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Rede de bobagens
Num ensaio provocador, Andrew Keen, ex-empresário da área de
tecnologia, acusa a internet de promover a ditadura da ignorância

Jerônimo Teixeira


             Ilustração Rob




No conto A Biblioteca de Babel, de 1941, o         VEJA TAMBÉM
escritor argentino Jorge Luis Borges
descreve uma biblioteca infinita, que           Exclusivo on-line
                                                • Trecho do livro
guarda todos os livros que a combinaçã o
das letras do alfabeto permitiria compor.
Já foi dito que essa cole ção inesgot ável de textos seria uma prefigura ção
da internet. S ó que a biblioteca de Borges n ão é o reposit ório amig ável
do conhecimento que a rede pretende ser. Trata -se, ao contr ário, de uma
vers ão do inferno, com inumeráveis salas repletas de livros ininteligíveis.
O brit ânico Andrew Keen, ex -empresário pontocom convertido em crítico
cultural, repisa a analogia entre a biblioteca imaginária de Borges e a
rede planet ária em O Culto do Amador (traduçã o de Maria Luiza X. de
A. Borges; Jorge Zahar; 208 p áginas; 39 reais), que acaba de chegar às
livrarias brasileiras. Keen sugere que a internet também pode ser um
pesadelo cultural – um acúmulo inabarc ável de tolices criadas por uma
multid ão de narcisistas ansiosos para se expressar on-line. A
argumentação de Keen é muitas vezes alarmista – mas seu livro traz
provocaçõ es incômodas, que merecem ser consideradas seriamente.

Nos anos 90, Keen lançou o site Audiocafe,
dedicado a distribuir m úsica em formato
digital. Sua desilusão com a internet
aflorou mais tarde, em uma conferência de
empreendedores do Vale do Silício, promovida pelo guru da tecnologia
Tim O ’Reilly, em 2004. O ’Reilly popularizou a expressão Web 2.0 para
designar uma nova e mais dinâmica fase da internet com banda larga.
Keen começou a se sentir desconfortável com a ret órica utópica de
O’Reilly e seus apóstolos: no mundo revolucion ário anunciado por essa
turma, qualquer pessoa que dispusesse de um computador poderia se
tornar m úsico, escritor, cr ítico, jornalista. A autoridade dos especialistas
seria esvaziada, e os palpiteiros ditariam os rumos da cultura do alto de
seus blogs. "Público e autor estavam se tornando uma coisa s ó, e
est ávamos transformando cultura em cacofonia", escreve Keen. A
Wikipedia seria o epítome dessa cultura do amadorismo. Idealizada pelo
empresário Jimmy Wales, pretende ser uma enciclop édia democr ática,
cujo conte ú do é produzido pelos usu ários (embora um grupo de editores
volunt ários detenha o poder de determinar a forma final dos verbetes).
Keen acusa Wales de ser um agente do contrailuminismo: seu
empreendimento coletivo mina a autoridade de enciclopédias tradicionais
como a Britannica (parcial na escolha de dados, Keen n ão discute o
estudo comparativo dos verbetes científicos das duas enciclop édias
realizado em 2005 pela conceituada revista Nature, no qual se constatou
que a Britannica quase se iguala à Wikipedia no n úmero de erros e
imprecis ões).

A Web 2.0, argumenta Keen, realiza o velho ad ágio segundo o qual um
grupo de macacos que batucasse infinitamente sobre m áquinas de
escrever um dia acabaria compondo uma obra coerente. O Culto do
Amador responsabiliza a rede pela queda na circula ção dos grandes
jornais americanos e pelos preju ízos da indústria fonográfica, v ítima da
pirataria digital. Seu ataque à internet, porém, n ão se centra na
economia, mas na moral. Na visão de Keen, a rede é um faroeste virtual
dominado por pistoleiros an ônimos. Isenta de qualquer controle ou
fiscalizaçã o, seria território livre para o plágio, a calúnia, a boataria
irresponsável e a propaganda sub-reptícia. As mais abiloladas teorias
conspiratórias ganham repercussão indevida: Loose Change,
documentário amador que acusa o governo Bush de ter montado os
atentados de 11 de setembro, j á foi visto mais de 2 milh ões de vezes no
YouTube.


              Rick Friedman/Corbis/Latinstock
INIMIGO DO ILUMINISMO?
                    Jimmy Wales, o criador da Wikipedia: quase tão acurada
                    quanto a enciclopédia Britannica


A internet de fato comporta todos os crimes de que é acusada por Keen
(veja o quadro abaixo) – mas nada disso significa que a morte da cultura
delineada em O Culto do Amador seja um risco iminente. Esse tipo de
crítica conservadora e catastrofista é recorrente sempre que uma nova
tecnologia de comunicação emerge – cada um em seu turno, a imprensa,
o cinema, a televis ão já foram considerados o veículo dos bárbaros para
pôr fim à civilização. Falta à an álise de Keen uma certa perspectiva
hist órica, que permita dimensionar os tais estragos da internet. A m úsica
digital ameaça a indústria fonogr áfica? Talvez – mas, se Bach, Mozart e
Beethoven compuseram o melhor do repertório ocidental antes da
exist ência dessa indústria, n ão há razão para imaginar que a eventual
falência das gravadoras silenciaria a m úsica. A calú nia an ônima
tampouco precisa de computadores para vigorar – na imprensa do s éculo
XIX, artigos injuriosos assinados por pseudônimos eram comuns. Há
consideraçõ es pertinentes – e preocupantes – em O Culto do Amador.
Mas Keen também padece da superficialidade que ele atribui ao objeto de
sua crítica.



 Terra arrasada
 A internet est á destruindo a cultura, diz Andrew Keen, autor de O
 Culto do Amador – livro que acusa a rede de pecados graves


  Ilustrações Rob




                                                Anonimato
                                                É fácil assumir identidades falsas
                                                na rede. Pedófilos, fraudadores
                                                de cartão de crédito e
                                                propagandistas políticos podem
                                                esconder suas verdadeiras (e
                                                m ás) inten çõ es




  Ignorância
  Em um meio em que todos podem
  escrever – e até contribuir com
  verbetes para enciclop édias como a
  Wikipedia –, o conhecimento dos
  especialistas tem menos valor que os
  equ ívocos da massa
Pirataria
                            A noçã o de direito autoral foi posta em
                            xeque pelo download de m úsicas, filmes e
                            livros na rede, causando preju ízos a
                            empresas e artistas




Impunidade
Na imprensa tradicional, os
jornalistas podem responder
judicialmente pelo que escrevem.
A internet, ao contr ário, é
an ônima e irresponsável – um
território livre para caluniadores




Alexandria 2.0




            Ben Margot/AP
BIBLIOTECA DIGITAL
            Brewster Kahle: concorrente do Google Book Search


Um ermit ão que lesse O Culto do Amador, de Andrew Keen, sem
nunca ter tido contato efetivo com a internet imaginaria um deserto
intelectual em que a pornografia e v ídeos amadores seriam as únicas
formas de cultura. Mas a rede tem, de fato, o potencial para ser uma
espécie de biblioteca universal, um catálogo compreensivo do
conhecimento humano. H á bons projetos para compilar bibliotecas
digitais. O mais conhecido é o do Google, que está patrocinando o
escaneamento de milh ões de livros em bibliotecas universit árias. No
fim do ano passado, o Google Book Search, que permite pesquisar
essas obras, chegou a um acordo judicial com associações de editores
e autores americanos que o acusavam de violar direitos autorais. O
acordo deverá permitir que mais livros sejam disponibilizados on -line.
Um concorrente do Google Book Search é o Openlibrary.org, que
recrutou 135 livrarias no mundo todo para escanear mais de 1 000
livros por dia. Trata -se de uma iniciativa do empresário americano
Brewster Kahle, que ficou milion ário criando empresas e programas
que depois foram vendidos para gigantes da internet como o AOL e a
Amazon. Kahle n ão é modesto nas suas ambiçõ es. "Quero construir a
Alexandria 2.0", disse à revista The Economist, aludindo à legendária
biblioteca da Antiguidade.

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Rede de bobagens critica cultura do amadorismo na internet

  • 1. Livros Rede de bobagens Num ensaio provocador, Andrew Keen, ex-empresário da área de tecnologia, acusa a internet de promover a ditadura da ignorância Jerônimo Teixeira Ilustração Rob No conto A Biblioteca de Babel, de 1941, o VEJA TAMBÉM escritor argentino Jorge Luis Borges descreve uma biblioteca infinita, que Exclusivo on-line • Trecho do livro guarda todos os livros que a combinaçã o das letras do alfabeto permitiria compor. Já foi dito que essa cole ção inesgot ável de textos seria uma prefigura ção da internet. S ó que a biblioteca de Borges n ão é o reposit ório amig ável do conhecimento que a rede pretende ser. Trata -se, ao contr ário, de uma vers ão do inferno, com inumeráveis salas repletas de livros ininteligíveis. O brit ânico Andrew Keen, ex -empresário pontocom convertido em crítico cultural, repisa a analogia entre a biblioteca imaginária de Borges e a rede planet ária em O Culto do Amador (traduçã o de Maria Luiza X. de A. Borges; Jorge Zahar; 208 p áginas; 39 reais), que acaba de chegar às livrarias brasileiras. Keen sugere que a internet também pode ser um pesadelo cultural – um acúmulo inabarc ável de tolices criadas por uma multid ão de narcisistas ansiosos para se expressar on-line. A argumentação de Keen é muitas vezes alarmista – mas seu livro traz provocaçõ es incômodas, que merecem ser consideradas seriamente. Nos anos 90, Keen lançou o site Audiocafe, dedicado a distribuir m úsica em formato digital. Sua desilusão com a internet
  • 2. aflorou mais tarde, em uma conferência de empreendedores do Vale do Silício, promovida pelo guru da tecnologia Tim O ’Reilly, em 2004. O ’Reilly popularizou a expressão Web 2.0 para designar uma nova e mais dinâmica fase da internet com banda larga. Keen começou a se sentir desconfortável com a ret órica utópica de O’Reilly e seus apóstolos: no mundo revolucion ário anunciado por essa turma, qualquer pessoa que dispusesse de um computador poderia se tornar m úsico, escritor, cr ítico, jornalista. A autoridade dos especialistas seria esvaziada, e os palpiteiros ditariam os rumos da cultura do alto de seus blogs. "Público e autor estavam se tornando uma coisa s ó, e est ávamos transformando cultura em cacofonia", escreve Keen. A Wikipedia seria o epítome dessa cultura do amadorismo. Idealizada pelo empresário Jimmy Wales, pretende ser uma enciclop édia democr ática, cujo conte ú do é produzido pelos usu ários (embora um grupo de editores volunt ários detenha o poder de determinar a forma final dos verbetes). Keen acusa Wales de ser um agente do contrailuminismo: seu empreendimento coletivo mina a autoridade de enciclopédias tradicionais como a Britannica (parcial na escolha de dados, Keen n ão discute o estudo comparativo dos verbetes científicos das duas enciclop édias realizado em 2005 pela conceituada revista Nature, no qual se constatou que a Britannica quase se iguala à Wikipedia no n úmero de erros e imprecis ões). A Web 2.0, argumenta Keen, realiza o velho ad ágio segundo o qual um grupo de macacos que batucasse infinitamente sobre m áquinas de escrever um dia acabaria compondo uma obra coerente. O Culto do Amador responsabiliza a rede pela queda na circula ção dos grandes jornais americanos e pelos preju ízos da indústria fonográfica, v ítima da pirataria digital. Seu ataque à internet, porém, n ão se centra na economia, mas na moral. Na visão de Keen, a rede é um faroeste virtual dominado por pistoleiros an ônimos. Isenta de qualquer controle ou fiscalizaçã o, seria território livre para o plágio, a calúnia, a boataria irresponsável e a propaganda sub-reptícia. As mais abiloladas teorias conspiratórias ganham repercussão indevida: Loose Change, documentário amador que acusa o governo Bush de ter montado os atentados de 11 de setembro, j á foi visto mais de 2 milh ões de vezes no YouTube. Rick Friedman/Corbis/Latinstock
  • 3. INIMIGO DO ILUMINISMO? Jimmy Wales, o criador da Wikipedia: quase tão acurada quanto a enciclopédia Britannica A internet de fato comporta todos os crimes de que é acusada por Keen (veja o quadro abaixo) – mas nada disso significa que a morte da cultura delineada em O Culto do Amador seja um risco iminente. Esse tipo de crítica conservadora e catastrofista é recorrente sempre que uma nova tecnologia de comunicação emerge – cada um em seu turno, a imprensa, o cinema, a televis ão já foram considerados o veículo dos bárbaros para pôr fim à civilização. Falta à an álise de Keen uma certa perspectiva hist órica, que permita dimensionar os tais estragos da internet. A m úsica digital ameaça a indústria fonogr áfica? Talvez – mas, se Bach, Mozart e Beethoven compuseram o melhor do repertório ocidental antes da exist ência dessa indústria, n ão há razão para imaginar que a eventual falência das gravadoras silenciaria a m úsica. A calú nia an ônima tampouco precisa de computadores para vigorar – na imprensa do s éculo XIX, artigos injuriosos assinados por pseudônimos eram comuns. Há consideraçõ es pertinentes – e preocupantes – em O Culto do Amador. Mas Keen também padece da superficialidade que ele atribui ao objeto de sua crítica. Terra arrasada A internet est á destruindo a cultura, diz Andrew Keen, autor de O Culto do Amador – livro que acusa a rede de pecados graves Ilustrações Rob Anonimato É fácil assumir identidades falsas na rede. Pedófilos, fraudadores de cartão de crédito e propagandistas políticos podem esconder suas verdadeiras (e m ás) inten çõ es Ignorância Em um meio em que todos podem escrever – e até contribuir com verbetes para enciclop édias como a Wikipedia –, o conhecimento dos especialistas tem menos valor que os equ ívocos da massa
  • 4. Pirataria A noçã o de direito autoral foi posta em xeque pelo download de m úsicas, filmes e livros na rede, causando preju ízos a empresas e artistas Impunidade Na imprensa tradicional, os jornalistas podem responder judicialmente pelo que escrevem. A internet, ao contr ário, é an ônima e irresponsável – um território livre para caluniadores Alexandria 2.0 Ben Margot/AP
  • 5. BIBLIOTECA DIGITAL Brewster Kahle: concorrente do Google Book Search Um ermit ão que lesse O Culto do Amador, de Andrew Keen, sem nunca ter tido contato efetivo com a internet imaginaria um deserto intelectual em que a pornografia e v ídeos amadores seriam as únicas formas de cultura. Mas a rede tem, de fato, o potencial para ser uma espécie de biblioteca universal, um catálogo compreensivo do conhecimento humano. H á bons projetos para compilar bibliotecas digitais. O mais conhecido é o do Google, que está patrocinando o escaneamento de milh ões de livros em bibliotecas universit árias. No fim do ano passado, o Google Book Search, que permite pesquisar essas obras, chegou a um acordo judicial com associações de editores e autores americanos que o acusavam de violar direitos autorais. O acordo deverá permitir que mais livros sejam disponibilizados on -line. Um concorrente do Google Book Search é o Openlibrary.org, que recrutou 135 livrarias no mundo todo para escanear mais de 1 000 livros por dia. Trata -se de uma iniciativa do empresário americano Brewster Kahle, que ficou milion ário criando empresas e programas que depois foram vendidos para gigantes da internet como o AOL e a Amazon. Kahle n ão é modesto nas suas ambiçõ es. "Quero construir a Alexandria 2.0", disse à revista The Economist, aludindo à legendária biblioteca da Antiguidade.