4. Segunda - Rm 4.2
Abraão foi justificado pela fé e não
pelas obras da carne
Terça - Rm 4.3
Abraão creu em Deus e por isso Ele o
aceitou e justificou
Quarta - Rm 4.6
Feliz é o homem a quem Deus imputa a
sua justiça
5. Quinta - Rm 4.7
Felizes são aqueles a quem o Senhor
perdoa as iniquidades
Sexta - Rm 4.9
A Palavra de Deus afirma que a fé foi
imputada como justiça a Abraão
Sábado - Rm 4.16
Salvação somente pela fé, mediante a
graça divina
6. Romanos 4
17 - (como está escrito: Por pai de muitas
nações te constituí.), perante aquele no qual
creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos
e chama as coisas que não são como se já
fossem.
18 - O qual, em esperança, creu contra a
esperança que seria feito pai de muitas
nações, conforme o que lhe fora dito: Assim
será a tua descendência.
19 - E não enfraqueceu na fé, nem atentou
7. para o seu próprio corpo já amortecido (pois
era já de quase cem anos), nem tampouco
para o amortecimento do ventre de Sara.
20 - E não duvidou da promessa de Deus por
incredulidade, mas foi fortificado na fé,
dando glória a Deus;
21 - e estando certíssimo de que o que ele
tinha prometido também era poderoso para
o fazer.
22 - Pelo que isso lhe foi também imputado
como justiça.
8. Explicar que somos justificados diante de
Deus somente pela fé e não pelas obras da
carne.
I. Abalizar que a justificação manifestada em Jesus Cristo
veio para salvar judeus e gentios;
II. Mostrar que Paulo procurou responder, de forma
bíblica, as contestações que seus interlocutores faziam
quanto à justifi cação;
III. Explicar como Paulo utilizou o exemplo de Abraão para
tratar a respeito da justificação pela fé.
10. *Justificação
"[Do heb. tsadik; do gr. diakaios; do lat. justificationem].
Ato de declarar justo. Processo judicial que se dá junto ao
Tribunal de Deus, através do qual o pecador que aceita a
Cristo é declarado justo (Rm 5.1). Ou seja: passa a ser visto
por Deus como se jamais tivera pecado em toda a sua vida
(Rm 5.1).
A justificação é mais que um mero perdão. O criminoso
perdoado, ou anistiado, continuará criminoso. Mas se Deus
o justificar, torna-se ele justo (Rm 8.1). A justificação é
obtida única e exclusivamente pela fé em Cristo Jesus."
Para conhecer mais leia Dicionário Teológico, CPAD, p. 198.
11.
12.
13.
14. Ninguém pode ser justificado diante de Deus pela
Lei ou pelas obras da carne. O caminho da justificação é
somente pela fé na obra expiatória de Jesus Cristo. Paulo
mostra que Cristo é o único caminho para que judeus e
gentios sejam absolvidos da penalidade do pecado. O
apóstolo, de maneira sábia, utiliza o exemplo do patriarca
Abraão para desfazer a ideia errada que os judeus tinham
de que a aceitação de Deus era obtida mediante as obras
da Lei.
Glória a Deus, pois na Nova Aliança, tudo que
recebemos da parte do Senhor, inclusive a salvação, é
decorrente única e exclusivamente da graça de Deus.
15. No Calvário, a justiça de Deus chega ao seu cumprimento histórico, através de Cristo e sua
missão redentora. Já vimos na lição anterior que a justificação pela fé foi um dos pilares da Reforma
Protestante. Também vimos que a salvação é pela graça mediante a fé e não o resultado das obras
nem mesmo da adição de fé mais obras. Assim sendo, a salvação não é uma conquista do homem,
mas um presente de Deus. Não é uma medalha de honra ao mérito, mas uma manifestação do favor
imerecido de Deus. Martinho Lutero disse: “Esta doutrina é a cabeça e a pedra fundamental. Por si só,
ela gera, alimenta, edifica, preserva e defende a igreja de Deus. E sem ela, a igreja de Deus não
poderia existir nem por uma única hora”. Martin Lloyd-Jones afirmou que a justificação pela fé “é a
grande doutrina central de todo protestantismo, e vocês descobrirão que em cada avivamento ela
sempre vem na vanguarda”. A igreja cai ou permanece de pé por causa desta doutrina. Ela é a
espinha dorsal de todas as doutrinas bíblicas. John Piper diz: “Pregar e viver a justificação pela fé
glorifica a Cristo, resgata pecadores desesperados, encoraja santos imperfeitos e fortalece igrejas
frágeis”.] Dito isto, vamos pensar maduramente a fé cristã?
16.
17. Em Romanos 3.21, lemos: "Mas, agora, se
manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o
testemunho da Lei e dos Profetas." Paulo nos mostra como
Deus se revelou para alcançar os gentios e judeus. Os
gentios estavam debaixo da ira de Deus, porque falharam
em conhecê-lo. Os judeus também estavam debaixo da ira
divina, por não conseguirem guardar a Palavra do Senhor. O
vocábulo manifestou, no grego, vem de uma raiz cujo
significado é tornar manifesto ou visível ou conhecido o que
estava escondido ou era desconhecido. Deus, na pessoa de
Jesus Cristo, tornou conhecido o seu grande amor para com
os pecadores. Encontramos Paulo recorrendo a uma figura
extraída do mundo jurídico para esclarecer o seu
pensamento. O termo justiça traduz a palavra grega
18. dikaiosyne, muito comum no contexto de um tribunal. A
imagem é de alguém que é inocentado por um juiz, mesmo
sendo culpado pelos seus atos. Concluímos então que,
mesmo culpados, Deus quis nos justificar e perdoar.
19. A justificação é um ato legal, forense e judicial de Deus. É feita no tribunal de Deus e não
em nosso coração. É um ato jurídico ou uma sentença divina na qual Ele declara perdoado todo
pecador que crer em Jesus. Louis Berkhof define: “A justificação é um ato judicial de Deus no qual Ele
declara, baseado na justiça de Jesus Cristo, que todas as exigências da lei estão satisfeitas com
respeito ao pecador”. A justificação é o contrário de condenação. Ela é um ato único e legal que
remove a culpa do pecado e restaura o pecador à sua condição de filho de Deus, com todos os seus
direitos, privilégios e deveres. A justificação não ocorre na vida do pecador, não produz mudanças no
seu caráter, mas no Tribunal de Deus. Justificação é uma declaração e santificação é transformação.
Mas, é a partir da justificação que o Espírito Santo inicia no pecador todo o processo de santificação
até a sua glorificação.
20. Em Romanos 3.24, Paulo usa o verbo grego
apolytroseo para se referir à redenção efetuada por Jesus
Cristo. Essa palavra, conforme definem os léxicos da língua
grega, tem o sentido de redenção, resgate ou libertação. No
contexto neotestamentário tem o sentido de libertar
mediante o preço de um resgate. No mundo antigo um
escravo podia ser resgatado mediante o pagamento de um
preço. É exatamente isso que Deus fez. Enviou Jesus Cristo
para resgatar o homem que estava preso em seus delitos e
pecados (Ef 2.1,2). Tanto judeus como gentios deveriam se
conscientizar dessa realidade. Ninguém pode se
autolibertar.
21. Como uma pessoa pode se tornar aceitável diante de Deus? A resposta está clara no Novo
Testamento, especialmente nos escritos de Paulo, como a passagem clássica de Romanos 3.21-25. Nas
Escrituras, a justificação é o contrário da condenação. É a declaração que diz que o pecador que crê é
justo, e isso devido à retidão imputada de Cristo, o “dom da justiça”, conforme lemos em 5.17. Agora
a justiça de Cristo é legalmente considerada como possessão do pecador crente. Todos os homens são
pecadores e necessitam do perdão de Deus. A justiça de Deus é para todos e sobre todos, judeus e
gentios, porque todos erraram o alvo, deixando de ser conforme o propósito de Deus. Pois todos
pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23). Infelizmente, a palavra portuguesa “justificação”,
originária do latim, dá a idéia de “tornar justo”, no sentido de produzir justiça no justificado. Mas o
termo grego originaldikaiosyne não se refere a uma mudança intrínseca no indivíduo, e sim a uma
declaração feita por Deus. Visto que não temos justiça própria e somos culpados diante de Deus, ele
nos declara justos com base na expiação de nossos pecados por Cristo e na sua justiça imputada a
nós.
22. Se o sistema judicial foi útil para elucidar o pensamento
do apóstolo, da mesma forma a figura extraída do sistema de
sacrifícios levítico também o auxiliou. Isso pode ser visto no
texto: "Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu
sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados
dantes cometidos, sob a paciência de Deus" (Rm 3.25). A palavra
propiciação (gr. hülasterion), que está relacionada ao termo
propiciatório é uma terminologia muito utilizada no Antigo
Testamento para se referir aos sacrifícios pelo pecado. No
sistema levítico, quando alguém pecava tornava-se culpado de
algo, e um animal inocente era sacrificado para que a culpa fosse
expiada. Paulo mostra que tanto os gentios como os judeus não
podem chegar a Deus pelos seus esforços ou obras, mas única e
exclusivamente pelo sangue de Jesus: o inocente Cordeiro de
Deus que foi sacrificado por nós.
23. A justificação é um presente que Deus concede ao homem. Paulo diz: sendo justificados
gratuitamente, por Sua graça (Rm 3.24). A palavra gratuitamente significa “como um presente”, “sem
pagamento”; e a palavra graça significa “por um favor imerecido”. Ela não pode ser comprada por
obras humanas ou conquistada por méritos pessoais. Ela é exclusivamente pela graça - gratuita para
o pecador, mas ela teve um alto custo para Deus. Para nós a salvação é grátis, mas para Deus custou
à vida de Seu Filho. “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que
fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.18-19). É por meio do
sacrifício de Jesus, que Deus toma a culpa do pecador e a atribui a Jesus Cristo. E a justiça que há em
Jesus Cristo é imputada ao pecador. Jesus pagou a pena em nosso lugar, e por isso nenhuma
condenação há para aquele que nEle confia. Cristo “…foi entregue por causa das nossas transgressões
e ressuscitou por causa da nossa justificação”. A justificação pela fé é a doutrina que marca o
rompimento dos reformadores com a Igreja de Roma. A justificação, de acordo com o ensino de
Roma, era pelas obras. Esse ensino escravizava a mente e o coração das pessoas, que nunca podiam
descansar em Deus, tendo a necessidade de praticar constantemente as obras recomendadas pela
igreja.
24. "A Doutrina da Justificação
A estudarmos a Doutrina do Pecado descobrimos
que ninguém pode ser justificado pela justiça humana.
Entretanto, é na doutrina da justificação, no texto de 3.1 a
5.21, que o pecador encontra o caminho da justificação,
através da obra expiatória de Cristo. No primeiro estado, o
pecador está perdido e sem possibilidade alguma de se
justificar diante de Deus. No segundo estado, o pecador
encontra Cristo que o justifica.
É a partir do capítulo 3.21 que o pecador, judeu ou gentio,
encontra um novo caminho através dos méritos de Cristo
Jesus. É aqui que ele pode ser perdoado e declarado livre da
pena do seu pecado, perante Deus.
Justificação significa absolvição da culpa, cuja pena foi
satisfeita. Significa ser declarado livre de toda culpa tendo
25. cumprido todos os requisitos da lei.
Justificação é um termo forense que denota um ato judicial
da administração da lei. Esse ato judicial legaliza a situação
do transgressor perante a lei e o torna justo, isto é, livre de
toda a condenação. Cristo assumiu a pena do pecador e foi
sentenciado no lugar do pecador. Ele sofreu a pena contra o
pecador. Cumprida a pena, o veredicto final da justiça
divina é a justificação do pecador. Entende-se então que ser
justificado não significa que a justiça tenha sido adiada, ou
que ela não tenha sido cumprida" (CABRAL, Elienai. Romanos: O
Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.52).
26.
27. Paulo desejava que o seu ensino não fosse mal
interpretado, então recorrendo ao método da diatribe, se
adiantando em responder as contestações que seus
interlocutores poderiam fazer-lhe. "Onde está, logo, a
jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas
pela lei da fé" (Rm 3.27). A lei dizia faça e o judeu devoto
estava convicto de que Deus o justificaria pelo que fazia. No
entanto, a graça que Paulo ensinava dizia não faça, mas
aceite o que Jesus já fez. O que seria feito então do orgulho
judaico que se vangloriava em ser o povo eleito de Deus e
das boas obras que praticavam? Não levaria Deus isso em
conta nessa nova doutrina de Paulo? Nas palavras do
apóstolo, não! É bem fácil imaginar que para um judeu
28. devoto, guardador da lei e praticante de boas obras, que o
ensino da justificação "pela fé somente" era bem difícil de
digerir. Não é fácil abrirmos mão do nosso orgulho e
deixarmos de nos vangloriarmos pelos nossos feitos.
Todavia, a doutrina da justificação pela fé diz que não há
mérito humano quando a graça de Deus se manifesta. A
conclusão de Paulo é que "o homem é justificado pela fé,
sem as obras da lei" (Rm 3.28).
29. A fonte da justificação é a graça de Deus, o fundamento da justificação é a obra de Cristo
e o meio da justificação é a fé. A fé é o canal através do qual a justificação é concedida ao pecador
que crê; é o meio pelo qual ele toma posse das bênçãos obtidas por Cristo (como a paz com Deus, Rm
5.1). Ela não é uma boa obra, mas um dom de Deus, como Paulo ensina em Efésios 2.8-9. É o único
meio de receber o que Deus fez por nós (“sola fides”), ficando excluídos todos os outros atos ou obras.
A morte expiatória de Cristo assegura uma parte de nossa justificação, ou seja, aquela que diz
respeito ao perdão, enquanto sua ressurreição obtém para nós o outro elemento, o da justiça. Como
morte e ressurreição permanecem juntas como aspectos gêmeos da realização central de Cristo, o
mesmo acontece com a expiação e a justificação. A morte na cruz não foi o final para Jesus. Sua
morte foi o cumprimento de uma importante etapa de sua obra, que teve continuidade em sua
ressurreição, ascensão, sessão à destra do Pai e em sua obra permanente como Profeta, Sacerdote e
Rei. Por sua vez, foi a ressurreição que deu significado à morte e lançou luz para os discípulos sobre
tudo o que havia ocorrido anteriormente. Foi sua ressurreição que deixou claro para os discípulos e
para todos aqueles que o viram pregado na cruz que ele realmente era quem dizia ser: o Messias
prometido. Além do mais, a própria ideia da ressurreição exige a morte primeiro, ou isso não é
ressurreição. Da mesma forma como morte e ressurreição são inseparáveis e mutuamente
necessárias, assim também a justificação não pode ocorrer sem a expiação pelos pecados, pois as
pessoas não podem ser consideradas justas se elas estão sob a ira de Deus. Por outro lado, a expiação
também não pode ser entendida sem seu companheiro inseparável, o recebimento da justiça, que nos
capacita não apenas a sermos trazidos a um estado de inocência, mas nos faz aptos para entrarmos
em comunhão com um Deus justo e santo. Relativo à ‘trapos de imundícia’, os “atos de justiça” que
Isaías tinha em mente eram, muito provavelmente, os rituais superficiais oferecidos por Israel,
desprovidos de uma fé e de uma obediência sinceras. m Isaías 65.1-7, o Senhor rejeita os
30. sacrifícios pecaminosos de Israel. Eles são um insulto ao Senhor, fumaça para seu nariz, assim como a
“obediência” ritualista de Isaías 58 não impressionou ao Senhor porque seu povo continuava
oprimindo o pobre. Os “atos de justiça” eram “trapos imundos” porque não eram nem um pouco
justos. Tinham aparência boa, mas não passavam de farsa, literalmente uma cortina de fumaça para
acobertar a incredulidade e a desobediência deles. Então, não é correto pensar que todo “ato de
justiça” do crente são trapos imundos aos olhos de Deus. Aliás, no versículo anterior, Isaías 64.5,
Isaías declara: “Vens ajudar aqueles que praticam a justiça com alegria, que se lembram de ti e dos
teus caminhos”. Não é impossível o povo de Deus praticar atos de justiça que agradam a Deus. Sobre
isso, John Piper explica: “Às vezes as pessoas são descuidadas e falam de forma negligente sobre toda
a justiça humana, como se não houvesse nada que agradasse a Deus. Muitas vezes elas citam Isaías
64.6 que diz que nossa justiça é como ‘trapo de imundícia’. É verdadeiro – gloriosamente verdadeiro –
que ninguém do povo de Deus, antes ou depois da cruz, seria aceito pelo Deus imaculadamente santo
se a justiça perfeita de Cristo não nos fosse imputada (Romanos 5.19; 1 Coríntios 1.30; 2 Coríntios
5.21). Mas isso não quer dizer que Deus não produza nessas pessoas ‘justificadas’ (antes e depois da
cruz) uma justiça experiencial que não é ‘trapo de imundícia’. Ao contrário, ele o faz; e essa justiça é
preciosa a Deus e é exigida, não como fundamento da justificação (que é a justiça de Cristo somente)
mas como evidência de sermos filhos verdadeiramente justificados de Deus”. John Piper, Graça Futura (São Paulo,
SP: Shedd Publicações, 2009), pág. 148. Os que geram fruto em cada boa obra e crescem no conhecimento de Deus
são totalmente agradáveis a Deus (Cl 1.10). Apresentar nosso corpo como sacrifício vivo agrada a
Deus (Rm 12.1). Cuidarmos de nosso irmão mais fraco agrada a Deus (Rm 14.18). Obedecer nossos
pais agrada a Deus (Cl 3.20). Ensinar a Palavra de forma autêntica agrada a Deus (1 Ts 2.4). Orar por
autoridades de governo agrada a Deus (1 Tm 2.1-3). Sustentar familiares em necessidade agrada a
Deus (1 Tm 5.4). Partilhar recursos financeiros com outros agrada a Deus (Hb 13.16). Agrada a Deus
quando guardamos os seus mandamentos (1 João 3.22).
31. A segunda indagação que Paulo procura responder
é a seguinte: "É, porventura, Deus somente dos judeus? E
não o é também dos gentios? Também dos gentios,
certamente" (Rm 3.29). Esse é outro ponto que contrastava
com a crença do judaísmo do primeiro século - o
exclusivismo. A doutrina da justificação pela fé revela que
Deus não é somente dos judeus, que se achavam
privilegiados pelo legalismo em relação à Torá, mas dos
gentios também. Deus não é uma divindade nacionalista,
mas Ele é o Deus de toda a Terra. Não há dúvidas de que
Paulo tinha em mente o shema judaico quando argumentou
sobre esse assunto: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é
o único SENHOR" (Dt 6.4). Se Deus é o único Deus, como de
32. fato afirma o monoteísmo judaico, então Ele é o Deus dos
gentios também. Não podemos cair no erro de achar que
Deus é nossa propriedade exclusiva.
33. A parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14) sobre dois grandes pecadores foi
contada pelo Senhor Jesus. Um dos homens sabia que era pecador e o confessou diante de Deus. O
outro não sabia que era pecador e gabava-se de sua justiça. É a história de um homem que pensava
ser bom, mas que foi para o inferno e de outro que sabia ser mau e foi para o céu. A aplicação desta
parábola é clara: Quando consideramos nossa própria atitude na oração, é ela mais parecida com a
do fariseu ou com a do coletor de impostos? Humilhamo-nos na presença de Deus ou achamo-nos
agradecendo-lhe porque não somos como outras pessoas pecadoras? Humilhamo-nos ou
agradecemo-lhe por nossa força e o fato que não caímos como outros caíram? Sentimos a
necessidade de exclamar, como o fez o coletor de impostos: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador"?
34. "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira
nenhuma! Antes estabelecemos a lei" (Rm 3.31). Essa é
última pergunta a ser respondida por Paulo dentro dessa
seção. Os judeus legalistas defendiam a observância dos
preceitos da lei e acusavam Paulo de ser antinomista, isto é,
ensinar que a lei não tem mais nenhum sentido. Paulo
estaria ensinando que a justificação pela fé tornara a lei
desprezível? A resposta de Paulo é não! O problema não era
com a Lei, que tinha a função de servir de condutora até
Cristo, mas com os homens que se mostraram incapazes de
cumpri-la. Nem judeu nem tampouco gentio algum foi
capaz de cumprir a Lei. Somente Jesus Cristo a cumpriu em
nosso lugar. Qualquer tentativa de cumprir a Lei hoje é
35. nula, além de ser uma afronta àquEle que se mostrou o
único habilitado a fazê-lo - Jesus Cristo, nosso Senhor.
36. O Antinomismo (gr. Anti=contra; Nomos=lei, literalmente contra a Lei ou contra o sistema
da Lei) é uma das heresias mais antigas da História da Igreja. Já aparece no gnosticismo helenizado
de Marcião que negava qualquer importância real e espiritual ao Antigo Testamento, e por
conseguinte desde a Lei até os profetas, mas especialmente a primeira que era considerada
irrelevante e sem mais importância a partir de Cristo, por meio do qual fora estabelecida uma nova
relação com os homens. O Antinomismo, portanto, não só rejeita a Lei mas não vê para essa lei
qualquer significação nos dias de hoje, seja do ponto de vista da fé ou mesmo da ética. Contra a
acusação dos judeus de que Paulo era antinomista, Paulo mostra que nunca houve outro recurso de
salvação senão aquele provido por Deus. A esse respeito o Antigo Testamento deu seu testemunho
claro e irretorquível. Isso fica evidente da experiência de Abraão e Davi, dois vultos memoráveis da
história de Israel, por demais estimados por toda a nação. De fato, desde a entrada do pecado neste
mundo, justificação pela fé sempre foi o método de salvação. Paulo encerrou o capítulo 3 com a
afirmação que a fé confirma e não anula a lei.
37. O subtópico três mostra que o antinomismo se opõe a
justificação. Antes de discorrer a respeito do assunto faça a seguinte
indagação: "O que é antinomismo?" Ouça os alunos com atenção e
explique que "literalmente significa contra a lei. Doutrina que assevera
não haver mais necessidade de se pregar nem de se observar as leis
morais do Antigo Testamento. Calibrando esta assertiva, alegam os
antimonistas que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já estamos livres da
tutela de Moisés.
Ignoram porém, serem as ordenanças morais do Antigo
Testamento pertencentes ao elenco do direito natural que o Criador
incrustara na alma de Adão. Como podemos desprezar os Dez
Mandamentos? Todo crente piedoso os observa, pois o Cristo não veio
revogá-los; veio cumpri-los e sublimá-los. Além do mais, as legislações
modernas estão alicerçadas justamente no Decálogo" (ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 8.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.44).
38.
39. Na seção de Romanos 4.1-8, o apóstolo Paulo toma
o exemplo do patriarca Abraão para fazer um contraste
entre a justificação pela fé e pelas obras. A antiga tradição
judaica afirmava que Abraão já guardava a Torá, mesmo
tendo vivido séculos antes dela. Ele a teria guardado por
"antecipação", pois segundo o judaísmo, apoiando-se em
Gênesis 17.23, Abraão é circuncidado como sinal da aliança
entre ele e Deus. Da mesma forma o sacrifício de Isaque
confirmaria tal crença (Gn 22). Em outras palavras, as obras
justificaram Abraão. Contra essa argumentação, Paulo
mostra que Abraão não poderia ter sido aceito por Deus em
virtude da circuncisão, pois ele creu em Deus, tendo sido
isso imputado como justiça, antes dele ser circuncidado e
40. pelo menos quatro séculos antes do advento da Lei. O que
justificou Abraão não foi o que ele fez, mas o que Deus fez
por ele. Esse é o princípio do Evangelho - somos aceitos não
pelo que fizemos, mas pelo que Cristo fez por nós.
41. Paulo encerrou o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não anula a lei. Ele
continua o seu argumento, citando o exemplo do pai do povo da aliança, Abraão. Todos os judeus
respeitavam profundamente o pai de sua nação. Mostrando que Abraão foi justificado por fé, e não
por obras de lei, Paulo reforça a sua defesa do evangelho entre os judeus. Abraão recebeu a graça de
Deus pela fé antes de ser circuncidado (veja Gênesis 12, onde recebeu as promessas, e Gênesis 17,
onde recebeu a ordenança da circuncisão 24 anos depois). A circuncisão por si só não serve para nada
diante de Deus. É necessária a obediência, andando “nas pisadas da fé que teve Abraão...antes de ser
circuncidado” (Rm 4.12).
42. Na Aliança Abraâmica, Deus prometeu fazer dos
descendentes de Abraão uma grande nação. Ele também
prometeu ao patriarca que lhe daria como herança a terra e faria
do seu servo uma bênção para todos os povos (Gn 12.1-3).
Fazendo referência a essa promessa divina, Paulo argumenta que
a justificação não poderia decorrer da obediência à lei pelo fato
de que quando Deus fez a promessa a Abraão, este nem mesmo
era circuncidado (Rm 4.10-15). A própria crença judaica dizia que
a fé obediente de Abraão nas promessas de Deus lhe foi
imputada como justiça (Gn 15.5,6). Para Paulo, se as bênçãos
divinas prometidas a Abraão dependessem da obediência ao
código mosaico, então as promessas de Deus teriam falhado,
visto que ninguém fora capaz de cumprir ou guardar a lei.
43. Os judaizantes do passado pregavam que a justiça provinha das obras (At 15.1; Gl 2.21).
apóstolo Paulo diz pela inspiração que somos salvos pela fé e não pelas obras. (Ef 2.8-10). A salvação
pela fé, e não pelas obras, isto é, pela guarda da Lei, não é uma doutrina peculiar do Novo
Testamento; é, também, característica do Antigo Pacto. Paulo retrocede no tempo, para além de
Moisés, e toma Abraão como exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e
leal relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3; 15.5,6) e vivia em
obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg 2.21,22;). A fé de Abraão foi "imputada" por
justiça. "Imputar" significa creditar na conta da pessoa. Isso significa que a fé salvífica do cristão é
tida como equivalente à justiça no tocante ao seu efeito. A Escritura nos ensina que somos
justificados pela fé (Rm 3.28,30) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que
existe uma estreita relação entre a justificação e a fé.
44. Na teologia de Paulo em Romanos 4.18-25 há um
paralelismo entre a fé de Abraão e a fé do cristão - ambos
creram em um Deus que torna possível as coisas
impossíveis. Paulo mostra que Deus tornou possível a
concretização das promessas a Abraão, mesmo sendo seu
corpo já "amortecido" pelo fato de sua idade avançada, e
dessa forma recompensou a sua fé. A sua fé, mesmo contra
as evidências externas, garantiu-lhe a concretização das
promessas (Rm 4.16-22). Da mesma forma, a fé do cristão
na morte e ressureição de Jesus, o Filho de Deus, é a
garantia de que as promessas de Deus em sua vida também
serão cumpridas (Rm 4.23,25).
45. "Paulo diz que, se Abraão, o pai dos judeus segundo
a carne, tivesse sido julgado por obras ou justiça própria,
teria que gloriar-se diante de Deus. Porém o que
aprendemos é que Abraão foi como qualquer outro homem,
pecador e sem justiça nenhuma. Ele foi declarado justo por
meio da fé (Rm 4.3). Os judeus vangloriavam-se em Abraão
e criam que isto lhes garantiria a justificação, apenas por
serem 'filhos de Abraão segundo a carne". Os versículos 4 e
5, apresentam dois modos de justificação: por méritos e
por graça.
A justificação por méritos se baseia nas obras do
homem para obter a sua salvação. A justificação por graça
baseia-se sobre o princípio da fé. Deus justifica o pecador
pela fé. Ele imputa justiça ao que crê, isto é pela graça de
Deus" (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.59).
46. Chegamos ao final de uma importante lição sobre a
doutrina da justificação pela fé. Nesta lição aprendemos
que Paulo recorreu a experiência do patriarca Abraão para
argumentar contra a crença judaica que associava a
aceitação das obras como garantia de justificação diante
de Deus. Para Paulo isso não poderia ser verdade já que o
velho patriarca não possuía mérito algum quando recebeu
as promessas de Deus. As bênçãos recebidas por ele, assim
como as da Nova Aliança, decorrem exclusivamente da
graça de Deus em resposta a fé.
47. A respeito da Carta aos Romanos, responda:
Segundo a lição, por que os gentios estavam debaixo da ira de Deus?
Os gentios estavam debaixo da ira de Deus, porque falharam em conhecê-lo.
Na pessoa de quem Deus tornou conhecido o seu grande amor para com os
pecadores?
Na pessoa de Jesus Cristo.
Existem méritos humanos quando a graça de Deus se manifesta?
A doutrina da justificação pela fé diz que não há mérito humano quando a graça
de Deus se manifesta.
A justificação pela fé torna a lei desprezível?
A resposta de Paulo é não! Porém, judeu nem tampouco gentio algum foi capaz
de cumprir a Lei.
Qual era a função da lei?
A Lei tinha a função de servir de condutora até Cristo.
48. JUSTIFICAÇÃO, SOMENTE PELA FÉ EM JESUS CRISTO
Para explicar a doutrina da Justificação pela Fé, o apóstolo Paulo usa
dois tipos de linguagem na carta: a do judiciário e a do sistema de sacrifício
levítico. Como o apóstolo pretende convencer o seu público leitor, os judeus, bem
como os gentios, que mais do que o observar o sistema de Lei como requisito para
a salvação, Deus havia manifestado a sua graça justificadora lá no tempo da
Antiga Aliança por intermédio do pai da fé, Abraão. Logo, o apóstolo afirmaria
com todas as letras: "Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de
que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas
também à que é da fé de Abraão, o qual é pai de todos nós. [...] Pelo que isso lhe
foi também imputado como justiça" (Rm 4.16,22). Desta forma o apóstolo
argumentava ao judeu de que, pelo motivo do gentio ainda não ter a Lei, a
condição do gentio em relação a Deus em nada é inferior ao do judeu. Em Jesus,
pela fé mediante a Graça de Deus, o gentio é filho de Abraão por intermédio da
fé, que é pai tanto do judeu quanto do gentio achado por Deus (Rm 4.9-13).
49. A linguagem judiciária da Justificação
Ser justificado por Deus é ser inocentado por Ele mesmo da condição de culpado
pelos atos. Ou seja, o indivíduo não tem quaisquer condições de se autodeclarar
inocente ou de aliviar a sua consciência, pois sabe que nada poderá apagar a sua
culpa. Por isso, Deus, em Cristo, na cruz do Calvário, nos reconciliou para sempre
(2 Co 5.19). De modo que o apóstolo Paulo ratifica esse milagre: "Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2.8).
A linguagem sacrifical da Justificação
Trocar o culpado pelo inocente. O sangue de Jesus Cristo foi derramado no lugar
do sangue da humanidade. Foi a substituição vicária de Cristo Jesus por nós.
Éramos os culpados, Cristo se tornou culpado por nós; éramos malditos, Cristo se
tornou maldito por nós; éramos dignos de morte, Cristo morreu em nosso lugar e
por nós (Rm 3.25).
A linguagem judiciária e sacrifical da justificação nos mostra um Deus amoroso e
misericordioso, que não faz acepção de pessoas e que deixa clara a real condição
do ser humano, seja ele judeu ou gentio: somos todos carentes da graça e da
misericórdia do Pai.