1. Jornal
O Bandeirante
Ano XVIII - no 211 - junho de 2010
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
Solidão, Sobrames – SP e Alfredos
“Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades.
A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto.”
Francis Bacon (1561-1626), filósofo e ensaísta britânico.
Helio Begliomini
Médico urologista
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
O poeta, assim como o escritor generis do escritor? Há tanta gente sozinha / que a gente mal
lato sensu, é um ser usualmente A resposta parece difícil, pois advinha: / Gente sem brilho no olhar, /
solitário. Vive sua arte muitas vezes dependerá do contexto em que se gente sem mão para dar, / gente a que
no anonimato, fechado em si mesmo, encontra aquele(a) que faz da arte de basta um olhar, / (quase nada)... / gente
na clandestinidade do dia e da noite, escrever a sua faina, a sua fuga, a sua com os olhos no chão, / sempre pedindo
aparentemente alheio a tudo e a terapia, a sua realização. perdão, / gente que a gente não vê /
todos. Esse fenômeno também ocorre Com certeza, a Sobrames – SP porque é quase nada...”
paradoxalmente nas megalópoles, tem-se constituído num areópago Morrer já é algo trágico. Matar-
onde, devido ao contingente enorme de baixíssimo custo e de deleitantes se muito mais e, tristemente de
de seus habitantes, deveria haver, tertúlias para seus participantes solidão, pois vai necessariamente
por si mesmo, mais contato, mais quer nas apresentações orais, contra o maior de todos os nossos
convívio, mais reciprocidade e mais quer nas consignadas através de instintos, o da sobrevivência, que em
solidariedade. seu tradicional informativo O condições normais é heroicamente
Essa constatação não é tão recente Bandeirante. Quem dela costuma insuperável.
assim. Já o grande vate Carlos fazer parte observa que, ao menos, A letra prossegue narrando um
Drummond de Andrade, em 1941, o isolamento e a depressiva solidão bilhete colocado pelo suicida, no qual
queixava-se de estar numa noite sem do(a) escritor(a) serão abrandados, expressava seu cansaço de viver. E na
amigos, de estar solitário, ou quase, pois sempre ele(ela) terá um fórum sequência do poema desenrola-se o
se não fosse uma borboleta que no qual possa apresentar seus drama: “Eu sempre o cumprimentava /
circulava renitente em torno de uma trabalhos e exteriorizar os mais porque parecia bom / ‘um homem por trás
lâmpada acesa, que ele a denominou belos sentimentos que burilam em dos óculos’, / como diria Drummond. / E
de “bruxa”, mesmo nome dado ao sua alma, fazendo não somente num velho papel de embrulho / deixou
seu poema: “Nesta cidade do Rio / De uma catarse de seus anseios, como um bilhete seu, / dizendo que se matava /
dois milhões de habitantes / Estou sozinho também propiciando momentos de de cansado de viver. / E embaixo assinado
no quarto / Estou sozinho na América.” inexprimível interação entre seus ‘Alfredo’ / mas ninguém sabe de quê...”
Entretanto, o estar sozinho pares, todos prenhes da mesma Contudo, depreende-se que
perpassa o tempo, os espaços, e as voluptuosa necessidade de escrever. apesar da proximidade e do contato,
gerações dos escribas. Tudo parece Em nossa estimada Sobrames – o vizinho provavelmente era um
girar num círculo vicioso, sem SP não há espaço para que a solidão despercebido seu e, certamente,
começo e sem fim. A solidão seria reine no coração de nossos escritores, desapercebido do carinho de
em si mesma uma das condições assim como consignado no poema de outrem, pois, ao final, o bilhete
indispensáveis do aparecimento de Vinícius de Moraes, que deu origem a simplesmente vinha assinado:
musas inspiradoras aos escritores, ou uma imortal cantiga intitulada “Um “Alfredo... mas ninguém sabe de quê...”
estes seriam figuras de personalidades homem chamado Alfredo”, cujos Em nossa querida Sobrames de
excêntricas que cultivariam sua arte versos são veementes: “O meu vizinho São Paulo, oásis cultural dentro de
ao sabor de um autoexílio, num do lado / se matou de solidão. / Ligou o uma selva de pedras cercada por
eremitério árido e longínquo em si gás, o coitado, / último gás do fogão / banditismos de todos os naipes
mesmo, que lhes dariam um misto de porque ninguém o queria, / ninguém lhe e dimensões inimagináveis, não
prazer e dor, verdadeira neoversão dava atenção, / porque ninguém mais lhe existe lugar para Alfredos e nem
de um sadomasoquismo literário? abria / as portas do coração. / Levou com para solidões. Os seus participantes
Seria essa a sina incoercivelmente sui ele seu louro / e um gato de estimação. / sabem muito bem disso.
2. 2 O BANDEIRANTE - Junho de 2010
Chegamos ao mês de junho, trazendo todos os ecos
EXPEDIENTE
do XXIII Congresso Nacional da Sobrames, na cidade
Jornal O Bandeirante
ANO XVIII - no 211 - Junho 2010
de Ouro Preto. Não dá para sentar com os colegas sobra-
mistas sem falar da receptividade, do carinho acolhedor,
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos
de tantos novos amigos e tantos conhecimentos adqui-
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES- ridos. Além do Congresso, Ouro Preto, Mariana e todo
SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000
- Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 /
o circuito do ciclo do ouro são lições vivas de história do
3062-3604 Editores: Carlos A. F. Galvão, Roberto A. Brasil, com suas casas e seus telhados, igrejas, oratórios,
Aniche. Jornalista Responsável e revisora: Ligia Terezinha
Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta edição:
senzalas convertidas em restaurantes, as pessoas na rua
Alcione Alcântara Gonçalves, Carlos Roberto Ferriani, Helio sorrindo. É realmente outro mundo.
Begliomini, Josyanne Rita de Arruda Franco, Leopoldo
Lopes, Márcia Etelli Coelho, Luiz Jorge Ferreira e Walter Nas salas do Congresso, a presença maciça dos sobra-
Harris.Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e
mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. mistas de todo o Brasil, trabalhos da mais alta qualidade
Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio nos brindaram com mais conhecimento, nos contos e
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda crônicas ou nas delicadas linhas das poesias. Mas todo evento dessa natureza
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. infelizmente tem sua parte triste: foi só um fim de semana...
Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo-
Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Carlos Augusto F. Galvão
Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo Roberto Antonio Aniche
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
Editores
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
O Malho
autores e não representam, necessariamente, a
opinião da Sobrames-SP
Editores de O Bandeirante Um grande bocejo, enfado, malemolência. Assim pode ser resumida a Pizza
Literária de maio. Inicialmente anúncios, muitos anúncios... tudo bem que são
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 importantes, mas que sejam resumidos. Depois, e aqui não vai nenhuma crítica
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 à obra literária em si, trabalhos intermináveis. Lê-los gostosamente sentado
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
e aconchegado é uma coisa, agora, ficar até 20 minutos ouvindo uma pessoa
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 declamar cinco laudas datilografadas... ninguém merece por mais bela que seja
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - janeiro 2010 - a peça. O Malho aqui implora aos colegas que atentem. Nossa Pizza Literária é
para textos curtos e aí seu principal tempero: entreter, encantar e intrigar, mas
Presidentes da Sobrames – SP
em poucas linhas.
1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006)
o
2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010) O Congresso de Ouro Preto enfrentou o mesmo problema. Houve colegas que
3o Carlos Luiz Campana (1994-1996) impingiram textos de mais de vinte minutos, prejudicando o horário de outros
4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
5o Walter Whitton Harris (1999-2000)
apresentadores. Atenção, Curitiba: tesoura neles!
6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
7o Luiz Giovani (2003-2004)
Walter Whitton Harris
8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ortopedia e Traumatologia Geral
Editores: Carlos A. F. Galvão, Roberto A. Aniche
CRM 18317
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Av. República do Líbano, 344 Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3
Diagramação: Mateus Marins Cardoso 04502-000 - São Paulo - SP Cidade Universitária - Campinas (19) 3579-3833
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica Tel. 3885 8535 www.veridistec.com.br
Cel. 9932 5098
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Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
Mastologia
“O Bandeirante” R. Costa Rego, 29 - V. Guilhermina - CEP 03542-030 - São Paulo - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2010 3
Notícias
Agradecimentos
A SOBRAMES de São Paulo agradece à Senhora Mara Costa Santos, advogada e contadora, proprietária da A.I.C.
Contadoria, que gentilmente nos ofertou as magníficas pastas distribuídas aos participantes da X Jornada Médico-
Literária Paulista, da V Jornada Nacional da Sobrames e da VI Sobramíada, realizadas de 17 a 19 de setembro p.p.
em São Paulo.
A A.I.C. é uma empresa de serviços contábeis e de auditoria situada na Rua Apinagés, 850 - Perdizes, tel. 3864-6477,
em São Paulo e cujo e-mail é: apoio@apoiaic.com.br. Há mais de 18 anos presta também assessoria jurídica, tributária
e fiscal. Em abril de 2009, conquistou o certificado do Programa de Qualidade de Empresas de Contabilidade – PQEC,
após um ano e meio de avaliações de todos os métodos e distribuição de tarefas, qualificação e capacitação de fun-
cionários e colaboradores, práticas legais e éticas no relacionamento com os clientes. Ao prestar também assessoria
patrimonial para pessoas físicas, a A.I.C. orgulha-se de ser uma das poucas especialistas, nessa área, em São Paulo.
À Dra. Mara, mais uma vez, nossos melhores agradecimentos e votos de sucesso e felicidades.
Lançamentos
Carlos Roberto Ferriani lançou em março o seu livro de poesias: “...Antes mesmo do sonho - Tempos poéticos”,
pela EDITORA INSTITUTO DO LIVRO DE RIBEIRÃO PRETO. Contatos com o autor através do seu e-mail:
crferriani@terra.com.br
A confreira Márcia Etelli Coelho lançou o livro OS APÓSTOLOS DO ZODÍACO na Casa das Rosas,
no mês de maio de 2010. O livro pode ser adquirido através dos sites:
www.asabeca.com.br
www.livrariacultura.com.br
Edital de Convocação
Assembleia Geral Ordinária
Ficam todos os membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo – Sobra-
mes-SP, convocados para a Assembleia Geral Ordinária que se realizará no dia 16 de setembro de 2010, na pizzaria
“Bonde Paulista”, situada na Rua Oscar Freire, 1.597, em São Paulo, às 20h00, em primeira convocação, com presença
de cinquenta por cento dos Membros Titulares, Acadêmicos e Colaboradores quites com a tesouraria da sociedade e
dos Membros Eméritos, Honorários e Beneméritos e, em segunda convocação, às 20h30, com qualquer número de
membros da Sobrames-SP, para deliberação sobre a seguinte pauta do dia: 1) Eleição da nova diretoria para o Biênio
2011-2012 e 2) Assuntos Gerais: inscritos com antecedência de 5 (cinco) dias.
Eleição de nova diretoria em setembro de 2010
No próximo dia 16 de setembro, serão realizadas as eleições para escolher a nova diretoria da regional paulista
da Sobrames, para o biênio 2011-2012.
De acordo com o Estatuto, podem candidatar-se os membros titulares, acadêmicos e colaboradores com mais de um
ano de filiação e quites com a tesouraria. As chapas deverão ser inscritas com antecedência de 45 dias (até o próximo
dia 7 de agosto) e deverão ser completas, contendo presidente e vice-presidente, primeiro e segundo tesoureiros,
primeiro e segundo secretários. Além desses cargos, deverão ser indicados três membros para compor o Conselho
Fiscal, com igual número de suplentes.
Nota: Os cargos de presidente e vice-presidente deverão, estatuariamente, ser preenchidos por médicos.
Helio Begliomini
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
4. 4 O BANDEIRANTE - Junho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Calçados e Calçadeiras
Walter Harris
NOS PRIMÓRDIOS DA HUMANIDADE, OS ANCESTRAIS DO HOMEM ANDAVAM DESCALÇOS. Foram
encontradas pegadas de hominídeos na Tanzânia, África, eternamente impressas em cinza vulcânica endurecida, já
em marcha bípede, datando de 3,5 milhões de anos atrás! Todavia, à medida que a espécie humana foi evoluindo, o
desconforto de se andar descalço foi lhe incomodando e ela procurou acomodar os pés com algum tipo de proteção.
O mais apropriado para os seres da Idade Antiga foi a pele de animais e isso perdurou por milênios, haja vista os
calçados do Homem de Gelo, cognominado de Otzi, descoberto após o degelo numa geleira dos Alpes do Tirol, entre
a Itália e Áustria, em 1991, e que vivera havia 5.300 anos.
Com o passar dos anos, os calçados foram evoluindo e começaram a tomar a forma de sandálias, tal qual as conhecemos
nos dias de hoje, apenas com modificações, materiais e acabamentos mais sofisticados. É muito recente, na nossa História,
o aparecimento de calçados fechados e foi com esses que, concomitantemente, surgiram as primeiras calçadeiras.
Até o século XVII, prevaleceram as botas e botinas, e a dificuldade de introduzir os pés nelas obrigou os sapateiros a
fendê-las na frente e fazer ilhoses para passar um cordão para fechá-las e, assim, estabilizar os pés dentro delas. O fato
de se introduzir um dedo na região posterior do calcanhar para ajudar a pôr o pé dentro do calçado fatalmente levou
alguém a querer usar um objeto mais fino que um dedo, de preferência em formato de lâmina, que foi o precursor das
calçadeiras. Na zona rural, um material que muito servia para isso e que possuía um formato côncavo ideal para se adaptar
ao calcanhar era o chifre de boi que, depois de cortado e lixado, facilitava muito para escorregar o calcanhar para dentro
da bota ou botina. Tanto é que o termo inglês para calçadeira é shoehorn, ou seja, shoe = calçado e horn = chifre.
Com o surgimento dos sapatos propriamente ditos, tanto os mocassins, que eram usados pelos índios da América
do Norte e adotados pelos europeus, como os sapatos de couro de amarrar, as calçadeiras se popularizaram. Hoje, os
materiais das calçadeiras são dos mais diversos, de metal, plástico, chifre e até de couro enrijecido.
É costume retirar os sapatos ao adentrar uma casa, principalmente em países de clima frio, para proteger o piso da
neve e da lama. Deve-se andar somente de meias, geralmente sobre carpetes e, em alguns lugares, oferecem-se chinelos
macios para usar. Geralmente, à porta de entrada, há um canto reservado para os calçados e, juntamente, um conjunto
com calçadeira e uma escova para limpar os sapatos. O que falta, muitas vezes, neste local, é exatamente aquele outro
objeto tão importante quando se usa esses apetrechos: uma cadeira ou banquinho para poder se sentar enquanto se põe
os calçados. No entanto, há calçadeiras apropriadas para se usar quando se está em pé, ou para quem não consegue
alcançar os pés por ter dificuldade para encurvar a coluna ou fletir os joelhos: são as calçadeiras de haste comprida.
Calçados nem sempre são tão confortáveis assim para as pessoas que os usam. Isso porque existe uma preocupação
maior, tal seja a moda, resultando em sapatos, botas e sandálias bonitos, mas às vezes pouco funcionais, ocasionando dores
e deformidades nos pés, em especial os femininos. Todavia, os calçados, na acepção ampla do termo, são peças funda-
mentais de nossa indumentária cotidiana e seu uso tornou-se tão indispensável quando o restante de nossas vestes.
Ufa que pariu!
Carlos Roberto Ferriani
...e lancei meu livro ... e deflorei meu crivo
ou ele foi que me lançou, ou ele foi que me “florou”,
tomado por únicos momentos. enfeitado por túmidos sentimentos.
... importa é que ele me ninou, ... porta do que me iluminou
ele me dormiu, ele me sonhou, do que me pariu, ou me criou,
... “antes mesmo do sonho” ... “antes mesmo do sonho”
Jamais terei, eu acho, Nunca serei, eu riacho,
outro assim. só pra mim
O primeiro é eterno, o último será inverno
antes do segundo, porém, antes mundo, também
manto igual, cativo... canto principal, adotivo...
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2010 5
O Melhor Combustível...
Leopoldo Lopes
O melhor combustível para o cérebro é o pó silencioso das madrugadas.
Valor agregado é o valor que os agregados do poder nos subtraem e, segundo eles, democraticamente.
Lula já entrou para a história e para coroar sua passagem pelo mundo só falta homenagear sua soberba modéstia
e entrar para um mausoléu.
Toda experiência adquirida em anos não é suficiente, quando dela precisamos para uma simples ereção.
Em moleque tive um amigo recém-chegado do interior e que me ensinou a fazer e usar o estilingue. Às tardes sa-
íamos em turma, matando os mais variados pássaros, quebrando luminárias públicas e algumas vidraças. Certa tarde
o amigo matou um beija-flor e a seguir abriu-lhe o peito a canivete, extraiu o minúsculo coração e o engoliu, segundo
ele, costume de sua terra para jamais perder a pontaria.
Carolice ingênua ou pérfida ironia, o fato de Amador Aguiar dar a seu conglomerado financeiro Bradesco o nome
de Cidade de Deus? (Deus me livre).
Parece coisa de criança a briga por energia nuclear à qual falta bom senso. Que todos tenham acesso a ela e façam
o uso que quiserem, sendo os primeiros a sofrerem represália se a usarem para a guerra. Simples assim.
Tornar a corrupção crime hediondo é promover a mais sofisticada tecnologia em disfarçá-la. Incentivar a ciência
é mais uma contribuição dos nossos notáveis dirigentes à felicidade popular.
E se eu morresse hoje, você choraria muito?
Que brincadeira mais idiota, não tem mais o que fazer?
Não, é sério, é que eu imagino como você se comportaria.
Depois de 30 anos juntos você ainda tem dúvidas?
Tenho.
Bem choraria muito, muito mesmo, lágrimas de crocodilo.
No dia seguinte saio para nunca mais voltar.
Fantasias
Alcione Alcântara Gonçalves
Fantasia é a insinuação do pensamento, Carnaval e Fantasias se casam,
Procurando compreender o firmamento; Em perfeita e estreita harmonia:
Porque se sabe, que o mundo, Do devaneio extravagante e criador,
É uma mistura de Fantasia e Realidade! À Realidade do excelso sonho transformador.
A Realidade desta vida nos mostra O homem vivencia naturalmente suas fantasias,
O que somos neste cenário material; Conscientes ou inconscientes, no seu dia a dia:
A Fantasia, como imaginação criadora, No lar, no seu trabalho habitual
Vivificou o Espírito, como a Centelha Divinal! E em festas, passeios, orgias ou bacanais!
No “Frisson” coletivo do carnaval, Tudo se mistura na vida do homem!
Vive o homem a Fantasia, como Realidade Carnal. Formando um caldo de cultura e aprendizagem,
Mas, na quarta-feira de cinzas, no seu final, Burilando o seu Eu e o seu Caráter,
Esta Realidade volta a ser a Fantasia Ficcional. Ensinando-o a distinguir as Fantasias, da Realidade !
6. 6 O BANDEIRANTE - Junho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Conto Natalino
Luiz Jorge Ferreira
El-Cid era meu cachorro magro que eu rebocava para todos os cantos aonde ia, e sempre o chamava com um
assovio, estranho que era para ele um chamado conhecido.
Os dois gatos malhados de louça e barro. Os bibelôs de cima da geladeira. Escutavam em silêncio.
A casa era um Circo, com as pulgas todas enjoadas com o cheiro do Detefon.
Meu objetivo é correr com ele para esperar a chuva chegar, é saber que os besouros perfumados do cheiro de caju
nos observavam atravessar a viela, de vez em quando um na frente do outro, um sempre mais faminto, outro quase
sempre mais malino, e os dois meio caninos e humanos.
Ontem eu correndo de olhos fechados derrubei um monte de roupa estendida em cordas esticadas no quintal de
D. Zaide.
Os pássaros pretos fizeram um barulhão.
El-Cid está no cio, adora namorar. Já quis namorar gaivotas brancas, borboletas vermelhas, urubus empoleira-
dos no cimo das árvores, na direção dos quais pulava, prometendo o céu. Só não teve vontade de namorar saúvas e
lagartos.
Um dia me segredou que achava a pulguinha que tem uma perna a menos, “uma coisinha fofa”.
Eu lhe disse: “ela está cheia do seu sangue, bobo”.
“Não faz mal”, respondeu. “Um pouco de ginástica ela seca”.
Um dia El Cid sumiu.
Eu o procurei por todos os cantos, por todas as ruas do bairro, debaixo dos tapetes, entre os estranhos, e até nas
páginas dos livros que costumávamos ler um ao lado do outro.
O gato malhado de barro, disse: “miau”.
O gato de louça, disse: “se foi, não vi”.
As pulgas subiram na minha roupa e começaram a discutir para onde ele poderia ter ido.
Coisa que criou em mim coceira e ao redor provocou ruídos.
Em dezembro quando fixaram nos postes retratos do Papai Noel puxado por seus pares de renas, então foi que
avistaram El-Cid, e vieram me avisar. Estava estampado na foto do Papai Noel reproduzida pela cidade. Estava atre-
lado ao trenó. Magreza ao vento. Correndo. Com certeza apaixonado pela última Rena. A mais gorda. Aquela que
parecia estar sorrindo.
Fantasias
Josyanne Rita de Arruda Franco
Fingir quem somos me envolve
no rolo de serpentina. Às vezes a vida é folia!
Três dias convidam, de novo, Confessa: nós somos atores. num arabesco de incertezas...
ao falso destino, ao engodo No palco de hostis dissabores, Estranhos que dizem “bom dia!”.
do brilho da purpurina. fingimos com galhardia. Quem sou eu? Não sei quem és!
Tens hoje os olhos sem pranto! Brincamos, na vã passarela, Colombina de alma presa
Os meus eu não saberia vestidos qual rei e princesa. que aguilhoa, ao seu dispor,
dizer se olhos castanhos, Sabemos no escuro do quarto o Arlequim da Tirolesa...
se horizonte enfadonho que mais que um leito entronado Carnaval 2010!
ou névoa de alguma mentira... nos falta a gentil realeza. Viva a Corte da Alegria!
Às vezes a vida engana. Assim vivemos a farsa: No baile de máscaras, lancemos perfume!
confetes que são picardias O enredo é de amor e ciúme...
Que vivam nossas fantasias!
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Junho de 2010 7
Notícias do Xxiii Congresso
Nacional da Sobrames
É com muito orgulho que apresentamos um pequeno espaço para as repercussões do
XXIII Congresso Nacional da Sobrames, realizado em Ouro Preto. Nesta primeira edi-
ção dentro de nosso O Bandeirante, publicamos a fotografia de todos os participantes,
exceção da confreira Márcia Etelli que, no momento da foto, não estava no local.
Dr. Carlos Augusto Galvão
Psiquiatria e Psicoterapia
Brilhante a iniciativa dos sobramistas mineiros, abrindo um espaço para os Acadê-
micos de Medicina, tornando o Congresso mais jovial, com textos belíssimos, originais, Rua Maestro Cardim, 517
escritos e apresentados por estudantes de vários Estados do Brasil. Parabéns, queridos Paraíso – Tel: 3541-2593
calouros, ser médico é compreender a poesia que existe em cada coração! Sejam sempre
bem-vindos às regionais da Sobrames e a todos os nossos Congressos e Jornadas!
A delegação paulista foi composta por 20 membros, a maior da história da regional PUBLICIDADE
num evento nacional! TABELA DE PREÇOS 2009
(valor do anúncio por edição)
1 módulo horizontal R$ 30,00
2 módulos horizontais R$ 60,00
3 módulos horizontais R$ 90,00
2 módulos verticais R$ 60,00
4 módulos R$ 120,00
6 módulos R$ 180,00
Outros tamanhos sob consulta
sobramessaopaulo@gmail.com
REVISÃO
de textos em geral
Ligia Pezzuto
Especialista em Língua Portuguesa
(11) 3864-4494 ou 8546-1725
ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
ADVOGADO - OAB-SP 51.532
Detalhes de São Paulo ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
O confrade Manlio Marco Mario Napoli presidiu mesa de apresentação de trabalhos
COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
e o confrade Helio Begliomini proferiu conferência sobre “Presença Médica nos Cem
ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
Anos da Academia Paulista de Letras”. A partir do próximo boletim, as duas últimas
TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224
páginas serão dedicadas aos textos dos paulistas ganhadores de prêmios.
A chapa “Libertas” eleita para o biênio 2011-2012 tem como suplente do Conselho
Fiscal o confrade Carlos Augusto Ferreira Galvão, e como vice-presidente do sudeste
Terminou de
Helio Begliomini. escrever seu
Da mesma forma houve um expressivo número de membros ganhadores de prêmios.
Seis membros receberam sete prêmios. No Concurso Ouro Minas (tema sobre o Rio
livro? Então
São Francisco) – categoria prosa: Roberto Antonio Aniche (3o lugar) com o trabalho publique!
“Eu não conheço o São Francisco”; categoria poesia: Nelson Jacintho (2o lugar) com
o poema “Velho Chico” e Márcia Etelli Coelho (1o lugar) com a poesia “São Tantos
Franciscos”. Nesta hora importante, não deixe de
No Concurso História da Medicina: Maria de Fátima Barros Calife Batista (5o lugar) consultar a RUMO EDITORIAL.
com o texto “O Paciente Anônimo” e Helio Begliomini (2o lugar) com o trabalho “Carlos Publicações com qualidade impecável,
da Silva Lacaz – Terceiro Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores”. dedicação, cuidado artesanal e preço
justo. Você não tem mais desculpas
No Concurso Tema Livre – categoria poesia: Roberto Antonio Aniche (5o lugar) para deixar seu talento na gaveta.
com o poema “Que Venha Outro Caneco de Vinho” e categoria prosa: Walter Whitton
Harris (4o lugar) com o trabalho “A Casa na Árvore”. rumoeditorial@uol.com.br
(11) 9182-4815
8. 8 O BANDEIRANTE - Junho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Finalmente a SOBRAMES SÃO PAULO despede-se, com sau-
dades de Ouro Preto e de todos os grandes amigos que fez por
lá, com o texto da nossa colega Márcia Etelli Coelho:
Queridos Sobramistas e Acompanhantes,
Embora conhecesse a SOBRAMES há alguns anos, foi apenas
em janeiro de 2010 que eu me filiei em São Paulo.
Ouro Preto foi, portanto, meu primeiro Congresso.
Doença na família quase me impediu de viajar, mas tudo se
resolveu favoravelmente a tempo e eu pude, então, participar
desse evento que, com certeza, ficará na história, registrado nos
belos textos dos Anais, nas inúmeras fotos e, principalmente, no
âmago dos nossos corações.
Eu aprendi muito nesses últimos quatro dias. Digo isso com
sinceridade.
As apresentações que eu ouvi enlevaram minha alma e plan-
taram sementes de inspiração.
Mas não foi só com literatura que esse Congresso me engran-
deceu.
Constatei o interminável empenho do José Carlos Serufo para solucionar os contratempos que teimavam
aparecer. Agilidade de uma mente empreendedora. Presteza de um coração que se entrega a um ideal.
Fiquei encantada com as jovens que voluntariamente nos recepcionaram com o alto astral de quem
cumpre uma função com amor.
Admirei a disposição sorridente do casal Civile, a meiguice cativante da D. Clara Guimarães, a lucidez
nonagenária de Enny Guimarães de Paula, a generosidade de Judá Fernandes, entre tantos outros “jovens
de espírito” que amam a vida e sabem aproveitá-la o máximo possível.
São exemplos que levarei comigo e que me impulsionam a escrever este artigo.
Alguns momentos me marcaram com intensidade:
As lágrimas do Carlos Augusto Galvão ao relembrar seu pai, o canto imponente de Castro Barros, o
emocionante coral (também voluntariado), as pinturas maravilhosas na Casa dos Contos, a descontraída
degustação de cachaças promovida pelo Josemar Alvarenga, os casos inusitados do Renato Passos, o reen-
contro sempre caloroso com José Medeiros, a voz embargada do José Maria Chaves na iminente despedi-
da, a euforia da Fátima Calife pela premiação do seu neto e, acima de tudo, o meu orgulho ao receber a
medalha de primeiro lugar entre tantas poesias igualmente belas.
O entusiasmo dos estudantes da Jornada Guimarães Rosa também me empolgou e me faz vislumbrar
um futuro promissor para a SOBRAMES.
Todas essas cenas passam em minha mente nesta noite em que, mesmo terminado o Congresso, perma-
neço no hotel para fugir do congestionamento do feriado prolongado.
Despedi-me dos confrades, vendo um a um retornar aos seus lares e aos seus trabalhos.
De repente, tudo fica muito calmo.
Um estranho sentimento de “ninho vazio” se apossa, mesmo contra a minha vontade... Mas estou feliz
por ter revisto tantos rostos queridos e pela conquista de novas amizades.
Sei que a Internet nos manterá em contato. Mas nada se compara à magia de observar o brilho dos olhos
dos que leem, emocionados, seus escritos. E ao carinho aconchegante dos abraços fraternos.
Por isso, que venham Portugal, Maranhão, Curitiba e tantos outros encontros sobramistas.
Podem me avisar que minha mala os aguarda ansiosamente...
Márcia Etelli Coelho