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Quando aa VViiddaa nnooss MMaacchhuuccaa 
Compreendendo o lugar de Deus em sua dor 
Philip Yancey 
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Publicado pela Multnomah Publishers 
204 West Adams Ave., P.O. Box 1720, Sisters, Oregon, 
97759 
Copyright © 2003 pela Editora United Press 
Título do original em inglês: When life hurts 
Tradução: Luiz Frazão Filho 
Revisão: 
Josemar de Souza Pinto 
Noemi Lucília Lopes S. Ferreira 
Adaptação da capa e miolo 
B. J. Carvalho 
Supervisão editorial de produção 
Vera Villar 
1ª edição brasileira: 2003
Quando o coração se me amargou 
e as entranhas se me comoveram, 
eu estava embrutecido e ignorante; 
era como um irracional à tua presença. 
Todavia, estou sempre contigo, 
tu me seguras pela minha mão direita. 
Tu me guias com o teu conselho 
e depois me recebes na glória. 
Quem mais tenho eu no céu? 
Não outro em quem eu me compraza na terra. 
Ainda que a minha carne e o meu coração 
desfaleçam, 
Deus é a fortaleza do meu coração 
e a minha herança para sempre.
Um convite à esperança 
Há três décadas escrevendo, já conversei com muitas 
pessoas vítimas da dor. Algumas delas, como um piloto 
adolescente cujo avião ficou sem combustível e caiu em um 
milharal, eram diretamente responsáveis por seu próprio 
sofrimento. Outras, como uma jovem que morreu de 
leucemia, seis meses após seu casamento, foram 
aparentemente escolhidas de forma aleatória, sem nenhum 
aviso prévio. Entretanto, todas, sem exceção, tinham 
profundas e inquietantes dúvidas sobre Deus por causa da 
dor pela qual passaram. 
A dor coloca à prova nossas convicções mais 
elementares sobre Deus. Já ouvi, repetidas vezes, cinco 
perguntas ensejadas pela dor: Deus é suficientemente 
competente? Ele é, de fato, tão poderoso? Ele é justo? Por 
quê Ele parece não se importar com a dor? Onde está Deus 
quando mais preciso dele? 
Conheço bem essas perguntas por já tê-las feito a mim 
mesmo, em momentos de sofrimento. Caso você ainda não 
tenha colocado diante de si as mesas questões, é provável 
que algum dia isso venha a acontecer, em momento de 
grande sofrimento ou dor. Se você está passando por 
intensas aflições, físicas ou emocionais, este pequeno livro é 
para você. Nesses tempos tão indesejados de busca e 
desespero, Deus anseia por nos oferecer algo de valor 
inestimável, algo que nunca pedimos. Cada pergunta pode 
ser um convite à esperança, a porta para os seus generosos 
dons divinos.
Na tua presença, Senhor, 
estão os meus desejos todos, 
e a minha ansiedade não te é 
oculta. 
Bate-me excitado o coração, 
faltam-me as forças, 
e a luz dos meus olhos, 
essa mesma já não está contigo. 
Salmo 38.9-10
SEÇÃO UM 
QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA POR QUE DEUS CRIOU A 
DOR 
Passeie por um jardim durante a primavera ou observe a 
neve cair sobre uma paisagem montanhosa, e, por um 
instante, você terá a impressão de que tudo parece justo no 
mundo. A criação reflete a generosidade de Deus assim como 
uma pintura reflete a generosidade do artista. 
O mundo está repleto de belezas, convenhamos. 
Mas, observando mais detidamente este adorável 
mundo, você começa a ver dor e sofrimento por toda parte. 
Os animais devoram uns aos outros em um cruel ciclo de 
sobrevivência, onde prevalece a lei do comer ou ser comido. 
Todo ser humano passa por profundos sofrimentos pessoais. 
Alguns se destroem mutuamente. Tudo o que tem vida 
enfrenta frustrações, acidentes ou doenças - e, por fim, a 
morte. 
A "pintura" de Deus lhe parece falha; às vezes, até 
arruinada. 
Confesso que cheguei a ver a dor como um grande erro 
divino, num mundo que, por outro lado, se mostra 
impressionante. Por quê teria Deus permitido que sua 
criação ficasse desordenada e a dor passasse a existir no 
mundo? Se não houvesse injustiças e sofrimentos, seria 
muito mais fácil para nós respeitarmos a Deus e acreditar 
nele. Por quê não poderia ter Ele criado todas as belezas 
deste mundo deixando de fora a dor?
Descobri a resposta para essas perguntas em um lugar 
inusitado. Para minha surpresa, descobri que, na verdade, 
existe um mundo onde não há dor - entre as paredes de um 
leprosário. Os leprosos, hoje chamados de hansenianos, não 
sentem dor física. Porém, é justamente aí que está a tragédia 
de sua condição. A medida que a doença se alastra, as 
terminações nervosas que emitem os sinais de dor silenciam. 
Praticamente toda a deformidade física ocorre porque a 
vítima da lepra não consegue sentir dor. 
Certa vez, conheci um portador de lepra que havia 
perdido todos os dedos do pé direito por insistir em usar 
sapatos apertados, menores do que os que ele precisava 
usar. Conheço outro que chegou quase a perder o polegar por 
causa de uma ferida que se desenvolveu em decorrência da 
força com que ele segurava o cabo de um esfregão. Muitos 
pacientes naquele hospital ficaram cegos em virtude de a 
lepra ter silenciado as células da dor, cuja função era alertá-los 
no momento em que piscassem. 
Meus encontros com vítimas da lepra serviram para me 
mostrar que, em mil e um aspectos, grandes e pequenos, a 
dor nos é útil a cada dia. Enquanto formos saudáveis, as 
células da dor nos alertarão sobre quando devemos trocar de 
sapatos, sobre quando devemos segurar com menos força o 
cabo de um esfregão ou de um ancinho, ou quando 
precisamos piscar. Enfim, a dor nos permite levar uma vida 
livre e ativa. Em um livro escrito anteriormente, Where Is God 
When It Hurts, descrevo algumas das notáveis características 
da corrente da dor no corpo humano. Não posso reproduzi-las 
todas aqui, mas vale a pena mencionar algumas: 
- Sem os sinais da dor, a maioria dos esportes seria 
demasiadamente arriscada. 
- Sem a dor, não haveria sexo, uma vez que o prazer 
sexual é transmitido principalmente pelas células da dor. 
- Sem a dor, a arte e a cultura seriam muito limitadas. 
Musicistas, dançarinos, pintores e escultores, todos 
dependem da sensibilidade do corpo à dor e à pressão. Um
guitarrista, por exemplo, precisa sentir exatamente a posição 
de seus dedos nas cordas e a pressão exercida sobre elas. 
- Sem a dor, nossas vidas estariam correndo constantes 
perigos fatais. Não receberíamos, por exemplo, o aviso da 
ocorrência de um apêndice supurado, de um enfarto ou de 
um tumor cerebral. 
- Em suma, a dor é essencial à preservação da vida 
normal neste planeta. Não se trata de uma inovação 
inventada por Deus no último instante da criação só para 
tornar infeliz a vida das pessoas. Nem se constitui ela num 
grande erro do Criador. Hoje vejo no incrível rede de milhões 
de sensores da dor existentes por todo o corpo humano, 
precisamente adaptados à nossa necessidade de proteção, 
um exemplo da competência de Deus, e não de sua 
incompetência. 
* * * 
Deus meu, 
clamo de dia, 
e não me respondes. 
Salmo 22.2
SEÇÃO DOIS 
QUANDO VOCÊ DUVIDA DO PODER DE DEUS. 
É claro que a dor física é apenas a camada externa 
daquilo que chamamos de sofrimento. A morte, as doenças, 
os terremotos, os tornados - tudo suscita duros 
questionamentos sobre o envolvimento de Deus na terra. 
Pode ser que, originalmente, Ele tenha criado a dor como um 
meio de advertência eficaz para nós. Mas ao que dizer do 
mundo hoje? 
Será que Deus pode se sentir satisfeito com toda a 
insensatez dos males da humanidade, com as catástrofes 
naturais e as fatais doenças infantis? Por quê Ele não atua 
com toda a sua competência e põe fim a algumas das piores 
formas de sofrimento? Ele tem poderes suficientes para isso? 
Ele tem capacidade para reorganizar o universo de modo a 
aliviar nosso sofrimento? 
Certa vez, um famoso filósofo expressou o problema da 
dor da seguinte maneira: "Ou Deus é todo-poderoso, ou é 
todo-generoso. Ele não pode ser as duas coisas e permitir a 
dor e o sofrimento". Essa linha de pensamento geralmente 
leva à conclusão de que Deus é bondoso, de que Ele nos ama 
e detesta nos ver sofrer; mas, infelizmente, suas mãos estão 
atadas. Ele simplesmente não tem poder suficiente para 
solucionar os problemas deste mundo. Mas não é isso que a 
Bíblia ensina. Há no Antigo Testamento um livro sobre um 
homem que, sem merecer, sofria uma grande dor - Jó. No 
caso de Jó, Deus teve uma plataforma perfeita para discutir 
sua falta de poder, se é que esse era, na verdade, o problema. 
Certamente, Jó teria recebido de bom grado as seguintes 
palavras de Deus: "Jó, lamento profundamente o que está 
acontecendo. Espero que você entenda que eu nada tive a ver
com a maneira como as coisas ocorreram. Gostaria de poder 
ajudá-lo, Jó, mas realmente não tenho como". 
Deus não disse nada disso. Falando a um homem ferido 
e completamente desmoralizado, Ele enalteceu toda a sua 
sabedoria e o seu poder (Jó 38-41). 
* * * 
"Cinge, pois, os lombos, homem", começou Deus. 
"Pois eu te perguntarei, e tu me farás saber." 
Então, Deus se pôs a explorar o cosmo. 
"Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da 
terra? 
Dize-mo, se tens entendimento. 
Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes?" 
* * *
Passo a passo, Deus conduziu Jó pelo processo da 
criação: o projeto do planeta Terra, a escavação de canais 
para depositar os mares, a colocação do sistema solar em 
movimento, a criação da estrutura cristalina dos flocos de 
neve. Em seguida, Ele se voltou para o reino animal, 
ressaltando, com orgulho, o bode montes, o boi selvagem, o 
avestruz, o cavalo e o falcão. O escritor Frederick Buechner 
sintetizou as comparações que figuram no livro de Jó da 
seguinte maneira "[Deus] diz que tentar explanar os tipos de 
coisas que Jó quer explicar seria como tentar explicar 
Einstein comparando-o a uma cabeça de bagre... Deus não 
revela seu grande plano. Ele se revela a si mesmo." 
Outras partes da Bíblia me convencem de que talvez 
devêssemos ver o problema da dor como uma questão de 
ocasião, e não de poder. Temos muitos indícios da 
insatisfação de Deus com o estado em que este mundo se 
encontra. Certamente, sua insatisfação em vê-lo é tão grande 
quanto o nosso desagrado em assistir à sua decadência. E 
Ele planeja, um dia, tomar alguma atitude em relação a essa 
situação. 
Toda a vida dos profetas e de Jesus e todo o Novo 
Testamento são permeados pela esperança de que chegará o 
grande dia em que serão criados um novo céu e uma nova 
terra com a finalidade de substituir o antigo céu e a antiga 
terra. O apóstolo Paulo expressou a questão da seguinte 
maneira: 
"Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do 
tempo presente não podem ser comparados com a glória a 
ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação 
aguarda a revelação dos filhos de Deus... Porque sabemos 
que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias 
até agora" (Romanos 8.18-19-22).
Às vezes, vivendo nessa criação que "geme e suporta 
angústias", não podemos deixar de nos sentir como o pobre e 
velho Jó, que procurava aliviar sua dor, esfregando com 
cacos de argila as chagas que lhe cobriam o corpo, e se 
perguntava por que Deus, permitia que ele sofresse. Como 
Jó, podemos confiar em Deus, mesmo quando todas as 
evidências parecem estar contra nós. Podemos acreditar que 
Ele controla o universo e promete que, um dia, existirá um 
mundo muito melhor, um mundo onde não haverá dores, 
males ou angústias. 
* * * 
Até quando, 
SENHOR 
Esquecer-te-ás de mim 
para sempre? 
Até quando ocultarás 
de mim o rosto? 
Salmo 13.1 
* * *
SEÇÃO TRÊS 
QUANDO DEUS PARECE INJUSTO. 
"Por quê eu?", perguntamos quase instintivamente ao 
enfrentar uma grande tragédia. 
Veja com atenção as seguintes perguntas, e você poderá 
detectar um traço comum entre elas. 
Havia dois mil carros trafegado abaixo de chuva na estrada. 
Por quê justamente o meu foi derrapar e se chocar contra 
uma ponte? 
Entre todas as crianças que freqüentam a escola, por quê 
justamente o meu filho foi baleado por um louco? 
Um tipo raro de câncer ataca apenas uma em cada cem 
pessoas. Por quê justamente o meu pai tem de estar entre as 
vítimas? 
Cada questionador pressupõe que, de alguma forma, 
Deus seja o responsável, o causador direto da dor. Se, de 
fato, Ele é todo-competente e todo-poderoso, isso não 
significa que Ele controla cada aspecto da vida? Teria Deus 
escolhido, pessoalmente, o carro que deveria derrapar na 
auto-estrada? Teria Ele direcionado o pistoleiro para a sua 
vítima? Teria Ele escolhido, de maneira aleatória, uma vítima 
do câncer, a partir, por exemplo, de uma lista telefônica? 
Poucas pessoas conseguem evitar esse tipo de 
pensamento, quando a dor as atinge. Imediatamente,
começamos a fazer um exame de consciência, na tentativa de 
encontrar algum pecado pelo qual Deus possa nos estar 
punindo. O quê Deus está me dize por meio da dor? E, se 
nada encontramos de definido, começamos a questionar a 
justiça de Deus. Por quê estou sofrendo mais do que o meu 
vizinho que é um ímpio? 
Ao entrevistar pessoas que se encontram em meio a 
sofrimentos, constatei que elas se atormentam a si mesmas 
com perguntas como essas. Enquanto se contorcem na cama, 
se questionam sobre Deus. Embora bem-intencionados, 
geralmente os cristãos fazem com que as vítimas da dor se 
sintam ainda em pior estado. Eles chegam aos leitos 
hospitalares levando presentes de culpa - "Você deve ter feito 
algo para merecer isso" - e frustração - "Você não deve estar 
orando o suficiente." 
* * * 
"Ser absolutamente obrigado a amar a Deus, 
no meio do deserto, é como ser obrigado 
a estar bem quando se está doente, a cantar 
de alegria quando se está morrendo de sede, 
a correr quando se tem as pernas quebradas. 
Todavia, esse é o primeiro e grande 
mandamento. Mesmo no meio do deserto - 
e especialmente no meio do deserto - 
devemos amá-lo." 
Frederick Buechner 
* * *
Mais uma vez, a única maneira de colocar à prova as 
suas dúvidas em relação a Deus é procurar solvê-las à luz da 
Bíblia. O que encontramos lá? Será que Deus, em algum 
momento, usa a dor como punição? Sim, usa. A Bíblia 
registra muitos exemplos, especialmente de castigos 
impostos à nação de Israel do Antigo Testamento. Mas note 
bem: em todos os casos, a punição seguiu-se a repetidas 
advertências contra o comportamento que levou alguém a 
merecê-la. Os livros proféticos do Antigo Testamento, com 
centenas de páginas, fazem uma enérgica e eloqüente 
advertência ao povo de Israel para que se afastasse do 
pecado antes do juízo final. Pense no pai ou na mãe que 
castiga seu filho pequeno. De pouco valeria a correção feita 
intempestivamente por esse pai ou por essa mãe, se não 
houvesse, de sua parte, qualquer explicação diante daquele 
filho. Essa tática produziria uma criança neurótica, 
desobediente. Para ser eficaz, o castigo deve ter clara relação 
com o comportamento. 
A nação de Israel sabia por que estava sendo punida; os 
profetas haviam advertido o povo judeu de forma pungente e 
detalhada. O faraó do Egito sabia exatamente por que as dez 
pragas se desencadearam contra a sua terra: Deus as havia 
predito, mostrando-lhe a razão por que elas ocorreriam e 
como uma mudança nos sentimentos e atitude daquele 
governante poderia evitá-las. 
Os exemplos bíblicos do sofrimento como forma de 
punição, portanto, tendem a seguir um padrão. A dor vem 
depois de muita advertência. Depois de advertido, ninguém 
fique por aí se perguntando: "Por quê?" As pessoas sabem 
muito bem por que estão sofrendo. 
Mas será que esse padrão nos faz lembrar aquilo que 
acontece à maioria de nós hoje? Recebemos alguma revelação 
direta de Deus nos advertindo sobre alguma catástrofe 
iminente? O sofrimento pessoal vem acompanhado de clara 
explicação da parte do Senhor? Se não conhecemos a razão
do sofrimento, devemos questionar se as dores por que passa 
a maior das pessoas - um acidente aéreo, um caso de câncer 
na família, uma fatalidade no trânsito - são realmente 
castigos de Deus? 
Francamente, creio que, a menos que Deus se revele 
especialmente de outra forma, seria melhor recorrermos a 
outros exemplos bíblicos de pessoas que enfrentaram o 
sofrimento. A Bíblia contém algumas histórias de pessoas 
que sofreram, mas para quem o sofrimento não era, 
absolutamente, punição divina. 
* * * 
"Não acredito que o sofrimento, puro e 
simples, ensine. 
Se o sofrimento por si só ensinasse, o 
mundo inteiro seria sábio, uma vez que todos 
sofrem. Ao sofrimento devem-se 
acrescentar o profundo pesar, a compreensão, 
a paciência, o amor, a receptividade e 
a disposição para permanecer vulnerável 
ao próprio sofrimento." 
Anne Morrow Lindberg 
* * *
Jesus ressaltou essa questão em duas passagens 
diferentes do Novo Testamento. Certa vez, seus discípulos 
apontaram para um cego e perguntaram quem havia pecado 
a ponto de produzir tamanho sofrimento - o cego ou seus 
pais. Jesus respondeu que nem o cego nem seus pais havia 
pecado (João 9.1-5). 
Em outra ocasião, Jesus comentou sobre dois 
acontecimentos recentes de sua época: a queda de uma torre, 
provocando a morte de 18 pessoas, e a matança de alguns 
fiéis no interior do templo, determinada pelo governo. 
Aqueles que morreram com a queda da torre, disse Ele, não 
eram mais culpados do que qualquer outra pessoa (Lucas 
13.1-5). Eles nada haviam feito para merecer aquela dor. 
Existem exceções, é claro. Em alguns casos, a dor esta 
nitidamente relacionada aos erros de comportamento: as 
vítimas de doenças sexualmente transmissíveis e as pessoas 
atingidas por enfermidades relacionadas ao fumo e ao álcool 
não precisam perder seu tempo tentando descobrir a 
"mensagem" de sua dor. Entretanto, a maior parte de nós, na 
maioria das vez, não está sendo punida por Deus. Ao 
contrário, o nosso sofrimento segue um padrão de dores 
inesperadas e inexplicáveis, como aquelas vivenciadas por Jó 
e pelas vítimas das catástrofes descritas por Jesus. 
* * *
Justo é o SENHOR em todos 
os seus caminhos, benigno 
em todas as suas obras. 
Salmo 145.17 
* * * 
Contaste os meus passos 
quando sofri perseguições; 
recolheste as minhas lágrimas 
no teu odre; não estão elas 
inscritas no teu livro? 
Salmo 56.8 
* * *
SEÇÃO QUATRO 
QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA SE DEUS SE IMPORTA 
A última grande dúvida que surge em meio à dor é 
sutilmente diferente. 
Trata-se de uma dúvida de natureza pessoal. Por quê 
Deus não demonstra maior interesse por nós nos momentos 
de necessidade? Se Ele se preocupa com a minha dor, por 
quê não me faz ver isso? 
Um grande autor cristão, C. S. Lewis, escreveu um livro 
clássico sobre a dor, intitulado The Problem of Pain. Nesse 
livro, ele responde, de forma convincente, a muitas das 
dúvidas com que os cristãos se deparam diante do 
sofrimento. Centenas de milhares de pessoas encontraram 
consolo no livro de Lewis. 
Mas anos depois de Lewis ter escrito o livro, sua esposa 
contraiu câncer. Ele a viu consumir-se, aos poucos, em um 
leito de hospital, acabando por morrer. Após sua morte, ele 
escreveu outro livro sobre a dor, esse de caráter muito 
pessoal e emocional. E nesse livro, A Grief Observed, C. S. 
Lewis diz o seguinte: 
"Enquanto isso, onde está Deus? Este é um dos 
sintomas mais perturbadores. Quando você está feliz, tão 
feliz a ponto de não ter a sensação de precisar dele, ao 
recorrer a Ele com louvor, você é recebido de braços abertos. 
Mas recorra a Ele em um momento de desespero, quando 
todos os demais tipos de ajuda se mostram inúteis, e o que 
você encontra? Uma porta se bate no seu rosto, e você ouve o 
som da tranca que a fecha por dentro. Depois, segue-se o 
silêncio. Você pode tratar de ir embora."
C. S. Lewis não questionou a existência de Deus, mas, 
sim, o amor divino. Em nenhum outro momento, Deus 
pareceu mais distante ou desinteressado. Será que Deus 
tinha amor para dar? Se o tinha, então onde Ele estava nesse 
momento de tanta dor? 
Nem todos têm a sensação de abandono descrita por C. 
S. Lewis. Alguns cristãos expressam que Deus se lhes revelou 
de forma particularmente real em seus momentos de dor. Ele 
é capaz de proporcionar um misterioso conforto que nos 
ajuda a suportar a dor por que estamos passando. Mas nem 
sempre é assim. Às vezes, Deus parece silenciar totalmente. 
E aí? Será que Ele só se importa com as pessoas que, de 
alguma forma, sentem o seu conforto? Já conversei 
suficientemente com pessoas que estavam sofrendo e pude 
perceber que as experiência diferem. Não posso generalizar a 
maneira como alguém sente, individualmente, a proximidade 
ou a distância de Deus. Porém, existem duas expressões de 
preocupação divina aplicadas a todos nós, em qualquer 
ocasião. Uma é a resposta de Jesus à dor. A outra envolve 
todo aquele que se diz cristão. 
Mesmo os cristãos mais fiéis podem, assim como C. S. 
Lewis, questionar a preocupação pessoal de Deus. Nessa 
ocasião, as orações parecem palavras lançadas ao vento. 
Poucas pessoas recebem a milagrosa aparição de um 
Deus misericordioso que venha a amenizar suas dúvidas. 
Mas, pelo menos, podemos ter uma visão real de como Deus, 
de fato, se sente em relação à dor. 
"Era desprezado e o mais rejeitado 
entre os homens; homem de dores 
e que sabe o que é padecer." 
Isaías 53.3
Jesus passou grande parte de sua vida ente pessoas 
sofredoras, e suas respostas a essas pessoas demonstram 
como Ele se sente em relação à dor. Quando Lázaro, o amigo 
de Jesus morreu, Ele chorou. Muitas vezes - e todas as vezes 
em que a sua interferência e atuação eram requeridas - Ele 
curou a dor. 
Como Deus se sente em relação à dor? Olhe para Jesus. 
Ele respondia àqueles que sofriam com tristeza e pesar. Em 
seguida, com poder sobrenatural, Ele estendia a mão e 
eliminava as causas da dor. Não acredito que os discípulos 
de Jesus se atormentassem com perguntas como esta: "Será 
que Deus se importa"? Eles tinham provas cabais da 
preocupação de Deus todos os dias. Eles simplesmente 
olhavam para o rosto de Jesus e o viam desempenhar a 
missão de Deu na terra. 
Em Jesus, encontramos o fato histórico de como Deus 
respondia à dor na terra. Ele expressa o lado íntimo e pessoal 
da resposta de Deus ao sofrimento humano. Todas as nossas 
dúvidas em relação a Deus e sobre o sofrimento devem, na 
realidade, ser filtradas pelo que sabemos sobre Jesus. 
Jesus não só respondeu à dor com compaixão, como, 
surpreendentemente, o próprio Deus experimentou a dor. O 
mesmo Deus que, diante de Jó, se "jactou" de seu poder 
demonstrado na criação do mundo optou por se sujeitar a 
esse mundo e a todas as suas leis naturais, inclusive à dor. 
Outra escritora cristã, Dorothy Sayers, disse o seguinte: 
Qualquer que tenha sido a razão pela qual Deus optou 
por fazer o homem como ele é - limitado, sofredor e sujeito a 
dores e à morte -, teve a honestidade e a coragem de lhe 
oferecer as suas próprias soluções para as limitações 
humanas. Qualquer que seja o jogo de que está participando 
com a sua criação, qualquer que seja a maneira como se 
relaciona com o homem, Deus segue as suas próprias regras 
e age de maneira clara e justa, Ele nada exige do homem que 
não tenha exigido de si mesmo. Ele próprio passou por toda 
sorte de experiências humanas, desde as mais banais
tributações da vida familiar e restrições impostas pela vida 
profissional e a falta de dinheiro até os piores horrores da 
dor, da humilhação, da derrota, do desespero e da morte. 
Quando homem, Ele agia como homem, Ele nasceu pobre, 
morreu miserável e achou que, realmente, seus esforços e 
sofrimentos tiveram valor. 
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira", diz o versículo 
mais conhecido da Bíblia, "que deu o seu Filho unigênito, 
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida 
eterna" (João 3.16). 
O fato de Jesus ter vindo à terra, sofrido e morrido não 
exclui a dor de nossas vidas. Nem nos garante que nos 
sentiremos sempre confortados. Mas isso não demonstra que 
Deus se tenha sentado ao acaso, assistindo-nos sofrer 
sozinhos. Ele se juntou a nós e, durante a sua passagem pela 
terra, suportou uma dor muito maior do que qualquer grande 
dor que a maioria de nós pode suportar. Com isso, Ele 
conquistou uma vitória capaz de tornar possível a existência 
de um mundo futuro sem dor. 
* * * 
A palavra "compaixão" provém de duas palavras latinas 
que significam "sofrer com". 
Jesus demonstrou compaixão no sentido mais profundo, 
ao descer voluntariamente à terra para experimentar a dor. 
Ele sofreu conosco e por nós. 
* * *
Mostra as maravilhas da tua bondade, 
ó Salvador dos que à tua 
destra buscam refúgio... 
Guarda-me como a menina dos 
olhos, esconde-me à sombra das tuas asas. 
Salmo 17.7-8
SEÇÃO CINCO 
QUANDO VOCÊ PRECISA SENTIR O AMOR DE DEUS. 
Mas Jesus, o nosso Salvador sofredor e Médico, não 
ficou na terra. Hoje, não podemos até Jerusalém, alugar um 
carro e agendar com Ele uma visita particular. Como 
podemos, hoje, sentir o amor de Deus de forma concreta? 
Temos o Espírito Santo, é claro, um símbolo real da 
presença de Deus em nós. E temos a promessa do futuro, 
quando Deus criará o mundo perfeito, e quando nos 
encontraremos face a face com Ele. Mas, como viver ainda o 
momento presente? O que pode nos tranqüilizar e nos 
mostrar, de maneira física e visível, o amor de Deus na terra? 
É aí que entra em cena a Igreja, a comunidade que 
inclui todos os verdadeiros seguidores de Deus na terra. A 
Bíblia usa a expressão "o corpo de Cristo", que expressa 
aquilo que devemos realmente significar. 
Os cristãos devem refletir a imagem de Cristo - suas 
palavras, seu toque, seu cuidado - especialmente para 
aqueles que têm necessidade de ajuda. 
Só existe uma boa maneira de compreender como o 
corpo de Cristo pode prestar assistência a uma pessoa que 
sofre: vê-lo em ação. Eu já tenho testemunhado e 
experimentado isso em minha própria vida. E já tenho visto a 
sua atuação na vida dos outros também. Deixe-me contar-lhe 
a história de Martha, uma pessoa que conviveu com uma 
grande dor e grandes dúvidas. 
Martha era uma atraente mulher de 26 anos, quando a 
conheci. Mas sua vida mudou para sempre no dia em que ela 
tomou conhecimento de que havia contraído ALS, ou "mal de 
Lou Gehrig". O ALS destrói o controle do sistema nervoso.
Primeiro, a doença ataca os movimentos voluntários, como o 
controle sobre os braços e as pernas, depois as mãos e os 
pés, progredindo até finalmente afetar a respiração, sucumbe 
rapidamente ; outras vezes, não. 
Martha parecia perfeitamente normal quando me falou 
pela primeira vez sobre sua doença. Porém, um mês depois, 
ela estava numa cadeira de rodas. Foi demitida de seu 
emprego na biblioteca de uma universidade. Passado mais 
um mês, seu braço direito perdeu os movimentos. Logo, seu 
outro braço seguiu o mesmo caminho, e ela mal conseguia 
manejar os controles da nova cadeira de rodas elétrica. 
Comecei a visitar Martha no hospital de reabilitação. Eu 
a levava para pequenos passeios em sua cadeira de rodas e 
em meu carro. Tomei conhecimento da gravidade e da 
impiedade de seu sofrimento. Ela necessitava de ajuda para 
cada movimento: para se vestir, para acomodar a cabeça no 
travesseiro, para fazer sua higiene. Quando ela chorava, 
alguém tinha de enxugar suas lágrimas e segurar um lenço 
de papel em seu nariz. 
Seu corpo estava completamente rebelado contra a sua 
vontade e não obedecia a qualquer de seus comandos. 
Conversamos brevemente sobre a morte e a fé cristão. 
Confesso sinceramente que, para Martha, as grandes 
esperanças cristãs da vida eterna, da cura fundamental e da 
ressurreição pareciam vazias, frágeis e inconsistentes como a 
fumaça quando usadas como bandeira para alguém em 
dificuldade. Ela não queria asas de anjo, mas um braço que 
caísse coordenadamente para o lado, uma boca que não 
babasse e pulmões que não lhe faltassem. Confesso que a 
eternidade, mesmo pensando na eternidade onde não haverá 
dor, parecia ter uma estranha irrelevância para o sofrimento 
por que Martha estava passando. Ela pensava em Deus, é 
claro; mas mal conseguia vê-lo com amor. Ela resistia a 
qualquer forma de conversão em seu leito de morte, 
insistindo que só recorreria a Deus por amor, e não por
medo. E de que maneira ela poderia amar um Deus que lhe 
permitia sofrer tanto? 
No mês de outubro, mais ou menos, ficou claro que o 
ALS completaria rapidamente o seu terrível ciclo de vida de 
Martha. Ela já tinha grande dificuldade para respirar. Por 
causa da dificuldade na chegada do oxigênio ao cérebro, 
geralmente adormecia no meio de uma conversa. Às vezes, 
durante a noite, ela acordava em pânico, com a sensação de 
sufocamento, e não conseguia pedir socorro. 
O último pedido de Martha foi para sair do hospital e 
passar, pelo menos, duas semanas em seu apartamento, em 
Chicago, para que tivesse a oportunidade de chamar os 
amigos, um a um, a fim de se despedir e encarar sua morte. 
Mas essas duas semanas em seu apartamento apresentavam 
um problema: como poderia ela receber, durante 24 horas do 
dia, a assistência de que necessitava para permanecer viva, 
somente se ela estivesse em um quarto de hospital, e não em 
casa. 
Assim sendo, um grupo de voluntárias cristãs se 
ofereceu para prestar a assistência pessoal gratuita e 
generosa de que Martha necessitava. Elas adotaram Martha 
como um alvo de vida e providenciaram tudo o que era 
necessário para satisfazer seus últimos desejos. Dezesseis 
mulheres reestruturaram suas vidas em função de Martha, e, 
após se dividirem em equipes de trabalho e providenciarem 
serviços de babá para seus próprios filhos, elas mudaram-se 
para o apartamento de Martha. Faziam companhia a Martha, 
ouviam seus delírios e queixas, davam-lhe banho, ajudavam-na 
a se sentar, mudavam-na de posição, passavam a noite 
inteira acordadas com ela, oravam por ela e lhe 
demonstravam o seu amor. Elas se colocaram à sua 
disposição, oferecendo-lhe um lugar e dando sentido ao seu 
sofrimento. 
Para Martha, aquelas mulheres passaram a ser o corpo 
de Cristo e lhe mostraram claramente o que é a esperança 
cristã. Por fim, vendo o amor de Deus encarnado em seu
corpo, em sua Igreja, e assistindo à demonstração de amor 
por parte das pessoas à sua volta - embora, para ela, Deus 
parecesse impiedoso e até mesmo cruel -, Martha veio à 
presença desse Deus em Cristo e se entregou, 
verdadeiramente, àquele que morreu para salvá-la. Ela não 
foi à presença de Deus com medo; Martha havia finalmente, 
encontrado o amor divino. Nos rostos daquelas mulheres 
cristãs, ela acabou conseguindo ler o amor de Deus. Durante 
cerimônia muito emocionante, realizada em Evanston, 
Martha, mesmo tão debilitada, deu seu testemunho de 
conversão e foi batizada. 
Não se turbe o vosso coração; 
credes em Deus, crede também em mim. 
Na casa de meu Pai há muitas moradas. 
Se assim não fora, eu vo-lo teria dito 
Pois vou preparar-vos lugar, 
E, quando eu for e vos preparar lugar, 
voltarei e vos receberei para mim mesmo 
para que, onde eu estou, estejais vós também. 
João 12.1-3 
Na véspera do Dia de Ação de Graças, Martha morreu. 
Seu corpo, enrugado, deformado e atrofiado, era uma sombra 
patética de sua antiga beleza. Quando aquele corpo 
finalmente cessou sua atividade, Martha se foi. 
Hoje, Martha vive em um outro corpo, de forma 
vitoriosa. Ela vive, graças à vitória de Cristo sobre a dor, 
sobre o pecado, sobre o sofrimento e sobre a morte. E Martha 
descobriu essa vitória porque o corpo de Cristo - a sua Igreja 
- fez com que ela pudesse conhecê-la de maneira clara e 
definida. Por meio de seu sofrimento, ela pôde conhecer
verdadeiramente o Senhor. No amor e na compaixão dos 
cristãos à sua volta, ela viu e recebeu o amor de Deus. E, 
assim, as suas dúvidas em relação a Ele foram 
gradativamente se dirimindo. 
O apóstolo Paulo devia ter em mente algo semelhante a 
essa experiência quando escreveu as seguintes palavras: 
"Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam 
em grande medida a nosso favor, assim também a nossa 
consolação transborda por meio de Cristo." 
2 Coríntios 1.5 
As melhores repostas para as questões levantadas 
quando a vida nos machuca são encontradas no corpo de 
Cristo, a Igreja. Prestando assistência àqueles que sofrem, 
permitimos que a consolação de Cristo transborde por nosso 
intermédio. Com isso, revelamos ao mundo o que Deus 
realmente é.
"Se amarmos a Deus e nele amarmos os outros, 
teremos prazer em deixar que o sofrimento 
destrua em nós qualquer coisa que Deus 
queira que por Ele seja destruída, 
porque sabemos que tudo o que o sofrimento 
destrói não tem importância. 
Preferiremos deixar que o lixo acidental da vida 
seja consumado pelo sofrimento 
para que a glória de Deus possa 
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Thomas Merton

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  • 1.
  • 2. Quando aa VViiddaa nnooss MMaacchhuuccaa Compreendendo o lugar de Deus em sua dor Philip Yancey Digitalizado por Carlos Honório Reeditado por SusanaCap www.semeadores.net Nossos e-books são disponibilizados gratuitamente, com a única finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que não tem condições econômicas para comprar. Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso acervo apenas para avaliação, e, se gostar, abençoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros. Semeadores da Palavra e-books evangélicos
  • 3. Copyright © 1999 por Philip Yancey Publicado pela Multnomah Publishers 204 West Adams Ave., P.O. Box 1720, Sisters, Oregon, 97759 Copyright © 2003 pela Editora United Press Título do original em inglês: When life hurts Tradução: Luiz Frazão Filho Revisão: Josemar de Souza Pinto Noemi Lucília Lopes S. Ferreira Adaptação da capa e miolo B. J. Carvalho Supervisão editorial de produção Vera Villar 1ª edição brasileira: 2003
  • 4. Quando o coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita. Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória. Quem mais tenho eu no céu? Não outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre.
  • 5. Um convite à esperança Há três décadas escrevendo, já conversei com muitas pessoas vítimas da dor. Algumas delas, como um piloto adolescente cujo avião ficou sem combustível e caiu em um milharal, eram diretamente responsáveis por seu próprio sofrimento. Outras, como uma jovem que morreu de leucemia, seis meses após seu casamento, foram aparentemente escolhidas de forma aleatória, sem nenhum aviso prévio. Entretanto, todas, sem exceção, tinham profundas e inquietantes dúvidas sobre Deus por causa da dor pela qual passaram. A dor coloca à prova nossas convicções mais elementares sobre Deus. Já ouvi, repetidas vezes, cinco perguntas ensejadas pela dor: Deus é suficientemente competente? Ele é, de fato, tão poderoso? Ele é justo? Por quê Ele parece não se importar com a dor? Onde está Deus quando mais preciso dele? Conheço bem essas perguntas por já tê-las feito a mim mesmo, em momentos de sofrimento. Caso você ainda não tenha colocado diante de si as mesas questões, é provável que algum dia isso venha a acontecer, em momento de grande sofrimento ou dor. Se você está passando por intensas aflições, físicas ou emocionais, este pequeno livro é para você. Nesses tempos tão indesejados de busca e desespero, Deus anseia por nos oferecer algo de valor inestimável, algo que nunca pedimos. Cada pergunta pode ser um convite à esperança, a porta para os seus generosos dons divinos.
  • 6. Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta. Bate-me excitado o coração, faltam-me as forças, e a luz dos meus olhos, essa mesma já não está contigo. Salmo 38.9-10
  • 7. SEÇÃO UM QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA POR QUE DEUS CRIOU A DOR Passeie por um jardim durante a primavera ou observe a neve cair sobre uma paisagem montanhosa, e, por um instante, você terá a impressão de que tudo parece justo no mundo. A criação reflete a generosidade de Deus assim como uma pintura reflete a generosidade do artista. O mundo está repleto de belezas, convenhamos. Mas, observando mais detidamente este adorável mundo, você começa a ver dor e sofrimento por toda parte. Os animais devoram uns aos outros em um cruel ciclo de sobrevivência, onde prevalece a lei do comer ou ser comido. Todo ser humano passa por profundos sofrimentos pessoais. Alguns se destroem mutuamente. Tudo o que tem vida enfrenta frustrações, acidentes ou doenças - e, por fim, a morte. A "pintura" de Deus lhe parece falha; às vezes, até arruinada. Confesso que cheguei a ver a dor como um grande erro divino, num mundo que, por outro lado, se mostra impressionante. Por quê teria Deus permitido que sua criação ficasse desordenada e a dor passasse a existir no mundo? Se não houvesse injustiças e sofrimentos, seria muito mais fácil para nós respeitarmos a Deus e acreditar nele. Por quê não poderia ter Ele criado todas as belezas deste mundo deixando de fora a dor?
  • 8. Descobri a resposta para essas perguntas em um lugar inusitado. Para minha surpresa, descobri que, na verdade, existe um mundo onde não há dor - entre as paredes de um leprosário. Os leprosos, hoje chamados de hansenianos, não sentem dor física. Porém, é justamente aí que está a tragédia de sua condição. A medida que a doença se alastra, as terminações nervosas que emitem os sinais de dor silenciam. Praticamente toda a deformidade física ocorre porque a vítima da lepra não consegue sentir dor. Certa vez, conheci um portador de lepra que havia perdido todos os dedos do pé direito por insistir em usar sapatos apertados, menores do que os que ele precisava usar. Conheço outro que chegou quase a perder o polegar por causa de uma ferida que se desenvolveu em decorrência da força com que ele segurava o cabo de um esfregão. Muitos pacientes naquele hospital ficaram cegos em virtude de a lepra ter silenciado as células da dor, cuja função era alertá-los no momento em que piscassem. Meus encontros com vítimas da lepra serviram para me mostrar que, em mil e um aspectos, grandes e pequenos, a dor nos é útil a cada dia. Enquanto formos saudáveis, as células da dor nos alertarão sobre quando devemos trocar de sapatos, sobre quando devemos segurar com menos força o cabo de um esfregão ou de um ancinho, ou quando precisamos piscar. Enfim, a dor nos permite levar uma vida livre e ativa. Em um livro escrito anteriormente, Where Is God When It Hurts, descrevo algumas das notáveis características da corrente da dor no corpo humano. Não posso reproduzi-las todas aqui, mas vale a pena mencionar algumas: - Sem os sinais da dor, a maioria dos esportes seria demasiadamente arriscada. - Sem a dor, não haveria sexo, uma vez que o prazer sexual é transmitido principalmente pelas células da dor. - Sem a dor, a arte e a cultura seriam muito limitadas. Musicistas, dançarinos, pintores e escultores, todos dependem da sensibilidade do corpo à dor e à pressão. Um
  • 9. guitarrista, por exemplo, precisa sentir exatamente a posição de seus dedos nas cordas e a pressão exercida sobre elas. - Sem a dor, nossas vidas estariam correndo constantes perigos fatais. Não receberíamos, por exemplo, o aviso da ocorrência de um apêndice supurado, de um enfarto ou de um tumor cerebral. - Em suma, a dor é essencial à preservação da vida normal neste planeta. Não se trata de uma inovação inventada por Deus no último instante da criação só para tornar infeliz a vida das pessoas. Nem se constitui ela num grande erro do Criador. Hoje vejo no incrível rede de milhões de sensores da dor existentes por todo o corpo humano, precisamente adaptados à nossa necessidade de proteção, um exemplo da competência de Deus, e não de sua incompetência. * * * Deus meu, clamo de dia, e não me respondes. Salmo 22.2
  • 10. SEÇÃO DOIS QUANDO VOCÊ DUVIDA DO PODER DE DEUS. É claro que a dor física é apenas a camada externa daquilo que chamamos de sofrimento. A morte, as doenças, os terremotos, os tornados - tudo suscita duros questionamentos sobre o envolvimento de Deus na terra. Pode ser que, originalmente, Ele tenha criado a dor como um meio de advertência eficaz para nós. Mas ao que dizer do mundo hoje? Será que Deus pode se sentir satisfeito com toda a insensatez dos males da humanidade, com as catástrofes naturais e as fatais doenças infantis? Por quê Ele não atua com toda a sua competência e põe fim a algumas das piores formas de sofrimento? Ele tem poderes suficientes para isso? Ele tem capacidade para reorganizar o universo de modo a aliviar nosso sofrimento? Certa vez, um famoso filósofo expressou o problema da dor da seguinte maneira: "Ou Deus é todo-poderoso, ou é todo-generoso. Ele não pode ser as duas coisas e permitir a dor e o sofrimento". Essa linha de pensamento geralmente leva à conclusão de que Deus é bondoso, de que Ele nos ama e detesta nos ver sofrer; mas, infelizmente, suas mãos estão atadas. Ele simplesmente não tem poder suficiente para solucionar os problemas deste mundo. Mas não é isso que a Bíblia ensina. Há no Antigo Testamento um livro sobre um homem que, sem merecer, sofria uma grande dor - Jó. No caso de Jó, Deus teve uma plataforma perfeita para discutir sua falta de poder, se é que esse era, na verdade, o problema. Certamente, Jó teria recebido de bom grado as seguintes palavras de Deus: "Jó, lamento profundamente o que está acontecendo. Espero que você entenda que eu nada tive a ver
  • 11. com a maneira como as coisas ocorreram. Gostaria de poder ajudá-lo, Jó, mas realmente não tenho como". Deus não disse nada disso. Falando a um homem ferido e completamente desmoralizado, Ele enalteceu toda a sua sabedoria e o seu poder (Jó 38-41). * * * "Cinge, pois, os lombos, homem", começou Deus. "Pois eu te perguntarei, e tu me farás saber." Então, Deus se pôs a explorar o cosmo. "Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes?" * * *
  • 12. Passo a passo, Deus conduziu Jó pelo processo da criação: o projeto do planeta Terra, a escavação de canais para depositar os mares, a colocação do sistema solar em movimento, a criação da estrutura cristalina dos flocos de neve. Em seguida, Ele se voltou para o reino animal, ressaltando, com orgulho, o bode montes, o boi selvagem, o avestruz, o cavalo e o falcão. O escritor Frederick Buechner sintetizou as comparações que figuram no livro de Jó da seguinte maneira "[Deus] diz que tentar explanar os tipos de coisas que Jó quer explicar seria como tentar explicar Einstein comparando-o a uma cabeça de bagre... Deus não revela seu grande plano. Ele se revela a si mesmo." Outras partes da Bíblia me convencem de que talvez devêssemos ver o problema da dor como uma questão de ocasião, e não de poder. Temos muitos indícios da insatisfação de Deus com o estado em que este mundo se encontra. Certamente, sua insatisfação em vê-lo é tão grande quanto o nosso desagrado em assistir à sua decadência. E Ele planeja, um dia, tomar alguma atitude em relação a essa situação. Toda a vida dos profetas e de Jesus e todo o Novo Testamento são permeados pela esperança de que chegará o grande dia em que serão criados um novo céu e uma nova terra com a finalidade de substituir o antigo céu e a antiga terra. O apóstolo Paulo expressou a questão da seguinte maneira: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus... Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora" (Romanos 8.18-19-22).
  • 13. Às vezes, vivendo nessa criação que "geme e suporta angústias", não podemos deixar de nos sentir como o pobre e velho Jó, que procurava aliviar sua dor, esfregando com cacos de argila as chagas que lhe cobriam o corpo, e se perguntava por que Deus, permitia que ele sofresse. Como Jó, podemos confiar em Deus, mesmo quando todas as evidências parecem estar contra nós. Podemos acreditar que Ele controla o universo e promete que, um dia, existirá um mundo muito melhor, um mundo onde não haverá dores, males ou angústias. * * * Até quando, SENHOR Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Salmo 13.1 * * *
  • 14. SEÇÃO TRÊS QUANDO DEUS PARECE INJUSTO. "Por quê eu?", perguntamos quase instintivamente ao enfrentar uma grande tragédia. Veja com atenção as seguintes perguntas, e você poderá detectar um traço comum entre elas. Havia dois mil carros trafegado abaixo de chuva na estrada. Por quê justamente o meu foi derrapar e se chocar contra uma ponte? Entre todas as crianças que freqüentam a escola, por quê justamente o meu filho foi baleado por um louco? Um tipo raro de câncer ataca apenas uma em cada cem pessoas. Por quê justamente o meu pai tem de estar entre as vítimas? Cada questionador pressupõe que, de alguma forma, Deus seja o responsável, o causador direto da dor. Se, de fato, Ele é todo-competente e todo-poderoso, isso não significa que Ele controla cada aspecto da vida? Teria Deus escolhido, pessoalmente, o carro que deveria derrapar na auto-estrada? Teria Ele direcionado o pistoleiro para a sua vítima? Teria Ele escolhido, de maneira aleatória, uma vítima do câncer, a partir, por exemplo, de uma lista telefônica? Poucas pessoas conseguem evitar esse tipo de pensamento, quando a dor as atinge. Imediatamente,
  • 15. começamos a fazer um exame de consciência, na tentativa de encontrar algum pecado pelo qual Deus possa nos estar punindo. O quê Deus está me dize por meio da dor? E, se nada encontramos de definido, começamos a questionar a justiça de Deus. Por quê estou sofrendo mais do que o meu vizinho que é um ímpio? Ao entrevistar pessoas que se encontram em meio a sofrimentos, constatei que elas se atormentam a si mesmas com perguntas como essas. Enquanto se contorcem na cama, se questionam sobre Deus. Embora bem-intencionados, geralmente os cristãos fazem com que as vítimas da dor se sintam ainda em pior estado. Eles chegam aos leitos hospitalares levando presentes de culpa - "Você deve ter feito algo para merecer isso" - e frustração - "Você não deve estar orando o suficiente." * * * "Ser absolutamente obrigado a amar a Deus, no meio do deserto, é como ser obrigado a estar bem quando se está doente, a cantar de alegria quando se está morrendo de sede, a correr quando se tem as pernas quebradas. Todavia, esse é o primeiro e grande mandamento. Mesmo no meio do deserto - e especialmente no meio do deserto - devemos amá-lo." Frederick Buechner * * *
  • 16. Mais uma vez, a única maneira de colocar à prova as suas dúvidas em relação a Deus é procurar solvê-las à luz da Bíblia. O que encontramos lá? Será que Deus, em algum momento, usa a dor como punição? Sim, usa. A Bíblia registra muitos exemplos, especialmente de castigos impostos à nação de Israel do Antigo Testamento. Mas note bem: em todos os casos, a punição seguiu-se a repetidas advertências contra o comportamento que levou alguém a merecê-la. Os livros proféticos do Antigo Testamento, com centenas de páginas, fazem uma enérgica e eloqüente advertência ao povo de Israel para que se afastasse do pecado antes do juízo final. Pense no pai ou na mãe que castiga seu filho pequeno. De pouco valeria a correção feita intempestivamente por esse pai ou por essa mãe, se não houvesse, de sua parte, qualquer explicação diante daquele filho. Essa tática produziria uma criança neurótica, desobediente. Para ser eficaz, o castigo deve ter clara relação com o comportamento. A nação de Israel sabia por que estava sendo punida; os profetas haviam advertido o povo judeu de forma pungente e detalhada. O faraó do Egito sabia exatamente por que as dez pragas se desencadearam contra a sua terra: Deus as havia predito, mostrando-lhe a razão por que elas ocorreriam e como uma mudança nos sentimentos e atitude daquele governante poderia evitá-las. Os exemplos bíblicos do sofrimento como forma de punição, portanto, tendem a seguir um padrão. A dor vem depois de muita advertência. Depois de advertido, ninguém fique por aí se perguntando: "Por quê?" As pessoas sabem muito bem por que estão sofrendo. Mas será que esse padrão nos faz lembrar aquilo que acontece à maioria de nós hoje? Recebemos alguma revelação direta de Deus nos advertindo sobre alguma catástrofe iminente? O sofrimento pessoal vem acompanhado de clara explicação da parte do Senhor? Se não conhecemos a razão
  • 17. do sofrimento, devemos questionar se as dores por que passa a maior das pessoas - um acidente aéreo, um caso de câncer na família, uma fatalidade no trânsito - são realmente castigos de Deus? Francamente, creio que, a menos que Deus se revele especialmente de outra forma, seria melhor recorrermos a outros exemplos bíblicos de pessoas que enfrentaram o sofrimento. A Bíblia contém algumas histórias de pessoas que sofreram, mas para quem o sofrimento não era, absolutamente, punição divina. * * * "Não acredito que o sofrimento, puro e simples, ensine. Se o sofrimento por si só ensinasse, o mundo inteiro seria sábio, uma vez que todos sofrem. Ao sofrimento devem-se acrescentar o profundo pesar, a compreensão, a paciência, o amor, a receptividade e a disposição para permanecer vulnerável ao próprio sofrimento." Anne Morrow Lindberg * * *
  • 18. Jesus ressaltou essa questão em duas passagens diferentes do Novo Testamento. Certa vez, seus discípulos apontaram para um cego e perguntaram quem havia pecado a ponto de produzir tamanho sofrimento - o cego ou seus pais. Jesus respondeu que nem o cego nem seus pais havia pecado (João 9.1-5). Em outra ocasião, Jesus comentou sobre dois acontecimentos recentes de sua época: a queda de uma torre, provocando a morte de 18 pessoas, e a matança de alguns fiéis no interior do templo, determinada pelo governo. Aqueles que morreram com a queda da torre, disse Ele, não eram mais culpados do que qualquer outra pessoa (Lucas 13.1-5). Eles nada haviam feito para merecer aquela dor. Existem exceções, é claro. Em alguns casos, a dor esta nitidamente relacionada aos erros de comportamento: as vítimas de doenças sexualmente transmissíveis e as pessoas atingidas por enfermidades relacionadas ao fumo e ao álcool não precisam perder seu tempo tentando descobrir a "mensagem" de sua dor. Entretanto, a maior parte de nós, na maioria das vez, não está sendo punida por Deus. Ao contrário, o nosso sofrimento segue um padrão de dores inesperadas e inexplicáveis, como aquelas vivenciadas por Jó e pelas vítimas das catástrofes descritas por Jesus. * * *
  • 19. Justo é o SENHOR em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras. Salmo 145.17 * * * Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro? Salmo 56.8 * * *
  • 20. SEÇÃO QUATRO QUANDO VOCÊ SE PERGUNTA SE DEUS SE IMPORTA A última grande dúvida que surge em meio à dor é sutilmente diferente. Trata-se de uma dúvida de natureza pessoal. Por quê Deus não demonstra maior interesse por nós nos momentos de necessidade? Se Ele se preocupa com a minha dor, por quê não me faz ver isso? Um grande autor cristão, C. S. Lewis, escreveu um livro clássico sobre a dor, intitulado The Problem of Pain. Nesse livro, ele responde, de forma convincente, a muitas das dúvidas com que os cristãos se deparam diante do sofrimento. Centenas de milhares de pessoas encontraram consolo no livro de Lewis. Mas anos depois de Lewis ter escrito o livro, sua esposa contraiu câncer. Ele a viu consumir-se, aos poucos, em um leito de hospital, acabando por morrer. Após sua morte, ele escreveu outro livro sobre a dor, esse de caráter muito pessoal e emocional. E nesse livro, A Grief Observed, C. S. Lewis diz o seguinte: "Enquanto isso, onde está Deus? Este é um dos sintomas mais perturbadores. Quando você está feliz, tão feliz a ponto de não ter a sensação de precisar dele, ao recorrer a Ele com louvor, você é recebido de braços abertos. Mas recorra a Ele em um momento de desespero, quando todos os demais tipos de ajuda se mostram inúteis, e o que você encontra? Uma porta se bate no seu rosto, e você ouve o som da tranca que a fecha por dentro. Depois, segue-se o silêncio. Você pode tratar de ir embora."
  • 21. C. S. Lewis não questionou a existência de Deus, mas, sim, o amor divino. Em nenhum outro momento, Deus pareceu mais distante ou desinteressado. Será que Deus tinha amor para dar? Se o tinha, então onde Ele estava nesse momento de tanta dor? Nem todos têm a sensação de abandono descrita por C. S. Lewis. Alguns cristãos expressam que Deus se lhes revelou de forma particularmente real em seus momentos de dor. Ele é capaz de proporcionar um misterioso conforto que nos ajuda a suportar a dor por que estamos passando. Mas nem sempre é assim. Às vezes, Deus parece silenciar totalmente. E aí? Será que Ele só se importa com as pessoas que, de alguma forma, sentem o seu conforto? Já conversei suficientemente com pessoas que estavam sofrendo e pude perceber que as experiência diferem. Não posso generalizar a maneira como alguém sente, individualmente, a proximidade ou a distância de Deus. Porém, existem duas expressões de preocupação divina aplicadas a todos nós, em qualquer ocasião. Uma é a resposta de Jesus à dor. A outra envolve todo aquele que se diz cristão. Mesmo os cristãos mais fiéis podem, assim como C. S. Lewis, questionar a preocupação pessoal de Deus. Nessa ocasião, as orações parecem palavras lançadas ao vento. Poucas pessoas recebem a milagrosa aparição de um Deus misericordioso que venha a amenizar suas dúvidas. Mas, pelo menos, podemos ter uma visão real de como Deus, de fato, se sente em relação à dor. "Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer." Isaías 53.3
  • 22. Jesus passou grande parte de sua vida ente pessoas sofredoras, e suas respostas a essas pessoas demonstram como Ele se sente em relação à dor. Quando Lázaro, o amigo de Jesus morreu, Ele chorou. Muitas vezes - e todas as vezes em que a sua interferência e atuação eram requeridas - Ele curou a dor. Como Deus se sente em relação à dor? Olhe para Jesus. Ele respondia àqueles que sofriam com tristeza e pesar. Em seguida, com poder sobrenatural, Ele estendia a mão e eliminava as causas da dor. Não acredito que os discípulos de Jesus se atormentassem com perguntas como esta: "Será que Deus se importa"? Eles tinham provas cabais da preocupação de Deus todos os dias. Eles simplesmente olhavam para o rosto de Jesus e o viam desempenhar a missão de Deu na terra. Em Jesus, encontramos o fato histórico de como Deus respondia à dor na terra. Ele expressa o lado íntimo e pessoal da resposta de Deus ao sofrimento humano. Todas as nossas dúvidas em relação a Deus e sobre o sofrimento devem, na realidade, ser filtradas pelo que sabemos sobre Jesus. Jesus não só respondeu à dor com compaixão, como, surpreendentemente, o próprio Deus experimentou a dor. O mesmo Deus que, diante de Jó, se "jactou" de seu poder demonstrado na criação do mundo optou por se sujeitar a esse mundo e a todas as suas leis naturais, inclusive à dor. Outra escritora cristã, Dorothy Sayers, disse o seguinte: Qualquer que tenha sido a razão pela qual Deus optou por fazer o homem como ele é - limitado, sofredor e sujeito a dores e à morte -, teve a honestidade e a coragem de lhe oferecer as suas próprias soluções para as limitações humanas. Qualquer que seja o jogo de que está participando com a sua criação, qualquer que seja a maneira como se relaciona com o homem, Deus segue as suas próprias regras e age de maneira clara e justa, Ele nada exige do homem que não tenha exigido de si mesmo. Ele próprio passou por toda sorte de experiências humanas, desde as mais banais
  • 23. tributações da vida familiar e restrições impostas pela vida profissional e a falta de dinheiro até os piores horrores da dor, da humilhação, da derrota, do desespero e da morte. Quando homem, Ele agia como homem, Ele nasceu pobre, morreu miserável e achou que, realmente, seus esforços e sofrimentos tiveram valor. "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira", diz o versículo mais conhecido da Bíblia, "que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3.16). O fato de Jesus ter vindo à terra, sofrido e morrido não exclui a dor de nossas vidas. Nem nos garante que nos sentiremos sempre confortados. Mas isso não demonstra que Deus se tenha sentado ao acaso, assistindo-nos sofrer sozinhos. Ele se juntou a nós e, durante a sua passagem pela terra, suportou uma dor muito maior do que qualquer grande dor que a maioria de nós pode suportar. Com isso, Ele conquistou uma vitória capaz de tornar possível a existência de um mundo futuro sem dor. * * * A palavra "compaixão" provém de duas palavras latinas que significam "sofrer com". Jesus demonstrou compaixão no sentido mais profundo, ao descer voluntariamente à terra para experimentar a dor. Ele sofreu conosco e por nós. * * *
  • 24. Mostra as maravilhas da tua bondade, ó Salvador dos que à tua destra buscam refúgio... Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me à sombra das tuas asas. Salmo 17.7-8
  • 25. SEÇÃO CINCO QUANDO VOCÊ PRECISA SENTIR O AMOR DE DEUS. Mas Jesus, o nosso Salvador sofredor e Médico, não ficou na terra. Hoje, não podemos até Jerusalém, alugar um carro e agendar com Ele uma visita particular. Como podemos, hoje, sentir o amor de Deus de forma concreta? Temos o Espírito Santo, é claro, um símbolo real da presença de Deus em nós. E temos a promessa do futuro, quando Deus criará o mundo perfeito, e quando nos encontraremos face a face com Ele. Mas, como viver ainda o momento presente? O que pode nos tranqüilizar e nos mostrar, de maneira física e visível, o amor de Deus na terra? É aí que entra em cena a Igreja, a comunidade que inclui todos os verdadeiros seguidores de Deus na terra. A Bíblia usa a expressão "o corpo de Cristo", que expressa aquilo que devemos realmente significar. Os cristãos devem refletir a imagem de Cristo - suas palavras, seu toque, seu cuidado - especialmente para aqueles que têm necessidade de ajuda. Só existe uma boa maneira de compreender como o corpo de Cristo pode prestar assistência a uma pessoa que sofre: vê-lo em ação. Eu já tenho testemunhado e experimentado isso em minha própria vida. E já tenho visto a sua atuação na vida dos outros também. Deixe-me contar-lhe a história de Martha, uma pessoa que conviveu com uma grande dor e grandes dúvidas. Martha era uma atraente mulher de 26 anos, quando a conheci. Mas sua vida mudou para sempre no dia em que ela tomou conhecimento de que havia contraído ALS, ou "mal de Lou Gehrig". O ALS destrói o controle do sistema nervoso.
  • 26. Primeiro, a doença ataca os movimentos voluntários, como o controle sobre os braços e as pernas, depois as mãos e os pés, progredindo até finalmente afetar a respiração, sucumbe rapidamente ; outras vezes, não. Martha parecia perfeitamente normal quando me falou pela primeira vez sobre sua doença. Porém, um mês depois, ela estava numa cadeira de rodas. Foi demitida de seu emprego na biblioteca de uma universidade. Passado mais um mês, seu braço direito perdeu os movimentos. Logo, seu outro braço seguiu o mesmo caminho, e ela mal conseguia manejar os controles da nova cadeira de rodas elétrica. Comecei a visitar Martha no hospital de reabilitação. Eu a levava para pequenos passeios em sua cadeira de rodas e em meu carro. Tomei conhecimento da gravidade e da impiedade de seu sofrimento. Ela necessitava de ajuda para cada movimento: para se vestir, para acomodar a cabeça no travesseiro, para fazer sua higiene. Quando ela chorava, alguém tinha de enxugar suas lágrimas e segurar um lenço de papel em seu nariz. Seu corpo estava completamente rebelado contra a sua vontade e não obedecia a qualquer de seus comandos. Conversamos brevemente sobre a morte e a fé cristão. Confesso sinceramente que, para Martha, as grandes esperanças cristãs da vida eterna, da cura fundamental e da ressurreição pareciam vazias, frágeis e inconsistentes como a fumaça quando usadas como bandeira para alguém em dificuldade. Ela não queria asas de anjo, mas um braço que caísse coordenadamente para o lado, uma boca que não babasse e pulmões que não lhe faltassem. Confesso que a eternidade, mesmo pensando na eternidade onde não haverá dor, parecia ter uma estranha irrelevância para o sofrimento por que Martha estava passando. Ela pensava em Deus, é claro; mas mal conseguia vê-lo com amor. Ela resistia a qualquer forma de conversão em seu leito de morte, insistindo que só recorreria a Deus por amor, e não por
  • 27. medo. E de que maneira ela poderia amar um Deus que lhe permitia sofrer tanto? No mês de outubro, mais ou menos, ficou claro que o ALS completaria rapidamente o seu terrível ciclo de vida de Martha. Ela já tinha grande dificuldade para respirar. Por causa da dificuldade na chegada do oxigênio ao cérebro, geralmente adormecia no meio de uma conversa. Às vezes, durante a noite, ela acordava em pânico, com a sensação de sufocamento, e não conseguia pedir socorro. O último pedido de Martha foi para sair do hospital e passar, pelo menos, duas semanas em seu apartamento, em Chicago, para que tivesse a oportunidade de chamar os amigos, um a um, a fim de se despedir e encarar sua morte. Mas essas duas semanas em seu apartamento apresentavam um problema: como poderia ela receber, durante 24 horas do dia, a assistência de que necessitava para permanecer viva, somente se ela estivesse em um quarto de hospital, e não em casa. Assim sendo, um grupo de voluntárias cristãs se ofereceu para prestar a assistência pessoal gratuita e generosa de que Martha necessitava. Elas adotaram Martha como um alvo de vida e providenciaram tudo o que era necessário para satisfazer seus últimos desejos. Dezesseis mulheres reestruturaram suas vidas em função de Martha, e, após se dividirem em equipes de trabalho e providenciarem serviços de babá para seus próprios filhos, elas mudaram-se para o apartamento de Martha. Faziam companhia a Martha, ouviam seus delírios e queixas, davam-lhe banho, ajudavam-na a se sentar, mudavam-na de posição, passavam a noite inteira acordadas com ela, oravam por ela e lhe demonstravam o seu amor. Elas se colocaram à sua disposição, oferecendo-lhe um lugar e dando sentido ao seu sofrimento. Para Martha, aquelas mulheres passaram a ser o corpo de Cristo e lhe mostraram claramente o que é a esperança cristã. Por fim, vendo o amor de Deus encarnado em seu
  • 28. corpo, em sua Igreja, e assistindo à demonstração de amor por parte das pessoas à sua volta - embora, para ela, Deus parecesse impiedoso e até mesmo cruel -, Martha veio à presença desse Deus em Cristo e se entregou, verdadeiramente, àquele que morreu para salvá-la. Ela não foi à presença de Deus com medo; Martha havia finalmente, encontrado o amor divino. Nos rostos daquelas mulheres cristãs, ela acabou conseguindo ler o amor de Deus. Durante cerimônia muito emocionante, realizada em Evanston, Martha, mesmo tão debilitada, deu seu testemunho de conversão e foi batizada. Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito Pois vou preparar-vos lugar, E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo para que, onde eu estou, estejais vós também. João 12.1-3 Na véspera do Dia de Ação de Graças, Martha morreu. Seu corpo, enrugado, deformado e atrofiado, era uma sombra patética de sua antiga beleza. Quando aquele corpo finalmente cessou sua atividade, Martha se foi. Hoje, Martha vive em um outro corpo, de forma vitoriosa. Ela vive, graças à vitória de Cristo sobre a dor, sobre o pecado, sobre o sofrimento e sobre a morte. E Martha descobriu essa vitória porque o corpo de Cristo - a sua Igreja - fez com que ela pudesse conhecê-la de maneira clara e definida. Por meio de seu sofrimento, ela pôde conhecer
  • 29. verdadeiramente o Senhor. No amor e na compaixão dos cristãos à sua volta, ela viu e recebeu o amor de Deus. E, assim, as suas dúvidas em relação a Ele foram gradativamente se dirimindo. O apóstolo Paulo devia ter em mente algo semelhante a essa experiência quando escreveu as seguintes palavras: "Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo." 2 Coríntios 1.5 As melhores repostas para as questões levantadas quando a vida nos machuca são encontradas no corpo de Cristo, a Igreja. Prestando assistência àqueles que sofrem, permitimos que a consolação de Cristo transborde por nosso intermédio. Com isso, revelamos ao mundo o que Deus realmente é.
  • 30. "Se amarmos a Deus e nele amarmos os outros, teremos prazer em deixar que o sofrimento destrua em nós qualquer coisa que Deus queira que por Ele seja destruída, porque sabemos que tudo o que o sofrimento destrói não tem importância. Preferiremos deixar que o lixo acidental da vida seja consumado pelo sofrimento para que a glória de Deus possa transparecer em tudo o que fazemos." Thomas Merton