[1] O documento discute a parábola dos dois filhos no Evangelho de Mateus, comparando os pecadores e marginalizados aos filhos obedientes e as elites religiosas e políticas aos desobedientes. [2] Também analisa a primeira leitura sobre a responsabilidade individual e a necessidade de conversão para mudar uma sociedade injusta. [3] A segunda leitura pede à comunidade de Filipos que tenha as mesmas disposições de vida humilde e unida de Jesus Cristo.
AUTORA VILMA DIAS - MARIA ANTES DE SER MARIA (1).ppt
Comentário: 26° Domingo do Tempo Comum - Ano A
1. QUEM É QUEM NA JUSTIÇA DO REINO?
Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 26° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. Nós nos reunimos para celebrar a fé naquele que se apresen-tou
em nosso meio como simples homem, rebaixou-se, foi obedi-ente
até a morte e morte de cruz. Diante dele todos os joelhos se
dobram e toda língua proclama: "Jesus é o Senhor!" (2ª leitura Fl
2,1-11). Abrindo os olhos, percebemos estar vivendo numa socie-dade
desigual, onde não é possível pôr a culpa somente nos ou-tros
e, menos ainda, em Deus. Se nos convertermos, poderemos
caminhar rumo aos horizontes de uma sociedade justa e fraterna
(1ª leitura Ez 18,25-28). Por isso a celebração da fé tem como
objetivo mostrar quem somos nós diante de Jesus e diante das
pessoas. Se não nos comprometermos com ele, acabaremos ex-cluídos
do Reino do Céu, pois o Pai não quer pessoas que digam
"sim" mas depois o traiam refugiando-se numa religião maquilada
e falsa (evangelho Mt 21,28-32).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Ez 18,25-28): Comunidade de pessoas responsáveis
2. Ezequiel é profeta do exílio. Ele está junto ao povo, ajudan-do-
o a entender a vontade de Deus em momentos de desânimo
geral. De fato, o cap. 18 de Ezequiel outra coisa não faz senão
insistir na responsabilidade individual. Acontece que o povo
exilado deixou-se possuir por uma espécie de fatalismo, imagi-nando
estar pagando uma dívida que não contraiu. Em outras
palavras, o exílio seria simplesmente conseqüência das graves
faltas de seus antepassados. Além disso, os exilados estão longe
do templo e de seus ritos e sacrifícios pelos pecados. O povo
exilado se julgava vítima de passado errado, sem possibilidade de
enxergar algo de novo para o futuro.
3. Não resta dúvida: o exílio é conseqüência de uma série de
erros passados; é fruto das injustiças cometidas, sobretudo as
injustiças dos líderes políticos e religiosos. Mas os exilados tam-bém
estão sendo injustos por não entenderem a justiça de Deus,
pois afirmam: "A conduta do Senhor não é correta" (v. 25a). Eles
até haviam criado um provérbio para traduzir a situação em que
viviam: "Os pais comeram uva verde, e a boca dos filhos ficou
amarrada" (v. 2).
4. É justamente contra esse modo de pensar e de agir que se
levanta o profeta. A conduta do Senhor não é injusta por dois
motivos: em primeiro lugar, porque ele não quer que o injusto
morra, mas que se converta de seus maus caminhos, e viva (v.
23). Deus não sente prazer na morte de suas criaturas, mesmo que
estas venham a cometer injustiça. Sendo o Deus da vida, quer que
todos a possuam. Em segundo lugar, o Senhor não é injusto, pois
está oferecendo ao povo a possibilidade de novo início. Basta que
os exilados percebam seus erros, mudem de vida, e Deus estará
com eles: "Quando um injusto se arrepende da maldade que prati-cou
e faz o que é direito e justo, conserva a própria vida. Arre-pendendo-
se de todos os seus crimes, com certeza ele vai viver;
não vai morrer" (vv. 27-28).
5. Há, para os exilados, uma saída capaz de destruir para sem-pre
o "não" dado por seus antepassados: ela consiste em reconhe-cer
os próprios erros e arrepender-se, voltando ao Deus que não
quer a morte do injusto, e sim sua conversão. O povo no exílio
tinha mais facilidade em acusar Deus de injustiça que em admitir
as conseqüências dos próprios erros. O que Deus quer é uma
comunidade de pessoas responsáveis. Não é necessário serem
perfeitas. Basta que tenham consciência de seus limites e não
acusem Deus de responsável pelos erros que eles próprios come-tem,
para que novo horizonte de vida e liberdade se abra diante
deles.
6. Em outras palavras: hoje sofremos, sim, as conseqüências de
uma opção política de sociedade fundada na injustiça. Mas isso
não nos isenta da responsabilidade. Seremos irresponsáveis se
não fizermos algo para mudar, agora, essa situação injusta.
2. Evangelho (Mt 21,28-32): Quem é contra a justiça do Rei-no?
7. A parábola dos dois filhos só se encontra no evangelho de
Mateus. Esse dado é importante, pois o evangelista tirou lá do
fundo do baú (cf. 13,52) coisas antigas, mas também coisas "no-vas",
a fim de dar ao seu escrito uma dimensão especial. As pará-bolas
exclusivas de Mateus são as coisas novas que ele reservou
para o momento certo, querendo com isso sublinhar a idéia básica
que percorre todo o evangelho. Essa idéia básica é o tema da
justiça do Reino, como já tivemos oportunidade de ver nos co-mentários
ao evangelho dos domingos anteriores.
8. Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no Templo,
centro do poder político, econômico e ideológico daquela época.
É aí que ele conta três parábolas, sendo a primeira delas a "pará-bola
dos dois filhos" (as outras duas irão aparecer nos próximos
domingos). Trata-se de parábolas de confronto e de conflito entre
o Mestre da Justiça e os promotores da sociedade injusta, repre-sentados,
na parábola de hoje, pelos chefes dos sacerdotes (poder
religioso-ideológico) e anciãos do povo (poder econômico).
a. Quem é quem diante da justiça do Reino (vv. 28-30)
9. A parábola é muito simples. Jesus se dirige, de forma provo-cadora,
às lideranças político-econômicas e religiosas do tempo,
perguntando: "O que vocês acham disso?" A parábola, portanto, é
uma provocação de Jesus aos que servem de suporte a uma socie-dade
injusta. Ao responderem à parábola, eles serão forçados a se
posicionar e, conseqüentemente, acabam emitindo a própria sen-tença.
10. A parábola fala de dois filhos com atitudes contrastantes: o
filho mais velho é muito impulsivo e reage com um "não quero"
quando o pai lhe pede que vá trabalhar na vinha. A seguir, pensa
melhor e volta atrás: "depois arrependeu-se e foi". O filho mais
novo é cheio de etiquetas, incapaz de responder impulsivamente:
"Sim, senhor, eu vou", mas acaba não indo trabalhar na vinha.
11. O filho mais velho representa os pecadores e os marginaliza-dos
que aceitam a mensagem de Jesus e se comprometem com a
proposta da justiça do Reino. O próprio evangelista Mateus está
entre essas categorias sociais, pois era cobrador de impostos.
Junto com as prostitutas, constituíam os grupos sociais mais
detestados pelas elites religiosas e políticas do tempo de Jesus. Os
donos do saber e da religião haviam decretado que essas categori-as
de pessoas não teriam parte no mundo futuro, exatamente o
contrário de tudo o que Jesus ensinou. Cobradores de impostos e
prostitutas, portanto, são a síntese da marginalidade, considerados
pecadores públicos.
12. O filho mais novo recorda as "pessoas de bem", maquiladas
de religiosidade e "justiça", prontas a se escandalizar e a se levan-tar
em defesa de suposta verdade, mas presas fáceis do dinheiro
(os anciãos eram latifundiários), crentes de que estavam cumprin-do
a vontade de Deus. Desde o começo do evangelho de Mateus,
os chefes dos sacerdotes estão ao lado de Herodes, que pretende
matar Jesus (cf. 2,3-4). Herodes morreu em seguida, mas os che-fes
dos sacerdotes e os anciãos do povo, membros do Sinédrio,
serão os responsáveis diretos pela morte do Mestre da Justiça.
13. Notemos ainda duas coisas: 1. No Antigo Testamento, todo o
Israel era considerado filho de Deus. No tempo de Jesus, todavia,
2. as elites haviam determinado que os pobres, analfabetos, cobra-dores
de impostos, prostitutas e outras categorias de marginaliza-dos
deveriam ser considerados "malditos de Deus", portanto,
excluídos do povo. 2. O pai pede aos filhos para irem hoje traba-lhar
na vinha. Esse "hoje" não é um dia apenas. É o período que
vai do início da atividade libertadora de Jesus, anunciada por João
Batista, até que cheguemos à construção aqui na terra da justiça
que implanta o Reino no meio de nós. Os marginalizados deram
ouvidos e se comprometeram. O mesmo não se pode dizer das
elites. Isso nos mostra que ser filho obediente do Pai não é ques-tão
de palavras, mas de gestos libertadores à semelhança da práti-ca
de Jesus.
b. Uns entram no Reino, outros não (vv. 31-32)
14. Depois de contar a parábola, Jesus pergunta aos chefes dos
sacerdotes e anciãos do povo: "Qual dos dois fez a vontade do
Pai?" Por trás dessa pergunta ressoam as primeiras palavras que
traçam o programa de Jesus segundo o evangelho de Mateus:
"Devemos cumprir toda a justiça" (3,15). A vontade do Pai está
expressa na prática do Filho. Os que se comprometem com ele se
comprometem também com o projeto de sociedade nova que ele
trouxe. Jesus confirma, a seguir, a sentença que as elites inconsci-entemente
deram para si próprias: "Pois eu lhes asseguro que os
cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês
no Reino do Céu. Porque João veio até vocês para mostrar o
caminho da justiça, e vocês não creram nele. Os cobradores de
impostos e as prostitutas creram nele" (vv. 31b-32a). Segundo os
estudiosos, a expressão "entrar antes" é um modo de afirmar a
exclusão. Não é que os cobradores de impostos e as prostitutas
entram antes e os outros entram depois. Afirma, isso sim, que os
primeiros entram e os segundos ficam fora. E isso está de acordo
com a parábola, pois o filho mais novo diz sim, e acaba não indo
trabalhar na vinha. Ressoa mais uma vez a afirmação de 5,20: "Se
a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e fariseus,
vocês não entrarão no Reino do Céu".
15. Por que há pessoas que não entram no Reino do Céu? Porque
não se sensibilizaram diante de João Batista, nem com a adesão
dos cobradores de impostos e prostitutas e, pior ainda, procuram
sufocar o caminho da justiça matando Jesus. Grave alerta para
todos nós que nos julgamos seguidores de Jesus. Há muita gente
por aí que, mesmo não freqüentando igrejas e não se dizendo
cristã, tem um sentido e uma prática de justiça muito mais acura-dos
que os nossos. Exatamente como no tempo de Jesus. O senti-do
da justiça se encontrava justamente naqueles que nada tinham
a ver com a religião. Essa é uma grave previsão de futuro: encon-trar
o sentido da justiça longe das igrejas e das entidades religio-sas,
entre os discípulos anônimos do Mestre da Justiça. Por quê?
Porque eles descobriram no hoje da nossa história a urgência da
justiça que, por si só, já os faz participantes do Reino.
2ª leitura (Fl 2,1-11): Tenham as mesmas disposições de vida
que havia em Jesus
16. Continuamos a ler a carta aos Filipenses (para uma visão de
conjunto, cf. o comentário à 2ª leitura do domingo passado).
Depois de ajudar a perceber os conflitos que vêm de fora (1,27-
30), Paulo convida a comunidade a olhar para dentro de si (2,1-
5). Aí também há muita coisa que precisa ser transformada. A
exortação é feita de forma solene: "Se há uma consolação em
Cristo, se há um encorajamento no amor, se existe uma comu-nhão
no Espírito, se existe ternura e compaixão, então tornem
completa a minha alegria, permanecendo unidos no mesmo sen-timento,
no mesmo amor, num só coração, num só pensamento.
Nada façam por competição e vanglória, mas, com humildade,
cada um julgue que o outro é superior, e não cuide somente do
que é seu, mas também do que é do outro" (vv. 1-3).
17. Lido pelo avesso, esse trecho nos dá o retrato de uma comu-nidade
envolvida em conflitos internos. O que estava acontecen-do?
– Temos a impressão de que não havia união de sentimentos.
Pelo contrário, a competição e o desejo de receber elogios, o
considerar-se superior aos outros, o desinteresse pelo bem co-mum,
tudo isso estava presente na comunidade. – O cap. 4 nos
diz que duas líderes disputavam entre si o poder sobre a comuni-dade
(4,2). E Sízigo pouco se importava com isso (4,3).
18. Paulo apresenta à comunidade o ponto de referência insubsti-tuível:
Cristo Jesus. E pede que todos tenham as mesmas disposi-ções
de vida (sentimentos) que havia nele. Vem, a seguir, um dos
hinos cristológicos mais importantes do Novo Testamento (vv. 6-
11), que era provavelmente um canto litúrgico conhecido na
comunidade de Filipos.
19. O hino tem dois movimentos. O primeiro (vv. 6-8) é de cima
para baixo, e fala do esvaziamento de Jesus. – É como uma esca-da
com vários degraus: ele não se apegou à sua igualdade com
Deus, esvaziou-se, tornou-se servo, fez-se obediente até a morte
de cruz. – O sujeito dessas ações é o próprio Jesus: consciente e
livremente despoja-se de tudo. Seu lugar social é junto aos escra-vos,
sem privilégios, marginalizados e condenados. Para ele não
há outra forma de revelar o projeto de Deus a não ser esvaziando-se
daquelas realidades humanas das quais com dificuldade abri-mos
mão: prerrogativas, posição social, honra, dignidade, fama e,
o que é mais precioso, a própria vida. Jesus perdeu todas essas
coisas. Desceu ao poço mais profundo da miséria e solidão hu-manas.
– O primeiro movimento desse hino não fala de Deus.
Tem-se a impressão de que Jesus, despojado de tudo, tenha sido
inclusive abandonado por Deus.
20. O preço da encarnação foi a cruz. E o Evangelho de Paulo é
exatamente o Evangelho de um crucificado. E a gente se pergun-ta:
onde foi parar a divindade de Jesus? Ficou escondida por um
momento? Ou era justamente no fato de ser plenamente humano
que revelava o ser de Deus?
21. O segundo movimento (vv. 9-11) é de baixo para cima. Aqui
o sujeito é Deus. É ele quem exalta Jesus, ressuscitando-o e colo-cando-
o no posto mais elevado que possa existir. O Nome que ele
recebe é o título de Senhor, termo muito querido pelos primeiros
cristãos. Jesus é o Senhor do universo e da história. Diante dele
toda a criação se prostra em adoração: "todos os joelhos se do-brem
no céu, na terra e abaixo da terra".
22. Deus Pai é glorificado quando as pessoas reconhecem em
Jesus o humano que passou pela encarnação das realidades mais
sofridas e humilhantes, culminando com a morte na cruz, conde-nação
imposta a criminosos. E nós, quando aprenderemos a ter as
mesmas disposições de vida (sentimentos) que havia em Jesus?
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
23. Comunidade de pessoas responsáveis. A mensagem de Ezequiel nos ensina a não culpar Deus por nossos
erros. – O nosso sim ao projeto de Deus é capaz de reverter as situações mais difíceis?
24. Quem é contra a justiça do Reino? Não basta freqüentar a igreja para dizer que somos cristãos. O mundo
e a sociedade são o campo onde o Pai nos pede hoje um compromisso com a justiça do Reino. E não há como
ficar em cima do muro.
25. Tenham as mesmas disposições de vida que havia em Jesus. Aquele que é a razão da nossa fé é também
o horizonte de nossa ação na família, na comunidade e na sociedade. Quais são os conflitos que dividem a co-munidade?
Como superá-los?