O documento discute como as redes sociais podem afetar a solidão das pessoas. Embora as redes sociais possam fornecer algum conforto psicológico para pessoas solitárias, elas também podem sacrificar conversas reais em favor de simples conexões. A quantidade de interações online não necessariamente reduz a solidão subjetiva. Além disso, o número de pessoas vivendo sozinhas está aumentando em todo o mundo.
Artificial intelligence, watson and the final checkmate
Solidão e redes sociais
1. Solidão
e
redes
sociais
16
de
julho
de
2012,
20:38
De
Ricardo
Murer
Graduado
em
Ciências
da
Computação
(USP)
e
mestre
em
Comunicação
(USP).
Especialista
em
estratégia
digital
e
novas
tecnologias.
Follow
@rdmurer
Pessoas
não
são
feitas
de
bits
e
chats
não
são
conversas.
Conhecer
o
outro
está
além
das
interfaces
digitais.
Seria
possível
imaginar
um
planeta
de
solitários
conectados?
Seria
possível
estarmos
todos
juntos
ao
mesmo
tempo
agora,
e
mesmo
assim
estarmos
completamente
distantes
uns
dos
outros?
Estamos
construindo
ou
descontruindo
nossas
relações
interpessoais,
cada
vez
mais
mediadas
por
interfaces
eletrônicas?
Por
outro
lado,
nossa
sociedade
está
vivendo
um
momento
de
transição,
em
especial
nas
grandes
metrópoles,
onde
cresce
o
número
de
pessoas
vivendo
sozinhas.
Estariam
então
as
redes
sociais
servindo
de
apoio
psicológico
para
milhões
de
solitários
ao
redor
do
planeta?
O
quanto
de
conforto
psicológico
existe
em
possuir
“centenas”
de
amigos,
ou
receber
uma
dezena
de
“curtições”
numa
foto
na
praia?
Indo
mais
longe:
até
que
ponto
o
espaço
comunitário
virtual,
seu
distanciamento
e
ilusão
é
percebido
como
tal
por
seus
milhões
de
usuários?
Segundo
Sherry
Turkley:
“Vivemos
num
universo
tecnológico
no
qual
estamos
sempre
nos
comunicando.
E
assim,
temos
sacrificado
nossas
conversas
por
uma
simples
conexão.”
(TURKLE,
2011).
A
internet
faz
algum
tempo
deixou
de
ser
mais
uma
inovação
tecnológica.
Hoje
psicólogos,
sociólogos
e
antropologistas
tem
se
debruçado
sobre
as
redes
sociais
como
abelhas
no
mel.
Afinal,
milhões
de
pessoas
em
todo
planeta
estão
migrando
para
“o
outro
lado
da
tela”,
em
especial
para
dentro
do
Facebook,
revelando
seus
sentimentos,
fluxo
de
pensamentos
e
cotidiano
de
forma
explícita
e
sem
barreiras.
Stephen
Marche
(MARCHE,
2012),
cita
um
estudo
australiano
de
Tracii
Ryan
e
Sophia
Xenos
da
Universidade
de
Melbourne,
no
qual
as
pesquisadoras
constataram
uma
correlação
entre
os
usuários
do
Facebook
e
narcisismo:
“Os
usuários
do
Facebook
têm
maiores
níveis
de
narcisismo,
exibicionismo
e
liderança
do
que
as
pessoas
que
não
usam
o
Facebook”.
De
fato,
nas
redes
sociais
(e
em
especial
no
Facebook)
impera
uma
necessidade
de
falar
de
si,
“coletivizar”
sentimentos,
escrever
e
publicar
qualquer
coisa
de
forma
frenética,
atingindo
assim
o
maior
volume
e
audiência
possível.
Seria
este
um
sintoma
de
estar
só?
Já
que
o
sentimento
de
solidão
pode
ser
algo
completamente
subjetivo,
no
sentido
em
que
posso
estar
entre
dezenas
de
pessoas
e
me
sentir
só.
Assim,
ao
ampliar
meu
grau
de
interação
posso
estar
desejando
“receber
mais
do
que
dar”,
ser
percebido,
ganhar
mais
suporte
psicológico.
Para
estas
pessoas,
a
quantidade
de
interação
social
é
relevante.
E
neste
caso,
não
são
as
redes
sociais
ou
o
Facebook
responsáveis
pela
solidão.
A
internet
é
só
mais
um
meio
de
expressão,
acessível,
fácil
e
que,
mesmo
superficialmente,
ajuda
1
2. a
aliviar
o
sentimento
de
estar
só.
Ao
mesmo
tempo,
os
solitários
crescem
ao
redor
do
planeta.
Segundo
dados
da
consultoria
americana
Euromonitor,
mais
de
270
milhões
de
pessoas
ao
redor
do
globo,
ou
quase
4%
da
população
mundial,
moravam
sozinhas
em
2011,
um
crescimento
de
27,6%
na
comparação
com
2006
e
de
77%
em
relação
a
1996.
Atualmente,
os
países
em
desenvolvimento
respondem
por
quase
a
metade
do
lares
unipessoais,
ou
130,7
milhões
de
pessoas,
contra
107,5
milhões
em
2006,
um
aumento
de
21,6%.
Não
quero
dizer
com
isto
que
as
redes
sociais
estão
abrigando
os
solitários
do
mundo
mas
de
fato,
quando
estamos
conectados,
mesmo
em
interações
síncronas
como
um
chat,
não
estamos
diante
de
outra
pessoa,
estamos
sós.
E,
basta
olhar
ao
redor
para
ver
o
quanto
é
solitária
a
experiência
de
“estar
conectado”
quando
estamos
diante
da
tela
de
um
computador
ou
outro
gadget
qualquer.
Se
a
TV
é
a
experiência
coletiva
que
obliterou
o
diálogo
(basta
assistir
uma
novela
em
família
por
exemplo),
o
computador
e
os
novos
gadgets
interativos
estão
suprimindo
a
presença
coletiva.
O
coletivo
está
sempre
“virtualizado”,
do
outro
lado
da
tela.
Neste
caso,
o
isolamento
social
é
concreto,
real
e
possui
um
relação
direta
com
a
atividade
online.
Nas
redes
sociais,
o
perigo
torna-‐se
ainda
maior,
porque
o
isolamento
social
se
agrava,
na
medida
em
que
as
pessoas
substituem
o
contato
pessoal
pelas
diferentes
ferramentas
de
interação.
Não
é
possível
conhecer
o
caráter
de
uma
pessoa
por
meio
de
seu
perfil
do
Facebook,
fotos
ou
conversas
online.
Ainda
mais
crítico
é
que
esta
presença
virtual
pode
ela
também
ser
substituída
por
alguma
construção
binária.
Avatares
estão
sendo
usados
para
tratar
crianças
autistas
(ZEYNEP,2012),
chatbots
ou
mais
genericamente
socialbots
(BOSHMAF,
2011),
programas
de
software
que
se
comportam
como
pessoas,
conversam
em
salas
de
bate-‐papo
ou
tweetam
(como
por
exemplo
a
@trackgirl)
e
perfis
completamente
falsos,
hologramas
virtuais,
proliferam
nas
redes
sociais.
O
que
nos
leva
ao
perigoso
universo
das
ilusões
digitais,
onde
até
mesmo
as
relações
que
estamos
construindo
podem
ser
falsas
e
enganosas.
O
universo
virtual
social
é
hoje
parte
essencial
da
realidade
e
do
cotidiano
das
pessoas
mas,
como
bem
escreveu
Jaron
Lanier:
“o
primeiro
princípio
dessa
nova
cultura
é
que
toda
a
realidade,
incluindo
os
seres
humanos,
é
um
grande
sistema
de
informação.”
(LANIER,
2011).
Uma
vez
transformados
em
códigos
binários,
estamos
sendo
padronizados
segundo
estruturas
de
dados
pré-‐definidas.
Não
só
nossas
conversas,
fotos
ou
vídeos,
mas
também
nós
mesmos.
A
tecnologia
ainda
não
é
capaz
de
simular
(e
será
sempre
uma
simulação)
qualquer
sentimento
humano.
E,
em
essência,
mesmo
que
tele-‐transportados
para
o
outro
lado
da
máquina,
se
estivermos
sós
deste
lado,
também
estaremos
do
outro.
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