A cada novo estudo, o
cientista realiza esforços para colocar-se
sobre o muro fronteiriço do conhecimento.
Ao atingi-lo, deve ser capaz, portanto, de
olhar para frente e indicar que rumos
deveremos seguir.
Até aqui discorremos acerca dos seis
deveres que devem orientar o pensamento
científico em sua busca pela verdade das
coisas (ou dos objetos e objetivos de seus
estudos). Surgirá desta feita, um novo
questionamento: como dar vida ao estudo e
ao texto que dele resultará, como forma de
trazê-lo ao mundo científico e/ou ao grande
público?
Parte III:
No intuito de cumprir o primeiro
dever, o cientista deverá delimitar o seu
estudo. Esta delimitação ou recorte
epistemológico, como antes já referido, se
dará em três níveis: um macro, um micro e
um intermediário que servirá de elo entre os
dois anteriores. A tarefa preliminar
consistirá, portanto, em estabelecer a grande
área de conhecimento, a partir da qual se
realizará a revisão da literatura em direção
ao nível mais específico ou ponto focal do
estudo. Ou seja, aquele sobre o qual o
estudioso debruçará todos os seus esforços
no sentido de alargar a fronteira do
conhecimento a seu respeito.
Podemos fazer uma analogia entre
estes três níveis com uma casa: uma base ou
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alicerce, as paredes e, por fim, o telhado.
Sem uma base bem constituída ou paredes
fortes, a casa não se sustentará e, tampouco,
o telhado que a distinguirá entre as demais
de certa localidade não se fará notar. Do
contrário, esta será notada ao longe com
todo o esplendor do telhado que fará com
que pretensos visitantes se encantem com a
casa como um todo e não apenas com o
telhado que lhe chamou a atenção.
Como exemplos breves dessa
estrutura em três níveis, podemos citar:
a) Direito Civil – Contratos – Seguros
industriais;
b) Ergonomia – Antropometria –
Diferenças individuais;
c) Literatura – Teoria literária – Contos
infantis.
Tem-se, então, uma sugestão de
afunilamento ou aprofundamento do
conteúdo a ser tratado no estudo, saindo-se
da amplitude mais abrangente até se atingir
o elemento individualizado no qual se
deterá, mais especificamente, o pesquisador.
Se a amplitude definida não for
suficiente para a individualização precisa do
objeto de estudo podemos fazer novo
aprofundamento, também em três níveis,
como se nos servindo de uma lente de
aumento ampliássemos a visão do
detalhamento. Retomando-se os exemplos
anteriores, poderemos ter:
a) Contratos – Seguros Industriais –
Seguros Ambientais na Indústria;
b) Antropometria – Diferenças
individuais – A influência da
gestação;
c) Teoria Literária – Contos Infantis –
Arquétipos femininos.
E assim faremos sucessivamente até
especificarmos ou determinarmos
adequadamente o campo focal do estudo.
Será sempre nesta estrutura em três níveis
que se desenvolverá a construção da
investigação e, por conseguinte, a redação
do trabalho científico resultante.
Para cumprir o segundo dever o
pesquisador deverá, ao final do estudo, ter
acrescido algum conhecimento àquele
anteriormente disponível. Este acréscimo,
por mínimo que seja, será uma contribuição
original no sentido que, inédito, auxiliará no
desbravamento do desconhecido, colocando-
se um novo passo percorrido rumo à
“verdade”.
A “nova verdade” buscada pelo
pesquisador (ou objetivo geral do estudo)
deverá ser alcançada percorrendo-se,
segundo um método determinado,
superando-se ou ultrapassando-se cada um
das “verdades parciais” anteriormente
conhecidas, que em conjunto e ao lado da
contribuição original compreendem
objetivos específicos do estudo.
O atendimento ao terceiro dever
deverá assegurar a capacidade de
reprodução do estudo, desde o seu ponto de
partida, indicando o caminho trilhado até as
conclusões que foram alcançadas. Fornece
ao estudo em desenvolvimento o que se
convenciona chamar de “bases”, sendo
elemento fundamental para a sua
sustentação, quando posto à prova, sujeito à
validação ou exame, conferindo-lhe a
sustentação interna.
Como bem sabemos, todo avançar
que se deseja sólido deve se assentar em
alicerces ou pontos de partida firmes. É
preciso, portanto, formar esta base a partir
de todo o conjunto de dados que possamos
levantar a respeito do objeto a que nos
dedicaremos, ainda que nem todas estes se
convertam em informações úteis aos
propósitos que futuramente estabeleceremos,
mas se tal se concretizar, lá já estarão
disponíveis para tanto. Assim sendo, a
priori, nenhum destes deve ser descartado
como inútil ou impróprio. A esta etapa de
levantamento denominamos de “Revisão da
literatura” ou “Estudo (ou Estado) da arte”
e fornecerá subsídios para o estabelecimento
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8
do ponto de partida e mesmo para o
caminhar em direção à fronteira que
desejamos ampliar.
O método, por sua vez, a trajetória a
ser percorrida, com a descrição das
atividades pertinentes a cada uma das etapas
a serem satisfeitas, deverá ser definido de
acordo com a natureza do objeto de estudo e
a prospecção que se deseja realizar deste (os
objetivos delineados)1
.
O quarto dever, em sua porção
extrínseca, deve ser cumprido à custa de um
sistema estruturado de validação que inter-
relaciona o saber e o pensar do autor com
aqueles de outros autores, ainda que
discordantes. Este sistema é o que
denominamos de normas para citação e
referenciação bibliográfica. No Brasil este
sistema é definido e regulado pelas normas
NBR 10520 e NBR 6023, respectivamente,
da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
A observância deste sistema, além de
contribuir para oferecer a devida
rastreabilidade de determinadas informações
e/ou posicionamentos, serve de condição
básica para assegurar a inexistência de
plágio e para a atribuição do devido crédito
autoral, ou seja, do reconhecimento da
contribuição de terceiros ao estudo em tela,
requisitos fundamentais de um trabalho
acadêmico-científico, sem o que este não
poderá ser validado, posto que, nesta
situação, lacunas quanto à autoria de
terceiros constituem mais que meras
infrações, uma vez que tipificadas como
verdadeiro crime na legislação brasileira
1
Este texto não se trata de um artigo sobre
metodologias de pesquisa, pelo que recomendo aos
leitores, caso julguem necessário, busquem dentre os
diversos textos específicos disponíveis para tal fim.
(Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 –
Lei de Direitos Autorais).
O atendimento ao quinto dever, que
impõe ao cientista um senso de objetividade
temporal, reforçando a ideia do avançar
contínuo, em pequenos e sucessivos passos,
exige objetividade na formulação dos
propósitos da pesquisa, confrontando-se
estes com os recursos disponíveis para tanto.
Embora horizontes de maior
amplitude possam ser buscados, para a sua
adequação temporal, se requer que haja a
sua estratificação em (sub)metas
individualizadas que devem ser tratadas
como (sub)projetos, integrados e
coordenados direcionados a um fim comum.
Assim, se estabelecerá um equilíbrio
entre a prudência – que visa proporcionar
um avançar sólido – e a ousadia que fará o
cientista trilhar novos caminhos ainda não
percorridos, experimentar novos saberes e,
por fim, consolidá-los.
O sexto dever será tanto melhor
satisfeito quanto o autor do estudo
acadêmico tenha capacidade de prospectar
novos horizontes para o seu trabalho, fruto
de indagações pessoais, de questionamento
de terceiros (colegas de grupos de pesquisa,
membros de bancas examinadoras, revisores
de revistas científicas etc.) ou de quaisquer
outros indivíduos que possam levá-lo a
perceber novas nuances ou dimensões até
então não tratadas ou de novas
possibilidades em face de um refinamento,
desdobramento ou mesmo reconstrução sob
nova perspectiva do trabalho concluído ou
em curso. Certamente que quanto mais
experiente for este autor, maior será a
tendência para que surjam maiores e mais
apropriadas extrapolações, sendo certo
também que, inquietações bem próprias da
juventude e da inexperiência podem
descortinar novos horizontes a serem
trilhados.
A incerteza de que os objetivos
traçados serão alcançados e, mesmo diante
VP1 VP2 VP3 VPn-2 VPn-1 VPn
Objetivos específicos
...
“Verdades parciais”
Ponto de
partida
Ponto de
chegada
(pretendido)
Contribuição
original
VP1 VP2 VP3 VPn-2 VPn-1 VPn
Objetivos específicos
...
“Verdades parciais”
Ponto de
partida
Ponto de
chegada
(pretendido)
Contribuição
original
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desta, a obstinada busca para alcançá-los –
ainda que no caminho descobertas de outras
naturezas possam ter lugar, redirecionando
todo o estudo e, até mesmo, a vida
profissional dos cientistas – os torna pessoas
a quem se deve admiração e respeito. Não
obstante possam não lograr o êxito esperado
dedicam imenso esforço aos objetivos de
seus estudos e, por diversas ocasiões, se teve
notícia de havê-los superado e em muito.
Como bem pontua o jornalista e
filósofo espanhol José Ortega Y Gasset
(1883-1955) “Pouco se pode esperar de
alguém que só se esforça quando tem a
certeza de vir a ser recompensada”. O
verdadeiro profissional sente mais prazer
por sua obra do que pelos benefícios, de
qualquer natureza e grandeza, que esta possa
lhe proporcionar.
Tudo se inicia quando somos meros
aprendizes. Em meus estudos de graduação
tive a felicidade de ter bons mestres, na
essência da palavra. Hoje, na posição de
mestre, mais do que professor universitário,
tento retribuir ao mundo acadêmico e à
sociedade em geral um pouco da
generosidade e dos ensinamentos que deles
recebi. E com toda certeza posso expressar o
sentimento que abaixo transcrevo de um dos
discursos que proferi na condição de
paraninfo de uma turma de concluintes dos
cursos de engenharia da Universidade
Federal de Pernambuco, da qual tenho
orgulho de ser professor:
“Não há nada mais motivador para
um pesquisador de que ver o seu
aprendiz encantar-se com a mais
óbvia das descobertas, porque isso
significa que ele terá muito mais
estímulo para ir além e buscar
descobrir, até mesmo, o infinito!”
Por último, a título de conclusão,
podemos assumir que para a realização de
um bom trabalho acadêmico, dentre os quais
a redação de um texto científico, três
qualidades são fundamentais ao pesquisador:
paciência, determinação e fé!
Paciência para saber percorrer,
paulatinamente, cada uma das etapas à
adequada consecução dos objetivos
traçados;
Determinação para persistir na
caminhada, apesar das dificuldades de todas
as ordens que, porventura, possam se
apresentar durante sua execução; e,
Fé, como fixação na verdade a ser
alcançada, a ser buscada, com a certeza de
que esta será atingida face à dedicação dos
esforços devidos, cumpridos os deveres aqui
estabelecidos.
Sugestões de Leitura:
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4.
ed. Lisboa: Edições70, 2009.
BORGES, José Souto Maior. Ciência Feliz.
3. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2007.
CALVINO, Ítalo. Porque ler os clássicos?
São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
_____. Seis propostas para o próximo
milênio. 3. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e
mudança social. Brasília: EdUNB, 2001.
HACKING, Ian. Por que a linguagem
interessa à filosofia? São Paulo: EdUNESP,
1999.
MAINGUENEAU, Dominique. Cenas de
enunciação. São Paulo: Parábola, 2008.
POINCARÉ, Henri. O valor da ciência. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1995.
POPPER, Karl. Alógica da pesquisa
científica. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1998.

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O pensar e a redacao cientifica antonio nunes

  • 1. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 1 O pensar e a redação científica Antonio Nunes Barbosa Filho* Centro de Tecnologia e Geociências Universidade Federal de Pernambuco - Brasil nunes@ufpe.br * O autor expressa seu agradecimento à Livraria Almedina pela gentil permissão para a reprodução desta imagem, coletada em seu sítio internet [http://www.almedina.net]. Ao longo de quase duas décadas como professor universitário, ano após ano, período letivo após outro, costumeiramente, ouço queixas e lamentos de estudantes da graduação e mesmo da pós-graduação (lato e stricto sensu) acerca de suas dificuldades para escreverem em geral e, em especial, para redigirem textos científicos, sejam artigos, simples comunicações e até teses e dissertações. São verdadeiras confissões face ao reconhecimento de que a habilidade para a escrita e, por conseguinte, para a comunicação nesta forma é tão importante quanto todas as demais desejáveis a um bom profissional. E mais, todos os que professam tal sentimento, reconhecem que aqueles que têm tal habilidade, ou seja, escrevem bem, têm larga vantagem competitiva sobre os demais, inclusive sobre si mesmos. Para a construção do presente texto e para a discussão a respeito de reflexões muito pessoais acerca desta dificuldade e de como superá-las, este ensaio está estruturado em três partes: a) A primeira tenta lançar luzes à compreensão acerca da dificuldade da escrita em geral para jovens cientistas em formação; b) A segunda traz à cena um conjunto de seis deveres do pensar científico, premissas básicas sobre a particular maneira de um pesquisador se colocar diante de um texto científico, como requisitos a serem perseguidos e necessariamente observados para a sua devida construção e validação; c) Na terceira destas, à guisa de tentativa de convergência entre as duas anteriores, tento explicitar alguns elementos finais acerca da redação de textos científicos. Parte I: Creio que a dificuldade para a escrita apresentada pelos alunos se origina em quatro lacunas de sua formação e que podem ser sanadas por cada um destes, pelos próprios interessados. Duas destas são de caráter geral e outras duas mais são específicas. A primeira delas diz respeito ao exercício rotineiro da escrita. O treinamento, a repetição, o esforço para a melhoria e o aprimoramento não podem ser relegados a um plano inferior. Escrever bem requer prática, aprendizado. Se possível, cotidiana. Tal dificuldade ganha corpo, principalmente, em razão da limitação temporal imposta para a conclusão da redação de trabalhos científicos e isso implica, na maior parte das vezes, numa tentativa exasperada de fazê-lo de forma abrupta, concentrando-se e se dedicando
  • 2. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 2 esforços àquele projeto em curto espaço de dias (quando não horas), na expectativa ilusória de que o conteúdo e a forma final sejam alcançados de maneira satisfatória ao colocar-lhe o ponto final. Pouco há tempo para se refletir sobre o que se escreve e, igualmente, para a forma como se escreve. Contribui ainda para a redução da qualidade textual o restrito domínio do vernáculo, seja em seus aspectos estruturais ou gramaticais, seja quanto ao léxico. Pouco se conhecem as regras para uso da língua e o acervo de palavras necessário para o uso desejado em relação a um dado contexto. Acredito que este empobrecimento da capacidade de se comunicar seja decorrente, principalmente, mas não exclusivamente, do reduzido hábito e acesso à variedade de leituras desde a primeira infância e que, infelizmente, na maior parte das vezes, se perpetua até a idade adulta. Esta é a segunda lacuna de caráter geral. Já para a redação de textos científicos, além da habilidade geral para a escrita (o que poderá contribuir significativamente para a adequação e sucesso do texto à finalidade que se destina) será preciso conhecer as características requeridas para esta natureza textual e, antes de tudo, desenvolver uma maneira bem própria de pensar que conduzirá, inevitavelmente, à redação de textos de acordo com tais requisitos. Podemos, então, sintetizar dizendo que a escrita de um texto delineado por um pensar científico conduzirá, necessariamente, à redação de um texto científico. Sendo assim, tal se processará de maneira natural. Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que a redação de um texto científico difere substancialmente de um texto geral. Talvez seja resquício de uma época em que os “não-iniciados” em determinado assunto ou conhecimento – muitas vezes também desprovidos da capacidade de comunicação escrita e, por conseguinte, da própria leitura – necessitavam da ajuda daqueles que dominavam a linguagem em uso. Surgiu, neste sentido, o estereótipo de que estes eram “seres especiais”, acima e distanciados dos “seres comuns”, posto que mais próximos dos saberes e, portanto, dos deuses e, como tal, devendo ser reverenciados. E receber reverências sempre foi sinal de status e de poder. De tal modo, não era incomum utilizarem frases lapidares, erudição ostentosa, ornamentos de estilo e tudo o mais que buscasse assegurar tal posição, o que contribuiu e ainda contribui para que boa parte da população seja mantida à margem da educação formal em muitos países do mundo. É de senso comum afirmar que persistem e diariamente surgem jargões e expressões típicas ou específicas de determinadas áreas do conhecimento. Todavia, é indiscutível também que é imprescindível alargar o acesso aos conhecimentos e que tal intento – como fator contribuinte para uma humanidade igualitária e democrática – somente se alcançará com o uso de uma linguagem clara, sem distinções exclusivistas ou privilegiadora de poucos. O que, sem dúvida, poderá ser obtido em todas as línguas, face à riqueza expressiva de cada uma destas. Do contrário, significa dizer que o pretenso cientista que não consiga fazê-lo desconhece a própria língua. E é esta, justamente esta, a terceira lacuna na formação do candidato a redigir um bom texto científico. Desconhecer a sua própria essência. Bem, então nesta transição entre a redação geral e a de um texto científico convém conhecermos a natureza e as particularidades deste último. Em primeiro lugar cabe destacar ou distinguir esta adjetivação: científico. E, para tanto, devemos formular uma conceituação ou entendimento sobre o que entendemos por “Ciência”.
  • 3. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 3 A ciência nada mais é do que a busca do conhecimento sobre as coisas. Não apenas o conhecimento já existente, mas numa perspectiva de ir sempre além do que está anteriormente estabelecido. Significa, assim, buscar atingir uma pretensão de universalidade ou o domínio total sobre todos os aspectos dos objetos de um estudo, sejam seres vivos ou inanimados, sociedades, enfim, da vida em seus mais distintos prismas. Então, a tarefa da “Ciência” – e dos cientistas, por sinal – é, partindo de um ponto já conhecido, buscar alargar a fronteira do saber avançando em direção ao desconhecido, em moto ininterrupto, contínuo, até desvendar por completo o conjunto de conhecimentos sobre determinado objeto de estudo. Este avançar constante, no desejo de reduzir a porção do “desconhecido” no universo das “verdades sobre as coisas”, de modo a, se possível, um dia, torná-lo inteiramente conhecido, ou seja, alcançando a totalidade ou universalidade do conhecimento a respeito deste objeto, é a força motriz dos trabalhos científicos. É o que podemos, por fim, definir como a pretensão de domínio irrestrito dos saberes. Se pudermos expressar tal busca em forma de um gráfico, acredito que será conforme abaixo: Todavia, uma dúvida persistirá indefinidamente: quando teremos a certeza de que conhecemos tudo o que há para se saber sobre determinada coisa? A resposta é simples e direta, conforme afirmamos ao inicio deste parágrafo: jamais saberemos! Esta é a essência da Ciência, sua qualidade (ou beleza) fundamental: sempre nos conduzir a algo novo, que nos seduzirá, que nos encantará e que nos desafiará permanentemente enquanto seres providos de consciência e de capacidade de reflexão e de interpretação. Senão, vejamos: basta uma pergunta aparentemente banal para desconstruir qualquer pretensão em sentido contrário. Afinal, quem é você? Você, em sua totalidade! E quando nos expressamos sobre a totalidade das coisas, de modo que não haja nenhum aspecto a ser descoberto no domínio do conhecimento acerca destas, significa dizer que alcançamos a “verdade” sobre as coisas, posto que, saberemos nos expressar com propriedade absoluta sobre todas as suas dimensões, de maneira inconteste. Talvez surja, neste momento, em seu pensar, um novo questionamento: Mas esta forma de se posicionar diante do mundo diz respeito exclusivamente aos cientistas e isto se passa distante de mim! Eu diria que na formulação deste pensamento há um equívoco fundamental e este, por sua vez, dificulta sobremaneira a redação de textos científicos, seja em qualquer grau ou intuito, conforme anotei ao início deste artigo. Em geral, pessoas que estão a elaborar um texto científico para as mais distintas finalidades, não introjetam a ideia de que justamente por estarem escrevendo um texto de caráter científico, exatamente por isso, devem assumir que, nesta tarefa, efetivamente, o são. Este fenômeno, que chamo de “distanciamento” ou de “negação do cientista interior”, é a quarta e última lacuna de que gostaria de comentar na primeira parte deste texto. “O conhecido” “O desconhecido”FRONTEIRA ORIGINAL Ciência NOVA FRONTEIRA υ“O conhecido” “O desconhecido”FRONTEIRA ORIGINAL Ciência NOVA FRONTEIRA υ“O conhecido” “O desconhecido”FRONTEIRA ORIGINAL Ciência NOVA FRONTEIRA υυ
  • 4. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 4 Há no imaginário da população a equivocada percepção de que cientista é aquele ser de cabelos grisalhos, desgrenhados e por pentear, quase sempre excêntrico – quando não completamente maluco – e que vive e trabalha recluso, à parte da sociedade e, por conseguinte, do convívio social. Convenhamos, é realmente desejoso – quiçá imperioso – afastar de si tal rótulo. Talvez esta imagem – que considero grotesca, mais que irreal – seja originada nos longínquos filmes de ficção científica (ou quem sabe, de terror!) e se perpetue à custa da falta de esclarecimentos à grande população e de incentivos à carreira científica em nossa recente história acadêmico-universitária. Em algumas ocasiões em que ministrei aulas ou seminários sobre questões relacionadas com o tema “metodologia da ciência”, quando questionei estudantes que se preparavam para escrever suas monografias se se consideravam cientistas, quase que unanimemente a resposta foi: Não! Surpreendente?!? Também não. Talvez predomine a noção de cientista profissional, aquele que transforma em sua razão de viver o seu labor e que vive em função deste, pelo que os aspirantes à redação de textos científicos preferem não se identificar com, se inserir entre estes, negando tal condição, posto que indesejada a própria percepção estigmatizada, da qual, inconscientemente, partilha. Suas pretensões científicas se deparam com um quase intransponível obstáculo: o desejo de concluir o texto científico, muitas vezes significando uma possibilidade de ascensão social, e a necessidade de negar a sua inserção em um grupo social desvalorizado – ou marginalizado em decorrência da construção de imagem equivocada – pela sociedade em que vive. É preciso, portanto, desconstruir esta figura no âmbito popular, para que, mesmo aqueles que não se tornem “cientistas profissionais”, possam expressar satisfação em sê-lo ao momento em que exercem tal papel social, ainda que em determinada e reduzida parcela de suas vidas. Para concluirmos esta primeira parte deste texto, trago para reflexão uma bela frase do escritor Gustave Flaubert (1821 - 1880) que nos ensina que: “Quanto mais os telescópios forem aperfeiçoados, mais estrelas surgirão”. Parte II: Pois bem, nesta segunda parte deste breve relato, voltaremos as atenções para a maneira do cientista se colocar diante do desafio de trazer a público um texto que expresse adequadamente os estudos que desenvolveu (ou que pretender vir a desenvolver). Considero que para que tenha melhores chances de lograr êxito neste intuito, o cientista deverá estar atento para atender ou cumprir seis deveres fundamentais na redação do texto. Vejamos quais são estes. Sendo impossível abarcar todos os aspectos de um objeto a ser cientificamente tratado, se requer uma delimitação precisa, a definição das dimensões a partir das quais se pretenderá estudá-lo e se dissertar, narrar a respeito. Tal definição de fronteiras dentre os distintos ramos e campos de conhecimento é o que convencionamos chamar de “Recorte epistemológico”. Quanto mais abrangente o número destas fronteiras, dentre as incontáveis arestas do polígono dos saberes, mais complexos serão os estudos a serem conduzidos e também mais amplos em sua duração e em recursos requeridos para a sua execução, vez que uma cifra maior de elementos e de contextos deverão ser verificados no seu decorrer, o que, igualmente, amplia as chances de insucesso e de falhas na sua condução, desde a sua concepção e construção, passando por
  • 5. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 5 sua implementação e, por último, nas conclusões que possa vir a alcançar. Assim sendo, para ampliar as chances de que todo o estudo transcorra a contento, se impõe ao pesquisador o primeiro de seus deveres: humildade no estabelecimento de seus horizontes, a cada estudo a ser conduzido, de modo a permitir, pouco a pouco, um avançar contínuo e seguro. Reside, então, justamente aí a importância deste recorte ou demarcação de fronteiras preliminares visando a novos horizontes. Já que a expectativa central da ciência – e de cada estudo conduzido em seu nome – é avançar rumo à totalidade do conhecimento acerca de cada um dos mais distintos objetos, impõe-se ao cientista um segundo dever, que diz respeito às contribuições a serem prestadas por seu estudo à humanidade: ampliar o conhecimento acerca do objeto tratado, mesmo que estendendo apenas uma das fronteiras limitantes em direção para além de seu ponto anteriormente estabelecido. Com o estabelecimento desta nova posição fronteiriça, impõe-se que esta seja estável e que tão logo quanto possível possa ser consolidada, de maneira a não permitir retrocessos, neste avançar tão desejado. Desta forma, poderá ser considerada como definitiva. Para tanto, se requererá, como um terceiro dever, que conduz desde a fronteira anterior até esta mais recente possa ser seguido ou trilhado por outrem além daquele que a determinou, estabeleceu. Dizemos, então, que este deve ser reproduzível. Ou seja, que outros que venham a adotá-lo possam alcançar o mesmo ponto final desta jornada, de idêntica maneira, incluindo o desprendimento de esforços em condições similares. Se o estudo deve acrescentar novos saberes, é preciso a cada nova proposta estabelecer os limites da nova fronteira a ser buscada. Ou seja, a meta a ser perseguida, ainda que esta não venha a ser alcançada por completo, observando-se o primeiro dever de adequação de magnitude de expectativas, ou, mesmo, que seja ultrapassada em seu transcurso. O partir de um ponto já estabelecido, confirmado e o trilhar em direção a uma meta por um percurso que pode ser reproduzido por terceiros, assegurando resultados uniformes ou compatíveis com o atingido pelo pesquisador original, configura o que denominamos de “Método” e será descrito em um capítulo próprio no trabalho a ser redigido. O grande desafio do cientista é, portanto, construir e descrever, de maneira consistente, o caminho (hodos) que o levará a alcançar a meta (Método = meta + hodos). Como este caminhar, desde o seu início até o seu ponto final, deve ser registrado na forma de texto – de que estamos tratando ao longo deste ensaio –, e que este não pode se desconstituir em si mesmo, desde o primeiro contato dos futuros leitores com este, ou seja, com o seu título, que tem o intuito ou o desejo de informar, com clareza e exatidão, de que trata em seu conteúdo, atraindo o interesse destes para o seu teor, até o seu desfecho, onde se espera tenha conseguido cumprir o prometido àqueles que sobre este se debruçaram, surge, assim, o quarto dever para o cientista. E, então, em que consiste este dever? Como explicitamos ao longo deste escrito, para que o leitor de um texto científico se dê por satisfeito, não apenas a redação geral deve ser adequada, com o uso de um vocabulário apropriado, com correção Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio “META” Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio Fronteira Atual Fronteira Buscada Desafio “META”
  • 6. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 6 gramatical etc. Se faz necessário também, que sendo este posto à prova, questionado – e esta é uma das principais funções do texto científico, submeter-se (ou ao seu redator) à avaliação dos pares da Academia –, este deverá ser capaz de se sustentar, de receber valor de credibilidade. Ou seja, que seja sustentável, mereça o reconhecimento de validade, seja provedor de confiança para aquele que dele se utilizar. Enfim, que tenha sustentabilidade. E esta sustentabilidade se dará em dois níveis, quais sejam: a) Intrínseca – de modo que o texto não se desconstitua em si mesmo, em toda a extensão de sua redação, desde o título até a última linha de sua conclusão; b) Extrínseca – incorporando e demonstrando serem elementos confiáveis as referências ou fontes externas para os dados ou informações que não forem originais do estudo. E isto se obtém na própria literatura anteriormente revisada, anotada e devidamente registrada no texto, segundo normas de citação, direta ou indireta, conforme o caso. O quinto dever do cientista funciona como um contrapeso entre um possível excesso de ambições, de um lado, e, de outro, a acomodação que poderá se abater sobre o cientista. Este é o dever de adequação temporal. Ou seja, de observar a relação entre os objetivos traçados para um estudo (e a pertinente redação do respectivo texto científico) e o tempo disponível para a sua consecução. Assim, caberá ao cientista ter sempre em mente o requisito da correspondência no tempo entre os propósitos estabelecidos e o horizonte efetivamente existente para torná-los factíveis (e tal, inclui necessariamente, a avaliação dos recursos requeridos e a disponibilidade destes para uso imediato ou quando demandados). O sexto dever, por sua vez, diz respeito à capacidade de prospectar, apontar ou oferecer novos caminhos a serem trilhados, para que ele próprio ou outros pesquisadores possam deslocar, mais uma vez, a fronteira do conhecimento ainda mais em direção ao desconhecido, reduzindo a sua proporção no universo do conhecimento. Por esta razão, todos os textos científicos devem indicar oportunidades ou questionamentos a serem descortinados em estudos futuros. A cada novo estudo, o cientista realiza esforços para colocar-se sobre o muro fronteiriço do conhecimento. Ao atingi-lo, deve ser capaz, portanto, de olhar para frente e indicar que rumos deveremos seguir. Até aqui discorremos acerca dos seis deveres que devem orientar o pensamento científico em sua busca pela verdade das coisas (ou dos objetos e objetivos de seus estudos). Surgirá desta feita, um novo questionamento: como dar vida ao estudo e ao texto que dele resultará, como forma de trazê-lo ao mundo científico e/ou ao grande público? Parte III: No intuito de cumprir o primeiro dever, o cientista deverá delimitar o seu estudo. Esta delimitação ou recorte epistemológico, como antes já referido, se dará em três níveis: um macro, um micro e um intermediário que servirá de elo entre os dois anteriores. A tarefa preliminar consistirá, portanto, em estabelecer a grande área de conhecimento, a partir da qual se realizará a revisão da literatura em direção ao nível mais específico ou ponto focal do estudo. Ou seja, aquele sobre o qual o estudioso debruçará todos os seus esforços no sentido de alargar a fronteira do conhecimento a seu respeito. Podemos fazer uma analogia entre estes três níveis com uma casa: uma base ou
  • 7. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 7 alicerce, as paredes e, por fim, o telhado. Sem uma base bem constituída ou paredes fortes, a casa não se sustentará e, tampouco, o telhado que a distinguirá entre as demais de certa localidade não se fará notar. Do contrário, esta será notada ao longe com todo o esplendor do telhado que fará com que pretensos visitantes se encantem com a casa como um todo e não apenas com o telhado que lhe chamou a atenção. Como exemplos breves dessa estrutura em três níveis, podemos citar: a) Direito Civil – Contratos – Seguros industriais; b) Ergonomia – Antropometria – Diferenças individuais; c) Literatura – Teoria literária – Contos infantis. Tem-se, então, uma sugestão de afunilamento ou aprofundamento do conteúdo a ser tratado no estudo, saindo-se da amplitude mais abrangente até se atingir o elemento individualizado no qual se deterá, mais especificamente, o pesquisador. Se a amplitude definida não for suficiente para a individualização precisa do objeto de estudo podemos fazer novo aprofundamento, também em três níveis, como se nos servindo de uma lente de aumento ampliássemos a visão do detalhamento. Retomando-se os exemplos anteriores, poderemos ter: a) Contratos – Seguros Industriais – Seguros Ambientais na Indústria; b) Antropometria – Diferenças individuais – A influência da gestação; c) Teoria Literária – Contos Infantis – Arquétipos femininos. E assim faremos sucessivamente até especificarmos ou determinarmos adequadamente o campo focal do estudo. Será sempre nesta estrutura em três níveis que se desenvolverá a construção da investigação e, por conseguinte, a redação do trabalho científico resultante. Para cumprir o segundo dever o pesquisador deverá, ao final do estudo, ter acrescido algum conhecimento àquele anteriormente disponível. Este acréscimo, por mínimo que seja, será uma contribuição original no sentido que, inédito, auxiliará no desbravamento do desconhecido, colocando- se um novo passo percorrido rumo à “verdade”. A “nova verdade” buscada pelo pesquisador (ou objetivo geral do estudo) deverá ser alcançada percorrendo-se, segundo um método determinado, superando-se ou ultrapassando-se cada um das “verdades parciais” anteriormente conhecidas, que em conjunto e ao lado da contribuição original compreendem objetivos específicos do estudo. O atendimento ao terceiro dever deverá assegurar a capacidade de reprodução do estudo, desde o seu ponto de partida, indicando o caminho trilhado até as conclusões que foram alcançadas. Fornece ao estudo em desenvolvimento o que se convenciona chamar de “bases”, sendo elemento fundamental para a sua sustentação, quando posto à prova, sujeito à validação ou exame, conferindo-lhe a sustentação interna. Como bem sabemos, todo avançar que se deseja sólido deve se assentar em alicerces ou pontos de partida firmes. É preciso, portanto, formar esta base a partir de todo o conjunto de dados que possamos levantar a respeito do objeto a que nos dedicaremos, ainda que nem todas estes se convertam em informações úteis aos propósitos que futuramente estabeleceremos, mas se tal se concretizar, lá já estarão disponíveis para tanto. Assim sendo, a priori, nenhum destes deve ser descartado como inútil ou impróprio. A esta etapa de levantamento denominamos de “Revisão da literatura” ou “Estudo (ou Estado) da arte” e fornecerá subsídios para o estabelecimento
  • 8. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 8 do ponto de partida e mesmo para o caminhar em direção à fronteira que desejamos ampliar. O método, por sua vez, a trajetória a ser percorrida, com a descrição das atividades pertinentes a cada uma das etapas a serem satisfeitas, deverá ser definido de acordo com a natureza do objeto de estudo e a prospecção que se deseja realizar deste (os objetivos delineados)1 . O quarto dever, em sua porção extrínseca, deve ser cumprido à custa de um sistema estruturado de validação que inter- relaciona o saber e o pensar do autor com aqueles de outros autores, ainda que discordantes. Este sistema é o que denominamos de normas para citação e referenciação bibliográfica. No Brasil este sistema é definido e regulado pelas normas NBR 10520 e NBR 6023, respectivamente, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A observância deste sistema, além de contribuir para oferecer a devida rastreabilidade de determinadas informações e/ou posicionamentos, serve de condição básica para assegurar a inexistência de plágio e para a atribuição do devido crédito autoral, ou seja, do reconhecimento da contribuição de terceiros ao estudo em tela, requisitos fundamentais de um trabalho acadêmico-científico, sem o que este não poderá ser validado, posto que, nesta situação, lacunas quanto à autoria de terceiros constituem mais que meras infrações, uma vez que tipificadas como verdadeiro crime na legislação brasileira 1 Este texto não se trata de um artigo sobre metodologias de pesquisa, pelo que recomendo aos leitores, caso julguem necessário, busquem dentre os diversos textos específicos disponíveis para tal fim. (Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 – Lei de Direitos Autorais). O atendimento ao quinto dever, que impõe ao cientista um senso de objetividade temporal, reforçando a ideia do avançar contínuo, em pequenos e sucessivos passos, exige objetividade na formulação dos propósitos da pesquisa, confrontando-se estes com os recursos disponíveis para tanto. Embora horizontes de maior amplitude possam ser buscados, para a sua adequação temporal, se requer que haja a sua estratificação em (sub)metas individualizadas que devem ser tratadas como (sub)projetos, integrados e coordenados direcionados a um fim comum. Assim, se estabelecerá um equilíbrio entre a prudência – que visa proporcionar um avançar sólido – e a ousadia que fará o cientista trilhar novos caminhos ainda não percorridos, experimentar novos saberes e, por fim, consolidá-los. O sexto dever será tanto melhor satisfeito quanto o autor do estudo acadêmico tenha capacidade de prospectar novos horizontes para o seu trabalho, fruto de indagações pessoais, de questionamento de terceiros (colegas de grupos de pesquisa, membros de bancas examinadoras, revisores de revistas científicas etc.) ou de quaisquer outros indivíduos que possam levá-lo a perceber novas nuances ou dimensões até então não tratadas ou de novas possibilidades em face de um refinamento, desdobramento ou mesmo reconstrução sob nova perspectiva do trabalho concluído ou em curso. Certamente que quanto mais experiente for este autor, maior será a tendência para que surjam maiores e mais apropriadas extrapolações, sendo certo também que, inquietações bem próprias da juventude e da inexperiência podem descortinar novos horizontes a serem trilhados. A incerteza de que os objetivos traçados serão alcançados e, mesmo diante VP1 VP2 VP3 VPn-2 VPn-1 VPn Objetivos específicos ... “Verdades parciais” Ponto de partida Ponto de chegada (pretendido) Contribuição original VP1 VP2 VP3 VPn-2 VPn-1 VPn Objetivos específicos ... “Verdades parciais” Ponto de partida Ponto de chegada (pretendido) Contribuição original
  • 9. Versão para discussão – comentários devem ser enviados ao autor em nunes@ufpe.br. Grato. 9 desta, a obstinada busca para alcançá-los – ainda que no caminho descobertas de outras naturezas possam ter lugar, redirecionando todo o estudo e, até mesmo, a vida profissional dos cientistas – os torna pessoas a quem se deve admiração e respeito. Não obstante possam não lograr o êxito esperado dedicam imenso esforço aos objetivos de seus estudos e, por diversas ocasiões, se teve notícia de havê-los superado e em muito. Como bem pontua o jornalista e filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955) “Pouco se pode esperar de alguém que só se esforça quando tem a certeza de vir a ser recompensada”. O verdadeiro profissional sente mais prazer por sua obra do que pelos benefícios, de qualquer natureza e grandeza, que esta possa lhe proporcionar. Tudo se inicia quando somos meros aprendizes. Em meus estudos de graduação tive a felicidade de ter bons mestres, na essência da palavra. Hoje, na posição de mestre, mais do que professor universitário, tento retribuir ao mundo acadêmico e à sociedade em geral um pouco da generosidade e dos ensinamentos que deles recebi. E com toda certeza posso expressar o sentimento que abaixo transcrevo de um dos discursos que proferi na condição de paraninfo de uma turma de concluintes dos cursos de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, da qual tenho orgulho de ser professor: “Não há nada mais motivador para um pesquisador de que ver o seu aprendiz encantar-se com a mais óbvia das descobertas, porque isso significa que ele terá muito mais estímulo para ir além e buscar descobrir, até mesmo, o infinito!” Por último, a título de conclusão, podemos assumir que para a realização de um bom trabalho acadêmico, dentre os quais a redação de um texto científico, três qualidades são fundamentais ao pesquisador: paciência, determinação e fé! Paciência para saber percorrer, paulatinamente, cada uma das etapas à adequada consecução dos objetivos traçados; Determinação para persistir na caminhada, apesar das dificuldades de todas as ordens que, porventura, possam se apresentar durante sua execução; e, Fé, como fixação na verdade a ser alcançada, a ser buscada, com a certeza de que esta será atingida face à dedicação dos esforços devidos, cumpridos os deveres aqui estabelecidos. Sugestões de Leitura: BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições70, 2009. BORGES, José Souto Maior. Ciência Feliz. 3. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2007. CALVINO, Ítalo. Porque ler os clássicos? São Paulo: Companhia das Letras, 2007. _____. Seis propostas para o próximo milênio. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: EdUNB, 2001. HACKING, Ian. Por que a linguagem interessa à filosofia? São Paulo: EdUNESP, 1999. MAINGUENEAU, Dominique. Cenas de enunciação. São Paulo: Parábola, 2008. POINCARÉ, Henri. O valor da ciência. Rio de Janeiro: Contraponto, 1995. POPPER, Karl. Alógica da pesquisa científica. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1998.