Este documento discute a resistência bacteriana e recidiva em pacientes com hanseníase no Brasil. Resume que em 2009 houve 1.483 casos de recidiva no Brasil, correspondendo a 3,9% dos casos notificados. Explora os principais fatores associados à recidiva como endemicidade, diagnóstico tardio, persistência do bacilo e terapia irregular. Conclui que métodos rápidos de detecção de bacilos resistentes a medicamentos e maior envolvimento de farmacêuticos no tratamento podem ajudar a reduzir casos de recidiva.
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Resistência e recidiva em hanseníase
1. REVISTA INTEGRADA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS E SAÚDE DO PIAUÍ
Revista Integrada de Ciências Farmacêuticas e Saúde do Piauí., Teresina-PI, v. 2, n. 1, Dez/2015
ISSN: 2446-6506
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RESISTÊNCIA BACTERIANA E RECIDIVA EM PORTADORES DE HANSENÍASE.
BACTERIAL RESISTANCE AND RECURRENCE IN LEPROSY PATIENTS.
GOMES, D. M.¹*, ARARUNA JUNIOR, A. A.¹, ANDRADE, A. W. L.², MOURA, P.C.J.²
MEIRELLES, L. M. A.³
¹Bacharel em Farmácia – FSA; ²Bacharel em Farmácia – UFPI ³Docente do curso de
Farmácia - FSA
*duannemendes@hotmail.com
RESUMO
A hanseníase é doença infectocontagiosa crônica provocada pelo bacilo Mycobacterium leprae. O Brasil,
em 2012, foi o segundo país com maior número de casos, apresentando aproximadamente 93% dos casos
de hanseníase das Américas. O tratamento da hanseníase a Organização Mundial da Saúde (OMS)
preconiza uma associação farmacológica, poliquimioterapia (PQT), composta por dapsona (DDS),
clofazimina (CLO) e rifampicina (RFP). Em 2009, foram registrados 1.483 casos de recidiva da doença no
Brasil, o que corresponde a 3,9% dos casos notificados no país. O objetivo foi avaliar os principais aspectos
relacionados à resistência bacilar frente ao tratamento medicamentoso em pacientes hansenianos nos
casos de recidivas. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica abrangendo artigos publicados nas bases de
dados eletrônicas Scielo, Science Direct e Bireme, durante os meses de julho e agosto de 2015. Encontrou-
se um total de 104 artigos nas bases consultadas, entre os anos de 2005 e 2015, com maior registro de
publicações entre os anos de 2009 e 2012. Estudos que mencionem fatores ligados à recidiva são cruciais
para que se obtenha melhor precisão do diagnóstico clínico, epidemiológico e terapêutico, impedindo o
aumento da morbidade, da persistência bacilar, resistência medicamentosa e incapacidades físicas.
Contudo, mostra-se necessário o acompanhamento dos casos confirmados de resistência, a fim de evitar, a
disseminação de bacilos resistentes que venham a dificultar o controle da doença.
Palavras-chave: Hanseníase. Medicamento. Recidiva. Resistência Microbiana.
ABSTRACT
Leprosy is a chronic infectious disease caused by the bacillus Mycobacterium leprae. In 2012, Brazil was the
second country with the most cases, with approximately 93% of cases of leprosy in the Americas. The
treatment of leprosy the World Health Organization (WHO) recommends a pharmacological association,
multidrug therapy (MDT) consisting of dapsone (DDS), clofazimine (CLO) and rifampicin (RFP). In 2009,
there were 1,483 cases of recurrence of the disease in Brazil, corresponding to 3.9% of cases reported in
the country. The aim was to evaluate the main aspects related to bacterial resistance front of the drug
treatment for leprosy patients in cases of recurrences. It was conducted a literature review covering articles
published in electronic databases Scielo, Science Direct and Bireme during the months of July and August
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2015. It was found a total of 104 articles in the databases consulted, between the years 2005 and 2015 with
highest record of publications between the years 2009 and 2012. Research that mention factors related to
recurrence are critical in order to obtain better accuracy of clinical, epidemiological and therapeutic
diagnosis, preventing increased morbidity, bacillary persistence, drug resistance and physical disabilities.
However, it appears necessary to monitor the confirmed cases of resistance, to prevent the spread of
resistant strains which may hinder the control of the disease.
Keywords: Leprosy. Drug. Recurrence. Drug resistance.
INTRODUÇÃO
A hanseníase é doença infectocontagiosa crônica provocada pelo bacilo Mycobacterium leprae. As
principais manifestações clínicas desta patologia são lesões cutâneas e comprometimento de nervos
periféricos, o que pode ocasionar deformidades e incapacidades físicas. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) preconiza uma associação farmacológica, poliquimioterapia (PQT), composta por dapsona (DDS),
clofazimina (CLO) e rifampicina (RFP). No entanto, o esquema posológico depende do da forma clínica
diagnosticada: paucibacilar (PB) ou multibacilar (MB) (CRESPO; GONÇALVES, 2014).
No Brasil, em 2009, foram registrados 1.483 casos de recidiva da doença, o que corresponde a 3,9%
dos casos notificados no país. Em 2012, foi o segundo país com maior número de casos, apresentando
aproximadamente 93% dos casos de hanseníase das Américas (ARAÚJO et al, 2015). O indivíduo que
completa com êxito o tratamento e eventualmente apresenta novos sinais e sintomas clínicos da doença, é
considerado um caso de recidiva (DIÓRIO et al, 2009).
Além do diagnóstico clínico de recidivas, devem ser realizados a baciloscopia, o estudo
histopatológico da lesão e, se possível, a verificação de resistência medicamentosa, no material da lesão
obtido por biópsia (DINIZ et al, 2009).
Tendo em visto os relatos frequentes de recidiva associados à resistência a drogas, o presente
trabalho propôs a avaliação dos principais aspectos relacionados à resistência bacilar frente ao tratamento
medicamentoso em pacientes hansenianos nos casos de recidivas.
METODOLOGIA
Realizou-se uma pesquisa bibliográfica abrangendo artigos publicados nas bases de dados
eletrônicas Scielo, Science Direct e Bireme, durante os meses de julho e agosto de 2015. As palavras-
chave utilizadas na busca foram: resistência microbiana a medicamentos, recidiva e hanseníase,
empregadas em inglês e português, de modo mesclado. Os critérios de inclusão para seleção dos
documentos foram artigos completos, publicados nos últimos anos (2005 – 2015), com informações
relevantes sobre o tema, excluindo-se trabalhos que não contemplassem dados epidemiológicos nacionais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Pode-se observar poucos artigos que reportam casos de recidiva de hanseníase no Quadro 1,
embora sejam de grande impacto para tomada de decisões acerca das medidas de contenção da doença.
Quadro 1: Distribuição dos trabalhos científicos publicados, entre 2005 a 2015, nas bases de dados
pesquisadas.
Palavras-chave Scielo Periódicos
CAPES
Bireme
Resistência microbiana a medicamentos e
Hanseníase
0 5 5
Recidiva e Hanseníase 14 12 15
Drug resistance and Leprosy 6 7 7
Recurrence and Leprosy 8 13 12
Conforme análise do Gráfico 1, em um total de 104 artigos disponíveis nas bases eletrônicas, entre
os anos de 2005 e 2015, há um maior número de publicações a respeito desse tema entre 2009 e 2012. No
entanto, houve uma redução de trabalhos publicados nos últimos anos, o que reforça a necessidade de
manter de modo intermitente as notificações e investigações sobre os relatos de recidiva. O maior número
de artigos foi encontrado ao pesquisar as palavras-chave “Recidiva” mesclada com “Hanseníase”, sendo a
resistência microbiana do bacilo à PQT um dos fatores que levam a este problema.
Gráfico 1: Distribuição de artigos publicados, entre 2005 a 2015, disponíveis nos bancos de dados
utilizados no estudo.
Entre 2007 e 2009, a quantidade de serviços aumentou 21%, passando de 7.828 para 9.473, o que
corresponde a um incremento de 1.645 unidades que atendem os pacientes hansenianos em tratamento, de
4
3
8
6
16
18
15
14
10
7
3
0
2
4
6
8
10
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14
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18
20
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
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acordo com um levantamento do Ministério da Saúde. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
concentram 75% destas unidades, e são nestes locais que são registrados os maiores coeficientes de
detecção da doença, revelando um problema de saúde pública com taxa de prevalência superior à 1
caso/10.000 habitantes, valor mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde (COÊLHO, 2013).
Devido à cronicidade da doença, a avaliação de recidivas é complexa. Dentre os mais de 1000 casos
notificados como recidivas, o Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) avalia cerca de 30 amostras anualmente,
o que se pode considerar um número muito reduzido para refletir a real situação da resistência no país
(ROSA, 2011).
Pacientes paucibacilares são considerados recidivos quando apresentarem comprometimento da
função neural, lesões novas e/ou agravamento de lesões anteriores, depois da alta por cura e que não
responderem ao uso de corticosteroide. Já os pacientes multibacilares são diagnosticados como
reincidentes quando, após a alta por cura, demonstrarem as mesmas alterações descritas para os
paucibacilares, mais resultados dos exames baciloscópicos e/ou histopatológicos característicos das formas
ativas da doença, e ainda, não responderem ao uso de corticosteroide e/ou talidomida (ARAÚJO et al.,
2015).
Estudos que mencionem fatores ligados à recidiva são cruciais para que se obtenha melhor precisão
do diagnóstico clínico, epidemiológico e terapêutico, impedindo o aumento da morbidade, da persistência
bacilar, resistência medicamentosa e incapacidades físicas (FERREIRA et al., 2010). A partir de
informações coletadas de Diniz et al (2009), elaborou-se a Figura 1 abaixo com os parâmetros com maior
impacto sobre as recidivas.
Figura 1: Principais fatores ligados ao desenvolvimento de recidiva na hanseníase.
Fonte: Adaptado de DINIZ et al, 2009.
Em um estudo realizado por Diório et al (2009), utilizando a inoculação em coxim plantar de
camundongo (Técnica de Shepard), foram avaliados 28 casos com suspeita clínica de recidiva, dos quais
12 (42,8%) apresentaram multiplicação bacilar no coxim plantar. E 25% das animais possuíam cepas
RecidivaEndemicidade do
meio
Diagnóstico tardio
Persistência/
resistência do
bacilo
Terapêutica
irregular ou
inapropriada
Imunossupressão
Erro de classificação
da doença
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resistentes a DDS. Além da técnica de inoculação em coxim plantar de camundongos, também é possível
detectar bacilos resistentes a fármacos por diferentes métodos moleculares. Como a reação em cadeia da
polimerase e o sequeciamento de regiões do DNA do Mycobacterium leprae, que são alvos de drogas
utilizadas na PQT, no material da lesão obtido por biópsia (DINIZ et al, 2009).
Desde o início da década de 1960, as recidivas associadas à resistência medicamentosa têm sido
relatadas, principalmente relacionadas ao uso prolongado de DDS. Relatos de resistência à RFP são menos
frequentes, embora não menos importantes, uma vez que esta é a principal responsável pelo efeito
bactericida (INSTITUTO LAURO DE SOUZA LIMA, 2011).
CONCLUSÕES
Portanto, uma das formas de minimizar os casos de recidiva compreendem a adoção de métodos
rápidos e de baixo custo para detecção precoce dos bacilos resistentes aos fármacos que compõem a PQT.
Além disso, torna-se relevante ampliar a inserção do profissional farmacêutico no acompanhamento dos
pacientes sob tratamento inicial, aumentando a adesão ao esquema terapêutico e reduzindo a possibilidade
de seleção de cepas resistentes. Tais medidas visam o controle efetivo da disseminação dos casos cujos
tratamentos atualmente disponíveis sejam insuficientes.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, F.C.B.; SOUZA, C.N.P.; RAMOS, E.M.L.S.; BRAGA, R.M. Aspectos associados à recidiva da
hanseníase. Rev. Bras. Biom. v. 33, n.1, p.42-50, 2015.
COELHO, N.M.B. Caracterização dos casos de recidiva de hanseníase diagnosticados entre 1994 e 2010
no município de Rondonópolis-MT. Hansen. Int. 38 (Suppl. 1), p.105, 2013.
CRESPO, M.J.; GONÇALVES, A. Avaliação das possibilidades de controle de hanseníase a partir da
poliquimioterapia. Rev. Port Saúde Pública. 32 (1), p.80-88, 2014.
DINIZ, L.M.; MOREIRA, M.V.; PUPPIN, M.A.; MARIA; OLIVEIRA, L.W.D.R. Estudo retrospectivo de recidiva
da hanseníase no Estado do Espírito Santo. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
42(4), p.420-424, jul-ago, 2009.
DIÓRIO, S.M.; ROSA, P.S.; BELONE, A.F.F.; SARTORI, B.G.C.; TRINO, L.M.; BAPTISTA, I.M.F.D.;
MARCOS, E.V.C.; BARRETO, J.A.; URA, S. Recidivas associadas à resistência a drogas na hanseníase.
Hansen Int. 34(1), p.37-42, 2009.
FERREIRA, S.M.B.; IGNOTTI, E.; SENIGALIA, L.M.; SILVA, D.R.X.; GAMBA, M. A. Recidivas de casos
de hanseníase no estado de Mato Grosso. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v. 44, n. 4, p.650-
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ROSA, P.S. A questão da recidiva associada à resistência medicamentosa em hanseníase. Hansen Int.
36(1), p.7-8, 2011.
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REVISTA INTEGRADA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS E SAÚDE , Teresina-Piauí:2015. Ed. 2 Vol 1
ISSN: 2446-6506 . Editora: União Independente de Farmacêuticos e Acadêmicos de Farmácia do Piauí-
UIFARPI
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