SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 1
SEGURANÇA SOCIAL DISPENSA PECHISBEQUE INTELECTUAL
Observando as notícias de um livro sobre a Segurança Social (SS)
coordenado pelo conselheiro de estado Francisco Louçã; recordando um
debate promovido em Lisboa, em 2015; e tendo em memória publicações
da (também) comentadora da TV Raquel Varela, anos atrás, demonstra-se
que a silly season é altura para vulgaridades e superficialidades. O que é
pena, pois a grei teria beneficiado mais se a equipa tivesse aproveitado o
seu tempo na praia.
1 - A turma do conselheiro fez aturados cálculos para se saber que sem cortes, nem
desemprego, nem necessidade de pagar subsídios de desemprego nem… o deficit seria zero.
Brilhante! O excel não falha. É uma conclusão do género “se a minha avó não tivesse morrido,
ainda hoje estaria viva”. Tautológico, caro Louçã!
O conselheiro e a sua equipa afirmam sinteticamente uma imensa barbaridade: que o
“problema chave” da economia portuguesa é a criação de emprego, a redução da
precariedade que destrói o emprego e a sustentação da segurança social. Certamente que nas
claques de Catarina ou Jerónimo se sorve a mesma miopia.
2 - É o que se chama confundir o efeito com a causa. Falemos, então, de causas:
 O problema chave é o torniquete da dívida pública ou privada, mecanismo inventado pelo
sistema financeiro para gerar um pesado comprometimento dos nossos rendimentos para
pagar eternamente uma fatura de juros, como convém à engorda do próprio sistema
financeiro;
 Esse torniquete é manejado pela Comissão Europeia, pelo Eurogrupo, pelo BCE, em
mancebia com o capital financeiro, no contexto de uma arquitetura politica radicalmente
antidemocrática. E ficámos a saber que foi um tal Moedas que convenceu o resto do gang
bruxelense a não haver sanções. Uma estátua ao homem, já!
 O pagamento de encargos com a dívida, este ano, de 820 euros/habitante, não deve ser
problema para o conselheiro e sua companha de águas turvas. Sabemos que ele, como
toda a classe política, não encontram nada de mais avançado do que uma reestruturação
da dívida pública que pouco adiantaria para o sufoco que se vive;
grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 2
 Os encargos com a dívida pública bloqueiam o investimento público (mesmo que o G20
aconselhe esse investimento), justificam a austeridade, mantêm o definhamento do
poder de compra, não aligeiram a enorme punção fiscal, nem estancam a emigração; e,
portanto, ninguém investe em Portugal. Ninguém? Não, há estrangeiros que compram
imobiliário; há quem invista na exploração de petróleo junto a zonas turísticas; há quem
transforme os centros das cidades em grandes manjedouras para turistas remediados;
Relvas e os amigos querem comprar o Efisa, esse salvado do BPN…
 O problema do endividamento das empresas - um dos mais elevados na Europa - é
protagonizado por uma classe empresarial sem capitais, nem qualificação e que não
contrata trabalhadores a não ser precários, mal pagos ou subsidiados pelo IEFP; mas
que gosta de apoios do Estado… e de que maneira! Que economia capitalista
funcionará quando os principais capitalistas são apenas grandes merceeiros,
beneficiários de benesse estatal para vender gasolina ou, cobradores de rendas nas
autoestradas, numa reedição de direitos feudais, pré-capitalistas?
 Esse endividamento das empresas junto da banca resultou da gula pelo imobiliário que
conduziu a 700000 casas sem ocupação, nem venda compensadora, embora se
prepare novo aumento do IMI, essa ilegitimidade sem contestação no seio da classe
política. E daí o malparado e as imparidades da banca, como a dívida fiscal ou de
contribuições para a SS;
 Há um grave problema estrutural, de especialização económica em bens (têxteis e
calçado) ou serviços (turismo) baseados no baixo salário e na precariedade, com
baixos índices de tecnologia e forte componente importada; e em concorrência com
regiões onde as normas salariais e laborais são ainda mais rasteiras que em Portugal. E
dessa especialização resulta a crescente periferização de Portugal na Europa e na
Ibéria, tal como as enormes assimetrias dentro do território português;
3 – Algumas questões sobre a Segurança Social que existe:
 O impacto do apoio estatal ao sobredimensionado setor bancário em Portugal, na
lógica da equipa, poderia ser pago mais facilmente se o desemprego não tivesse
disparado. Do ponto de vista de uma lógica abstrata, seria assim mas, o problema é
que a realidade não encaixa facilmente em abstrações e normalmente exorbita-as ou
desmente-as.
 Ora a continuidade da situação que conduziu à intervenção da troika, alicerçava-se na
deriva mafiosa que unia sector imobiliário – obras públicas e construção – corrupção
autárquica e financiamentos partidários – concessão desbragada de crédito bancário –
indução no povo de um consumismo anestesiante. Essa continuidade significaria um
país em forma de estaleiro, os empresários a comprar altas cilindradas para toda a
família (pagas pela empresa, claro), as famílias provavelmente a comprar a terceira ou
grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 3
quarta casa e a verem milhares de imigrantes clandestinos contratados por negreiros
lusos, pendurados em andaimes, etc. Nessa deriva, o desemprego não teria disparado
desde que os bancos portugueses pudessem ter continuado a recorrer a capitais
externos para alimentar a bolha. E na lógica do conselheiro e sua companha
certamente o deficit seria menor, a SS teria melhor situação, os bancos teriam
dinheiro; será que consideram esse mundo de casino como feliz e eterno, como nas
histórias de fadas?
 Tendo em conta o que se conhece das teses propaladas pelo conselheiro e alguns dos
membros da equipa, é pouco crível que tenha havido preocupação com a dívida das
empresas à SS que, com dados de 2014, daria para pagar 12 meses de pensões. Essa
ligeireza para com as empresas que não pagam as contribuições insere-se na lógica
dos governos de Cavaco que assim favoreciam ínvios financiamentos às empresas, o
que veio a motivar medidas de recuperação dos valores em dívida, no âmbito do Plano
Mateus, com a chegada de Guterres ao governo. Talvez essa ligeireza tenha dominado
a equipa pois a ridicularização dos sucessivos planos de recuperação de dívida – todos
eles apontados como a última oportunidade, cada vez mais minimalistas e cuja
sucessão evidencia que o anterior falhou -- ensombraria o Vieira da Silva, tradicional
ministro PS nesta área;
 Que a dívida atrás referida cresça “normalmente” mais de € 1000 M por ano terá sido
contemplado no excel do Louçã, assim como estratégias para o evitar? O excel será
partilhado em família, sobretudo com o primo Vítor Gaspar que deixou tão boas
marcas nas contas da SS?
 Terão pensado que a SS enquanto fundo de pensões (e não só) dos trabalhadores
portugueses não deve estar incluído no perímetro de consolidação das contas
públicas? Que os descontos feitos para a SS estão consignados a fins específicos que
não se podem amalgamar com a gestão dos impostos? E que portanto, há tanta razão
para estarem incluídos no Orçamento do Estado como os fundos privados de pensões?
Misturar Estado com a coletividade dos trabalhadores portugueses é vício típico das
“esquerdas” que andam por aí;
 Há de facto, um problema com o envelhecimento da população que tem como causas
próximas, a ausência de trabalho, a emigração, a precariedade de vida, os custos (não
socializados) com as crianças, o preço da habitação… E são estes problemas que se
refletem na SS, no seu financiamento e nas eventualidades para as quais foi erigida; e
que cumpre com muitas deficiências para as quais contribuíram o carocho do Mota
Soares e os ministros Vieira da Silva e Pedro Marques, quando penalizaram em 2005
toda a população trabalhadora com o factor de sustentabilidade; que se traduz,
cruamente, em as pessoas serem penalizadas por terem maior longevidade;
grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 4
 Estranhamente o nosso conselheiro calou-se quanto à saída negociada (?) do euro e da
UE, conforme livro publicado há uns 2/3 anos. Porque pensou melhor no assunto?
Porque não é tema para a mesa do Conselho de Estado; sobretudo naquela reunião
com o Draghi? Ou porque é apenas tema para animar o espírito messiânico de alguns
que sonham com a soberania de um país que a perdeu, de facto depois de 1580?
Este e outros documentos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Euforia da servidão
Euforia da servidãoEuforia da servidão
Euforia da servidão
Sinapsa
 
Os números e as pessoas final
Os números e as pessoas   finalOs números e as pessoas   final
Os números e as pessoas final
pr_afsalbergaria
 

Mais procurados (19)

O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
 
O alterense 27 (1)
O alterense 27 (1)O alterense 27 (1)
O alterense 27 (1)
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
 
Linhas orientadoras-2015 CDS-PP PSD
Linhas orientadoras-2015  CDS-PP PSDLinhas orientadoras-2015  CDS-PP PSD
Linhas orientadoras-2015 CDS-PP PSD
 
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemosAspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
 
Euforia da servidão
Euforia da servidãoEuforia da servidão
Euforia da servidão
 
A desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferrazA desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferraz
 
Aprendizagem em ead- em profissional
Aprendizagem em ead- em profissionalAprendizagem em ead- em profissional
Aprendizagem em ead- em profissional
 
e- revista dirigir
e- revista dirigire- revista dirigir
e- revista dirigir
 
Discurso debate da nação
Discurso debate da nação Discurso debate da nação
Discurso debate da nação
 
- Revista dirigir-
 - Revista dirigir- - Revista dirigir-
- Revista dirigir-
 
Balanco geral de 2015 volume 1
Balanco geral de 2015 volume 1Balanco geral de 2015 volume 1
Balanco geral de 2015 volume 1
 
Os números e as pessoas final
Os números e as pessoas   finalOs números e as pessoas   final
Os números e as pessoas final
 
Mais Europa
Mais EuropaMais Europa
Mais Europa
 
Moção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar PortugalMoção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar Portugal
 
Continua o saque da segurança social como brinde aos patrões (2)
Continua o saque da segurança social como brinde aos patrões (2)Continua o saque da segurança social como brinde aos patrões (2)
Continua o saque da segurança social como brinde aos patrões (2)
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
 
Uma ponte para o futuro - documento do PMDB
Uma ponte para o futuro - documento do PMDBUma ponte para o futuro - documento do PMDB
Uma ponte para o futuro - documento do PMDB
 
Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81 Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81
 

Semelhante a Segurança social dispensa pechisbeque intelectual

Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
GRAZIA TANTA
 
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
A. Rui Teixeira Santos
 
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-201308 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
Juliana Sarieddine
 
A burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quêA burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quê
GRAZIA TANTA
 

Semelhante a Segurança social dispensa pechisbeque intelectual (20)

Análise à Criação de Riqueza Proposta Pelo MEP
Análise à Criação de Riqueza Proposta Pelo MEPAnálise à Criação de Riqueza Proposta Pelo MEP
Análise à Criação de Riqueza Proposta Pelo MEP
 
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimentoDívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimento
 
3 D deficits, dívida, desigualdades
3 D   deficits, dívida, desigualdades3 D   deficits, dívida, desigualdades
3 D deficits, dívida, desigualdades
 
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
 
A obra suja do passos
A obra suja do passosA obra suja do passos
A obra suja do passos
 
A não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoA não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudo
 
Segurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadasSegurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadas
 
Mais um perdâo fiscal. Peres é a sua graça
Mais um perdâo fiscal.  Peres é a sua graçaMais um perdâo fiscal.  Peres é a sua graça
Mais um perdâo fiscal. Peres é a sua graça
 
A dívida à segurança social o longo conluio entre empresários manhosos e o ...
A dívida à segurança social   o longo conluio entre empresários manhosos e o ...A dívida à segurança social   o longo conluio entre empresários manhosos e o ...
A dívida à segurança social o longo conluio entre empresários manhosos e o ...
 
Franqueza & Festa
Franqueza & FestaFranqueza & Festa
Franqueza & Festa
 
O bes bom, o bes mau e a má gestão dos dinheiros públicos
O bes bom, o bes mau e a má gestão dos dinheiros públicosO bes bom, o bes mau e a má gestão dos dinheiros públicos
O bes bom, o bes mau e a má gestão dos dinheiros públicos
 
Reestruturar a dívida pública nada resolve na nossa vida
Reestruturar a dívida pública nada resolve na nossa vidaReestruturar a dívida pública nada resolve na nossa vida
Reestruturar a dívida pública nada resolve na nossa vida
 
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
 
A resposta capitalista que estão a preparar para a crise
A resposta capitalista que estão a preparar para a criseA resposta capitalista que estão a preparar para a crise
A resposta capitalista que estão a preparar para a crise
 
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
A exceção portuguesa, Prof. Doutor Rui Teixeira Santos (2012)
 
Capitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma lutaCapitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma luta
 
R.C.: O tempo perdido...
R.C.: O tempo perdido...R.C.: O tempo perdido...
R.C.: O tempo perdido...
 
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-201308 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
08 perspectivas-da-economia-brasileira-para-2012-2013
 
Segurança Social - Os rabos de fora de gatos escondidos
Segurança Social  - Os rabos de fora de gatos escondidosSegurança Social  - Os rabos de fora de gatos escondidos
Segurança Social - Os rabos de fora de gatos escondidos
 
A burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quêA burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quê
 

Mais de GRAZIA TANTA

Mais de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 

Segurança social dispensa pechisbeque intelectual

  • 1. grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 1 SEGURANÇA SOCIAL DISPENSA PECHISBEQUE INTELECTUAL Observando as notícias de um livro sobre a Segurança Social (SS) coordenado pelo conselheiro de estado Francisco Louçã; recordando um debate promovido em Lisboa, em 2015; e tendo em memória publicações da (também) comentadora da TV Raquel Varela, anos atrás, demonstra-se que a silly season é altura para vulgaridades e superficialidades. O que é pena, pois a grei teria beneficiado mais se a equipa tivesse aproveitado o seu tempo na praia. 1 - A turma do conselheiro fez aturados cálculos para se saber que sem cortes, nem desemprego, nem necessidade de pagar subsídios de desemprego nem… o deficit seria zero. Brilhante! O excel não falha. É uma conclusão do género “se a minha avó não tivesse morrido, ainda hoje estaria viva”. Tautológico, caro Louçã! O conselheiro e a sua equipa afirmam sinteticamente uma imensa barbaridade: que o “problema chave” da economia portuguesa é a criação de emprego, a redução da precariedade que destrói o emprego e a sustentação da segurança social. Certamente que nas claques de Catarina ou Jerónimo se sorve a mesma miopia. 2 - É o que se chama confundir o efeito com a causa. Falemos, então, de causas:  O problema chave é o torniquete da dívida pública ou privada, mecanismo inventado pelo sistema financeiro para gerar um pesado comprometimento dos nossos rendimentos para pagar eternamente uma fatura de juros, como convém à engorda do próprio sistema financeiro;  Esse torniquete é manejado pela Comissão Europeia, pelo Eurogrupo, pelo BCE, em mancebia com o capital financeiro, no contexto de uma arquitetura politica radicalmente antidemocrática. E ficámos a saber que foi um tal Moedas que convenceu o resto do gang bruxelense a não haver sanções. Uma estátua ao homem, já!  O pagamento de encargos com a dívida, este ano, de 820 euros/habitante, não deve ser problema para o conselheiro e sua companha de águas turvas. Sabemos que ele, como toda a classe política, não encontram nada de mais avançado do que uma reestruturação da dívida pública que pouco adiantaria para o sufoco que se vive;
  • 2. grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 2  Os encargos com a dívida pública bloqueiam o investimento público (mesmo que o G20 aconselhe esse investimento), justificam a austeridade, mantêm o definhamento do poder de compra, não aligeiram a enorme punção fiscal, nem estancam a emigração; e, portanto, ninguém investe em Portugal. Ninguém? Não, há estrangeiros que compram imobiliário; há quem invista na exploração de petróleo junto a zonas turísticas; há quem transforme os centros das cidades em grandes manjedouras para turistas remediados; Relvas e os amigos querem comprar o Efisa, esse salvado do BPN…  O problema do endividamento das empresas - um dos mais elevados na Europa - é protagonizado por uma classe empresarial sem capitais, nem qualificação e que não contrata trabalhadores a não ser precários, mal pagos ou subsidiados pelo IEFP; mas que gosta de apoios do Estado… e de que maneira! Que economia capitalista funcionará quando os principais capitalistas são apenas grandes merceeiros, beneficiários de benesse estatal para vender gasolina ou, cobradores de rendas nas autoestradas, numa reedição de direitos feudais, pré-capitalistas?  Esse endividamento das empresas junto da banca resultou da gula pelo imobiliário que conduziu a 700000 casas sem ocupação, nem venda compensadora, embora se prepare novo aumento do IMI, essa ilegitimidade sem contestação no seio da classe política. E daí o malparado e as imparidades da banca, como a dívida fiscal ou de contribuições para a SS;  Há um grave problema estrutural, de especialização económica em bens (têxteis e calçado) ou serviços (turismo) baseados no baixo salário e na precariedade, com baixos índices de tecnologia e forte componente importada; e em concorrência com regiões onde as normas salariais e laborais são ainda mais rasteiras que em Portugal. E dessa especialização resulta a crescente periferização de Portugal na Europa e na Ibéria, tal como as enormes assimetrias dentro do território português; 3 – Algumas questões sobre a Segurança Social que existe:  O impacto do apoio estatal ao sobredimensionado setor bancário em Portugal, na lógica da equipa, poderia ser pago mais facilmente se o desemprego não tivesse disparado. Do ponto de vista de uma lógica abstrata, seria assim mas, o problema é que a realidade não encaixa facilmente em abstrações e normalmente exorbita-as ou desmente-as.  Ora a continuidade da situação que conduziu à intervenção da troika, alicerçava-se na deriva mafiosa que unia sector imobiliário – obras públicas e construção – corrupção autárquica e financiamentos partidários – concessão desbragada de crédito bancário – indução no povo de um consumismo anestesiante. Essa continuidade significaria um país em forma de estaleiro, os empresários a comprar altas cilindradas para toda a família (pagas pela empresa, claro), as famílias provavelmente a comprar a terceira ou
  • 3. grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 3 quarta casa e a verem milhares de imigrantes clandestinos contratados por negreiros lusos, pendurados em andaimes, etc. Nessa deriva, o desemprego não teria disparado desde que os bancos portugueses pudessem ter continuado a recorrer a capitais externos para alimentar a bolha. E na lógica do conselheiro e sua companha certamente o deficit seria menor, a SS teria melhor situação, os bancos teriam dinheiro; será que consideram esse mundo de casino como feliz e eterno, como nas histórias de fadas?  Tendo em conta o que se conhece das teses propaladas pelo conselheiro e alguns dos membros da equipa, é pouco crível que tenha havido preocupação com a dívida das empresas à SS que, com dados de 2014, daria para pagar 12 meses de pensões. Essa ligeireza para com as empresas que não pagam as contribuições insere-se na lógica dos governos de Cavaco que assim favoreciam ínvios financiamentos às empresas, o que veio a motivar medidas de recuperação dos valores em dívida, no âmbito do Plano Mateus, com a chegada de Guterres ao governo. Talvez essa ligeireza tenha dominado a equipa pois a ridicularização dos sucessivos planos de recuperação de dívida – todos eles apontados como a última oportunidade, cada vez mais minimalistas e cuja sucessão evidencia que o anterior falhou -- ensombraria o Vieira da Silva, tradicional ministro PS nesta área;  Que a dívida atrás referida cresça “normalmente” mais de € 1000 M por ano terá sido contemplado no excel do Louçã, assim como estratégias para o evitar? O excel será partilhado em família, sobretudo com o primo Vítor Gaspar que deixou tão boas marcas nas contas da SS?  Terão pensado que a SS enquanto fundo de pensões (e não só) dos trabalhadores portugueses não deve estar incluído no perímetro de consolidação das contas públicas? Que os descontos feitos para a SS estão consignados a fins específicos que não se podem amalgamar com a gestão dos impostos? E que portanto, há tanta razão para estarem incluídos no Orçamento do Estado como os fundos privados de pensões? Misturar Estado com a coletividade dos trabalhadores portugueses é vício típico das “esquerdas” que andam por aí;  Há de facto, um problema com o envelhecimento da população que tem como causas próximas, a ausência de trabalho, a emigração, a precariedade de vida, os custos (não socializados) com as crianças, o preço da habitação… E são estes problemas que se refletem na SS, no seu financiamento e nas eventualidades para as quais foi erigida; e que cumpre com muitas deficiências para as quais contribuíram o carocho do Mota Soares e os ministros Vieira da Silva e Pedro Marques, quando penalizaram em 2005 toda a população trabalhadora com o factor de sustentabilidade; que se traduz, cruamente, em as pessoas serem penalizadas por terem maior longevidade;
  • 4. grazia.tanta@gmail.com 28/07/2016 4  Estranhamente o nosso conselheiro calou-se quanto à saída negociada (?) do euro e da UE, conforme livro publicado há uns 2/3 anos. Porque pensou melhor no assunto? Porque não é tema para a mesa do Conselho de Estado; sobretudo naquela reunião com o Draghi? Ou porque é apenas tema para animar o espírito messiânico de alguns que sonham com a soberania de um país que a perdeu, de facto depois de 1580? Este e outros documentos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents https://pt.scribd.com/uploads