2. João Cabral de Melo Neto (1920-1999),
nasceu em Recife e é conhecido por ser um dos
maiores poetas da “Geração de 45”, um grupo
de escritores que se destacou por rejeitar os
excessos do modernismo, estabelecendo uma
poesia mais formal, mais disciplinada.
João Cabral de Melo Neto
3. Desde cedo interessou-se pela literatura de cordel, e planejava
ser crítico literário. O que não ocorreu, pois ao concluir o curso
secundário entrou para o funcionalismo público, e três anos
depois, para o Itamaraty, ocupando cargos diplomáticos em
várias cidades do mundo.
4. Apesar de ser considerado um poeta da
“Geração de 45”, João Cabral de Melo Neto
segue um caminho próprio, resgatando
traços da poesia de Carlos Drummond de
Andrade, como a poesia substantiva e a
precisão das palavras, produzindo uma
poesia objetiva, com uma linguagem sem
sentimentalismo, muito utilizada até então.
Carlos Drummond de Andrade
5. Sua primeira obra foi Pedra do Sono (1945),
obra que possui alguns traços do surrealismo. Sua
segunda obra, O Engenheiro (1945) se afasta do
surrealismo, sendo uma obra mais objetiva e exata,
como se o autor fosse o engenheiro, construindo
com as palavras.
6. Em algumas de suas principais obras,
tais como O Cão Sem Plumas (1950), O Rio
(1954), Quaderna (1960), Morte e Vida
Severina (1965), A Educação pela Pedra
(1966), Museu de Tudo (1975), A Escola
das Facas (1980), Agrestes (1985) e
Andando em Sevilha (1990), o autor expõe
a realidade social do nordeste brasileiro.
7. Morte e Vida Severina é sua obra mais popular,
que narra a história do retirante Severino, que sai
do sertão nordestino em busca de uma vida melhor
no Recife, revelando os problemas sociais da região
e fazendo uma reflexão sobre a condição humana.
A obra inclusive foi adaptada para a televisão,
em uma série exibida pela Rede Globo em 1981.
8. Difícil Ser Funcionário...
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras
Funcionárias, sem amor.
João Cabral de Melo Neto
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança.
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…