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                                                      Novembro/2012.


Como abordar o ensino dos clássicos com os alunos sem sair do sentido
que deve ser atingido com a leitura?


Partindo das palavras de Freire: “ A leitura do mundo precede a leitura da palavra”,
considerando as abordagens estudadas nos módulos do presente curso de
formação a respeito do ensino de língua portuguesa, reconhecendo a literatura
como a arte que é; a manifestação o registro da história, dos sentimentos da vida
de um povo, não há outra forma de abordar os clássicos literários em sala de aula
que não através do contexto. Os clássicos assim o são concebidos por sua
característica atemporal e inveterada que representam e/ou que significam
sensações compartilhadas por uma universalidade, autores que em sua
especificidade, em sua criticidade abordaram assuntos que constituem-se em
eternas indagações humana, a respeito de si, de sua cultura e da sociedade em
que vive.
Pensemos, porque clássicos como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
(Machado de Assis), “Grande Sertões Veredas” Guimarães Rosa e tantas obras
de tantos outros autores como Clarice Lispector, Cecilia Meirelles, Manuel
Bandeira, Eça de Queirós, etc. Ainda são abordados até hoje na sociedade?
Esses grandes autores e suas respectivas obras escritas há tantas décadas,
algumas até há séculos com maestria abordam, discutem em suas obras temas
que conseguiram se perpetuar e , ainda refletem e surtem efeitos na sociedade e
na psiquê humana até hoje.
Vejamos por exemplo, Machado de Assis e a abordagem política, as criticas
sociais e ao próprio indivíduo feitas em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” , que
através da ironia traz à tona padrões de comportamento característicos da
sociedade brasileira da época, especialmente, da elite dominante que queria se
mostrar moderna, adotando, no discurso, ideias e postura europeias, mas
defendendo, na prática, a manutenção de um sistema retrógrado, apresentando
no discurso de Cubas com as demais personagens a linguagem dissimulada, o
jogo de interesses, o desejo de se dar bem, abrindo mão inclusive dos bons
princípios e da ética social, ora, não é difícil reconhecer, assemelhar e
contextualizar o discurso da época a situação em que passa a sociedade brasileira
atualmente, com o escândalo inescrupuloso do mensalão, aqui estão os mesmos
questionamentos feitos por Machado, o cinismo a indiferença e a mesquinhez do
homem. Isto é, embora Machado tenha construído seu personagem considerando
o contexto cultural específico da época, o discurso, as marcas do seu texto nos
deixa claro que as causas da miséria humana, da degradação humana não estão
limitados apenas a determinada cultura ou momento histórico. O autor nos deixa
claro que a miserabilidade e a mesquinhes são inerentes a condição humana,
contudo, parece que a acentuação dos vícios ou das virtudes, que torna a vida
mais ou menos miserável, pode depender da estrutura social de cada sociedade.
Nesse sentido, se trabalharmos a leitura do romance conduzindo o olhar dos
alunos dentro desse contexto, sob essa perspectiva a 'finalidade' da literatura será
atendida, e o conhecimento, a leitura terá com certeza sido válida.
Outro exemplo agora, a olhar sobre a inquietação da alma humana, dentre outros
autores pertencentes ao 'leque dos clássicos', que trazem na abordagem de suas
obras o romance introspectivo, cito Clarice Lispector que, atualmente vem sendo
citada de maneira febril nas redes sociais e que, inclusive, grandes jornais da
mídia eletrônica (como Estadão, Folha de São Paulo, dentre outros), bem como
revistas (Bravo, Piauí e Língua Portuguesa) têm investigado o 'porquê' as palavras
da autora tem se tornado 'provérbios dentre os jovens'. Seus contos, romances
escritos há décadas surgem como frases de efeito, de desabafo, literalmente
como a exteriorização do próprio eu. Justificável! Afinal de contas a autora
trabalha com a problemática da existência, como o nosso tempo, que nada mais é
que o tempo psicológico, com as nossas mais intimas inquietudes: com o amor,
com a condição humana de existir, com os limites do eu e do outro, as falsas
aparências dos laços familiares e, principalmente, com as dificuldades de
relacionamento humano.
Vejamos, quem não se questiona a respeito de um desses assuntos , ao menos
uma vez ao dia?! Quem não tem dificuldades, quem pode afirmar com toda a
certeza que o relacionamento humano é fácil?! Doce e simples! Ou seja, o seu
discurso o seu texto está no contexto, a escrita de Clarice já é por si só
contextualizada no indivíduo, analisando por exemplo “A hora da Estrela”;
A autora aborda os limites e alcances do conhecimento do mundo mediante a
palavra e a própria consciência, através das quais o ser humano no limite de suas
especificidades se diferencia dos outros seres na sua relação com a sociedade, os
impasses criados pela separação dos indivíduos em diferentes grupos (sociais,
culturais, econômicos, etc.); “Quem sou eu?! O que eu represento no Mundo, qual
o meu papel? A Minha missão?” Esses são questionamentos que justamente são
feitos pelos jovens adolescentes, logo, é comum ouvirmos “Isso foi pra mim,
exatamente assim como eu me sinto”.
Por fim, conclui-se que os assuntos abordados pelos clássicos são nada mais que
inquietações inerentes ao próprio indivíduo em sua (in)completude e interação
social, valendo-se de um dito popular “Só muda a figura e o endereço” a essência,
o cerne é o mesmo, para ter sentido é preciso que faça sentido, que se construa e,
essa construção só será atingida através do contexto.

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Abordagem dos-classicos-no-ensino-de-literatura

  • 1. Vanessa Aparecida Ricardo Anastacio Letras – Português Dissertação apresentada ao Curso de Formação de Professores do Estado de São Paulo. Novembro/2012. Como abordar o ensino dos clássicos com os alunos sem sair do sentido que deve ser atingido com a leitura? Partindo das palavras de Freire: “ A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, considerando as abordagens estudadas nos módulos do presente curso de formação a respeito do ensino de língua portuguesa, reconhecendo a literatura como a arte que é; a manifestação o registro da história, dos sentimentos da vida de um povo, não há outra forma de abordar os clássicos literários em sala de aula que não através do contexto. Os clássicos assim o são concebidos por sua característica atemporal e inveterada que representam e/ou que significam sensações compartilhadas por uma universalidade, autores que em sua especificidade, em sua criticidade abordaram assuntos que constituem-se em eternas indagações humana, a respeito de si, de sua cultura e da sociedade em que vive. Pensemos, porque clássicos como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Machado de Assis), “Grande Sertões Veredas” Guimarães Rosa e tantas obras de tantos outros autores como Clarice Lispector, Cecilia Meirelles, Manuel Bandeira, Eça de Queirós, etc. Ainda são abordados até hoje na sociedade? Esses grandes autores e suas respectivas obras escritas há tantas décadas, algumas até há séculos com maestria abordam, discutem em suas obras temas que conseguiram se perpetuar e , ainda refletem e surtem efeitos na sociedade e na psiquê humana até hoje. Vejamos por exemplo, Machado de Assis e a abordagem política, as criticas sociais e ao próprio indivíduo feitas em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” , que através da ironia traz à tona padrões de comportamento característicos da sociedade brasileira da época, especialmente, da elite dominante que queria se mostrar moderna, adotando, no discurso, ideias e postura europeias, mas defendendo, na prática, a manutenção de um sistema retrógrado, apresentando no discurso de Cubas com as demais personagens a linguagem dissimulada, o jogo de interesses, o desejo de se dar bem, abrindo mão inclusive dos bons princípios e da ética social, ora, não é difícil reconhecer, assemelhar e contextualizar o discurso da época a situação em que passa a sociedade brasileira atualmente, com o escândalo inescrupuloso do mensalão, aqui estão os mesmos questionamentos feitos por Machado, o cinismo a indiferença e a mesquinhez do homem. Isto é, embora Machado tenha construído seu personagem considerando o contexto cultural específico da época, o discurso, as marcas do seu texto nos deixa claro que as causas da miséria humana, da degradação humana não estão
  • 2. limitados apenas a determinada cultura ou momento histórico. O autor nos deixa claro que a miserabilidade e a mesquinhes são inerentes a condição humana, contudo, parece que a acentuação dos vícios ou das virtudes, que torna a vida mais ou menos miserável, pode depender da estrutura social de cada sociedade. Nesse sentido, se trabalharmos a leitura do romance conduzindo o olhar dos alunos dentro desse contexto, sob essa perspectiva a 'finalidade' da literatura será atendida, e o conhecimento, a leitura terá com certeza sido válida. Outro exemplo agora, a olhar sobre a inquietação da alma humana, dentre outros autores pertencentes ao 'leque dos clássicos', que trazem na abordagem de suas obras o romance introspectivo, cito Clarice Lispector que, atualmente vem sendo citada de maneira febril nas redes sociais e que, inclusive, grandes jornais da mídia eletrônica (como Estadão, Folha de São Paulo, dentre outros), bem como revistas (Bravo, Piauí e Língua Portuguesa) têm investigado o 'porquê' as palavras da autora tem se tornado 'provérbios dentre os jovens'. Seus contos, romances escritos há décadas surgem como frases de efeito, de desabafo, literalmente como a exteriorização do próprio eu. Justificável! Afinal de contas a autora trabalha com a problemática da existência, como o nosso tempo, que nada mais é que o tempo psicológico, com as nossas mais intimas inquietudes: com o amor, com a condição humana de existir, com os limites do eu e do outro, as falsas aparências dos laços familiares e, principalmente, com as dificuldades de relacionamento humano. Vejamos, quem não se questiona a respeito de um desses assuntos , ao menos uma vez ao dia?! Quem não tem dificuldades, quem pode afirmar com toda a certeza que o relacionamento humano é fácil?! Doce e simples! Ou seja, o seu discurso o seu texto está no contexto, a escrita de Clarice já é por si só contextualizada no indivíduo, analisando por exemplo “A hora da Estrela”; A autora aborda os limites e alcances do conhecimento do mundo mediante a palavra e a própria consciência, através das quais o ser humano no limite de suas especificidades se diferencia dos outros seres na sua relação com a sociedade, os impasses criados pela separação dos indivíduos em diferentes grupos (sociais, culturais, econômicos, etc.); “Quem sou eu?! O que eu represento no Mundo, qual o meu papel? A Minha missão?” Esses são questionamentos que justamente são feitos pelos jovens adolescentes, logo, é comum ouvirmos “Isso foi pra mim, exatamente assim como eu me sinto”. Por fim, conclui-se que os assuntos abordados pelos clássicos são nada mais que inquietações inerentes ao próprio indivíduo em sua (in)completude e interação social, valendo-se de um dito popular “Só muda a figura e o endereço” a essência, o cerne é o mesmo, para ter sentido é preciso que faça sentido, que se construa e, essa construção só será atingida através do contexto.