O documento apresenta poemas de autores modernistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Ronald de Carvalho. Mário de Andrade apresenta poemas como "Tietê" e "Descobrimento" que refletem sobre a identidade brasileira. Oswald de Andrade escreve sobre saudades da terra natal em "Canto de regresso à pátria". Ronald de Carvalho descreve cenas do mercado de peixe em "O mercado de prata, de ouro e esmeralda".
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André Gustavo Maia Mourão – Professor de Língua Portuguesa 1
Coletâneas de poemas da 1ª fase do modernismo
POEMAS MODERNOS (1922 – 1930)
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Apresentação
Não se pode falar de literatura sem passarmos pela experiência de leitura.
Não há como falar dos modernos sem mostrar através de seus poemas o
quanto estes foram importantes na mudança de sentido que o criar poético
teve a partir de 1922. Não se pode tratar literatura como um simples contar
biográfico de seus autores. Ora se hoje ainda seus nomes são tratados em
sala de aula é justamente pela importância de seus poemas. Esta coletânea
tem por objetivo um aprofundamento no estudo sobre a linguagem dos
primeiros modernos. Uma pequena mostra de quantos os poetas escolhidos
foram de fundamental importância para uma nova visão da construção da
poesia e de como esta foi se moldando a cada contexto apresentado.
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Mario de Andrade
PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO¹
"Dans mon pays de fiel et d'or j'en suis la loi."²
E. Verhaeren
Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
Este prefácio, apesar de interessante, inútil...
Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão
prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem me rejeita trabalho
perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso
depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste prefácio
interessantíssimo.
Aliás, muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei.
E desculpe-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso.
Ninguém pode se libertar dumo só vez das teorias avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita
si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.
Mário de Andrade. Poesias Completas.
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1 - "No meu país de fel e de ouro, eu sou a lei", em francês
2 - Introdução à Paulicéia Desvairada, primeiro livro de poesias gerado em torno da Semana de Arte
Moderna. Trata-se de uma espécie de manifesto, que de maneira irônica, teoriza sobre a nova estética
apresentada no livro.
TIETÊ
Era uma vez um rio...
Porém os Boba-Gatos dos ultra-nacionais esperiamente!
Havia nas manhãs cheias de Sol do entudiasmo
as monções da ambição...
E as gigânteas vitórias!
As embarcações singravam rumo do abismal Descaminho...
Arroubos... Lutas... Cantigas... Povoar!
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Ritmos de Brecheret!... E a santificação da morte!
Foram-se os outros!... E o hoje das turmalinas!...
- Nadador! Vamos partir pela via dum Mato Grosso?
- Io! Mai!... (Mais dez braçadas.
Quina Migone. Hat Stores. Meia de seda.)
Vado a pranzarecon la Ruth
Mário de Andrade. Poesias Completas.
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
ODE AO BURGUÊS
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
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Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
Um colar... Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burgês!...
Mário de Andrade. Paulicéia Desvairada.1922.
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OSWALD DE ANDRADE
Canto de regresso à pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
A descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
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Não tínhamos nenhuma vergonha.
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
O capoeira
— Qué apanhá sordado?
— O quê?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
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Ronald de Carvalho
O mercado de prata, de ouro e esmeralda
Cheira a mar! cheira a mar!
As redes pesadas batem como asas,
As redes úmidas palpitam no crepúsculo.
A praia lisa é uma cintilação de escamas.
Pulam raias negras no ouro da areia molhada,
O aço das tainhas faísca em mãos de ébano e
bronze.
Músculos, barbatanas, vozes e estrondos, tudo
se mistura,
Tudo se mistura no criar da espuma que ferve
nas pedras.
Cheira a mar!
O corno da lua nova brinca na crista da onda.
E entre as algas moles e os peludos mariscos,
Onde se arrastam caranguejos de patas
denticuladas
E onde bole o óleo gelatinoso das lulas
flexíveis,
Diante de rede imensa na noite carregada de
estrelas,
Na livre melodia das águas e do espaço,
Entupido de ar, profético, timpânico,
Estoura orgulhosamente o papo dum baiacu...
Epigrama
Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos...
Há salteadores amáveis pelo teu caminho.
Repara como é doce o teu vizinho,
repara como é suave o olhar do teu vizinho,
e como são longas, discretas, as suas
mãos...
Uma noite em Los Andes
"Naquela noite de Los
Andes eu amei como nunca o Brasil.
De repente,
Um cheiro de Bogari, um cheiro de varanda
carioca balançou no ar...
Vinha não sei de onde o murmúrio de um
córrego tranqüilo,
escorregando como um lagarto pela terra
molhada.
A sombra vestia uma frescura de folhas
úmidas.
Um vagalume grosso correu no mato.
Queimou-se no sereno.
Eu fiquei olhando uma porção de cousas
doces maternais...
Eu fiquei olhando, longo tempo o céu da
noite chilena as quatro estrelas de um
cruzeiro pendurado fora do lugar..."
Advertência
Europeu!
Nos tabuleiros de xadrez da tua aldeia,
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na tua casa de madeira, pequenina, coberta de
hera,
na tua casa de pinhões e beirais, vigiada por
filas de cercas
[paralelas, com trepadeiras moles balançando
[e florindo;
na tua sala de jantar, junto do fogão de
azulejos, cheirando a
[resina de pinheiro e faia,
na tua sala de jantar, em que os teus avós
leram a Bíblia e
[discutiram casamentos, colheitas e enterros,
entre as tuas arcas bojudas e pretas, com lãs
felpudas e linhos
[encardidos, colares, gravuras, papéis
[graves e moedas roubadas ao inútil
[maravilhoso;
diante do teu riacho, mais antigo que as
Cruzadas, desse teu
[riacho serviçal, que engorda trutas e
[carpas;
Europeu!
Em frente da tua paisagem, dessa tua
paisagem com estradas,
[quintalejos, campanários e burgos, que
[cabe toda na bola de vidro do teu
[jardim;
diante dessas tuas árvores que conheces pelo
nome- o carvalho
[do açude, o choupo do ferreiro, a tília
[da ponte — que conheces pelo nome
[como os teus cães, os teus jumentos e as
[tuas vacas;
Europeu! filho da obediência, da economia e
do bom senso,
tu não sabes o que é ser Americano!
Ah! os tumultos do nosso sangue temperado
em saltos e disparadas
[sobre pampas, savanas, planaltos,
[caatingas onde estouram boiadas tontas,
[onde estouram batuques de cascos, tropel
[de patas, torvelinho de chifres!
Alegria virgem das voltas que o laço dá na
coxilha verde,
Alegria virgem de rios-mares, enxurradas,
planícies cósmicas,
[picos e grimpas, terras livres, ares livres,
[florestas sem lei!
Alegria de inventar, de descobrir, de correr!
Alegria de criar o caminho com a planta do pé!
Europeu!
Nessa maré de massas informes, onde as raças
e as línguas se
[dissolvem,
o nosso espírito áspero e ingênuo flutua sobre
as cousas, sobre
[todas as cousas divinamente rudes, onde
[bóia a luz selvagem do dia americano!
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Guilherme de Almeida
Esta vida
Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.
Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos : eis a vida
Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.
Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!
Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.
Nós
Fico - deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.
E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
- "Que é feito dela?" - indagarão - coitados!
E os amigos dirão: - "Que é feito dela?"
Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;
irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!
Nós
Nessa tua janela, solitário,
entre as grades douradas da gaiola,
teu amigo de exílio, teu canário
canta, e eu sei que esse canto te consola.
E, lá na rua, o povo tumultuário
ouvindo o canto que daqui se evola
crê que é o nosso romance extraordinário
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que naquela canção se desenrola.
Mas, cedo ou tarde, encontrarás, um dia,
calado e frio, na gaiola fria,
o teu canário que cantava tanto.
E eu chorarei. Teu pobre confidente
ensinou-me a chorar tão docemente,
que todo mundo pensará que eu canto.
Nós
Mas não passou sem nuvem de tristeza
esse amor que era toda a tua vida,
em que eu tinha a existência resumida
e a viva chama de minha alma, acesa.
Nem lemos sem vislumbre de incerteza
a página do amor, lida e relida,
mas pouquíssimas vezes entendida,
sempre cheia de engano e de surpresa,
Não. Quantas vezes ocultei a minha
dor num sorriso! Quanta vez sentiste
parar, medroso, o coração de gelo!
- É que nossa alma às vezes adivinha
que perder um amor não é tão triste
como pensar que havemos de perdê-lo.
Prece a Anchieta
Santo: erguesses a cruz na selva escura;
Herói: plantasses nossa velha aldeia;
Mestre: ensinasses a doutrina pura;
Poeta: escrevesses versos sobre a areia!
Golpeia a cruz a foice inculta e dura;
Invade a vila multidão alheia;
Morre a voz santa entre a distância e a
altura;
Apaga o poema a onda espumejante e
cheia...
Santo, herói, mestre e poeta: — Pela glória
que destes a esta Terra e a sua História,
Pela dor que sofremos sempre nós.
Pelo bem que quisesses a este povo,
O novo Cristo deste Mundo Novo,
Padre José de Anchieta, orai por nós!
Flor do asfalto
Flor do asfalto, encantada flor de seda,
sugestão de um crepúsculo de outono,
de uma folha que cai, tonta de sono,
riscando a solidão de uma alameda...
Trazes nos olhos a melancolia
das longas perspectivas paralelas,
das avenidas outonais, daquelas
ruas cheias de folhas amarelas
sob um silêncio de tapeçaria...
Em tua voz nervosa tumultua
essa voz de folhagens desbotadas,
quando choram ao longo das calçadas,
simétricas, iguais e abandonadas,
as árvores tristíssimas da rua!
Flor da cidade, em teu perfume existe
Qualquer coisa que lembra folhas mortas,
sombras de pôr de sol, árvores tortas,
pela rua calada em que recortas
tua silhueta extravagante e triste...
Flor de volúpia, flor de mocidade,
teu vulto, penetrante como um gume,
passa e, passando, como que resume
no olhar, na voz, no gesto e no perfume,
a vida singular desta cidade!
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Menotti Del Picchia
PRAÇA DA REPÚBLICA
Os chorões lavaram seus cabelos verdes
nas piscinas de cimento
dentadas de rochedos feitos por marmoristas
e desenhados por Debugras
Há peixes dispépticos que só comem pão-de-ló
servidos pelos dedos lunares das Salomés-normalistas
que sabem de cor as façanhas de Tom-Mix e Tiradentes.
As astúrias cortaram suas tranças "à la garçonne"
e ouvem lições de geometria no espaço
de sábios buxos cubistas...
Praça da República cheia de mulheres públicas
de detritos humanos, como um porto cosmopolita onde os táxis atracam,
velhas catraias urbanas
que vogam nos canais de asfalto das alamedas.
Álvares de Azevedo, o último Romântico,
condenado às galés da imortalidade,
cospe na praça noturna,
do alto de sua herma,
o seu desdém de bronze.
Menotti del Picchia. Chuva de Pedra.1925.
Noite
As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
13. REDE SALESIANA DE ESCOLAS
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Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.
Banzo
E por que deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do conga nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo.