1. GT19 – Educação Matemática
PRÁTICAS LETIVAS DE
PROFESSORES DE
MATEMÁTICA DE
JOVENS E ADULTOS
Andréa Thees
Universidade Federal Fluminense
Maria Cecilia Fantinato
Universidade Federal Fluminense
Outubro / 2012
2. Educação Matemática na EJA
Este é um tema relevante que vem ocupando lugar
de destaque em universidades, grupos de pesquisa,
encontros.
Diversas políticas públicas relacionadas à EJA vêm
sendo elaboradas e implementadas.
De que forma estas ações estão sendo
concretizadas?
Como os professores de matemática estão
desenvolvendo suas práticas letivas na
educação de jovens e adultos?
3. Eixos do Referencial Teórico
Educação de Jovens e Adultos: De Vargas (2003,
2006), De Vargas e Fantinato (2011) e Freire (1996,
2005, 2011).
Educação Matemática em suas perspectivas
socioculturais: D´Ambrosio (2010, 2011), Fonseca
(2005) e Skovsmose (2007).
Práticas letivas: Ponte e Serrazina (2004) e Ponte
(2005).
Pesquisas sobre o tema: dissertações e teses do
banco de dados da CAPES e artigos publicados nos
Anais do XIII CIAEM
5. Metodologia e Procedimentos da
Pesquisa
Metodologia
◦ Abordagem qualitativa
◦ Estudo de caso
Procedimentos
◦ Local da pesquisa
◦ Sujeitos: Elisa, Marina e Paulo
◦ Instrumentos: observações de campo,
entrevistas individuais semiestruturadas e
questionários
◦ Análise dos dados
6. Principais Concepções dos
Professores
Em relação à EJA:
◦ EJA como uma oportunidade;
◦ Necessidade de desenvolver um trabalho de
motivação;
◦ Não ensinar o conteúdo curricular apenas;
◦ Visa atender aos interesses imediatos e
futuros;
◦ Partir da realidade do aluno;
◦ Falta de formação para lecionar na EJA.
7. Principais Concepções dos
Professores
Em relação ao aluno da EJA:
◦ Respeitam os professores;
◦ Existência de uma relação conflituosa entre
jovens e adultos e adolescentes;
◦ Alunos que só querem o diploma x alunos
que querem prosseguir nos estudos;
◦ A dificuldade em assimilar conteúdos à noite;
◦ As marcas da exclusão social.
8. Práticas Letivas
Gestão curricular
Comunicação
Tarefas e escolha de materiais didáticos
Avaliação
9. Gestão Curricular
Nível Macro (gestão do planejamento da unidade)
◦ Desconhecimento da Proposta Curricular para a EJA
do 2º Segmento do Ensino Fundamental
◦ Trabalhavam os conteúdos que consideram
absolutamente indispensáveis e básicos para o
período seguinte
Nível Intermediário (preparação da aula ou da
semana de trabalho)
◦ Preocupação em adequar o planejamento inicial ao
conhecimento prévio dos alunos
◦ Constante preferência destes professores pelo ensino
direto ou expositivo
◦ Ausência de um plano de aula
10. Gestão Curricular
Nível Micro (gestão da relação de
ensinoaprendizagem no decorrer da aula)
◦ Não aproveitamento de situações espontâneas,
que poderiam ser utilizadas na construção de um
currículo mais interessante e próximo da
realidade dos educandos.
◦ Não inserção de temas originados durante a aula,
que poderiam ser utilizados na construção da
cidadania e da autonomia dos alunos, no
currículo original.
“Ao começar a aula, o professor tem uma grande
liberdade de ação. Dizer que não dá para fazer isso
ou aquilo é desculpa.” D´Ambrosio (2010)
11. Situação espontânea em uma
aula de expressões álgebricas…
Em uma aula de revisão, o professor Paulo escreveu no
quadro alguns exercícios para os alunos “praticarem”.
1) Resolva: 2) Calcule:
a) 8x + 10x = a) 8x (3x – 2y) =
b) 5y . 6x = b) (– 5x)(x – 2y) =
c) 3 (x + 2y) = c) 7x (10x + 5) =
Enquanto corrigia pedia que os alunos não
esquecessem “as regrinhas que foram ensinadas
antes”. Ao corrigir a última expressão, cujo resposta foi
70x2 + 35x, um aluno iniciou o seguinte diálogo com o
professor:
12. Situação espontânea em uma
aula de expressões álgebricas…
Aluno A: – Professor, outro dia eu vi um negócio numa
placa. Tinha uns números e uma letra. Tava escrito
sete zero zero eme com um dois em cima, assim
mesmo tudo junto.
Professor Paulo: – Numa placa? Onde? Tinha mais
alguma coisa escrita?
Aluno A: – Tinha escrito “ALUGA-SE”, tava numa loja
lá no shopping.
Professor Paulo: – Ah! Então era a medida da área da
loja, setecentos metros quadrados, entendeu?
Aluno A: – Sei não, professor...
E escreveu no quadro: 700 m2
13. Situação espontânea em uma
aula de expressões álgebricas…
Aluno A: – Deve ser quanto o aluguel desse troço?
Aluna B: – No shopping? Deve ser uma nota!
Aluno A: – Lá perto de casa, uma casinha com quarto,
banheiro e cozinha tá uns 500 reais.
Aluno C: – Essa casinha aí... É maior ou menor que a loja do
shopping?
Aluna D: – Claro que uma casa é muito maior que uma loja,
né?
Aluno C: – Por quê? Vai depender da casa e da loja, né? Pode
ser uma casinha, um casão, uma lojinha, um lojão...
Aluno E: – É 500 é porque é lá embaixo. Lá pra cima é mais
barato, sai por uns 250 reais.
Professor Paulo: – Vamos, gente! E as expressões? Já
terminaram?
14. Comunicação
Aulas expositivas, bem ao estilo do ensino direto,
para “estimular o aluno a continuar os estudos e
evitar a evasão” (Professora Marina)
Unidirecional, pautada pelo discurso unívoco
Tentativa de conduzir os alunos à resposta
adequada, aquela considerada correta
Expressões no diminutivo, que acabam
infantilizando o educando da EJA
Uso inadequado de linguagem
17. Tarefas e materiais
Escolha de tarefas que reforçavam nos alunos a
necessidade de decorar procedimentos, regras e
fórmulas
Utilização predominante do quadro negro e giz
Falta de apoio da administração estadual para a
produção e reprodução de materiais didáticos
preparados pelos professores
A novela do livro do PNLD para EJA, um capítulo
à parte
A professora Elisa e o uso do laptop em uma
aula de construção de gráficos
18. Avaliação
Avaliação sumativa realizada através de testes e
provas, com o intuito de verificar o rendimento
escolar
Práticas de avaliação superficiais, diretamente
influenciadas pelo tempo reduzido na EJA
Aplicadas para cumprir uma obrigação burocrática,
apenas para atribuir uma nota ao aluno
Aulas direcionadas de forma a treinar os alunos para
“se dar bem” nas avaliações oficiais, tipo SAERJ e
SAERJINHO
19. Algumas reflexões
Buscando contribuir para a esperada “reconfiguração da EJA”
(ARROYO, 2007), destacamos:
A necessidade de implementação de práticas alternativas e
inovadoras adequadas ao aluno desta modalidade.
Não permitir que o currículo imposto e a obrigatoriedade das
avaliações diagnósticas, enfraqueçam a autonomia do
professor e coloquem o docente na posição de refém do
sistema de ensino em vigor.
Estimular situações espontâneas, e não ignorá-las como se
estivessem apenas obstruindo o bom andamento das aulas
e impedindo o cumprimento do planejamento.
Os professores devem estar preparados para lidar com os
imprevistos, preferencialmente embasados, de maneira
coerente, pelo projeto político pedagógico.
Investir em uma formação inicial e continuada comprometida
em dialogar com os autores da etnomatemática, da
educação crítica e das ciências sociais.
20. Bibliografia
ARROYO, M. G. Educação de jovens e adultos: um campo de direitos e responsabilidade pública. In: SOARES, L.; GIOVANETTI, M. A.;
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