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As estrelas do Brasil
Alexandre Batista Reis
Diretor da Contemplo Cia de Dança
Bahia, janeiro de 2010
Abstract
The intent of this article was to outline a
possible perceptual and epistemological
critique of the concepts and feelings, looking
between the becoming-art and timeliness of
the post-modernism in Brazil. These
reflections on contemporary philosophy
made clear from reading the Antinomies of
Pure Reason, in the ‘CRITIQUE E LA RAISON
PURE’ by Immanuel Kant1
, and possible
causalities inherent in the present trajectory
of Dante Alighieri under the care of his
master Virgilio in the ways of the ‘DIVINE
COMEDY’2
at the Inferno until their arrival at
the XVII Chant [Gerión3
- Spirits of families of
high nobility].
Keywords: contemporary philosophy,
causality, postmodernity, eco-development
and relationship.
Resumo
A intenção deste artigo foi traçar uma
possível crítica epistemológica e perceptual
dos conceitos e sentimentos, observada
entre o devir artístico e a atualidade do
mundo pós-moderno no Brasil. Estas
reflexões em filosofia contemporânea
transpareceram a partir da leitura das
Antinomias da Razão Pura, na ‘CRÍTICA DA
RAZÃO PURA’ de Immanuel Kant1
, e
possíveis causalidades imanentes presentes
no trajeto que Dante Alighieri faz sob os
cuidados de seu mestre Virgílio pelos
caminhos do Inferno na ‘DIVINA COMÉDIA’2
,
até a sua chegada no Canto XVII [Gerión3
-
Espíritos de famílias da alta nobreza].
Palavras chave: filosofia contemporânea,
causalidade, pós-modernidade,
ecodesenvolvimento e parentesco.
2
Não são apenas aquelas que estão no céu. As estrelas do Brasil graças a
Deus (por não ter outra explicação que nos afaste do vazio) desceram
para iluminar o baixo-astral no meio deste paraíso na terra. De fato, é um
pequeno paraíso repleto de seres e de elementos naturais.
Há uma necessária mudança que está em vias de acontecer, por força
do ecodesenvolvimento, mas a decadência sempre foi assustadora para
a Humanidade e a nossa maturação só surge com o desequilíbrio de
nossos desejos. O mundo passou a ser uma grande fábrica de papéis
sem valor.
As idiossincrasias das ignorâncias administrativas brasileiras legitimam o
valor de uma excessiva e desnecessária autoridade autotélica. Autoridade
desconstruída e, mesmo assim vigente, no calor de parentescos e
limitações de ordem sintomática para um universo comumente
conhecido e justificado, além de moralmente exemplar e regimental.
É por este motivo que os avanços só acontecem pelo que de “estrelismo”
nossos pesquisadores se submetem. Ausentados de recursos, de
permissões de acesso e de licenças para iniciar uma necessária retomada
da apropriação ecodesenvolvimentista em prol de uma evidente
biodiversidade universal.
Os limites não são apenas de ordem disciplinar. As percepções de
mundo, sua episteme e sua doxa nem sempre se encaixam em tempos
de imediatas e surpreendentes diferenças.
Ainda que suponhamos universos paralelos, ainda que tenhamos
consciência de nossos erros, ainda que o ceticismo generalizado impeça
a investigação da liberdade dos procedimentos óbvios; ainda estamos
navegando neste navio fantasma cheio de reentrâncias, repleto de
obscuridades e de indiscretas nomenclaturas que precisarão mesmo de
muita luz para apontar os caminhos de nossa nave rumo ao equilíbrio
global.
A fenomenologia é um retorno às “coisas mesmas”, pois estas não
passam de sentimentos vivenciados. Por este motivo, pouco acreditei em
cooperativas de conhecimento e, até agora, talvez, acabe realizando
sozinho o trabalho de outros colegas. Limitações de grandeza muitos de
nós temos, porém, incapacidades, não mais. Há quem desista de
acreditar na ordem racional do mundo e prefira o silenciar de suas
vontades, quais, não obstante, são coletivas.
3
A ordem que se estabelece para a manutenção do estado burocrático é
aquilo que Kant apontava como “Antitética da Razão Pura” e esta razão é
pseudo-racional. Grandes nomes da Arte Contemporânea procuraram
desvendar estas doutrinas que transformaram o obscurantismo das leis
numa questão apenas contraditória ou “de afirmações unilaterais”. Como
fez com maestria cênica e discursiva, inúmeras vezes, Augusto Boal.
O século IX é o século marcado pela aproximação racional árabe-
aristotélica, por conta de traduções dos filósofos gregos, é interessante
perceber que neste momento os papas passavam por uma vida irregular
e pecaminosa, como Sérgio III, que era descrito como “um escravo de
todos os vícios”. Era um período de trevas e de expansão do evangelho,
provavelmente um momento de incertezas.
Um autor judaico, depois de muito ler sobre Deus, afirma que a
perfeição humana é de ordem contemplativa e espiritual. Durante
séculos a dualidade “matéria-espírito” tem sido apontada com
perseverante dicotomia aristotélica de dupla veracidade. O filósofo árabe-
muçulmano Averroes (1126-1198) soube indagar em que ponto pode
haver uma possível sinergia entre o Islã e o Cristianismo que não se
impõe meramente pela força. Este árabe genial, como poucos,
conseguiu chamar a atenção dos filósofos cristãos, mais doutrinários,
como aconteceu com São Tomás de Aquino.
A dicotomia é um problema da linguagem, e por isso seremos mal
interpretados por não perguntar se “podemos”, ao invés de perguntar se
“encontraremos” algo que desejamos. A unidade da razão convive, há
muitos séculos, simplesmente, com a dialética da arbitrariedade e da
ilusão.
Somos guerreiros de batalhas perdidas, tardamos muito para encontrar o
progresso. Ele precisa passar pelo conflito de afirmações dos objetos, pela
indecisão e pela imparcialidade dos combates em busca de privilégios
que não dão conta (ainda) da supremacia mítica humanóide e da
existência destas “coisas mesmas” e próprias dos fenômenos identificados.
Estudos mostram que a economia brasileira promete ter um avanço
significativo nos próximos meses de 2010. Suposições matemáticas e
financeiras que determinam uma continuidade do crescimento
econômico; que apontam para a inclusão das camadas vulneráveis e
que geram o fortalecimento das classes. As suposições costumam ser
conflituosas, principalmente para o modelo social vigente, neste decênio
de fronteiras ampliadas e de propósitos escassos.
4
A internet é um bom modelo de compreensão deste domínio em que a
semântica do desenvolvimento se interpreta e promulga como alienante
e, mesmo assim, inaudível e particular. Temo pela incapacidade dos
cálculos financeiros e também pela cultura individual e modelar que
deteriora a elegância do humano a todo instante. A cultura tornou-se
complacente com o progresso dos programas tecnológicos e com a
vitalidade de seus dogmas e pseudo-heróis perseverantes.
Será talvez por isso que os nossos conterrâneos de continente e
contingente, os norte-americanos, não teriam ainda estabilizado as suas
receitas? Desde a década de setenta que os estadunidenses provocam o
que eles nomeiam e vangloriam de “re-built”. O biônico recompõe e cria
a máquina perfeita capaz de aumentar a sua força, a velocidade e a
visão. Esta reconstrução sempre foi determinada por milhões de dólares,
talvez, por não haver outro meio de quantificar o custo de suas iniciativas
humanísticas e/ou socialmente limítrofes.
O problema central da filosofia contemporânea é senão o descaso pelo
devir, há certo interesse em manter os movimentos iniciados desde a
referida década de setenta para entender quais são os limites do espaço.
Será provável haver outra causa/consequência desconhecida para uma
filosofia brasileira?
Aqui entendida, também como, filosofia da “plausível” inclusão social, ou
ainda até, certamente, muito mais conservadora que a de nossos irmãos
estadunidenses. As linhagens são questões que nos acompanham a
5
centenas de anos. Tentamos em vão nos afastar do perigo
enclausurador de nossos códigos genéticos, pensávamos talvez que
pudéssemos distanciar-nos da insignificante realeza singela de nossos
aspectos biológicos. E depararemos, infelizmente, sempre, com o limite
da exequibilidade.
Voltemos a Kant, ele lança que. “O mundo tem um começo no tempo e
também é limitado no espaço”, para depois contradizer que “o mundo
não tem começo no tempo nem limite no espaço, mas é infinito tanto no
tempo quanto no espaço”. Estas limitações e fronteiras adversas são
essenciais na compreensão dos processos afetivos, educativos e
sensoriais de nossa sociedade.
Em outro momento de nossa existência e sobre questões que
ultrapassam películas de cognação percebemos que o tempo é uma
condição para a delimitação do espaço dos parentescos. Tem sido assim
no decorrer da sociedade moderna, entretanto, tais limites ampliados
não significam o domínio da razão. A distorção dos fenômenos é uma
condição dada para que o limite seja evidente (ainda que subjetivo) em
diversas áreas do conhecimento humano.
É a partir da especialização epistemológica e das relações de poder que
podemos identificar a síntese e a simultaneidade das películas de
cognação. Seja entre os conhecimentos próprios e os outros
conhecimentos, apropriados pelo homem por seus agrupamentos e
parentescos, cada vez mais pós-moderno (por não ter outra explicação
que nos afaste do vazio).
Na psicologia pré-científica, por exemplo, não haveria uma distinção que
a determinaria mais polarizada em medicina ou em filosofia. Certamente
foi no século XX e a partir dos anos 80 que o silêncio do espaço e as
advertências do tempo maturaram-se em específicas e delicadas
epistemes existencialistas. A elasticidade dos corpos e dos domínios
limitou o alcance do visível e inteligível, nenhum outro grande cientista
foi tão capaz de descrever teorias quânticas quanto Einstein, e desse
modo, defendeu quais limites alcançaríamos no mundo em que
viveremos. Combatemos agora o excesso, ainda que dele subjuguemos
artificialmente seus preciosos benefícios.
O conhecimento é resiliente. Assim como o que se escuta e o que não se
pode escutar, o que se imagina e o que não se pode imaginar. É a
curiosidade que rege o nosso pensamento, e somos mesmo capazes de
trafegar por condições draconianas e sublimes para identificar a natureza
e autenticidade de nossas especulações, elas estão disponíveis para
6
provar as limitações do mundo e das coisas do mundo, e suas películas
são cada vez mais imperceptíveis e complexas. Por isso é necessário
controlar com delicadeza a existência ecodesenvolvimentista para além
de arbitrariedades e ilusões.
Especular e doar a si mesmo são grandezas que trazem as respostas do
mundo, quais, nem sempre, poderão ser destinadas ao espírito com a
mesma velocidade sintética de espaços e domínios já conhecidos. Esta
tem sido a provocação do devir.
O ambiente biofísico não responde na mesma velocidade de nossas
epistemes conjecturais, o castigo do homem é a espera dogmática e
infinita da razão. E para isso Kant afirma que uma “magnitude é infinita
quando não é possível existir outra maior”. Assim nada é maior do que o
espaço a ser conquistado por um novo espaço, e a frequência de nossos
pensamentos é uma constante justaposição infinita de fatos que a
unidade da razão exprime.
Porém, a delimitação do objeto é uma condição fenomenológica do
método. A matemática se preocupou em conter a multiplicidade dos
domínios para transformá-los em coisas; um bom exemplo, é que o
corpo em sua extensão, forma e função contêm caracteres que só
podem ser tomados como unificados em si. Limitados pelo
conhecimento empírico vivemos cada vez mais, magneticamente,
vinculados às unidades intuitivas do tempo e da artificialidade do espaço.
Somos geniais criadores de códigos. Nossa capacidade de conhecimento
é absolutamente resiliente, ela determina uma transformação parcial,
mutante e determinante, plena ou abstrata, de cultura e de adaptação
ao tempo e ao espaço.
Temas centrais da física moderna, tempo e espaço são condições
atreladas ao mundo e dele dependente de grande angústia para a
anunciada pós-modernidade, humanística e informacional, na qual nos
projetamos neste século. Mesmo assim, a incerteza prevalece ainda,
mesmo proximamente de redenção e catástrofe anunciadas como
processo de maturação fantástico-religioso. Quando Kant aponta suas
duas teses partindo de um primeiro conflito das ideias transcendentais e
lançando tese e antítese, ele observa que, diametralmente, será
impossível concluir ou que se resolverá, facilmente, tal conflito.
O que chama atenção não é a contradição evidenciada pelo filósofo, e
especialmente para as tais duas grandezas, evidentemente seguras. Sua
progressão de raciocínio iniciada por uma crítica da psicologia das coisas
7
em si é que ressurge como ensejo de nossa vontade por descobrir, logo
e praticamente, o resultado de operações que nos faça, se possível,
especular sobre o devir. A causalidade é certamente o “jamais-vu”
glamoroso e sublime da existência fenomenológica.
As estrelas estão no céu. O tempo e o espaço delas não determinariam a
sua existência se não houvesse uma noite após a outra. Quando
olhamos as estrelas no céu não sabemos ao certo se elas estão lá. Na
pós-modernidade não há certeza para o ambiente da imagem, assim
tem sido a Internet para muitos de nós. Não tocamos como antes os
objetos do mundo, eles estão distantes de nós, merecem apenas ser
publicados ou descartados, entretanto, são tão mais vulneráveis do que
as estrelas no céu.
A questão primordial em si do tempo e do espaço cibernético não é
apenas uma questão do acesso, ela se constrói na incerteza da vida.
Submetida ou não à violência e à transgressão, que infinitamente (ainda)
são premissas permitidas ao acesso ilimitado. E se há outro espaço, a não
ser que eu o desconheça, ele estará refletido como misterioso
conhecimento do mundo, não pertencente ao espaço próprio e do
tempo que habito.
O mistério compõe a abstração do mundo. Epifanias e iluminismo trazem
o sentido estelar próprio que evita as trevas abomináveis e atrativas do
pensamento. O poeta é visitado por anjos e também visita seus
demônios quando lhe bem aprouver. Ele não teme participar das estórias
ou dos delitos de seus pensamentos. A escrita toma conta de sua
essência num movimento silencioso, catastrófico e apocalíptico, assim
como ele dança seus fenômenos e interpreta seus sonhos mais
incognoscíveis.
O medo não reside apenas no que de fantasmagórico ele emana. Seus
subterfúgios e suas tão repentinas aparições são resultantes da
causalidade do mundo. Somos seres constantemente vigiados pelo
mundo causal de nossas emoções e ações. Nesta temporalidade escassa
e com espaços cada vez mais marcados pelo ecodesenvolvimento de
nossa biodiversidade é que os fenômenos se manifestam. A advertência
das estrelas é uma forma de atentar-se diante da razão do mundo, e é
em sua trajetória dramática que residem alegria e felicidade no devir.
8
Na busca de poesia que expresse essa angústia dramática da polarização
tempo-espaço encontrei Dante Alighieri convidando seu mestre Virgílio,
e também seu fiel escudeiro, para adentrar nos mistérios de uma
fantástica e fantasmagórica comédia, A Divina Comédia. Ali estão todos
os seres em condições inimagináveis que nos fazem perceber e perecer
neste mundo (além das estrelas). O Castelo dos Iluminados poderia ser o
Brasil inserido no discurso ecodesenvolvimentista, onde algumas estrelas
desceriam para iluminar o nosso paraíso na Terra.
Inúmeros são os trechos de conquista do poeta diante do trajeto. As
profecias vão descrevendo o caminho da existência terrena que,
invariavelmente, é sombria e misteriosa assim como seria a descida das
estrelas até a terra. Ressignificando a atual condição instável do céu com
chuva, lama, inundações, construindo este trajeto pleno de causalidades.
Entretanto, estas incertezas exigem das estrelas do Brasil um bom
conhecimento das ciências da natureza, dentre outras, que poderiam
nos salvar rapidamente com mais tecnologia, convivência e resiliência de
conhecimento.
Os ditames discursivos deste Inferno na Divina Comédia são de extrema
sabedoria, Virgílio conhece bem essa grande espiral misteriosa, a qual
9
torna este caminho tortuoso e pleno de uma constante e racional
advertência para Dante. Cada personagem tem seu destino bizarro no
inferno dantesco, além disso, os que são citados na poesia macabra são
cognoscentes, ou seja, familiares e reconhecíveis na história e na
mitologia. Dante apresenta o tempo e o espaço conflitante kantiano, pois
dificilmente qualquer destes personagens resolveria as suas lamentações
e agonias facilmente.
Há como abreviar o purgatório? Hoje é provável que seja possível. Os
motivos pós-modernistas que absorvem a especialização epistemológica
e informacional trazem sensações na pele do outro. A notícia e o caos
chegam rapidamente aos nossos sentidos pelos meios de comunicação.
O tempo tem sido abreviado pela natureza essencial do espaço
conquistado, que é quase simultâneo e menos privativo.
1.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Ícone, 2007.
2.
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia, O Inferno. Adaptação em prosa e notas por Helder da Rocha. E-
book disponibilizado na URL: http://www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno.html . Website visitado entre
29/12/2009 e 2/1/10.
3.
GERIÓN foi, na mitologia clássica, o rei da Espanha. Vivia na Eritréia onde foi morto por Hércules.
Assemelhava-se a um ancião, mas, quando visto com atenção, sua forma real e terrível se tornava
evidente. Outros poetas normalmente o retratam como uma criatura de três corpos e três cabeças que
representavam as ilhas de Majorca, Minorca e Ivica (atualmente: Eivissa ou Ibiza). Dante o representa
como uma criatura de três naturezas: cabeça de homem, tronco e garras de fera, corpo e cauda de
serpente. O rosto de pessoa boa e honesta que esconde sua verdadeira natureza terrível qualifica
Gerión como a personificação da fraude, que é punida nos círculos restantes.
Paraíso
(Canto XVII)
". . . Tu lascerai ogne cosa diletta
più caramente; e questo è quello strale
che l'arco de lo essilio pria saetta.
Tu proverai sì come sa di sale
lo pane altrui, e come è duro calle
lo scendere e 'l salir per l'altrui scale . . ."
". . . Deixarás tudo aquilo que te agrada
mais profundamente; é esta seta a tal
logo no arco do exílio disparada.
E provarás como é falto de sal
o pão d' outros, e como é dura estrada
subir e sair pelas escadas de outros."

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  • 1. As estrelas do Brasil Alexandre Batista Reis Diretor da Contemplo Cia de Dança Bahia, janeiro de 2010 Abstract The intent of this article was to outline a possible perceptual and epistemological critique of the concepts and feelings, looking between the becoming-art and timeliness of the post-modernism in Brazil. These reflections on contemporary philosophy made clear from reading the Antinomies of Pure Reason, in the ‘CRITIQUE E LA RAISON PURE’ by Immanuel Kant1 , and possible causalities inherent in the present trajectory of Dante Alighieri under the care of his master Virgilio in the ways of the ‘DIVINE COMEDY’2 at the Inferno until their arrival at the XVII Chant [Gerión3 - Spirits of families of high nobility]. Keywords: contemporary philosophy, causality, postmodernity, eco-development and relationship. Resumo A intenção deste artigo foi traçar uma possível crítica epistemológica e perceptual dos conceitos e sentimentos, observada entre o devir artístico e a atualidade do mundo pós-moderno no Brasil. Estas reflexões em filosofia contemporânea transpareceram a partir da leitura das Antinomias da Razão Pura, na ‘CRÍTICA DA RAZÃO PURA’ de Immanuel Kant1 , e possíveis causalidades imanentes presentes no trajeto que Dante Alighieri faz sob os cuidados de seu mestre Virgílio pelos caminhos do Inferno na ‘DIVINA COMÉDIA’2 , até a sua chegada no Canto XVII [Gerión3 - Espíritos de famílias da alta nobreza]. Palavras chave: filosofia contemporânea, causalidade, pós-modernidade, ecodesenvolvimento e parentesco.
  • 2. 2 Não são apenas aquelas que estão no céu. As estrelas do Brasil graças a Deus (por não ter outra explicação que nos afaste do vazio) desceram para iluminar o baixo-astral no meio deste paraíso na terra. De fato, é um pequeno paraíso repleto de seres e de elementos naturais. Há uma necessária mudança que está em vias de acontecer, por força do ecodesenvolvimento, mas a decadência sempre foi assustadora para a Humanidade e a nossa maturação só surge com o desequilíbrio de nossos desejos. O mundo passou a ser uma grande fábrica de papéis sem valor. As idiossincrasias das ignorâncias administrativas brasileiras legitimam o valor de uma excessiva e desnecessária autoridade autotélica. Autoridade desconstruída e, mesmo assim vigente, no calor de parentescos e limitações de ordem sintomática para um universo comumente conhecido e justificado, além de moralmente exemplar e regimental. É por este motivo que os avanços só acontecem pelo que de “estrelismo” nossos pesquisadores se submetem. Ausentados de recursos, de permissões de acesso e de licenças para iniciar uma necessária retomada da apropriação ecodesenvolvimentista em prol de uma evidente biodiversidade universal. Os limites não são apenas de ordem disciplinar. As percepções de mundo, sua episteme e sua doxa nem sempre se encaixam em tempos de imediatas e surpreendentes diferenças. Ainda que suponhamos universos paralelos, ainda que tenhamos consciência de nossos erros, ainda que o ceticismo generalizado impeça a investigação da liberdade dos procedimentos óbvios; ainda estamos navegando neste navio fantasma cheio de reentrâncias, repleto de obscuridades e de indiscretas nomenclaturas que precisarão mesmo de muita luz para apontar os caminhos de nossa nave rumo ao equilíbrio global. A fenomenologia é um retorno às “coisas mesmas”, pois estas não passam de sentimentos vivenciados. Por este motivo, pouco acreditei em cooperativas de conhecimento e, até agora, talvez, acabe realizando sozinho o trabalho de outros colegas. Limitações de grandeza muitos de nós temos, porém, incapacidades, não mais. Há quem desista de acreditar na ordem racional do mundo e prefira o silenciar de suas vontades, quais, não obstante, são coletivas.
  • 3. 3 A ordem que se estabelece para a manutenção do estado burocrático é aquilo que Kant apontava como “Antitética da Razão Pura” e esta razão é pseudo-racional. Grandes nomes da Arte Contemporânea procuraram desvendar estas doutrinas que transformaram o obscurantismo das leis numa questão apenas contraditória ou “de afirmações unilaterais”. Como fez com maestria cênica e discursiva, inúmeras vezes, Augusto Boal. O século IX é o século marcado pela aproximação racional árabe- aristotélica, por conta de traduções dos filósofos gregos, é interessante perceber que neste momento os papas passavam por uma vida irregular e pecaminosa, como Sérgio III, que era descrito como “um escravo de todos os vícios”. Era um período de trevas e de expansão do evangelho, provavelmente um momento de incertezas. Um autor judaico, depois de muito ler sobre Deus, afirma que a perfeição humana é de ordem contemplativa e espiritual. Durante séculos a dualidade “matéria-espírito” tem sido apontada com perseverante dicotomia aristotélica de dupla veracidade. O filósofo árabe- muçulmano Averroes (1126-1198) soube indagar em que ponto pode haver uma possível sinergia entre o Islã e o Cristianismo que não se impõe meramente pela força. Este árabe genial, como poucos, conseguiu chamar a atenção dos filósofos cristãos, mais doutrinários, como aconteceu com São Tomás de Aquino. A dicotomia é um problema da linguagem, e por isso seremos mal interpretados por não perguntar se “podemos”, ao invés de perguntar se “encontraremos” algo que desejamos. A unidade da razão convive, há muitos séculos, simplesmente, com a dialética da arbitrariedade e da ilusão. Somos guerreiros de batalhas perdidas, tardamos muito para encontrar o progresso. Ele precisa passar pelo conflito de afirmações dos objetos, pela indecisão e pela imparcialidade dos combates em busca de privilégios que não dão conta (ainda) da supremacia mítica humanóide e da existência destas “coisas mesmas” e próprias dos fenômenos identificados. Estudos mostram que a economia brasileira promete ter um avanço significativo nos próximos meses de 2010. Suposições matemáticas e financeiras que determinam uma continuidade do crescimento econômico; que apontam para a inclusão das camadas vulneráveis e que geram o fortalecimento das classes. As suposições costumam ser conflituosas, principalmente para o modelo social vigente, neste decênio de fronteiras ampliadas e de propósitos escassos.
  • 4. 4 A internet é um bom modelo de compreensão deste domínio em que a semântica do desenvolvimento se interpreta e promulga como alienante e, mesmo assim, inaudível e particular. Temo pela incapacidade dos cálculos financeiros e também pela cultura individual e modelar que deteriora a elegância do humano a todo instante. A cultura tornou-se complacente com o progresso dos programas tecnológicos e com a vitalidade de seus dogmas e pseudo-heróis perseverantes. Será talvez por isso que os nossos conterrâneos de continente e contingente, os norte-americanos, não teriam ainda estabilizado as suas receitas? Desde a década de setenta que os estadunidenses provocam o que eles nomeiam e vangloriam de “re-built”. O biônico recompõe e cria a máquina perfeita capaz de aumentar a sua força, a velocidade e a visão. Esta reconstrução sempre foi determinada por milhões de dólares, talvez, por não haver outro meio de quantificar o custo de suas iniciativas humanísticas e/ou socialmente limítrofes. O problema central da filosofia contemporânea é senão o descaso pelo devir, há certo interesse em manter os movimentos iniciados desde a referida década de setenta para entender quais são os limites do espaço. Será provável haver outra causa/consequência desconhecida para uma filosofia brasileira? Aqui entendida, também como, filosofia da “plausível” inclusão social, ou ainda até, certamente, muito mais conservadora que a de nossos irmãos estadunidenses. As linhagens são questões que nos acompanham a
  • 5. 5 centenas de anos. Tentamos em vão nos afastar do perigo enclausurador de nossos códigos genéticos, pensávamos talvez que pudéssemos distanciar-nos da insignificante realeza singela de nossos aspectos biológicos. E depararemos, infelizmente, sempre, com o limite da exequibilidade. Voltemos a Kant, ele lança que. “O mundo tem um começo no tempo e também é limitado no espaço”, para depois contradizer que “o mundo não tem começo no tempo nem limite no espaço, mas é infinito tanto no tempo quanto no espaço”. Estas limitações e fronteiras adversas são essenciais na compreensão dos processos afetivos, educativos e sensoriais de nossa sociedade. Em outro momento de nossa existência e sobre questões que ultrapassam películas de cognação percebemos que o tempo é uma condição para a delimitação do espaço dos parentescos. Tem sido assim no decorrer da sociedade moderna, entretanto, tais limites ampliados não significam o domínio da razão. A distorção dos fenômenos é uma condição dada para que o limite seja evidente (ainda que subjetivo) em diversas áreas do conhecimento humano. É a partir da especialização epistemológica e das relações de poder que podemos identificar a síntese e a simultaneidade das películas de cognação. Seja entre os conhecimentos próprios e os outros conhecimentos, apropriados pelo homem por seus agrupamentos e parentescos, cada vez mais pós-moderno (por não ter outra explicação que nos afaste do vazio). Na psicologia pré-científica, por exemplo, não haveria uma distinção que a determinaria mais polarizada em medicina ou em filosofia. Certamente foi no século XX e a partir dos anos 80 que o silêncio do espaço e as advertências do tempo maturaram-se em específicas e delicadas epistemes existencialistas. A elasticidade dos corpos e dos domínios limitou o alcance do visível e inteligível, nenhum outro grande cientista foi tão capaz de descrever teorias quânticas quanto Einstein, e desse modo, defendeu quais limites alcançaríamos no mundo em que viveremos. Combatemos agora o excesso, ainda que dele subjuguemos artificialmente seus preciosos benefícios. O conhecimento é resiliente. Assim como o que se escuta e o que não se pode escutar, o que se imagina e o que não se pode imaginar. É a curiosidade que rege o nosso pensamento, e somos mesmo capazes de trafegar por condições draconianas e sublimes para identificar a natureza e autenticidade de nossas especulações, elas estão disponíveis para
  • 6. 6 provar as limitações do mundo e das coisas do mundo, e suas películas são cada vez mais imperceptíveis e complexas. Por isso é necessário controlar com delicadeza a existência ecodesenvolvimentista para além de arbitrariedades e ilusões. Especular e doar a si mesmo são grandezas que trazem as respostas do mundo, quais, nem sempre, poderão ser destinadas ao espírito com a mesma velocidade sintética de espaços e domínios já conhecidos. Esta tem sido a provocação do devir. O ambiente biofísico não responde na mesma velocidade de nossas epistemes conjecturais, o castigo do homem é a espera dogmática e infinita da razão. E para isso Kant afirma que uma “magnitude é infinita quando não é possível existir outra maior”. Assim nada é maior do que o espaço a ser conquistado por um novo espaço, e a frequência de nossos pensamentos é uma constante justaposição infinita de fatos que a unidade da razão exprime. Porém, a delimitação do objeto é uma condição fenomenológica do método. A matemática se preocupou em conter a multiplicidade dos domínios para transformá-los em coisas; um bom exemplo, é que o corpo em sua extensão, forma e função contêm caracteres que só podem ser tomados como unificados em si. Limitados pelo conhecimento empírico vivemos cada vez mais, magneticamente, vinculados às unidades intuitivas do tempo e da artificialidade do espaço. Somos geniais criadores de códigos. Nossa capacidade de conhecimento é absolutamente resiliente, ela determina uma transformação parcial, mutante e determinante, plena ou abstrata, de cultura e de adaptação ao tempo e ao espaço. Temas centrais da física moderna, tempo e espaço são condições atreladas ao mundo e dele dependente de grande angústia para a anunciada pós-modernidade, humanística e informacional, na qual nos projetamos neste século. Mesmo assim, a incerteza prevalece ainda, mesmo proximamente de redenção e catástrofe anunciadas como processo de maturação fantástico-religioso. Quando Kant aponta suas duas teses partindo de um primeiro conflito das ideias transcendentais e lançando tese e antítese, ele observa que, diametralmente, será impossível concluir ou que se resolverá, facilmente, tal conflito. O que chama atenção não é a contradição evidenciada pelo filósofo, e especialmente para as tais duas grandezas, evidentemente seguras. Sua progressão de raciocínio iniciada por uma crítica da psicologia das coisas
  • 7. 7 em si é que ressurge como ensejo de nossa vontade por descobrir, logo e praticamente, o resultado de operações que nos faça, se possível, especular sobre o devir. A causalidade é certamente o “jamais-vu” glamoroso e sublime da existência fenomenológica. As estrelas estão no céu. O tempo e o espaço delas não determinariam a sua existência se não houvesse uma noite após a outra. Quando olhamos as estrelas no céu não sabemos ao certo se elas estão lá. Na pós-modernidade não há certeza para o ambiente da imagem, assim tem sido a Internet para muitos de nós. Não tocamos como antes os objetos do mundo, eles estão distantes de nós, merecem apenas ser publicados ou descartados, entretanto, são tão mais vulneráveis do que as estrelas no céu. A questão primordial em si do tempo e do espaço cibernético não é apenas uma questão do acesso, ela se constrói na incerteza da vida. Submetida ou não à violência e à transgressão, que infinitamente (ainda) são premissas permitidas ao acesso ilimitado. E se há outro espaço, a não ser que eu o desconheça, ele estará refletido como misterioso conhecimento do mundo, não pertencente ao espaço próprio e do tempo que habito. O mistério compõe a abstração do mundo. Epifanias e iluminismo trazem o sentido estelar próprio que evita as trevas abomináveis e atrativas do pensamento. O poeta é visitado por anjos e também visita seus demônios quando lhe bem aprouver. Ele não teme participar das estórias ou dos delitos de seus pensamentos. A escrita toma conta de sua essência num movimento silencioso, catastrófico e apocalíptico, assim como ele dança seus fenômenos e interpreta seus sonhos mais incognoscíveis. O medo não reside apenas no que de fantasmagórico ele emana. Seus subterfúgios e suas tão repentinas aparições são resultantes da causalidade do mundo. Somos seres constantemente vigiados pelo mundo causal de nossas emoções e ações. Nesta temporalidade escassa e com espaços cada vez mais marcados pelo ecodesenvolvimento de nossa biodiversidade é que os fenômenos se manifestam. A advertência das estrelas é uma forma de atentar-se diante da razão do mundo, e é em sua trajetória dramática que residem alegria e felicidade no devir.
  • 8. 8 Na busca de poesia que expresse essa angústia dramática da polarização tempo-espaço encontrei Dante Alighieri convidando seu mestre Virgílio, e também seu fiel escudeiro, para adentrar nos mistérios de uma fantástica e fantasmagórica comédia, A Divina Comédia. Ali estão todos os seres em condições inimagináveis que nos fazem perceber e perecer neste mundo (além das estrelas). O Castelo dos Iluminados poderia ser o Brasil inserido no discurso ecodesenvolvimentista, onde algumas estrelas desceriam para iluminar o nosso paraíso na Terra. Inúmeros são os trechos de conquista do poeta diante do trajeto. As profecias vão descrevendo o caminho da existência terrena que, invariavelmente, é sombria e misteriosa assim como seria a descida das estrelas até a terra. Ressignificando a atual condição instável do céu com chuva, lama, inundações, construindo este trajeto pleno de causalidades. Entretanto, estas incertezas exigem das estrelas do Brasil um bom conhecimento das ciências da natureza, dentre outras, que poderiam nos salvar rapidamente com mais tecnologia, convivência e resiliência de conhecimento. Os ditames discursivos deste Inferno na Divina Comédia são de extrema sabedoria, Virgílio conhece bem essa grande espiral misteriosa, a qual
  • 9. 9 torna este caminho tortuoso e pleno de uma constante e racional advertência para Dante. Cada personagem tem seu destino bizarro no inferno dantesco, além disso, os que são citados na poesia macabra são cognoscentes, ou seja, familiares e reconhecíveis na história e na mitologia. Dante apresenta o tempo e o espaço conflitante kantiano, pois dificilmente qualquer destes personagens resolveria as suas lamentações e agonias facilmente. Há como abreviar o purgatório? Hoje é provável que seja possível. Os motivos pós-modernistas que absorvem a especialização epistemológica e informacional trazem sensações na pele do outro. A notícia e o caos chegam rapidamente aos nossos sentidos pelos meios de comunicação. O tempo tem sido abreviado pela natureza essencial do espaço conquistado, que é quase simultâneo e menos privativo. 1. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Ícone, 2007. 2. ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia, O Inferno. Adaptação em prosa e notas por Helder da Rocha. E- book disponibilizado na URL: http://www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno.html . Website visitado entre 29/12/2009 e 2/1/10. 3. GERIÓN foi, na mitologia clássica, o rei da Espanha. Vivia na Eritréia onde foi morto por Hércules. Assemelhava-se a um ancião, mas, quando visto com atenção, sua forma real e terrível se tornava evidente. Outros poetas normalmente o retratam como uma criatura de três corpos e três cabeças que representavam as ilhas de Majorca, Minorca e Ivica (atualmente: Eivissa ou Ibiza). Dante o representa como uma criatura de três naturezas: cabeça de homem, tronco e garras de fera, corpo e cauda de serpente. O rosto de pessoa boa e honesta que esconde sua verdadeira natureza terrível qualifica Gerión como a personificação da fraude, que é punida nos círculos restantes. Paraíso (Canto XVII) ". . . Tu lascerai ogne cosa diletta più caramente; e questo è quello strale che l'arco de lo essilio pria saetta. Tu proverai sì come sa di sale lo pane altrui, e come è duro calle lo scendere e 'l salir per l'altrui scale . . ." ". . . Deixarás tudo aquilo que te agrada mais profundamente; é esta seta a tal logo no arco do exílio disparada. E provarás como é falto de sal o pão d' outros, e como é dura estrada subir e sair pelas escadas de outros."