O Centro de Joinville será revitalizado para combater a poluição visual e contribuir para o desenvolvimento urbano. Os Bombeiros Voluntários de Joinville fazem treinamentos diários, mas a quantidade de acidentes e atendimentos não diminui. Quando chove, o Rio Matias transborda e alaga a região central por falta de manutenção, colocando edifícios em risco.
Edição nº 25_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville
1. Primeira PautaJornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 6º Semestre/2002 Edição nº 25 - 15 de Novembro de 2002
REVITALIZAÇÃO - O Instituto de Pesquisa e Pla-
nejamento Urbano de Joinville (IPPUJ) sugere uma
limpeza nas fachadas do comércio central da cida-
de. A revitalização combaterá a poluição visual e con-
tribuirá para o desenvolvimento urbano. O Merca-
do Municipal será um dos beneficiados. Geral, 9.
110 ANOS - Os Bombeiros Voluntários de Join-
ville fazem treinamentos diários para que todas as
chamadas sejam atendidas rapidamente. Contam
com equipamentos de alta qualidade, viaturas e gran-
de número de efetivo, o que não faz diminuir a quan-
tidade de acidentes e atendimentos. Geral, 10.
DESEQUILÍBRIO -
Basta chover para
que o Rio Matias
transborde e alague a
região central. Em
dias de tempestades,
por não suportar o
volume das águas e
não receber manuten-
ção alguma, as en-
chentes são inevitá-
veis. A falta de cuida-
dos com o rio coloca
em risco os edifícios
próximos. Geral, 11.
Fotos: Eunice Venturi
Centro de Joinville
Entre a beleza
e o desencanto
Palco de grandes espetáculos e da vida econômica local,
bairro revela ambigüidade quanto a pobreza e a violência
2. Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
Primeira Pauta2
Opinião
Os dois lados da moedaEDITORIAL EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação So-
cial – Jornalismo – do Ins-
tituto Superior e Centro
Educacional Luterano
Bom Jesus/IELUSC.
www.ielusc.br
Diretor Geral:
Tito L. Lermen
Diretor do Curso:
Edelberto Behs
Professor Responsável:
Juciano Lacerda
DRT-PB 1.177
Editora:
Adriana Caroliny Silvy
EDITORIAS
Economia
Cleiton Bernardes,
Juliana Batista e Karla
de Assis Pereira
Comunidade
Edelamar Negherbon,
Elaine Cristina Dias da
Costa e Marco Aurélio
Braga
Geral
Kleyton Clemente, Luiz
Fernando Bertoldi e
Nicole da Rosa Gomes
Cultura
Michelle de Castro
Fotografia:
Eunice Venturi
Diagramação:
Juciano Lacerda
Cleiton Bernardes
Contato com a redação:
Curso de Comunicação So-
cial – Jornalismo. Rua: Ale-
xandre Dohler, 56, Centro,
89201-260, Joinville – SC.
Tel.: (47) 433-0155.
E-mail:
primeirapauta@ielusc.br
“Já estava na hora!” Com
essa frase manifestamos
nossa alegria em saber que
a região central de Joinville
será revitalizada. A maior e
uma das mais belas cidades
de Santa Catarina merece
que seu bairro de maior des-
taque receba atenção espe-
cial. Por isso, nós estudan-
tes do 6º semestre do curso
de Jornalismo, dedicamos
toda essa 25ª edição do jor-
nal Primeira Pauta ao Cen-
tro da cidade.
Apuramos que o Institu-
to de Pesquisa e Planeja-
mento Urbano de Joinville
pretende revitalizar o Cen-
tro. Essa revitalização res-
gataria toda a parte históri-
ca, diminuiria a publicida-
de excessiva das fachadas e
modificaria os percursos de
algumas ruas, facilitando a
vida dos pedestres.
Visitamos moradores
antigos do bairro, pessoas
que lembram com saudade
do tempo em que o Centro
ainda era um local tranqüi-
lo e bom de morar. Encon-
tramos famílias que aban-
donaram o local buscando
o sossego de um bairro dis-
tante.
Ao mesmo tempo, des-
cobrimos alguns persona-
gens que ganham a vida di-
vertindo outras pessoas nas
ruas centrais. Pessoas que
não trocam esse local por
nenhum outro. Até porque
o Centro é o bairro mais
movimentado da cidade,
onde circulam pessoas di-
versas, trabalhadores, estu-
dantes, turistas... Conversa-
mos com comerciantes dos
shoppings centers, locais que
recebem grande público to-
dos os dias. Entrevistamos
os feirantes do Calçadão do
Príncipe, que, mesmo sem
carteira assinada, tentam
ganhar a vida; meninos de
rua que saem de casa por
opção (nem todos claro),
voluntários do Corpo de
Bombeiros da cidade, que
treinam diariamente para
atender todas as chamadas
de socorro.
Descobrimos que exis-
tem galerias subterrâneas
que passam pela região cen-
tral, cortando a rua Dr. João
Colin. Devido à falta de fis-
calização, essas galerias co-
locam em risco vários edi-
fícios. Buscamos maiores
informações sobre os im-
postos cobrados das empre-
sas, profissionais liberais e
pessoas que prestam ativi-
dades remuneradas, e sua
aplicação pela administra-
ção pública.
Nossas pesquisas e en-
trevistas revelaram que o
Centro tem muitos proble-
mas, que não é só glamour
como tanta gente imagina.
É um dos bairros mais ri-
cos da cidade, mas que tem
tanta pobreza. Morar na re-
gião central parece já não
valer a pena. Além de se
pagar caro, sofre-se com a
marginalidade que impera
atualmente. Aguardamos
ansiosos as tais mudanças!
__________________
Adriana Caroliny Silvy,
editora
Centro revitalizado
Por Eunice Venturi
Morar no Centro, aparente-
mente, parece sinônimo de status,
comodidade e facilidade pela
proximidade com bancos, esco-
las, instituições públicas, entre
outros. Mas, há o lado ruim. A
convivência com o trânsito infer-
nal, nos horários de pico, o nú-
mero crescente de pedintes, além
dos maiores índices de assaltos
da cidade. O morador do Cen-
tro precisa, ou não, conviver com
tudo isso. E não são todos que
podem pagar para ter segurança
e praticidade. Os condomínios
residenciais são caros, embora a
segurança seja maior. É raro en-
contrar um apartamento ou casa
que reúna conforto, segurança e
baixo custo.
No contexto cultural, quem
mora no Centro não pode ficar
descontente. O Centreventos
Cau Hansen, que abriga o Tea-
troJuarez Machado, facilita o dia-
a-dia de quem quer assistir a uma
peça de teatro. O espaço cultu-
ral ficou próximo para classe alta.
Mas, distanciou-se da periferia e,
conseqüentemente, aumentou
ainda mais o elitismo da cultura.
Outra alternativa cultural é a Ci-
dadela Cultural da Antarctica. A
antiga fábrica de cervejas, antigo
orgulho joinvilense, que também
está no Centro. A uma quadra
dali, fica o Museu de Arte e o
do Imigrante.
O palco para importantes
movimentações políticas é o
Centro da cidade, geralmente a
Praça da Bandeira. Recentemen-
te, os candidatos ao governo do
Estado, Luiz Henrique da Silveira
(PMDB) e Esperidião Amin
(PPB) transformaram a praça
em palco para um showmício.
Realizar um evento deste, na re-
gião central da cidade, atribui-se
à idéia, de que no Centro, todos
chegam com um único passe, ou,
com menos consumo de gasoli-
na. Assim, todos se dirigem ao
Centro possibilitando o maior de
número de adeptos. Realizar um
comício em um bairro da cida-
de atrairia para o evento simpa-
tizantes apenas daquele bairro.
A estratégia de facilitar a vida
de todos, trouxe para o Centro
a sede da Prefeitura Municipal.
Há mais de cinco anos é possí-
vel visitá-la e, próximo também,
está a Câmara de Vereadores. Se
melhorou o acesso, não mudou
a facilidade em pegar um telefo-
ne para reclamar, sugerir, pedir,
enfim. Se não há necessidade de
deslocamento, ganham os
munícipes que, geralmente, não
tem tempo para jogar “conver-
sa fora”. Enfim, é muito bom
morar no Centro para quem tra-
balha ou estuda. Melhor ainda se,
ao fazer a opção, a pessoa pu-
der agregar à escolha conforto,
proximidade e segurança. Mas
nem tudo são flores. O lado
ruim é que o padrão de vida fi-
nanceiro deve ser alto.
Erramos
Na edição 24, achamada do texto “Feira oferece produtos orgâni-
cos em Joinville” era para a página 3 e não 5, como foi publicado. Na
página 7, no texto “Organizar a informalidade é possível”, a foto
principal não é das instalações da Cooperativa Recicla. Na página 9, na
legenda da foto principal, onde se escreveu “Pastor Reny”, deve-se ler
“Pastor Remy”.
Na edição 25, página 6, na coordenada “Ex-vereador defende
busca de parcerias federais para efetivar regulamentação”, onde se diz “
eleito deputado estadual no último dia 3”, deve-se ler dia 6 de outu-
bro. Na página 11, faltou a preposição “para” no olho “Cursos gratui-
tos são alternativa ____ conseguir novo emprego”.
3. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
3
Economia
PrefeituraarrecadaR$3,6milhõescomTLL
Lojas entraram na Justiça contra a renovação do imposto
Enquanto o Taxa de Licença de Localização (TLL)
engorda o cofre municipal, lojistas pedem atenção
Cleiton Bernardes
Fotos: Eunice Venturi
A Taxa de Licença de Loca-
lização (TLL) foi o imposto res-
ponsável, até julho de 2002, por
engordar o caixa da administra-
ção pública em R$ 3,6 milhões.
Isso por que empresas, profissi-
onais liberais e todas as pessoas
que prestam algum tipo de ativi-
dades remuneradas têm a obri-
gação de o recolher anualmente.
O alvará, como é popularmente
chamado, comprova a atividade
comercial executada por uma
empresa ou prestador de servi-
ços. Ele é regulamentado pelo
município de acordo com as
condições de segurança, meio
ambiente e regularidade no re-
colhimento do tributo.
A arrecadação da Prefeitura
com o recolhimento da TLL
acompanhou a variação do mer-
cado em relação a variação de
preço. Em 2000, o valor das con-
tribuições chegou a R$ 3,4 mi-
lhões, caindo para R$ 3,1 milhões
em 2001. Este ano ela voltou a
subir atingindo R$ 3,6 milhões
até o final de julho.
No centro da cidade, a gran-
de maioria das empresas tem
como atividade principal a co-
mercialização de roupas e aces-
sórios de vestuário. Para essas
empresas que tem a mesma ati-
vidade comercial, a cobrança da
taxa difere apenas no quesito
“área ocupada”. Além disso, a
cobrança do alvará difere tam-
bém de empresa para empresa
de acordo com o número de
funcionários. O montante de tra-
balho numa eventual fiscalização
por parte da prefeitura também
tem relação direta no preço final
do alvará. Neste caso, quanto
maior a quantidade de notas fis-
cais emitidas, maior também será
o valor. (veja na tabela o cálculo
da TLL).
O pagamento do alvará é di-
vidido em duas parcelas anuais.
A primeira vence no mês de
maio e, a segunda, no mês de se-
tembro. Os proprietários de lo-
jas no centro da cidade reclamam
da falta de retorno desse investi-
mento. “A gente paga, paga e
paga, mas nunca vê esse dinhei-
ro aplicado em nosso beneficio”,
declarou Cecília Maria Aparecia
Bezerra, 42 anos, sócia-gerente
de uma loja de confecções . Se-
gundo ela, o valor do taxa osci-
lou muito a partir da adminis-
tração do prefeito Luiz Henrique
da Silveira (PMDB). A TLL da
loja de confecções chegou a cus-
tar R$ 399,29, em 1997, e hoje
está em R$ 260,38. O documen-
to deve ser mantido em local vi-
sível no estabelecimento, e estar
acompanhado do comprovante
de pagamento da taxa com au-
tenticação bancária.
Cecília Bezerra reconhece que
muitas empresas não recolhem
a taxa e isso dificulta que a Pre-
feitura mostre trabalho. “Aqui no
centro os lojistas são muito de-
sunidos. Se a gente se organizas-
se para reclamar nossos direitos,
a coisa seria diferente”, entende.
Já José Lopes, 46 anos, gerente
de uma relojoaria, recolhe o
alvará do estabelecimento em
juízo. Assim como ele, outras
empresas não recolhem a taxa de
renovação anual e entraram na
justiça para reaver os valores. “É
uma determinação da nossa
matriz em Curitiba. Segundo
nosso departamento jurídico,
a TLL deve ser recolhida
uma única vez na abertura da
empresa. Essa renovação é
ilegal”, declarou o gerente.
De acordo com a assesso-
ria da Prefeitura, a cobrança do
alvará está fundamentada legal-
mente no Inciso II, artigo 145
da Constituição Federal. No
âmbito municipal, ela está ba-
seada no artigo 94, da Lei
1715/79 do Código Tributá-
rio Municipal, que trata do es-
clarecimento das obrigatorie-
dades do alvará.
Valor da taxa muda de acordo com o tamanho das lojas
Custo Básico:
É o valor médio que é obtido pela divisão de
todas as despesas que a Prefeitura tem em sua
atividade de fiscalização pelo número total das
atividades existentes no município.
Fator de porte:
O fator de porte do estabelecimento é o cálculo
de acordo com o tamanho da empresa
(metragem), quanto maior o tamanho da empre-
sa maior será o valor da taxa.
Grau de dificuldade
de Fiscalização:
É obtido pelo tamanho da empresa em relação a
documentos emitidos, funcionários e complexi-
dade no caso de uma eventual fiscalização.
Forma
de Cálculo
da TLL
Custo Básico
de Fiscalização
x
Fator de Porte
x
Grau de Dificuldade
de Fiscalização
4. Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
Primeira Pauta4
Economia
Karla de Assis Pereira
Shoppings mudam comércio da cidade
Infra-estrutura e comodidade em um conjunto de lojas fazem mudar setor varejista de rua
Lojas em shoppings (acima) e comércio de rua
(ao lado): produtos e público-alvo diferentes
Fotos: Eunice Venturi
No Centro de Joinville, um
dos principais atrativos é o co-
mércio. Segundo colocado na
quantidade de empresas abertas
e empregos gerados, só perden-
do para serviços gerais desde
1997, essa forma de renda reú-
ne hoje cerca de 18 mil empre-
gados em aproximadamente três
mil lojas. Os dados são do Sin-
dicato do Comércio Varejista da
cidade. Mudanças consideráveis
no ramo aconteceram por volta
de 1995, quando o primeiro
shopping center foi construído. De-
pois do Shopping Center Ame-
ricanas – hoje, Shopping Center
Joinville – vieram o Mueller e o
Cidade das Flores, entre as vári-
as galerias e shoppings menores.
De acordo com o presiden-
te do Sindicato do Comércio
Varejista, Gonçalo Arnoldo do
Nascimento, o número de lojas
do comércio joinvilense dobrou
nos últimos dez anos, aumentan-
do a concorrência e ocasionan-
do uma disputa pelo cliente.
“Cada comerciante passou a
vender menos e é obrigado a
dividir seus clientes com o con-
corrente”, afirma Nascimento.
Como cerca de 80% das lojas
dos shoppings vinham de fora da
cidade, houve uma transferência
de clientela, em conseqüência,
quem levou a pior foi o comer-
ciante de rua. Em resposta a isso,
houve uma renovação total das
lojas. Elas foram reformadas, ti-
veram seu horário de funciona-
mento atrasado e baixaram os
preços. Lojas especializadas e
novos produtos são alternativas
até hoje para fugir da concorrên-
cia e garantir a sobrevivência des-
ses pequenos comerciantes.
Durante esses sete anos, co-
merciantes locais também passa-
ram a apostar nesses conglome-
rados, mas a maioria das lojas
dos shoppings da cidade ainda são
de fora. A comodidade dessa
união entre ambiente climatizado,
várias opções de restaurante, di-
versão para as crianças, bingos,
salas de cinema, supermercados
e alamedas de serviços tem um
alto preço, tanto para o comer-
ciante quanto para o consumidor.
O valor dos produtos em uma
rede de lojas é, normalmente, o
mesmo, independente do local
onde esse estabelecimento se en-
contra, no shopping ou na rua, mas
o tipo de produto vendido em
cada local tem um diferencial. Os
preços do comércio fechado, no
geral,tornam-se mais altos que os
das ruas para alguns tipos de pro-
dutos.
José Manoel Ramos, sócio-
proprietário de uma rede de
comércio em Joinville, revela que
sua loja no shopping atende a um
público diferente do das ruas e
cumpre um papel mais estético.
“Nossa loja do shopping tem fun-
ção de vitrine para as de rua.
Nela, não temos moda infantil,
é direcionada mais para o públi-
co jovem. A quantidade de pro-
dutos é menor, mas lá estão as no-
vidades”, esclarece. Os preços são
os mesmos nas oito lojas da rede,
mas a única no Shopping Mueller
traz 100% a mais de gastos.
Para uma das sócias em uma
loja de departamentos, Fabiane
Bohn Stein, o custo de um alu-
guel no shopping sairia ainda mais
caro, de 150 a 200% nos custos.
Como estão no ramo há cerca
de dez anos, optaram por um
local próprio em um bairro de
Joinville. Além do aluguel, o
motivo que fez os proprietários
recusarem a proposta foi a falta
de flexibilidade dos shoppings.
“Aqui nós abrimos e fechamos
a hora que quisermos, temos es-
tacionamento próprio, de gra-
ça, podemos fazer liquidações
e reformas sem a necessidade
de consultar ninguém, isso não
seria possível no shopping”, pon-
tua ela.
A consumidora Simone
Rieper percebe a diferença na
qualidade e no preço dos pro-
dutos. “A elite, classes A e B,
compra com maior freqüên-
cia nos shopppings, enquanto o
comércio de rua é mais popu-
lar”, afirma ela. “Mas sem dú-
vida a qualidade das mercado-
rias vendidas no shopping é mai-
or”, complementa. Francisco
Rohling também compra tan-
to no comércio fechado quan-
to no de rua. Para ele, a
praticidade e o comodismo re-
fletem nos altos preços das lo-
jas dos shoppings. Rohling ainda
nota que a maioria das pesso-
as que compra no comércio de
rua não trabalha com cartão ou
cheque. A observação vai ao
encontro da idéia de que os
freqüentadores de shoppings
possuem melhor poder aqui-
sitivo.
Em Santa Catarina, mais de
11 mil empregos foram cria-
dos com os nove maiores
shopping centers do Estado. A
relação de vendas dos
shoppings com a do varejo em
todo o país é de 15%, segun-
do a Associação Brasilei-
ra de Shoppings Centers
(ABRASCE). Desde o primei-
ro construído no Brasil, o nú-
mero dobra a cada cinco anos,
de acordo com a associação.
Apesar do número de desem-
pregados no país crescer mui-
to, o Brasil ocupa a décima co-
locação no ranking mundial em
número de shoppings, são 250
ao todo. Isso reflete o nível de
desigualdade da economia na-
cional. [KAP]
Consumidor vê diferença
“Nossa loja do shopping tem
função de vitrine para as
de rua (...) é direcionada
mais para o público jovem”
José Manoel Ramos
Sócio-proprietário de uma
rede de lojas em Joinville
5. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
5
Economia
Feirantesqueremcontinuarnocalçadão
Juliana Batista
Os trabalhadores informais tentam entrar em acordo com Prefeitura e comerciantes
As vendas na feira aumentam cada vez mais, principalmente nos períodos de festas e em datas comemorativas
Sem carteira de trabalho as-
sinada, joinvilenses tentam há
muito tempo driblar, de for-
ma criativa, as demissões em
massa ocorridas nas indústrias.
A crise socioeconômica fez
crescer uma categoria de tra-
balhadores: os feirantes. Várias
barracas, vendendo os mais di-
versos tipos de produtos
artesanais, foram instaladas na
Rua do Príncipe. A rápida mul-
tiplicação desses trabalhadores
gerou impasses com o setor
comercial formal. Os comer-
ciantes passaram a exigir do
poder municipal alguma ação
que proibisse a existência dos
feirantes, sob a argumentação
de que prejudicam as vendas.
A preocupação com os ven-
dedores ambulantes na cidade
reflete parte das questões refe-
rentes à economia informal –
que gera renda, mas não paga
impostos nem seguridade so-
cial –, presentes nas agendas do
poder público federal, estadu-
al e municipal. Muitas pessoas
foram demitidas das indústrias
por serem trabalhadores menos
qualificados e, ao ingressarem
na venda informal de serviços
ou produtos, aumentaram sua
renda em relação à situação an-
terior.
No calçadão da Rua do
Príncipe, os feirantes ganharam
o espaço por tempo de traba-
lho. Como a presença desses
vendedores não pode ser des-
prezada pelo poder público lo-
cal, a Prefeitura cedeu a locali-
zação, a estrutura e verba para
construir as primeiras barracas.
Devido à necessidade de orga-
nizar melhor o comércio sur-
giu a Ajart – Associação
Joinvilense do Artesão, que atu-
almente paga o alvará de to-
dos os feirantes.
Ina Graciema Moreira, 65
anos, é vendedora informal há
quase quarenta anos. Lembra
que aprendeu a costurar para
compensar a falta de emprego
na família e garante que não
quer nunca mais ser emprega-
da, ter horários e ter que espe-
rar o dia do pagamento. “Tra-
balhando no mercado infor-
mal, vendemos e recebemos na
hora”, afirma. Outra vendedo-
ra, Sueli Gutz, 59 anos, pensa
da mesma forma: “Todos os
feirantes ganham em média R$
450,00 por mês e não corre-
mos o risco de ficar desempre-
gados”.
Apesar de não haver desor-
dem nesse tipo de trabalho,
existem relações conflituosas
entre ambulantes e comercian-
tes. Segundo a vendedora
Rosaura de Siqueira Maria, 40
anos, a CDL – Câmara de Di-
rigentes Lojistas, afirma que as
barracas tiram a visão das lo-
jas. Mas ao conversar com o
lojista Alfredo de Lima, fica
claro que, para eles, as lojas
vendem mais nos dias em que
a feira está funcionando. O
motivo é que, depois de tanto
tempo, o calçadão se tornou
ponto de encontro. Rosaura
conta também que 90% dos
produtos que são oferecidos
nas feiras, os comerciantes não
vendem, e que muitas vezes eles
compram esses produtos dos
feirantes no atacado para
comercializar em suas lojas.
Mas segundo o lojista e pre-
sidente da CDL, Gilson Bohn,
a feira evoluiu com o passar do
tempo e perdeu as característi-
cas de arte e artesanato. “Assim
os comerciantes se sentem pre-
judicados por uma concorrên-
cia desleal”, critica. Gilson afir-
ma que deveria existir uma ne-
gociação para criar um local
apropriado com banheiros,
horário determinado e que não
atrapalhe a visibilidade das lo-
jas. Ele disse ainda que o atual
prefeito tem a idéia de abrir a
rua do Príncipe para a circula-
ção de veículos.
Carmen Oliveira presiden-
te da Ajart, desconhece essa
idéia. Ela afirma que já existe
Os feirantes estão satisfeitos
com o calçadão, lugar que hoje
trabalham. As vendas aumen-
tam em datas especiais e várias
pessoas passam pela rua ape-
nas para visitar as barracas. Se
houver uma mudança, Carmen
Oliveira espera que seja para um
lugar apropriado e que não seja
distante do Centro. De acordo
com ela, a prefeitura já reali-
zou uma reunião com a Ajart,
para discutir sobre o assunto,
mas nada foi decidido.
Sem conseguir obter infor-
mações da prefeitura, os feiran-
uma negociação e discorda
quando a CDL fala sobre as
características de arte e artesa-
nato. “As pessoas confundem
o nosso trabalho com o dos
vendedores ambulantes que
comercializam muambas do
Paraguai, próximo das nossas
barracas”, diz ela.
tes e comerciantes terão que
aguardar uma decisão demo-
crática. Todos querem ser be-
neficiados e não prejudicados,
já que o calçadão se tornou
ponto turístico da cidade. Em
tempos de crise econômica, é
provável que a atividade nas
feiras continuará existindo in-
dependente da postura adota-
da pelo poder público munici-
pal, uma vez que o comércio
informal se adapta às proibi-
ções e concessões determina-
das pelos governos locais em
diferentes gestões.
Prefeitura ainda não decidiu
Eunice Venturi
6. 6 Primeira
Joinville/SC, 15 de N
Elaine Dias
O que seria do Centro sem eles
Na luta diária pela sobrevivência, vale tudo por uns trocados. Até se passar por louco
Vanderlei Cardoso, em seu escritório, na hora do rush
Na correria do dia-a-dia, nos
deparamos com pessoas exer-
cendo atividades que precisam
de um pouco mais do que “cara-
de-pau”. Talvez um pouco de
loucura seja uma habilidade es-
sencial para trabalhadores que
tem a rua como seu único meio
de sobrevivência.
Vanderlei Cardoso, 32, casa-
do, é um “tipo” já conhecido do
Centro de Joinville. “Hoje no
Castelo Excalibur, noite da res-
saca”, gritava há alguns anos ves-
tindo uma placa e uns óculos de
sol coloridos. Hoje, ele continua
na mesma linha de trabalho: pro-
paganda corpo a corpo. Veste-
se de gaúcho para vender discos
e faz “boneco vivo” em frente
de lojas de brinquedos.
“Estou de uniforme do
Flamengo porque gosto”, assu-
me o homem-mídia, em frente
da farmácia que está em novo
endereço e o contratou para fi-
car na frente do antigo prédio,
informando os clientes sobre a
mudança.“Mudou-se, agora a
farmácia fica na esquina da Vis-
conde de Taunay com a Jusceli-
no Kubstcheck, agora mais
pertinho de você para melhor
atendê-lo”, exibe-se Vanderlei
para a reportagem, aos gritos,
não dando importância para
quem passa na rua.
As pessoas passam e riem da
forma como o “publicitário
ambulante” faz a propaganda.
Para ele é ótimo que as pessoas
comentem sobre seu trabalho.
“Eu não estou nem aí! É bom,
porque assim todo mundo fala
de mim, e os ‘chefe’ me chamam
para trabalhar nas lojas. Enten-
deu?”, indagou Vanderlei Cardo-
so.
Os lojistas o consideram um
ótimo profissional. Segundo
Elisete de Souza, balconista de
uma loja de produtos importa-
dos, na rua Dr. João Colin, ele
não incomoda, pois faz seu tra-
balho diferente. A funcionária,
que trabalha ao lado da antiga
Farmácia, onde Vanderlei passa
o dia inteiro gritando o novo
endereço, conta que ele informa
com a maior boa vontade.
Com o nome de cantor da
década de 60, Vanderlei Cardo-
so é personagem da história do
centro de cidade. Apesar de não
ser um morador do bairro - ali-
ás, não é nem joinvilense -, con-
sidera-se pioneiro na propagan-
da panfletária, há mais de quinze
anos trabalha pelas ruas centrais.
“Quando morei em Balneário
Camboriú, mandava na propa-
ganda lá. Cato latinha, vendo
cocada. Deu bobeira à gente tá
dentro”, orgulha-se. Por quinze
reais ao dia, Vanderlei se orgulha
de agitar, com seus gritos, as ruas.
“Conheço muita gente. Tem gen-
te que passa aqui todo o dia para
me cumprimentar. Podem até
me achar maluco”.
Para a psicoterapeuta Lúcia
Gonçalves, um paciente é diag-
nosticado como “louco” quan-
do se mostra claramente incapaz
de distinguir o que se passa no
mundo real. Não é difícil para
um indivíduo mentalmente equi-
librado notar a loucura do ou-
tro. A psicóloga aponta que a
maioria dos transtornos afetivos,
como o stress e a depressão, pro-
porciona atitudes psicoemocio-
nais não alienantes. Ou seja, cau-
sam um descontrole da crítica e
do juízo muito mais próximo da
“desrazão” do que da “aliena-
ção”. As patologias alienantes são
as esquizofrenias, demências, de-
ficiências mentais e surtos de
mania. O que não é o caso de
Wanderley.
Paz e amor
Vestindo roupas, cabelos,
barba e óculos ao estilo Raul
Seixas, Raulzito, como é conhe-
cido, não revela o verdadeiro
nome. Muito menos a sua ida-
de. Diz que isso acabaria com a
sua identidade. Sobre casamen-
to, falou já ter tido vários.
Autodenominando-se reencarna-
ção do cantor baiano, ele vive na
noite pregando o slogan “paz e
amor”, não pagando para beber
e freqüentando lugares badala-
dos da cidade.
Raulzito fala com clareza,
conversa em outros idiomas,
com uma voz altiva e um sota-
que não joinvilense. Sempre mui-
to respeitado e bem vindo nos
lugares por onde passa, pois nun-
ca criou confusão alguma nas
casas noturna, dá a sensação de
que tem muita coisa para contar
à juventude com quem dança a
noite inteira. O personagem é co-
nhecidoecarismáticoentreaqueles
que nem acompanharam a carreira
do verdadeiro “maluco beleza”.
“Quando conheci Raulzito,
ele veio com um papo estranho.
Parecia que tava me cantando,
mas não”, recorda a estudante
Fernanda Vieira. E acrescenta:
“É o jeito dele. Ele fala coisas
lindas para as meninas. Traz in-
censos para as festas e ainda
oferece da sua própria bebida
para a galera”.
Deficiência não é empecilho,
nem jogada de marketing
Em Joinville há uma lei proi-
bindo o comércio ambulante em
todo o perímetro urbano do
município. “Todo trabalhador
precisa da licença da Prefeitura
ou então corre o risco de ter o
produto apreendido”, avisa Ma-
ria Tereza Bertazo engenheira
da Secretaria de Infra-Estrutu-
ra do município. Esses persona-
gens do Centro e do cotidiano
da cidade fazem parte do co-
mércio ambulante também.
“Amigo, um real lhe faz fal-
ta?”. Esta é a frase de impacto
com que aborda os clientes Ro-
gério Carvalho, 26, há dez anos
no mercado como ambulante.
“Sou deficiente físico, meu úni-
co sustento é a sua ajuda! Essa
caneta que está passando na sua
mão tem detalhes dourados e, por
apenas um vale transporte ou um
real, você fica com um produto
de qualidade! Passarei para reco-
lher sua ajuda”. Segurando-se nas
barras de segurança do ônibus,
Rogério recolhe sua produção do
dia e desce no próximo ponto.
O ambulante corre a cidade,
do extremo Norte ao extremo Sul.
Vítima de paralisia infantil, o co-
merciante mora com a mãe em
um bairro distante do Centro. Con-
fessou receber até cem reais em um
único dia. Um amigo, Joei Kaleski,
anão, percorre os ônibus com Ro-
gério. O dinheiro é dividido.
O escritório de Rogério Car-
valho é a rua. A legislação muni-
cipal define as regras em que os
vendedores ambulantes podem
exercer a atividade. Segundo a
norma, só pode continuar tra-
balhando quem se dedica exclu-
sivamente a essa prática. Por
exemplo, um comerciante que
tenha um espaço comercial le-
galizado pela Prefeitura Muni-
cipal não pode ser vendedor am-
bulante. “A vigilância nunca me
incomodou”, afirma Rogério
Carvalho, satisfeito com seu tra-
balho.
Afinal, será loucura ou es-
perteza? Golpe ou fantasia? So-
breviver dessa forma parece ser
divertido. Mas, são tantas as re-
gras, métodos e padrões guian-
do a vida das pessoas que, hoje,
muitas idéias diferentes acabam
sendo encaradas como verdadei-
ras maluquices. Principalmente
se estiverem na contramão dos
parâmetros que regem a socie-
dade. [ED]
Comunidade
Eunice Venturi
7. Comunidade
Marco Rodrigues
7ra Pauta
Novembro de 2002
Crime contra a infância
Crianças entre delitos e a própria sobrevivência,
S.S.P. tem um currículo de crimes e internações
Pequeno, moleque e rosto
aparentemente inocente são ca-
racterísticas que não revelam a
personalidade de S.S.P., de 13
anos. Mesmo com a pouca ida-
de, ele circula pelas ruas do Cen-
tro de Joinville, principalmente
nas proximidades da Avenida
Jucelino Kubitschek, onde se tor-
nou personagem temido por
meninas adolescentes e vende-
dores ambulantes que circulam
à noite. No seu currículo crimi-
nal estão diversos pequenos fur-
tos, envolvimento com drogas,
com prostitutas, homossexuais e
17 passagens pela polícia. Co-
nhecido nas ruas, foi rapidamen-
te descrito por moradores e po-
liciais como “o terrível”. “Gos-
to da rua. Não gosto de polícia
e de jornalistas. Eles inventam
várias coisas”, retruca, com pou-
cas palavras, ainda arredio a qual-
quer aproximação ou pergunta
de estranhos.
A vida de S.S.P. é um retrato
fiel do que se transformou o
Centro de Joinville. Até então
considerado um espaço nobre
do município, onde não havia
mendigagem ou meninos pedin-
do esmola, o Centro transfor-
mou-se, neste início de século,
num lugar onde a legislação bra-
sileira é burlada sem constrangi-
mento. O menor conhecido
como “o terrível” é mostra con-
creta do descumprimento da
Constituição Federal. Em seu
artigo 277, a Carta Magna é cla-
ra: “É dever da família, da soci-
edade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com a
absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissio-
nalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à con-
vivência familiar comunitária,
além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, dis-
criminação, exploração, violência,
crueldade e opressão”. Direitos
que passam despercebidos no
bairro mais movimentado do
município.
Aos oito anos de idade, S.S.P.
já vivia nas ruas. Fumava cigar-
ros, usava as mais variadas dro-
gas e começou a praticar peque-
nos delitos. No ápice de sua in-
fância, chegou a ficar hospitali-
zado para tentar livrar-se dos ví-
cios. Nada adiantou. A mãe do
menor, a dona de casa Miriam
Laci Pereira, 42 anos, fez de tudo
para livrar o filho de uma vida
não compatível com a sua ida-
de. “Sinceramente eu não sei
onde errei. Dei tudo para ele”,
lamenta, tentando encontrar uma
explicação sobre a educação do
filho. Outras pessoas também
tentaram ajudá-lo a encontrar o
caminho dos estudos e do seu
próprio lar. O vendedor ambu-
lante, João Roberto Mendonça,
45, salienta que muitas vezes
tentou orientá-lo. “Já chamei
conselho tutelar, já procurei
várias pessoas para ajudá-lo,
mas ele não quer saber de nada.
Agora desisti”, desabafa.
Situações como essa estão
cada vez mais comuns no cen-
tro da cidade: crianças come-
tendo pequenos crimes ou ven-
dendo objetos nas ruas. A.D.P.
de apenas 11 anos, vende ro-
sas juntamente com sua irmã
pelos bares da região central.
Faz esse tipo de trabalho há cin-
co anos, sempre nos finais de
semana. C.D.J., 17 anos, irmã
mais velha, também começou
cedo no trabalho. A dupla jura
Esse tipo de situação preocu-
pa as autoridades e requer cuida-
dos especiais do poder público. A
conselheira Terezinha Saffi Dias
de Castro observa que, no caso
de S.S.P., ele já responde por seus
atos infracionais e não compete
mais ao Conselho Tutelar qual-
quer tipo de atribuição. Para ela,
o caso deve ser avaliado pelo
Juizado da Infância e Juventude.
A conselheira fala ainda que, quan-
do um adolescente (maior de 12
anos) comete um delito, passa a
ser de responsabilidade da Dele-
gacia de Proteção à Criança, à
Mulher e ao Adolescente. Já o
conselheiro Vilmar Otávio
Horlando entende que o municí-
pio sente a falta de um local de
internação para o adolescente in-
frator, onde ele possa ser educado
que estuda à tarde e faz esse
tipo de atividade para ajudar
os pais nas despesas da casa.
Local inadequado
por profissionais.
Para Ana Cláudio Brandão da
Silva, funcionária da Secretaria do
Bem-Estar Social, o município
tem uma equipe formada por as-
sistentes sociais, psicólogas e
pedagogas que atendem uma mé-
dia de 30 adolescentes infratores
por mês. Segundo ela, as medidas
aplicadas são as de Liberdade As-
sistida e Prestação de Serviço à
Comunidade. O Centro de Inter-
namento Provisório (CIP) é o úni-
co local na cidade que serve como
abrigo ao adolescente que come-
teu delito. Neste local, o infrator
pode permanecer pelo prazo má-
ximo de 45 dias, enquanto aguar-
da julgamento. Caso for condena-
do,elepodeserlevadoparaumcen-
tro de internação nas cidades de
Lages, Chapecó ou São José. [MR]
Ilustração
8. Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
Primeira Pauta8
Comunidade
Edelamar Negherbon
Inchamento do Centro afeta residências
Com 1,28 Km2
e 1.978 resi-
dências, o Centro de Joinville é
o bairro de menor área da cida-
de. As residências mais antigas
estão se transformando em área
comercial e os moradores per-
cebem várias mudanças no as-
pecto residencial do bairro. O
crescimento vertical é um fato na
reurbanização que modifica es-
tilos de vida e preocupa a popu-
lação.
Natural de Joinville, a dona
de casa, Íris Santana, 61, vive no
Centro desde que nasceu. Her-
dou a casa onde mora, na rua
Tijucas, de seus pais. Para Íris, o
centro da cidade mudou muito.
“Antigamente tínhamos que ir a
Blumenau ou a Curitiba fazer
compras, hoje o comércio do
Centro supre todas as minhas
necessidades”, elogia. E continua:
“Acho até que o comércio daqui
está muito superior que o de ci-
dades vizinhas”.
Íris lembra ainda da falta de
água e de energia que era cons-
tante anos atrás. “Melhorou mui-
to o abastecimento e a qualida-
de da água. Assim como a ener-
gia elétrica também progrediu
muito”, revela. Outra boa mu-
dança vista por Íris são as calça-
das construídas e as novas ruas
Moradores do Centro da cidade
observam mudanças no aspecto
residencial do bairro e fazem críticas
abertas. “Muitas ruas foram aber-
tas, inclusive a rua Orestes Gui-
marães, que corta a rua da mi-
nha casa. Essa expansão possi-
bilitou maior espaço para circu-
lação”, conta a dona de casa. Íris
comenta também a construção
de diversos prédios na cidade.
“Muitos prédios comerciais e
residenciais estão aumentando o
número de pessoas no Centro,
fazendo com que bons restau-
rantes e boas lojas sejam criadas”,
alegra-se.
Para o genro de Íris, Mário
Walter, 57, juntamente com o
progresso apareceram muitos
problemas na região central. “O
trânsito está uma loucura. Não
existe mais lugar para tantos car-
ros”, afirma. “Acredito que mais
ciclovias deveriam ter sido cons-
truídas, já que Joinville é conhe-
cida como Cidade das Bicicle-
tas. As autoridades poderiam ter
aproveitado esse rótulo para
melhorar a qualidade de vida da
população”, ressalta Mário.
Violência
Outro grave problema, na
visão de Mário, são os constan-
tes assaltos que vem ocorrendo
e o aumento considerável do
número de desocupados. “Hoje
O crescimento vertical da área central da cidade impõe o aumento de oferta de serviços
Eunice Venturi
mesmo entraram na casa da mi-
nha sogra e levaram a bolsa
dela”, reclama. Nem mesmo as
grades colocadas nas portas e
janelas da casa deixam a família
segura. “Os ladrões esperam o
momento certo para agir. Quan-
do saímos de casa ou quando
esquecemos de trancar uma gra-
de ou porta. Caso alguém os
veja entrando, eles dizem que vi-
eram pedir comida ou esmola”,
explica Mário. Apesar da insegu-
rança, o custo de vida também é
muito alto para morar no Cen-
tro. “As casas mais antigas, hoje,
são clínicas médicas ou lojas”,
avalia.
O ex-morador do Centro,
Ervino José Simões da Maia,
afirma que decidiu se mudar,
depois que sua esposa foi assal-
tada quando ia ao mercado.
“Morei dez anos naquele local e
a mudança foi brusca. Hoje há
muito barulho, muita movimen-
tação e perigo”, diz.
Atualmente Ervino mora há
23 Km do centro, na Estrada
Bonita, conhecida também
como Estrada de Pirabeiraba.
“Comprei uma pequena Cháca-
ra, longe do tumulto do centro
da cidade”, declara. O ex-mo-
rador abriu um pesque-pague no
local e trabalha junto de sua es-
posa e dois filhos. Há trutas,
tilápias e bagres.
O filho de Ervino, Erivelton
Simões da Maia, 23, sente sau-
dades da época em que morou
no Centro, mas concorda com
o pai quando ele afirma que a
região central está muito diferen-
te. “Vivi uma infância calma e
feliz, mas acho que os tempos
mudaram. Assim como em di-
versas cidades, o Centro de
Joinville se transformou num
local de pedintes, trabalhadores
informais e desempregados.
Apesar disso ainda acho que em
outros bairros de Joinville, a
criminalidade está muito mais
avançada”, ressalta Erivelton.
Um exemplo da maior inse-
gurança que há em outros bair-
ros é o Boa Vista. Dos 33 bair-
ros de Joinville, o Boa Vista é o
bairro de maior área, com 14,38
Km2
e o mais populoso, com
30.901 habitantes. Moradora há
aproximadamente 50 anos no
bairro, a aposentada Iraci
Aparecida Andrade, 70, salienta
que a marginalidade aumentou
muito nos últimos 20 anos. “Te-
nho medo quando meus netos
saem de casa, não importa se é
dia ou noite”, frisa. “Minha casa
já foi roubada três vezes e mi-
nha filha assaltada na nossa rua”,
completa Iraci.
Um reflexo da diferença en-
tre o Centro e um bairro popu-
lar como o Boa Vista está no
custo dos imóveis. Uma casa
com três dormitórios, sendo
uma suíte com hidromassagem,
sala de estar, sala de jantar, cozi-
nha, lavanderia, churrasqueira e
garagem, custa em média R$
130.000,00 no centro da cidade.
Uma casa com as mesmas de-
pendências, no bairro Boa Vista,
por exemplo, pode ser encon-
trada pela metade do preço.
“Acredito que mais ciclovias
deveriam ter sido construídas, já que
Joinville é conhecida como Cidade
das Bicicletas. As autoridades
poderiam ter aproveitado esse
rótulo para melhorar a qualidade de
vida da população”
Mário Walter, 57 anos,
Morador do Centro
9. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
9
História será resgatada
Obras visam revitalizar o Centro, modificando
a Rua do Príncipe e a Rua 15 de Novembro
Luiz Fernando Bertoldi
“O principal objetivo de
revitalizar o Centro de Joinville
é resgatar e poupar a parte his-
tórica da cidade e tentar acabar
com o excesso de publicidade
existente nas fachadas”, declarou
o arquiteto Vânio Kuntze, do
Instituto de Pesquisa e Planeja-
mento Urbano de Joinville
(IPPUJ). Essa revitalização é uma
forma de combater à poluição
visual além de contribuir para o
desenvolvimento de projetos
comoamodificaçãodaRuadoPrín-
cipe e da Rua 15 de Novembro.
As mudanças que vão ocor-
rer na cidade não farão com que
a característica histórica existen-
tes até hoje perca seu valor. “Ao
contrário, valorizará ainda mais,
comparada ao jeito que se en-
contra, maltratada e abandona-
da. O instituto quer tentar
conscientizar os lojistas de acor-
do com cada edificação”, escla-
rece o arquiteto. O IPPUJ suge-
rirá aos comerciantes a alteração
de suas fachadas, projetando os
lugares dos bancos, a iluminação
adequada e o sentido das ruas
para os veículos.
É dessa forma que será de-
senvolvido o projeto de abertu-
ra da Rua do Príncipe. A
revitalização envolveria inclusive
a Alameda Brustlein, conhecida
como “Rua das Palmeiras”, que
leva ao antigo Palácio dos Prín-
cipes. Este é um anteprojeto que
está tramitando na Prefeitura
Municipal, em que seriam
priorizados os passeios de pedes-
tres e os de veículos. Mas a prin-
cipal meta é o trânsito de pedes-
tres, que seriam os maiores be-
neficiados com o projeto, pois
haveria uma distribuição mais
equilibrada para os passeios.
O projeto do passeio para
pedestres envolve, além da ur-
banização, questões sociais. No
atual calçadão da Rua do Prínci-
pe, trabalhadores informais uti-
lizam o espaço como local de
trabalho. “A questão dos ambu-
lantes não foi acertado ainda, o
IPPUJ tem alguma coisa em
mente, mas apenas projetos no
papel”, afirma Kuntze.
Outro projeto é o da Rua 15
de Novembro. Esse projeto não
partiu do IPPUJ, mas o desen-
volvimento seria coordenado
pelo Instituto. Chegou-se ao con-
senso, através de estudos, que era
inviável a realização da cobertu-
ra. Muitos lojistas apoiaram a
idéia, acreditando que muitos be-
nefícios viriam juntos, mas os
custos eram absurdos, além de
dificultar a arborização da rua.
Outra questão muito importan-
te se refere à prevenção contra
incêndios. O prédio da Harmo-
nia Lyra, uns dos mais antigos da
cidade, não poderia ser coberto,
por que dificultaria o acesso dos
bombeiros.
O arquiteto Vânio Kuntze
afirmou que vários fatores estão
por trás destes projetos. Junto
com a revitalização do Centro, a
qualidade de vida também será
beneficiada, não só a dos que mo-
ram em Joinville, mas também
dos visitantes. “Queremos pro-
porcionartantoaosturistasquanto
aos próprios moradores da nos-
sa cidade, atrativos que façam
com que o joinvilense sinta orgu-
lho de sua cidade, sinta prazer de
circular pelo centro da cidade.
Uma Joinville mais bonita, orga-
nizada e limpa”, conclui Vânio.
Moradores e pessoas que cir-
culam diariamente no centro da
cidade apóiam a idéia de
revitalizar o Centro de Joinville.
“Joinville tem 152 anos, está na
hora de fazer de Joinville uma
cidade mais atraente. Revitalizar
é sinal de crescimento e desen-
volvimento tanto político, eco-
nômico e turístico”, opinou o
morador da Rua do Príncipe,
Agenor Arruda. Adailson
Bechellen falou que a conserva-
ção da cidade é importante. “Os
traços arquitetônicos que herda-
mos de nossos colonizadores são
a única riqueza histórica que te-
mos. Revitalizar é preciso.”
Os maiores beneficiados
com a revitalização do centro da
cidade serão a própria popula-
ção como também os comerci-
antes e lojistas. A reestruturação
do Centro poderia favorecer a
capacidade turística de modo a
influenciar no desenvolvimento
econômico de Joinville.
Para o desenvolvimento e
execuções de seus projetos e pla-
nejamentos urbanos, o IPPUJ há
quase dois anos implantou o
software Arqui_3D da Grapho
para os projetos de urbanismo,
aliado aos softwares 3DS Max e
Viz para as animações e
fotorrealismo. "Quem trabalha
com planejamento urbano como
é o caso das prefeituras, sabe das
dificuldades em executar proje-
tos dentro das normas técnicas
dos municípios. O IPPUJ foi pi-
oneiro neste setor e encontrou
através destas ferramentas a so-
lução para estes problemas", afir-
ma Emerson Brittes, da Virtual
Automação, empresa do Grupo
Grapho que atende o Instituto.Prédio do Harmonia Lyra impedirá cobertura da Rua 15 de Novembro no centro da cidade
Geral
Calçadão da Rua do Príncipe vai se tornar via para carros
Fotos: Eunice Venturi
10. Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
Primeira Pauta10
Geral
Nicole da Rosa Gomes
Crescimento vertical do Centro
preocupa Corpo de Bombeiros
Edifícios com mais de 20 andares e distância da periferia
dificultam o trabalho dos voluntários na cidade
Vinte e quatro horas por dia,
ao tocar do telefone, a sirene
anuncia aos bombeiros voluntá-
rios de plantão mais uma ocor-
rência. Na luta contra o tempo,
eles correm em direção à viatu-
ra, prontos para prestar mais um
socorro. Essa é uma típica cena
nas nove unidades da Sociedade
do Corpo de Bombeiros Volun-
tários de Joinville (SCBVJ). “A
cada saída, uma nova experiên-
cia é adquirida. É impossível sa-
ber o que se vai enfrentar fora
dos portões das unidades. Em
questões de segundos, decisões
precisam ser tomadas com efi-
ciência, vidas não podem espe-
rar”, declara o comandante
Valmor Maliceski.
O Corpo de Bombeiros Vo-
luntários de Joinville conta com
treinamentos diários, equipa-
mentos de alta tecnologia, viatu-
ras e um grande número de
bombeiros e bombeiras volun-
tárias. O que não evita o aumen-
to do número de acidentes. O
crescimento vertical do Centro
e horizontal dos bairros de Join-
ville são algumas das maiores
preocupações dos bombeiros.
A distância entre as unidades
do SCBVJ e a periferia é um dos
maiores problemas. A compra
de mais unidades móveis, como
consta em projetos, aproxima-
ria os bombeiros da população.
“Como se a distância não bas-
tasse, o tempo que as pessoas
demoram para acionar o 193,
mais os dez minutos que os
bombeiros demoram para che-
gar até o local, tornam pratica-
mente impossível alguém ou al-
guma coisa ser salva”, desabafa
o comandante operacional Hei-
tor Ribeiro Filho. Os bombeiros
são voluntários, é preciso que os
cidadãos também o sejam. Para
ajudar no crescimento e desen-
volvimento das unidades, cada
um pode se inscrever como só-
cio e dar sua contribuição men-
sal através da conta de água e luz,
mesmo que seja modesta.
Hoje, Joinville conta com
edifícios de mais de vinte anda-
res e sua fiação elétrica não é sub-
terrânea. Realidade que dificulta
cada vez mais o salvamento em
altura dos bombeiros voluntári-
os. O projeto para comprar uma
escada com capacidade de atin-
gir 53 metros de altura solucio-
nará apenas os problemas psico-
lógicos. “A população ao saber
que temos a escada, pensará duas
vezes antes de se jogar do alto
de um prédio. Assim, teremos
mais chances de buscar alternati-
vas para salvá-la”, explica o co-
mandante Valmor Maliceski.
Segundo a empresária Ana
Cláudia Osório, desde os
primórdios o fogo sempre im-
pôs respeito, e hoje não é muito
diferente. “Corremos riscos em
qualquer lugar, até mesmo ao
atravessar uma rua”, generaliza.
Se a insegurança existe, não se
pode confiar somente na sorte,
mas estar atento às medidas de
prevenção.
Formação
Pioneiro em todo o mundo
e referência nacional, o treina-
mento dos bombeiros voluntá-
rios de Joinville acontece tanto
com os adultos que desejam ser
voluntários como com os bom-
beiros mirins, aos dez anos de
idade. Noções de patriotismo,
primeiros socorros, salvamentos
e importância do trabalho volun-
tário são ensinados para as cri-
anças até os quatorze anos, quan-
do elas passam para outra cate-
goria, a de aspirante. Até os de-
zoito anos, os jovens aspirantes
começam a se envolver em trei-
namentos mais rigorosos, peque-
nos incêndios, sobrevivência na
mata, mas, sempre acompanha-
dos de profissionais. Alcançados
os 18 anos, o bombeiro se for-
ma, estando apto para atender
somente chamados de combate
ao fogo, embora tenha conheci-
mentos básicos de outras áreas.
Os voluntários e voluntárias
são divididos por níveis de es-
pecialização. Formado, o bom-
beiro está apto a especializar-se
em resgate veicular, pré-hospita-
lar, aquático, salvamento em al-
tura e sobrevivência na mata. “Só
é aprovado nas especializações
quem realmente sabe. Serrespon-
sável por vidas humanas em meio
ao fogo, requer muito mais respon-
sabilidade do que por bens materi-
ais”,afirmaocomandanteMaliceski.
Um baile no Centreventos
Cau Hansen marcou a come-
moração dos 110 anos do
Corpo de Bombeiros Volun-
tários de Joinville. A solenida-
de aconteceu no dia 09 de
agosto, com a participação de
mil e quinhentas pessoas entre
bombeiros, familiares e convi-
dados. Não foram utilizados
os recursos financeiros prove-
nientes das contribuições da co-
munidade, todo o custo foi patro-
cinado pelas empresas da cidade.
A posse do presidente da
SCBVJ, Oswaldo da Silva Fi-
lho, homenagens às entidades
e personalidades que colabo-
ram para o fortalecimento do
110 anos de história e luta
trabalho voluntário dos bom-
beiros, foram alguns dos des-
taques da noite. Os bombei-
ros com maior tempo de ser-
viço foram condecorados,
como o subcomandante dos
voluntários Ademar Stuewe,
com 40 anos dedicados à
corporação. “Ser bombeiro
voluntário é carregar consigo
a eterna missão de salvar vidas,
mesmo quando tudo parece
perdido”, enfatiza o homena-
geado. Em seus anos de servi-
ço, Ademar acredita na disci-
plina, acima de tudo: “Seja
bombeiro voluntário, efetivo,
ou mirim, para todos a indis-
ciplina é intolerável”. [NGR]
Os bombeiros voluntários realizam treinamentos diariamente
Eunice Venturi
11. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
11
Kleyton Clemente
Geral
Prédios sobre o rio Matias podem cair
Nos últimos 40 anos a galeria que liga o Rio Matias
de sua nascente até o Rio cachoeira não recebe
manutenção e pode estar comprometida
Arquivo
Arquivo
Todos os anos a imagem se
repete. Basta chover por alguns
minutos e a região central de Jo-
inville se torna um grande rio.
Junto com o verão chegam as
fortes chuvas, que preocupam
comerciantes e moradores do
Centro. Poucas pessoas sabem
da existência de um rio que cor-
ta o Centro da cidade. Trata-se
do Rio Matias que passa por de-
baixo do Shopping Müeller, Paiol
Lanchonete, corta a avenida
João Colin e segue rumo desco-
nhecido até o Rio Cachoeira. O
Rio Matias não suporta a quanti-
dade de água que se acumula em
fortes tempestades, além de não
receber manutenção. “Alguns
prédios podem ceder a qualquer
momento, visto que jamais fo-
ram feitas averiguações das es-
truturas e da atual situação da
galeria”, alerta N.S, que não quis
se identificar.
Segundo o engenheiro sani-
tarista Cassiano Garcia da Silva,
funcionário da Seinfra (Secreta-
ria de Infra-estrutura Urbana de
Joinville), órgão responsável pela
drenagem e conservação de rios
e córregos, o Rio Matias foi ca-
nalizado entre 40 e 50 anos atrás
e não existem dados exatos de
sua canalização, ou seja, o
mapeamento do rio é uma in-
cógnita. Nesse período não fo-
ram realizadas drenagens nem a
avaliação da estrutura das galeri-
as. Segundo informações de N.S.,
as armações estão situação pre-
cária, pois os tijolos utilizados a
mais de 50 anos eram de barro
e a galeria foi construída em for-
ma de arco. Com as fortes chu-
vas nas últimas décadas a galeria
já estaria comprometida, colo-
cando em risco vários edifícios
e o próprio terminal urbano de
Joinville.
Cassiano Garcia da Silva diz
que é impossível entrar na gale-
ria. “Seria necessário roupa es-
pecial e máscaras de oxigênio, o
custo seria elevado”, justifica. O
crescimento desordenado e o
não planejamento da cidade são
os principais fatores pelo preço
que o joinvilense está pagando.
Segundo o engenheiro Cassiano
G. da Silva, as tubulações estão
todas entupidas e não há possi-
bilidades para drená-las.
O comerciante Jerônimo da
Silva, 56 anos, sabia da existên-
cia do rio e se assustou ao saber
que o edifício em que é locatário
pode ceder em qualquer chuva
forte. “Eu não acredito que nun-
ca fizeram vistorias e, ao menos,
drenagem neste rio, isto é uma
vergonha”, desabafa.
Águas de morte
No Morro da Tromba, no
bairro Costa e Silva nasce o rio
mais conhecido da cidade e o
mais poluído, o Rio Cachoeira.
Percorrendo 14 quilômetros,
aproximadamente, deságua na
Lagoa do Saguaçu. Com o pas-
sar dos anos o seu percurso, prin-
cipalmente no Centro, sofreu vá-
rias modificações, visando evitar
enchentes, o que de nada adiantou.
Um grande fio largo, negro
e com um odor muitas vezes in-
suportável, é assim que podemos
descrever o Rio Cachoeira. Sus-
tentado pelas marés, o Cachoei-
ra não consegue se defender das
constantes agressões, se deixou
levar e morreu. Motivo: polui-
ção. A irresponsabilidade e a fal-
ta de preocupação com o futu-
ro foram os principais causado-
res dos problemas ambientais.
Com as fortes chuvas e a coinci-
dência de horários das tábuas de
marés é inevitável o alagamento
das margens, principalmente da
Avenida Beira Rio e ruas centrais
da cidade. O Rio Matias por sua
vez recebe grande quantidade de
água que vem de todos os pon-
tos do Centro. Como não foi
construído um declive em sua
canalização, o montante de água,
a falta de queda gradual até o Rio
Cachoeira, as marés e a não con-
servação contribuem para as ca-
lamidades presenciadas todos os
anos. Fica aqui o apelo ao novo
governador e aos políticos locais
que façam desse problema uma
solução para a população
joinvilense.
O descuido pode se reverter em danos para comunidade
A irresponsabilidade e a falta
de preocupação com o futuro
foram os principais causadores
dos problemas ambientais
Encontro
do Rio Matias
com o Cachoeira
Antigo leito do
Rio Cachoeira
Rio Cubatão
12. Joinville/SC, 15 de Novembro de 2002
Primeira Pauta12
Cultura
Devido ao horário de verão
em vigor desde a madrugada do
dia 03 de novembro, o joinvilense
tem mais tempo para momen-
tos de recreação e lazer nas pra-
ças da cidade. Mesmo assim, é
fraca, quase inexistente a visitação
nas principais praças da cidade
ao anoitecer. É o que se pode
constatar ao visitar esses lugares.
“O joinvilense pouco conhece e
prestigia a cultura local”, é o que
afirma Ademir Batista, 54 anos.
Ademir é ambulante e um
dos poucos habitantes da cida-
de que freqüenta as praças. Ape-
sar de ir à Praça da Bandeira para
trabalhar, ele conta que gosta de
observar o Monumento aos
Imigrantes e explica o seu signi-
ficado. “Esse monumento fala
sobre a Fundação de Joinville e
a chegada dos imigrantes”. Co-
menta ainda que ensina o trajeto
até as praças e monumentos para
incentivar a visitação dos turistas
e tratá-los bem.
O esforço de Ademir é um
contraponto ao descaso da Pre-
feitura com a manutenção dos
monumentos. No Monumento
aos Imigrantes, por exemplo, não
existe iluminação e a calçada de
pedras é entremeada por barro.
Na quadra ao lado, ainda na rua
Nove de Março, a “Nave dos
Pioneiros” também está às escu-
ras. Os postes estão lá, mas des-
ligados. A Nave dos Pioneiros ou
o “Marco do Sesquicentenário”,
como é mais conhecido, não
apresenta sinais de pichação, mas
alguns adesivos de campanha
atrapalham a leitura da placa
explicativa. Um lago artificial
enfeita os arredores do Marco,
mas libera um mau cheiro afeta
a sensibilidade do passante que
deseja parar e contemplar a be-
leza estética do local. Na mesma
quadra está o Memorial Hans
Dieter Schmidtt, construído em
comemoração aos 137 anos de
Joinville e 50 anos da empresa
Tupy S.A.
Mais opções
No Centro da cidade estão
localizados também os museus
Arqueológico do Sambaqui, de
Arte, Fritz Alt, do Bombeiro e o
Museu Nacional de Imigração e
Colonização. Os museus são gra-
tuitos e, em geral, estão abertos
de segunda à sexta incluindo os
feriados. No Centro estão loca-
lizados também a Biblioteca Pú-
blica, o Complexo Cultural An-
tártica, a Casa da Cultura e o
Arquivo Histórico. A Casa da
Cultura promove periodicamen-
te cursos abertos ao público e o
Arquivo Histórico abriga e
disponibiliza para consulta docu-
mentos sobre a história da cida-
de. Todas essas opções culturais
são gratuitas, mas em geral, são
pouco conhecidas e freqüentadas.
Moradores desconhecem
espaços culturais do Centro
Praças, museus e áreas de lazer
são pouco aproveitadas
Michelle de Castro
Arquivo Histórico de Joinville Av. Hermann August Lepper, 650
Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin Jardim Lauro Müller
Casa da Cultura Rua Dona Francisca, 800
Centreventos Cau Hansen Av. Beira Rio, 315
Complexo Cultural Antarctica Rua 15 de novembro, 1.435
Museu Arqueológico de Sambaqui Rua Dona Francisca, 600
Museu de Arte de Joinville Rua 15 de Novembro, 1400
Museu Nacional de Imigração e Colonização Rua Rio Branco, 229
Museu Nacional do Bombeiro Rua Jaguaruna, 13
ONDEIREM
JOINVILLE
O desenvolvimento da cidade fez as praças perderem a função de lugar de encontro
Eunice Venturi