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RESUMO DO TEXTO
A RAZÃO DE ONTEM E DE HOJE
JEAN PIERRE VERNANT

Nerize Portela Madureira Leôncio1

PROFESSOR: ROBERTO

1 Graduanda em Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Colegiado de Artes
Visuais do Centro de Artes, Humanidades e Letras. Cachoeira-Ba.
A RAZÃO DE ONTEM E DE HOJE
JEAN PIERRE VERNANT

Busca-se na Antiguidade Grega, mais precisamente na Ásia menor, o
entendimento das origens da Razão para compreensão de sua transformação nesta nova
racionalidade, como pode ser observado no êxito das ciências exatas.
As condições psicológicas e sociais daqueles povos desencadearam a ruptura
com a imaginação mítica, conduzindo ao pensamento racional. Para entender este
processo, a razão lógica pode ser aplicada como ferramenta na compreensão de si
mesma.
A razão cara aos homens da Revolução Francesa, uma espécie de divindade que
iluminava o caminho da humanidade, deixou de ser considerada imutável, eterna e
absoluta, devido ao seu próprio caráter.
Ao reintroduzir a razão na historia, a partir do questionamento de suas origens,
observamos suas variações e transformações conforme as condições históricas. Para
isso, se usam as técnicas racionais de argumentação, refutação, demonstração e
verificação experimental, que são variáveis também, segundo sua aplicação na
linguagem comum ou na lógica das ciências exatas. Não se pode, inclusive, dissociar o
progresso das ciências do desenvolvimento dessas técnicas. Portanto não existe razão
exterior a história, devido à necessidade do homem em entender o mundo natural e
social.
A partir dos progressos no pensamento cientifico, a Razão e seus níveis
disciplinares devem ser reestruturados, ou seja, sua linguagem e técnicas racionais
devem passar por uma transformação para permitir o aperfeiçoamento da sua lógica.
Como se observa a evolução da matemática e sua noção de número ao longo da historia.
Assim não há razão absoluta, não há progresso sem que haja crise ou revolução.
A partir do confronto com o real, a Razão questiona seus princípios e demonstra a
vitalidade de seu pensamento.
Houve desta forma, condições mínimas para que o pensamento racional surgisse
nas cidades gregas como Mileto. Sua originalidade e contexto político trouxeram a tona
os debates públicos e contraditórios – a respeito de decisões de interesse comum –
confronto de idéias, ocasionando uma disputa intelectual entre os homens. Observa-se
que o debate livre e argumentado constitui uma poderosa ferramenta de desmistificação
e de rompimento com o religioso, utilizado amplamente na pesquisa cientifica quando
há questões e problemas a serem tratados, tornando-se assim, vital para o pensamento
racional.
Mas, mesmo os Estados proclamados Ateus, ao tentarem exorcizar a religião,
estavam impregnados com ela, pela própria postura de supervalorização da vida
política, em detrimento da vida individual. Marx explica que, os burocratas são os
jesuítas do Estado. Há uma idolatria da autoridade, e a divindade torna-se o Estado.
Em última analise, ao confrontarmos a razão de ontem com a razão de hoje,
observamos que, enquanto a primeira estava excessivamente apoiada na gramática e no
manejo da linguagem, denunciando inclusive um estado da língua grega e suas
características momentâneas, a segunda exprime-se através da linguagem matemática,
da lógica do numero, observação dos fatos, sendo, portanto, uma inteligência
experimental.
Mas, ainda hoje, em nossa vida diária vemos a razão revestida do discurso, onde
utilizando nossas teorias e o senso comum para explicarmos o real de forma
justificadora, esquecemos de orientarmo-nos pelo questionamento e metodologia
adequados do pensamento racional científico, e assim, verificar a veracidade do nosso
entendimento.
Na ciência, ao contrário, a problematização é intrínseca ao progresso da
investigação cientifica, baseando-se na constante reformulação de seus princípios de
causalidade, substância e identidade.

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Texto jean pierre vernant

  • 1. RESUMO DO TEXTO A RAZÃO DE ONTEM E DE HOJE JEAN PIERRE VERNANT Nerize Portela Madureira Leôncio1 PROFESSOR: ROBERTO 1 Graduanda em Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Colegiado de Artes Visuais do Centro de Artes, Humanidades e Letras. Cachoeira-Ba.
  • 2. A RAZÃO DE ONTEM E DE HOJE JEAN PIERRE VERNANT Busca-se na Antiguidade Grega, mais precisamente na Ásia menor, o entendimento das origens da Razão para compreensão de sua transformação nesta nova racionalidade, como pode ser observado no êxito das ciências exatas. As condições psicológicas e sociais daqueles povos desencadearam a ruptura com a imaginação mítica, conduzindo ao pensamento racional. Para entender este processo, a razão lógica pode ser aplicada como ferramenta na compreensão de si mesma. A razão cara aos homens da Revolução Francesa, uma espécie de divindade que iluminava o caminho da humanidade, deixou de ser considerada imutável, eterna e absoluta, devido ao seu próprio caráter. Ao reintroduzir a razão na historia, a partir do questionamento de suas origens, observamos suas variações e transformações conforme as condições históricas. Para isso, se usam as técnicas racionais de argumentação, refutação, demonstração e verificação experimental, que são variáveis também, segundo sua aplicação na linguagem comum ou na lógica das ciências exatas. Não se pode, inclusive, dissociar o progresso das ciências do desenvolvimento dessas técnicas. Portanto não existe razão exterior a história, devido à necessidade do homem em entender o mundo natural e social. A partir dos progressos no pensamento cientifico, a Razão e seus níveis disciplinares devem ser reestruturados, ou seja, sua linguagem e técnicas racionais devem passar por uma transformação para permitir o aperfeiçoamento da sua lógica. Como se observa a evolução da matemática e sua noção de número ao longo da historia. Assim não há razão absoluta, não há progresso sem que haja crise ou revolução. A partir do confronto com o real, a Razão questiona seus princípios e demonstra a vitalidade de seu pensamento. Houve desta forma, condições mínimas para que o pensamento racional surgisse nas cidades gregas como Mileto. Sua originalidade e contexto político trouxeram a tona os debates públicos e contraditórios – a respeito de decisões de interesse comum – confronto de idéias, ocasionando uma disputa intelectual entre os homens. Observa-se que o debate livre e argumentado constitui uma poderosa ferramenta de desmistificação e de rompimento com o religioso, utilizado amplamente na pesquisa cientifica quando há questões e problemas a serem tratados, tornando-se assim, vital para o pensamento racional. Mas, mesmo os Estados proclamados Ateus, ao tentarem exorcizar a religião, estavam impregnados com ela, pela própria postura de supervalorização da vida política, em detrimento da vida individual. Marx explica que, os burocratas são os jesuítas do Estado. Há uma idolatria da autoridade, e a divindade torna-se o Estado.
  • 3. Em última analise, ao confrontarmos a razão de ontem com a razão de hoje, observamos que, enquanto a primeira estava excessivamente apoiada na gramática e no manejo da linguagem, denunciando inclusive um estado da língua grega e suas características momentâneas, a segunda exprime-se através da linguagem matemática, da lógica do numero, observação dos fatos, sendo, portanto, uma inteligência experimental. Mas, ainda hoje, em nossa vida diária vemos a razão revestida do discurso, onde utilizando nossas teorias e o senso comum para explicarmos o real de forma justificadora, esquecemos de orientarmo-nos pelo questionamento e metodologia adequados do pensamento racional científico, e assim, verificar a veracidade do nosso entendimento. Na ciência, ao contrário, a problematização é intrínseca ao progresso da investigação cientifica, baseando-se na constante reformulação de seus princípios de causalidade, substância e identidade.