O documento descreve o Barroco e o Arcadismo no Brasil. O Barroco surgiu no século XVII como uma resposta artística ao contexto político e religioso da época na Europa. No Brasil, destacaram-se Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira. Já o Arcadismo surgiu no século XVIII influenciado pelos ideais do Iluminismo e valorizava a vida simples no campo em oposição à agitação das cidades.
2. BARROCO
O barroco se desenvolve após o processo de Reformas Religiosas, ocorrido no
século XVI, a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. Mesmo
assim, os católicos continuavam influenciando muito o cenário
político, econômico e religioso na Europa. A arte barroca surge neste contexto e
expressa todo o contraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da
Idade Média com o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento.
Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e pelo
clero. As obras deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam as
emoções da vida e do ser humano.
A palavra barroco tem um significado que representa bem as características
deste estilo. Significa “pérola irregular” ou "pérola deformada" e representa de
forma pejorativa a idéia de irregularidade.
O período final do barroco (século XVIII) é chamado de rococó e possui
algumas peculiaridades, embora as principais características do barroco estão
presentes nesta fase. No rococó existe a presença de curvas e muitos detalhes
decorativos (conchas, flores, folhas, ramos). Os temas relacionados à mitologia
grega e romana, além dos hábitos das cores também aparecem com
freqüência.
3. Na arte barroca, predominam as emoções
e não o racionalismo da arte
renascentista. O estilo barroco traduz a
tentativa angustiante de conciliar forças
antagônicas; bem e mal; céu e terra; pureza
e pecado; alegria e tristeza; espírito e
matéria.
8. CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a
matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a
terra, pureza e o pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a
morte.
Consciência da transitoriedade da vida: a idéia de que o tempo
consome, tudo leva consigo,e que conduz irrevogavelmente a
morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos
bens materiais, ou seja sem apego aos bens materiais.
Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com
o auxilio de hipérboles, ou seja exageros, figura de linguagem
que consiste em aumentar exageradamente algo a que se
estar referindo.
9. CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas,
questionamentos: “que amor sigo? Que busco? Que
desejo? O que quero da vida?
Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado.
Predominam hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração da
ordem natural das palavras na frase ou das orações no
período) e metáforas (comparações), como: diamantes
que significam dentes ou olhos.
Conceptismo: é o jogo de idéias ou conceitos, de
conformidade com a técnica de argumentação. É comum
o uso de antítese, ou seja idéias contrárias, paradoxos.
enquanto os cultistas tinham a visão direcionada aos
sentidos, já os conceptistas eram direcionados a
inteligência.
10. LITERATURA BARROCA
O movimento brasileiro, influenciado pelo barroco português,
apresentou suas próprias características, pois diferente da
realidade portuguesa de luxo e pompa da aristocracia, o Brasil
vivia uma realidade de violência, em que se perseguiam os
índios e escravizavam os negros.
No Brasil, o barroco ganhou impulso entre 1720 e 1750,
momento em que várias academias literárias foram fundadas por
todo o país.
O centro de riqueza da época era Minas Gerais, e foi lá que a
produção artística, ligada à igreja, se concentrou. O arquiteto,
entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi
o grande representante dessa tendência nas artes plásticas, o
estilo rococó predominava em suas esculturas de materiais
típicos nacionais, como a madeira e pedra-sabão.
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15. BARROCO NO BRASIL
A publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, inicia o
Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que
procura imitar Os Lusíadas.
Os escritores que mais se destacaram foram:
Na poesia:
- Gregório de Matos
- Bento Teixeira
- Botelho de Oliveira
- Frei Itaparica
Na prosa:
- Pe. Antônio Vieira
- Sebastião da Rocha Pita
- Nuno Marques Pereira.
16. GREGÓRIO DE MATOS
Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra
permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras,
além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi
indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.
As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia
lírica religiosa, amorosa e filosófica.
- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o
arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de
uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no
exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de
S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e
conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se
arrepende”:
17. LÍRICA RELIGIOSA
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha, a vossa glória.
(Gregório de Matos)
18. LÍRICA AMOROSA
- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade
amorosa entre carne/espírito, ocasionando
um sentimento de culpa no plano espiritual.
19. ROMPE O POETA COM A PRIMEIRA IMPACIÊNCIA QUERENDO
DECLARAR-SE E TEMENDO PERDER POR OUSADO
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Se Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
20. LÍRICA FILOSÓFICA
- A lírica filosófica: os textos fazem referência à
desordem do mundo e às desilusões do homem
perante a realidade.
Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou
conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta
não economizou palavrões nem críticas em sua
linguagem, que além disso era enriquecida com
termos indígenas e africanos.
21. LÍRICA FILOSÓFICA
Soneto
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.
Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida
como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos
22. PADRE ANTONIO VIEIRA
O padre Vieira foi um grande e produtivo escritor do barroco em
língua portuguesa. Escreveu 200 sermões - entre os quais pode-
se destacar o "Sermão da Sexagésima" -, cerca de 500 cartas e
profecias que reuniu no livro "Chave dos Profetas", que nunca
acabou.
Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos
de política e Oratória, destacou-se como missionário em terras
brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os
direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua
exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era
por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da
distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à
época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos
tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda
severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
23. SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
Pregado na Capela Real, no ano de 1655.
Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11.
I
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da
pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do
caso que me levou e trouxe de tão
longe.
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina.
Bem parece este
texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia
da messe
hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos
satisfaz o que
dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é
semear, porque também das passadas colhe fruto.
Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que
saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se
contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em
casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e
hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os
de lá, com mais passos: Exiit seminare.
24. ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO
O Arcadismo, de modo geral, foi influenciado pelo Século das Luzes,
chamado de Iluminismo. Esse movimento influenciou os pensamentos
dos intelectuais e ocasionou a pesquisa e análise do mundo pela
perspectiva da razão e da ciência. Assim, tudo era explicado ou por
meio científico ou por constatação de algo palpável.
Esse período de mudanças filosóficas compreende a segunda metade
do século XVIII, no qual a Europa estava dominada economicamente
pela burguesia.
Enquanto isso, no Brasil, o século do ouro desponta e cresce
extraordinariamente, com a mudança do pólo econômico da região
Nordeste para o Rio de Janeiro e, principalmente, para Minas Gerais. É
este estado que irá servir de cenário para os diversos acontecimentos
marcantes da história, além da mineração, a Inconfidência, o caso de
Tiradentes, o artista Aleijadinho.
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27. CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO
O nome originou-se de uma região grega chamada Arcádia
(morada do deus Pan).
Os poetas desta escola literária escreviam sobre as belezas do
campo, a tranquilidade proporcionada pela natureza e a
contemplação da vida simples. Portanto, desprezam a vida nos
grandes centros urbanos e toda a vida agitada e problemas que
as pessoas levavam nestes locais. Os poetas arcadistas
chegavam a usar pseudônimos (apelidos) de pastores latinos ou
gregos.
As principais características das obras do arcadismo brasileiro
são: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros
urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos,
objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temas
épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.
28. ARCADISMO NO BRASIL
O estilo literário árcade no Brasil tem início com a publicação das
Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 e se
estende até 1836 com a obra Suspiros poéticos e saudades de
Gonçalves Magalhães, a qual inaugura o Romantismo.
Os poetas árcades encontram inspiração nas terras mineiras,
principalmente Vila Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias; e
também refúgio, não nos filósofos iluministas como Voltaire e
Montesquieu, voltados para a política e moral, mas em Horácio
que se prendia em pensamentos como “fugere urbem” (fugir da
cidade) e “carpe diem” (gozar o dia). Daí o Arcadismo ser
conhecido pela exaltação da natureza e pelo bucolismo.
A escola literária árcade é caracterizada por uma produção
voltada ao lirismo amoroso e à Épica:
Lirismo amoroso - Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga
Épica - Santa Rita Durão e Basílio da Gama, respectivamente.
29. CONTEXTO HISTÓRICO
Aquela época, mais precisamente, século XVIII, o Brasil ainda permanecia sob
os poderes da metrópole portuguesa, sofrendo assim com as terríveis
consequências oriundas dessa forte submissão. Uma delas, por sinal bastante
significativa, era a cobrança de altas e abusivas taxas pelo rei de Portugal, sem
contar que o ouro já demonstrava sinais de escassez, e mesmo assim a
situação ainda insistia em perdurar.
Em meio a esse clima de insatisfação, gerado pela revolta do povo,
principalmente em se tratando de alguns fazendeiros e donos de minas que
queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país,
um grupo de intelectuais recém-formados na Europa, mais precisamente em
Coimbra, traziam de lá as ideias iluministas que naquele continente (europeu)
fervilhavam. De tal modo, ansiavam cada vez mais que o Brasil se tornasse
independente de Portugal. Anseios estes que culminaram na Inconfidência
Mineira (1789), liderada pelo alferes José da Silva Xavier, mais conhecido como
Tiradentes, em companhia dos poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga, Inácio de Alvarenga, entre outras importantes figuras da elite mineira,
cujas ideias eram implantar no Brasil um sistema republicano de governo.
Chegaram até a implantar uma bandeira para a nação constituída dos seguintes
dizeres latinos:
31. CONTEXTO HISTÓRICO
A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi
traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas
com a Coroa.
Em 18 de Abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram
condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria I pelo
qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para degredo em colônias
portuguesas na África.
Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por
enforcamento, sendo a sentença executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo
da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas
penas reduzidas para degredo, na segunda sentença. A casa onde ele viveu foi destruída.
Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje
parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à
Santa Casa de Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços
do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de
couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde
Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro
Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de
dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole.
32. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
Cláudio Manuel da Costa é considerado um dos maiores poetas brasileiros do
período colonial.
Em Portugal, entrou em contato com as ideais iluministas e iniciou a sua
carreira literária publicando, em opúsculos, pelo menos três poemas:
"Munúsculo métrico", "Labirinto de Amor" e "Epicédio". Em todos os trabalhos, a
característica poética do Barroco seiscentista é evidente, nos
cultismos, conceitismos e formalismos.
Em 1773, adotou o nome árcade de Glauceste Satúrnio.
Anos mais tarde, participou, ao lado de Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes, Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros, da Inconfidência Mineira.
Na mesma época, compôs o clássico poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas
publicado somente em 1839, em Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A
poesia descreve a saga dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos
sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de
Vila Rica.
Contemporâneo da Arcádia Lusitana, Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de
técnica apurada, um escritor que procurou equilibrar a sua forte vocação
barroca ao estilo neoclássico. O poeta mineiro também introduziu, em seus
textos, elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte
sentimento nacionalista.
33. CLÁUDIO MANOEL DA COSTA
Trecho do poema Vila Rica, Canto VII
O conceito, que pede a autoridade,
Necessária se faz uma igualdade
De razão e discurso; quem duvida,
Que de um cego furor corre impelida
A fanática idéia desta gente?
Que a todos falta um condutor prudente
Que os dirija ao acerto? Quem ignora
Que um monstruoso corpo se devora
A si mesmo, e converte em seu estrago
O que pensa e medita? Ao brando afago
Talvez venha ceder: e quando abuse
Da brandura, e obstinados se recuse
A render ao meu Rei toda a obediência,
Então porei em prática a violência;
Farei que as armas e o valor contestem
O bárbaro atentado; e que detestem
A preço do seu sangue a torpe idéia.
34. SANTA RIDA DURÃO
Frei José de Santa Rita Durão nasceu nas proximidades de
Mariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de
Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia por Coimbra.
Entrou na ordem de Santo Agostinho, mas durante a repressão
do período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de
estudos, durante mais de 20 anos.
Depois de viver também na Espanha e na França, voltou a
Portugal com a "viradeira", como ficou conhecida a queda do
Marquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional.
A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o
nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos
seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas
tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16
até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica
informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária
do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da
corrupção.
35. SANTA RITA DURÃO
Durão também integra esse movimento cultural contra a
colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em
meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são
exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores.
A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por
dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas,
as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de
se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão
substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.
"Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento
da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o
Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu
(com quem Diogo se casou na França) e Moema (rival de
Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que
levava o casal para a França).
37. CARAMURU
“- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças no amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco”
(Trecho do Canto VI, onde narra a morte de
Moema)
38. BASÍLIO DA GAMA
José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da Costa Villas-Boas e
de uma neta de Leonel da Gama Belles, oficial da Colônia, de quem adotou o
nome. Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com a
expulsão da Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o Seminário
Episcopal de São José.
Depois de passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma, mas por ligações
com os jesuítas, acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebendo
a pena de degredo em Angola. Depois, foi perdoado por Pombal, porque fez um
"Epitalâmio" à filha do Marquês, onde elogia o Ministro e ataca os jesuítas.
Participou da efervescência do Arcadismo português, revelando assim, seu
talento de poeta neoclássico, ao escrever poesias líricas
e, especialmente, épica. Com O Uraguai consegue a celebridade, ao reverter o
esquema épico tradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe
plasticidade, além de tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas
informativa. Utiliza os versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o
qual consegue efeitos sonoros e imagéticos que reforçam os significados.
39. O URAGUAY
O poema é também um canto
de louvor à política de
Pombal, com dedicatória ao
Ministro da Marinha, Mendonça
Furtado, irmão do mesmo
Marquês, que trabalhou na
demarcação dos limites
setentrionais entre Brasil e
América Espanhola, cumprindo
o Tratado de Madri. Desde
modo, acabou membro da
Academia Real das Ciências
de Lisboa.
40. O URAGUAY
O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor
Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser
eles mesmos seus senhores. O enredo em si, é a luta dos portugueses e espanhóis contra os
índios e os jesuítas dos Sete Povos das Missões. De acordo com o tratado de Madrid, Portugal
e Espanha fariam uma troca de terras no sul do país: Sete Povos das Missões para os
espanhóis, e Sacramento para os portugueses. Os nativos locais recusam-se a sair de suas
terras, travando uma guerra. Foi escrito em versos brancos decassílabos, sem divisão de
estrofes e divididos em cinco cantos, e por muitos autores, foi o início do Romantismo.
No Canto I, o poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres,
principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso -
espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrada.
No Canto II, relata o encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português.
Gomes Freire de Andrada à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas
portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os
índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas
armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.
No Canto III, o falecido Sepé aparece em sonho a Cacambo sugerindo o incêndio do
acampamento inimigo. Cacambo aproveita a sugestão de Sepé com sucesso. Na volta da
missão Cacambo é traiçoeiramente assassinado por ordem do jesuíta Balda, o vilão da história,
que deseja tornar seu filho Baldeta cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte
crítica aos jesuítas.
41. O URAGUAY
No Canto IV, o poeta apresenta a marcha das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos
índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça, entretanto, prefere a
morte. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza:
“Inda conserva o pálido semblante
Um não sei que de magoado e triste
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!”
Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a
aldeia.
No Canto V, o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como
responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso -espanholas. Eram opiniões que
agradavam ao Marquês de Pombal, o todo poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo
canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrada que respeita e
protege os índios sobreviventes.
Convém ressaltar que O Uraguai, além das características árcades, já apresenta,
algumas tendências românticas na descrição da natureza brasileira.
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43. O URAGUAY
CANTO PRIMEIRO
Fumam ainda nas desertas praias
Lagos de sangue tépidos e impuros
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos. Dura inda nos vales
O rouco som da irada artilheria.
MUSA, honremos o Herói que o povo rude
Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
Dos decretos reais lavou a afronta. Por mãos escassas mísero sustento.
Ai tanto custas, ambição de império! Podres choupanas, e algodões tecidos,
E Vós, por quem o Maranhão pendura E o arco, e as setas, e as vistosas penas
São as nossas fantásticas riquezas.
Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.
CANTO SEGUNDO Volta, senhor, não passes adiante.
Aqui não temos. Os padres faziam crer aos Que mais queres de nós? Não nos obrigues
índios que os A resistir-te em campo aberto. Pode
portugueses eram gente sem lei, que Custar-te muito sangue o dar um passo.
adoravam o ouro. Não queiras ver se cortam nossas frechas.
Rios de areias de ouro. Essa riqueza Vê que o nome dos reis não nos assusta.
Que cobre os templos dos benditos padres, O teu está muito longe; e nós os índios
Fruto da sua indústria e do comércio Não temos outro rei mais do que os padres.
Da folha e peles, é riqueza sua. Acabou de falar; e assim responde
Com o arbítrio dos corpos e das almas O ilustre General: Ó alma grande,
O céu lha deu em sorte. A nós somente Digna de combater por melhor causa,
Nos toca arar e cultivar a terra, Vê que te enganam: risca da memória
Sem outra paga mais que o repartido Vãs, funestas imagens, que alimentam
Por mãos escassas mísero sustento. Envelhecidos mal fundados ódios.