SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 14
Baixar para ler offline
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
PROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN

                               TEORIA PSICANALÍTICA
1 ­ Visão geral 
       A   psicanálise   é   uma   terapêutica   e   uma   teoria   cujos   fundamentos   foram 
estabelecidos por Sigmund Freud. A teoria se modificou e se aperfeiçoou com o tempo, 
em   função   dos   novos   conhecimentos   fornecidos   tanto   por   seu   fundador   quanto   por 
seus discípulos.
                            SIGMUND FREUD ­ pai da psicanálise 
       Sigmund Freud nasceu a 6 de maio de 1856, em Freiberg, Morávia (atualmente 
Pribor, antiga Tchecoslováquia). Aos quatro anos foi para Viena, onde viveu até um ano 
antes   da   sua  morte,   quando   foi   transferido   para   a   Inglaterra   devido   à  anexação   da 
Áustria pelos nazistas. Morreu na Inglaterra em 1939.
       Decidido   a   ser   cientista,   Freud   matriculou­se   na   escola   de   medicina   da 
Universidade de Viena em 1873, onde graduou­se oito anos depois. Nunca pensou em 
clinicar   mas,   as   dificuldades   financeiras,   as   limitadas   oportunidades   de   progresso 
acadêmico   para   um   judeu   e   as   necessidades   da   família,   forçaram­no   a   exercer   a 
profissão.
       Seus estudos sobre a histeria foram as raízes da psicanálise. Esta, através 
destes estudos, aparece como:


                       Método de investigação


                       PSICANÁLISE                     Técnica terapêutica


                       Corpo de conhecimento científico


                                       Teoria
2

2 ­ Origem da psicanálise
        A psicanálise tem origem na década de 1887 ­ 1897, quando Freud começou a estudar as 
perturbações  de  seus pacientes histéricos.  No  início   contou  com  a  colaboração  de   um   médico 
vienense chamado Joseph Breuer.             O   tratamento   de   uma   paciente   de   Breuer,   que   ficou 
conhecida como “Anna O.”, e as comunicações que este fazia a Freud sobre o caso, foi um dos 
fatores que levou ao desenvolvimento da psicanálise. Breuer, utilizando técnicas de hipnose e auto­
hipnose, fazia com que “Anna O.” verbalizasse emoções intensas que a perturbavam. Ao recordar, 
juntamente com uma manifestação de afeto, as cenas e as circunstâncias sobre as quais aquelas 
emoções haviam sido despertadas, desapareciam os sintomas histéricos.
                             Os autores observaram que os sintomas histéricos individuais pareciam 
                             desaparecer imediatamente quando o acontecimento que os provocara 
                             era  claramente  recordado  pelo  paciente  e este conseguia  descrevê­lo 
                             com o máximo de detalhes, acompanhando suas palavras com o devido 
                             afeto. (KAPLAN, SADOCK, 1984, p. 106)


       Quando começou a clinicar, em 1887, Freud utilizou intensamente o método hipnótico. Com 
o passar do tempo, percebeu que os efeitos benéficos desse tratamento eram transitórios: duravam 
apenas enquanto o paciente permanecia em contato com o médico. A partir disso, Freud começou 
a suspeitar que esses efeitos dependessem, de fato, da relação pessoal entre paciente e médico. 
O êxito do método hipnótico, na visão de Freud, devia­se ao fato do/a paciente atuar seu amor pelo 
médico:   sob   o   comando   do   médico   lembrava­se   de   suas   experiências   traumáticas   e   de   seus 
sentimentos e parecia recuperar­se com  o propósito de agradá­lo.
       Freud   continuou   usando   a   hipnose,   quando   indicada,   até   aperfeiçoar   a  técnica   da 
associação livre. A partir daí (1896), nunca mais utilizou o método hipnótico. Através do trabalho 
com seus pacientes, por meio do método de associação livre, Freud delineou sua teoria.  Uma 
fonte de informação importante foi a auto­análise realizada por Freud: a compreensão dos 
anseios sexuais infantis em sua própria experiência sugeriu a Freud que esses fenômenos 
não   estivessem   restritos   ao   desenvolvimento   patológico   da   neurose,   mas   que   pessoas 
essencialmente normais pudessem sofrer experiências semelhantes.


3 ­ A estrutura da personalidade na psicanálise freudiana
3

3.1 – TEORIA DOS INSTINTOS ­  Para Freud, os instintos são as únicas fontes de energia do 
comportamento e os fatores propulsores da personalidade. De acordo com sua teoria, os instintos 
não só impulsionam o comportamento como também determinam a direção que o mesmo irá 
tomar.
          Na   perspectiva   freudiana,  desde   o   nascimento,   os  indivíduos   são   dotados   de   uma   base 
biologicamente instintual: instintos sexuais e instintos agressivos que, inconscientemente, motivam 
cada coisa que os seres humanos pensam, dizem ou fazem durante suas vidas. Esses instintos 
são expressos, ou seja, realizam sua tarefa, por uma forma de energia que Freud denominou de 
libido.
          Freud não se preocupou em saber quantos instintos existem, mas classificou­os em dois 
grandes grupos: instintos de vida e instintos de morte.
          Os   instintos   de   vida   servem   à   sobrevivência   do   homem   e   a   propagação   da   raça.   Por 
exemplo, a fome, a sede, a necessidade de contato sexual. Este último foi o instinto de vida no qual 
Freud prestou mais atenção.
          Os instintos de morte, ou instintos destrutivos, cumprem sua tarefa de forma menos visível e 
por isso são pouco conhecidos. Toda pessoa morre, o que levou Freud a pensar que a finalidade 
de toda vida é a morte. Convenceu­se, então, de que a pessoa tem, inconscientemente, o desejo 
de morrer. O impulso agressivo é um importante derivativo dos instintos de morte. A agressividade 
é a autodestruição que se desloca para objetos substitutivos. A Primeira Guerra Mundial convenceu 
Freud que a agressão era um motivo tão dominante quanto o sexo.


3.2  ­   TEORIA  TOPOGRÁFICA:  primeira   teoria  sobre   a   estrutura   do   aparelho   psíquico   ­  A 
teoria   topográfica,   também   chamada   por   alguns   autores   de  primeiro   tópico   da   estrutura   da 
personalidade, foi apresentada por Freud em sua obra “A interpretação dos sonhos”(1900), numa 
tentativa de  dividir a mente humana em três regiões:  INCONSCIENTE, PRÉ­CONSCIENTE e 
CONSCIENTE.


INCONSCIENTE ­ É a base de toda a vida psíquica, sendo os fenômenos conscientes apenas suas 
manifestações.   Refere­se   ao  conjunto   de   conteúdos   não   presentes   no   campo   atual   da 
consciência.
4

       Está   associado   à   forma   particular   de   atividade   mental   chamada,   por   Freud,  processo 
primário ou pensamento de processo primário,    característico de crianças pequenas ­ busca 
apenas a satisfação imediata dos desejos.
       O inconsciente contém idéias e afetos reprimidos e pode ser assim caracterizado:
       a) seus elementos não têm acesso à consciência e podem tornar­se conscientes somente 
através do pré­consciente, que os exclui por censura e repressão;
       b) as memórias, no inconsciente, perderam sua ligação com a expressão verbal. No entanto, 
quando as palavras são reaplicadas ao traço de memória esquecido, as memórias podem atingir, 
mais uma vez, a consciência;
       c) o conteúdo do inconsciente está limitado a desejos que procuram realização;
       d)  o inconsciente está  intimamente  relacionado  com  os instintos.  Nele estão  contidos  os 
representantes   e   derivativos   mentais   dos   impulsos   instintuais,   especialmente   os   derivativos   do 
instinto sexual.


PRÉ­CONSCIENTE ­ É o sistema onde permanecem os conteúdos que não estão na consciência 
momentaneamente mas que no momento seguinte podem estar. É acessível tanto ao inconsciente 
quanto     ao   consciente:   os   elementos   do   inconsciente   ganham   acesso   à   consciência   somente 
encadeando­se com palavras e atingindo o pré­consciente.
       Uma das funções do pré­consciente é manter a repressão ou censura dos desejos e das 
paixões.
       Está associado à forma particular de atividade mental denominada por Freud de processo 
secundário ou pensamento de processo secundário. Tem por objetivo evitar o desprazer, adiar 
a carga instintual e vincular a energia mental de acordo com as demandas da realidade externa e 
os preceitos ou valores morais do indivíduo. O processo secundário está ligado ao princípio da 
realidade que governa a maior parte de suas atividades.


CONSCIENTE ­  É uma espécie de órgão sensorial de atenção que opera em íntima associação 
com o pré­consciente. Segundo BOCK, FURTADO e TEIXEIRA (1995) o consciente “é o sistema 
do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do 
mundo   interior.   Na   consciência,   destaca­se   o   fenômeno   da   percepção   e,   principalmente,   a 
5

percepção do mundo exterior.”(p.70).  Por meio da atenção o indivíduo pode tornar­se consciente 
dos estímulos perceptuais do mundo externo, mas no interior do organismo apenas os elementos 
do pré­consciente penetram na consciência.
       Críticas sobre a incapacidade desta teoria responder a algumas características importantes 
do   conflito   mental,   bem   como   a   atribuição   de   processos   específicos   a   regiões   específicas   da 
mente, levaram Freud a abandoná­la. Partindo disto, Freud compreendeu que o mais importante é 
reconhecer se esses processos pertencem ao sistema primário (inconsciente) ou secundário (pré­
consciente).


       Alguns conceitos incluídos na teoria topográfica mantiveram sua utilidade, estes referem­se:
       ­ às condições do pensar primário ou secundário;
       ­ à importância fundamental da realização do desejo;
       ­ à tendência para regressão sob condições de frustração;
       ­ à existência do inconsciente dinâmico.


3.3     ­   TEORIA   ESTRUTURAL   DA   MENTE   ­  Entre   1920   e   1923,   Freud   remodela   a   teoria 
topográfica   e   introduz   o   que   alguns   autores   chamam   de  segundo   tópico   da   estrutura   da 
personalidade,  apresentando   três   sistemas   de   funcionamento   psíquico,  que   não   devem   ser 
considerados isoladamente mas que apresentam uma certa configuração própria: o ID, o 
EGO e o SUPEREGO.
       De   acordo   com   esta   teoria,   id,   ego   e   superego   interatuam   num   sistema   dinâmico,   mas 
possuem diferentes funções.


ID ­ É o reservatório da libido e está sob o domínio do processo primário, operando, portanto, 
de acordo com o  princípio do prazer, sem considerar a realidade. Pode ser comparado a um 
depósito de bateria que tem uma necessidade implacável de descarregar sua energia a partir do 
nascimento.
       Segundo AJURIAGUERRA (s. d.), o ID corresponde ao pólo das pulsões da personalidade. 
Se confunde com os sistemas inconscientes da primeira teoria do aparelho psíquico (topográfica), 
mas não é todo o inconsciente porque parte do ego e do superego são igualmente inconscientes. É 
6

a parte do inconsciente dos instintos primários, livre das formas e dos princípios que constituem o 
indivíduo social consciente.
        Não é atingido pelo tempo, nem afetado pelas contradições, ignora juízos de valor, o bem, o 
mal e a moral. Procura apenas a satisfação de suas necessidades instintivas, de acordo com 
o princípio do prazer. 
        Todas as atividades do id são inconscientes: não temos consciência de nossos instintos e de 
seus profundos efeitos sobre nosso comportamento.
        EGO ­ É o componente da personalidade que utiliza a percepção consciente, a inteligência, 
para   encontrar   prazer  no   mundo,   onde   as   necessidades     não   são   tipicamente   encontradas   ou 
requeridas.   De   acordo   com   BOCK,   FURTADO   e   TEIXEIRA   (1995),   o   ego   “é   o   sistema   que 
estabelece   o   equilíbrio   entre   as   exigências   do   id,   as   exigências   da   realidade   e   as   ‘ordens’   do 
superego”. (p. 72).
        O ego possui a tarefa de autopreservação, no que se refere a:
­ acontecimentos externos: ­ toma consciência dos estímulos e armazena experiências sobre eles 
                                       (memória);
        ­ evita estímulos muito fortes (fuga);
        ­ lida com estímulos moderados (adaptação);
        ­ aprende a realizar mudanças convenientes no mundo externo para seu próprio benefício 
                                       (atividade).
­ acontecimentos internos:  ­ controla as exigências dos instintos;
        ­ decide se deve autorizar satisfação;
        ­ adia essa satisfação para horas e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou suprime 
                                    inteiramente as excitações.
        Sendo assim, o ego procura levar as influências do mundo externo a um relacionamento 
com o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade.
        Na   visão   de   Freud,   gratificação   e   frustração   de   impulsos   e   necessidades   nos   primeiros 
meses de vida afetam o destino futuro do ego. A satisfação adequada das necessidades libidinais 
da criança pela mãe, ou pelo seu substituto, é criticamente importante. Uma certa quantidade de 
frustrações de impulsos na infância e na meninice é igualmente importante para o desenvolvimento 
do ego.
7

        O ego cumpre com algumas funções muito importantes, entre elas:
        ­ controle e regulação de impulsos instintivos;
        ­ relação com a realidade;
        ­ funções defensivas.


        SUPEREGO   ­  Está   relacionado   com   o   comportamento   moral,   baseado   em   padrões 
comportamentais   inconscientes   aprendidos   nos   primeiros   estágios   do   desenvolvimento 
psicossexual. O papel do superego é comparável ao de um juiz ou censor do ego. Sua ação se 
manifesta pela consciência moral, atitudes de autocrítica, proibição.
        O   superego   se   forma   pela   identificação   das   crianças   com   os   pais   idealizados   e, 
posteriormente, com a lei ou com a autoridade de que é depositário.
        Para Freud, a formação do superego é correlativa ao declínio do   complexo de Édipo. A 
criança, renunciando à satisfação de seus desejos edipianos, admitidos como proibidos, transforma 
sua carga afetiva sobre os pais em uma identificação com eles, interiorizando a proibição. O pai 
torna­se o  guia  moral  e qualquer ordem toma  por modelo  esta  proibição. De  acordo  com  esta 
perspectiva, o superego resulta, em grande parte, de uma introjeção dos superegos dos próprios 
pais.
        Assim como o id é regido pelo princípio do prazer e o ego pelo da realidade, o superego 
representa mais o ideal do que o real. Desempenha as seguintes funções:
        ­ inibir os impulsos do id;
        ­ persuadir o ego;
        ­ lutar pela perfeição.
        Ao   contrário   do   ego,  o   superego  não  somente   adia  a   gratificação   do   instinto,  mas   tenta 
bloqueá­lo permanentemente.
        O pensamento de Ludin (1977) parece ilustrar muito bem como se dá essa relação dinâmica 
entre os três elementos constitutivos da personalidade:


                               A personalidade funciona, normalmente, como uma unidade completa e 
                               não em três segmentos separados. De modo geral, podemos considerar 
                               o  id  como  componente   biológico  da   personalidade;   o  ego  como 
8

                              componente psicológico  e o  superego  como    componente social.” 
                              (p. 28)


4 ­  Mecanismos de defesa 
       Os mecanismos de defesa são funções do ego e, por definição, inconscientes. Podem ser 
definidos como  processos psíquicos cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador 
de angústia da percepção consciente. O ego, como sede da angústia, é mobilizado diante de um 
sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos repressores que impedirão a vivência de 
fatos dolorosos, os quais o organismo não está pronto para suportar. 
       Alguns mecanismos de defesa descritos por Freud:


4.1 ­ Repressão ­ é considerado, por alguns autores, o principal mecanismo de defesa, do qual se 
originam os demais. A repressão impede que pensamentos dolorosos ou reprimidos cheguem 
à   consciência.  Pode   operar   por   meio   da   exclusão   da   consciência,   daquilo   que   uma   vez   foi 
experienciado   a   nível   consciente,   ou   pode   frear   idéias   e   sentimentos   antes   de   atingirem   a 
consciência.


4.2 ­ Negação ­ defesa contra a realidade externa: ver e se recusar a reconhecer que o que viu, 
ouvir e se negar a reconhecer o que ouviu. Não perceber aspectos que nos magoariam ou que 
seriam perigosos para nós.


4.3 ­ Projeção ­ percepção dos próprios sentimentos e/ou atitudes em outra pessoa. Quando 
nos  sentimos  maus, ou  quando  um  evento  doloroso   é  de  nossa  responsabilidade,  tendemos  a 
projetá­lo   no   mundo   externo,   que   ao   nosso   ver   assumirá   as   características   daquilo   que   não 
podemos ver em nós mesmos.


4.4 ­ Racionalização ­ redução do desejo de um objeto pela depreciação de seu valor.


4.5 ­ Formação reativa ­  caracteriza­se por uma atitude ou hábito oposto ao desejo recalcado. 
Quando é bloqueada a satisfação de um impulso, este pode ser substituído por outro, oposto.
9



4.6 ­ Identificação ­  diante de sentimentos de inadequação, o sujeito internaliza características de 
alguém valorizado, passando a sentir­se como ele.
        A   identificação   é   um   processo   necessário   no   início   da   vida,   quando   a   criança   está 
assimilando o mundo, mas permanecer em identificações impede a aquisição de uma identidade 
própria.


4.7   ­   Regressão   ­  retorno   a   estágios   ou   fase   anterior   do   desenvolvimento   a   fim   d   evitar   as 
ansiedades ou hostilidades envolvidas no estágio atual. Incorporação de modelos abandonados 
anteriormente.


4.8 ­ Deslocamento ­ substituição propositada e inconsciente de um objeto por outro, no 
interesse   de   resolver   um   conflito.  Através   deste   mecanismo,   descarregamos   sentimentos 
acumulados, em geral sentimentos agressivos, em pessoas menos perigosas.


4.9 ­ Sublimação ­    gratificação de um impulso, cuja finalidade é preservada, mas cujo alvo ou 
objeto é convertido, de socialmente objetável em socialmente valorizado.
        A   sublimação   permite   que   os   instintos   sejam   canalizados,   ao   invés   de   represados   ou 
desviados. Os sentimentos são reconhecidos, modificados e dirigidos para a pessoa ou finalidade 
importante, resultando daí modesta satisfação instintual.


4.10   ­   Fixação   ­  implica   a   parada   do   comportamento   em   alguma   fase   do   processo   de 
desenvolvimento. A fixação pode abranger uma variedade de diferentes comportamentos sociais, 
emocionais ou intelectuais.
        É  preciso   ter  claro,  no  entanto,  que  fixação  é  diferente   de   regressão.  Na  regressão   o 
desenvolvimento se encaminhou no sentido de uma ação mais amadurecida, depois retrocedeu a 
um nível anterior. Na fixação o comportamento progride até um certo ponto e pára, em seguida.
10

4.11   ­   Somatização   ­  conversão   defensiva   de   derivativos   psíquicos   em   sintomas   corporais. 
Quando algum problema afeta o indivíduo, ou uma necessidade de adaptação, ele o transforma em 
uma dor, em um sintoma de doença.



  Todos os mecanismos de defesa possuem duas características em comum:
  ­ negam, falsificam ou distorcem a realidade;
  –   operam inconscientemente, sem que a pessoa se dê conta.



5 ­ ESTÁGIOS OU FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO


      Freud acreditava que a personalidade emergia gradualmente em uma progressão de estágios 
ou fases psicossexuais do desenvolvimento que podem ser assim esquematizados:
                                            oral
       ­ Estágios ou fases pré­genitais                anal
                                                       fálica
       ­ Estágio ou fase de latência
       ­ Estágio ou fase genital


5.1 ­ ESTÁGIO OU FASE ORAL ­ primeiros dezoito meses de vida.
       Estágio   mais   primitivo   do   desenvolvimento.   As   necessidades,   percepções   e   modos   de 
expressão do bebê estão concentrados na boca, lábios, língua e outros órgãos relacionados com a 
zona   oral.   Essas   sensações   orais   incluem   a   fome,   a   sede,   estimulações   táteis   prazeirosas 
evocadas pelo mamilo ou substituto (mamadeira, chupeta), todas relacionadas com a deglutição e 
satisfação oral.
       Esse   estágio   tem   por   objetivo   estabelecer   uma   dependência   confiante   nos   objetos   que 
proporcionam cuidado e apoio.
       Os impulsos orais consistem em dois elementos separados: libidinal e agressivo. O primeiro 
refere­se   à   deglutição   e   a   satisfação,   o   segundo   manifesta­se   na   ação   da   criança   de   morder, 
mastigar, cuspir e chorar.
11


        O êxito na resolução desta fase proporciona uma base na estruturação do caráter para a 
  capacidade de dar e receber sem excessiva dependência ou inveja, uma capacidade de confiar 
  nos outros com um sentimento de segurança, e com sentimentos de confiança e segurança 
  próprios.



5.2 ­ ESTÁGIO OU FASE ANAL ­ entre o primeiro e o terceiro ano de vida
        Este   estágio   é   ativado   pela   maturação   do   controle   neuromuscular   sobre   os   esfíncteres, 
especialmente o esfíncter anal, permitindo, assim, maior controle voluntário sobre a retenção ou 
expulsão das fezes.
        O erotismo anal refere­se ao prazer sexual no funcionamento anal, tanto na retenção como 
na apresentação destas como um presente aos pais. O sadismo anal refere­se a manifestações de 
desejos ligados à descarga das fezes como armas poderosas e destrutivas.
        É   um   período   de   esforços   por   independência   e   separação   da   dependência   dos   pais.   O 
objetivo do controle esfincteriano está unido às tentativas de autonomia e independência da criança 
sem medo ou vergonha da perda de controle.



        O êxito na resolução desta fase proporciona a base para o desenvolvimento de autonomia 
  pessoal, capacidade de independência e iniciativa pessoal, capacidade de autodeterminação.



5.3 ­ ESTÁGIO OU FASE FÁLICA ­ Começa em algum momento do terceiro ano e vai até o final 
do quinto ano, mais ou menos.
        Esta fase é caracterizada por um foco primário de interesse sexual, estimulação e excitação 
na   área   genital.   Segundo   Freud,   o   pênis   (ou   falo)   torna­se   o   órgão   de   principal   interesse   das 
crianças   de   ambos   os   sexos   e   a   falta   de   um   pênis   nas   fêmeas   é   considerada   evidência   de 
castração. Nesta etapa, o envolvimento e o conflito edípico são estabelecidos e consolidados.
        A fase fálica tem por objetivo concentrar o interesse erótico na área e nas funções genitais. 
Essa concentração estabelece os fundamentos para a identidade de gênero e serve para integrar 
os   resíduos   de   estágios   anteriores   numa   orientação   sexual   predominantemente   genital.   O 
12

estabelecimento   da   situação   edípica   é   essencial   para   o   desenvolvimento   de   identificações 
subseqüentes, que servirão de base para dimensões organizadoras do caráter.




       O êxito na resolução desta fase proporciona a formação de um senso de identidade sexual, 
sentimento de curiosidade sem embaraço, de iniciativa sem culpa, de um sentimento de domínio 
não apenas sobre pessoas e objetos do ambiente mas sobre os processos internos e os impulsos.


Complexo de Édipo ­ durante a fase fálica, a criança seleciona o genitor do sexo oposto como um 
objeto de amor. A criança desenvolve um intenso desejo de substituir o genitor do mesmo sexo e 
aprecia a afeição do genitor do sexo oposto.
       ­ Meninos ­ Para Freud, nos meninos o desenvolvimento das relações objetais durante esta 
fase é relativamente simples, em virtude do menino permanecer ligado a seu primeiro objeto, a 
mãe.
       Continua   o   interesse  pela   mãe   como  fonte   de  sustento  e   passa   a   desenvolver   um   forte 
interesse erótico pela mesma, bem como um desejo de possuí­la com exclusividade. Assim que o 
complexo de Édipo aparece, o menino começa a cortejar a mãe: compete com os/as irmãos/ãs 
pela afeição da mãe. Acima de tudo, porém, o menino quer eliminar seu arqui­rival: o marido da 
mãe, seu pai. A criança prevê uma represália por parte do pai e começa a sentir que, se continuar 
a demonstrar interesse sexual pela mãe, terá seu pênis retirado ­ complexo de castração.
       Confrontado com a ameaça da castração, especialmente vinda de seu pai, o menino deve 
renunciar   ao   seu   amor   edípico   pela   mãe.   Ele   então   identifica­se   com   o   pai   e   incorpora   as 
proibições do mesmo.
       ­ Meninas ­  Da mesma forma que o menino, a menina cria um vínculo inicial com a mãe 
como   fonte  de   sustento   de   suas  necessidades  vitais.  Mas,   ao  contrário   do   menino,   enfrenta   a 
incumbência de deslocar para o pai aquele vínculo primitivo a fim de preparar­se para seu futuro 
papel sexual.
       De   acordo   com   Freud,   surgem   diferenças   fundamentais   no   desenvolvimento   sexual   do 
menino e da menina quando esta descobre, durante o período fálico, que o clitóris que possui é 
inferior ao pênis. A menina reage a esta descoberta com intenso sentimento de perda e dano, bem 
13

como inveja do macho, isto é,  inveja do pênis. Neste ponto, a mãe, que fora anteriormente um 
objeto de amor, é responsabilizada por trazê­la ao mundo “menos equipada”. Quando descobre 
que a mãe também não tem pênis, sua inadequação torna­se ainda mais profunda. Numa tentativa 
de compensar essa inadequação, volta­se para o pai na esperança de que este lhe dê um pênis ou 
um bebê para substituir o pênis que falta. Isto é chamado complexo de Electra.
       O amor sexual da menina pelo pai diminui, mais tarde, visto seu fracasso em satisfazer suas 
demandas e o temor à censura da mãe.
       Esses  comportamentos, que  caracterizam o complexo de   Édipo e de Electra, vão sendo 
gradualmente reprimidos à medida que a criança reprime seus desejos   incestuosos e inicia sua 
identificação com o genitor do mesmo sexo.


5.4 ­  ESTÁGIO OU FASE DE LATÊNCIA ­ dos 5/6 anos aos 11/13 anos
       O declínio do complexo de Édipo marca a entrada no período de latência, no curso da qual o 
desenvolvimento   sexual   apresenta   um   período   de   interrupção   ou   repressão.   É   um   estágio   de 
relativa tranqüilidade ou inatividade do impulso sexual.
       A repressão vai se mostrar particularmente neste período, os mecanismos de identificação 
também se mostram muito ativos. Não podendo  suprimir um rival incômodo, a  criança  procura 
identificar­se com ele, o que é uma maneira de não perder de vista seu alvo edipiano de conquista 
do outro genitor, pois procuram agir como aquele que triunfou nesta conquista.
       Essa fase tem por objetivo a integração das identificações edípicas e a consolidação da 
identidade sexual e dos papéis sexuais. A relativa tranqüilidade e controle dos instintos sexuais 
permite o desenvolvimento do ego e o domínio de habilidades.



       O êxito na resolução desta fase proporciona a integração e consolidação de realizações 
  anteriores e do estabelecimento de padrões de funcionamento adaptativos decisivos. A criança 
  pode desenvolver um senso de diligência e capacidade para o domínio de objetos e conceitos 
  que lhe permita funcionar autonomamente e com senso de iniciativa, sem correr o risco de 
  fracasso   ou   derrota,   ou   de   um   sentimento   de   inferioridade.   Essas   importantes   realizações 
  precisam ser integradas como base para uma vida adulta de satisfação no trabalho e no amor.
14



5.5  ­ ESTÁGIO OU FASE GENITAL ­ começo da puberdade até a vida adulta
        A   maturação   fisiológica   dos   sistemas   de   funcionamento   genital   (sexual)   e   dos   sistemas 
glandulares que o acompanham leva a uma intensificação de impulsos. Esta intensificação provoca 
uma   regressão   na   organização   da   personalidade,   fazendo   reaparecer   conflitos   de   estágios 
anteriores   e   oferecendo   a   oportunidade   de   resolver   estes   conflitos   no   contexto   de   alcançar 
maturidade sexual e identidade adulta.
        Esta   fase   tem   por   objetivo   a   separação   final   da   dependência   e   do   vínculo   parental;   o 
estabelecimento   de   relações   de   objeto   heterossexuais   (nem   sempre),   não   incestuosas   e 
amadurecidas. Esta fase visa a obtenção de um sentimento de identidade individual amadurecido e 
a   aceitação   e   integração   de   um   conjunto   de   papéis   e   funções   adultas   que   permitam   novas 
integrações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais.




        A   resolução   e   a   integração   bem   sucedida   de   estágios   psicossexuais   anteriores,   na 
adolescência, a fase genital plena estabelece o estágio normal para uma personalidade totalmente 
madura com capacidade para uma plena e gratificante potência genital e um senso de identidade 
auto­integrado e consistente.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AJURIAGUERRA, J. de. Manual de psiquiatria infantil. 2. ed. rev. amp. Ed. Masson e Atheneu. s. 
   d.
BOCK,   Ana   Maria   B.,   FURTADO,   Odair,   TEIXEIRA,   Maria   de   Lourdes   T.  Psicologias:   uma 
   introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995.
KAPLAN, Harol, SADOCK, Benjamin.  Compêndio de psiquiatria dinâmica.  3. ed. Porto Alegre: 
   Artes Médicas, 1984.
LUNDIN, R. W. Personalidade; uma análise do comportamento. São Paulo: EPU, 1977.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE
FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISEFREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE
FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE09108303
 
Freud e a Psicanálise
Freud e a PsicanáliseFreud e a Psicanálise
Freud e a PsicanáliseBruno Carrasco
 
Diferentes abordagens da psicologia
Diferentes abordagens da psicologiaDiferentes abordagens da psicologia
Diferentes abordagens da psicologiaRita Cristiane Pavan
 
Freud e o Desenvolvimento Psicossexual
Freud e o Desenvolvimento PsicossexualFreud e o Desenvolvimento Psicossexual
Freud e o Desenvolvimento PsicossexualJorge Barbosa
 
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.Alexandre Simoes
 
Introdução à Psicologia: História da Psicologia
Introdução à Psicologia: História da PsicologiaIntrodução à Psicologia: História da Psicologia
Introdução à Psicologia: História da PsicologiaEdgard Lombardi
 
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPE
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPEAula sobre Psicanalise/Freud - FPE
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPERodrigo Castro
 
Os mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa Os mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa MandyNeres7
 
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund Freud
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund FreudPsicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund Freud
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund FreudIsabella Ruas
 
Psicanalise Ontem Psicanalise Hoje
Psicanalise Ontem Psicanalise HojePsicanalise Ontem Psicanalise Hoje
Psicanalise Ontem Psicanalise Hojeciacinco
 
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1Lampsi
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...Alexandre Simoes
 

Mais procurados (20)

FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE
FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISEFREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE
FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA PSICANÁLISE
 
Freud e a Psicanálise
Freud e a PsicanáliseFreud e a Psicanálise
Freud e a Psicanálise
 
Diferentes abordagens da psicologia
Diferentes abordagens da psicologiaDiferentes abordagens da psicologia
Diferentes abordagens da psicologia
 
Freud e o Desenvolvimento Psicossexual
Freud e o Desenvolvimento PsicossexualFreud e o Desenvolvimento Psicossexual
Freud e o Desenvolvimento Psicossexual
 
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.
Psicopatologia I - Aula 1: Introdução aos Conceitos da Psicopatologia.
 
Introdução à Psicologia: História da Psicologia
Introdução à Psicologia: História da PsicologiaIntrodução à Psicologia: História da Psicologia
Introdução à Psicologia: História da Psicologia
 
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPE
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPEAula sobre Psicanalise/Freud - FPE
Aula sobre Psicanalise/Freud - FPE
 
Freud e o inconsciente
Freud e o inconscienteFreud e o inconsciente
Freud e o inconsciente
 
Freud. slide
Freud. slideFreud. slide
Freud. slide
 
Os mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa Os mecanismos de defesa
Os mecanismos de defesa
 
Psicanálise Sigmund Freud
Psicanálise Sigmund Freud Psicanálise Sigmund Freud
Psicanálise Sigmund Freud
 
Personalidade - Teorias e Testes
Personalidade - Teorias e TestesPersonalidade - Teorias e Testes
Personalidade - Teorias e Testes
 
O que é a psicologia
O que é a psicologiaO que é a psicologia
O que é a psicologia
 
Sonhos
SonhosSonhos
Sonhos
 
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund Freud
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund FreudPsicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund Freud
Psicanálise - Estudo da Teoria de Sigmund Freud
 
Psicanalise Ontem Psicanalise Hoje
Psicanalise Ontem Psicanalise HojePsicanalise Ontem Psicanalise Hoje
Psicanalise Ontem Psicanalise Hoje
 
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1
I Curso de Psicopatologia da Lampsi - Aula 1
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
 
Artigo as Neuroses
 Artigo as Neuroses Artigo as Neuroses
Artigo as Neuroses
 
Suicídio: aspectos preventivos e TCC
Suicídio: aspectos preventivos e TCCSuicídio: aspectos preventivos e TCC
Suicídio: aspectos preventivos e TCC
 

Semelhante a Visão Geral Da Teoria Psicanalítica

Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfAna Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfJordanPrazeresFreita
 
Psicanli 111206083314-phpapp01
Psicanli 111206083314-phpapp01Psicanli 111206083314-phpapp01
Psicanli 111206083314-phpapp01L R
 
Piscicanálise 3 faifa
Piscicanálise 3 faifaPiscicanálise 3 faifa
Piscicanálise 3 faifa27101992
 
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp0127101992
 
Apostila historia do movimento psicanalitico
Apostila historia do movimento psicanaliticoApostila historia do movimento psicanalitico
Apostila historia do movimento psicanaliticoluizadell
 
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2guest83661f
 
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-227101992
 
Desenvolvimento emocional 09 2010
Desenvolvimento emocional 09 2010Desenvolvimento emocional 09 2010
Desenvolvimento emocional 09 2010Caio Grimberg
 
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   SlidesPsicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar SlidesValdeck Oliveira
 
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   SlidesPsicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slidesguest2e3f5d
 

Semelhante a Visão Geral Da Teoria Psicanalítica (20)

Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdfAna Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
Ana Mercês Bahia Bock & Outros - Psicologias (pdf)(rev).pdf
 
Cap 5 - Psicanalise.pdf
Cap 5 - Psicanalise.pdfCap 5 - Psicanalise.pdf
Cap 5 - Psicanalise.pdf
 
Teoria PsicanalíTica
Teoria PsicanalíTicaTeoria PsicanalíTica
Teoria PsicanalíTica
 
Psicanli 111206083314-phpapp01
Psicanli 111206083314-phpapp01Psicanli 111206083314-phpapp01
Psicanli 111206083314-phpapp01
 
Piscicanálise 3 faifa
Piscicanálise 3 faifaPiscicanálise 3 faifa
Piscicanálise 3 faifa
 
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01
Teoriapsicanaltica 090908145127-phpapp01
 
AULA FREUD.pdf
AULA FREUD.pdfAULA FREUD.pdf
AULA FREUD.pdf
 
Psicanalise
PsicanalisePsicanalise
Psicanalise
 
Apostila numinon 1
Apostila numinon 1Apostila numinon 1
Apostila numinon 1
 
Apostila historia do movimento psicanalitico
Apostila historia do movimento psicanaliticoApostila historia do movimento psicanalitico
Apostila historia do movimento psicanalitico
 
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2
Freud E A Psicanlise 1204326364108510 2
 
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2
Freud e-a-psicanlise-1204326364108510-2
 
Apresentaopsicanlise
ApresentaopsicanliseApresentaopsicanlise
Apresentaopsicanlise
 
Psicanálise
PsicanálisePsicanálise
Psicanálise
 
Desenvolvimento emocional 09 2010
Desenvolvimento emocional 09 2010Desenvolvimento emocional 09 2010
Desenvolvimento emocional 09 2010
 
Sigmund_FREUD .pdf
Sigmund_FREUD .pdfSigmund_FREUD .pdf
Sigmund_FREUD .pdf
 
Freud e o inconsciente
Freud e o inconscienteFreud e o inconsciente
Freud e o inconsciente
 
Bock psicanálise
Bock psicanáliseBock psicanálise
Bock psicanálise
 
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   SlidesPsicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
 
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   SlidesPsicologia Do Desenvolvimento Humano   Publicar   Slides
Psicologia Do Desenvolvimento Humano Publicar Slides
 

Mais de Andréa Forgiarni Cechin (13)

Quatro pilares
Quatro pilaresQuatro pilares
Quatro pilares
 
Educação para o século XX
Educação para o século XXEducação para o século XX
Educação para o século XX
 
Piage Completo
Piage CompletoPiage Completo
Piage Completo
 
Introdução - Psicologia da Educação
Introdução - Psicologia da EducaçãoIntrodução - Psicologia da Educação
Introdução - Psicologia da Educação
 
Hereditariedade X Ambiente
Hereditariedade X AmbienteHereditariedade X Ambiente
Hereditariedade X Ambiente
 
Os Neufredianos
Os NeufredianosOs Neufredianos
Os Neufredianos
 
Rogers
RogersRogers
Rogers
 
Personalidade
PersonalidadePersonalidade
Personalidade
 
Personalidade
PersonalidadePersonalidade
Personalidade
 
Neo
NeoNeo
Neo
 
Introdução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
 
Humanista
HumanistaHumanista
Humanista
 
Behaviorismo
BehaviorismoBehaviorismo
Behaviorismo
 

Visão Geral Da Teoria Psicanalítica

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PROFESSORA – ANDRÉA FORGIARINI CECHIN TEORIA PSICANALÍTICA 1 ­ Visão geral  A   psicanálise   é   uma   terapêutica   e   uma   teoria   cujos   fundamentos   foram  estabelecidos por Sigmund Freud. A teoria se modificou e se aperfeiçoou com o tempo,  em   função   dos   novos   conhecimentos   fornecidos   tanto   por   seu   fundador   quanto   por  seus discípulos. SIGMUND FREUD ­ pai da psicanálise  Sigmund Freud nasceu a 6 de maio de 1856, em Freiberg, Morávia (atualmente  Pribor, antiga Tchecoslováquia). Aos quatro anos foi para Viena, onde viveu até um ano  antes   da   sua  morte,   quando   foi   transferido   para   a   Inglaterra   devido   à  anexação   da  Áustria pelos nazistas. Morreu na Inglaterra em 1939. Decidido   a   ser   cientista,   Freud   matriculou­se   na   escola   de   medicina   da  Universidade de Viena em 1873, onde graduou­se oito anos depois. Nunca pensou em  clinicar   mas,   as   dificuldades   financeiras,   as   limitadas   oportunidades   de   progresso  acadêmico   para   um   judeu   e   as   necessidades   da   família,   forçaram­no   a   exercer   a  profissão. Seus estudos sobre a histeria foram as raízes da psicanálise. Esta, através  destes estudos, aparece como: Método de investigação PSICANÁLISE Técnica terapêutica Corpo de conhecimento científico Teoria
  • 2. 2 2 ­ Origem da psicanálise  A psicanálise tem origem na década de 1887 ­ 1897, quando Freud começou a estudar as  perturbações  de  seus pacientes histéricos.  No  início   contou  com  a  colaboração  de   um   médico  vienense chamado Joseph Breuer.  O   tratamento   de   uma   paciente   de   Breuer,   que   ficou  conhecida como “Anna O.”, e as comunicações que este fazia a Freud sobre o caso, foi um dos  fatores que levou ao desenvolvimento da psicanálise. Breuer, utilizando técnicas de hipnose e auto­ hipnose, fazia com que “Anna O.” verbalizasse emoções intensas que a perturbavam. Ao recordar,  juntamente com uma manifestação de afeto, as cenas e as circunstâncias sobre as quais aquelas  emoções haviam sido despertadas, desapareciam os sintomas histéricos. Os autores observaram que os sintomas histéricos individuais pareciam  desaparecer imediatamente quando o acontecimento que os provocara  era  claramente  recordado  pelo  paciente  e este conseguia  descrevê­lo  com o máximo de detalhes, acompanhando suas palavras com o devido  afeto. (KAPLAN, SADOCK, 1984, p. 106) Quando começou a clinicar, em 1887, Freud utilizou intensamente o método hipnótico. Com  o passar do tempo, percebeu que os efeitos benéficos desse tratamento eram transitórios: duravam  apenas enquanto o paciente permanecia em contato com o médico. A partir disso, Freud começou  a suspeitar que esses efeitos dependessem, de fato, da relação pessoal entre paciente e médico.  O êxito do método hipnótico, na visão de Freud, devia­se ao fato do/a paciente atuar seu amor pelo  médico:   sob   o   comando   do   médico   lembrava­se   de   suas   experiências   traumáticas   e   de   seus  sentimentos e parecia recuperar­se com  o propósito de agradá­lo. Freud   continuou   usando   a   hipnose,   quando   indicada,   até   aperfeiçoar   a  técnica   da  associação livre. A partir daí (1896), nunca mais utilizou o método hipnótico. Através do trabalho  com seus pacientes, por meio do método de associação livre, Freud delineou sua teoria.  Uma  fonte de informação importante foi a auto­análise realizada por Freud: a compreensão dos  anseios sexuais infantis em sua própria experiência sugeriu a Freud que esses fenômenos  não   estivessem   restritos   ao   desenvolvimento   patológico   da   neurose,   mas   que   pessoas  essencialmente normais pudessem sofrer experiências semelhantes. 3 ­ A estrutura da personalidade na psicanálise freudiana
  • 3. 3 3.1 – TEORIA DOS INSTINTOS ­  Para Freud, os instintos são as únicas fontes de energia do  comportamento e os fatores propulsores da personalidade. De acordo com sua teoria, os instintos  não só impulsionam o comportamento como também determinam a direção que o mesmo irá  tomar. Na   perspectiva   freudiana,  desde   o   nascimento,   os  indivíduos   são   dotados   de   uma   base  biologicamente instintual: instintos sexuais e instintos agressivos que, inconscientemente, motivam  cada coisa que os seres humanos pensam, dizem ou fazem durante suas vidas. Esses instintos  são expressos, ou seja, realizam sua tarefa, por uma forma de energia que Freud denominou de  libido. Freud não se preocupou em saber quantos instintos existem, mas classificou­os em dois  grandes grupos: instintos de vida e instintos de morte. Os   instintos   de   vida   servem   à   sobrevivência   do   homem   e   a   propagação   da   raça.   Por  exemplo, a fome, a sede, a necessidade de contato sexual. Este último foi o instinto de vida no qual  Freud prestou mais atenção. Os instintos de morte, ou instintos destrutivos, cumprem sua tarefa de forma menos visível e  por isso são pouco conhecidos. Toda pessoa morre, o que levou Freud a pensar que a finalidade  de toda vida é a morte. Convenceu­se, então, de que a pessoa tem, inconscientemente, o desejo  de morrer. O impulso agressivo é um importante derivativo dos instintos de morte. A agressividade  é a autodestruição que se desloca para objetos substitutivos. A Primeira Guerra Mundial convenceu  Freud que a agressão era um motivo tão dominante quanto o sexo. 3.2  ­   TEORIA  TOPOGRÁFICA:  primeira   teoria  sobre   a   estrutura   do   aparelho   psíquico   ­  A  teoria   topográfica,   também   chamada   por   alguns   autores   de  primeiro   tópico   da   estrutura   da  personalidade, foi apresentada por Freud em sua obra “A interpretação dos sonhos”(1900), numa  tentativa de  dividir a mente humana em três regiões:  INCONSCIENTE, PRÉ­CONSCIENTE e  CONSCIENTE. INCONSCIENTE ­ É a base de toda a vida psíquica, sendo os fenômenos conscientes apenas suas  manifestações.   Refere­se   ao  conjunto   de   conteúdos   não   presentes   no   campo   atual   da  consciência.
  • 4. 4 Está   associado   à   forma   particular   de   atividade   mental   chamada,   por   Freud,  processo  primário ou pensamento de processo primário,    característico de crianças pequenas ­ busca  apenas a satisfação imediata dos desejos. O inconsciente contém idéias e afetos reprimidos e pode ser assim caracterizado: a) seus elementos não têm acesso à consciência e podem tornar­se conscientes somente  através do pré­consciente, que os exclui por censura e repressão; b) as memórias, no inconsciente, perderam sua ligação com a expressão verbal. No entanto,  quando as palavras são reaplicadas ao traço de memória esquecido, as memórias podem atingir,  mais uma vez, a consciência; c) o conteúdo do inconsciente está limitado a desejos que procuram realização; d)  o inconsciente está  intimamente  relacionado  com  os instintos.  Nele estão  contidos  os  representantes   e   derivativos   mentais   dos   impulsos   instintuais,   especialmente   os   derivativos   do  instinto sexual. PRÉ­CONSCIENTE ­ É o sistema onde permanecem os conteúdos que não estão na consciência  momentaneamente mas que no momento seguinte podem estar. É acessível tanto ao inconsciente  quanto     ao   consciente:   os   elementos   do   inconsciente   ganham   acesso   à   consciência   somente  encadeando­se com palavras e atingindo o pré­consciente. Uma das funções do pré­consciente é manter a repressão ou censura dos desejos e das  paixões. Está associado à forma particular de atividade mental denominada por Freud de processo  secundário ou pensamento de processo secundário. Tem por objetivo evitar o desprazer, adiar  a carga instintual e vincular a energia mental de acordo com as demandas da realidade externa e  os preceitos ou valores morais do indivíduo. O processo secundário está ligado ao princípio da  realidade que governa a maior parte de suas atividades. CONSCIENTE ­  É uma espécie de órgão sensorial de atenção que opera em íntima associação  com o pré­consciente. Segundo BOCK, FURTADO e TEIXEIRA (1995) o consciente “é o sistema  do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do  mundo   interior.   Na   consciência,   destaca­se   o   fenômeno   da   percepção   e,   principalmente,   a 
  • 5. 5 percepção do mundo exterior.”(p.70).  Por meio da atenção o indivíduo pode tornar­se consciente  dos estímulos perceptuais do mundo externo, mas no interior do organismo apenas os elementos  do pré­consciente penetram na consciência. Críticas sobre a incapacidade desta teoria responder a algumas características importantes  do   conflito   mental,   bem   como   a   atribuição   de   processos   específicos   a   regiões   específicas   da  mente, levaram Freud a abandoná­la. Partindo disto, Freud compreendeu que o mais importante é  reconhecer se esses processos pertencem ao sistema primário (inconsciente) ou secundário (pré­ consciente). Alguns conceitos incluídos na teoria topográfica mantiveram sua utilidade, estes referem­se: ­ às condições do pensar primário ou secundário; ­ à importância fundamental da realização do desejo; ­ à tendência para regressão sob condições de frustração; ­ à existência do inconsciente dinâmico. 3.3     ­   TEORIA   ESTRUTURAL   DA   MENTE   ­  Entre   1920   e   1923,   Freud   remodela   a   teoria  topográfica   e   introduz   o   que   alguns   autores   chamam   de  segundo   tópico   da   estrutura   da  personalidade,  apresentando   três   sistemas   de   funcionamento   psíquico,  que   não   devem   ser  considerados isoladamente mas que apresentam uma certa configuração própria: o ID, o  EGO e o SUPEREGO. De   acordo   com   esta   teoria,   id,   ego   e   superego   interatuam   num   sistema   dinâmico,   mas  possuem diferentes funções. ID ­ É o reservatório da libido e está sob o domínio do processo primário, operando, portanto,  de acordo com o  princípio do prazer, sem considerar a realidade. Pode ser comparado a um  depósito de bateria que tem uma necessidade implacável de descarregar sua energia a partir do  nascimento. Segundo AJURIAGUERRA (s. d.), o ID corresponde ao pólo das pulsões da personalidade.  Se confunde com os sistemas inconscientes da primeira teoria do aparelho psíquico (topográfica),  mas não é todo o inconsciente porque parte do ego e do superego são igualmente inconscientes. É 
  • 6. 6 a parte do inconsciente dos instintos primários, livre das formas e dos princípios que constituem o  indivíduo social consciente. Não é atingido pelo tempo, nem afetado pelas contradições, ignora juízos de valor, o bem, o  mal e a moral. Procura apenas a satisfação de suas necessidades instintivas, de acordo com  o princípio do prazer.  Todas as atividades do id são inconscientes: não temos consciência de nossos instintos e de  seus profundos efeitos sobre nosso comportamento. EGO ­ É o componente da personalidade que utiliza a percepção consciente, a inteligência,  para   encontrar   prazer  no   mundo,   onde   as   necessidades     não   são   tipicamente   encontradas   ou  requeridas.   De   acordo   com   BOCK,   FURTADO   e   TEIXEIRA   (1995),   o   ego   “é   o   sistema   que  estabelece   o   equilíbrio   entre   as   exigências   do   id,   as   exigências   da   realidade   e   as   ‘ordens’   do  superego”. (p. 72). O ego possui a tarefa de autopreservação, no que se refere a: ­ acontecimentos externos: ­ toma consciência dos estímulos e armazena experiências sobre eles  (memória); ­ evita estímulos muito fortes (fuga); ­ lida com estímulos moderados (adaptação); ­ aprende a realizar mudanças convenientes no mundo externo para seu próprio benefício  (atividade). ­ acontecimentos internos:  ­ controla as exigências dos instintos; ­ decide se deve autorizar satisfação; ­ adia essa satisfação para horas e circunstâncias favoráveis no mundo externo ou suprime  inteiramente as excitações. Sendo assim, o ego procura levar as influências do mundo externo a um relacionamento  com o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade. Na   visão   de   Freud,   gratificação   e   frustração   de   impulsos   e   necessidades   nos   primeiros  meses de vida afetam o destino futuro do ego. A satisfação adequada das necessidades libidinais  da criança pela mãe, ou pelo seu substituto, é criticamente importante. Uma certa quantidade de  frustrações de impulsos na infância e na meninice é igualmente importante para o desenvolvimento  do ego.
  • 7. 7 O ego cumpre com algumas funções muito importantes, entre elas: ­ controle e regulação de impulsos instintivos; ­ relação com a realidade; ­ funções defensivas. SUPEREGO   ­  Está   relacionado   com   o   comportamento   moral,   baseado   em   padrões  comportamentais   inconscientes   aprendidos   nos   primeiros   estágios   do   desenvolvimento  psicossexual. O papel do superego é comparável ao de um juiz ou censor do ego. Sua ação se  manifesta pela consciência moral, atitudes de autocrítica, proibição. O   superego   se   forma   pela   identificação   das   crianças   com   os   pais   idealizados   e,  posteriormente, com a lei ou com a autoridade de que é depositário. Para Freud, a formação do superego é correlativa ao declínio do   complexo de Édipo. A  criança, renunciando à satisfação de seus desejos edipianos, admitidos como proibidos, transforma  sua carga afetiva sobre os pais em uma identificação com eles, interiorizando a proibição. O pai  torna­se o  guia  moral  e qualquer ordem toma  por modelo  esta  proibição. De  acordo  com  esta  perspectiva, o superego resulta, em grande parte, de uma introjeção dos superegos dos próprios  pais. Assim como o id é regido pelo princípio do prazer e o ego pelo da realidade, o superego  representa mais o ideal do que o real. Desempenha as seguintes funções: ­ inibir os impulsos do id; ­ persuadir o ego; ­ lutar pela perfeição. Ao   contrário   do   ego,  o   superego  não  somente   adia  a   gratificação   do   instinto,  mas   tenta  bloqueá­lo permanentemente. O pensamento de Ludin (1977) parece ilustrar muito bem como se dá essa relação dinâmica  entre os três elementos constitutivos da personalidade: A personalidade funciona, normalmente, como uma unidade completa e  não em três segmentos separados. De modo geral, podemos considerar  o  id  como  componente   biológico  da   personalidade;   o  ego  como 
  • 8. 8 componente psicológico  e o  superego  como    componente social.”  (p. 28) 4 ­  Mecanismos de defesa  Os mecanismos de defesa são funções do ego e, por definição, inconscientes. Podem ser  definidos como  processos psíquicos cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador  de angústia da percepção consciente. O ego, como sede da angústia, é mobilizado diante de um  sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos repressores que impedirão a vivência de  fatos dolorosos, os quais o organismo não está pronto para suportar.  Alguns mecanismos de defesa descritos por Freud: 4.1 ­ Repressão ­ é considerado, por alguns autores, o principal mecanismo de defesa, do qual se  originam os demais. A repressão impede que pensamentos dolorosos ou reprimidos cheguem  à   consciência.  Pode   operar   por   meio   da   exclusão   da   consciência,   daquilo   que   uma   vez   foi  experienciado   a   nível   consciente,   ou   pode   frear   idéias   e   sentimentos   antes   de   atingirem   a  consciência. 4.2 ­ Negação ­ defesa contra a realidade externa: ver e se recusar a reconhecer que o que viu,  ouvir e se negar a reconhecer o que ouviu. Não perceber aspectos que nos magoariam ou que  seriam perigosos para nós. 4.3 ­ Projeção ­ percepção dos próprios sentimentos e/ou atitudes em outra pessoa. Quando  nos  sentimos  maus, ou  quando  um  evento  doloroso   é  de  nossa  responsabilidade,  tendemos  a  projetá­lo   no   mundo   externo,   que   ao   nosso   ver   assumirá   as   características   daquilo   que   não  podemos ver em nós mesmos. 4.4 ­ Racionalização ­ redução do desejo de um objeto pela depreciação de seu valor. 4.5 ­ Formação reativa ­  caracteriza­se por uma atitude ou hábito oposto ao desejo recalcado.  Quando é bloqueada a satisfação de um impulso, este pode ser substituído por outro, oposto.
  • 9. 9 4.6 ­ Identificação ­  diante de sentimentos de inadequação, o sujeito internaliza características de  alguém valorizado, passando a sentir­se como ele. A   identificação   é   um   processo   necessário   no   início   da   vida,   quando   a   criança   está  assimilando o mundo, mas permanecer em identificações impede a aquisição de uma identidade  própria. 4.7   ­   Regressão   ­  retorno   a   estágios   ou   fase   anterior   do   desenvolvimento   a   fim   d   evitar   as  ansiedades ou hostilidades envolvidas no estágio atual. Incorporação de modelos abandonados  anteriormente. 4.8 ­ Deslocamento ­ substituição propositada e inconsciente de um objeto por outro, no  interesse   de   resolver   um   conflito.  Através   deste   mecanismo,   descarregamos   sentimentos  acumulados, em geral sentimentos agressivos, em pessoas menos perigosas. 4.9 ­ Sublimação ­    gratificação de um impulso, cuja finalidade é preservada, mas cujo alvo ou  objeto é convertido, de socialmente objetável em socialmente valorizado. A   sublimação   permite   que   os   instintos   sejam   canalizados,   ao   invés   de   represados   ou  desviados. Os sentimentos são reconhecidos, modificados e dirigidos para a pessoa ou finalidade  importante, resultando daí modesta satisfação instintual. 4.10   ­   Fixação   ­  implica   a   parada   do   comportamento   em   alguma   fase   do   processo   de  desenvolvimento. A fixação pode abranger uma variedade de diferentes comportamentos sociais,  emocionais ou intelectuais. É  preciso   ter  claro,  no  entanto,  que  fixação  é  diferente   de   regressão.  Na  regressão   o  desenvolvimento se encaminhou no sentido de uma ação mais amadurecida, depois retrocedeu a  um nível anterior. Na fixação o comportamento progride até um certo ponto e pára, em seguida.
  • 10. 10 4.11   ­   Somatização   ­  conversão   defensiva   de   derivativos   psíquicos   em   sintomas   corporais.  Quando algum problema afeta o indivíduo, ou uma necessidade de adaptação, ele o transforma em  uma dor, em um sintoma de doença. Todos os mecanismos de defesa possuem duas características em comum: ­ negam, falsificam ou distorcem a realidade; – operam inconscientemente, sem que a pessoa se dê conta. 5 ­ ESTÁGIOS OU FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO Freud acreditava que a personalidade emergia gradualmente em uma progressão de estágios  ou fases psicossexuais do desenvolvimento que podem ser assim esquematizados: oral ­ Estágios ou fases pré­genitais anal fálica ­ Estágio ou fase de latência ­ Estágio ou fase genital 5.1 ­ ESTÁGIO OU FASE ORAL ­ primeiros dezoito meses de vida. Estágio   mais   primitivo   do   desenvolvimento.   As   necessidades,   percepções   e   modos   de  expressão do bebê estão concentrados na boca, lábios, língua e outros órgãos relacionados com a  zona   oral.   Essas   sensações   orais   incluem   a   fome,   a   sede,   estimulações   táteis   prazeirosas  evocadas pelo mamilo ou substituto (mamadeira, chupeta), todas relacionadas com a deglutição e  satisfação oral. Esse   estágio   tem   por   objetivo   estabelecer   uma   dependência   confiante   nos   objetos   que  proporcionam cuidado e apoio. Os impulsos orais consistem em dois elementos separados: libidinal e agressivo. O primeiro  refere­se   à   deglutição   e   a   satisfação,   o   segundo   manifesta­se   na   ação   da   criança   de   morder,  mastigar, cuspir e chorar.
  • 11. 11 O êxito na resolução desta fase proporciona uma base na estruturação do caráter para a  capacidade de dar e receber sem excessiva dependência ou inveja, uma capacidade de confiar  nos outros com um sentimento de segurança, e com sentimentos de confiança e segurança  próprios. 5.2 ­ ESTÁGIO OU FASE ANAL ­ entre o primeiro e o terceiro ano de vida Este   estágio   é   ativado   pela   maturação   do   controle   neuromuscular   sobre   os   esfíncteres,  especialmente o esfíncter anal, permitindo, assim, maior controle voluntário sobre a retenção ou  expulsão das fezes. O erotismo anal refere­se ao prazer sexual no funcionamento anal, tanto na retenção como  na apresentação destas como um presente aos pais. O sadismo anal refere­se a manifestações de  desejos ligados à descarga das fezes como armas poderosas e destrutivas. É   um   período   de   esforços   por   independência   e   separação   da   dependência   dos   pais.   O  objetivo do controle esfincteriano está unido às tentativas de autonomia e independência da criança  sem medo ou vergonha da perda de controle. O êxito na resolução desta fase proporciona a base para o desenvolvimento de autonomia  pessoal, capacidade de independência e iniciativa pessoal, capacidade de autodeterminação. 5.3 ­ ESTÁGIO OU FASE FÁLICA ­ Começa em algum momento do terceiro ano e vai até o final  do quinto ano, mais ou menos. Esta fase é caracterizada por um foco primário de interesse sexual, estimulação e excitação  na   área   genital.   Segundo   Freud,   o   pênis   (ou   falo)   torna­se   o   órgão   de   principal   interesse   das  crianças   de   ambos   os   sexos   e   a   falta   de   um   pênis   nas   fêmeas   é   considerada   evidência   de  castração. Nesta etapa, o envolvimento e o conflito edípico são estabelecidos e consolidados. A fase fálica tem por objetivo concentrar o interesse erótico na área e nas funções genitais.  Essa concentração estabelece os fundamentos para a identidade de gênero e serve para integrar  os   resíduos   de   estágios   anteriores   numa   orientação   sexual   predominantemente   genital.   O 
  • 12. 12 estabelecimento   da   situação   edípica   é   essencial   para   o   desenvolvimento   de   identificações  subseqüentes, que servirão de base para dimensões organizadoras do caráter. O êxito na resolução desta fase proporciona a formação de um senso de identidade sexual,  sentimento de curiosidade sem embaraço, de iniciativa sem culpa, de um sentimento de domínio  não apenas sobre pessoas e objetos do ambiente mas sobre os processos internos e os impulsos. Complexo de Édipo ­ durante a fase fálica, a criança seleciona o genitor do sexo oposto como um  objeto de amor. A criança desenvolve um intenso desejo de substituir o genitor do mesmo sexo e  aprecia a afeição do genitor do sexo oposto. ­ Meninos ­ Para Freud, nos meninos o desenvolvimento das relações objetais durante esta  fase é relativamente simples, em virtude do menino permanecer ligado a seu primeiro objeto, a  mãe. Continua   o   interesse  pela   mãe   como  fonte   de  sustento  e   passa   a   desenvolver   um   forte  interesse erótico pela mesma, bem como um desejo de possuí­la com exclusividade. Assim que o  complexo de Édipo aparece, o menino começa a cortejar a mãe: compete com os/as irmãos/ãs  pela afeição da mãe. Acima de tudo, porém, o menino quer eliminar seu arqui­rival: o marido da  mãe, seu pai. A criança prevê uma represália por parte do pai e começa a sentir que, se continuar  a demonstrar interesse sexual pela mãe, terá seu pênis retirado ­ complexo de castração. Confrontado com a ameaça da castração, especialmente vinda de seu pai, o menino deve  renunciar   ao   seu   amor   edípico   pela   mãe.   Ele   então   identifica­se   com   o   pai   e   incorpora   as  proibições do mesmo. ­ Meninas ­  Da mesma forma que o menino, a menina cria um vínculo inicial com a mãe  como   fonte  de   sustento   de   suas  necessidades  vitais.  Mas,   ao  contrário   do   menino,   enfrenta   a  incumbência de deslocar para o pai aquele vínculo primitivo a fim de preparar­se para seu futuro  papel sexual. De   acordo   com   Freud,   surgem   diferenças   fundamentais   no   desenvolvimento   sexual   do  menino e da menina quando esta descobre, durante o período fálico, que o clitóris que possui é  inferior ao pênis. A menina reage a esta descoberta com intenso sentimento de perda e dano, bem 
  • 13. 13 como inveja do macho, isto é,  inveja do pênis. Neste ponto, a mãe, que fora anteriormente um  objeto de amor, é responsabilizada por trazê­la ao mundo “menos equipada”. Quando descobre  que a mãe também não tem pênis, sua inadequação torna­se ainda mais profunda. Numa tentativa  de compensar essa inadequação, volta­se para o pai na esperança de que este lhe dê um pênis ou  um bebê para substituir o pênis que falta. Isto é chamado complexo de Electra. O amor sexual da menina pelo pai diminui, mais tarde, visto seu fracasso em satisfazer suas  demandas e o temor à censura da mãe. Esses  comportamentos, que  caracterizam o complexo de   Édipo e de Electra, vão sendo  gradualmente reprimidos à medida que a criança reprime seus desejos   incestuosos e inicia sua  identificação com o genitor do mesmo sexo. 5.4 ­  ESTÁGIO OU FASE DE LATÊNCIA ­ dos 5/6 anos aos 11/13 anos O declínio do complexo de Édipo marca a entrada no período de latência, no curso da qual o  desenvolvimento   sexual   apresenta   um   período   de   interrupção   ou   repressão.   É   um   estágio   de  relativa tranqüilidade ou inatividade do impulso sexual. A repressão vai se mostrar particularmente neste período, os mecanismos de identificação  também se mostram muito ativos. Não podendo  suprimir um rival incômodo, a  criança  procura  identificar­se com ele, o que é uma maneira de não perder de vista seu alvo edipiano de conquista  do outro genitor, pois procuram agir como aquele que triunfou nesta conquista. Essa fase tem por objetivo a integração das identificações edípicas e a consolidação da  identidade sexual e dos papéis sexuais. A relativa tranqüilidade e controle dos instintos sexuais  permite o desenvolvimento do ego e o domínio de habilidades. O êxito na resolução desta fase proporciona a integração e consolidação de realizações  anteriores e do estabelecimento de padrões de funcionamento adaptativos decisivos. A criança  pode desenvolver um senso de diligência e capacidade para o domínio de objetos e conceitos  que lhe permita funcionar autonomamente e com senso de iniciativa, sem correr o risco de  fracasso   ou   derrota,   ou   de   um   sentimento   de   inferioridade.   Essas   importantes   realizações  precisam ser integradas como base para uma vida adulta de satisfação no trabalho e no amor.
  • 14. 14 5.5  ­ ESTÁGIO OU FASE GENITAL ­ começo da puberdade até a vida adulta A   maturação   fisiológica   dos   sistemas   de   funcionamento   genital   (sexual)   e   dos   sistemas  glandulares que o acompanham leva a uma intensificação de impulsos. Esta intensificação provoca  uma   regressão   na   organização   da   personalidade,   fazendo   reaparecer   conflitos   de   estágios  anteriores   e   oferecendo   a   oportunidade   de   resolver   estes   conflitos   no   contexto   de   alcançar  maturidade sexual e identidade adulta. Esta   fase   tem   por   objetivo   a   separação   final   da   dependência   e   do   vínculo   parental;   o  estabelecimento   de   relações   de   objeto   heterossexuais   (nem   sempre),   não   incestuosas   e  amadurecidas. Esta fase visa a obtenção de um sentimento de identidade individual amadurecido e  a   aceitação   e   integração   de   um   conjunto   de   papéis   e   funções   adultas   que   permitam   novas  integrações adaptativas dentro das expectativas sociais e dos valores culturais. A   resolução   e   a   integração   bem   sucedida   de   estágios   psicossexuais   anteriores,   na  adolescência, a fase genital plena estabelece o estágio normal para uma personalidade totalmente  madura com capacidade para uma plena e gratificante potência genital e um senso de identidade  auto­integrado e consistente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AJURIAGUERRA, J. de. Manual de psiquiatria infantil. 2. ed. rev. amp. Ed. Masson e Atheneu. s.  d. BOCK,   Ana   Maria   B.,   FURTADO,   Odair,   TEIXEIRA,   Maria   de   Lourdes   T.  Psicologias:   uma  introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995. KAPLAN, Harol, SADOCK, Benjamin.  Compêndio de psiquiatria dinâmica.  3. ed. Porto Alegre:  Artes Médicas, 1984. LUNDIN, R. W. Personalidade; uma análise do comportamento. São Paulo: EPU, 1977.