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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H58
A história das barragens no Brasil, Séculos XIX, XX e XXI : cinquenta anos do Comitê Brasileiro de Barragens /
[coordenador, supervisor, Flavio Miguez de Mello ; editor, Corrado Piasentin]. - Rio de Janeiro : CBDB, 2011.
524 p. : il. ; 29 cm
Inclui índice
ISBN 978-85-62967-04-7
1. Barragens e açudes - Brasil - História. 2. Comitê Brasileiro de Barragens - História. I. Mello, Flavio
Miguez de. II. Piasentin, Corrado. III. Comitê Brasileiro de Barragens. III. Título: Cinquenta anos do Comitê
Brasileiro de Barragens
11-6197. CDD: 627.80981
CDU: 627.82(81)
20.09.11 22.09.11 029752
Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB Agradecimentos
O Comitê Brasileiro de Barragens externa seus agradecimentos
às empresas abaixo relacionadas pelo apoio que possibilitou
a confecção deste livro que resume o desenrolar de importante
segmento da História do Brasil.
Arcadis Tetraplan S/A
Banco Bradesco S/A
Camargo Corrêa Energia e Construções S/A
CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais
CESP - Companhia Energética de São Paulo
CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
Construtora Norberto Odebrecht S/A
Construtora Queiroz Galvão S/A
Construtora Andrade Gutierrez S/A
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
Eletrobras - Centrais Elétricas Brasileiras S/A
Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A
Engevix Engenharia S/A
Furnas Centrais Elétricas S/A
Geobrugg Ag - Protection Systems
Grupo Energia
Intertechne Consultores S/A.
Itaipu Binacional
Jeene Juntas Impermeabilizações Ltda.
Light S/A
Mc Bauchemie Brasil
Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A
Norte Energia S/A
Pires Giovanetti Engenharia e Arquitetura Ltda.
Sto Antonio Energia
DIRETORIA CBDB
Presidente: Erton Carvalho
Vice-Presidente: Fabio De Gennaro Castro
Diretor Secretário: Paulo Coreixas Junior
Diretor Técnico: Brasil Pinheiro Machado
Diretor de Comunicações: Miguel Augusto Z. Sória
Diretor Adjunto: Marcos Luiz Vasconcellos
Diretor Adjunto: Ademar Sérgio Fiorini
FICHA TÉCNICA
Coordenador / Supervisor: Flavio Miguez de Mello
Editor: Corrado Piasentin
Projeto Gráfico: Modonovo Design - Marina Hochman
Diagramação: Modonovo Design - Marina Hochman / Natália Seiblitz
Revisão de texto: Margarida Corção
Gráfica: Impressul Indústria Gráfica
índiceíndice Prefácio
Apresentação
Síntese do Desenvolvimento da Implantação
das Barragens no Brasil
A Comissão Internacional de Grandes Barragens -
Oitenta e Três Anos de Excelência
História do Comitê Brasileiro de Barragens
Um Século de Obras contra as Secas
As Barragens Construídas pelo DNOCS
Resumo da História Remota da
Hidroeletricidade no Brasil
Usina Hidroelétrica de Marmelos	
Usina Hidroelétrica de Angiquinho
Usina Hidroelétrica de Itapecuruzinho
A Light no Rio de Janeiro,
a Cidade Luz Sulamericana
A São Paulo Light, Fomentadora de Progresso
As Barragens do Departamento Nacional
de Obras de Saneamento - DNOS
A História da CHESF, Indutora do
Progresso do Nordeste
Furnas no Século XX
A Eletronorte e as Barragens da
Região Amazônica
A História das Barragens no Paraná
Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG
98
112
124
88
9
12
16
48
56
66
76
130
142
150
166
188
206
226
250
Companhia Estadual de Energia Elétrica
do Rio Grande do Sul - CEEE
Companhia Energética de São Paulo - CESP
Companhia Força e Luz
Cataguazes-Leopoldina - Energisa
Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL
Breve Memória sobre a Usina de Itaipu
1966 - 2010
As Pequenas Centrais Hidroelétricas no Brasil
A Nova Face das Empresas Estatais
frente à Expansão da Oferta de
Energia Hidroelétrica no País	
As Barragens de Rejeitos no Brasil:
Sua evolução nos últimos anos
A Evolução do Licenciamento Ambiental
de Barragens no Brasil
A Evolução da Legislação
Aplicada às Barragens	
Centros de Pesquisas Tecnológicas
Aplicadas a Barragens - Introdução	
CEHPAR - 50 Anos de muito Trabalho
Centro de Tecnologia de Furnas em Goiânia
O Laboratório de Hidráulica HIDROESB -	
Saturnino de Brito SA
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do 		
Estado de São Paulo - IPT	
272
284
292
304
308
346
354
368
396
406
412
414
426
432
436
446
Laboratório de Hidráulica Experimental e 	
Recursos Hídricos de Furnas - LAHE
O Laboratório CESP de Engenharia Civil - 	
LCEC
Anexos
Anexo 1 - Entrevistas
Eduardo Larrosa Bequio
Guy Maria Villela Paschoal
Hélio Mendes de Amorim
João Camilo Penna
José Candido Capistrano de Castro Pessoa
Luiz Carlos Queiroz
Mario Santos
Murillo Dondici Ruiz
Olavo Augusto Vieira
Anexo 2 - Depoimentos
José Gelazio da Rocha e Antônio Dias Leite
Anexo 3 - Diretorias do CBDB
Anexo 4 - Seminários Nacionais de
Grandes Barragens	
Anexo 5 - Simpósios sobre Pequenas e
Médias Centrais Hidroelétricas	
Anexo 6 - Congressos Internacionais e
Reuniões Anuais e Executivas
	 Anexo 7 - Sócios Coletivos e Mantenedores
454
464
474
477
483
485
488
491
493
506
509
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514
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519
520
522
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
9
PrefácioPrefácio
Em comemoração aos 50 anos de existência do Comitê Brasileiro de Barragens – CBDB – filiado à
International Commission on Large Dams (ICOLD), apresentamos o livro “A História das Barragens no
Brasil - Séculos XIX, XX e XXI”. Pretendemos, assim, registrar a história das barragens brasileiras,
resgatando os principais personagens que contribuíram para o desenvolvimento da nossa engenharia,
envolvendo não só homens públicos, mas também empreendedores do setor privado e pesquisadores.
As barragens surgiram em decorrência da necessidade de se usufruir dos benefícios do uso múltiplo
dos recursos hídricos para a população brasileira. O livro retrata as primeiras barragens construídas
no Nordeste, a partir de 1887, onde o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS)
teve um papel importante com a construção de açudes para irrigação, abastecimento de água das
cidades e pequenos núcleos populacionais. Essa política, que previa a formação de reservatórios no
semi-árido nordestino, teve como uma das principais finalidades a permanência do sertanejo no seu
ambiente natural, amenizando os processos migratórios para a Região Sudeste do País. Além da
contribuição nos métodos construtivos das barragens, principalmente as de maciços de terra, houve
um grande desenvolvimento nas áreas de hidrologia e meteorologia. A SUDENE, dirigida pelo
economista Celso Furtado na década de 1960, implementou um plano de desenvolvimento regional
embasado em estudos dos recursos naturais, envolvendo mapeamentos pedológicos, águas de
superfície e subterrânea, climatologia, hidrologia, piscicultura, entre outras ciências que serviram de
suporte para projetos de irrigação e construção de barragens.
O livro aborda com abrangência o desenvolvimento tecnológico para a construção das barragens
brasileiras a partir de 1950, quando se iniciou o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro.
O primeiro trabalho de inventário dos rios da Região Sudeste foi elaborado pela Canambra Engineering
Consultants Limited, grupo de grande competência, que colaborou, juntamente com algumas empresas
brasileiras, na formação dos nossos engenheiros na área de recursos hídricos e projetos de barragens.
No Brasil foram iniciadas as construções de grandes barragens, apoiadas em estudos e projetos
de alta qualidade. Os técnicos brasileiros foram influenciados principalmente pelas organizações
americanas United States Bureau of Reclamation e US Army Corps of Engineers. Paralelamente, para
suporte tecnológico desses empreendimentos, foram criados vários centros de pesquisas, os
quais fazem parte dos pontos importantes abordados nesta publicação. O aparecimento e o
desenvolvimento das empresas construtoras de barragens constituem fatos de grande relevância.
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
10
Este livro registra as primeiras hidroelétricas construídas no país, selecionadas por região.
Apresenta, também, uma significativa documentação sobre o Departamento Nacional de Obras
e Saneamento (DNOS) extinto no inicio da década de 1990, o qual realizou vários trabalhos
apreciáveis nas áreas de abastecimento de água, irrigação e geração de energia elétrica, sendo
também responsável pelas obras de controle de cheias em todo país. As empresas subsidiárias da
ELETROBRAS: FURNAS, CHESF, ELETRONORTE e ELETROSUL, bem como as dos estados
de Minas Gerais (CEMIG), São Paulo (CESP), Rio Grande do Sul (CEEE) e Paraná (COPEL),
aparecem documentadas com a história de suas formações, incluindo os empreendimentos
realizados e as respectivas estratégias de desenvolvimento.
A usina de Itaipu Binacional, pertencente ao Brasil e ao Paraguai, está retratada com a sua
história e importância, não só para a geração de energia elétrica, como também para a
integração dos dois países.
Destaca-se na Região Amazônica o relato do projeto e construção da usina de Tucuruí, a maior
hidroelétrica brasileira, dotada de eclusas para a navegação do rio Tocantins, realçando a importância
da Região Amazônica como continuidade do uso dos nossos recursos hídricos.
A preocupação do CBDB em defesa do desenvolvimento sustentável do País está comentada nos
tópicos sobre a evolução do licenciamento ambiental para os empreendimentos hidráulicos, no que
se refere à construção das barragens e seus impactos. A legislação sobre a segurança das barragens,
que faz parte do programa de trabalho do CBDB, é também citada nesta publicação.
Finalmente, este livro é dirigido a um público abrangente, visando, principalmente, o leitor
interessado na história contemporânea do desenvolvimento brasileiro, sem a exigência de que
ele seja possuidor de conhecimentos técnicos sobre o tema.
Erton Carvalho Presidente do CBDB
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
Reservatório de Tucuruí
13
Apresentação
Flavio Miguez de Mello
“Águas são muitas, infinitas... E em tal maneira é grandiosa que,
querendo, a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que
tem.” Pero Vaz de Caminha, 1500.
Apresentação
Com a proximidade do cinquentenário do Comitê Brasileiro de
Barragens CBDB surgiu, em reunião do Conselho Deliberativo,
a proposta do engenheiro Manuel de Almeida Martins de que
se editasse um livro comemorativo versando sobre a história da
engenharia de barragens no Brasil. A proposição foi aceita com
entusiasmo, cabendo a mim a tarefa de produzir o livro e publicá-lo
no aniversário de cinquenta anos do CBDB, em outubro de 2011.
Outras entidades publicaram livros de escopo semelhante: a ABMS
publicou Cinquenta Anos de Geotecnia em 2000 e a ABGE publicou
a Edição Comemorativa dos Trinta Anos, em 1998.
Este livro é lançado em difícil momento para os investidores,
estatais e privados, em empreendimentos para qualquer das di-
versas finalidades de barragens dadas às vigentes dificuldades de
aprovação, licenciamento e distorções legais que propiciam prio-
rização soluções mais poluentes, de questionável segurança e de
menor economicidade. A propósito, cabe realçar as palavras de
Paulo Skaff, presidente da FIESP ao analisar as tendências
atuais (2011) do setor elétrico: “O Brasil assiste a desqualificação de
suas fontes de energia mais competitivas e abundantemente disponíveis. Essa
distorção já contaminou a legislação ambiental brasileira e, mais recentemente,
comprometeu o planejamento energético. O Brasil está desperdiçando impor-
tantes potenciais hídricos ao limitar, emocionalmente, o dimensionamento dos
reservatórios das barragens.” No mesmo sentido, a ministra Miriam
Belchior, do Planejamento alertou (2011): “Acreditamos que será
possível, de fato, Belo Monte ser um exemplo de implantação de usina hi-
droelétrica na Região Amazônica ... exceto os que tenham uma posição
ideológica e não técnica (sobre meio ambiente), os demais serão convencidos
de que está sendo feito todo o esforço, envolvendo todos os atores, para
que a implantação de Belo Monte seja um sucesso de sustentabilidade
social e ambiental.”
No início dos trabalhos, a Diretoria do CBDB emitiu uma circular
a todos os sócios comunicando a intenção de publicar este livro e
incentivou os associados a se apresentarem como voluntários na
preparação dos diversos capítulos que haviam sido programados.
Como voluntários não apareceram, e como o assunto a ser abor-
dado no livro é demasiadamente extenso no tempo, superando
um século, e no espaço, por abranger o vasto território nacional,
tive que selecionar alguns voluntários que gentilmente aceitaram
a tarefa e desempenharam a função de redatores com maestria
e objetividade. Entretanto, mesmo assim, como são muitos os aspec-
tos enfocados, o livro acabou apresentando uma certa concentração
de capítulos em um autor.
Ao iniciar a tarefa me deparei com grandes dificuldades provenien-
tes das importantes perdas para a Profissão de inúmeros expoen-
tes da engenharia nesses pouco mais de dez anos que separam as
publicações das outras associações da edição do livro do CBDB.
Essas perdas de quase uma geração inteira de notáveis pioneiros
dos tempos das mais importantes conquistas tecnológicas e da
fase pioneira da implantação de grandes barragens para as mais
diversas finalidades bem como da época das grandes dificuldades
para identificação, planejamento, projeto, construção e operação
de barragens e reservatórios, fizeram com que a tarefa se tornas-
se árdua em função da busca de documentos, relatórios, foto-
CINQUENTA ANOS DO COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS
14
grafias e depoimentos que formassem as bases para o relato de
uma história de mais de um século de conquistas que merecem
registro. Os que atualmente atuam em implantação de barragens
podem não imaginar que, por exemplo, para visitar pela primei-
ra vez o local da hidroelétrica de Salto Grande em Minas Gerais,
o engenheiro John Cotrim gastou duas semanas a cavalo.
Por sorte tive o privilégio de conviver profissionalmente com
alguns dos mais destacados atores daquele período e que já nos
abandonaram. Estive com alguns desses atores com frequên-
cia em certas longas fases do exercício profissional tais como
os engenheiros Flavio H. Lyra, John R. Cotrim, Léo A. Penna,
Arthur Crocchi, E. Von Ranke, Victor F.B. de Mello, Carlos Al-
berto Pádua Amarante, Epaminondas Mello do Amaral Filho,
Theophilo Benedicto Ottoni Netto, Antônio José da Costa Nunes,
Francisco de Assis Basílio, José Machado e José Cândido Castro
Parente Pessoa com os quais tive oportunidades de angariar va-
liosos depoimentos sobre aspectos de vivências profissionais pas-
sadas. Com vários outros atores do passado tive contatos menos
extensos, mas de elevado interesse no relato de experiências pro-
fissionais tais como Mário Penna Bhering, César Cals de Oliveira
Filho e consultores como Manuel Rocha e Porland Port Fox.
Usina hidroelétrica Serra do Facão
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
15
Desses contatos pude extrair há anos, informações de elevado
conteúdo histórico, algumas das quais relato neste livro. Esses
contatos, dos quais guardo recordações as mais preciosas, foram
em parte devidos à minha atuação profissional na engenharia,
à minha atuação na Universidade e às minhas atividades no
CBDB e em outras entidades técnicas. No CBDB, embora não
seja o mais velho, devo certamente ser o mais antigo por ter sido
chamado muito jovem a apoiar as atividades em sua sede. Prova-
velmente foram esses fatores que levaram o Conselho do CBDB a
me indicar como responsável pela edição desse livro. Alguns relatos
apresentados em capítulos deste livro foram obtidos diretamente
desses contatos dos que nos precederam na Profissão. O livro
foi enriquecido com textos, entrevistas e informações de al-
guns dos mais destacados profissionais que atuam na engenharia
de barragens em nosso País.
Procurei congregar neste livro narrativas sucintas, porém objetivas, de
todas as principais atividades que resultaram na implantação de tantas
barragens que trouxeram progresso e bem estar ao nosso povo desde
o Século XIX. Considerando que a história recente é mais conhecida
por aqueles que acessarem esse livro, é de se notar que há, em quase
todos os capítulos, uma ênfase maior na história remota, de mais difícil
caracterização. Dessa forma há uma ênfase nas primeiras barragens para
saneamento, para controle de cheias e, principalmente, para combate
às trágicas consequências ocasionadas pelas secas e para produção de
energia elétrica. Sobre esse aspecto há um capítulo resumindo as primei-
ras hidroelétricas nas diversas regiões do País, com destaque para as
primeiras usinas hidráulicas para fornecimento público de energia
elétrica: Marmelos no Sul-Sudeste, construída ainda no Século XIX
por Bernardo Mascarenhas, Angiquinho implantada no Nordeste
por Delmiro Gouveia e Itapecuruzinho, implementada na Re-
gião Amazônica por Newton Carvalho, pai do atual presidente
do CBDB, engenheiro Erton Carvalho. O relato mais detalhado
dessas barragens pioneiras retrata a imagem das imensas dificul-
dades logísticas de acesso, de obtenção de materiais e de aqui-
sição de equipamentos. Mesmo assim, os que nos precederam
conseguiram, nas mais adversas condições, implantar barragens e
hidroelétricas em até menos de um ano, prazos presentemente ina-
creditáveis dadas as atuais delongas e dificuldades legais, de aprova-
ção, de concessão e de licenciamento ambiental, além de oposições
dos auto-proclamados ambientalistas nacionais e estrangeiros.
Com uma longa história tão rica a ser resumida num espaço tão
curto, o livro inevitavelmente contém omissões pelas quais des-
de já peço desculpas. Não foi possível mencionar todos os atores
e relatar todas as inúmeras atividades de implantação de barragens
que ocorreram por mais de um século nesse tão vasto território
nacional. Presentemente, só considerando as grandes barragens,
no Brasil há bem mais de mil dessas estruturas em operação
e, se consideradas as barragens de rejeitos, ultrapassa-se a casa
das duas mil grandes barragens.
O presente livro é resultado do apoio e do incentivo de muitas pes-
soas entre as quais cabe destacar especialmente a constante com-
preensão e apoio de minha esposa, das quatro filhas que passaram
mais de um ano sem minha participação em atividades de fins de
semana. Agradeço também aos dirigentes e funcionários do CBDB,
o editor Corrado Piasentin, a revisora de texto Margarida Corção
e o conselheiro Aurélio Alves de Vasconcelos, presentes e atuantes
desde a primeira hora. Agradecimentos são devidos aos autores
dos capítulos e aos entrevistados que contribuíram decisivamente
para a viabilização do livro. Cabe ainda agradecer os importantes
apoios recebidos de diversos profissionais entre eles Alberto Jorge
C. T. Cavalcanti, Alberto Sayão, Ana Teresa Ponte, André Luiz Fa-
biani, Carlos Henrique Medeiros, Carlos Mazzaro, Cleber José de
Carvalho, Delphim Mazon Fernandes, Flavio Pilz, Fernando Pires
de Camargo, Gisele Miranda Gomes Reis, Gualter Pupo, Gustavo
Nasser Moreira, Heloisa Ottoni, Henrique Frade, Hilton Ahiran da
Silveira, John Denys Cadman, José Carlos de Miranda Reis Neto,
Jerson Kelman, João Paulo Maranhão Aguiar, José Gelazio da Rocha,
José João Rocha Afonso, Julia Ferrer Leal de Araujo, Leila Lobo de
Mendonça, Mair Melo Andrade, Margaret Rose Mendes Fernandes,
Nicole Schauner, Og Pozzoli, Paulo Coreixas Jr., Ricardo Ivan Bicu-
do, Rosana Libânio, Sandra Pereira, Sérgio Pimenta, Simone Idalgo
Machado, Talvani Hipólito Nolasco Filho, Teresa Malveira, Vânia
Rosa Costa, Viviani Siqueira Vecchi e Walton Pacelli de Andrade.
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
16
17
Síntese do Desenvolvimento
da Implantação das
Barragens no Brasil
Flavio Miguez de Mello
Síntese do Desenvolvimento
da Implantação das
Barragens no Brasil
O País e seus recursos hídricos
O Brasil é um território contínuo de forma quase quadrada, a
maior parte do qual se situa no hemisfério sul, desde 4° de latitude
norte a 33º de latitude sul e de 40 º a 75º de longitude oeste, compre-
endendo 8,5x106
km². Esse grande território tem uma longa fron-
teira com todos os países da América do Sul à exceção do Equador
e do Chile, com uma extensa costa banhada pelo Oceano Atlân-
tico ao longo de 8.500 km. O País abriga a quinta maior popula-
ção do mundo. A maior parte dos seus 190 milhões de habitantes
vive na Região Sudeste onde as maiores cidades estão localizadas.
Como o País é de tão grande superfície, há diferentes aspectos natu-
rais tais como, por exemplo, a quantidade e frequência de precipita-
ções, os recursos hídricos, o clima, a geologia, o relevo e a vegetação.
O ambiente varia das planícies alagadas da Amazônia Equatorial e
do Pantanal ao Planalto Central, da cadeia de montanhas próximas
à costa no Sudeste até as planícies do Sul e do Meio Oeste, variando
de áreas úmidas ao vasto semi-árido do interior do Nordeste.
“We trust that the results of the study will help the
power industry of South Central Brazil to develop on
a sound basis in the years that lie ahead.”

“Acreditamos que os resultados do estudo auxiliarão nos anos
vindouros o desenvolvimento da indústria de geração do Centro-Sul
do Brasil sobre uma base sólida”
John K. Sexton, engenheiro chefe da Canambra, 1966.
A parte central da Região Amazônica é cortada de oeste para leste
pelo rio Amazonas, o mais caudaloso e mais longo rio do mun-
do, com uma descarga média superior a 200.000 m³/s, formado
por dois grandes rios, o Solimões que drena os Andes peruanos
e bolivianos e o Negro. Os mais importantes tributários desses
rios e os rios da bacia do rio Tocantins que flui de sul para norte,
constituem-se nos grandes recursos hídricos do norte do Brasil,
apresentando descarga específica média de 35 l/s.km².
A leste desta região encontra-se a região semi-árida do nordeste
brasileiro cujos rios são em geral intermitentes, podendo apre-
sentar descargas específicas médias tão baixas quanto 3 l/s.km².
Nessa área, denominada Polígono das Secas, a incidência solar
supera as 3000 horas por ano, a precipitação média anual pode ser
de 400 mm ou menos. Nessa área a evaporação média pode atingir
2000 mm/ano e, juntamente com evapotranspiração, pode
ser responsável pelo consumo de até 92% das precipitações. A pe-
quena espessura da cobertura de solo faz com que haja dificuldade
em reter a umidade e, como o substrato cristalino é pouco permeável,
só é possível acumular águas subterrâneas em regiões de rochas
com fraturas profundas, sendo geralmente esta água insuficiente e
de baixa qualidade. Quase todos os rios do Nordeste, com exceção
dos rios São Francisco (que é proveniente do Sudeste) e Parnaí-
ba, têm regime intermitente em pelo menos parte de seus cursos.
Barragem de finalidades múltiplas de Pedra
do Cavalo no rio Paraguaçu na Bahia
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
18
Nesses rios intermitentes, no caso de barragens não muito altas, o
tratamento de fundação pode ser feito na primeira estação seca du-
rante a construção e a barragem construída durante a estação seca
seguinte, muitas vezes sem requerer estruturas de desvio e ensecadeiras.
No resto do País as descargas específicas variam de 12 l/s.km²
a 30 l/s.km².
Nos últimos 40 anos o País tem participado intensamente da econo-
mia internacional, variando entre a oitava e a décima maior econo-
mia do mundo. As secas no Nordeste e o desenvolvimento do País
foram os fatores determinantes para a implantação do grande nú-
mero de barragens construídas desde a última década do século XIX.
Um olhar para o passado remoto
A mais antiga barragem que se tem notícia em território bra-
sileiro foi construída onde hoje é área urbana do Recife, PE,
possivelmente no final do Século XVI, antes mesmo da invasão
holandesa. Conhecida presentemente como açude Apipucos,
aparece em um mapa holandês de 1577. Apipucos na língua tupi
significa onde os caminhos se encontram. A barragem original
foi alargada e reforçada para permitir a construção de uma im-
portante via de acesso ao centro do Recife. Há referências tam-
bém ao dique Afogados construído no rio Afogados, um braço
do rio Capiberibe, por Harman Agenau por 6000 florins para
acesso a um forte também na atual região urbana do Recife.
O dique tinha três metros de altura e cerca de 2 km de extensão,
tendo sido concluído em dezembro de 1644; em 1650 sofreu
transbordamento por ocasião de uma grande cheia, tendo cola-
psado em vários pontos.
Figuras 1a e 1b - Barragem de Apipucos na cidade do Recife. A mais antiga barragem
que se tem registro no Brasil
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
19
As obras contra as secas
O ano de 1877 foi o início da maior tragédia nacional devido a
fenômeno natural: A Grande Seca no Nordeste com duração
superior a três anos deixou cicatrizes que até hoje são nítidas.
O estado do Ceará, uma das áreas mais atingidas, na época com
1,5 milhão de habitantes, perdeu mais de um terço da sua popula-
ção de maneira trágica, tendo sido palco de migrações em massa
de flagelados. Somente a partir de meados dos anos oitenta do
século passado passou-se a saber que as secas são devidas ao
fenômeno conhecido por El Niño no Pacífico Sul. Muitos anos
antes, outro intenso El Niño foi responsável pela retirada dos
invasores holandeses de onde é hoje a costa do Ceará. Em 1880,
logo após a Grande Seca, o Imperador D. Pedro II que esteve
na área atingida, nomeou uma comissão para recomendar uma
solução para o problema das secas no Nordeste. As principais
recomendações foram a construção de estradas para que a popu-
lação pudesse atingir o litoral e a construção de barragens para
suprimento de água e irrigação no Polígono das Secas cuja área
é superior a 950.000 km². Isso marcou o início do planejamen-
to e projeto de grandes barragens no Brasil. A primeira dessas
barragens foi Cedros, situada no Ceará e concluída em 1906.
Centenas de barragens foram construídas desde a Grande Seca no
Nordeste. Na primeira década do século XX uma membrana de
alvenaria ou de concreto era usualmente usada como elemento
impermeabilizante interno de barragens de terra. A pequena al-
tura das barragens e a rocha sã nos leitos dos rios minimizavam a
necessidade de tratamento de fundação. A rocha sã em geral en-
contrada nas ombreiras, em vários projetos, conduziu à adoção de
vertedouros de superfície simplesmente escavados em rocha sã.
Os anos 50 e 60 do século passado foram os anos dourados na cons-
trução de barragens para combate às secas. No final do Século XX
o DNOCS executou sua última barragem, Castanhão cuja finalidade
principal foi o abastecimento de água da cidade de Fortaleza.
Recentemente foi lançado o projeto de derivação de parte das des-
cargas do rio São Francisco para o Polígono das Secas. Esse gran-
de rio que nasce na Região Sudeste em Minas Gerais, tem no seu
trecho inferior uma descarga média de longo termo de cerca de
2000 m³/s. No seu estágio final a derivação será de 3,2% desta des-
carga para as regiões de seca. Serão construídas diversas barragens,
diques, canais, estações de bombeamento e casas de força para
Figura 2 - Barragem de Cedros, uma das duas mais
antigas grandes barragens do Brasil (1906)
Figura 3 – Barragem de Castanhão para
abastecimento de água à cidade de Fortaleza, CE
CINQUENTA ANOS DO COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS
20
geração de energia. Serão bombeados 63,5 m³/s do rio São Fran-
cisco. Durante as estações chuvosas na bacia do rio São Francisco
poderão ser bombeadas até 127 m³/s .
A maioria das grandes barragens do Brasil (pela classificação da
CIGB) encontra-se na Região Nordeste, a maior parte delas em
aterro compactado, sem serem muito altas.
As primeiras barragens para produção
de energia elétrica
Nas regiões Sul e Sudeste a implantação de barragens foi prin-
cipalmente direcionada para produção de energia elétrica. No
final do Século XIX começaram a ser implantadas pequenas
usinas para suprimento de cargas modestas e localizadas, to-
das com barragens de dimensões discretas. A primeira usina
da Light entrou em operação em 1901, no rio Tietê, para su-
primento de energia elétrica à cidade de São Paulo. Inicialmen-
te denominada Parnaíba e depois Edgard de Souza, a usina,
quando inaugurada, tinha 2 MW instalados; sua barragem ori-
ginal com 12,5 m de altura, era de alvenaria de pedra consti-
tuída por grandes blocos de rocha gnáissica solidarizados com
argamassa, sendo, em grande parte de sua extensão, um verte-
douro de soleira livre. Em 1954 a antiga usina foi substituída por
unidades de recalque e a barragem alteada para 18,5 m através
de reforços em contrafortes e com vertedouro com três compor-
tas de segmento de capacidade conjunta de 800 m³/s. No final
do século passado, em função das intensas alterações nos co-
eficientes hidráulicos de sua área de drenagem devido à ur-
banização da cidade de São Paulo e das cidades vizinhas, o
vertedouro foi redimensionado com considerável acréscimo de
capacidade. Até os anos cinquenta todas as empresas de energia
elétrica eram privadas e as suas usinas eram situadas principal-
mente nas regiões Sul e Sudeste. A maior parte das barragens
eram estruturas de concreto gravidade ou de alvenaria de pe-
dra, não muito altas. Presentemente (2011) há 1206 MW ins-
talados em hidroelétricas de mais de 50 anos de idade. Muitas
dessas unidades estão sendo agora reabilitadas e repotencia-
das. As primeiras grandes barragens do País foram Cedros
acima mencionada e Lajes, que entrou em operação em 1906
no estado do Rio de Janeiro com o objetivo de derivar as
águas do ribeirão das Lajes para da usina de Fontes no Rio de
Janeiro, na época uma das maiores do mundo.
Em 1934 o decreto federal nº 24643 conhecido como Código de
Águas e o cancelamento da cláusula ouro que protegia as empre-
sas concessionárias dos efeitos da desvalorização da moeda nacio-
nal, passaram a desencorajar diretamente os investidores do setor
elétrico. Devido à contenção tarifária e à fragilidade do capital
nacional, passou a haver insuficiência de oferta de energia nas
décadas seguintes. Os danos ao progresso da Nação foram inten-
sos e irrecuperáveis, tendo sido causado intenso estrangulamento
na expansão de oferta de energia elétrica. Esse estrangulamen-
to fez com que o governo federal e alguns governos estaduais
criassem empresas de energia elétrica. Assim, o setor elétrico foi
aos poucos sendo estatizado.
Logo após a II Guerra Mundial, a Light, concessionária da mais
desenvolvida região do País, construiu diversas barragens e
grandes casas de forças subterrâneas no Rio de Janeiro e em
São Paulo. Para esses empreendimentos consultores individu-
ais prestaram importante apoio tais como Karl Terzaghi, Arthur
Casagrande e Portland Port Fox.
Desde o início dos anos cinquenta as concessionárias estatais pas-
saram a se concentrar em empreendimentos de grandes vultos.
Por esse motivo as mais importantes contribuições no sentido de
desenvolvimento de tecnologias de projeto, construção e opera-
ção de barragens são principalmente devidas à implantação de
hidroelétricas. Em 1960, devido à desastrosa e desastrada políti-
ca de restrição tarifária iniciada pelo Código de Águas que incluiu
o não reconhecimento de remuneração de capital empregado em
obras de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica,
a capacidade instalada no território nacional era de apenas 5.000 MW,
dos quais 3.700 MW provinham de hidroelétricas.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
21
A evolução do conhecimento dos recursos
hidroenergéticos. O legado da Canambra
Na primeira metade do século passado, dada a escassez de mapea-
mento e as dificuldades logísticas, os recursos hídricos em território
brasileiro eram pouco conhecidos e não tinha havido ainda estudos
sistemáticos que posteriormente, a partir dos anos sessenta, passaram
a ser designados por estudos de inventário. A Light, responsável pelo
suprimento de energia elétrica às mais importantes regiões no Rio de
Janeiro e em São Paulo, efetuava estudos dispersos, tendo inclusive
atingido as Sete Quedas, sem o conhecimento dos potenciais do rio
Grande e do rio Paranaíba, muito mais próximos. Nessa época, John
Cotrim, diretor técnico da Cemig, organizou uma expedição pelo rio
Grande entre dois potenciais conhecidos: os locais das usinas de Itu-
tinga e de Peixoto. Nessa expedição foi identificado o local de Furnas
Figura 4 – Barragem e reservatório de Lajes, uma das duas
grandes barragens mais antigas do Brasil (1906)
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
22
que posteriormente deu origem à empresa de mesmo nome. A desco-
berta desse potencial causou espanto no meio técnico da época. Como
reflexo desse levantamento veio o objetivo da Cemig de efetuar um
levantamento dos recursos hidroenergéticos de Minas Gerais. A Cemig
solicitou apoio financeiro ao Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (UNDP sigla em inglês). Ao abrigo desse recurso
financeiro, Cemig assinou, em 2 de novembro de 1962, um con-
trato com a Canambra Engineering Consultants, um consórcio entre as
empresas consultoras canadenses, Montreal Engineering Company Ltd.
e G.E. Crippen  Associates Ltd. e a americana Gibbs  Hill Inc., para
que fosse realizado o inventário dos recursos hidroenergéticos em
Minas Gerais. Com a sugestão do Banco Mundial que atuou nesse inven-
tário como agente executivo do UNDP, de estender os estudos à toda
Região Sudeste considerando a importância desses estudos para a
otimização dos investimentos em geração de energia elétrica e como
todos os rios que nascem em Minas Gerais atravessam outros estados,
o governo federal se interessou vivamente pela iniciativa da Cemig e,
em 3 de junho do ano seguinte, os estudos foram estendidos à toda a
Região Sudeste através de um contrato assinado entre a Canambra e
Furnas. Para tanto, o ministro Gabriel Passos das Minas e Energia e os
governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro
e Guanabara assinaram em 1 de março de 1963 o Plano de Opera-
ção. Inicialmente conhecido como ONU-Cemig, os estudos passaram
a ser conhecidos como Canambra. Com esse propósito, o UNDP
disponibilizou recursos da ordem de US$ 2,7 milhões, havendo a contra-
partida em moeda nacional no equivalente a US$ 3,8 milhões.
Três grupos foram formados, um em Belo Horizonte, um em São
Paulo e um no Rio de Janeiro. Os dois primeiros grupos acima mencio-
nados desenvolveram o inventário dos recursos hidroenergéticos em
relatórios independentes e o grupo sediado no Rio de Janeiro usou
os resultados obtidos adicionados a investigações de outras possíveis
fontes geradoras, inclusive termoelétricas a carvão, a óleo e usinas
nucleares, para formatar o programa final de desenvolvimento ener-
gético da Região Sudeste. A área total investigada foi de 1,1 milhão
de quilômetros quadrados cobrindo 28.000 km de rios, usando
3.700 horas de voos de reconhecimento, englobando 510 locais de
barragem dos quais 264 foram levantados com melhor precisão,
o que demandou aerofotografias de uma área de 516.000 km². Fo-
ram identificados como viáveis potenciais que somados atingiram
40.000 MW. Os estudos de inventário constituíram-se em atividade
sem precedente, tendo direcionado o desenvolvimento hidroener-
gético da região. Nas fases posteriores de implantação das usinas, a
maioria esmagadora dos estudos realizados pela Canambra foi
posteriormente aprofundada nas etapas sucessivas de projeto den-
tro das diretrizes inicialmente estabelecidas. O relatório final foi
entregue por J.K. Sexton, diretor da Canambra, a John Cotrim,
chefe do Comitê de Direção dos Estudos, em dezembro de 1966.
Considerando o sucesso dos estudos desenvolvidos na Região Su-
deste, a Canambra foi contratada para efetuar estudo de mesmo es-
copo para a Região Sul. Posteriormente, nos anos setenta, empresas
nacionais realizaram estudos de inventário hidroenergéticos nas regi-
ões Norte e Nordeste. A partir dos anos oitenta os estudos anteriores
começaram a ser revisados e densificados em quase todo o território
nacional. Progressivamente as condicionantes ambientais foram
ganhando espaço nas definições de projetos em inventários. Um
exemplo típico foi a revisão do inventário do rio Paraibuna em Minas
Gerais que havia sido feito nos anos oitenta. A partir de poucos anos
Figura 5 – Grupo de Minas Gerais da Canambra trabalhando
no escritório central da Cemig
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
23
após seu término, os projetos que pelas exageradas dimensões de
seus reservatórios inundariam centros urbanos e grandes extensões
de obras de infraestrutura viária, foram progressivamente alterados
para reservatórios de menores dimensões, maior número de usinas
com quedas mais modestas e pequenos trechos inaproveitados. Fo-
ram definidos os aproveitamentos de Picada, Sobragy, Cabuy, Monte
Serrat, Bonfante e Santa Fé com pequenas áreas inundadas. Apesar
de pequena perda energética em relação à partição de queda proposta
nos anos oitenta, os empreendimentos passaram a ser econômica e
ambientalmente viáveis, tendo sido implantados a partir do início dos
anos noventa. Na usina que fica mais a jusante foi possível a compati-
bilização inédita do aproveitamento energético com a canoagem, qua-
se sempre objetivos antagônicos. Durante os dias de fim de semana,
feriados e noites de lua cheia, são liberados para a canoagem pela bar-
ragem de derivação a descarga de 50 m³/s, ideal para a prática da cano-
agem, garantindo melhores condições do que as condições naturais.
7a
7b
7c 7d
Figura 6 - John Cadman fotografado por John Cabrera, atolados na beira
do rio, mostrando as dificuldades logísticas durante os levantamentos de
campo efetuados pela Canambra
Figura 7a - PCH Monte Serrat no
rio Paraibuna, Rio de Janeiro e
Minas Gerais
Figura 7b - PCH Bonfante
no rio Paraibuna, Rio de Janeiro
e Minas Gerais
Figura 7c - PCH Santa Fé
no rio Paraibuna, Rio de Janeiro
e Minas Gerais
Figura 7d – Rafting no rio
Paraibuna sobre a soleira vertedora da
barragem de derivação de Santa Fé
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
24
Influenciada por essas alterações, a ANEEL contratou a Es-
cola Politécnica da UFRJ em 2000 para reestudar toda a bacia
do rio Paraíba do Sul com atenção especial aos impactos am-
bientais, a menos das usinas existentes ou aprovadas entre as
quais o complexo de Simplício. Dessa revisão dos inventários
existentes resultou o projeto de mais de cinquenta novos apro-
veitamentos, em sua maioria esquemas de baixa queda para
torná-los ambientalmente viáveis. Dentre os aproveitamentos
de baixa queda destacam-se as PCHs gêmeas Queluz e Lavri-
nhas, assim denominadas por terem todos os equipamentos
idênticos. Essas PCHs, com 30 MW cada, construídas no rio
Paraíba do Sul a montante do reservatório do Funil, foram
concluídas em 2011 e tiveram seus reservatórios condicionados
pela infraestrutura viária do local.
Figuras 8a e 8b – PCH Queluz antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS
e ao fundo a ponte da rodovia Presidente Dutra BR-116
Figuras 9a e 9b - PCH Lavrinhas antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS
e ao fundo a rodovia Presidente Dutra BR-116
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
25
Alterações nos critérios tarifários e a
consequente ampliação de implantação
de hidroelétricas
Nos anos sessenta e setenta, devido ao estabelecimento do cri-
tério da verdade tarifária introduzido no início do governo Cas-
telo Branco por Bulhões de Carvalho e Roberto Campos, um
impressionante número de grandes hidroelétricas foram constru-
ídas e entraram em operação, algumas das quais entre as maiores
do mundo na época.
Nos anos oitenta e noventa um menor número de hidroelétricas entra-
ram em operação devido à carência de recursos financeiros das estatais
causada principalmente pelos impactos na economia nacional devi-
dos aos dois choques do petróleo e a crescente inflação. Entretanto, a
concentração de investimentos em poucos, mas grandes empreendi-
mentos, continuou, resultando no que mostra a tabela a seguir.
Figura 10 – Local da usina hidroelétrica de Furnas no início de sua construção.
A partir da esquerda Flavio H.Lyra, Juscelino Kubitschek de Oliveira,
John R. Cotrim, Benedito Dutra e outros. Todos olhando para o fotografo
a menos de Flavio H. Lyra preocupado com a concepção do projeto
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
26
Figura 11 – Casa de força e vertedouro da usina hidroelétrica de Tucuruí
Figura 12 – Usina hidroelétrica de Salto Santiago no rio Iguaçu
Figura 13 – Usina hidroelétrica de Itá em final de construção
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
Legenda:
N	 Região Norte
S	 Região Sul
SE	 Região Sudeste
NE	 Região Nordeste
CO	 Região Centroeste
TE	 barragem de terra
ER	 barragem de enrocamento com núcleo de terra
BEFC	 barragem de enrocamento com face de concreto
CG	 barragem de concreto gravidade
CCR	 barragem de concreto compactado com rolo
GA	 barragem de concreto em gravidade aliviada
CF	 barragem de concreto em contrafortes
TABELA 1
Maiores Hidroelétricas em Operação em 2011
Hidroelétrica	 Potência	 Região	 Tipo de Barragem
	 (MW)
Tucuruí	 8.370	N	 TE/CG
Itaipu (Brasil)	 7.000	 S	 GA/CG/CT/ER/TE
Ilha Solteira	 3.444	 SE/CO	 TE/CG
Xingó	 3.162	NE	 BEFC
Paulo Afonso IV	 2.462	 NE	 TE/CG
Itumbiara	 2.082	SE/CO	 TE/CG
São Simão	 1.710	 SE/CO	 TE/CG
Foz do Areia	 1.676	 S	 BEFC
Jupiá	 1.551	SE/CO	 TE/ER/CG
Porto Primavera	 1.540	 SE/CO	 TE/CG
Itá	 1.450	S	 BEFC
Itaparica	 1.479	NE	 TE/CG
Marimbondo	 1.440	SE	 TE/CG
Salto Santiago	 1.420	 S	 ER
Água Vermelha	 1.396	 SE	 TE/CG
Segredo	 1.260	S	 BEFC
Salto Caxias	 1.240	 S	 CCR
Furnas	 1.216	SE	 ER
Emborcação	 1.192	SE/CO	 ER
Salto Osório	 1.078	 S	 ER
Sobradinho	 1.050	NE	 TE/CG
Estreito	 1.050	SE	 ER
27
Extensos reservatórios foram criados para algumas dessas grandes
hidroelétricas. Tais reservatórios passaram a propiciar benefícios de
regularização de vazões e, consequentemente, otimização de operação
e confiabilidade no suprimento de energia elétrica.
Figura 14 – Usina hidroelétrica de Sobradinho.
Reservatório de maior área do Brasil
Figura 15 – Reservatório
da usina hidroelétrica de
Serra da Mesa, o de
maior volume do Brasil
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
TABELA 2
Maiores Reservatórios
Barragem	 Área (km²)	 Volume (km³)	 Extensão (km)
Sobradinho	4.214	 34	 350
Tucuruí	 3.007	50	 170
Balbina	 2.360	17	 225
Porto Primavera	 2.250	 20	 250
Serra da Mesa	 1.784	 54	 116
Itaipu*	 1.350	29	 170
*Incluindo a parte do reservatório sobre território paraguaio.
28
Desde pouco antes do início dos anos oitenta o governo federal
e os governos estaduais passaram a enfrentar grandes dificulda-
des para prover recursos necessários para a implantação de novas
usinas e de sistemas de transmissão. Um dos casos extremos ocor-
reu na implantação da hidroelétrica de Emborcação que, perante
à reiterada ameaça da Eletrobras em não cumprir o contrato de fi-
nanciamento com a Cemig, esta denunciou a Eletrobras ao Banco
Mundial. Considerando as funestas e intensas consequências ao
País em outros empreendimentos financiados pelo Banco Mundial,
a Eletrobras foi obrigada a cumprir o contrato. Nas obras federais
houve intensa concentração de recursos na construção das maiores
usinas, nomeadamente em Itaipu e Tucuruí, e depois em Xingó,
ficando as demais obras federais sujeitas às verbas de desmobili-
zação. Essas verbas correspondiam aos valores que seriam des-
pendidos caso as obras viessem a ser paralisadas. Como esses
valores eram insuficientes para manter o ritmo ideal de constru-
ção, essas obras ficaram sujeitas a vultosos dispêndios devido aos
acréscimos de custo de construção e à maior incidência de juros
durante a construção, tendo afetado negativamente as empresas
contratadas para fornecimento de serviços e de bens de capital.
A hidroeletricidade nos anos recentes
Em 1996, através da Lei 9427, uma importante modificação ocor-
reu no setor elétrico com a criação da Agência Nacional de Ener-
gia Elétrica. Pouco depois foi instituída a Agência Nacional de
Águas e o Operador Nacional do Sistema, entidade, teoricamente
privada, que atua na coordenação e no controle da operação das
geradoras e dos sistemas de transmissão. Uma segunda alteração
na legislação ocorreu em 2004 mantendo o processo de licitação
para novos projetos, mas tornando-se vencedor aquele que apre-
sentasse a menor tarifa, ficando assim concessionário da usina ou
do sistema de transmissão. As transações de compra e venda de
blocos de energia no sistema interligado de transmissão são fei-
tas sob os auspícios do Mercado Atacadista de Energia através
de contratos bi-laterais de curta duração. Todo o planejamento
concernente a privatização, alterações operacionais e licitações
para concessões têm sido processado pela ANEEL. Uma em-
presa federal (EPE - Empresa de Pesquisa Energética) foi criada para
o desenvolvimento do planejamento do setor elétrico. Presen-
temente empresas de geração, de transmissão, de distribuição,
de comercialização e outros investidores são encorajados a im-
plantar usinas de geração e sistemas de transmissão, bem como
comercializar a energia produzida ou transmitida.
Devido ao sistema ser interligado em grande parte do territó-
rio nacional, as novas hidroelétricas, além de suprirem energia na
sua região, promovem benefícios para outras áreas. Como resulta-
do, um vasto sistema de transmissão em alta tensão e em extra alta
tensão promove a interligação de várias regiões do País ao sul do
rio Amazonas unindo os dois maiores sistemas nacionais: o Norte/
Nordeste ao Sul/Sudeste/Centroeste. Está programada para fu-
turo próximo a interligação entre a margem sul e a margem norte
do rio Amazonas. Em 2008 mais de 95% da população tinha aces-
so a serviço público de eletricidade compreendendo mais de 99%
dos municípios. Uma grande parte do território brasileiro, com
exceção de sistemas isolados na Região Norte, é servido por mais
de 90.000 km de sistemas de transmissão interconectados em
230 kV, 345 kV, 440 kV, 500 kV e 750 kV.
Em novembro de 2008 a capacidade instalada no País era de
104.816 MW em 1768 usinas geradoras das quais 706 eram hidroelé-
tricas, 1042 termoelétricas e duas termonucleares. Nos últimos 10 anos
a média anual do aumento da capacidade instalada foi de 3652 MW.
Há poucos anos atrás bem mais de 90% da capacidade instalada provinha
de usinas hidroelétricas. Ao final de 2008 essa proporção caiu para 74%
devido ao planejamento para a diversificação de fontes geradoras e às
dificuldades de obtenção de licenciamentos ambientais para barra-
gens e reservatórios. Em abril de 2011 a capacidade total instalada no
País passou a ser de 112.398 MW. Entretanto, a carga de impostos
na geração de energia elétrica é de cerca de 45% da tarifa cheia, o que
faz com que, apesar do grande número das grandes usinas hidroelétri-
cas que operam há mais de 30 anos estarem teoricamente depreciadas,
a energia elétrica disponibilizada no Brasil possa ser a mais cara do
mundo devido principalmente a essa elevada carga tributária. Impostos,
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
29
taxas e contribuições mandatórias em uma conta de consumo de ener-
gia elétrica em residência de classe média quando comparada ao custo
direto da energia fornecida, se situam no entorno de 85%. Presente-
mente (meados de 2011) a tarifa média para a indústria no Brasil é de
R$ 329/MWh, 134% superior à média das tarifas industriais nos ou-
tros países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que se situam em
R$140,7/MWh. Em estudo recente a FIRJAN considerou críticos os
níveis dos quatorze encargos cobrados sobre a energia elétrica.
Entre 2015 e 2017 muitas das concessões das maiores hidroelétricas
e dos sistemas de transmissão estarão vencidas. Pela legislação em vi-
gor essas concessões retornarão à União que deverá efetuar licitações
para definição de novos concessionários. As hidroelétricas a serem
licitadas já estarão totalmente depreciadas, o que, pelo espírito da
Lei, deverá fazer com que as tarifas venham a ser consideravelmente
reduzidas. As atuais concessionárias terão que se adaptar à nova
realidade. Prevê-se que em 2015 cerca de 20% do parque gerador,
70.000 km de linhas de transmissão e 33% dos contratos de distri-
buição deverão ter suas concessões licitadas. Em abril de 2011 as
grandes concessionárias como CESP, CEMIG e COPEL forma-
ram um grupo para discutir o problema e tentar influenciar uma
alteração na legislação visando prorrogações das concessões. Fur-
nas, por exemplo, poderá perder até 52% do seu atual faturamento
caso as concessões que vencem no período acima mencionado,
não venham a ser renovadas. Essas concessões, no caso de Furnas,
compreendem a 5000 MW em seis usinas, além de ativos em siste-
mas de transmissão. Tem havido por parte das atuais concessionárias
e de governos estaduais, intenso lobby para a manutenção das atu-
ais concessões. Por outro lado a FIESP defende que a legislação
não venha ser alterada ou violentada e que as licitações sejam feitas;
considera que com as licitações as tarifas despencarão a níveis de
20% dos atuais, pois os investimentos na construção das usinas e
nos sistemas de transmissão já foram amortizados há muito tempo.
Para tanto, a FIESP entrou com representação no TCU solicitando
intervenção para que providências sejam tomadas no sentido de
garantir a execução das licitações de concessão. Entretanto, um dos
principais problemas é que, com o elevadíssimo nível dos encargos
sobre o fornecimento da energia elétrica, a intensa redução das tarifas
que beneficiaria os contribuintes e recolocaria a competitividade da in-
dústria nacional no mercado externo, faria com que o governo perdesse
arrecadação o que não costuma ser aceito pelos políticos da situação.
Desde a última década do século XX, um grande número de in-
vestidores têm atuado na implementação de pequenas centrais
hidroelétricas até o limite de 30 MW instalados. A esmagado-
ra maioria dessas pequenas usinas tem modestos reservatórios,
pequenas barragens, vertedouros de superfície em lâmina livre
e casas de força em posição remota em relação às barragens.
Figura 17 – Barragem da PCH Ivan Botelho II
(Palestina) em Minas Gerais
Figura 16 - PCH Calheiros 19 MW no rio Itabapoana,
entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
30
Hidroelétricas de porte médio são também atraentes a investido-
res privados por apresentarem, em relação às empresas estatais,
menores custos internos.
Grandes hidroelétricas estão presentemente sendo construídas.
As hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio, situadas no rio Ma-
deira a montante de Porto Velho terão, no seu conjunto, cerca de
6900 MW instalados. O rio Madeira drena uma extensa área
da Cordilheira dos Andes na Bolívia. Os vertedouros dessas
duas barragens foram dimensionados para as descargas de-
camilenares de 82.600 m³/s e 84.000 m³/s, sendo cada um
equipado com 20 comportas de segmento de 20 m x 25,2 m.
Ambas casas de força abrigarão unidades bulbo operando pra-
ticamente a fio d’água. Os reservatórios com área de 258 km² e
271,3 km², inundarão terrenos da Floresta Amazônica. Entre-
tanto, a relação entre área inundada em km² e a capacidade
instalada em MW é de cerca de 0,08, extremamente baixa em
comparação com a média nacional.
Encontra-se em início de construção a hidroelétrica de Belo
Monte que terá a capacidade instalada de 11.233 MW no rio
Xingu, um dos maiores tributários do rio Amazonas. Esse apro-
veitamento está sendo estudado há trinta anos. Por restrições
ambientais e com a finalidade de se conseguir o licenciamento
ambiental, a barragem de Babaquara que regularizaria o rio
Xingu a montante de Belo Monte, teve seu projeto abando-
nado e a área do reservatório de Belo Monte que inicialmente
era de 1225 km², passou para 516 km². O empreendimento
afetará 4300 famílias urbanas e 800 famílias rurais. A hidroe-
létrica de Belo Monte terá baixa relação entre a área do reser-
vatório e a capacidade instalada: 0,05 km²/MW. A média na-
cional é de 0,49 km²/MW. Outras grandes hidroelétricas como
Tucuruí (0,29 km²/MW), Itaipu (0,10 km²/MW) e Serra da
Mesa (1,40 km²/MW) embora com relações modestas, apre-
sentam índices mais elevados. A ausência de reservatórios de
regularização no rio Xingu faz com que o fator de capacidade
seja muito baixo. Localizada nas proximidades de Altamira, no
Pará, a usina aproveitará a queda na grande curva do Xingu.
Pelo projeto em processo de licenciamento, serão implanta-
das duas casas de força, uma com 11.000 MW com unidades
Francis sob 87,5 m de queda líquida e outra, denominada casa
de força complementar, com 233 MW com unidades bulbo sob
11,5 m de queda líquida. A descarga remanescente é a
maior que se tem notícia, 700 m³/s, que fluirão pela casa de
força complementar.
18 – PCH Cachoeira em Rondônia, pequena estrutura (barragem) de derivação
Figura 19 – Usina hidroelétrica de Monjolinho com vertedouro do tipo lateral
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
31
Figura 20 – Usina hidroelétrica de Santa Clara em Minas Gerais
Figura 21 – Barragem vertedoura da hidroelétrica
de Picada em Minas Gerais
Figura 22 – Obras da usina hidroelétrica de
Santo Antônio no rio Madeira
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
32
A hidroelétrica de Estreito, também situada na Amazônia, projeta-
da para 1087 MW instalados encontra-se (maio de 2011) em início
de operação comercial após quatro anos de atrasos devido a demo-
ras no licenciamento ambiental e a paralisações referentes a ações
judiciais e a atos de ocupação indevida de seu canteiro de obra.
A auto-produção de energia elétrica tem movimentado em anos re-
centes várias empresas de grande vulto como a Vale, a Petrobrás,
a CSN, a Votorantim e muitas outras. Um exemplo marcante é a
Companhia Brasileira de Alumínio CBA que por longo período foi o
maior auto-produtor de energia elétrica do País. No início dos anos
quarenta a família Carvalho Dias e o empresário, engenheiro e político
José Ermírio de Moraes fundaram a CBA para exploração da jazida
de bauxita que havia sido identificada nas terras dos Carvalho Dias
nas proximidades de Poços de Caldas, MG, e montar uma fábrica
de alumínio, indústria eletrointensiva. Em 1942 o DNAEE determi-
nou que a São Paulo Light suprisse de energia elétrica a fábrica que
estava projetada para ser construída no município de Mairinque, SP.
Como a São Paulo Light não dispunha de energia para garantir o
fornecimento à CBA, esta requereu a concessão do rio Juquiá-Guaçu
e do seu afluente Assungi. A concessão só foi outorgada em 1952.
Em conversa com o autor, o engenheiro Antônio Ermírio de Mo-
raes externou as dificuldades que encontrou, sendo um empreen-
dedor privado, para a obtenção da concessão. Afirmou ainda que
considerava estratégico ter a garantia de produção de pelo menos
50% da energia necessária à sua indústria.
Assim, a CBA deu início à implantação de uma série de usinas no rio
Juquiá-Guaçu: em 1958 entrou em operação a hidroelétrica de França
com 24 MW, em 1963 Fumaça com 36,4 MW, em 1974 Alecrim com
72 MW, em 1978 Serraria com 24 MW, em 1982 Porto Raso com
28,4 MW, em 1986 Barra com 40,4 MW e, finalmente, em 1989 Iporanga
com 36,87 MW. Nesse período, em 1974, a CBA adquiriu da São Paulo
Light a hidroelétrica de Itupararanga com 55 MW. Com os principais po-
tenciais do rio Juquiá-Guaçu explorados, a CBA partiu para o médio rio
Paranapanema, tendo construído as hidroelétricas de Piraju com 80 MW
que entrou em operação em 2002 e Ourinhos em operação desde 2006.
Figura 23 – Barragem da usina hidroelétrica
de Barra no rio Juquiá, em São Paulo
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
33
Figura 24 - Barragem da
usina hidroelétrica de Fumaça,
no rio Juquiá, em São Paulo
Figura 25 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Barra Figura 26 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Fumaça
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
34
Os projetos das hidroelétricas da CBA no rio Juquiá-Guaçu fo-
ram todos de concepção italiana, com barragens de concreto de
gravidade aliviada. Além do acompanhamento constante do en-
genheiro Antônio Ermírio de Moraes, o executivo da empresa era
o médico Miguel Carvalho Dias que contava com a importan-
te colaboração de vários engenheiros de destaque na profissão
entre eles Carlos Mazzaro, Newton Sady Busetti, Edilberto Mau-
rer e Valério Mortara para o qual o autor teve o privilégio de
entregar o título de engenheiro eminente pela Associação dos
Antigos Alunos da Politécnica em 2000.
Barragens de rejeitos
Atividades de mineração representam um importante segmen-
to na economia nacional. Devido à legislação ambiental, um
grande número de barragens de rejeitos foram construídas ou
estão presentemente em construção. A barragem do Germano,
a maior do País, que atualmente (maio de 2011) está com 155 m
de altura é projetada para atingir 170 m de altura no seu estágio
final. Embora não haja um registro de barragens de rejeitos no
País, são conhecidas mais de 700 barragens em Minas Gerais
e pelo menos 150 outras nos demais estados da Federação.
O método de construção mais empregado é o método de mon-
Figura 27 – Antônio Ermirio de Moraes principal
executivo do Grupo Votorantim, detentor da CBA
Figura 28 - Usina
hidroelétrica de
Piraju no rio
Paranapanema
entre São Paulo
e Paraná
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
35
tante. Entretanto, para rejeitos finos a muito finos como na mi-
neração de ouro, o método de jusante é empregado. Um projeto
não usual foi adotado para a disposição de rejeitos em mina de
urânio em Poços de Caldas. Foi adotada uma barragem de
terra e enrocamento compactados, com três filtros chaminé
internos, para ser construída em três fases. Para impedir que
a água de chuva se misturasse com a água percolada pelo ma-
ciço da barragem e pela sua fundação, água esta que tem que
ser tratada, o talude de jusante da barragem foi projetado
para ser coberto com uma face de concreto.
Controle de cheias
Por muitos anos desde 1944, o Departamento Nacional de Sa-
neamento, órgão do Ministério do Interior, foi ativo em empre-
endimentos de controle de cheias envolvendo a construção de
barragens, polders e drenagens. As barragens foram construídas
principalmente com o objetivo de evitar cheias em áreas populosas.
Os dois mais destacados empreendimentos foram o sistema de
controle de cheias do rio Itajaí em Santa Catarina, que inclui
três barragens que são somente usadas para controlar as des-
cargas afluentes, o sistema de proteção de cheias da cidade de
Recife em Pernambuco, que compreende três barragens de ter-
ra. O critério de projeto que em geral era adotado objetivava o
controle das cheias de período de recorrência de 100 anos ou a
maior cheia que tivesse sido registrada. Em 1990 as ativida-
des desse Departamento foram abruptamente encerradas e o
Departamento extinto. Nos primeiros anos dos anos noventa
diversas barragens que antes eram controladas pelo DNOS fi-
caram sem qualquer controle e sem responsável pela operação e
segurança. Durante a estação chuvosa de 2009 uma grande cheia
ocorreu na bacia do rio Itajaí e as três barragens não foram su-
ficientes para controlar toda a descarga afluente. Severas con-
sequências em grande área alagada no baixo vale do Itajaí com-
preenderam impressionantes perdas de propriedades. Presente-
mente estados e prefeituras que, em geral, não são capacitados
técnica e financeiramente, têm de enfrentar por conta própria
os problemas de controle de cheias.
Vias navegáveis
A navegação interior permanece sendo o método de transporte mais
usual na Região Amazônica onde há longos e caudalosos rios que
podem ser usados ao longo do ano todo. Nesse grupo de rios se
encontram todo o rio Amazonas, seus formadores os rios Solimões
e Negro, bem como extensos trechos inferiores dos seus afluentes,
principalmente nos trechos sobre terrenos sedimentares recentes.
Nas outras regiões, os poucos empreendimentos de navegação
interior existentes são em geral anexos a hidroelétricas. As duas
principais bacias com eclusas instaladas em hidroelétricas são as dos rios
Tietê e Paraná, em São Paulo e do São Francisco, no Nordeste.
Paisagismo
Desde a construção, em 1958, da barragem de Pampulha em que
criou um belo espelho d’água na cidade de Belo Horizonte, algu-
mas pequenas barragens foram construídas no coração de outras
cidades para criação de lagos artificiais como elemento paisagístico.
O maior e mais famoso desses lagos artificiais é o reservatório de
Paranoá, na capital federal.
Figura 29 - Eclusas da barragem de Três Irmãos sobre o rio Tietê
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
36
Obras de abastecimento de água
Barragens têm sido construídas como parte de sistema de abaste-
cimento de água para zonas urbanas e industriais. O mais destaca-
do desses sistemas é o sistema de Cantareira para abastecimento
de água da grande São Paulo e cidades do vale do Piracicaba. Esse
sistema foi construído nos anos setenta e compreende sete gran-
des barragens de terra, sete túneis escavados em rochas gnaíssicas
e graníticas numa extensão total de 29 km e uma grande estação de
recalque subterrânea com capacidade de 33 m³/s. Os dois maio-
res sistemas do Rio de Janeiro aproveitam as barragens da Light
construídas entre o início do século (sistema Lajes), e as barragens
do sistema de derivação dos rios Piraí e Paraíba do Sul (siste-
ma PPD). Outro sistema importante é o de Belo Horizonte
compreendendo obras hidráulicas de vulto, com captações em
barragens no rio das Velhas e no rio Manso. Um sistema que me-
rece menção é o sistema para o abastecimento d’água da cidade de
Fortaleza. O sistema inclui a barragem de terra do Castanhão
com trecho em concreto compactado com rolo, concluída em
1999 com 72 m de altura, represando 4,46 bilhões de metros cúbicos
de água sob uma superfície de 325 km² no nível d’água máximo nor-
mal. O sistema necessitou da construção de 256 km de canais para
suprimento de 22 m³/s para a cidade e para projetos de irrigação,
descarga essa que corresponde a 90% de permanência. O mais recente
empreendimento de vulto para abastecimento de água é a barra-
gem João Leite construida em concreto compactado com rolo,
com 53,5 m de altura e vertedouro de soleira livre sobre a barra-
gem. A barragem possibilita o acréscimo de 5,33 m³/s de reforço
ao abastecimento das principais cidades do estado de Goiás.
Merece menção a barragem do Ribeirão João Leite, concluida
em 2009, a qual é destinada ao abastecimento de água da cidade
de Goiânia. O artigo técnico sobre o projeto e a construção desta
barragem de CCR com 53,50 m de altura e alas de terra faz parte
da publicação do CBDB Main Brazilian Dams III.  
Figura 30 – Barragem do
Ribeirão João Leite para
o abastecimento d’água
da cidade de Goiânia
Figura 31 - Barragem
de Pindobaçu na Bahia,
aproveitamento de
finalidades múltiplas
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
37
Entretanto, um estudo recentemente concluído pela Agência Nacio-
nal de Águas revelou que a situação do abastecimento de água em
55% dos 5565 municípios brasileiros está se agravando e deve-
rá estar insuficiente em 2015. Serão necessários investimentos de
R$ 22 bilhões para garantir a oferta de água de qualidade adequa-
da até o ano de 2025. O maior problema da área de saneamento
básico, entretanto, se concentra na coleta e tratamento de esgoto
uma vez que são poucas as cidades que dispõem de estações com
capacidade de tratamento de porcentagens consideráveis dos es-
gotos coletados. Esse estudo da Agência prevê a necessidade de
investimentos superiores a R$ 50 bilhões até 2025 tendo em vista o
precário estado dos sistemas de esgoto sanitário de quase todos
os municípios brasileiros. A esmagadora maioria dos esgotos é
lançada em corpos d’água (rios, lagos e oceano) sem tratamento.
Finalidades múltiplas
Barragens com finalidades múltiplas eram raras no cenário na-
cional devido à estanqueidade dos órgãos federais e estaduais na
definição dos empreendimentos hidráulicos. O primeiro gran-
de exemplo de barragem implantada com finalidades múlti-
plas foi Três Marias com objetivos de regularização do rio São
Francisco, beneficiamento à navegação interior e geração de
energia elétrica. Dessa forma, premido por necessidade de ini-
ciar as obras de Três Marias e de Furnas, o governo Juscelino
Kubitschek foi forçado a definir recursos federais para a implan-
tação da barragem, do vertedouro e do reservatório, enquanto
a Cemig arcou com a casa de força.
Figura 32 - Barragem
de Mirorós na Bahia,
aproveitamento
para irrigação e
abastecimento de água
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
38
Reservatórios
interligados de
Paraibuna e
Paraitinga
Outro exemplo é a barragem de Pedra do Cavalo na Bahia que con-
tribui para o controle de cheias, o abastecimento de água, a produção
de energia, a regularização e a irrigação. Importantes empreendi-
mentos de finalidades múltiplas são as barragens do alto e médio rio
Paraíba do Sul, Paraitinga, Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Fu-
nil que contribuem para a regularização de descargas, controle
de cheias, geração de energia elétrica e possibilitam o abastecimento
do Grande Rio de Janeiro.
A evolução dos segmentos de bens de
capital e de prestação de serviços
Toda essa atividade em projeto, construção e operação de barragens,
bem como em fabricação e montagem de equipamentos, incentivou
a engenharia brasileira, tão dependente de apoio estrangeiro na primei-
ra metade do século XX, a se tornar uma das líderes mundiais nesse
setor. Muitas empresas brasileiras de projeto e construção se ex-
pandiram durante a segunda metade do século XX e presentemente
ocupam relevante posição no cenário internacional. Neste mesmo
período diversas fábricas de equipamentos mecânicos, elétricos e ele-
trônicos se estabeleceram no País e têm suprido a demanda interna
e exportado equipamentos para diversos outros países.
Nos últimos 20 anos do século passado o País atravessou um perío-
do de severa estagnação econômica quando vinte empreendimentos
com barragens do setor elétrico tiveram sua construção suspensa
por falta de recursos financeiros. Durante esses anos muitas em-
presas brasileiras desenvolveram com sucesso atividades no ex-
terior em países de todos os continentes. Depois de passado esse
período, a engenharia brasileira voltou a ter um mercado interno
robusto com alguns dos maiores projetos do mundo atual tais como
as hidroelétricas de Jirau, Santo Antonio, Estreito e Belo Monte,
além de diversas hidroelétricas de pequeno e médio porte.
Figura 33b
– Barragem e
casa de força de
Paraibuna
Figura 33a – Barragem de Paraitinga
no final de sua construção
Figura 33c – Diques
durante o primeiro
enchimento do reservatório
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
39
O desenvolvimento e o desmonte da
engenharia consultiva
Os estudos e projetos de barragens no País tiveram duas origens
distintas. No Nordeste, tanto no DNOCS quanto na CHESF,
havia predominância da engenharia nacional com grandes
contingentes de engenheiros formados em nossas escolas, mes-
mo que inicialmente carentes de experiência. Nota-se que os
projetos do DNOCS eram feitos na sua sede no Rio de Janei-
ro antes da mudança para Fortaleza, com influência de eventuais
consultores provenientes do U.S. Bureau of Reclamation.
Os projetos da CHESF, principalmente na sua primeira hi-
droelétrica, Paulo Afonso I, foram feitos no canteiro de obra
por equipe nacional com influência de alguns engenheiros es-
trangeiros recrutados como imigrantes após o término da Se-
gunda Grande Guerra Mundial e de outros que trouxeram
marcante influência francesa. Entretanto, nesses dois casos, a força de
trabalho e a responsabilidade técnica eram essencialmente nacionais.
Na Região Sudeste, os projetos da Light e da AMFORP eram ni-
tidamente comandados, no início do Século XX, por americanos.
A organização da AMFORP veio influenciar na organização da
CEMIG, em Minas Gerais, através do engenheiro John Cotrim
que também trouxe, em seguida, essa experiência organizacional
para Furnas.
Tanto a CEMIG quanto Furnas tiveram seus primeiros grandes
projetos elaborados por empresas consultoras americanas. Aos pou-
cos, foram se formando importantes e bem estruturadas empresas
consultoras nacionais que passaram a atuar nas linhas de frente
dos grandes empreendimentos hidroelétricos dessas duas em-
presas concessionárias. Outras empresas do setor elétrico con-
tavam com projetos desenvolvidos por consultoras suíça, alemã,
portuguesa e italiana. Em São Paulo, o governo estadual orientava
os projetos dos anos cinquenta para empresas brasileiras ou para
um conjunto de consultores individuais, por bacias hidrográficas.
Quando finalmente foi enfrentado um projeto de grandes propor-
ções, a equipe do contratante, especialmente o engenheiro José
Gelazio da Rocha, incentivou os consultores independentes das
barragens do rio Pardo a formar uma empresa que pudesse desen-
volver a contento o projeto da hidroelétrica de Jupiá, no rio Paraná,
de dimensões inusitadas para a época.
Figura 34 - Barragem de finalidades múltiplas de Funil
Figura 35 - John Reginald Cotrim jovem na EBASCO 1942-44
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
40
As hidroelétricas projetadas pelo DNOS no Sul e na Bahia, também
já contavam com expressivo contingente de engenheiros brasileiros.
Os anos setenta se caracterizaram por um enorme desenvolvimen-
to da consultoria brasileira. Nessa época as empresas de projeto
assumiam crescentes responsabilidades em um grande número de
projetos de envergadura, principalmente no setor elétrico. Esse
desenvolvimento acelerado foi em parte condicionado por lei de
proteção ao mercado de consultoria e projeto, conseguida durante
o governo de Costa e Silva. A Associação Brasileira de Consul-
tores de Engenharia - ABCE analisava cada contratação de con-
sultoria externa para detectar se havia similar nacional. Essa lei só
foi cancelada sem alarde e sem anúncio no governo Sarney para
os projetos do programa de irrigação de um milhão de hectares.
Nos anos setenta quase dez consultoras brasileiras figuravam en-
tre as maiores do mundo. Por outro lado, as consultoras brasileiras
tinham como obstáculo a lei da informática que prejudicou so-
bremodo o desenvolvimento da produção de projetos e, de
acordo com o então senador Roberto Campos, tornou o contra-
bandista um herói nacional.
Quase todo esse desenvolvimento era calcado em contratos cost
plus com empresas estatais do setor elétrico. Essa modalidade con-
tratual foi introduzida pelas empresas americanas de consultoria
na segunda metade dos anos cinquenta. Por esse tipo de contrato
a consultora era remunerada pelo custo do serviço baseado nos
salários de suas equipes técnicas multiplicados por um fator que
representava os impostos, os encargos sociais e as despesas diretas,
com a adição do seu lucro em função do trabalho efetivamente de-
senvolvido. As consultoras a cada mês recebiam antecipadamente
de acordo com a programação aprovada e prestava conta ao final
de cada mês. Dessa forma passou a haver elevada segurança con-
tratual mesmo em regime inflacionário que se acentuou a partir do
governo JK. Dessa forma praticamente não havia necessidade de
capital de giro, a inflação não era sentida e o risco de inadimplência
era muito reduzido. Entretanto, esse tipo de contrato veio causar
o desmanche das empresas consultoras na década seguinte.
Em 1979 foi instituído o teto salarial nas empresas estatais, teto
este que era o salário direto nominal do Presidente da República,
na época o general Figueiredo. Como o salário direto nominal do
Presidente não era muito elevado, os salários nas estatais passaram
Figura 36 - Usina hidroelétrica de Volta Grande no rio Grande
Figura 37 - Usina hidroelétrica de Itapebí no rio
Jequitinhonha, na Bahia
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
41
a ser achatados. Por terem salários achatados, os funcionários das
estatais federais contratantes de serviços de consultoria passaram
a não aprovar nos contratos reajustes salariais dos empregados
das empresas contratadas. Como a inflação era intensa, as consul-
toras passaram a sofrer pressões dos dois lados: as suas equipes
demandando reajustes salariais corretos e os clientes não apro-
vando esses reajustes nos contratos. O equilíbrio financeiro dos
contratos das consultoras foi rapidamente corroído.
A letra desse tipo de contrato pelo custo significava que deveria
haver reembolso pelos acréscimos de custos devido à inflação.
A inflação se intensificava a cada período, tendo chegado a um
pico de mais de 80% ao mês e ao impressionante e quase ina-
creditável, para os que não vivenciaram, índice de 13 trilhões e
342 bilhões por cento no período de apenas quinze anos que an-
tecederam ao Plano Real. As consultoras, através da Associação
Brasileira de Consultores de Engenharia - ABCE, pleiteavam in-
cessantemente fórmulas de reajustes sem encontrar eco em mui-
tas das empresas contratantes. Nessas empresas uma posição de
clarividência foi assumida pelo engenheiro João Alberto Ban-
deira de Mello que atuava na Eletrobras e que propunha que,
além do correto reajustamento, houvesse também o justo reem-
bolso dos elevados juros que as consultoras já estavam pagando
ao sistema financeiro. Essa proposição sequer foi considerada e
só após muito tempo, já com as consultoras descapitalizadas e
endividadas, é que uma correção parcial foi admitida nos contra-
tos, mesmo assim após 45 dias da entrega da respectiva fatura,
ou seja, até 75 dias da execução dos serviços.
Adicionando a esses aspectos deletérios, sobreveio, nos anos oiten-
ta, a crise financeira das estatais, principalmente das federais, no-
meadamente as que não tinham grandes gerações de energia como
era o caso da Light e de FURNAS. Essas outras empresas passa-
ram a atrasar sistematicamente o pagamento das faturas, em várias
ocasiões por mais de cinco meses. Como para as consultoras, nos
contratos pelo custo, os seus técnicos não podiam acumular horas
trabalhadas para somente faturá-las quando houvesse recursos nas
caixas das contratantes, os faturamentos tinham que ser mensais.
Incrivelmente neste País os impostos incidem no ato do faturamen-
to, mesmo que não venha haver pagamento. As consultoras tinham
que recolher impostos por serviços que não eram pagos ou que
seriam pagos meses depois, corroídos por uma inflação galopante.
No advento do governo Sarney houve um dos muitos planos he-
terodoxos no qual teoricamente a inflação seria nula. Foram cria-
dos os “fiscais do Sarney” que acusavam às autoridades eventuais
aumentos de preços. As contratantes do setor elétricos viraram
“fiscais do Sarney” e unilateralmente abateram os multiplica-
dores dos contratos alegando que a partir daquele instante não
mais haveria inflação. Entretanto, esses multiplicadores haviam
sido estabelecidos nos anos cinquenta quando a inflação antes do
governo Juscelino ainda era muito baixa.
Finalmente, no auge da crise das contratantes estatais federais, as
consultoras foram chamadas para receber parte de alguns atra-
sados pagos em títulos que eram chamados de moeda podre,
pois valiam no mercado apenas uma pequena fração de seu valor
de face, em geral cerca de 25%, mesmo assim quando e só
quando eram usados nos programas de privatização. Dessa for-
ma, o governo federal desovou empresas nos programas de
privatização ganhando dos dois lados.
Daquelas grandes empresas de consultoria de engenharia que fi-
guravam como das maiores do mundo, algumas foram reduzidas
a níveis pequenos e várias fecharam, tendo originado forte de-
semprego no ramo da engenharia e tendo sido criado o termo
“o engenheiro que virou suco.”
Mas outros profissionais se reuniram em pequenas empresas, algu-
mas delas atuando em segmentos específicos. Algumas dessas em-
presas foram gradativamente crescendo e hoje já apresentam grande
número de profissionais engajados.
Os contratos, entretanto, devido a essa experiência desastrosa, não
mais foram de remuneração pelo custo; presentemente a esmaga-
dora maioria dos contratos por prestação de serviços de consultoria
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
42
é por preço fixo, o que transfere para a consultora um risco que
deveria ser do empreendedor.
A partir dos anos oitenta as consultoras menos atingidas pelos im-
pactos acima relatados voltaram-se para o mercado externo com
o objetivo de substituir os contratos nacionais. Algumas empresas
tiveram sucesso e hoje estão presentes em vários continentes.
O desenvolvimento das empresas de
construção
Semelhantemente ao que ocorreu nas atividades de estudos e
projetos, a construção de barragens no Nordeste foi efetivada
principalmente com equipes do próprio empreendedor, seja o
DNOCS ou a CHESF. No caso do DNOCS, apenas em algumas
poucas barragens consideradas de grande vulto na época, empre-
sas estrangeiras foram contratadas para executar as obras civis.
O DNOCS construiu mais de duas centenas de grandes barra-
gens com recursos humanos e equipamentos próprios. Entretanto,
as obras mais recentes que datam do final do século passado,
foram implantadas por empresas privadas de construção.
A partir de sua fundação até a conclusão da hidroelétrica de Moxo-
tó, a CHESF construiu com equipe própria suas barragens e usinas.
A partir dessa época, dado o desenvolvimento das construtoras
nacionais, estas passaram a ser contratadas para todas as demais obras.
No Sudeste as construtoras estrangeiras foram utilizadas pela
Light e pela AMFORP em suas hidroelétricas que são mais
antigas, todas com construções compreendidas do início até
meados do século passado.
Da mesma maneira, ainda nos anos cinquenta, Furnas contratou
para a usina que deu nome à empresa, uma construtora britânica
associada a uma empreiteira brasileira. Para essa usina, na época uma
das maiores do mundo em capacidade instalada, em altura da bar-
ragem e em potência dos seus equipamentos de geração, outra em-
presa brasileira com experiência restrita à construção de estradas
foi contratada para erguer a barragem auxiliar de Pium-I, tendo
socorrido os empreiteiros principais na elevação rápida do núcleo
da barragem de Furnas. Com a experiência adquirida essa empre-
sa assim como outras que se capacitaram, já nas obras seguintes,
assumiram a condução das construções.
Figura 38 - Usina hidroelétrica de Xingó no rio São Francisco
Figura 39 – Usina hidroelétrica de Furnas logo
após o enchimento do reservatório
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
43
A CHEVAP, encarregada da implantação da barragem em
abóbada de Funil, contratou uma empresa nacional para a bar-
ragem principal e outra empresa nacional para a barragem de
terra de Nhangapi, na época a segunda maior barragem desse
tipo no País. Furnas, ao assumir a responsabilidade da cons-
trução da usina do Funil, substituiu a empresa construtora da
barragem principal por uma empresa dinamarquesa, hoje de
controle nacional.
A CEMIG, ao ser instituída, assumiu usinas de portes pequeno
e médio que vinham sendo implantadas por empresas nacionais.
Sua primeira grande obra, a usina de Três Marias, foi constru-
ída por empreiteira americana, mas posteriormente, empresas
brasileiras passaram a ser contratadas à exceção da hidroelétri-
ca de São Simão que, após acirrada concorrência internacional,
foi delegada a uma empresa italiana.
As grandes empresas brasileiras atravessaram a recessão econô-
mica e a desaceleração das obras no País nas décadas de oitenta e
noventa, partindo com muito sucesso para empreendimentos no
exterior. Com a intensificação dos investimentos em obras hidráu-
licas no País, as empresas construtoras têm atuado com intensidade
semelhante à do passado, nos anos setenta. A ampla dissemina-
ção de pequenas e médias centrais hidroelétricas que ocorreu nas
duas últimas décadas, fez com que surgisse considerável número
de novas construtoras no País.
Perspectivas para o futuro
As dificuldades no licenciamento ambiental e as incertezas que sem-
pre rondam os processos de aprovação de projetos hidroelétricos
têm causado impressionante perda na matriz energética limpa que
costumava orgulhar o País. São muitas novas centrais geradoras
termoelétricas poluidoras, entretanto de muito mais fácil licencia-
mento ambiental e aprovação na ANEEL, inclusive as térmicas
a óleo e a carvão. Há duas usinas nucleares em operação e uma
em construção. Essas usinas têm sofrido das indecisões políticas,
todas elas tendo tido seus cronogramas de implantação constan-
temente refeitos e suas obras se arrastado por duas a três décadas,
Figura 40 - Barragem da usina hidroelétrica de Mascarenhas de Moraes,
antiga Peixoto, concluída em 1956. Na margem esquerda o
vertedouro complementar, construído em 2002
Figura 41 - Usina hidroelétrica de São Simão
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
44
onerando sobremaneira os seus custos pela forte incidência dos
juros sobre os capitais investidos durante as suas prolongadas
construções. Entretanto, Angra II que levou 24 anos em constru-
ção, pode operar até hoje (maio de 2010) há mais de uma década
sem licenciamento ambiental e sem licenciamento da CNEN.
O acréscimo de capacidade de geração em empreendimentos sem
possibilidade de armazenamento de energia, tais como usinas
eólicas, térmicas, nucleares e hidroelétricas a fio d’água, sinali-
zam para dificuldades de atendimento de demanda na ponta em
diversos centros de carga no País. Para o bem da economia e
do meio ambiente, há imperiosa necessidade de se ultrapas-
sar as resistências dos que se dizem ambientalistas e se voltar
à implantação de hidroelétricas com grandes volumes úteis de
reservatório para se recuperar a capacidade de regularização de
vazões e, consequentemente, de energia. O atual modelo do se-
tor elétrico contribui para essas dificuldades por não contemplar
qualquer remuneração para a regularização de descargas que
beneficiem a operação do sistema interligado.
Pelo atual planejamento energético o País enfrenta a necessi-
dade de instalação de cerca de 5000 MW/ano. Tendo em vista
esse desafio, as classes dirigentes têm pressionado licenciamen-
tos ambientais de grandes centrais geradoras como ocorreu
nas duas usinas em construção no rio Madeira e presente-
mente na hidroelétrica de Belo Monte cujo licenciamento
está sendo obtido por etapas, o que é no mínimo inusitado: o
único licenciamento obtido até agora (maio de 2011) foi con-
cedido em janeiro de 2011 para instalação do canteiro de obra.
Isso, associado às interrupções provenientes de ações judiciais
ou do Ministério Público ocorrendo na maior hidroelétrica
em construção, comprova a incerteza dos empreendedores em
assumir tais riscos. Embates entre membros do governo e do
licenciamento ambiental têm provocado demissões em vá-
rios níveis, até no nível ministerial. Eventuais paralisações,
devidas à ação de vândalos em canteiros de obra e ao Ministé-
rio Público que questiona licenças ambientais, contribuem para
a elevação de prazos e de custos já que os juros reais no Brasil
permanecem há décadas como o mais elevado do mundo, hoje
em 6,8% a.a., quase três vezes superior ao do segundo colocado,
a Hungria, com 2,4% a.a.
As perdas de energia elétrica no sistema interligado e nos sis-
temas de distribuição atingem em 2011 cifras elevadas, entre
15% e 17% da geração. Parcela expressiva dessa perda vem de
ligações ilegais. Além de serem esperados acréscimos de consu-
mo devido ao desenvolvimento industrial, verifica-se também
que o consumo domiciliar médio no Brasil ainda é muito inferior
ao de países desenvolvidos, sendo pouco mais de um décimo do
americano, e pouco inferior ao verificado na Rússia e na África
do Sul. Estima-se que o consumo total de energia elétrica no
País evolua em média com acréscimos de 4,8% ao ano, passan-
do dos 456,5 TWh verificados em 2010 para 730 TWh em 2020.
O consumo médio residencial deverá passar dos 154 kWh/mês
em 2010 para 191 kWh/mês em 2020. Entretanto, o máximo
histórico de 180 kWh/mês registrado antes do racionamento
de 2001 só deverá ser ultrapassado em 2017.
No passado recente (2000 a 2011) tem sido registrado im-
pressionante número de apagões, vários dos quais abrangen-
do extensas regiões densamente habitadas. Considerando
a relativa fragilidade dos sistemas de transmissão e as cres-
centes demandas na ponta de carga, prevê-se a continuidade
e mesmo o agravamento dessa situação.
O controle de cheias permanece nebuloso no futuro próximo.
A falta de um órgão de âmbito nacional para controlar e implemen-
tar obras hidráulicas com esse objetivo é imperioso já que os cursos
d’água são em geral intermunicipais e mesmo inter estaduais.
O setor elétrico através do ONS despacha algumas hidroelétri-
cas levando em conta o controle de cheias. O exemplo mais ní-
tido são as hidroelétricas do vale do rio Paraíba do Sul cujo rio
principal, por atravessar uma sucessão de importantes cidades de
médio porte e servir de abastecimento de água a grandes núcleos
urbanos, tem uma regra operativa que privilegia a regularização
de vazões e o controle de cheias.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
45
Historicamente a implantação de eclusas para navegação interior
sempre vieram a reboque de algumas hidroelétricas ao contrário
do que acontece em países europeus cuja tradição da navegação
fluvial sempre esteve arraigada ao desenvolvimento viário, vindo
como sub-produto a geração de energia elétrica. Consolidando essa
deformação brasileira, tramita no Congresso um projeto de lei
que obriga os investidores em hidroelétricas de implantar siste-
mas de navegação onde possível, onerando ainda mais as novas
usinas hidroelétricas.
As constantes e recentes valorizações das commodities no mercado
internacional indicam para o futuro a permanência das atividades
em mineração e, consequentemente, da construção de barragens
de rejeitos cada vez maiores e mais frequentes.
As deficiências previstas no curto prazo para o abastecimento da
crescente demanda por água nas cidades e distritos industriais,
têm feito com que planejadores do setor considerem alternativas
dispendiosas, incluindo a captação de água de baixa qualidade a
grandes distâncias (médio Tietê para São Paulo e sub-médio Pa-
raíba do Sul para o Rio de Janeiro), com grandes recalques (Ju-
quiá para São Paulo) ou na regeneração de águas em estações de
tratamento de esgotos (Alegria para o Rio de Janeiro), por
exemplo, onerando sobremaneira as futuras captações, aduções
e tratamentos de água.
Homenagem aos membros de juntas de
consultores
Durante o projeto e construção das mais importantes barragens
brasileiras, engenheiros e geólogos consultores de grande proje-
ção na profissão, brasileiros e estrangeiros, participam de juntas
de consultores. Depois de Karl Terzaghi, Arthur Casagrande e
Figura 42 - A partir da esquerda os consultores da São Paulo Light: Samuel Chamecky, Karl Terzaghi,
Othelo Machado e Casemiro Munarski (Foto do Acervo Paulo Chamecki)
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
46
Figura 43 - Arthur Casagrande, John Cabrera,
Gurmukh Sarkaria e Flavio H. Lyra
em inspeção de campo em Itaipu
Figura 44 - Professor Manuel Rocha, pesquisador, fundador
e diretor geral do Laboratório de Engenharia Civil sediado
em Lisboa. Destacada atuação na CIGB e em consultoria
de barragens em vários paises, inclusive no Brasil.
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
47
Portland Fox mencionados acima, outros consultores participa-
ram de juntas tais como Roy Carlson, Manuel Rocha, Charles
Blanchet, James Libby, James Sherard, Barry Cooke, Don Deere,
Victor F. B. de Mello e Flavio H. Lyra que são aqui mencionados
como homenagem àqueles que já faleceram.
Esses profissionais altamente qualificados deram valiosas contri-
buições ao projeto e construção de grandes barragens e formaram
engenheiros e geólogos brasileiros que presentemente trabalham
como consultores no Brasil e no exterior.
Figura 45 - Rubens Vianna de
Andrade, Flavio H. Lyra, Arthur
Casagrande e Julival de Moraes em
inspeção nas obras de Itumbiara
Figura 46 - Consultor Roy
Carlson por ocasião da sua
condecoração pelo governo
brasileiro entre Carlos
Alberto de Padua Amarante
e Victor F. B. de Mello
durante o XII SNGB, em
São Paulo abril de 1978
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
Os 5 primeiros
presidentes da CIGB
de 1931 a 1961	
4 5
1. G. Mercier - França - 1931-1934
2. M. Giandotti - Itália - 1937-1940
3. A. Coyne - França - 1946-1952
4. G.A. Hathaway - EUA - 1952-1958
5. J.F.R. Pinto - Portugal - 1958-1961
1 2
3
49
A Comissão Internacional
de Grandes Barragens -
Oitenta e três anos de excelência
Flavio Miguez de Mello
A Comissão Internacional
de Grandes Barragens -
Oitenta e três anos de excelência
A Comissão Internacional de Grandes Barragens CIGB nasceu na França,
numa época em que havia intensa atividade em implantação de barragens,
notadamente na Europa e nos Estados Unidos. Nos anos vinte muito havia
que ser aprendido em projeto e construção de barragens e o intercâmbio de
conhecimentos passou a ser de nítida importância. Na época, a mecânica
dos solos e a geologia de engenharia não haviam ainda sido fundadas,
os critérios de projeto de estruturas de concreto eram rudimentares e a
hidráulica fluvial enfrentava pela primeira vez na maioria dos países
que implantavam barragens e reservatórios, obras em rios muito caudalosos.
Corria o ano de 1925 quando, em reunião da Associação Francesa para
o Progresso da Ciência ocorrida em Grenoble, foi manifestada a importância
do estabelecimento de uma comissão de caráter internacional voltada
para grandes barragens. Em 1926, em assembléia da Conferência
Mundial de Energia em Basel, a delegação francesa apresentou formalmente
a proposta de criação da Comissão Internacional de Grandes Barragens.
A proposição foi aceita, assim como o apoio ofertado pelo governo francês,
tendo sido instituído o Comitê Francês de Grandes Barragens sob a
Societé Hydrotechnique de France. A proposta foi formalmente aceita
pela Conferência Mundial de Energia no ano seguinte, 1927, na
assembléia de Cernobbio (Itália).
Figura 1 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 -
Flavio Lyra, presidente do CBGB e G. Brown, presidente CIGB
Figura 2 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 - G. Brown,
presidente CIGB, Flavio Lyra, presidente do CBGB, Mauro Thibau,
ministro de Minas e Energia e John Cotrim, presidente de Furnas
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
50
A assembléia que constituiu a CIGB ocorreu no dia 6 de julho
de 1928 com a participação de seis países: Estados Unidos, França,
Itália, Reino Unido, Romênia e Suíça. A assembléia do Conselho
Executivo da Conferência Mundial de Energia aprovou a CIGB
por unanimidade em Londres no dia 3 de outubro de 1928. Desde
então, reuniões executivas foram realizadas todos os anos a menos
dos anos exceto durante a II Guerra Mundial, de 1940 a 1944.
Já demonstrando seu dinamismo, a CIGB promoveu seu primei-
ro congresso internacional em Estocolmo em 1933. Desde então
a cada três anos a CIGB promove seus congressos que são, reco-
nhecidamente, de elevado interesse técnico sobre assuntos os mais
atuais. Seus anais são verdadeiras seções transversais da tecnologia
de cada época que nos permitem visualizar o desenvolvimento dos
conceitos e critérios de projeto e de construção de barragens. Como
exemplos históricos pode-se mencionar os trabalhos de Karl Ter-
zaghi de 1933 sobre as investigações das características dos solos
quanto a sua viabilidade para a construção das barragens de terra e de
Wolmar Fellenius sobre cálculo de estabilidade de barragens de terra.
Em 1967, considerando seu já grande vulto, a CIGB passou a se
tornar independente da Conferência Mundial de Energia. Do seu
primeiro estatuto até o estatuto de 1967 poucas alterações signifi-
cativas ocorreram. Encontra-se presentemente (2011) em propo-
sição por um comitê ad hoc novo estatuto que vem corrigir lacunas
do estatuto vigente. Desde sua fundação com apenas cinco países
membros, a CIGB vem continuamente crescendo, tendo atingi-
do 26 países antes da II Guerra, 56 países em 1967, 56 países em
1980, 72 países em 1990, 81 países em 2000 e 92 países em 2010,
­cifra esta que representa mais de 90% da população mundial.
Além dos seus anais de congressos e simpósios, a CIGB publica
boletins sobre temas específicos, fruto do trabalho dos seus comi-
tês técnicos que congregam profissionais os mais destacados em
diversos países do mundo, tornando, assim, esses documentos
em relatórios do estado da arte sob o ponto de vista global.
A CIGB mantém atualizado o registro mundial de grandes barragens
(barragens com mais de 15 m de altura ou em condições especiais)
contendo as principais características das barragens em todos os
países membros e em alguns países não membros da CIGB. Desse
registro não constam apenas as barragens de rejeitos. Apesar do re-
gistro das barragens no Brasil estar incompleto, o registro da CIGB
atualizado em 2010 revela a importante posição do Brasil relativa
a outros países com mais de mil grandes barragens construídas:
Figura 3 - 14° Congresso CIGB Rio de Janeiro 1982 – Pierre Londe
(presidente) e Joannes Cotillon (secretário geral)
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
1		 China	  40 000
2		 USA	 9 265
3		Índia	 5 101
4		 Japão	 3 076
5		 Coréia do Sul	 1 302
6		 Canadá	 1 166
7		África do Sul	 1 114
8		 Brasil	 1 011
9		 Espanha	 987
10	Turquia	 741
11	França	 623
12	México	 583
13	Itália	 542
14	 Reino Unido	 519
15	Austrália	 507
16	IrÃ	 501
51
Desde a sua fundação a CIGB teve 22 presidentes, sendo dois
brasileiros (F. Lyra e C. Viotti), 126 vice presidentes, sendo seis
brasileiros (F. Lyra, D. Fernandes, F. Miguez, F. Budweg, C. Viotti e
E. Maurer) e dez secretários gerais, todos franceses. A participação
brasileira se fez sentir desde os anos sessenta em participações em
diversos comitês da CIGB. Desses comitês foram coordenadores
(chairmen) F. Lyra, F. Budweg, J.F. Silveira e F. Miguez.
A CIGB sempre teve como foco a promoção e divulgação da
tecnologia de planejamento, projeto, construção e operação de
barragens. Nos anos sessenta a CIGB passou também a enfatizar
a segurança e a reabilitação de barragens, nos anos setenta passou
a ser grande divulgadora de progressos na engenharia ambiental,
nos anos oitenta liderou a divulgação tecnológica aplicada a barra-
gens de rejeitos de mineração, nos anos noventa também abriu os
campos de compartilhamento dos recursos hídricos de rios transna-
cionais e de gestão integrada da água, conscientização do público e
na primeira década do Século XXI, abriu discussão sobre mudanças
climáticas globais e planejamento de recursos hídricos escassos.
Figura 4 - K. Höeg, ex-presidente da CIGB
Figura 5 - Reunião do Comitê de Meio
Ambiente da CIGB em Madrid, 1973.
Desde o final dos anos 60 a CIGB dedica
especial atenção aos temas socioambientais.
Na foto os dois primeiros presidentes deste
Comitê Flavio H. Lyra e Pierre Londe.
Entre os dois, o autor
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
52
A CIGB fechou o ano de 2010 com 92 comitês nacionais que,
no seu conjunto, congregam mais de 10.000 membros individu-
ais dentre os mais destacados profissionais que presentemente
atuam em empresas públicas e privadas, universidades, institui-
ções de pesquisa, consultoras, construtoras, fabricantes, agências
governamentais e organizações não governamentais.
Figura 6 - 70° Reunião Anual CIGB - Foz
do Iguaçu 2002 - Ospina (ex vice-presidente)
recebendo homenagem do presidente Varma
Figura 7 - Congresso de Brasília
23O
CIGB 2009 – Mesa da
Questão 90 - Arthur Walz, Flavio
Miguez de Mello, Maria Bartsch,
Margaret Rose Mendes Fernandes
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
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Figura 9 - Homenagem ao professor Victor F.
B. de Mello no 23O
CIGB, Brasília 2009
Figura 8 - Congresso de Brasília 23o
CIGB
2009 – Da esquerda para direita Edilberto
Maurer (pres.CBDB), Pham Hong Giang
(pres. Comitê do Vietnam), Luis Berga (pres.
CIGB), Jia Jinsheng (pres.eleito CIGB)
Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
54
Figura 10 - Presidente Varma,
secretário geral J. Lecornu e a
secretária Nicole Schauner
Figura 12 - A secretária Margarite Chapelle recebendo
homenagem em 1967, uma placa entregue por sua filha
Nicole Schauner (ao microfone) que a substituiu após 25
anos de serviço desde 1948. Nicole assumiu a secretaria
da CIGB em 1967 permanecendo até o presente (2011).
As duas foram responsáveis pelo eficiente suporte à
CIGB ao longo dos últimos 63 anos
Figura 11 - Congresso de Brasília 23O
CIGB
2009 - Michel de Vivo secretário geral e
Luis Berga presidente da CIGB
A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
6. C. Marcello - Itália - 1961-1964
7. J. Guthrie Brown - Reino Unido - 1964-1967
8. G.T. McCarthy - EUA - 1967-1670
9. J. Toran - Espanha - 1970-1973
10. C.F. Gröner - Noruega - 1973-1976
11. F.H. Lyra - Brasil - 1976-1979
12. P. Londe - França - 1979-1982
13. C.A. Dagenais - Canadá - 1982-1985
14. G. Lombardi - Suíça - 1985-1988
15. J.A. Veltrop - EUA - 1988-1991
16. W. Pircher - Áustria - 1991-1994
17. T.P.C. van Robbreck - África do Sul - 1994-1997
18. K. Höeg - Noruega - 1997-2000
19. C.V.J. Varma - Índia - 2000-2003
20. C.B. Viotti - Brasil - 2003-2006
21. L. Berga - Espanha - 2006-2009
CIGB - Presidentes de 1961 a 2009	
6
10
14
18
7
11
15
19
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13
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História Barragens Brasil

  • 1. 8
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ H58 A história das barragens no Brasil, Séculos XIX, XX e XXI : cinquenta anos do Comitê Brasileiro de Barragens / [coordenador, supervisor, Flavio Miguez de Mello ; editor, Corrado Piasentin]. - Rio de Janeiro : CBDB, 2011. 524 p. : il. ; 29 cm Inclui índice ISBN 978-85-62967-04-7 1. Barragens e açudes - Brasil - História. 2. Comitê Brasileiro de Barragens - História. I. Mello, Flavio Miguez de. II. Piasentin, Corrado. III. Comitê Brasileiro de Barragens. III. Título: Cinquenta anos do Comitê Brasileiro de Barragens 11-6197. CDD: 627.80981 CDU: 627.82(81) 20.09.11 22.09.11 029752
  • 6.
  • 7.
  • 8.
  • 9. Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB Agradecimentos O Comitê Brasileiro de Barragens externa seus agradecimentos às empresas abaixo relacionadas pelo apoio que possibilitou a confecção deste livro que resume o desenrolar de importante segmento da História do Brasil. Arcadis Tetraplan S/A Banco Bradesco S/A Camargo Corrêa Energia e Construções S/A CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais CESP - Companhia Energética de São Paulo CHESF - Companhia Hidro Elétrica do São Francisco Construtora Norberto Odebrecht S/A Construtora Queiroz Galvão S/A Construtora Andrade Gutierrez S/A COPEL - Companhia Paranaense de Energia DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas Eletrobras - Centrais Elétricas Brasileiras S/A Eletronorte - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A Engevix Engenharia S/A Furnas Centrais Elétricas S/A Geobrugg Ag - Protection Systems Grupo Energia Intertechne Consultores S/A. Itaipu Binacional Jeene Juntas Impermeabilizações Ltda. Light S/A Mc Bauchemie Brasil Mendes Júnior Trading e Engenharia S/A Norte Energia S/A Pires Giovanetti Engenharia e Arquitetura Ltda. Sto Antonio Energia DIRETORIA CBDB Presidente: Erton Carvalho Vice-Presidente: Fabio De Gennaro Castro Diretor Secretário: Paulo Coreixas Junior Diretor Técnico: Brasil Pinheiro Machado Diretor de Comunicações: Miguel Augusto Z. Sória Diretor Adjunto: Marcos Luiz Vasconcellos Diretor Adjunto: Ademar Sérgio Fiorini FICHA TÉCNICA Coordenador / Supervisor: Flavio Miguez de Mello Editor: Corrado Piasentin Projeto Gráfico: Modonovo Design - Marina Hochman Diagramação: Modonovo Design - Marina Hochman / Natália Seiblitz Revisão de texto: Margarida Corção Gráfica: Impressul Indústria Gráfica
  • 10. índiceíndice Prefácio Apresentação Síntese do Desenvolvimento da Implantação das Barragens no Brasil A Comissão Internacional de Grandes Barragens - Oitenta e Três Anos de Excelência História do Comitê Brasileiro de Barragens Um Século de Obras contra as Secas As Barragens Construídas pelo DNOCS Resumo da História Remota da Hidroeletricidade no Brasil Usina Hidroelétrica de Marmelos Usina Hidroelétrica de Angiquinho Usina Hidroelétrica de Itapecuruzinho A Light no Rio de Janeiro, a Cidade Luz Sulamericana A São Paulo Light, Fomentadora de Progresso As Barragens do Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS A História da CHESF, Indutora do Progresso do Nordeste Furnas no Século XX A Eletronorte e as Barragens da Região Amazônica A História das Barragens no Paraná Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG 98 112 124 88 9 12 16 48 56 66 76 130 142 150 166 188 206 226 250
  • 11. Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul - CEEE Companhia Energética de São Paulo - CESP Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina - Energisa Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL Breve Memória sobre a Usina de Itaipu 1966 - 2010 As Pequenas Centrais Hidroelétricas no Brasil A Nova Face das Empresas Estatais frente à Expansão da Oferta de Energia Hidroelétrica no País As Barragens de Rejeitos no Brasil: Sua evolução nos últimos anos A Evolução do Licenciamento Ambiental de Barragens no Brasil A Evolução da Legislação Aplicada às Barragens Centros de Pesquisas Tecnológicas Aplicadas a Barragens - Introdução CEHPAR - 50 Anos de muito Trabalho Centro de Tecnologia de Furnas em Goiânia O Laboratório de Hidráulica HIDROESB - Saturnino de Brito SA O Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH O Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT 272 284 292 304 308 346 354 368 396 406 412 414 426 432 436 446
  • 12. Laboratório de Hidráulica Experimental e Recursos Hídricos de Furnas - LAHE O Laboratório CESP de Engenharia Civil - LCEC Anexos Anexo 1 - Entrevistas Eduardo Larrosa Bequio Guy Maria Villela Paschoal Hélio Mendes de Amorim João Camilo Penna José Candido Capistrano de Castro Pessoa Luiz Carlos Queiroz Mario Santos Murillo Dondici Ruiz Olavo Augusto Vieira Anexo 2 - Depoimentos José Gelazio da Rocha e Antônio Dias Leite Anexo 3 - Diretorias do CBDB Anexo 4 - Seminários Nacionais de Grandes Barragens Anexo 5 - Simpósios sobre Pequenas e Médias Centrais Hidroelétricas Anexo 6 - Congressos Internacionais e Reuniões Anuais e Executivas Anexo 7 - Sócios Coletivos e Mantenedores 454 464 474 477 483 485 488 491 493 506 509 512 514 516 519 520 522
  • 13. A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 14. 9 PrefácioPrefácio Em comemoração aos 50 anos de existência do Comitê Brasileiro de Barragens – CBDB – filiado à International Commission on Large Dams (ICOLD), apresentamos o livro “A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI”. Pretendemos, assim, registrar a história das barragens brasileiras, resgatando os principais personagens que contribuíram para o desenvolvimento da nossa engenharia, envolvendo não só homens públicos, mas também empreendedores do setor privado e pesquisadores. As barragens surgiram em decorrência da necessidade de se usufruir dos benefícios do uso múltiplo dos recursos hídricos para a população brasileira. O livro retrata as primeiras barragens construídas no Nordeste, a partir de 1887, onde o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) teve um papel importante com a construção de açudes para irrigação, abastecimento de água das cidades e pequenos núcleos populacionais. Essa política, que previa a formação de reservatórios no semi-árido nordestino, teve como uma das principais finalidades a permanência do sertanejo no seu ambiente natural, amenizando os processos migratórios para a Região Sudeste do País. Além da contribuição nos métodos construtivos das barragens, principalmente as de maciços de terra, houve um grande desenvolvimento nas áreas de hidrologia e meteorologia. A SUDENE, dirigida pelo economista Celso Furtado na década de 1960, implementou um plano de desenvolvimento regional embasado em estudos dos recursos naturais, envolvendo mapeamentos pedológicos, águas de superfície e subterrânea, climatologia, hidrologia, piscicultura, entre outras ciências que serviram de suporte para projetos de irrigação e construção de barragens. O livro aborda com abrangência o desenvolvimento tecnológico para a construção das barragens brasileiras a partir de 1950, quando se iniciou o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro. O primeiro trabalho de inventário dos rios da Região Sudeste foi elaborado pela Canambra Engineering Consultants Limited, grupo de grande competência, que colaborou, juntamente com algumas empresas brasileiras, na formação dos nossos engenheiros na área de recursos hídricos e projetos de barragens. No Brasil foram iniciadas as construções de grandes barragens, apoiadas em estudos e projetos de alta qualidade. Os técnicos brasileiros foram influenciados principalmente pelas organizações americanas United States Bureau of Reclamation e US Army Corps of Engineers. Paralelamente, para suporte tecnológico desses empreendimentos, foram criados vários centros de pesquisas, os quais fazem parte dos pontos importantes abordados nesta publicação. O aparecimento e o desenvolvimento das empresas construtoras de barragens constituem fatos de grande relevância. Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 15. 10 Este livro registra as primeiras hidroelétricas construídas no país, selecionadas por região. Apresenta, também, uma significativa documentação sobre o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) extinto no inicio da década de 1990, o qual realizou vários trabalhos apreciáveis nas áreas de abastecimento de água, irrigação e geração de energia elétrica, sendo também responsável pelas obras de controle de cheias em todo país. As empresas subsidiárias da ELETROBRAS: FURNAS, CHESF, ELETRONORTE e ELETROSUL, bem como as dos estados de Minas Gerais (CEMIG), São Paulo (CESP), Rio Grande do Sul (CEEE) e Paraná (COPEL), aparecem documentadas com a história de suas formações, incluindo os empreendimentos realizados e as respectivas estratégias de desenvolvimento. A usina de Itaipu Binacional, pertencente ao Brasil e ao Paraguai, está retratada com a sua história e importância, não só para a geração de energia elétrica, como também para a integração dos dois países. Destaca-se na Região Amazônica o relato do projeto e construção da usina de Tucuruí, a maior hidroelétrica brasileira, dotada de eclusas para a navegação do rio Tocantins, realçando a importância da Região Amazônica como continuidade do uso dos nossos recursos hídricos. A preocupação do CBDB em defesa do desenvolvimento sustentável do País está comentada nos tópicos sobre a evolução do licenciamento ambiental para os empreendimentos hidráulicos, no que se refere à construção das barragens e seus impactos. A legislação sobre a segurança das barragens, que faz parte do programa de trabalho do CBDB, é também citada nesta publicação. Finalmente, este livro é dirigido a um público abrangente, visando, principalmente, o leitor interessado na história contemporânea do desenvolvimento brasileiro, sem a exigência de que ele seja possuidor de conhecimentos técnicos sobre o tema. Erton Carvalho Presidente do CBDB A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 16.
  • 18. 13 Apresentação Flavio Miguez de Mello “Águas são muitas, infinitas... E em tal maneira é grandiosa que, querendo, a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.” Pero Vaz de Caminha, 1500. Apresentação Com a proximidade do cinquentenário do Comitê Brasileiro de Barragens CBDB surgiu, em reunião do Conselho Deliberativo, a proposta do engenheiro Manuel de Almeida Martins de que se editasse um livro comemorativo versando sobre a história da engenharia de barragens no Brasil. A proposição foi aceita com entusiasmo, cabendo a mim a tarefa de produzir o livro e publicá-lo no aniversário de cinquenta anos do CBDB, em outubro de 2011. Outras entidades publicaram livros de escopo semelhante: a ABMS publicou Cinquenta Anos de Geotecnia em 2000 e a ABGE publicou a Edição Comemorativa dos Trinta Anos, em 1998. Este livro é lançado em difícil momento para os investidores, estatais e privados, em empreendimentos para qualquer das di- versas finalidades de barragens dadas às vigentes dificuldades de aprovação, licenciamento e distorções legais que propiciam prio- rização soluções mais poluentes, de questionável segurança e de menor economicidade. A propósito, cabe realçar as palavras de Paulo Skaff, presidente da FIESP ao analisar as tendências atuais (2011) do setor elétrico: “O Brasil assiste a desqualificação de suas fontes de energia mais competitivas e abundantemente disponíveis. Essa distorção já contaminou a legislação ambiental brasileira e, mais recentemente, comprometeu o planejamento energético. O Brasil está desperdiçando impor- tantes potenciais hídricos ao limitar, emocionalmente, o dimensionamento dos reservatórios das barragens.” No mesmo sentido, a ministra Miriam Belchior, do Planejamento alertou (2011): “Acreditamos que será possível, de fato, Belo Monte ser um exemplo de implantação de usina hi- droelétrica na Região Amazônica ... exceto os que tenham uma posição ideológica e não técnica (sobre meio ambiente), os demais serão convencidos de que está sendo feito todo o esforço, envolvendo todos os atores, para que a implantação de Belo Monte seja um sucesso de sustentabilidade social e ambiental.” No início dos trabalhos, a Diretoria do CBDB emitiu uma circular a todos os sócios comunicando a intenção de publicar este livro e incentivou os associados a se apresentarem como voluntários na preparação dos diversos capítulos que haviam sido programados. Como voluntários não apareceram, e como o assunto a ser abor- dado no livro é demasiadamente extenso no tempo, superando um século, e no espaço, por abranger o vasto território nacional, tive que selecionar alguns voluntários que gentilmente aceitaram a tarefa e desempenharam a função de redatores com maestria e objetividade. Entretanto, mesmo assim, como são muitos os aspec- tos enfocados, o livro acabou apresentando uma certa concentração de capítulos em um autor. Ao iniciar a tarefa me deparei com grandes dificuldades provenien- tes das importantes perdas para a Profissão de inúmeros expoen- tes da engenharia nesses pouco mais de dez anos que separam as publicações das outras associações da edição do livro do CBDB. Essas perdas de quase uma geração inteira de notáveis pioneiros dos tempos das mais importantes conquistas tecnológicas e da fase pioneira da implantação de grandes barragens para as mais diversas finalidades bem como da época das grandes dificuldades para identificação, planejamento, projeto, construção e operação de barragens e reservatórios, fizeram com que a tarefa se tornas- se árdua em função da busca de documentos, relatórios, foto- CINQUENTA ANOS DO COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS
  • 19. 14 grafias e depoimentos que formassem as bases para o relato de uma história de mais de um século de conquistas que merecem registro. Os que atualmente atuam em implantação de barragens podem não imaginar que, por exemplo, para visitar pela primei- ra vez o local da hidroelétrica de Salto Grande em Minas Gerais, o engenheiro John Cotrim gastou duas semanas a cavalo. Por sorte tive o privilégio de conviver profissionalmente com alguns dos mais destacados atores daquele período e que já nos abandonaram. Estive com alguns desses atores com frequên- cia em certas longas fases do exercício profissional tais como os engenheiros Flavio H. Lyra, John R. Cotrim, Léo A. Penna, Arthur Crocchi, E. Von Ranke, Victor F.B. de Mello, Carlos Al- berto Pádua Amarante, Epaminondas Mello do Amaral Filho, Theophilo Benedicto Ottoni Netto, Antônio José da Costa Nunes, Francisco de Assis Basílio, José Machado e José Cândido Castro Parente Pessoa com os quais tive oportunidades de angariar va- liosos depoimentos sobre aspectos de vivências profissionais pas- sadas. Com vários outros atores do passado tive contatos menos extensos, mas de elevado interesse no relato de experiências pro- fissionais tais como Mário Penna Bhering, César Cals de Oliveira Filho e consultores como Manuel Rocha e Porland Port Fox. Usina hidroelétrica Serra do Facão A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 20. 15 Desses contatos pude extrair há anos, informações de elevado conteúdo histórico, algumas das quais relato neste livro. Esses contatos, dos quais guardo recordações as mais preciosas, foram em parte devidos à minha atuação profissional na engenharia, à minha atuação na Universidade e às minhas atividades no CBDB e em outras entidades técnicas. No CBDB, embora não seja o mais velho, devo certamente ser o mais antigo por ter sido chamado muito jovem a apoiar as atividades em sua sede. Prova- velmente foram esses fatores que levaram o Conselho do CBDB a me indicar como responsável pela edição desse livro. Alguns relatos apresentados em capítulos deste livro foram obtidos diretamente desses contatos dos que nos precederam na Profissão. O livro foi enriquecido com textos, entrevistas e informações de al- guns dos mais destacados profissionais que atuam na engenharia de barragens em nosso País. Procurei congregar neste livro narrativas sucintas, porém objetivas, de todas as principais atividades que resultaram na implantação de tantas barragens que trouxeram progresso e bem estar ao nosso povo desde o Século XIX. Considerando que a história recente é mais conhecida por aqueles que acessarem esse livro, é de se notar que há, em quase todos os capítulos, uma ênfase maior na história remota, de mais difícil caracterização. Dessa forma há uma ênfase nas primeiras barragens para saneamento, para controle de cheias e, principalmente, para combate às trágicas consequências ocasionadas pelas secas e para produção de energia elétrica. Sobre esse aspecto há um capítulo resumindo as primei- ras hidroelétricas nas diversas regiões do País, com destaque para as primeiras usinas hidráulicas para fornecimento público de energia elétrica: Marmelos no Sul-Sudeste, construída ainda no Século XIX por Bernardo Mascarenhas, Angiquinho implantada no Nordeste por Delmiro Gouveia e Itapecuruzinho, implementada na Re- gião Amazônica por Newton Carvalho, pai do atual presidente do CBDB, engenheiro Erton Carvalho. O relato mais detalhado dessas barragens pioneiras retrata a imagem das imensas dificul- dades logísticas de acesso, de obtenção de materiais e de aqui- sição de equipamentos. Mesmo assim, os que nos precederam conseguiram, nas mais adversas condições, implantar barragens e hidroelétricas em até menos de um ano, prazos presentemente ina- creditáveis dadas as atuais delongas e dificuldades legais, de aprova- ção, de concessão e de licenciamento ambiental, além de oposições dos auto-proclamados ambientalistas nacionais e estrangeiros. Com uma longa história tão rica a ser resumida num espaço tão curto, o livro inevitavelmente contém omissões pelas quais des- de já peço desculpas. Não foi possível mencionar todos os atores e relatar todas as inúmeras atividades de implantação de barragens que ocorreram por mais de um século nesse tão vasto território nacional. Presentemente, só considerando as grandes barragens, no Brasil há bem mais de mil dessas estruturas em operação e, se consideradas as barragens de rejeitos, ultrapassa-se a casa das duas mil grandes barragens. O presente livro é resultado do apoio e do incentivo de muitas pes- soas entre as quais cabe destacar especialmente a constante com- preensão e apoio de minha esposa, das quatro filhas que passaram mais de um ano sem minha participação em atividades de fins de semana. Agradeço também aos dirigentes e funcionários do CBDB, o editor Corrado Piasentin, a revisora de texto Margarida Corção e o conselheiro Aurélio Alves de Vasconcelos, presentes e atuantes desde a primeira hora. Agradecimentos são devidos aos autores dos capítulos e aos entrevistados que contribuíram decisivamente para a viabilização do livro. Cabe ainda agradecer os importantes apoios recebidos de diversos profissionais entre eles Alberto Jorge C. T. Cavalcanti, Alberto Sayão, Ana Teresa Ponte, André Luiz Fa- biani, Carlos Henrique Medeiros, Carlos Mazzaro, Cleber José de Carvalho, Delphim Mazon Fernandes, Flavio Pilz, Fernando Pires de Camargo, Gisele Miranda Gomes Reis, Gualter Pupo, Gustavo Nasser Moreira, Heloisa Ottoni, Henrique Frade, Hilton Ahiran da Silveira, John Denys Cadman, José Carlos de Miranda Reis Neto, Jerson Kelman, João Paulo Maranhão Aguiar, José Gelazio da Rocha, José João Rocha Afonso, Julia Ferrer Leal de Araujo, Leila Lobo de Mendonça, Mair Melo Andrade, Margaret Rose Mendes Fernandes, Nicole Schauner, Og Pozzoli, Paulo Coreixas Jr., Ricardo Ivan Bicu- do, Rosana Libânio, Sandra Pereira, Sérgio Pimenta, Simone Idalgo Machado, Talvani Hipólito Nolasco Filho, Teresa Malveira, Vânia Rosa Costa, Viviani Siqueira Vecchi e Walton Pacelli de Andrade. Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 21. 16
  • 22. 17 Síntese do Desenvolvimento da Implantação das Barragens no Brasil Flavio Miguez de Mello Síntese do Desenvolvimento da Implantação das Barragens no Brasil O País e seus recursos hídricos O Brasil é um território contínuo de forma quase quadrada, a maior parte do qual se situa no hemisfério sul, desde 4° de latitude norte a 33º de latitude sul e de 40 º a 75º de longitude oeste, compre- endendo 8,5x106 km². Esse grande território tem uma longa fron- teira com todos os países da América do Sul à exceção do Equador e do Chile, com uma extensa costa banhada pelo Oceano Atlân- tico ao longo de 8.500 km. O País abriga a quinta maior popula- ção do mundo. A maior parte dos seus 190 milhões de habitantes vive na Região Sudeste onde as maiores cidades estão localizadas. Como o País é de tão grande superfície, há diferentes aspectos natu- rais tais como, por exemplo, a quantidade e frequência de precipita- ções, os recursos hídricos, o clima, a geologia, o relevo e a vegetação. O ambiente varia das planícies alagadas da Amazônia Equatorial e do Pantanal ao Planalto Central, da cadeia de montanhas próximas à costa no Sudeste até as planícies do Sul e do Meio Oeste, variando de áreas úmidas ao vasto semi-árido do interior do Nordeste. “We trust that the results of the study will help the power industry of South Central Brazil to develop on a sound basis in the years that lie ahead.” “Acreditamos que os resultados do estudo auxiliarão nos anos vindouros o desenvolvimento da indústria de geração do Centro-Sul do Brasil sobre uma base sólida” John K. Sexton, engenheiro chefe da Canambra, 1966. A parte central da Região Amazônica é cortada de oeste para leste pelo rio Amazonas, o mais caudaloso e mais longo rio do mun- do, com uma descarga média superior a 200.000 m³/s, formado por dois grandes rios, o Solimões que drena os Andes peruanos e bolivianos e o Negro. Os mais importantes tributários desses rios e os rios da bacia do rio Tocantins que flui de sul para norte, constituem-se nos grandes recursos hídricos do norte do Brasil, apresentando descarga específica média de 35 l/s.km². A leste desta região encontra-se a região semi-árida do nordeste brasileiro cujos rios são em geral intermitentes, podendo apre- sentar descargas específicas médias tão baixas quanto 3 l/s.km². Nessa área, denominada Polígono das Secas, a incidência solar supera as 3000 horas por ano, a precipitação média anual pode ser de 400 mm ou menos. Nessa área a evaporação média pode atingir 2000 mm/ano e, juntamente com evapotranspiração, pode ser responsável pelo consumo de até 92% das precipitações. A pe- quena espessura da cobertura de solo faz com que haja dificuldade em reter a umidade e, como o substrato cristalino é pouco permeável, só é possível acumular águas subterrâneas em regiões de rochas com fraturas profundas, sendo geralmente esta água insuficiente e de baixa qualidade. Quase todos os rios do Nordeste, com exceção dos rios São Francisco (que é proveniente do Sudeste) e Parnaí- ba, têm regime intermitente em pelo menos parte de seus cursos. Barragem de finalidades múltiplas de Pedra do Cavalo no rio Paraguaçu na Bahia Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 23. 18 Nesses rios intermitentes, no caso de barragens não muito altas, o tratamento de fundação pode ser feito na primeira estação seca du- rante a construção e a barragem construída durante a estação seca seguinte, muitas vezes sem requerer estruturas de desvio e ensecadeiras. No resto do País as descargas específicas variam de 12 l/s.km² a 30 l/s.km². Nos últimos 40 anos o País tem participado intensamente da econo- mia internacional, variando entre a oitava e a décima maior econo- mia do mundo. As secas no Nordeste e o desenvolvimento do País foram os fatores determinantes para a implantação do grande nú- mero de barragens construídas desde a última década do século XIX. Um olhar para o passado remoto A mais antiga barragem que se tem notícia em território bra- sileiro foi construída onde hoje é área urbana do Recife, PE, possivelmente no final do Século XVI, antes mesmo da invasão holandesa. Conhecida presentemente como açude Apipucos, aparece em um mapa holandês de 1577. Apipucos na língua tupi significa onde os caminhos se encontram. A barragem original foi alargada e reforçada para permitir a construção de uma im- portante via de acesso ao centro do Recife. Há referências tam- bém ao dique Afogados construído no rio Afogados, um braço do rio Capiberibe, por Harman Agenau por 6000 florins para acesso a um forte também na atual região urbana do Recife. O dique tinha três metros de altura e cerca de 2 km de extensão, tendo sido concluído em dezembro de 1644; em 1650 sofreu transbordamento por ocasião de uma grande cheia, tendo cola- psado em vários pontos. Figuras 1a e 1b - Barragem de Apipucos na cidade do Recife. A mais antiga barragem que se tem registro no Brasil A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 24. 19 As obras contra as secas O ano de 1877 foi o início da maior tragédia nacional devido a fenômeno natural: A Grande Seca no Nordeste com duração superior a três anos deixou cicatrizes que até hoje são nítidas. O estado do Ceará, uma das áreas mais atingidas, na época com 1,5 milhão de habitantes, perdeu mais de um terço da sua popula- ção de maneira trágica, tendo sido palco de migrações em massa de flagelados. Somente a partir de meados dos anos oitenta do século passado passou-se a saber que as secas são devidas ao fenômeno conhecido por El Niño no Pacífico Sul. Muitos anos antes, outro intenso El Niño foi responsável pela retirada dos invasores holandeses de onde é hoje a costa do Ceará. Em 1880, logo após a Grande Seca, o Imperador D. Pedro II que esteve na área atingida, nomeou uma comissão para recomendar uma solução para o problema das secas no Nordeste. As principais recomendações foram a construção de estradas para que a popu- lação pudesse atingir o litoral e a construção de barragens para suprimento de água e irrigação no Polígono das Secas cuja área é superior a 950.000 km². Isso marcou o início do planejamen- to e projeto de grandes barragens no Brasil. A primeira dessas barragens foi Cedros, situada no Ceará e concluída em 1906. Centenas de barragens foram construídas desde a Grande Seca no Nordeste. Na primeira década do século XX uma membrana de alvenaria ou de concreto era usualmente usada como elemento impermeabilizante interno de barragens de terra. A pequena al- tura das barragens e a rocha sã nos leitos dos rios minimizavam a necessidade de tratamento de fundação. A rocha sã em geral en- contrada nas ombreiras, em vários projetos, conduziu à adoção de vertedouros de superfície simplesmente escavados em rocha sã. Os anos 50 e 60 do século passado foram os anos dourados na cons- trução de barragens para combate às secas. No final do Século XX o DNOCS executou sua última barragem, Castanhão cuja finalidade principal foi o abastecimento de água da cidade de Fortaleza. Recentemente foi lançado o projeto de derivação de parte das des- cargas do rio São Francisco para o Polígono das Secas. Esse gran- de rio que nasce na Região Sudeste em Minas Gerais, tem no seu trecho inferior uma descarga média de longo termo de cerca de 2000 m³/s. No seu estágio final a derivação será de 3,2% desta des- carga para as regiões de seca. Serão construídas diversas barragens, diques, canais, estações de bombeamento e casas de força para Figura 2 - Barragem de Cedros, uma das duas mais antigas grandes barragens do Brasil (1906) Figura 3 – Barragem de Castanhão para abastecimento de água à cidade de Fortaleza, CE CINQUENTA ANOS DO COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS
  • 25. 20 geração de energia. Serão bombeados 63,5 m³/s do rio São Fran- cisco. Durante as estações chuvosas na bacia do rio São Francisco poderão ser bombeadas até 127 m³/s . A maioria das grandes barragens do Brasil (pela classificação da CIGB) encontra-se na Região Nordeste, a maior parte delas em aterro compactado, sem serem muito altas. As primeiras barragens para produção de energia elétrica Nas regiões Sul e Sudeste a implantação de barragens foi prin- cipalmente direcionada para produção de energia elétrica. No final do Século XIX começaram a ser implantadas pequenas usinas para suprimento de cargas modestas e localizadas, to- das com barragens de dimensões discretas. A primeira usina da Light entrou em operação em 1901, no rio Tietê, para su- primento de energia elétrica à cidade de São Paulo. Inicialmen- te denominada Parnaíba e depois Edgard de Souza, a usina, quando inaugurada, tinha 2 MW instalados; sua barragem ori- ginal com 12,5 m de altura, era de alvenaria de pedra consti- tuída por grandes blocos de rocha gnáissica solidarizados com argamassa, sendo, em grande parte de sua extensão, um verte- douro de soleira livre. Em 1954 a antiga usina foi substituída por unidades de recalque e a barragem alteada para 18,5 m através de reforços em contrafortes e com vertedouro com três compor- tas de segmento de capacidade conjunta de 800 m³/s. No final do século passado, em função das intensas alterações nos co- eficientes hidráulicos de sua área de drenagem devido à ur- banização da cidade de São Paulo e das cidades vizinhas, o vertedouro foi redimensionado com considerável acréscimo de capacidade. Até os anos cinquenta todas as empresas de energia elétrica eram privadas e as suas usinas eram situadas principal- mente nas regiões Sul e Sudeste. A maior parte das barragens eram estruturas de concreto gravidade ou de alvenaria de pe- dra, não muito altas. Presentemente (2011) há 1206 MW ins- talados em hidroelétricas de mais de 50 anos de idade. Muitas dessas unidades estão sendo agora reabilitadas e repotencia- das. As primeiras grandes barragens do País foram Cedros acima mencionada e Lajes, que entrou em operação em 1906 no estado do Rio de Janeiro com o objetivo de derivar as águas do ribeirão das Lajes para da usina de Fontes no Rio de Janeiro, na época uma das maiores do mundo. Em 1934 o decreto federal nº 24643 conhecido como Código de Águas e o cancelamento da cláusula ouro que protegia as empre- sas concessionárias dos efeitos da desvalorização da moeda nacio- nal, passaram a desencorajar diretamente os investidores do setor elétrico. Devido à contenção tarifária e à fragilidade do capital nacional, passou a haver insuficiência de oferta de energia nas décadas seguintes. Os danos ao progresso da Nação foram inten- sos e irrecuperáveis, tendo sido causado intenso estrangulamento na expansão de oferta de energia elétrica. Esse estrangulamen- to fez com que o governo federal e alguns governos estaduais criassem empresas de energia elétrica. Assim, o setor elétrico foi aos poucos sendo estatizado. Logo após a II Guerra Mundial, a Light, concessionária da mais desenvolvida região do País, construiu diversas barragens e grandes casas de forças subterrâneas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para esses empreendimentos consultores individu- ais prestaram importante apoio tais como Karl Terzaghi, Arthur Casagrande e Portland Port Fox. Desde o início dos anos cinquenta as concessionárias estatais pas- saram a se concentrar em empreendimentos de grandes vultos. Por esse motivo as mais importantes contribuições no sentido de desenvolvimento de tecnologias de projeto, construção e opera- ção de barragens são principalmente devidas à implantação de hidroelétricas. Em 1960, devido à desastrosa e desastrada políti- ca de restrição tarifária iniciada pelo Código de Águas que incluiu o não reconhecimento de remuneração de capital empregado em obras de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a capacidade instalada no território nacional era de apenas 5.000 MW, dos quais 3.700 MW provinham de hidroelétricas. A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 26. 21 A evolução do conhecimento dos recursos hidroenergéticos. O legado da Canambra Na primeira metade do século passado, dada a escassez de mapea- mento e as dificuldades logísticas, os recursos hídricos em território brasileiro eram pouco conhecidos e não tinha havido ainda estudos sistemáticos que posteriormente, a partir dos anos sessenta, passaram a ser designados por estudos de inventário. A Light, responsável pelo suprimento de energia elétrica às mais importantes regiões no Rio de Janeiro e em São Paulo, efetuava estudos dispersos, tendo inclusive atingido as Sete Quedas, sem o conhecimento dos potenciais do rio Grande e do rio Paranaíba, muito mais próximos. Nessa época, John Cotrim, diretor técnico da Cemig, organizou uma expedição pelo rio Grande entre dois potenciais conhecidos: os locais das usinas de Itu- tinga e de Peixoto. Nessa expedição foi identificado o local de Furnas Figura 4 – Barragem e reservatório de Lajes, uma das duas grandes barragens mais antigas do Brasil (1906) Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 27. 22 que posteriormente deu origem à empresa de mesmo nome. A desco- berta desse potencial causou espanto no meio técnico da época. Como reflexo desse levantamento veio o objetivo da Cemig de efetuar um levantamento dos recursos hidroenergéticos de Minas Gerais. A Cemig solicitou apoio financeiro ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP sigla em inglês). Ao abrigo desse recurso financeiro, Cemig assinou, em 2 de novembro de 1962, um con- trato com a Canambra Engineering Consultants, um consórcio entre as empresas consultoras canadenses, Montreal Engineering Company Ltd. e G.E. Crippen Associates Ltd. e a americana Gibbs Hill Inc., para que fosse realizado o inventário dos recursos hidroenergéticos em Minas Gerais. Com a sugestão do Banco Mundial que atuou nesse inven- tário como agente executivo do UNDP, de estender os estudos à toda Região Sudeste considerando a importância desses estudos para a otimização dos investimentos em geração de energia elétrica e como todos os rios que nascem em Minas Gerais atravessam outros estados, o governo federal se interessou vivamente pela iniciativa da Cemig e, em 3 de junho do ano seguinte, os estudos foram estendidos à toda a Região Sudeste através de um contrato assinado entre a Canambra e Furnas. Para tanto, o ministro Gabriel Passos das Minas e Energia e os governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Guanabara assinaram em 1 de março de 1963 o Plano de Opera- ção. Inicialmente conhecido como ONU-Cemig, os estudos passaram a ser conhecidos como Canambra. Com esse propósito, o UNDP disponibilizou recursos da ordem de US$ 2,7 milhões, havendo a contra- partida em moeda nacional no equivalente a US$ 3,8 milhões. Três grupos foram formados, um em Belo Horizonte, um em São Paulo e um no Rio de Janeiro. Os dois primeiros grupos acima mencio- nados desenvolveram o inventário dos recursos hidroenergéticos em relatórios independentes e o grupo sediado no Rio de Janeiro usou os resultados obtidos adicionados a investigações de outras possíveis fontes geradoras, inclusive termoelétricas a carvão, a óleo e usinas nucleares, para formatar o programa final de desenvolvimento ener- gético da Região Sudeste. A área total investigada foi de 1,1 milhão de quilômetros quadrados cobrindo 28.000 km de rios, usando 3.700 horas de voos de reconhecimento, englobando 510 locais de barragem dos quais 264 foram levantados com melhor precisão, o que demandou aerofotografias de uma área de 516.000 km². Fo- ram identificados como viáveis potenciais que somados atingiram 40.000 MW. Os estudos de inventário constituíram-se em atividade sem precedente, tendo direcionado o desenvolvimento hidroener- gético da região. Nas fases posteriores de implantação das usinas, a maioria esmagadora dos estudos realizados pela Canambra foi posteriormente aprofundada nas etapas sucessivas de projeto den- tro das diretrizes inicialmente estabelecidas. O relatório final foi entregue por J.K. Sexton, diretor da Canambra, a John Cotrim, chefe do Comitê de Direção dos Estudos, em dezembro de 1966. Considerando o sucesso dos estudos desenvolvidos na Região Su- deste, a Canambra foi contratada para efetuar estudo de mesmo es- copo para a Região Sul. Posteriormente, nos anos setenta, empresas nacionais realizaram estudos de inventário hidroenergéticos nas regi- ões Norte e Nordeste. A partir dos anos oitenta os estudos anteriores começaram a ser revisados e densificados em quase todo o território nacional. Progressivamente as condicionantes ambientais foram ganhando espaço nas definições de projetos em inventários. Um exemplo típico foi a revisão do inventário do rio Paraibuna em Minas Gerais que havia sido feito nos anos oitenta. A partir de poucos anos Figura 5 – Grupo de Minas Gerais da Canambra trabalhando no escritório central da Cemig A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 28. 23 após seu término, os projetos que pelas exageradas dimensões de seus reservatórios inundariam centros urbanos e grandes extensões de obras de infraestrutura viária, foram progressivamente alterados para reservatórios de menores dimensões, maior número de usinas com quedas mais modestas e pequenos trechos inaproveitados. Fo- ram definidos os aproveitamentos de Picada, Sobragy, Cabuy, Monte Serrat, Bonfante e Santa Fé com pequenas áreas inundadas. Apesar de pequena perda energética em relação à partição de queda proposta nos anos oitenta, os empreendimentos passaram a ser econômica e ambientalmente viáveis, tendo sido implantados a partir do início dos anos noventa. Na usina que fica mais a jusante foi possível a compati- bilização inédita do aproveitamento energético com a canoagem, qua- se sempre objetivos antagônicos. Durante os dias de fim de semana, feriados e noites de lua cheia, são liberados para a canoagem pela bar- ragem de derivação a descarga de 50 m³/s, ideal para a prática da cano- agem, garantindo melhores condições do que as condições naturais. 7a 7b 7c 7d Figura 6 - John Cadman fotografado por John Cabrera, atolados na beira do rio, mostrando as dificuldades logísticas durante os levantamentos de campo efetuados pela Canambra Figura 7a - PCH Monte Serrat no rio Paraibuna, Rio de Janeiro e Minas Gerais Figura 7b - PCH Bonfante no rio Paraibuna, Rio de Janeiro e Minas Gerais Figura 7c - PCH Santa Fé no rio Paraibuna, Rio de Janeiro e Minas Gerais Figura 7d – Rafting no rio Paraibuna sobre a soleira vertedora da barragem de derivação de Santa Fé Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 29. 24 Influenciada por essas alterações, a ANEEL contratou a Es- cola Politécnica da UFRJ em 2000 para reestudar toda a bacia do rio Paraíba do Sul com atenção especial aos impactos am- bientais, a menos das usinas existentes ou aprovadas entre as quais o complexo de Simplício. Dessa revisão dos inventários existentes resultou o projeto de mais de cinquenta novos apro- veitamentos, em sua maioria esquemas de baixa queda para torná-los ambientalmente viáveis. Dentre os aproveitamentos de baixa queda destacam-se as PCHs gêmeas Queluz e Lavri- nhas, assim denominadas por terem todos os equipamentos idênticos. Essas PCHs, com 30 MW cada, construídas no rio Paraíba do Sul a montante do reservatório do Funil, foram concluídas em 2011 e tiveram seus reservatórios condicionados pela infraestrutura viária do local. Figuras 8a e 8b – PCH Queluz antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS e ao fundo a ponte da rodovia Presidente Dutra BR-116 Figuras 9a e 9b - PCH Lavrinhas antes e depois do enchimento do reservatório. Em primeiro plano a ferrovia de concessão da MRS e ao fundo a rodovia Presidente Dutra BR-116 A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 30. 25 Alterações nos critérios tarifários e a consequente ampliação de implantação de hidroelétricas Nos anos sessenta e setenta, devido ao estabelecimento do cri- tério da verdade tarifária introduzido no início do governo Cas- telo Branco por Bulhões de Carvalho e Roberto Campos, um impressionante número de grandes hidroelétricas foram constru- ídas e entraram em operação, algumas das quais entre as maiores do mundo na época. Nos anos oitenta e noventa um menor número de hidroelétricas entra- ram em operação devido à carência de recursos financeiros das estatais causada principalmente pelos impactos na economia nacional devi- dos aos dois choques do petróleo e a crescente inflação. Entretanto, a concentração de investimentos em poucos, mas grandes empreendi- mentos, continuou, resultando no que mostra a tabela a seguir. Figura 10 – Local da usina hidroelétrica de Furnas no início de sua construção. A partir da esquerda Flavio H.Lyra, Juscelino Kubitschek de Oliveira, John R. Cotrim, Benedito Dutra e outros. Todos olhando para o fotografo a menos de Flavio H. Lyra preocupado com a concepção do projeto Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 31. 26 Figura 11 – Casa de força e vertedouro da usina hidroelétrica de Tucuruí Figura 12 – Usina hidroelétrica de Salto Santiago no rio Iguaçu Figura 13 – Usina hidroelétrica de Itá em final de construção A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI Legenda: N Região Norte S Região Sul SE Região Sudeste NE Região Nordeste CO Região Centroeste TE barragem de terra ER barragem de enrocamento com núcleo de terra BEFC barragem de enrocamento com face de concreto CG barragem de concreto gravidade CCR barragem de concreto compactado com rolo GA barragem de concreto em gravidade aliviada CF barragem de concreto em contrafortes TABELA 1 Maiores Hidroelétricas em Operação em 2011 Hidroelétrica Potência Região Tipo de Barragem (MW) Tucuruí 8.370 N TE/CG Itaipu (Brasil) 7.000 S GA/CG/CT/ER/TE Ilha Solteira 3.444 SE/CO TE/CG Xingó 3.162 NE BEFC Paulo Afonso IV 2.462 NE TE/CG Itumbiara 2.082 SE/CO TE/CG São Simão 1.710 SE/CO TE/CG Foz do Areia 1.676 S BEFC Jupiá 1.551 SE/CO TE/ER/CG Porto Primavera 1.540 SE/CO TE/CG Itá 1.450 S BEFC Itaparica 1.479 NE TE/CG Marimbondo 1.440 SE TE/CG Salto Santiago 1.420 S ER Água Vermelha 1.396 SE TE/CG Segredo 1.260 S BEFC Salto Caxias 1.240 S CCR Furnas 1.216 SE ER Emborcação 1.192 SE/CO ER Salto Osório 1.078 S ER Sobradinho 1.050 NE TE/CG Estreito 1.050 SE ER
  • 32. 27 Extensos reservatórios foram criados para algumas dessas grandes hidroelétricas. Tais reservatórios passaram a propiciar benefícios de regularização de vazões e, consequentemente, otimização de operação e confiabilidade no suprimento de energia elétrica. Figura 14 – Usina hidroelétrica de Sobradinho. Reservatório de maior área do Brasil Figura 15 – Reservatório da usina hidroelétrica de Serra da Mesa, o de maior volume do Brasil Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens TABELA 2 Maiores Reservatórios Barragem Área (km²) Volume (km³) Extensão (km) Sobradinho 4.214 34 350 Tucuruí 3.007 50 170 Balbina 2.360 17 225 Porto Primavera 2.250 20 250 Serra da Mesa 1.784 54 116 Itaipu* 1.350 29 170 *Incluindo a parte do reservatório sobre território paraguaio.
  • 33. 28 Desde pouco antes do início dos anos oitenta o governo federal e os governos estaduais passaram a enfrentar grandes dificulda- des para prover recursos necessários para a implantação de novas usinas e de sistemas de transmissão. Um dos casos extremos ocor- reu na implantação da hidroelétrica de Emborcação que, perante à reiterada ameaça da Eletrobras em não cumprir o contrato de fi- nanciamento com a Cemig, esta denunciou a Eletrobras ao Banco Mundial. Considerando as funestas e intensas consequências ao País em outros empreendimentos financiados pelo Banco Mundial, a Eletrobras foi obrigada a cumprir o contrato. Nas obras federais houve intensa concentração de recursos na construção das maiores usinas, nomeadamente em Itaipu e Tucuruí, e depois em Xingó, ficando as demais obras federais sujeitas às verbas de desmobili- zação. Essas verbas correspondiam aos valores que seriam des- pendidos caso as obras viessem a ser paralisadas. Como esses valores eram insuficientes para manter o ritmo ideal de constru- ção, essas obras ficaram sujeitas a vultosos dispêndios devido aos acréscimos de custo de construção e à maior incidência de juros durante a construção, tendo afetado negativamente as empresas contratadas para fornecimento de serviços e de bens de capital. A hidroeletricidade nos anos recentes Em 1996, através da Lei 9427, uma importante modificação ocor- reu no setor elétrico com a criação da Agência Nacional de Ener- gia Elétrica. Pouco depois foi instituída a Agência Nacional de Águas e o Operador Nacional do Sistema, entidade, teoricamente privada, que atua na coordenação e no controle da operação das geradoras e dos sistemas de transmissão. Uma segunda alteração na legislação ocorreu em 2004 mantendo o processo de licitação para novos projetos, mas tornando-se vencedor aquele que apre- sentasse a menor tarifa, ficando assim concessionário da usina ou do sistema de transmissão. As transações de compra e venda de blocos de energia no sistema interligado de transmissão são fei- tas sob os auspícios do Mercado Atacadista de Energia através de contratos bi-laterais de curta duração. Todo o planejamento concernente a privatização, alterações operacionais e licitações para concessões têm sido processado pela ANEEL. Uma em- presa federal (EPE - Empresa de Pesquisa Energética) foi criada para o desenvolvimento do planejamento do setor elétrico. Presen- temente empresas de geração, de transmissão, de distribuição, de comercialização e outros investidores são encorajados a im- plantar usinas de geração e sistemas de transmissão, bem como comercializar a energia produzida ou transmitida. Devido ao sistema ser interligado em grande parte do territó- rio nacional, as novas hidroelétricas, além de suprirem energia na sua região, promovem benefícios para outras áreas. Como resulta- do, um vasto sistema de transmissão em alta tensão e em extra alta tensão promove a interligação de várias regiões do País ao sul do rio Amazonas unindo os dois maiores sistemas nacionais: o Norte/ Nordeste ao Sul/Sudeste/Centroeste. Está programada para fu- turo próximo a interligação entre a margem sul e a margem norte do rio Amazonas. Em 2008 mais de 95% da população tinha aces- so a serviço público de eletricidade compreendendo mais de 99% dos municípios. Uma grande parte do território brasileiro, com exceção de sistemas isolados na Região Norte, é servido por mais de 90.000 km de sistemas de transmissão interconectados em 230 kV, 345 kV, 440 kV, 500 kV e 750 kV. Em novembro de 2008 a capacidade instalada no País era de 104.816 MW em 1768 usinas geradoras das quais 706 eram hidroelé- tricas, 1042 termoelétricas e duas termonucleares. Nos últimos 10 anos a média anual do aumento da capacidade instalada foi de 3652 MW. Há poucos anos atrás bem mais de 90% da capacidade instalada provinha de usinas hidroelétricas. Ao final de 2008 essa proporção caiu para 74% devido ao planejamento para a diversificação de fontes geradoras e às dificuldades de obtenção de licenciamentos ambientais para barra- gens e reservatórios. Em abril de 2011 a capacidade total instalada no País passou a ser de 112.398 MW. Entretanto, a carga de impostos na geração de energia elétrica é de cerca de 45% da tarifa cheia, o que faz com que, apesar do grande número das grandes usinas hidroelétri- cas que operam há mais de 30 anos estarem teoricamente depreciadas, a energia elétrica disponibilizada no Brasil possa ser a mais cara do mundo devido principalmente a essa elevada carga tributária. Impostos, A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 34. 29 taxas e contribuições mandatórias em uma conta de consumo de ener- gia elétrica em residência de classe média quando comparada ao custo direto da energia fornecida, se situam no entorno de 85%. Presente- mente (meados de 2011) a tarifa média para a indústria no Brasil é de R$ 329/MWh, 134% superior à média das tarifas industriais nos ou- tros países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que se situam em R$140,7/MWh. Em estudo recente a FIRJAN considerou críticos os níveis dos quatorze encargos cobrados sobre a energia elétrica. Entre 2015 e 2017 muitas das concessões das maiores hidroelétricas e dos sistemas de transmissão estarão vencidas. Pela legislação em vi- gor essas concessões retornarão à União que deverá efetuar licitações para definição de novos concessionários. As hidroelétricas a serem licitadas já estarão totalmente depreciadas, o que, pelo espírito da Lei, deverá fazer com que as tarifas venham a ser consideravelmente reduzidas. As atuais concessionárias terão que se adaptar à nova realidade. Prevê-se que em 2015 cerca de 20% do parque gerador, 70.000 km de linhas de transmissão e 33% dos contratos de distri- buição deverão ter suas concessões licitadas. Em abril de 2011 as grandes concessionárias como CESP, CEMIG e COPEL forma- ram um grupo para discutir o problema e tentar influenciar uma alteração na legislação visando prorrogações das concessões. Fur- nas, por exemplo, poderá perder até 52% do seu atual faturamento caso as concessões que vencem no período acima mencionado, não venham a ser renovadas. Essas concessões, no caso de Furnas, compreendem a 5000 MW em seis usinas, além de ativos em siste- mas de transmissão. Tem havido por parte das atuais concessionárias e de governos estaduais, intenso lobby para a manutenção das atu- ais concessões. Por outro lado a FIESP defende que a legislação não venha ser alterada ou violentada e que as licitações sejam feitas; considera que com as licitações as tarifas despencarão a níveis de 20% dos atuais, pois os investimentos na construção das usinas e nos sistemas de transmissão já foram amortizados há muito tempo. Para tanto, a FIESP entrou com representação no TCU solicitando intervenção para que providências sejam tomadas no sentido de garantir a execução das licitações de concessão. Entretanto, um dos principais problemas é que, com o elevadíssimo nível dos encargos sobre o fornecimento da energia elétrica, a intensa redução das tarifas que beneficiaria os contribuintes e recolocaria a competitividade da in- dústria nacional no mercado externo, faria com que o governo perdesse arrecadação o que não costuma ser aceito pelos políticos da situação. Desde a última década do século XX, um grande número de in- vestidores têm atuado na implementação de pequenas centrais hidroelétricas até o limite de 30 MW instalados. A esmagado- ra maioria dessas pequenas usinas tem modestos reservatórios, pequenas barragens, vertedouros de superfície em lâmina livre e casas de força em posição remota em relação às barragens. Figura 17 – Barragem da PCH Ivan Botelho II (Palestina) em Minas Gerais Figura 16 - PCH Calheiros 19 MW no rio Itabapoana, entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 35. 30 Hidroelétricas de porte médio são também atraentes a investido- res privados por apresentarem, em relação às empresas estatais, menores custos internos. Grandes hidroelétricas estão presentemente sendo construídas. As hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio, situadas no rio Ma- deira a montante de Porto Velho terão, no seu conjunto, cerca de 6900 MW instalados. O rio Madeira drena uma extensa área da Cordilheira dos Andes na Bolívia. Os vertedouros dessas duas barragens foram dimensionados para as descargas de- camilenares de 82.600 m³/s e 84.000 m³/s, sendo cada um equipado com 20 comportas de segmento de 20 m x 25,2 m. Ambas casas de força abrigarão unidades bulbo operando pra- ticamente a fio d’água. Os reservatórios com área de 258 km² e 271,3 km², inundarão terrenos da Floresta Amazônica. Entre- tanto, a relação entre área inundada em km² e a capacidade instalada em MW é de cerca de 0,08, extremamente baixa em comparação com a média nacional. Encontra-se em início de construção a hidroelétrica de Belo Monte que terá a capacidade instalada de 11.233 MW no rio Xingu, um dos maiores tributários do rio Amazonas. Esse apro- veitamento está sendo estudado há trinta anos. Por restrições ambientais e com a finalidade de se conseguir o licenciamento ambiental, a barragem de Babaquara que regularizaria o rio Xingu a montante de Belo Monte, teve seu projeto abando- nado e a área do reservatório de Belo Monte que inicialmente era de 1225 km², passou para 516 km². O empreendimento afetará 4300 famílias urbanas e 800 famílias rurais. A hidroe- létrica de Belo Monte terá baixa relação entre a área do reser- vatório e a capacidade instalada: 0,05 km²/MW. A média na- cional é de 0,49 km²/MW. Outras grandes hidroelétricas como Tucuruí (0,29 km²/MW), Itaipu (0,10 km²/MW) e Serra da Mesa (1,40 km²/MW) embora com relações modestas, apre- sentam índices mais elevados. A ausência de reservatórios de regularização no rio Xingu faz com que o fator de capacidade seja muito baixo. Localizada nas proximidades de Altamira, no Pará, a usina aproveitará a queda na grande curva do Xingu. Pelo projeto em processo de licenciamento, serão implanta- das duas casas de força, uma com 11.000 MW com unidades Francis sob 87,5 m de queda líquida e outra, denominada casa de força complementar, com 233 MW com unidades bulbo sob 11,5 m de queda líquida. A descarga remanescente é a maior que se tem notícia, 700 m³/s, que fluirão pela casa de força complementar. 18 – PCH Cachoeira em Rondônia, pequena estrutura (barragem) de derivação Figura 19 – Usina hidroelétrica de Monjolinho com vertedouro do tipo lateral A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 36. 31 Figura 20 – Usina hidroelétrica de Santa Clara em Minas Gerais Figura 21 – Barragem vertedoura da hidroelétrica de Picada em Minas Gerais Figura 22 – Obras da usina hidroelétrica de Santo Antônio no rio Madeira Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 37. 32 A hidroelétrica de Estreito, também situada na Amazônia, projeta- da para 1087 MW instalados encontra-se (maio de 2011) em início de operação comercial após quatro anos de atrasos devido a demo- ras no licenciamento ambiental e a paralisações referentes a ações judiciais e a atos de ocupação indevida de seu canteiro de obra. A auto-produção de energia elétrica tem movimentado em anos re- centes várias empresas de grande vulto como a Vale, a Petrobrás, a CSN, a Votorantim e muitas outras. Um exemplo marcante é a Companhia Brasileira de Alumínio CBA que por longo período foi o maior auto-produtor de energia elétrica do País. No início dos anos quarenta a família Carvalho Dias e o empresário, engenheiro e político José Ermírio de Moraes fundaram a CBA para exploração da jazida de bauxita que havia sido identificada nas terras dos Carvalho Dias nas proximidades de Poços de Caldas, MG, e montar uma fábrica de alumínio, indústria eletrointensiva. Em 1942 o DNAEE determi- nou que a São Paulo Light suprisse de energia elétrica a fábrica que estava projetada para ser construída no município de Mairinque, SP. Como a São Paulo Light não dispunha de energia para garantir o fornecimento à CBA, esta requereu a concessão do rio Juquiá-Guaçu e do seu afluente Assungi. A concessão só foi outorgada em 1952. Em conversa com o autor, o engenheiro Antônio Ermírio de Mo- raes externou as dificuldades que encontrou, sendo um empreen- dedor privado, para a obtenção da concessão. Afirmou ainda que considerava estratégico ter a garantia de produção de pelo menos 50% da energia necessária à sua indústria. Assim, a CBA deu início à implantação de uma série de usinas no rio Juquiá-Guaçu: em 1958 entrou em operação a hidroelétrica de França com 24 MW, em 1963 Fumaça com 36,4 MW, em 1974 Alecrim com 72 MW, em 1978 Serraria com 24 MW, em 1982 Porto Raso com 28,4 MW, em 1986 Barra com 40,4 MW e, finalmente, em 1989 Iporanga com 36,87 MW. Nesse período, em 1974, a CBA adquiriu da São Paulo Light a hidroelétrica de Itupararanga com 55 MW. Com os principais po- tenciais do rio Juquiá-Guaçu explorados, a CBA partiu para o médio rio Paranapanema, tendo construído as hidroelétricas de Piraju com 80 MW que entrou em operação em 2002 e Ourinhos em operação desde 2006. Figura 23 – Barragem da usina hidroelétrica de Barra no rio Juquiá, em São Paulo A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 38. 33 Figura 24 - Barragem da usina hidroelétrica de Fumaça, no rio Juquiá, em São Paulo Figura 25 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Barra Figura 26 – Projeto da barragem da usina hidroelétrica de Fumaça Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 39. 34 Os projetos das hidroelétricas da CBA no rio Juquiá-Guaçu fo- ram todos de concepção italiana, com barragens de concreto de gravidade aliviada. Além do acompanhamento constante do en- genheiro Antônio Ermírio de Moraes, o executivo da empresa era o médico Miguel Carvalho Dias que contava com a importan- te colaboração de vários engenheiros de destaque na profissão entre eles Carlos Mazzaro, Newton Sady Busetti, Edilberto Mau- rer e Valério Mortara para o qual o autor teve o privilégio de entregar o título de engenheiro eminente pela Associação dos Antigos Alunos da Politécnica em 2000. Barragens de rejeitos Atividades de mineração representam um importante segmen- to na economia nacional. Devido à legislação ambiental, um grande número de barragens de rejeitos foram construídas ou estão presentemente em construção. A barragem do Germano, a maior do País, que atualmente (maio de 2011) está com 155 m de altura é projetada para atingir 170 m de altura no seu estágio final. Embora não haja um registro de barragens de rejeitos no País, são conhecidas mais de 700 barragens em Minas Gerais e pelo menos 150 outras nos demais estados da Federação. O método de construção mais empregado é o método de mon- Figura 27 – Antônio Ermirio de Moraes principal executivo do Grupo Votorantim, detentor da CBA Figura 28 - Usina hidroelétrica de Piraju no rio Paranapanema entre São Paulo e Paraná A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 40. 35 tante. Entretanto, para rejeitos finos a muito finos como na mi- neração de ouro, o método de jusante é empregado. Um projeto não usual foi adotado para a disposição de rejeitos em mina de urânio em Poços de Caldas. Foi adotada uma barragem de terra e enrocamento compactados, com três filtros chaminé internos, para ser construída em três fases. Para impedir que a água de chuva se misturasse com a água percolada pelo ma- ciço da barragem e pela sua fundação, água esta que tem que ser tratada, o talude de jusante da barragem foi projetado para ser coberto com uma face de concreto. Controle de cheias Por muitos anos desde 1944, o Departamento Nacional de Sa- neamento, órgão do Ministério do Interior, foi ativo em empre- endimentos de controle de cheias envolvendo a construção de barragens, polders e drenagens. As barragens foram construídas principalmente com o objetivo de evitar cheias em áreas populosas. Os dois mais destacados empreendimentos foram o sistema de controle de cheias do rio Itajaí em Santa Catarina, que inclui três barragens que são somente usadas para controlar as des- cargas afluentes, o sistema de proteção de cheias da cidade de Recife em Pernambuco, que compreende três barragens de ter- ra. O critério de projeto que em geral era adotado objetivava o controle das cheias de período de recorrência de 100 anos ou a maior cheia que tivesse sido registrada. Em 1990 as ativida- des desse Departamento foram abruptamente encerradas e o Departamento extinto. Nos primeiros anos dos anos noventa diversas barragens que antes eram controladas pelo DNOS fi- caram sem qualquer controle e sem responsável pela operação e segurança. Durante a estação chuvosa de 2009 uma grande cheia ocorreu na bacia do rio Itajaí e as três barragens não foram su- ficientes para controlar toda a descarga afluente. Severas con- sequências em grande área alagada no baixo vale do Itajaí com- preenderam impressionantes perdas de propriedades. Presente- mente estados e prefeituras que, em geral, não são capacitados técnica e financeiramente, têm de enfrentar por conta própria os problemas de controle de cheias. Vias navegáveis A navegação interior permanece sendo o método de transporte mais usual na Região Amazônica onde há longos e caudalosos rios que podem ser usados ao longo do ano todo. Nesse grupo de rios se encontram todo o rio Amazonas, seus formadores os rios Solimões e Negro, bem como extensos trechos inferiores dos seus afluentes, principalmente nos trechos sobre terrenos sedimentares recentes. Nas outras regiões, os poucos empreendimentos de navegação interior existentes são em geral anexos a hidroelétricas. As duas principais bacias com eclusas instaladas em hidroelétricas são as dos rios Tietê e Paraná, em São Paulo e do São Francisco, no Nordeste. Paisagismo Desde a construção, em 1958, da barragem de Pampulha em que criou um belo espelho d’água na cidade de Belo Horizonte, algu- mas pequenas barragens foram construídas no coração de outras cidades para criação de lagos artificiais como elemento paisagístico. O maior e mais famoso desses lagos artificiais é o reservatório de Paranoá, na capital federal. Figura 29 - Eclusas da barragem de Três Irmãos sobre o rio Tietê Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 41. 36 Obras de abastecimento de água Barragens têm sido construídas como parte de sistema de abaste- cimento de água para zonas urbanas e industriais. O mais destaca- do desses sistemas é o sistema de Cantareira para abastecimento de água da grande São Paulo e cidades do vale do Piracicaba. Esse sistema foi construído nos anos setenta e compreende sete gran- des barragens de terra, sete túneis escavados em rochas gnaíssicas e graníticas numa extensão total de 29 km e uma grande estação de recalque subterrânea com capacidade de 33 m³/s. Os dois maio- res sistemas do Rio de Janeiro aproveitam as barragens da Light construídas entre o início do século (sistema Lajes), e as barragens do sistema de derivação dos rios Piraí e Paraíba do Sul (siste- ma PPD). Outro sistema importante é o de Belo Horizonte compreendendo obras hidráulicas de vulto, com captações em barragens no rio das Velhas e no rio Manso. Um sistema que me- rece menção é o sistema para o abastecimento d’água da cidade de Fortaleza. O sistema inclui a barragem de terra do Castanhão com trecho em concreto compactado com rolo, concluída em 1999 com 72 m de altura, represando 4,46 bilhões de metros cúbicos de água sob uma superfície de 325 km² no nível d’água máximo nor- mal. O sistema necessitou da construção de 256 km de canais para suprimento de 22 m³/s para a cidade e para projetos de irrigação, descarga essa que corresponde a 90% de permanência. O mais recente empreendimento de vulto para abastecimento de água é a barra- gem João Leite construida em concreto compactado com rolo, com 53,5 m de altura e vertedouro de soleira livre sobre a barra- gem. A barragem possibilita o acréscimo de 5,33 m³/s de reforço ao abastecimento das principais cidades do estado de Goiás. Merece menção a barragem do Ribeirão João Leite, concluida em 2009, a qual é destinada ao abastecimento de água da cidade de Goiânia. O artigo técnico sobre o projeto e a construção desta barragem de CCR com 53,50 m de altura e alas de terra faz parte da publicação do CBDB Main Brazilian Dams III.   Figura 30 – Barragem do Ribeirão João Leite para o abastecimento d’água da cidade de Goiânia Figura 31 - Barragem de Pindobaçu na Bahia, aproveitamento de finalidades múltiplas A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 42. 37 Entretanto, um estudo recentemente concluído pela Agência Nacio- nal de Águas revelou que a situação do abastecimento de água em 55% dos 5565 municípios brasileiros está se agravando e deve- rá estar insuficiente em 2015. Serão necessários investimentos de R$ 22 bilhões para garantir a oferta de água de qualidade adequa- da até o ano de 2025. O maior problema da área de saneamento básico, entretanto, se concentra na coleta e tratamento de esgoto uma vez que são poucas as cidades que dispõem de estações com capacidade de tratamento de porcentagens consideráveis dos es- gotos coletados. Esse estudo da Agência prevê a necessidade de investimentos superiores a R$ 50 bilhões até 2025 tendo em vista o precário estado dos sistemas de esgoto sanitário de quase todos os municípios brasileiros. A esmagadora maioria dos esgotos é lançada em corpos d’água (rios, lagos e oceano) sem tratamento. Finalidades múltiplas Barragens com finalidades múltiplas eram raras no cenário na- cional devido à estanqueidade dos órgãos federais e estaduais na definição dos empreendimentos hidráulicos. O primeiro gran- de exemplo de barragem implantada com finalidades múlti- plas foi Três Marias com objetivos de regularização do rio São Francisco, beneficiamento à navegação interior e geração de energia elétrica. Dessa forma, premido por necessidade de ini- ciar as obras de Três Marias e de Furnas, o governo Juscelino Kubitschek foi forçado a definir recursos federais para a implan- tação da barragem, do vertedouro e do reservatório, enquanto a Cemig arcou com a casa de força. Figura 32 - Barragem de Mirorós na Bahia, aproveitamento para irrigação e abastecimento de água Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 43. 38 Reservatórios interligados de Paraibuna e Paraitinga Outro exemplo é a barragem de Pedra do Cavalo na Bahia que con- tribui para o controle de cheias, o abastecimento de água, a produção de energia, a regularização e a irrigação. Importantes empreendi- mentos de finalidades múltiplas são as barragens do alto e médio rio Paraíba do Sul, Paraitinga, Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Fu- nil que contribuem para a regularização de descargas, controle de cheias, geração de energia elétrica e possibilitam o abastecimento do Grande Rio de Janeiro. A evolução dos segmentos de bens de capital e de prestação de serviços Toda essa atividade em projeto, construção e operação de barragens, bem como em fabricação e montagem de equipamentos, incentivou a engenharia brasileira, tão dependente de apoio estrangeiro na primei- ra metade do século XX, a se tornar uma das líderes mundiais nesse setor. Muitas empresas brasileiras de projeto e construção se ex- pandiram durante a segunda metade do século XX e presentemente ocupam relevante posição no cenário internacional. Neste mesmo período diversas fábricas de equipamentos mecânicos, elétricos e ele- trônicos se estabeleceram no País e têm suprido a demanda interna e exportado equipamentos para diversos outros países. Nos últimos 20 anos do século passado o País atravessou um perío- do de severa estagnação econômica quando vinte empreendimentos com barragens do setor elétrico tiveram sua construção suspensa por falta de recursos financeiros. Durante esses anos muitas em- presas brasileiras desenvolveram com sucesso atividades no ex- terior em países de todos os continentes. Depois de passado esse período, a engenharia brasileira voltou a ter um mercado interno robusto com alguns dos maiores projetos do mundo atual tais como as hidroelétricas de Jirau, Santo Antonio, Estreito e Belo Monte, além de diversas hidroelétricas de pequeno e médio porte. Figura 33b – Barragem e casa de força de Paraibuna Figura 33a – Barragem de Paraitinga no final de sua construção Figura 33c – Diques durante o primeiro enchimento do reservatório A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 44. 39 O desenvolvimento e o desmonte da engenharia consultiva Os estudos e projetos de barragens no País tiveram duas origens distintas. No Nordeste, tanto no DNOCS quanto na CHESF, havia predominância da engenharia nacional com grandes contingentes de engenheiros formados em nossas escolas, mes- mo que inicialmente carentes de experiência. Nota-se que os projetos do DNOCS eram feitos na sua sede no Rio de Janei- ro antes da mudança para Fortaleza, com influência de eventuais consultores provenientes do U.S. Bureau of Reclamation. Os projetos da CHESF, principalmente na sua primeira hi- droelétrica, Paulo Afonso I, foram feitos no canteiro de obra por equipe nacional com influência de alguns engenheiros es- trangeiros recrutados como imigrantes após o término da Se- gunda Grande Guerra Mundial e de outros que trouxeram marcante influência francesa. Entretanto, nesses dois casos, a força de trabalho e a responsabilidade técnica eram essencialmente nacionais. Na Região Sudeste, os projetos da Light e da AMFORP eram ni- tidamente comandados, no início do Século XX, por americanos. A organização da AMFORP veio influenciar na organização da CEMIG, em Minas Gerais, através do engenheiro John Cotrim que também trouxe, em seguida, essa experiência organizacional para Furnas. Tanto a CEMIG quanto Furnas tiveram seus primeiros grandes projetos elaborados por empresas consultoras americanas. Aos pou- cos, foram se formando importantes e bem estruturadas empresas consultoras nacionais que passaram a atuar nas linhas de frente dos grandes empreendimentos hidroelétricos dessas duas em- presas concessionárias. Outras empresas do setor elétrico con- tavam com projetos desenvolvidos por consultoras suíça, alemã, portuguesa e italiana. Em São Paulo, o governo estadual orientava os projetos dos anos cinquenta para empresas brasileiras ou para um conjunto de consultores individuais, por bacias hidrográficas. Quando finalmente foi enfrentado um projeto de grandes propor- ções, a equipe do contratante, especialmente o engenheiro José Gelazio da Rocha, incentivou os consultores independentes das barragens do rio Pardo a formar uma empresa que pudesse desen- volver a contento o projeto da hidroelétrica de Jupiá, no rio Paraná, de dimensões inusitadas para a época. Figura 34 - Barragem de finalidades múltiplas de Funil Figura 35 - John Reginald Cotrim jovem na EBASCO 1942-44 Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 45. 40 As hidroelétricas projetadas pelo DNOS no Sul e na Bahia, também já contavam com expressivo contingente de engenheiros brasileiros. Os anos setenta se caracterizaram por um enorme desenvolvimen- to da consultoria brasileira. Nessa época as empresas de projeto assumiam crescentes responsabilidades em um grande número de projetos de envergadura, principalmente no setor elétrico. Esse desenvolvimento acelerado foi em parte condicionado por lei de proteção ao mercado de consultoria e projeto, conseguida durante o governo de Costa e Silva. A Associação Brasileira de Consul- tores de Engenharia - ABCE analisava cada contratação de con- sultoria externa para detectar se havia similar nacional. Essa lei só foi cancelada sem alarde e sem anúncio no governo Sarney para os projetos do programa de irrigação de um milhão de hectares. Nos anos setenta quase dez consultoras brasileiras figuravam en- tre as maiores do mundo. Por outro lado, as consultoras brasileiras tinham como obstáculo a lei da informática que prejudicou so- bremodo o desenvolvimento da produção de projetos e, de acordo com o então senador Roberto Campos, tornou o contra- bandista um herói nacional. Quase todo esse desenvolvimento era calcado em contratos cost plus com empresas estatais do setor elétrico. Essa modalidade con- tratual foi introduzida pelas empresas americanas de consultoria na segunda metade dos anos cinquenta. Por esse tipo de contrato a consultora era remunerada pelo custo do serviço baseado nos salários de suas equipes técnicas multiplicados por um fator que representava os impostos, os encargos sociais e as despesas diretas, com a adição do seu lucro em função do trabalho efetivamente de- senvolvido. As consultoras a cada mês recebiam antecipadamente de acordo com a programação aprovada e prestava conta ao final de cada mês. Dessa forma passou a haver elevada segurança con- tratual mesmo em regime inflacionário que se acentuou a partir do governo JK. Dessa forma praticamente não havia necessidade de capital de giro, a inflação não era sentida e o risco de inadimplência era muito reduzido. Entretanto, esse tipo de contrato veio causar o desmanche das empresas consultoras na década seguinte. Em 1979 foi instituído o teto salarial nas empresas estatais, teto este que era o salário direto nominal do Presidente da República, na época o general Figueiredo. Como o salário direto nominal do Presidente não era muito elevado, os salários nas estatais passaram Figura 36 - Usina hidroelétrica de Volta Grande no rio Grande Figura 37 - Usina hidroelétrica de Itapebí no rio Jequitinhonha, na Bahia A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 46. 41 a ser achatados. Por terem salários achatados, os funcionários das estatais federais contratantes de serviços de consultoria passaram a não aprovar nos contratos reajustes salariais dos empregados das empresas contratadas. Como a inflação era intensa, as consul- toras passaram a sofrer pressões dos dois lados: as suas equipes demandando reajustes salariais corretos e os clientes não apro- vando esses reajustes nos contratos. O equilíbrio financeiro dos contratos das consultoras foi rapidamente corroído. A letra desse tipo de contrato pelo custo significava que deveria haver reembolso pelos acréscimos de custos devido à inflação. A inflação se intensificava a cada período, tendo chegado a um pico de mais de 80% ao mês e ao impressionante e quase ina- creditável, para os que não vivenciaram, índice de 13 trilhões e 342 bilhões por cento no período de apenas quinze anos que an- tecederam ao Plano Real. As consultoras, através da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia - ABCE, pleiteavam in- cessantemente fórmulas de reajustes sem encontrar eco em mui- tas das empresas contratantes. Nessas empresas uma posição de clarividência foi assumida pelo engenheiro João Alberto Ban- deira de Mello que atuava na Eletrobras e que propunha que, além do correto reajustamento, houvesse também o justo reem- bolso dos elevados juros que as consultoras já estavam pagando ao sistema financeiro. Essa proposição sequer foi considerada e só após muito tempo, já com as consultoras descapitalizadas e endividadas, é que uma correção parcial foi admitida nos contra- tos, mesmo assim após 45 dias da entrega da respectiva fatura, ou seja, até 75 dias da execução dos serviços. Adicionando a esses aspectos deletérios, sobreveio, nos anos oiten- ta, a crise financeira das estatais, principalmente das federais, no- meadamente as que não tinham grandes gerações de energia como era o caso da Light e de FURNAS. Essas outras empresas passa- ram a atrasar sistematicamente o pagamento das faturas, em várias ocasiões por mais de cinco meses. Como para as consultoras, nos contratos pelo custo, os seus técnicos não podiam acumular horas trabalhadas para somente faturá-las quando houvesse recursos nas caixas das contratantes, os faturamentos tinham que ser mensais. Incrivelmente neste País os impostos incidem no ato do faturamen- to, mesmo que não venha haver pagamento. As consultoras tinham que recolher impostos por serviços que não eram pagos ou que seriam pagos meses depois, corroídos por uma inflação galopante. No advento do governo Sarney houve um dos muitos planos he- terodoxos no qual teoricamente a inflação seria nula. Foram cria- dos os “fiscais do Sarney” que acusavam às autoridades eventuais aumentos de preços. As contratantes do setor elétricos viraram “fiscais do Sarney” e unilateralmente abateram os multiplica- dores dos contratos alegando que a partir daquele instante não mais haveria inflação. Entretanto, esses multiplicadores haviam sido estabelecidos nos anos cinquenta quando a inflação antes do governo Juscelino ainda era muito baixa. Finalmente, no auge da crise das contratantes estatais federais, as consultoras foram chamadas para receber parte de alguns atra- sados pagos em títulos que eram chamados de moeda podre, pois valiam no mercado apenas uma pequena fração de seu valor de face, em geral cerca de 25%, mesmo assim quando e só quando eram usados nos programas de privatização. Dessa for- ma, o governo federal desovou empresas nos programas de privatização ganhando dos dois lados. Daquelas grandes empresas de consultoria de engenharia que fi- guravam como das maiores do mundo, algumas foram reduzidas a níveis pequenos e várias fecharam, tendo originado forte de- semprego no ramo da engenharia e tendo sido criado o termo “o engenheiro que virou suco.” Mas outros profissionais se reuniram em pequenas empresas, algu- mas delas atuando em segmentos específicos. Algumas dessas em- presas foram gradativamente crescendo e hoje já apresentam grande número de profissionais engajados. Os contratos, entretanto, devido a essa experiência desastrosa, não mais foram de remuneração pelo custo; presentemente a esmaga- dora maioria dos contratos por prestação de serviços de consultoria Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 47. 42 é por preço fixo, o que transfere para a consultora um risco que deveria ser do empreendedor. A partir dos anos oitenta as consultoras menos atingidas pelos im- pactos acima relatados voltaram-se para o mercado externo com o objetivo de substituir os contratos nacionais. Algumas empresas tiveram sucesso e hoje estão presentes em vários continentes. O desenvolvimento das empresas de construção Semelhantemente ao que ocorreu nas atividades de estudos e projetos, a construção de barragens no Nordeste foi efetivada principalmente com equipes do próprio empreendedor, seja o DNOCS ou a CHESF. No caso do DNOCS, apenas em algumas poucas barragens consideradas de grande vulto na época, empre- sas estrangeiras foram contratadas para executar as obras civis. O DNOCS construiu mais de duas centenas de grandes barra- gens com recursos humanos e equipamentos próprios. Entretanto, as obras mais recentes que datam do final do século passado, foram implantadas por empresas privadas de construção. A partir de sua fundação até a conclusão da hidroelétrica de Moxo- tó, a CHESF construiu com equipe própria suas barragens e usinas. A partir dessa época, dado o desenvolvimento das construtoras nacionais, estas passaram a ser contratadas para todas as demais obras. No Sudeste as construtoras estrangeiras foram utilizadas pela Light e pela AMFORP em suas hidroelétricas que são mais antigas, todas com construções compreendidas do início até meados do século passado. Da mesma maneira, ainda nos anos cinquenta, Furnas contratou para a usina que deu nome à empresa, uma construtora britânica associada a uma empreiteira brasileira. Para essa usina, na época uma das maiores do mundo em capacidade instalada, em altura da bar- ragem e em potência dos seus equipamentos de geração, outra em- presa brasileira com experiência restrita à construção de estradas foi contratada para erguer a barragem auxiliar de Pium-I, tendo socorrido os empreiteiros principais na elevação rápida do núcleo da barragem de Furnas. Com a experiência adquirida essa empre- sa assim como outras que se capacitaram, já nas obras seguintes, assumiram a condução das construções. Figura 38 - Usina hidroelétrica de Xingó no rio São Francisco Figura 39 – Usina hidroelétrica de Furnas logo após o enchimento do reservatório A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 48. 43 A CHEVAP, encarregada da implantação da barragem em abóbada de Funil, contratou uma empresa nacional para a bar- ragem principal e outra empresa nacional para a barragem de terra de Nhangapi, na época a segunda maior barragem desse tipo no País. Furnas, ao assumir a responsabilidade da cons- trução da usina do Funil, substituiu a empresa construtora da barragem principal por uma empresa dinamarquesa, hoje de controle nacional. A CEMIG, ao ser instituída, assumiu usinas de portes pequeno e médio que vinham sendo implantadas por empresas nacionais. Sua primeira grande obra, a usina de Três Marias, foi constru- ída por empreiteira americana, mas posteriormente, empresas brasileiras passaram a ser contratadas à exceção da hidroelétri- ca de São Simão que, após acirrada concorrência internacional, foi delegada a uma empresa italiana. As grandes empresas brasileiras atravessaram a recessão econô- mica e a desaceleração das obras no País nas décadas de oitenta e noventa, partindo com muito sucesso para empreendimentos no exterior. Com a intensificação dos investimentos em obras hidráu- licas no País, as empresas construtoras têm atuado com intensidade semelhante à do passado, nos anos setenta. A ampla dissemina- ção de pequenas e médias centrais hidroelétricas que ocorreu nas duas últimas décadas, fez com que surgisse considerável número de novas construtoras no País. Perspectivas para o futuro As dificuldades no licenciamento ambiental e as incertezas que sem- pre rondam os processos de aprovação de projetos hidroelétricos têm causado impressionante perda na matriz energética limpa que costumava orgulhar o País. São muitas novas centrais geradoras termoelétricas poluidoras, entretanto de muito mais fácil licencia- mento ambiental e aprovação na ANEEL, inclusive as térmicas a óleo e a carvão. Há duas usinas nucleares em operação e uma em construção. Essas usinas têm sofrido das indecisões políticas, todas elas tendo tido seus cronogramas de implantação constan- temente refeitos e suas obras se arrastado por duas a três décadas, Figura 40 - Barragem da usina hidroelétrica de Mascarenhas de Moraes, antiga Peixoto, concluída em 1956. Na margem esquerda o vertedouro complementar, construído em 2002 Figura 41 - Usina hidroelétrica de São Simão Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 49. 44 onerando sobremaneira os seus custos pela forte incidência dos juros sobre os capitais investidos durante as suas prolongadas construções. Entretanto, Angra II que levou 24 anos em constru- ção, pode operar até hoje (maio de 2010) há mais de uma década sem licenciamento ambiental e sem licenciamento da CNEN. O acréscimo de capacidade de geração em empreendimentos sem possibilidade de armazenamento de energia, tais como usinas eólicas, térmicas, nucleares e hidroelétricas a fio d’água, sinali- zam para dificuldades de atendimento de demanda na ponta em diversos centros de carga no País. Para o bem da economia e do meio ambiente, há imperiosa necessidade de se ultrapas- sar as resistências dos que se dizem ambientalistas e se voltar à implantação de hidroelétricas com grandes volumes úteis de reservatório para se recuperar a capacidade de regularização de vazões e, consequentemente, de energia. O atual modelo do se- tor elétrico contribui para essas dificuldades por não contemplar qualquer remuneração para a regularização de descargas que beneficiem a operação do sistema interligado. Pelo atual planejamento energético o País enfrenta a necessi- dade de instalação de cerca de 5000 MW/ano. Tendo em vista esse desafio, as classes dirigentes têm pressionado licenciamen- tos ambientais de grandes centrais geradoras como ocorreu nas duas usinas em construção no rio Madeira e presente- mente na hidroelétrica de Belo Monte cujo licenciamento está sendo obtido por etapas, o que é no mínimo inusitado: o único licenciamento obtido até agora (maio de 2011) foi con- cedido em janeiro de 2011 para instalação do canteiro de obra. Isso, associado às interrupções provenientes de ações judiciais ou do Ministério Público ocorrendo na maior hidroelétrica em construção, comprova a incerteza dos empreendedores em assumir tais riscos. Embates entre membros do governo e do licenciamento ambiental têm provocado demissões em vá- rios níveis, até no nível ministerial. Eventuais paralisações, devidas à ação de vândalos em canteiros de obra e ao Ministé- rio Público que questiona licenças ambientais, contribuem para a elevação de prazos e de custos já que os juros reais no Brasil permanecem há décadas como o mais elevado do mundo, hoje em 6,8% a.a., quase três vezes superior ao do segundo colocado, a Hungria, com 2,4% a.a. As perdas de energia elétrica no sistema interligado e nos sis- temas de distribuição atingem em 2011 cifras elevadas, entre 15% e 17% da geração. Parcela expressiva dessa perda vem de ligações ilegais. Além de serem esperados acréscimos de consu- mo devido ao desenvolvimento industrial, verifica-se também que o consumo domiciliar médio no Brasil ainda é muito inferior ao de países desenvolvidos, sendo pouco mais de um décimo do americano, e pouco inferior ao verificado na Rússia e na África do Sul. Estima-se que o consumo total de energia elétrica no País evolua em média com acréscimos de 4,8% ao ano, passan- do dos 456,5 TWh verificados em 2010 para 730 TWh em 2020. O consumo médio residencial deverá passar dos 154 kWh/mês em 2010 para 191 kWh/mês em 2020. Entretanto, o máximo histórico de 180 kWh/mês registrado antes do racionamento de 2001 só deverá ser ultrapassado em 2017. No passado recente (2000 a 2011) tem sido registrado im- pressionante número de apagões, vários dos quais abrangen- do extensas regiões densamente habitadas. Considerando a relativa fragilidade dos sistemas de transmissão e as cres- centes demandas na ponta de carga, prevê-se a continuidade e mesmo o agravamento dessa situação. O controle de cheias permanece nebuloso no futuro próximo. A falta de um órgão de âmbito nacional para controlar e implemen- tar obras hidráulicas com esse objetivo é imperioso já que os cursos d’água são em geral intermunicipais e mesmo inter estaduais. O setor elétrico através do ONS despacha algumas hidroelétri- cas levando em conta o controle de cheias. O exemplo mais ní- tido são as hidroelétricas do vale do rio Paraíba do Sul cujo rio principal, por atravessar uma sucessão de importantes cidades de médio porte e servir de abastecimento de água a grandes núcleos urbanos, tem uma regra operativa que privilegia a regularização de vazões e o controle de cheias. A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 50. 45 Historicamente a implantação de eclusas para navegação interior sempre vieram a reboque de algumas hidroelétricas ao contrário do que acontece em países europeus cuja tradição da navegação fluvial sempre esteve arraigada ao desenvolvimento viário, vindo como sub-produto a geração de energia elétrica. Consolidando essa deformação brasileira, tramita no Congresso um projeto de lei que obriga os investidores em hidroelétricas de implantar siste- mas de navegação onde possível, onerando ainda mais as novas usinas hidroelétricas. As constantes e recentes valorizações das commodities no mercado internacional indicam para o futuro a permanência das atividades em mineração e, consequentemente, da construção de barragens de rejeitos cada vez maiores e mais frequentes. As deficiências previstas no curto prazo para o abastecimento da crescente demanda por água nas cidades e distritos industriais, têm feito com que planejadores do setor considerem alternativas dispendiosas, incluindo a captação de água de baixa qualidade a grandes distâncias (médio Tietê para São Paulo e sub-médio Pa- raíba do Sul para o Rio de Janeiro), com grandes recalques (Ju- quiá para São Paulo) ou na regeneração de águas em estações de tratamento de esgotos (Alegria para o Rio de Janeiro), por exemplo, onerando sobremaneira as futuras captações, aduções e tratamentos de água. Homenagem aos membros de juntas de consultores Durante o projeto e construção das mais importantes barragens brasileiras, engenheiros e geólogos consultores de grande proje- ção na profissão, brasileiros e estrangeiros, participam de juntas de consultores. Depois de Karl Terzaghi, Arthur Casagrande e Figura 42 - A partir da esquerda os consultores da São Paulo Light: Samuel Chamecky, Karl Terzaghi, Othelo Machado e Casemiro Munarski (Foto do Acervo Paulo Chamecki) Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 51. 46 Figura 43 - Arthur Casagrande, John Cabrera, Gurmukh Sarkaria e Flavio H. Lyra em inspeção de campo em Itaipu Figura 44 - Professor Manuel Rocha, pesquisador, fundador e diretor geral do Laboratório de Engenharia Civil sediado em Lisboa. Destacada atuação na CIGB e em consultoria de barragens em vários paises, inclusive no Brasil. A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 52. 47 Portland Fox mencionados acima, outros consultores participa- ram de juntas tais como Roy Carlson, Manuel Rocha, Charles Blanchet, James Libby, James Sherard, Barry Cooke, Don Deere, Victor F. B. de Mello e Flavio H. Lyra que são aqui mencionados como homenagem àqueles que já faleceram. Esses profissionais altamente qualificados deram valiosas contri- buições ao projeto e construção de grandes barragens e formaram engenheiros e geólogos brasileiros que presentemente trabalham como consultores no Brasil e no exterior. Figura 45 - Rubens Vianna de Andrade, Flavio H. Lyra, Arthur Casagrande e Julival de Moraes em inspeção nas obras de Itumbiara Figura 46 - Consultor Roy Carlson por ocasião da sua condecoração pelo governo brasileiro entre Carlos Alberto de Padua Amarante e Victor F. B. de Mello durante o XII SNGB, em São Paulo abril de 1978 Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 53. Os 5 primeiros presidentes da CIGB de 1931 a 1961 4 5 1. G. Mercier - França - 1931-1934 2. M. Giandotti - Itália - 1937-1940 3. A. Coyne - França - 1946-1952 4. G.A. Hathaway - EUA - 1952-1958 5. J.F.R. Pinto - Portugal - 1958-1961 1 2 3
  • 54. 49 A Comissão Internacional de Grandes Barragens - Oitenta e três anos de excelência Flavio Miguez de Mello A Comissão Internacional de Grandes Barragens - Oitenta e três anos de excelência A Comissão Internacional de Grandes Barragens CIGB nasceu na França, numa época em que havia intensa atividade em implantação de barragens, notadamente na Europa e nos Estados Unidos. Nos anos vinte muito havia que ser aprendido em projeto e construção de barragens e o intercâmbio de conhecimentos passou a ser de nítida importância. Na época, a mecânica dos solos e a geologia de engenharia não haviam ainda sido fundadas, os critérios de projeto de estruturas de concreto eram rudimentares e a hidráulica fluvial enfrentava pela primeira vez na maioria dos países que implantavam barragens e reservatórios, obras em rios muito caudalosos. Corria o ano de 1925 quando, em reunião da Associação Francesa para o Progresso da Ciência ocorrida em Grenoble, foi manifestada a importância do estabelecimento de uma comissão de caráter internacional voltada para grandes barragens. Em 1926, em assembléia da Conferência Mundial de Energia em Basel, a delegação francesa apresentou formalmente a proposta de criação da Comissão Internacional de Grandes Barragens. A proposição foi aceita, assim como o apoio ofertado pelo governo francês, tendo sido instituído o Comitê Francês de Grandes Barragens sob a Societé Hydrotechnique de France. A proposta foi formalmente aceita pela Conferência Mundial de Energia no ano seguinte, 1927, na assembléia de Cernobbio (Itália). Figura 1 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 - Flavio Lyra, presidente do CBGB e G. Brown, presidente CIGB Figura 2 - Reunião Executiva no Rio de Janeiro, 1966 - G. Brown, presidente CIGB, Flavio Lyra, presidente do CBGB, Mauro Thibau, ministro de Minas e Energia e John Cotrim, presidente de Furnas Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 55. 50 A assembléia que constituiu a CIGB ocorreu no dia 6 de julho de 1928 com a participação de seis países: Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido, Romênia e Suíça. A assembléia do Conselho Executivo da Conferência Mundial de Energia aprovou a CIGB por unanimidade em Londres no dia 3 de outubro de 1928. Desde então, reuniões executivas foram realizadas todos os anos a menos dos anos exceto durante a II Guerra Mundial, de 1940 a 1944. Já demonstrando seu dinamismo, a CIGB promoveu seu primei- ro congresso internacional em Estocolmo em 1933. Desde então a cada três anos a CIGB promove seus congressos que são, reco- nhecidamente, de elevado interesse técnico sobre assuntos os mais atuais. Seus anais são verdadeiras seções transversais da tecnologia de cada época que nos permitem visualizar o desenvolvimento dos conceitos e critérios de projeto e de construção de barragens. Como exemplos históricos pode-se mencionar os trabalhos de Karl Ter- zaghi de 1933 sobre as investigações das características dos solos quanto a sua viabilidade para a construção das barragens de terra e de Wolmar Fellenius sobre cálculo de estabilidade de barragens de terra. Em 1967, considerando seu já grande vulto, a CIGB passou a se tornar independente da Conferência Mundial de Energia. Do seu primeiro estatuto até o estatuto de 1967 poucas alterações signifi- cativas ocorreram. Encontra-se presentemente (2011) em propo- sição por um comitê ad hoc novo estatuto que vem corrigir lacunas do estatuto vigente. Desde sua fundação com apenas cinco países membros, a CIGB vem continuamente crescendo, tendo atingi- do 26 países antes da II Guerra, 56 países em 1967, 56 países em 1980, 72 países em 1990, 81 países em 2000 e 92 países em 2010, ­cifra esta que representa mais de 90% da população mundial. Além dos seus anais de congressos e simpósios, a CIGB publica boletins sobre temas específicos, fruto do trabalho dos seus comi- tês técnicos que congregam profissionais os mais destacados em diversos países do mundo, tornando, assim, esses documentos em relatórios do estado da arte sob o ponto de vista global. A CIGB mantém atualizado o registro mundial de grandes barragens (barragens com mais de 15 m de altura ou em condições especiais) contendo as principais características das barragens em todos os países membros e em alguns países não membros da CIGB. Desse registro não constam apenas as barragens de rejeitos. Apesar do re- gistro das barragens no Brasil estar incompleto, o registro da CIGB atualizado em 2010 revela a importante posição do Brasil relativa a outros países com mais de mil grandes barragens construídas: Figura 3 - 14° Congresso CIGB Rio de Janeiro 1982 – Pierre Londe (presidente) e Joannes Cotillon (secretário geral) A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI 1 China 40 000 2 USA 9 265 3 Índia 5 101 4 Japão 3 076 5 Coréia do Sul 1 302 6 Canadá 1 166 7 África do Sul 1 114 8 Brasil 1 011 9 Espanha 987 10 Turquia 741 11 França 623 12 México 583 13 Itália 542 14 Reino Unido 519 15 Austrália 507 16 Irà 501
  • 56. 51 Desde a sua fundação a CIGB teve 22 presidentes, sendo dois brasileiros (F. Lyra e C. Viotti), 126 vice presidentes, sendo seis brasileiros (F. Lyra, D. Fernandes, F. Miguez, F. Budweg, C. Viotti e E. Maurer) e dez secretários gerais, todos franceses. A participação brasileira se fez sentir desde os anos sessenta em participações em diversos comitês da CIGB. Desses comitês foram coordenadores (chairmen) F. Lyra, F. Budweg, J.F. Silveira e F. Miguez. A CIGB sempre teve como foco a promoção e divulgação da tecnologia de planejamento, projeto, construção e operação de barragens. Nos anos sessenta a CIGB passou também a enfatizar a segurança e a reabilitação de barragens, nos anos setenta passou a ser grande divulgadora de progressos na engenharia ambiental, nos anos oitenta liderou a divulgação tecnológica aplicada a barra- gens de rejeitos de mineração, nos anos noventa também abriu os campos de compartilhamento dos recursos hídricos de rios transna- cionais e de gestão integrada da água, conscientização do público e na primeira década do Século XXI, abriu discussão sobre mudanças climáticas globais e planejamento de recursos hídricos escassos. Figura 4 - K. Höeg, ex-presidente da CIGB Figura 5 - Reunião do Comitê de Meio Ambiente da CIGB em Madrid, 1973. Desde o final dos anos 60 a CIGB dedica especial atenção aos temas socioambientais. Na foto os dois primeiros presidentes deste Comitê Flavio H. Lyra e Pierre Londe. Entre os dois, o autor Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 57. 52 A CIGB fechou o ano de 2010 com 92 comitês nacionais que, no seu conjunto, congregam mais de 10.000 membros individu- ais dentre os mais destacados profissionais que presentemente atuam em empresas públicas e privadas, universidades, institui- ções de pesquisa, consultoras, construtoras, fabricantes, agências governamentais e organizações não governamentais. Figura 6 - 70° Reunião Anual CIGB - Foz do Iguaçu 2002 - Ospina (ex vice-presidente) recebendo homenagem do presidente Varma Figura 7 - Congresso de Brasília 23O CIGB 2009 – Mesa da Questão 90 - Arthur Walz, Flavio Miguez de Mello, Maria Bartsch, Margaret Rose Mendes Fernandes A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 58. 53 Figura 9 - Homenagem ao professor Victor F. B. de Mello no 23O CIGB, Brasília 2009 Figura 8 - Congresso de Brasília 23o CIGB 2009 – Da esquerda para direita Edilberto Maurer (pres.CBDB), Pham Hong Giang (pres. Comitê do Vietnam), Luis Berga (pres. CIGB), Jia Jinsheng (pres.eleito CIGB) Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens
  • 59. 54 Figura 10 - Presidente Varma, secretário geral J. Lecornu e a secretária Nicole Schauner Figura 12 - A secretária Margarite Chapelle recebendo homenagem em 1967, uma placa entregue por sua filha Nicole Schauner (ao microfone) que a substituiu após 25 anos de serviço desde 1948. Nicole assumiu a secretaria da CIGB em 1967 permanecendo até o presente (2011). As duas foram responsáveis pelo eficiente suporte à CIGB ao longo dos últimos 63 anos Figura 11 - Congresso de Brasília 23O CIGB 2009 - Michel de Vivo secretário geral e Luis Berga presidente da CIGB A História das Barragens no Brasil - Séculos XIX, XX e XXI
  • 60. 6. C. Marcello - Itália - 1961-1964 7. J. Guthrie Brown - Reino Unido - 1964-1967 8. G.T. McCarthy - EUA - 1967-1670 9. J. Toran - Espanha - 1970-1973 10. C.F. Gröner - Noruega - 1973-1976 11. F.H. Lyra - Brasil - 1976-1979 12. P. Londe - França - 1979-1982 13. C.A. Dagenais - Canadá - 1982-1985 14. G. Lombardi - Suíça - 1985-1988 15. J.A. Veltrop - EUA - 1988-1991 16. W. Pircher - Áustria - 1991-1994 17. T.P.C. van Robbreck - África do Sul - 1994-1997 18. K. Höeg - Noruega - 1997-2000 19. C.V.J. Varma - Índia - 2000-2003 20. C.B. Viotti - Brasil - 2003-2006 21. L. Berga - Espanha - 2006-2009 CIGB - Presidentes de 1961 a 2009 6 10 14 18 7 11 15 19 8 12 16 20 9 13 17 21 Cinquenta Anos do Comitê Brasileiro de Barragens