Trabalho apresentado em 1/2011 a disciplina de Semiótica, tendo como estudo de caso do artista plástico Cildo Meireles, em torno de sua obra chamada "Desvio para o Vermelho", exposta no museu de arte moderna Inhotim.
2. Desvio para o vermelho
Cildo Meireles
“Mas, para mim, o Desvio para o Vermelho é
muito mais um trabalho sobre a questão
cromática do que a política. Eu poderia ter
escolhido outras cores, mas escolhi o
vermelho porque, além de ser uma cor
carregada de simbolismo, cria uma
ambigüidade que interessava a esse trabalho
(...)".
3.
4.
5. Cildo Meireles
O artista que há 30 anos
incendiou galinhas,
escreveu “Yankees, go home”
em garrafas de Coca-Cola,
carimbou notas de um
cruzeiro com a frase “Quem
matou Herzog?” e depois se
mandou para Nova York ganha
uma exposição retrospectiva
no Museu de Arte Moderna de
São Paulo (MAM). Trata-se
de Cildo Meireles, carioca,
52 anos, o homem que com
apenas um carimbo de
borracha e uma nota de
dinheiro cria uma obra.
(...)
Revista Istoé Gente, 2004
6. Trajetória
Nascido em 1948, vive e trabalha no Rio de Janeiro;
Passa a dedicar-se ao desenho, por influência do pintor peruano Félix Alejandro;
É convidado a expor seus desenhos no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMB);
Em 1967 abandona temporariamente o desenho, e dedica-se a uma produção de
cunho mais conceitual, voltada à crítica dos meios, dos suportes e das linguagens
artísticas tradicionais;
Durante os anos 70 e 80 Cildo arquitetou uma série de trabalhos que faziam uma
severa crítica à ditadura militar;
Passa a explorar através de seus trabalhos, a capacidade
sensorial do público (gustativa, térmica, oral, sonora);
Emprega cada vez mais, mas sempre em função de
uma idéia, materiais precários, efêmeros, de uso
cotidiano e popular;
Seu trabalho simboliza o máximo grau atingido pela
relação aberta entre linguagem e interação.
7. A obra
A obra Desvio para o Vermelho de
Cildo Meireles é uma das mais
polêmicas do artista. Instalada
no centro artístico mineiro
Inhotim em caráter permanente
desde 2006, ela é composta de
três ambientes: Impregnação,
Entorno, Desvio.
A princípio, a instalação oferece
um impacto visual pela exaustão
do vermelho em um ambiente
aparentemente caseiro.
Aos poucos, vai se desvendando o
simbolismo dos objetos e as
conotações projetadas, como a
violência do sangue e as
preferências ideológicas do
autor.
8. Impregnação
Espaço tridimensional
monocromático, com a forte
cor vermelha;
Penetração na mente;
Ambientação não pode ser
definida;
O vermelho busca trazer
influência sobre quem
observa e participa
indiretamente da obra;
Cor quente X aumento da
temperatura;
Atemporalidade - Quebra
do tempo cronológico.
9. Entorno
Algo que acontece e que se
estrutura em algum lugar;
Ambiente de simbolismo e
de referências;
Indefinição - ambiente
único e indefinido: não é um
quarto, ou uma sala, ou uma
cozinha. Que cômodo seria?
Objetos presentes sem uma
lógica própria – quadros
variados, esculturas, móveis,
roupas e tapetes, adornos,
eletrodomésticos. Série de
falsas lógicas que nos
devolvem sempre a um mesmo
ponto de partida;
10. Entorno
Simbolismos X Metáforas X
Conotações ideológicas;
- Ambigüidade - os vários
objetos remetem a uma
estrutura familiar, porém
todos são vermelhos causando
ao mesmo tempo uma sensação
de conforto e de estranheza;
Mutação –
mudança, inconstância –
laptop exibindo vídeo que
retrata a mutação da casa
desde a primeira instalação
nos anos 1980;
Atemporalidade - Quebra do
tempo cronológico.
11. Desvio
“você tem uma garrafa de onde
sai uma quantidade enorme de
líquido vermelho, que parece
ser a explicação para a sala
pintada de vermelho, mas o
que ela introduz é a noção de
horizonte perfeito que é a
superfície de qualquer
líquido sem movimento. E na
terceira fase tem um líquido
em movimento saindo de uma
torneira. A pia está
inclinada, o que contradiz a
relação da queda d’água, mas
o líquido é vermelho, o que
nos conduz à primeira sala.
(...) Enfim a idéia era criar
uma circularidade onde uma
coisa fosse jogando para
outra, uma fase jogasse para
outra, mas não explicasse
nada.”
12. Desvio
Desvio em relação à finalidade,
tamanho, falsificação de
materiais, estilos contextos,
figurações em objetos utilitários,
funções secundárias que acabam
suplantando a função principal,
funções múltiplas em um único
objeto.
Nos deparamos com um frasco
caído no chão: uma estrutura
vinílica sugere o derramamento de
líquido superior ao valor de
volume possível dentro do frasco,
essa estrutura desemboca, depois
de andarmos, numa penumbra em
direção a uma pia que derrama água
vermelha de sua torneira
Líquido vermelho que sai pela
pia entra pelo vidro ou vice-
versa.
13. Interpretantes
Imediato
Percepções imediatas e pessoais quando adentramos na
galeria. Ex: Excesso, conforto, angústia, estranheza,
alívio, etc.
Dinâmico
Está ligado diretamente aos objetos presentes na obra,
a busca pela sua real interpretação varia de acordo
com a bagagem cultural de cada pessoa a partir do
Momento em Que criamos significado para ele.
Final
Interpretações e feedback pessoal.
14. Referências Pintores com obras
monocromáticas como Matisse
(1911) com o quadro Ateliê
Vermelho;
Movimentos Concreto e
Neoconcreto - estrutura de
quadros na parede;
Movimentos de meados dos
séc XX - quadro vermelho
rasgado que remete ao artista
italiano Lucio Fontana;
Op Art e Pop Art – quadros
geométricos;
Neoconcrentismo de Lygia
Clarck e Helio Oiticica e
seus espaços de cor que
rompem com o quadro e
projetam a cor para a fora da
superfície, ganhando desse
modo o espaço da galeria.
15. Kitsch - objetos de valor
estético distorcidos e/ou
exagerados
Referências
inadequação da forma, do
estilo, do contexto, da
função, de uso
acumulação ou empilhamento -
objetos diversos sem um
sentido, que vão sendo
acumulados sem uma unidade de
adequação
percepção sinestésica -
maior uso dos sentidos para
impressionar o espectador,
imagem, som, aromas.
Repetição exaustiva de mesmos
signos com significados
semelhantes.
16. Referências
mediocridade – próximo ao vulgar com a
mistura de tantos
artifícios, inadequação, acumulação e
percepção sinestésica, mas ao mesmo
facilitando a absorção do consumidor.
Ausência de valores abstratos - nem
feiúra nem beleza extremos.
conforto - o que não cria problemas
agrada; enche a vida de
sensações, emoções e pequenos prazeres
através de objetos cotidianos.
Política - casa de lembranças, dos
tempos da Ditadura, da repressão dos
anos 70, uma época em que vermelho
significava libertação, fúria e
renovação.
Vermelho – referência simbólica muito
forte relacionada a movimentos sociais
e políticos como as Revoluções
Socialistas (Revoluções
Vermelhas), partido vermelho
comunista.
17. Esse forte caráter reflexivo de seus trabalhos faz com que
parte da crítica internacional o considere um artista
conceitual.
"Até então eu participava das movimentações
políticas da época, mas minha produção se mantinha
longe disso. Com o assassinato de Edson Luís
(estudante de 16 anos morto durante uma manifestação
no Rio de Janeiro, em 1968) pela ditadura e o
fechamento de uma exposição no MAM do Rio, em 1969,
senti um impulso natural para tratar dessas
questões. Foi uma tomada de posição. Mas passei a
década de 90 tentando fugir do estereótipo de arte
política. Sempre tive problema, uma quase
implicância com essa idéia panfletária. Ela reduz o
trabalho”.