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AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM –
FABEJA
LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA
LAUDENOR PEREIRA DA SILVA
EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA
GRANDE – ALTINHO - PE
BELO JARDIM
AGOSTO/2012
AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM – FABEJA
LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA
LAUDENOR PEREIRA DA SILVA
EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA
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Trabalho de conclusão do Curso de
Licenciatura Plena em Geografia da
Faculdade de Formação de Professores de
Belo Jardim – FABEJA, em cumprimento
aos requisitos avaliativos para obtenção da
graduação em Geografia
Orientador: Prof. Dr. Natalício de Melo
Rodrigues.
BELO JARDIM
AGOSTO/2012
AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM – FABEJA
LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA
LAUDENOR PEREIRA DA SILVA
EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA
GRANDE – ALTINHO – PE
Defendida e aprovada em ______/______/________
BANCA EXAMINADORA:
ORIENTADOR: ________________________________________________________
Prof. Dr. Natalício de Melo Rodrigues
FABEJA
1ª EXAMINADORA: ____________________________________________________
Profª. Ms. Lindhiane Costa de Farias
FABEJA
2º EXAMINADOR: ______________________________________________________
Prof. Ms. Ricardo de Oliveira Ferreira
FABEJA
Às pessoas de bom coração.
Aos apaixonados pelos conhecimentos geográficos.
Aos meus irmãos (In Memoriam): Alcione Pereira da Silva (18/02/1975-16/07/2010) e
Ezequiel Pereira da Silva (29/12/1978-27/05/2012).
À minha família.
AGRADECIMENTOS
Especialmente aos professores:
Dr. Natalício de Melo Rodrigues – orientador;
Ms. João José Batista Filho – que incentivou para realizar o curso;
José Correia, Valdério, José Othon e Delmiro Sallix, pela grande confiança, amizade e
apoio nos trabalhos de campo;
Adiane de Jesus Martins e Ricardo Lourenço.
Ao Sr. Anatólio, de Ituguaçu, pelo ponto de apoio durante os trabalhos de campo.
Aos meus colegas de sala de aula e professores do Curso de Geografia da Fabeja.
Ao Fábio, pela orientação de informática.
“O mundo altera-se, o valor dos locais varia de acordo com o
proveito que deles se possa extrair. A geografia deve
acompanhar este processo, para cumprir a sua missão de
arquivista do patrimônio e de ciência política ou económica das
relações entre as sociedades e entre as sociedades e o seu meio
ambiente” (GEORGE, l989, p.10).
RESUMO
Os rios de leito rochoso ainda não dispõem de estudos suficientes e de qualidade no
Brasil. A Cachoeira Grande é um trecho rochoso do curso médio do rio Una, próximo à
vila de Ituguaçu, município de Altinho-PE, onde os processos físicos e químicos,
juntamente com a energia fluvial nos períodos de enxentes, produzem geoformas
curiosas, conhecidas como marmitas de gigantes, oriçangas, flutes, tabiques, entre
outras. O presente trabalho tem por finalidade conhecer e analisar os processos de
intemperismo que ocorrem e seus resultados no modelado local. Além de trabalho de
campo, também foi consultada uma vasta bibliografia abrangendo a Geologia, a
Geomorfologia e a Geografia, utilizando conceitos antigos e atuais, dada a
complexidade dos fenômenos. Ao final, são sugeridas três propostas de trabalho,
baseadas na importância do local: desenvolvimento do conhecimento geográfico
disciplinar e multidisciplinar; investigar a origem da povoação da vila de Ituguaçu e seu
entorno; e, criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas.
Palavras-chave: rio de leito rochoso; erosão fluvial; rio Una; Ituguaçu.
ABSTRACT
The bedrock rivers still lack sufficient studies and quality in Brazil. The Cachoeira
Grande is a rocky road of the middle course of the river Una, near the village of
Ituguaçu, city of Altinho – PE, where the physical and chemical processes, along with
energy during periods of fluvial flooding, produce curious landforms, known as kettles
of giants and oriçangas, flutes, partitions, among others. This study aims to understand
and analyze the processes of weathering occurring and their results in the local area. In
addition to field work, was also consulted na extensive bibliography covering Geology,
Geomorpholophy and Geography, using past and current concepts, given the
complexity of the phenomena. At the end, three proposals are suggested work, based on
the importance of place: development of geographic knowledge disciplinary and
multidisciplinary; investigate the origin of the population of the village and its
surroudings Ituguaçu; and creation of Kettles and Oriçangas Geopark.
Key words: bedrock river; fluvial erosion; Una River; Ituguaçu.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 Localização de Altinho e da área em estudo............................................ 16
FIGURA 02 Igreja bicentenária de Ituguaçu – 2008.................................................... 18
FIGURA 03 Município de Altinho Geológico............................................................. 20
FIGURA 04 Esquema de separação de Gondwana ...................................................... 21
FIGURA 05 Relevo de Pernambuco............................................................................ 22
FIGURA 06 Arboredo situado em fenda rochosa – 2012............................................. 29
FIGURA 07 Água semi-estagnada – Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012.............. 31
FIGURA 08 Colonização de liquens sobre granito – 2012........................................... 32
FIGURA 09 Isoietas da bacia hidrográfica do rio Una................................................. 35
FIGURA 10 Isoietas Médias Anuais no Agreste Pernambucano.................................. 36
FIGURA 11 Vegetação de caatinga –2012.................................................................. 37
FIGURA 12 Climas de Pernambuco............................................................................ 38
FIGURA 13 Vegetação rupestre – Cachoeira Grande –2012 ....................................... 39
FIGURA 14 Bacias hidrográficas de Pernambuco....................................................... 41
FIGURA 15 Bacia hidrográfica do rio Una ................................................................. 42
FIGURA 16 Parte mais elevada da Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012................ 43
FIGURA 17 Fraturamento por descompressão – 2012................................................. 48
FIGURA 18 Fraturamento no sentido do fluxo do rio – 2012 ...................................... 49
FIGURA 19 Oriçanga em migmatito – 2012............................................................... 49
FIGURA 20 Marmita fluvial – 2012 ........................................................................... 52
FIGURA 21 Oriçanga – 2012 ......................................................................................... 53
FIGURA 22 Caldeirões – município de Panelas – 2010............................................... 53
FIGURA 23 Captura de marmitas com o tabique destacado – 2012............................. 54
FIGURA 24 Flutes – 2012 .......................................................................................... 55
FIGURA 25 Intrusão de feldspato em elevação – 2012 ............................................... 55
FIGURA 26 Superfícies polidas – 2012 ...................................................................... 56
FIGURA 27 Blocos no leito do rio – 2012 .................................................................. 56
FIGURA 28 Banco de areia grossa – 2012.................................................................. 57
FIGURA 29 Seixos capturados por marmita – 2012.................................................... 58
FIGURA 30 Barroca - 2012........................................................................................ 58
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 PRECIPITAÇÕES MÉDIAS EM MUNICÍPIOS ADJACENTES
A ALTINHO ..........................................................................................................................35
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 14
2.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA EM ESTUDO............................................. 16
2.1.1 Origem do município de Altinho .................................................................... 17
2.1.2 Ituguaçu........................................................................................................... 17
2.2 CONDIÇÕES FÍSICAS ............................................................................................ 18
2.2.1 Geologia ........................................................................................................... 18
2.2.2 Relevo............................................................................................................... 20
2.2.3 Solos ................................................................................................................. 23
2.3 AS ROCHAS E OS AGENTES DO INTEMPERISMO ................................................... 24
2.3.1 Tipos de rochas................................................................................................ 24
2.3.2 Rochas do local................................................................................................ 25
2.3.3 Fatores de resistência das rochas à erosão ..................................................... 26
2.3.4 Intemperismo................................................................................................... 26
2.3.5 A variação das temperaturas .......................................................................... 27
2.3.6 A ação mecânica das águas ............................................................................. 28
2.3.7 Abrasão mecânica das águas correntes .......................................................... 29
2.3.8 Intemperismo físico-biológico ......................................................................... 29
2.3.9 Intemperismo químico .................................................................................... 30
2.3.10 Processos de decomposição química ............................................................. 31
2.4 DINÂMICA CLIMÁTICA REGIONAL ...................................................................... 33
2.4.1 Sistemas meteorológicos atuantes em Pernambuco ....................................... 34
2.4.2 Chuvas ............................................................................................................. 34
2.4.3 Clima e vegetação............................................................................................ 36
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES......................................................................... 40
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO UNA E
DA CACHOEIRA GRANDE ............................................................................................ 40
3.1.1 Cachoeira Grande – cachoeira ou corredeira? .............................................. 43
3.1.2 Perfil longitudinal ou perfil de equilíbrio de um rio ...................................... 44
3.1.3 Canais fluviais de leito rochoso....................................................................... 44
3.2 VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, CONDIÇÕES DO LEITO, FORMAS E
RESULTADOS DO INTEMPERISMO ............................................................................... 45
3.2.1 Clima e intemperismo ..................................................................................... 47
3.2.2 Fenômenos que contribuem para as formas na Cachoeira Grande .............. 48
3.2.3 Processos erosivos fluviais............................................................................... 50
3.2.4 Formas e resultados......................................................................................... 51
3.3 PROPOSTAS DE TRABALHO.................................................................................. 59
3.3.1 Desenvolvimento do conhecimento geográfico disciplinar
e multidisciplinar ...................................................................................................... 59
3.3.2 Investigar a origem da povoação da Vila de Ituguaçu e seu entorno ............ 60
3.3.3 Criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas............................................... 60
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 62
5 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 63
13
1 INTRODUÇÃO
Na nossa sub-região Agreste pouco se valorizam os aspectos geográficos, tanto
os construídos pelo homem quanto os construídos pela natureza. Não temos uma cultura
de preservação nem de valorização desses aspectos, com alguns ficando desconhecidos
do grande público e da academia.
A 11 Km da cidade de Altinho, seguindo-se pela estrada de terra para
Cachoeirinha, encontramos a Vila de Ituguaçu. Perto da vila passa o rio Una,
atravessando um trecho encachoeirado ao qual se deu o nome de Cachoeira Grande,
antigo nome da vila acima citada.
Segundo sondagens preliminares, há mais de dois séculos formou-se uma
fazenda de criação de gado, permanecendo daquela época uma igreja e um cemitério
que foram construídos por mão-de-obra escrava contratada de outro local.
Na dita cachoeira, o intemperismo elaborou formas curiosas conhecidas como
marmitas. As águas do rio Una perfuraram os lajedos, deixando furos com diversas
dimensões e profundidades, proporcionando uma beleza natural surpreendente.
Segundo informações de visitantes, em certas épocas do ano a temperatura do
ambiente pode chegar aos 45°C, graças à irradiação solar sobre as rochas desnudas. A
vegetação também se destaca, com grande quantidade de espécies xerófitas.
A Cachoeira Grande e a Vila de Ituguaçu, apesar de situarem-se distantes dos
núcleos urbanos mais próximos – Altinho e Cachoeirinha, possuem características
peculiares que devem ser exploradas por professores e estudantes. Para isso, devem ser
melhor conhecidos e analisados, criando-se propostas de utilização adequada, sem
descuidar da preservação e, também de uma reconstrução do que já foi destruído, como
por exemplo, a vegetação primitiva.
Sendo um ambiente tão rico em potencial educativo para a Geografia, deve-se
desenvolver uma proposta de ensino que busque analisar e mostrar os fenômenos que ali
ocorrem, valorizando-se um bem natural desprezado pelos poderes públicos e
maltratado pela população.
Não existem registros escritos sobre a evolução da Vila de Ituguaçu, nem sobre
os fenômenos naturais que ocorrem na Cachoeira Grande. Essa lacuna motivou-nos a
desenvolver um trabalho de descrição e de análise dos fenômenos naturais que ocorrem
no local, utilizando a observação de campo e uma bibliografia adequada. Por isso, o
principal objetivo da pesquisa é descrever e analisar os processos de intemperismo que
ocorrem na área em estudo e seus resultados no modelado local. Como objetivos
secundários, mas não de menor importância, analisamos as condições físicas locais e a
vegetação e defendemos três propostas de utilização do espaço referente à Cachoeira
Grande e seu entorno para o desenvolvimento do ensino de Geografia.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A área a ser estudada trata-se de um trecho do rio Una que apresenta bastante
inclinação, à qual os registros geográficos e a população denominam de Cachoeira
Grande. Na literatura geográfica, entende-se por cachoeira um desnível vertical
resultante da natureza diferenciada de resistência entre camadas de rochas. “As
cachoeiras são o resultado da diferença de resistência de erosão oferecida pelas rochas
cortadas pelo curso de água” (FLEURY, 1995, p.114). Além desse aspecto, elas
também podem ser formadas por causa de falhas e diques.
Tratando-se de um trecho onde a velocidade das águas é bastante rápida no
período de enxentes, onde o rio faz seu trabalho de erosão, escavando o leito e deixando
como resultado as marmitas, um amontoado de blocos rochosos e várias geoformas,
além de bancos de areia.
Segundo Fleury,
“Os cursos d’água têm ação erosiva em função da velocidade da
corrente de suas águas, velocidade esta que é função da topografia ou
relevo da região, do regime pluvial da região, da idade do curso de
água e da carga transportada” (FLEURY, 1995, p.112).
Ainda conforme esse autor, a desagregação das rochas ocorre por causa do
intemperismo, porque é um processo geológico formado pelas forças físicas e químicas
que atuam na superfície terrestre, as quais transformam as rochas duras e ceosas de
qualquer espécie em fragmentos soltos de diversos tamanhos, friáveis e frouxos.
Jatobá; Lins (1998, p.78), baseados em Tricart e Cailleux, afirmam que o clima
influencia no relevo terrestre de duas maneiras: direta e indireta. “As influências diretas
são decorrentes dos principais elementos do clima sobre os corpos rochosos que estão
expostos ao ar atmosférico. Esses elementos são sobretudo as precipitações, a umidade,
a temperatura do ar e os ventos”.
Bigarella et al. (2007) nos permitem analisar os fenômenos físicos que ocorrem
no local em estudo, a partir de suas explicações sobre os níveis de base (p.1000) e dos
processos de intemperismo mecânico, quando explica os efeitos das mudanças térmicas
sobre as rochas da superfície terrestre (p.310-318).
De Martonne (1953), com seu Panorama da Geografia, proporciona o
conhecimento de vários conceitos aplicáveis aos cursos fluviais rápidos, quando trata do
modelado da erosão normal. Para este estudioso,
“A torrente é, portanto, um organismo de erosão completo; nela actuam
todas as forças que concorrem para o modelado da erosão normal:
escavamento do leito, desagregação das vertentes e arrastamento e
acumulação de detritos. É na bacia de recepção que parece ser executado o
15
trabalho mais importante; este trabalho depende da incisão do talvegue no
canal de escoamento, que evacua os detritos juntamente com as águas. Se o
escavamento do leito desempenha um papel essencial nas torrentes, por mais
forte razão, deve ser o primeiro factor a considerar na bacia dum rio regular”
(DE MARTONNE, 1953, p. 480-481).
Explicando sobre o perfil de equilíbrio de um rio e o nível de base, o autor
permite aplicar seus conhecimentos em determinados trechos fluviais de escoamento
rápido, além de destacar a formação das marmitas e o entalhamento do talvegue fluvial.
Lima (2010), investigando sobre os rios de leito rochoso, explica os fenômenos
intempéricos mediante uma literatura atualizada em língua inglesa, suprindo uma parte
da necessidade em conhecimento desse tipo de leito fluvial, aqui no Brasil, trazendo
novos conceitos e alertando para a reutilização de termos antigos que voltaram a ser
utilizados para entendimento do assunto.
Leinz; Amaral (2001), com a obra Geologia Geral, apresentam com grande
clareza as propriedades físicas e químicas dos minerais e as características das rochas.
Os intemperismos físico e químico são apresentados, também, de maneira bem didática,
simplificando o modo de transmitir os conhecimentos.
Ab’Sáber (1956-1957), tratando do significado geomorfológico da rede
hidrográfica do Nordeste Oriental brasileiro, destaca o planalto Borborema como o local
das cabeceiras dos principais rios nordestinos, que “[...] formam um magro sistema de
cursos d’água de áreas semiáridas, intermitentes e irregulares, dotados de fraquíssimo
poderio energético” (AB’SÁBER, 1956-1957, p. 2). Este autor destaca que os atuais
vales desses rios provavelmente se formaram em épocas de maior pluviosidade, pois
pelo que se apresenta na atualidade seria impossível os rios citados terem construído os
vales como se apresentam.
A nosso ver, os autores acima citados, somando-se a outros, forneceram os
subsídios necessários ao desenvolvimento do estudo, envolvendo a caracterização física
e os resultados dos processos naturais do local.
Dispondo de pesquisa de campo e bibliográfica, o presente trabalho apresentará
as seguintes etapas: inicia com a introdução; na segunda parte, faz-se um
aprofundamento dos fundamentos teóricos, incluindo a localização e um breve histórico
do local a ser estudado e seu entorno, estendendo-se com a apresentação das condições
físicas, os tipos de rochas, suas características e os processos de intemperismo que
atuam sobre as mesmas, concluindo com a análise da dinâmica climática regional. Em
terceiro, apresenta uma caracterização hidrográfica do local em estudo, analisa a
importância das variações climáticas, os fenômenos erosivos e as formas resultantes das
ações do intemperismo, finalizando com a apresentação de três propostas de utilização
do local como área de estudo da geografia. Encerrando o trabalho, a última parte ficou
para as considerações finais e as importantes referências da pesquisa.
16
2.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA EM ESTUDO
O município de Altinho está situado na mesorregião Agreste de Pernambuco,
na microrregião Brejo Pernambucano. Participa com 0,46 % da extensão territorial do
Estado, possuindo uma área de 452,6km², dos quais 98,52% estão inseridos na Bacia do
FIGURA 01 Localização de Altinho e da área em estudo.
Fonte: Adaptado de Ministério de Minas e Energia, 2005
17
rio Una, às margens do qual está inserida sua sede. Localiza-se nas seguintes
coordenadas geográficas: latitude 08°29’23”Sul e longitude 36°03’34”Oeste de
Greenwich, a 454 m de altitude. Distante 163,1 km da capital Recife, limita-se ao Norte
com Caruaru e São Caitano, ao Sul com Ibirajuba, Panelas e Cupira, a Leste com
Agrestina e a Oeste com Cachoeirinha.
2.1.1 Origem do município de Altinho
Anteriormente pertencia ao município de Caruaru, tendo sido desmembrado em
30 de maio de 1881. A cidade de Altinho se originou da antiga Fazenda Nossa Senhora
do Ó do Altinho Ribeira d’Una, fundada pelo Capitão Antonio Vieira de Melo,
sesmeiro, no final do século XVII.
José Vieira de Melo, neto do fundador, que nasceu em 1737, herdou a dita
fazenda e, em 1773, construiu uma capela.
Relatos sobre o município dizem que o lugar obteve bastante crescimento a
partir da construção da capela, quando as cercanias começaram a ser ocupadas por
moradias, ampliando o espaço. A passagem da Estrada Geral Recife–Garanhuns pelo
local também contribuiu para o crescimento da povoação que despontava.
A vila de Altinho foi elevada à categoria de cidade em 28 de junho de 1899,
início do Período Republicano, pela Lei Estadual nº 400.
Registra-se que o povoamento de Altinho se destacou na história do Brasil
durante a Revolução dos Cabanos, pois em 2 de abril de 1833 houve um combate
importante no local. Os cabanos, entrincheirados nos alicerces da igreja, trocaram tiros
com as tropas do Centro, escondidas em um sobrado.
Atualmente, o município possui cerca de 22.370 hab (IBGE, 2011), distribuídos
por uma área de 452,6 km2
. O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – é de 0,59,
considerado médio (PNUD, 2000) e o PIB per capita é de R$ 3.186,23 (IBGE, 2008).
2.1.2 Ituguaçu
Atualmente, o município de Altinho é dividido em dois distritos: Altinho (Sede)
e Ituguaçu. Tendo como primeiro nome Cachoeira Grande, o distrito de Ituguaçu foi
criado pela Lei Municipal nº 35, de 20 de agosto de 1900. Em 9 de dezembro de 1938,
através do Decreto-Lei nº 235, passa a se chamar Ituguaçu, o que significa “cachoeira
grande”, em língua indígena.
18
FIGURA 02 Igreja bicentenária de Ituguaçu – 2008
Fonte: Trabalho de campo
2.2 CONDIÇÕES FÍSICAS
Para o entendimento do local, é necessário que se conheçam os principais fatores
naturais.
2.2.1 Geologia
Com a maior parte dos terrenos assentados sobre rochas muito antigas,
provenientes do Pré-Cambriano, o embasamento geológico do Estado de Pernambuco é
constituído de granitos e gnaisses. “O subsolo pernambucano é formado
dominantemente por rochas precambrianas, com idade de até 3,2 bilhões de anos, que
ocupam cerca de 90% do seu território” (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA:
2001, p. 82).
Observando-se o mapa proposto por Andrade et al. (2003, p. 29), o Estado de
Pernambuco está dividido geologicamente em vários terrenos: sedimentares, vulcânicos
e ígneos e metamórficos, das mais variadas idades, partindo do Pré-Cambriano até o
Quaternário. Grandes falhas são apontadas, destacando-se a de rejeito direcional
conhecida por Lineamento Pernambucano, a qual se traduz num dos aspectos mais
importantes da estrutura geológica do Nordeste Brasileiro.
19
Para situarmos o local em estudo do ponto de vista geológico, temos que
entender alguns aspectos da Província Borborema. Pelas novidades tecnológicas e
científicas que aparecem, torna-se muito complexo o entendimento de sua formação,
sendo necessário dividi-la. Alguns estudiosos propuseram sua compartimentação em
sistemas de dobramento, maciços, domínios e faixas; outros, domínios e faixas de
dobramento. Atualmente, alguns reviram e/ou propuseram a compartimentação baseada
num processo de colagem de terrenos tectono-estratigráficos distintos.
CPRM (s/d, p.4), citando Gibbons, diz que
“[...] de acordo com este autor, a palavra terreno, quando usada sem
conotação de terreno suspeito, refere-se simplesmente a uma área que
possui sua própria e distinta geologia: a área ou superfície na qual
um tipo ou grupo particular de rocha é dominante”.
Baseada em Almeida, Lins (1989, p. 35) afirma que “[...] o Agreste
pernambucano, em quase toda sua totalidade, assenta-se sobre terrenos antigos, de
idade pré-cambriana, pertencente ao núcleo nordestino do Escudo Brasileiro, mais
especificamente na Província Estrutural da Borborema”.
O Terreno Pernambuco-Alagoas é a porção da Província Borborema limitada ao
norte pelo Lineamento Pernambuco. A área em estudo está inserida na porção centro-
setentrional do TPA. O local e o entorno são de origem Meso e Neoproterozóica (entre
1,6 a 0,54 bilhões de anos) composto de rochas metaplutônicas e plutônicas. São
encontradas, mediante mapeamento oficial, áreas de contato litológico, falhas ou zonas
de cisalhamento prováveis, com contatos definidos entre as suítes.
Segundo Governo do Estado de Pernambuco (1997, p. 89), a bacia
hidrográfica do rio Una é constituída pelo Complexo Migmatítico-Granitóide – pCmi,
com participação aproximadamente igual entre os granitos e os migmatitos.
De acordo com Ministério de Minas e Energia (2005, p. 4),
“O município de Altinho encontra-se inserido, geologicamente, na Província
Borborema, sendo constituído pelos litotipos da Suíte Serra de Taquaritinga,
dos Granitóides Indiscriminados e das suítes Calcialcalinas de Médio a Alto
Potássio Itaporanga e Shoshonítica Salgueiro/Terra Nova [...]”.
20
FIGURA 03 Município de Altinho Geológico
Fonte: Ministério de Minas e Energia: outubro/2005.
2.2.2 Relevo
O relevo pernambucano é composto de planaltos, depressões, chapadas e
planícies. Particularizando-se mais ainda, encontramos os tabuleiros costeiros, as
colinas da Zona da Mata e maciços residuais. Para entender o relevo estadual é
necessário saber um pouco de sua história geológica.
21
Há cerca de 550 milhões de anos, na Era Neoproterozóica, onde hoje é
Pernambuco formou-se uma grande cadeia de montanhas, restando algumas evidências
em forma de rochas magmáticas intrusivas (granitos) e metamórficas (xistos e gnaisses).
Nesse período, chamado de Idade Pré-Cambriana, os supercontinentes Laurásia e
Gondwana estavam ainda ligados, formando o Pangeia.
Desse tempo até o Cretáceo Superior, cerca de 120 milhões de anos atrás, o
território permaneceu estável, sem ocorrência de grandes cataclismos tectônicos. Porém,
o supercontinente Gondwana começou a se quebrar em diversas placas tectônicas,
iniciando a separação da América do Sul e da África e o aparecimento do Oceano
Atlântico. Essas instabilidades permaneceram até cerca de 65 milhões de anos, no
Cretáceo Inferior.
Com a separação do Paleo-continente Gondwana, a porção leste da América do
Sul sofreu um levantamento, ocorrendo um rejuvenescimento e maior ação erosiva na
costa do Brasil. A América do Sul continuou a se elevar. No interior, as rochas antigas
(ígneas e metamórficas) ficaram cada vez mais elevadas, formando um grande domo
(arqueamento), ao qual denominamos de Planalto da Borborema, na atualidade.
FIGURA 04 Esquema de separação de Gondwana
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gondwana
A área em estudo está inserida nos domínios do Planalto Borborema. Segundo
Ministério do Interior (1973, p.54), “a Borborema constitui, em verdade, o mais elevado
bloco contínuo do Nordeste Brasileiro e elemento fundamental no relevo regional que,
juntamente com a chapada do Araripe, comandam toda a rede de drenagem do
Estado”.
22
FIGURA 05 Relevo de Pernambuco
Fonte: Governo de Pernambuco: s/data
23
O Planalto Borborema possui altitudes variando entre 400m e 1.100m.
Ministério do Interior (1973, p. 55) divide-o nas seguintes partes: a) faixa de contorno;
b) plataformas aplainadas e superfícies de níveis elevados. Para simplificação do nosso
estudo, dividiremos o segundo item, considerando apenas as plataformas aplainadas,
porção onde está inserida a área de nosso interesse.
As superfícies podem não parecer que sejam tipicamente de planalto por causa
de suas irregularidades. São plataformas cristalinas muito atingidas pela erosão laminar
e diferencial. Possuem relevo ondulado com vales abertos e declividades predominantes
entre 3 e 8% e topos aplainados (Ministério do Interior: 1973, p.56). Podem ser
encontradas algumas significativas elevações ou mesmo trechos planos ou ondulados
próximos às linhas de drenagem.
2.2.3 Solos
Normalmente, o solo é definido como a camada superficial de terra arável
possuidora de vida microbiana. Já o regolito é considerado como o material decomposto
que fica diretamente sobre a rocha-matriz sem ter sofrido deslocamento, não dispondo
de elementos bióticos. Normalmente os solos apresentam várias camadas distintas,
chamadas de horizontes. O regolito é considerado por alguns como o horizonte C, a
rocha decomposta ou alterada.
O solo é o meio natural no qual os seres humanos cultivam vegetais utilizados
em seu consumo. O seu limite superior é a atmosfera e o inferior a rocha ainda
inalterada. Os solos são constituídos basicamente de partículas minerais – o que aparece
em maior quantidade, matéria orgânica, água e ar. O clima, a rocha, os organismos
vivos, o relevo e o tempo, combinados, são os fatores que mais influenciam para a
formação dos solos, em qualquer parte do planeta.
A denominação do solo em eutrófico refere-se às boas condições que apresenta
para o desenvolvimento da vegetação. Quanto à denominação distrófico, representa o
contrário.
Em nosso Estado, por causa da variedade de rochas, relevo e clima, existe uma
grande diversidade de solos. No entanto, na área em estudo e seu entorno, são os
seguintes os tipos de solos:
Planossolos – são moderadamente ácidos, com grande contraste na textura, com
acentuada concentração de argila em seu horizonte B. Compõem-se de saprolito de
gnaisses e granitos, destacando-se biotita-gnaisse, milonito gnaisse e biotita-granito,
com influência de cobertura de material arenoso. Aparecem em relevo plano ou
suavemente ondulado, recoberto pela caatinga hipoxerófila. Associam-se a solos
24
litólicos e afloramento de rochas. Na classificação da Embrapa (1999), refere-se ao PL
22.
Regossolos – apresentam uma textura arenosa, medianamente profundos e de
perfil pouco desenvolvido. Apresentam-se ácidos, mesmo bem drenados. Compõem-se
de saprolito de granitos, granitos gnáissicos, gnaisses e migmatitos. Associam-se aos
Planossolos e aos Solos Litólicos e Afloramentos de Rochas. Também aparecem em
relevo plano, suavemente ondulado ou mesmo forte ondulado, recobertos pela caatinga
hipoxerófila. Na classificação da Embrapa (1999), referem-se aos RE 3, RE 10, RE 15 e
RE 22.
2.3 AS ROCHAS E OS AGENTES DO INTEMPERISMO
Normalmente as rochas são definidas como agregados naturais de várias
espécies de minerais, sendo que a composição mineralógica é o que define seu tipo ou
espécie. “São elas nitidamente individualizadas, porque os minerais se agregam
obedecendo a leis físicas, químicas ou físico-químicas, dependendo das condições em
que se forma esta ou aquela rocha” (LEINZ; AMARAL: 2001, p. 33).
2.3.1 Tipos de rochas
Todas as rochas existentes na crosta terrestre podem ser agrupadas da seguinte
maneira:
1 - Ígneas ou magmáticas – são as que se originam do magma oriundo das altas
profundidades, em estado de fusão por causa das temperaturas elevadas, superiores a
1.000°C. São consideradas rochas primárias por permitirem a formação dos outros
tipos. O magma se constitui de silicatos, óxidos, sulfetos, gases, vapor d’água e íons
dissociados, ao qual se denomina lava quando chega à superfície terrestre. Quando a
formação da rocha ocorre nas camadas litosféricas mais próximas do manto, chamam-se
de plutônicas ou intrusivas: diorito, sienito, granito, gabro etc; quando sua formação se
dá na superfície ou subsuperfície, por causa da lava expelida por fendas ou fraturas da
crosta terrestre, dá-se o nome de extrusiva ou vulcânica: basalto, andesito, riolito,
traquito etc.
2 - Metamórficas – originam-se por transformação de rochas preexistentes
(magmáticas e sedimentares) por causa das altas pressões e altas temperaturas do
interior da litosfera, sem passar pelo estado de fusão. São rochas de origem profunda.
São alteradas pelo calor, gases ou fluidos, e pela pressão provocada pelo magma. Em
alguns casos, a pressão exercida por espessos capeamentos de rochas sedimentares
25
provocam o metamorfismo. Para Bigarella et al. (2007, p.54), “rocha metamórfica é,
pois, aquela que sofreu mudanças na sua constituição mineral e na textura, em
consequência de importantes transformações nos ambientes físico e químico do interior
da crosta”. São exemplos de rochas metamórficas: gnaisse, mármore, quartzito, ardósia,
migmatito etc.
3 - Sedimentares – são aquelas formadas a partir de materiais originados da
destruição erosiva das rochas preexistentes. Formam-se por acumulação sucessiva de
partículas ou sedimentos nas depressões naturais ou bacias marinhas, oceânicas ou
continentais. Este grupo de rochas pode ser subdividido em vários subgrupos, mediante
vários princípios, como o ambiente, o tipo de sedimentação, a constituição mineralógica
ou o tamanho das partículas. Normalmente são classificadas em: sedimentos clásticos
ou mecânicos, sedimentos químicos, e sedimentos orgânicos. Para nosso estudo,
interessam os seguintes sedimentos clásticos ou mecânicos: argila, silte, areia e
cascalho.
2.3.2 Rochas do local
O granito ocorre juntamente com os gnaisses no embasamento cristalino, o qual
constitui o substrato da crosta siálica que forma os blocos continentais. Para nosso
estudo, centraremos as atenções principalmente na rocha granítica, no migmatito e no
gnaisse, os quais se traduzem na predominância do leito rochoso da área. Quanto às
areias e cascalho (rochas sedimentares), serão analisadas mais à frente.
Os granitos são as principais rochas que constituem a parte superior da crosta
terrestre. Também são as rochas ígneas mais frequentes que afloram nos continentes. “O
granito constitui uma rocha de coloração clara composta essencialmente de quartzo e
feldspato, com pequenas quantidades de outros minerais, principalmente mica
(moscovita e/ou biotita) e anfibólio (em geral hornblenda)” Bigarella et al. (2007, p.
42). Possuem granulação grosseira, variando de milimétrica a centimétrica.
Os gnaisses formam-se em condições de temperatura e pressão bastante
elevadas. São rochas de granulação média a grosseira, com aspecto listrado, onde os
componentes minerais dispõem-se em faixas escuras e claras. Como ocorre da
transformação do granito, possui os mesmos minerais de composição.
Os migmatitos – para Leinz; Amaral (2001, p. 51) são uma variedade de gnaisse,
característicos do Pré-Cambriano brasileiro. Possuem faixas reconhecidas
macroscopicamente como ígneas, intercaladas em rocha gnáissica (metamórfica), sendo
as faixas ígneas mais claras. Para Bigarella et al. (2007, p. 61), são rochas mistas, “[...]
constituídas por um componente antigo (hospedeiro), geralmente xisto ou gnaisse e um
componente granítico.” O granito forma camadas, bolsões ou veios, ou pode ficar
26
distribuído uniformemente nas rochas. Os minerais dos xistos e gnaisses compõem a
parte escura, enquanto os feldspatos alcalinos e o quartzo compõem a parte clara.
2.3.3 Fatores de resistência das rochas à erosão
Ter conhecimento da resistência das rochas é de fundamental importância
porque as várias características geomorfológicas do relevo têm a ver com a capacidade
erosiva dos corpos rochosos. Segundo Castro; Jatobá (2004, p. 88), “a evolução do
relevo possui um certo vínculo de natureza genética bastante acentuado com o tipo de
rocha subjacente e o processo de meteorização desenvolvido sobre ela”. Esses autores
apresentam três fatores de resistência das rochas à erosão física: coesão, permeabilidade
e alterabilidade.
“A coesão é a maior ou menor solidez da agregação dos elementos constituintes
das rochas” (CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87). Quando as rochas apresentam uma
grande coesão (junção) dos minerais dos quais se constituem, passam a oferecer
resistência mais significativa ao intemperismo mecânico, o que não ocorre com rochas
formadas de partículas livres, como a areia. O granito é uma rocha possuidora de grande
coesão dos seus minerais constituintes.
“A permeabilidade é a propriedade que tem uma rocha de se deixar atravessar
pelas águas de infiltração” (CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87). Os granitos e gnaisses
pouco alterados apresentam terrenos impermeáveis, onde o escoamento superficial
representa mais de 90% do escoamento total. Contribuem para isso os terrenos
compactos e coesos que não apresentam fissuras ou as existentes são entupidas de
material muito fino.
Alterabilidade - “As rochas coerentes, formadas por minerais unidos entre si
por um cimento pouco alterado, apresentarão uma maior resistência à erosão [...]”
(CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87).
Também existem os fatores de natureza química que influenciam na formação e
evolução do relevo terrestre, como a homogeneidade da rocha, a condutibilidade e a
solubilidade, mas não são de grande importância para nosso estudo.
2.3.4 Intemperismo
A definição a seguir retrata com qualidade o que seja intemperismo:
“Intemperismo ou meteorização é o processo geológico constituído pelas
ações físicas e químicas que se realizam na superfície dos terrenos,
27
provocando a transformação dos agregados rochosos de qualquer espécie,
ceosos e duros, em materiais friáveis e frouxos, totalmente soltos,
constituídos de partículas de diversos tamanhos” (FLEURY: 1995, p. 199).
Para Leinz; Amaral (2001, p. 55), “o intemperismo constitui o conjunto de
processos operantes na superfície terrestre que ocasionam a decomposição dos
minerais das rochas, graças à ação de agentes atmosféricos e biológicos.”
Leinz; Amaral (2001, p. 57), referindo-se aos processos intempéricos, dizem que
“tais fenômenos podem ser físicos, químicos, biológicos e físico-químicos, agindo
separada ou conjuntamente, dependendo das condições climáticas locais e da própria
rocha em si”.
Normalmente são apontados dois tipos de intemperismo: físico e químico. Essas
duas ações podem ocorrer isoladamente, alternadamente ou concomitantemente. Com a
ação física, dá-se a desintegração; e com a ação química, a decomposição.
A desintegração ou intemperismo físico pode ocorrer de várias maneiras:
disjunções do corpo rochoso em grandes blocos, desmantelamento da rocha em
fragmentos menores e desiguais, e desgaste continuado da rocha.
A decomposição ou intemperismo químico ocorre por causa das reações
químicas naturais, sempre com a ação da água atacando os minerais, formando novos
minerais e liberando vários elementos e íons.
Os seres vivos também participam para o intemperismo físico ou químico, no
entanto, geralmente o efeito é muito reduzido.
A ação mecânica das temperaturas, das águas, dos ventos e do gelo são os
principais agentes físicos da desagregação das rochas. As ações dos ventos e do gelo
não serão analisadas porque não interferem na área estudada.
2.3.5 A variação das temperaturas
Os minerais que compõem as rochas possuem coeficientes de dilatação
diferentes. Os esforços intermitentes durante séculos, por causa do aquecimento diurno
e do esfriamento noturno, enfraquecem os minerais, desagregando-os e reduzindo-os a
pequenos fragmentos.
Para Fleury (1995, p. 200),
“A ação da temperatura se dá praticamente em todos os climas, mas nas
regiões de climas tropicais e subtropicais esta ação é extremamente
acentuada, constituindo um agente físico poderoso do intemperismo, porque
as variações térmicas diurnas são muito acentuadas.”
28
As temperaturas normalmente altas durante o dia provocam a dilatação dos
minerais de maneira irregular; à noite, com o rebaixamento da temperatura, os minerais
contraem-se, provocando fadiga nas rochas, o que permite o aparecimento de fissuras,
fraturas e esfoliações. As temperaturas, como agentes do intemperismo físico, são mais
eficientes nas zonas de pouca umidade, como as áreas desérticas e semidesérticas,
provocando intenso fendilhamento nas rochas.
As temperaturas podem provocar os seguintes efeitos nas rochas (FLEURY:
1995, p. 200):
Fraturamento: fissuras – rachaduras muito pequenas, parecidas com trincamento;
diáclases – rachaduras que se abrem, permitindo a livre circulação da água.
Esfoliação: as rochas expostas na superfície sofrem descamamentos de forma
concêntrica na área exposta, formando blocos arredondados.
Diaclasamento horizontal: ocorrem nas partes expostas das rochas, quando se dá
um resfriamento rápido de superfície, quebrando o material em linha horizontal,
aparecendo as lascas de pedra.
Pelas condições de clima tropical que temos, as rochas têm a tendência de se
decompor, formando o manto de intemperismo ou regolito. O regolito (do grego, rhegos
– manto, cobertura) é todo material incoerente, arenoso ou argiloso, que ainda não foi
colonizado por organismos vivos. Quando isso ocore, classifica-se como solo.
2.3.6 A ação mecânica das águas
Na tumefação, a umidade absorvida pela rocha, repetidamente, exerce ação
mecânica de inchaço por causa da mudança de volume, o que contribui para a
desagregação. Ao perder umidade, a rocha sofre a contração. “A ação alternante de
umidificação e dessecamento parece ser bastante efetiva, exercendo ações
comparáveis, às vezes, mais acentuadas do que aquelas das expansões e contrações
térmicas” (BIGARELLA et al.: 2007, p. 325).
Bigarella et al. (2007, p. 325) citam os experimentos de Nepper-Christensen,
com amostras de basalto, e do laboratório do State Rivers and Water Supply Comission
of Victoria, da Austrália, com amostras de arenitos, siltitos, folhelhos e lamitos
silurianos, cujas experiências obtiveram resultados diversificados. As amostras de
basalto chegaram a sofrer contrações entre 0,015 a 0,02%. Na segunda experiência, a
desagregação ocorreu ao longo dos planos de estratificação, de fratura ou diáclases.
Apesar da importância da tumefação, Bigarella (2007) alerta que os processos
que levam a isso ainda não são bem conhecidos e compreendidos.
29
2.3.7 Abrasão mecânica das águas correntes
A abrasão mecânica pode ser provocada pela água corrente, pelas ondas e
correntes marinhas, pelo vento e pelas geleiras. Interessa-nos o primeiro agente porque
estamos estudando, principalmente, leito rochoso de rio.
“Na ação fluvial o aprofundamento do leito do rio em substrato rochoso duro
faz-se, em grande parte, pelo atrito mecânico, principalmente através do impacto de
fenoclastos (seixos e blocos)” (BIGARELLA: 2007, p. 327).
O desgaste pela abrasão mecânica ocorre pela fricção – quando uma rocha
desliza sobre outra, ou pelo impacto dos grãos transportados contra o substrato rochoso
do leito. Segundo Fairbridge, citado por Bigarella (2007, p. 327), a abrasão é um
processo físico de friccionamento, polimento ou raspagem, que provoca erosão nas
partículas rochosas. O resultado é um material síltico ou argiloso.
2.3.8 Intemperismo físico-biológico
O crescimento das raízes das plantas exerce pressão nas fendas ou diáclases das
rochas, favorecendo o ataque dos agentes químicos. Se as fendas o permitirem ou a
resistência da rocha não seja muito grande, o próprio vento faz balançar o vegetal, o que
FIGURA 06 Arboredo situado em fenda rochosa – 2012
Fonte: Trabalho de campo
30
pode aprofundar o processo mecânico que, por sua vez, favorece o processo químico.
Minhocas, formigas, cupins e vários animais roedores que fazem buracos no solo,
também contribuem para o intemperismo, à medida que afofam o solo, permitindo a
ação dos agentes de intemperismo.
2.3.9 Intemperismo químico
Para Leinz; Amaral (2001) é a decomposição química. “Este processo de
intemperismo é caracterizado pela reação química entre rocha e soluções aquosas
diversas” (LEINZ; AMARAL, 2001, p. 60).
Para Fleury (1995, p.208),
“Por intemperismo químico se entende o conjunto de reações químicas
naturais que se processam na superfície da crosta terrestre, decompondo os
minerais das rochas desde a superfície até profundidades variáveis,
transformando-as em agregados friáveis e formando novos minerais, por
substituição e perdas iônicas.”
O processo de intemperismo químico torna-se mais eficiente nas rochas
previamente fragmentadas pelo intemperismo físico. Os fragmentos menores e as
fraturas permitem a percolação da água. A água, nas suas formas líquida e gasosa, são o
principal responsável pela decomposição das rochas. Penetrando nos corpos rochosos
provoca inúmeras reações químicas naturais. Estas provocam o desmantelamento das
estruturas mineralógicas dos componentes das rochas, como afirmam os autores
estudados.
As águas das chuvas não são puras porque existem gases do ar dissolvidos nelas.
O oxigênio e o gás carbônico são poderosos elementos de reação química nas rochas. O
nitrogênio, apesar de ser considerado inerte, com a ação das faíscas elétricas e do
oxigênio do ar nos dias de chuvas, proporciona a formação de ácido nitroso e nítrico, o
que favorece a corrosão nas rochas.
Segundo Fleury (1995, p. 209),
“A característica principal do intemperismo químico é promover o
desaparecimento dos minerais primários ou primitivos das rochas, fazendo
aparecer no lugar deles os minerais secundários, que são pobres ou
desprovidos das bases iônicas que existem na rede estrutural dos minerais
primitivos [...]”
Para Leinz; Amaral (2001, p. 61), “[ ] a marcha e o resultado final destes
processos dependem principalmente da rocha, do clima, da cobertura vegetal, da
topografia e do tempo de duração dos referidos processos”. Estes autores apontam três
estádios na evolução do intemperismo químico de uma rocha, tomando como exemplo
31
uma rocha cristalina: 1 – ataque químico ao feldspato – perda do brilho característico. A
biotita perde parcialmente a coloração. A textura da rocha é conservada. 2 – os minerais
são totalmente decompostos – ainda é percebida a textura original da rocha. O material
resultante é o ‘saibro’. 3 – decomposição total da rocha – a textura desaparece por
completo. Forma-se o solo ou regolito.
2.3.10 Processos de decomposição química
Conforme a natureza da reação química existente no processo de decomposição,
normalmente são indicadas as seguintes decomposições/reações:
Decomposição por oxidação - pode ser causada tanto por agentes orgânicos
como inorgânicos. O metabolismo de bactérias (orgânico), por exemplo, atinge o ferro e
o manganês das rochas, aparecendo mudança de cor para vermelho ou amarelo,
indicando o primeiro indício de decomposição. O ácido sulfúrico também está neste
grupo.
Decomposição por hidrólise – segundo Fleury (1995), é a reação química mais
importante porque o íon H+
da película de água, por causa do seu pequeno diâmetro, é
absorvida pelo mineral e se desloca através dos canais abertos na sua estrutura.
“Lá dentro, provoca um desequilíbrio elétrico na estrutura eletricamente
satisfeita do silicato, e por ser bem menor e com um campo elétrico mais
forte, o íon H+
se mantém na estrutura do mineral, deslocando dele outros
íons metálicos, mais fracos eletricamente, como o cálcio, o sódio, o potássio,
o magnésio, o ferro e outros” (FLEURY: 1995, p. 213).
Decomposição por hidratação – o mineral é atacado pela ação da água e adquire
FIGURA 07 Água semi-estagnada – Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012
Fonte: Trabalho de campo
32
uma ou mais moléculas de água. Daí ocorre o aumento de volume do mineral,
provocando grandes efeitos mecânicos no corpo rochoso. As micas perdem suas
propriedades físicas com facilidade nesse processo.
Decomposição pelo ácido carbônico – para Leinz; Amaral (2001),
provavelmente é o agente químico mais importante do intemperismo (veja-se
decomposição por hidrólise, anteriormente) porque age constantemente sobre os
feldspatos, os minerais mais comuns das rochas da crosta terrestre. Segundo os autores
acima citados (p. 63), quando a água da chuva dissolve o CO2 da atmosfera, a maior
parte continua em solução, “[..] enquanto uma pequena parte se combina com a água
para dar ácido carbônico, que se encontra sempre em estado de dissociação”.
Decomposição por queluviação (LEINZ; AMARAL: 2001, p. 62) ou redução
(FLEURY: 1995, p. 211) – nomes diferentes dados pelos autores citados, significando
uma reação contrária à oxidação, ou seja, nos pântanos, alagados ou zona saturada do
subsolo, com a oxigenação imperfeita ou ausente, a decomposição de materiais
orgânicos produz o carbono, um agente químico redutor bastante eficaz. O lodo verde é
resultado de ambiente redutor. Os quelatos são os compostos orgânicos resultantes da
decomposição do húmus, segundo Leinz; Amaral (2001, p. 62).
Decomposição químico-biológica – segundo Leinz; Amaral (2001, p.64-65), “os
primeiros atacantes de uma rocha expostas às intempéries são bactérias e fungos
microscópicos. Vêm a seguir os liquens, depois as algas e musgos, formando e
preparando o solo para as plantas superiores.” O metabolismo desses seres segrega gás
FIGURA 08 Colonização de liquens sobre granito – 2012
Fonte: Trabalho de campo
33
carbônico, nitratos, ácidos orgânicos etc., que são incorporados às soluções que
percolam os solos e atingem as zonas de intempérie das rochas.
2.4 DINÂMICA CLIMÁTICA REGIONAL
Para entender o clima de determinada região, faz-se necessário conhecer a
dinâmica das massas de ar. Estas são grandes porções da atmosfera de características
bem individualizadas, possuindo grande espessura e dimensões de milhares de
quilômetros.
As massas de ar podem ser quentes ou frias, secas ou úmidas, dependendo da
área de origem. No Brasil, são seis as massas de ar que provocam as variações do tempo
e os tipos de clima, mas apenas cinco influem no Nordeste brasileiro: massa Equatorial
atlântica (Ea), massa Equatorial continental (Ec), massa Tropical atlântica (Ta), massa
Tépida kalaariana (Tk) e massa Polar atlântica (Pa). Mas, apenas as citadas a seguir têm
influência na área em estudo.
Massa Equatorial atlântica (Ea) – forma-se por causa da convergência dos ventos
alísios boreais e austrais que, por causa do efeito térmico, transformam-se em
movimentos convectivos ascencionais. O encontro do ar equatorial com o ar tépido
provoca a turbulência atmosférica, no hemisfério de verão. As chuvas equatoriais
ocorrem por causa da Convergência Intertropical (CIT), acompanhando as variações
sazonais de latitude do equador térmico.
Massa Tropical atlântica (Ta) e massa Tépida kalaariana (Tk) – originam-se no
centro semi-permanente de altas pressões do Atlântico Sul, perto da costa oeste africana.
O ar é tépido e límpido, com a umidade relativa abaixo do ponto de orvalho, o que
favorece a estabilidade da estrutura vertical. A Ta e a Tk só começam a se diferenciar
quando se deslocam advectivamente. Os ventos de SE-E são provenientes da Tk e
tocam a faixa litorânea do Nordeste. O ar da Ta toca a costa brasileira mais ao sul.
Massa Polar atlântica (Pa) – forma-se próximo à Antártica, abaixo dos 40°S.
Possui um ar frio e nevoento, desenvolvendo grande energia ao esbarrar com o ar da Tk,
originando a Frente Polar Atlântica (FPA). A FPA avança pelo Brasil através de duas
direções: direção continental, interior, podendo atingir até o equador. É responsável pelo
fenômeno da “friagem” na região amazônica; direção marítima, ou costeira, atinge a
costa oriental nordestina, adentrando pelos vales dos grandes rios.
34
2.4.1 Sistemas meteorológicos atuantes em Pernambuco
Pernambuco (1998) afirma que são os seguintes os sistemas meteorológicos que
atuam no Estado: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), frentes frias vindas do
sul, ondas de leste, ciclones da atmosfera superior, brisas terrestres e marinhas, e
oscilações de 30-60 dias.
Descartamos as brisas porque não atuam na área pesquisada, e as oscilações de
30-60 dias por não serem conclusivos os estudos de sua atuação sobre o Nordeste. Por
isso, interessam-nos:
1 – Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) – é a Convergência Intertropical
(CIT), formada pela confluência dos ventos alísios de NE (Hemisfério Norte) e de SE
(Hemisfério Sul). Contém alto teor de vapor d’água e tem movimento ascendente. É
considerado o principal sistema de produção de chuvas no Sertão e no Agreste, atuando
nos meses de fevereiro a maio.
2 – Frentes frias – são as responsáveis, em segundo lugar, pelas chuvas no
Nordeste, atuando com mais energia no litoral oriental. De maio a agosto atuam na
porção leste do Agreste; de novembro a fevereiro, no extremo oeste do Estado.
3 – Ondas de leste – são pequenas perturbações que ocorrem nos ventos alísios
provenientes da Tk. Deslocam-se de leste para oeste, de maio a agosto, e dependem da
temperatura da superfície atlântica.
4 – Ciclones da atmosfera superior – também chamados de Vórtices Ciclônicos
da Atmosfera Superior (VCAS). São remoinhos que ocorrem por causa da circulação
atmosférica, da Alta pressão da Bolívia, da posição da Zona de Convergência do
Atlântico Sul e da penetração das frentes frias. Podem agir sobre todo o Estado,
geralmente de novembro a fevereiro, podendo produzir chuvas intensas ou secas.
2.4.2 Chuvas
Segundo Lins (1989, p. 53), a situação do Agreste pernambucano em baixas
latitudes, o que porporciona muita insolação, e o relevo de altitudes modestas,
predominantemente abaixo dos 700 m, proporciona temperaturas médias anuais sempre
altas, ao contrário dos índices pluviométricos, cujas médias anuais variam entre 500 mm
e 1.300 mm.
As principais chuvas que ocorrem na área em estudo são as frontológicas, de
outono-inverno, provocadas pela FPA e por interferência das ondas de leste, que são
35
ondulações ocorrentes na massa de ar Tépida kalaariana. As chuvas convectivas, de
verão-outono, são provocadas pela Convergência Intertropical.
Governo de Pernambuco (1997), subdivide a bacia hidrográfica do rio Una em
sub-bacia Capivara e sub-bacia Palmares. A precipitação anual média determinada para
a sub-bacia Capivara, à qual a área em estudo está inserida, é de 646,6 mm, adotando-se
um período comum para os postos de janeiro de 1935 a dezembro de 1985.
FIGURA 09 Isoietas da bacia hidrográfica do rio Una
Fonte: Governo do Estado de Pernambuco: 1997
A seguir, apresenta-se uma tabela com os índices de pluviosidade média em
alguns municípios adjacentes a Altinho, o que contribui para entendermos os 622
mm/ano de chuva de Ituguaçu, segundo a avaliação dos totais muito aproximados entre
os dados expostos.
TABELA 01 PRECIPITAÇÕES MÉDIAS EM MUNICÍPIOS ADJACENTES A ALTINHO.
POSTO PLUVIO-
MÉTRICO
LATITUDE
SUL
LONGITUDE
OESTE
PRECIPITAÇÃO
(mm/ano)
Altinho 8° 29’ 18,96” 36° 03’ 29,88” 622
Calçado 8° 44’ 25,08” 36° 20’ 3,84” 702
Ibirajuba 8° 34’ 58,08” 36° 10’ 41,16” 654
Jucati 8° 42’ 21,96” 36° 29’ 21,12” 720
Jurema 8° 43’ 5,16” 36° 08’ 15,00” 790
Lajedo 8° 39’ 20,16” 36° 19’ 4,08” 831
São Bento do Una 8° 31’ 37,92” 36° 27’ 33,84” 630
FONTE: Governo do Estado de Pernambuco: s/d.
-36.60 -36.40 -36.20 -36.00 -35.80 -35.60 -35.40 -35.20
-8.80
-8.60
-8.40
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
2600
2800
3000
3200
36
Analisando-se o mapa das isoietas anuais e a tabela anteriormente apresentada,
verifica-se que os valores são perfeitamente compatíveis com a precipitação média da
região (646,6 mm/ano).
FIGURA 10 Isoietas Médias Anuais no Agreste Pernambucano
Fonte: Melo, 1980.
2.4.3 Clima e Vegetação
Para reconhecer as condições climáticas do Agreste Pernambucano, necessário
se faz saber a sua situação em comparação com a linha do Equador: está em baixas
latitudes, recebendo intensa insolação o ano inteiro. Ao compararmos a altimetria, o
relevo possui altitudes modestas porque predominam os níveis abaixo dos 700 m.
A junção desses dois fatores – baixas latitudes e baixas altitudes, contribui para a
formação das médias térmicas anuais bastante altas, entre os 22°C e os 24°C, nas
superfícies aplainadas. No Agreste, nas superfícies mais elevadas, as médias de
temperatura baixam para cerca de 20°C, formando as áreas de brejos.
37
O regime pluviométrico é bastante irregular, tanto nos índices de precipitação
quanto às áreas atingidas. A energia da Frente Polar atlântica possibilita as chuvas de
outono e inverno da área estudada, traduzindo-se nas principais precipitações, de caráter
frontológico. As ondas de leste auxiliam no aumento dos índices pluviométricos do
período. As chuvas convectivas que ocorrem na área estudada acontecem por causa da
Convergência Intertropical (CIT), no verão-outono. As médias de chuvas no Agreste
pernambucano variam entre 500 mm a 1.300 mm (LINS: 1989, p. 55).
Considerando-se esses fatores – latitude, altitude, massas de ar e precipitação
pluviométrica, além das altas temperaturas anuais, o clima da região em estudo é
definido como semiárido, mais propriamente o BShs’ da classificação de Wilhelm
Köppen.
A maior consequência desse tipo de clima está no regime dos rios, como por
exemplo o Una, de regime temporário ou intermitente; e na vegetação original, a
caatinga hipoxerófila.
No local em estudo, encontramos como representantes da vegetação primitiva os
seguintes vegetais: mulungu, umburana, rasga-beiço, espinheiro branco, baraúna,
jurema preta, barriguda, ipê amarelo, velame, catingueira, jurubeba, juá, canafístula,
coco catolé, umbu, tambor entre outros.
FIGURA 11 Vegetação de caatinga – 2012
Fonte: Trabalho de campo
38
FIGURA 12 Climas de Pernambuco
Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
39
Sobre as lajes cristalinas encontramos vegetação do tipo rupestre: coroa de frade,
mandacaru, facheiro, xique-xique, macambira etc.
FIGURA 13 Vegetação rupestre – Cachoeira Grande –2012
Fonte: Trabalho de campo
No entorno do local, os terrenos foram intensamente explorados pela agricultura
e pela pecuária. Os seres humanos derrubaram a vegetação primitiva para fixarem os
roçados e a criação de animais. Com os solos de pequena profundidade e o regime
climático, a vegetação de alguns trechos traduz-se em capoeira ou capoeirão, tendo
dificuldade de se reconstituir com os espécimes mais lenhosos. A algarobeira, planta
oriunda de outro país, adaptou-se maravilhosamente às condições naturais do local.
40
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO UNA E DA CACHOEIRA
GRANDE
Normalmente, rio é definido como um curso natural de água doce, com canal
determinado e fluxo permanente ou sazonal, desaguando noutro rio, no mar ou num
lago. À Geomorfologia Fluvial interessam os processos e as formas relacionados ao
escoamento dos rios. A morfologia de um rio e de sua bacia de drenagem está em
constante movimentação, com os materiais sendo removidos, o que acarreta mudanças
nas formas dos relevos fluvial e superficial. Os rios são os principais agentes
responsáveis pela denudação nos continentes.
A bacia hidrográfica do Rio Una localiza-se ao sul do Estado de Pernambuco,
entre as latitudes 8°17’14” e 8°55’28” Sul e longitudes 35°07’48” e 36°42’10” Oeste,
limitando-se ao Norte com as bacias dos rios Ipojuca e Sirinhaém e o grupo de bacias
de pequenos rios litorâneos; ao Sul com a bacia do rio Mundaú, o Estado de Alagoas, o
grupo de bacias de pequenos rios litorâneos e o grupo de bacias de pequenos rios
interiores; a Leste, com o Oceano Atlântico, a bacia do rio Sirinhaém; a Oeste, com as
bacias dos rios Ipojuca e Ipanema. É considerada por Governo do Estado de
Pernambuco (1997) como a Unidade de Planejamento Hídrico UP5.
A nascente do rio Una localiza-se na Serra da Boa Vista, no município de
Capoeiras, a aproximadamente 900 m de altitude. Apresenta-se intermitente até as
proximidades da cidade de Altinho, tornando-se perene a partir dali. A extensão do rio é
de cerca de 255km e tem como principais afluentes: pela margem direita – riacho
Quatis, rio da Chata, rio Pirangi, rio Jacuípe e rio Caraçu; pela margem esquerda –
riacho Maracajá (Riachão), riacho Mentirosos, rio do Sapo, rio Camevô e rio Preto.
A bacia do rio Una possui uma área aproximada de 6.785,79 km2
, sendo que
apenas 6.292,90 km2
estão inseridos no território pernambucano, representando 6,32%
do total das terras do Estado. Dos 452,6 km2
de área municipal, Altinho detém 447,2
km2
inseridos na bacia hidrográfica do rio Una, representando 98,8%.
Essa bacia abrange 42 municípios, dos quais 11 estão totalmente inseridos na
mesma: Belém de Maria, Catende, Cupira, Ibirajuba, Jaqueira, Lagoa dos Gatos,
Maraial, Palmares, Panelas, São Benedito do Sul e Xexéu); 15 possuem sede inserida na
bacia: Água Preta, Agrestina, Altinho, Barreiros, Bonito, Cachoeirinha, Calçado,
Capoeiras, Jucati, Jupi, Jurema, Lajedo, Quipapá, São Bento do Una e São Joaquim do
Monte, e 16 estão parcialmente inseridos: Barra de Guabiraba, Bezerros, Caetés,
Camocim de São Félix, Canhotinho, Caruaru, Gameleira, Joaquim Nabuco, Pesqueira,
Rio Formoso, Sanharó, São Caetano, São José da Coroa Grande, Tacaimbó, Tamandaré
e Venturosa.
41
FIGURA 14 Bacias hidrográficas de Pernambuco
Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
42
FIGURA 15 Bacia hidrográfica do rio Una
Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
43
3.1.1 Cachoeira Grande – cachoeira ou corredeira?
Importante se faz definir o trecho em estudo, haja vista que a denominação local
se refere à cachoeira. No entanto, deve-se ser cuidadoso, pois a terminologia popular, às
vezes não condiz com os rigores técnicos ou científicos. Para resolver isso, deve-se
considerar o que alguns autores dizem a respeito.
Ferreira (1988) diz que cachoeira é um substantivo feminino utilizado no Brasil
e significa ‘queda d’água’ ou ‘corredeira’. Guerra (1980) define como “[...] queda
d’água no curso de um rio, ocasionada pela existência de um degrau no perfil
longitudinal do mesmo”. Mas, quando lemos sua definição de salto, ele diz que é uma
“[...] denominação genérica dada a todos os tipos de desnívelamento ou degraus
encontrados no perfil longitudinal de um rio, ex: cascata, catarata, catadupa, queda
d’água, cachoeira, corredeira etc”. Ele diz, também, que as corredeiras e cascatas são
diferentes de cachoeiras, quedas d’água e cataratas porque as primeiras são formadas
em desnivelamentos menos acentuados do que as segundas. Alerta aos geomorfólogos
que o que interessa é a razão de ser da existência de determinado fenômeno.
Os saltos podem ser formados por falhas, dobras, erosão diferencial, diques etc.
Leinz; Amaral (2001, p. 101) dizem que “a principal causa da formação de uma
cachoeira é a diferença na resistência à erosão oferecida pelas rochas cortadas pelo
rio”. As cachoeiras têm duração efêmera, graças aos fenômenos erosivos que atuam no
local.
FIGURA 16 Parte mais elevada da Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012
Fonte: Trabalho de campo
44
No caso da Cachoeira Grande, pecebe-se pela Carta de Belo Jardim (FOLHA
SC.24-X-B-III: 1986) que existe um desnível entre a cota de 450 m para a de 400 m.
Isso faz com que os agentes erosivos trabalhem com muito vigor, na busca de um
equilíbrio, tentando chegar ao nível de base.
No caso em estudo, pode-se classificar o local como cachoeira ou queda d’água,
graças ao significativo desnível, com a topografia permitindo uma razoável velocidade
das águas do rio Una.
3.1.2 Perfil longitudinal ou perfil de equilíbrio de um rio
Uma das características do sistema fluvial é funcionar como um conjunto;
qualquer modificação numa parte do sistema afeta as outras. Os principais fatores que
determinam o escoamento de um rio são: descarga, velocidade, forma do canal,
gradiente (declive), nível de base e carga de sedimentos. Esses fatores mudam
constantemente em busca do equilíbrio, de forma que, eventualmente, podem ajustar o
gradiente para acomodar o volume de água disponível, as características do canal e a
velocidade necessária para transportar a carga de sedimentos.
Os rios que apresentam declividade cada vez maiores para montante e cada vez
menores para jusante são considerados como rios equilibrados. O perfil de equilíbrio de
um rio trata-se de sua condição de não mais erodir ou depositar materiais, quando a
forma do canal e o gradiente estão balanceados. Sendo uma condição rara de conseguir,
os rios continuam o trabalho hidráulico, ajustando-se constantemente para conseguir a
condição ideal de equilíbrio.
Para De Martonne (1953, p. 484), “[...] “ o perfil de equilíbrio de um curso de
água é, em pincípio, aquele cujos declives são suficientemente fracos e regularmente
decrescentes para jusante, de modo que toda a força viva (sem dúvida reduzida com o
declive) seja utilizada no escoamento”. Segundo esse autor, na busca do perfil de
equilíbrio os rios trabalham ativamente para fazer desaparecer as roturas de declive,
fazendo-as recuar para montante.
3.1.3 Canais fluviais de leito rochoso
Os rios de leito aluvial foram bem estudados desde há muito tempo. Mas os
estudos sobre rios de leito rochoso são recentes, partindo da década de 1990 (LIMA:
2010), e ainda não são bem difundidos nos conhecimentos geomorfológicos. Em nosso
país ainda existe uma carência enorme desses estudos, o que leva alguns pesquisadores
a buscarem fontes estrangeiras.
45
Lima (2010), analisando vasta bibliografia em língua inglesa, traz grande
contribuição ao entendimento desse fenômeno, o que pode incentivar as discussões e o
interesse pelo tema. Como ele avisa, muitos conceitos novos estão sendo aplicados e
antigos conceitos são reavaliados nessa nova perspectiva.
De Martonne (1953), quando trata do modelado da erosão normal, provocado
pelas torrentes, destaca as seguintes forças: escavamento do leito, desagregação das
vertentes e arrastamento e acúmulo de detritos. “Se o escavamento do leito desempenha
um papel essencial nas torrentes, por mais forte razão, deve ser o primeiro factor a
considerar na bacia dum rio regular” (DE MARTONE: 1953, p. 480).
Utilizando uma literatura geomorfológica internacional, Lima (2010, p.340) diz
que o termo bedrock denota a ideia de leito rochoso, incluindo também, as margens
rochosas. Quanto à expressão bedrock channel (canal rochoso) é flexível para designar
os rios com leito rochoso, que tenham ou não margens rochosas.
Os canais rochosos sem qualquer tipo de cobertura sedimentar não ocorrem por
grandes extensões, sendo mais apropriado designar de canais mistos rochoso-aluvial
(mixed bedrock-alluvial channels). Então, o termo rochoso deve referir-se a trechos
descobertos de material, enquanto o termo aluvial deve ser empregado a trechos que
detenham cobertura sedimentar, mesmo que sejam mobilizáveis durante as enchentes.
Utilizando Whipple, Lima (2010, p. 340) diz que “[...] a expressão bedrock
channel é comumente aplicada para designar canais de leito misto, enquanto a
expressão bedrock reach aplica-se a techos com leito rochoso exposto”. Em geral, os
canais rochosos desenvolvem-se em material coesivo e resistente, sofrendo intensa
erosão no substrato rochoso. Lima (2010, pp. 340-341) aponta três tipos de canais
rochosos:
1 – Canal confinado inteiramente na rocha, com exposição rochosa tanto no leito
quanto nas margens;
2 – Canal com margens rochosas, mas com cobertura aluvial no leito;
3 – Canal com exposição rochosa apenas no leito.
Mesmo que possam ocorrer trechos rochosos em baixa declividade, a
diferenciação destes para os aluviais é justamente a declividade relativamente maior.
3.2 VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, CONDIÇÕES DO LEITO, FORMAS E RESULTADOS DO
INTEMPERISMO
As variações climáticas ocorrem normalmente em ritmos e intensidades
variáveis nos diferentes anos.
46
“Dentre os elementos climatológicos, a precipitação é o que diretamente
reflete a instabilidade do tempo e a intensidade com que essas variações se
processam, podendo ainda ser considerada como um dos principais fatores
responsáveis pelo desenvolvimento dos sistemas morfogenéticos tropicais”
(SILVA; SANTOS, 1979, apud BIGARELLA et al., 2007, p.80).
Alguns estudiosos acreditam que os eventos climáticos considerados normais
não contribuem para as grandes perturbações na dinâmica das paisagens, à medida que
os elementos físicos ajustam-se aos padrões mais frequentes nessa distribuição dos
eventos climáticos.
Para outros estudiosos, nos impulsos climáticos de maior magnitude pode-se
constatar imediatamente a eficácia na paisagem. Alguns autores citados por Bigarella
(2007, p. 81) afirmam que “[...] a frequência de ocorrência dos eventos determina o
montante de trabalho efetuado pelos impulsos de diferentes intensidades [...]”.
Bigarella et al., (2007, p. 83) concordam que tanto as pequenas flutuações do
clima quanto as profundas mudanças climáticas tiveram grande importância para a
construção das paisagens atuais.
A partir do Pleistoceno ocorreram instabilidades climáticas extremas. No Brasil,
isso representou dois grandes conjuntos de processos que agiram alternadamente:
degradação lateral durante os climas semiáridos (épocas glaciais) e dissecação durante
climas úmidos (épocas interglaciais). “A ação erosiva seria muito efetiva no período de
transição de um tipo de clima para outro” (BIGARELLA et al., 2007, p.84).
Na mudança de um tipo de clima úmido para um mais seco, os rios tornam-se
intermitentes por causa das chuvas concentradas, havendo grandes variações nas suas
descargas. A carga sólida dos rios é aumentada por causa da acelerada erosão das
vertentes que ficam desprotegidas. É possível, durante essa mudança, que os sedimentos
entulhem, em parte, o fundo dos vales, elevando o nível de base local.
Na transição da semiaridez para clima úmido, os processos de alteração química
contribuem para a erosão linear. O regime fluvial passa a ser permanente, com aumento
progressivo da descarga média dos rios e de sua capacidade de transpotar a carga sólida.
O leito pode ser retrabalhado, ocorrendo o rebaixamento do nível de base local.
Ab’Sáber (1956-1957), analisando a rede hidrográfica do Nordeste Oriental,
considera-a um magro sistema de cursos d’água com fraquíssimo poderio energético,
por serem intermitentes e irregulares. Para ele, “é fato absolutamente fora de dúvidas
que os rios nordestinos entalharam os grandes boqueirões do interior através de uma
superimposição hidrográfica de tipo clássico e à custa de um volume d’água e um
poderio de erosão muito maiores do que os atuais, assim como sob um regime
hidrológico inteiramente diverso” (AB’SÁBER, 1956-1957, p. 70).
Coincidindo com Bigarella et al. (2007), com o qual produziu trabalhos
conjuntamente, Ab’Sáber (1956-1957) considera que as mudanças das fases úmidas e
47
semiáridas no Nordeste, a partir do Pleistoceno, foram importantes para os rios
entalharem seus vales e desempenharem os trabalhos de superimposição fluvial,
formando os boqueirões e cruzando cristas rejuvenescidas. Ele acredita que as
condições físicas atuais não permitiriam aos rios oriundos do Planalto Borborema
seccionarem as rochas resistentes das formações antigas se no passado não tivessem
ocorrido vários ciclos de maior umidade por tempo mais longo, alternados por períodos
de semiaridez.
Deve-se acreditar que o modelado da Cachoeira Grande recebeu grande
contribuição das fases intercaladas de umidade e semiaridez, a partir do Pleistoceno,
recebendo os eventos climáticos normais, as pequenas flutuações e as profundas
mudanças, contribuindo para o avanço da erosão fluvial para montante e as várias
formas que se apresentam no trecho estudado.
3.2.1 Clima e intemperismo
A desintegração mecânica e a decomposição química sobre as rochas variam
mediante as diferentes zonas e elementos climáticos.
Nas áreas quentes e úmidas o intemperismo químico é intenso e constante,
agindo até grandes profundidades. Nas áreas desérticas e semidesérticas, o
intemperismo químico tem pouco significado, mas o contraste térmico é bem
considerável porque provoca a desintegração mecânica. “O clima controla o
intemperismo diretamente através da temperatura e da precipitação e, indiretamente,
através da vegetação que recobre a paisagem” (BIGARELLA et al., 2007, p. 90).
O resultado principal do intemperismo é a formação do solo. Em regiões quentes
e úmidas os solos são mais profundos e permitem uma formação florestal. Já nas regiões
desérticas e semiáridas, os solos são menos espessos ou mesmo inexistentes, com as
rochas originais aflorando à superfície.
Na Cachoeira Grande, por ficar localizada no domínio do clima semiárido
nordestino, as chuvas são escassas e concentradas, havendo temperaturas elevadas o ano
inteiro. Este fato contribui para a ocorrência dos processos mecânicos de intemperismo,
resultando na desintegração das rochas.
Mas, por ser um trecho de rio com razoável inclinação, as enxentes levam os
fragmentos de rocha para outros locais, desnudando o leito, ficando os granitos,
gnaisses e migmatitos descobertos.
A energia do caudal, mesmo sendo de rio intermitente, permite a formação de
depressões que se enchem de águas fluvias, ou mesmo pluviais, as quais ficam
estagnadas, permitindo a colonização de seres vivos como: pequenos animais, plantas e
48
liquens, os quais liberam compostos orgânicos que agem quimicamente nas rochas,
permitindo a decomposição.
Portanto, mesmo sendo uma área de semiaridez, os processos químicos são
muito importantes porque facilitam a ação dos processos de intemperismo mecânico.
3.2.2 Fenômenos que contribuem para as formas na Cachoeira Grande
Declive – como trata-se de um trecho considerado como corredeira ou cachoeira,
a inclinação do leito do rio Una contribui para a rápida passagem das águas fluviais, o
que contribui para as ações dos agentes mecânicos do intemperismo, resultando nas
formas estudadas. O rio está sempre buscando o equilíbrio do nível de base, por isso o
seu leito aprofunda-se a montante.
Descompressão da rocha – quando estão em camadas profundas da litosfera as
rochas sofrem altas pressões das camadas que estão por cima, mantendo-se coesa e sem
falhamento. Com o processo do ciclo rochoso, quando afloram à superfície sofrem um
alívio da pressão, fraturando-se em camadas horizontais, contribuindo para maior
eficiência dos processos erosivos.
FIGURA 17 Fraturamento por descompressão – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Fraturas e diáclases – as rochas do local (granito, gnaisse e migmatito) são
bastante fraturadas, tanto no sentido do fluxo quanto em diagonal ou atravessadas.
49
FIGURA 18 Fraturamento no sentido do fluxo do rio – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Minerais das rochas – nos granitos, os minerais de quartzo, feldspato e micas
estão mais uniformemente distribuídos. Já nos gnaisses e migmatitos encontram-se
‘separações’, graças às características próprias de formação destas. Percebe-se, nestas
últimas, as concentrações de mica preta, feldspato e quartzo, cujos minerais possuem
coesão e densidade diferentes, o que favorece o fraturamento ou ação erosiva mais
FIGURA 19 Oriçanga em migmatito – 2012
Fonte: Trabalho de campo
significativa naqueles minerais menos resistentes às condioções do ambiente.
Geralmente as concentrações de minerais estão formadas como intrusões magmáticas,
com o feldspato apresentando maior resistência. A mica apresenta menor resistência, já
50
as intrusões de quartzo contribuem para as fissuras e fraturamento em suas zonas de
contato. Também é importante destacar que as superfícies de rocha escura (máficas)
concentram mais calor, com maior possibilidade de fissuras ou descamação; já as claras
(leucocráticas) concentram menor temperatura.
3.2.3 Processos erosivos fluviais
Segundo Lima (2010), o estudo dos rios de leito rochoso despertou maior
interesse a partir da década de 1990, por causa da importância desses para os estudos da
evolução das paisagens e da ligação entre erosão fluvial e o soerguimento de
montanhas.
No nosso país, os rios de leito rochoso são muito comuns, mas os estudos
geomorfológicos ainda são incipientes. Os canais rochosos desprovidos de qualquer tipo
de material aluvial que os cubram só existem em pequenos trechos. Lima (2010) acha
mais adequado considerar os canais rochosos de canais mistos rochoso-aluvial.
Baseando-se em Howard e Whipple, este autor afirma que, “em resumo, um canal
rochoso ou misto é aquele em que a cobertura aluvial não é contínua no tempo e no
espaço e, onde existente, é pouco espessa e mobilizável, de modo que a incisão no
substrato rochoso é ativa” (LIMA, 2010, p. 340). Os canais rochosos desenvolvem-se
em material rochoso coesivo e resistente, como rochas cristalinas, aluviões e cascalhos
cimentados.
A ação erosiva no leito rochoso ocorre quando a potência do escoamento é
suficiente para transportar a carga do leito. A incisão (desgaste) ocorre em grande parte
quando as partículas sedimentares carregadas pelas águas chocam-se com o extrato
rochoso.
Lima (2010, p.343-348) aponta três grandes categorias de processos erosivos
fluviais: corrosão, abrasão (corrasão) e cavitação.
- Corrosão – são todos os processos químicos que tenham relação com a reação
da água nas rochas do leito fluvial. Também é mencionado como dissolução. A corrosão
prepara a rocha para maior eficiência dos outros processos.
- Abrasão – trata-se do atrito contínuo das partículas de sedimentos carregadas
pela água, atingindo as rochas do leito e das margens. A carga do leito e a carga em
suspensão são ferramentas eficientes na ação abrasiva. Esse conjunto de processos ainda
pode ser classificado em: macro-abrasão – quando os sedimentos em saltação lascam e
fraturam o leito rochoso; micro-abrasão – quando ocorre o fraturamento grão-por-grão,
inclusive pelas partículas em suspensão.
51
Um importante processo de macro-abrasão é o arranque, provocado pela força
do fluxo fluvial que age destacando fragmentos do leito e das margens. “A erosão por
arranque requer a presença de blocos delimitados por descontinuidades estruturais,
tais como fraturas e planos de acamamento” (LIMA, 2010, p. 346).
- Cavitação – refere-se à formação de bolhas pela diminuição da pressão da água
num canal fluvial. As bolhas, “[...] ao estourarem junto à superfície delimitadora do
canal, liberam uma grande energia de impacto, que promove a fragmentação das
rochas” (BARNES, 1956, apud LIMA, 2010, p. 348).
3.2.4 Formas e resultados
A interação dos diversos fenômenos atuantes no local em estudo tem como
resultado os seguintes produtos:
Marmitas - para Guerra (1980), as marmitas são
“Buracos que aparecem no leito dos rios produzidos pelas águas
turbilhonares. Esses buracos aparecem, comumente, logo após uma
cachoeira, ou então, quando há rápido desnível sendo, no entanto, o leito do
rio de rocha dura e compacta. As marmitas são produzidas pelo eixo vertical
dos turbilhões”.
Leinz; Amaral (2001, p.101) definem os caldeirões e marmitas como “[...]
verdadeiras perfurações cilíndricas, profundas, formadas pelo redemoinho das águas,
ao turbilhonar após uma cachoeira ou uma corredeira”.
Estas são definições generalizadas, pois são registradas as ocorrências de
marmitas noutros ambientes, como áreas litorâneas, onde a interferência fluvial nada
tem a ver, e em planos verticais de rochas, como nas cataratas do rio Nilo e na cachoeira
de Niágara.
Alguns morfologistas consideram que o afundamento dos talvegues dos rios é
realizado, apenas, pelas marmitas e seus recortamentos. Em nossas pesquisas
bibliográficas, encontraram-se os seguintes tipos de marmita:
Marmita fluvial – definição que se encaixa ao exposto acima por Guerra. Alguns
autores a definem como marmita-de-gigante. São produzidas em movimentos
turbilhonares, onde as areias e os clastros (calhaus) são as principais ferramentas
utilizadas pelas águas, em movimento giratório, perfurando as rochas mais duras.
52
FIGURA 20 Marmita fluvial – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Marmita de dissolução – Guerra (1980) considera que são as pequenas cavidades
produzidas pela dissolução na superfície das rochas, especialmente as que são ricas em
carbonato de cálcio, havendo reação química dos minerais destas com a água.
Marmita litorânea – à semelhança das marmitas fluviais, são formadas pelos
turbilhões que atingem rochas resistentes, como os recifes de arenito, formando buracos
arredondados, os quais capturam materiais clásticos. Em Natal, no Estado do Rio
Grande do Norte, podem ser encontradas na plataforma de arenito em franja (arrecife),
perto do Forte dos Três Reis Magos.
Oriçangas - Moreira (1999), estudando os rios de leito rochoso ao Sul de
Moçambique, no continente africano, destaca a escavação do leito em rochas
consolidadas, duras e com minerais alteráveis, apresentando duas microformas
embutidas, “mais ou menos largas e profundas”, às quais deu o nome de marmitas e
oriçangas, dependendo da posição onde ocorrem. Para ela,
“[...] no fundo do leito, onde o processo morfogenético dominante é a erosão
mecânica, formam-se as marmitas, comumente designadas por marmitas-de-
girante, enquanto nas paredes das margens se desenvolvem as oriçangas, em
que o processo morfogénico mais eficaz é a corrosão bioquímica”
(MOREIRA, 1999, p. 57).
As oriçangas seriam, portanto, formações construídas pela reação química das
águas e algas constantes do represamento das chuvas, porque os locais onde estão
inseridas, afastadas do leito principal do rio, não teriam a força mecânica das águas e
sedimentos, normalmente, nas épocas de cheias fluviais. As oriçangas são - como
Guerra define, marmitas de dissolução.
53
FIGURA 21 Oriçanga – 2012
Fonte: Trabalho de campo
De Martonne (1953, p. 487) considerou as formações que ficam juntamente com
as marmitas, nas cimeiras rochosas (planos mais altos do leito) de “lapiez”.
Ainda citando Guerra (1980), ele define caldeirão como “o mesmo que
marmita”. No entanto, devemos diferenciar caldeirão de marmita, pois a formação e a
morfologia são diferentes. É comum encontrarmos nas áreas rurais do Nordeste buracos
feitos em rochas duras, dos quais são retirados os materiais de entupimento, permitindo
o acúmulo de água para consumo familiar ou animal, durante parte do ano. Sua
formação deve-se, principalmente, à dissolução dos materiais pela ação química da água
FIGURA 22 Caldeirões – município de Panelas – 2010
Fonte: Trabalho de campo
54
em fissuras ou fraturas, provocando o alargamento em forma, geralmente, longuilínea,
ao contrário das marmitas, que são cavidades aproximadamente cilíndricas.
Portanto, para a área em estudo, deve-se considerar os dois fenômenos –
marmitas e oriçangas – denominações que devem ter a mesma origem: a energia do
turbilhonamento das águas, junto com os sedimentos. No entanto, como as oriçangas
comumente não são atingidas pelas cheias por períodos regulares, mas podem receber
águas provenientes das chuvas, continuarão a sofrer desgaste através da ação química
desse líquido e das substâncias orgânicas provenientes dos organismos vivos que
colonizam tais aberturas.
Marmitas conjugadas – a erosão das marmitas ocorre expandindo o fundo e as
paredes laterais. Com a evolução desse processo, duas ou mais marmitas podem formar
uma só ou uma significativa incisão no leito rochoso. É normal encontrar-se esse tipo de
captura no local.
Tabique - entre duas ou mais marmitas forma-se um septo superior, chamado de
tabique, o qual, com a evolução, pode tornar-se um bloco ou fragmento alongado.
FIGURA 23 Captura de marmitas com o tabique destacado - 2012
Fonte: Trabalho de campo
Flutes – são regos formados pela grande velocidade das águas das enchentes, em
superfícies rochosas que não dispõem de obstáculos adequados à formação do
turbilhonamento, necessário para o aparecimento das marmitas. A água transportando os
sedimentos como areias e cascalhos deixa formas alongadas e pouco profundas, às quais
dá-se o nome de flutes.
55
FIGURA 24 Flutes – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Elevações e depressões – a passagem contínua das águas carregadas de
sedimentos desgasta com maior eficiência determinadas partes das superfícies das
rochas, deixando algumas mais altas, aquelas mais resistentes ao intemperismo local, e
outras mais baixas, por serem menos resistentes. Isto ocorre por causa da resistência dos
minerais, principalmente com as intrusões magmáticas de feldspato (mais resistentes) e
as de mica (menos resistentes), como se vê na foto a seguir.
FIGURA 25 Intrusão de feldspato em elevação – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Superfícies polidas – com o contato da água em velocidade carregada de
sedimentos, principalmente com areia, as rochas ficam com as superfícies polidas,
56
apresentando-se bem lisas, ao contrário do que normalmente ocorre em rochas
cristalinas longe das margens, que são crespas. “A textura da superfície de abrasão
geralmente é lisa e polida, diferenciando-se da superfície corroída que se apresenta
irregular e áspera” (BIGARELLA et al, 2007, p.327).
FIGURA 26 Superfícies polidas – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Enchente de blocos – denomino dessa maneira em oposição aos mares de blocos
apresentados por Bigarella et al. (2007, p.348). A constante ação fluvial com seus
processos de intemperismo desgasta e fragmenta as rochas que ficam acumuladas a
jusante do ponto mais alto. A fragmentação ocorre através de quebra de núcleos,
FIGURA 27 Blocos no leito do rio – 2012
Fonte: Trabalho de campo
57
provocada pelas altas temperaturas, e pelo desgaste erosivo que os corpos rochosos
sofrem, reduzindo seus tamanhos e facilitando a fragmentação pelo choque dos pedaços
maiores transportados ou mesmo pelas temperaturas.
Bancos de areia grossa – nos poucos locais onde o declive diminui proporciona a
acumulação de areia grossa em forma de bancos. A permanência dos bancos é
provisória porque não encontramos evidências de material desse tipo fixado no local,
com colonização de plantas sobre ele, compactação ou camadas de argila, o que poderia
indicar antiguidade. Dentro de algumas marmitas e oriçangas também podemos
encontrar areia grossa, capturada durante as enxentes, acumuladas no fundo.
FIGURA 28 Banco de areia grossa – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Seixos rolados e cascalhos – fragmentos rochosos são encontrados por todo o
leito do rio, no local em estudo. Os cascalhos capturados pelas marmitas e oriçangas
não conseguem sair com facilidade, principalmente nas mais profundas, sofrendo
desgaste em todas as arestas, ficando arredondados. À medida que sofrem o desgaste,
também estão desgastando as paredes internas das formas citadas.
58
FIGURA 29 Seixos capturados por marmita – 2012
Fonte: Trabalho de campo
Barrocas – depressões criadas pelo intemperismo mecânico ou pelo
intemperismo químico ou ambos, que não apresentam formado parecido com os outros
fenômenos citados. Podem apresentar-se secas ou cobertas com água estagnada.
FIGURA 30 Barroca - 2012
Fonte: Trabalho de campo
Geralmente são alongadas, de pequena profundidade, e com bordas suavemente
inclinadas para o centro, diferentemente das marmitas, que têm as bordas abruptas.
59
3.3 Material e Métodos
Para o estudante e o professor de Geografia, a Cachoeira Grande e a Vila de
Ituguaçu oferecem bastante motivação para o desenvolvimento de estudos da citada
ciência. Reconhecendo-se que a Cachoeira Grande e seu entorno são propícios ao
desenvolvimento do conhecimento, colocamos as seguintes propostas de trabalho:
3.3.1 Desenvolvimento do conhecimento geográfico disciplinar e multidisciplinar
“O professor necessita manter o diálogo permanente com o passado, o presente
e o futuro para conhecer melhor sua própria ciência e saber constituir projetos
disciplinares e interdisciplinares na escola” (PONTUSCHKA; PAGANELLI;
CACETE, 2009, p.145).
Pode-se trabalhar todos os aspectos geográficos, desde as características naturais
mais gerais como relevo, hidrografia, clima e vegetação; os mais específicos, como os
processos de intemperismo e seus resultados no leito rochoso do rio Una, principal
averiguação da presente monografia; até as condições humanas, como a modificação do
ambiente natural (ação antrópica), a ocupação e a evolução demográfica, as atividades
econômicas, a ligação com outros locais etc.
Também pode-se trabalhar a multidisciplinaridade, envolvendo principalmente a
História, a Biologia, a Física e a Arte. Para o entendimento da evolução da povoação
necessário se faz a utilização dos critérios históricos. A Cachoeira Grande funciona
como vários ecossistemas, graças ao empoçamento da água nas várias reentrâncias e
depressões, permitindo a sobrevivência e reprodução de pequenos animais, algas e
bactérias. Impregnadas nas rochas, notamos as marcas da poluição urbana,
principalmente a advinda da cidade de Cachoeirinha. As condições de temperatura
diferenciada entre as estações do ano e durante o dia podem favorecer um trabalho de
Física. Medir as marmitas, observando diâmetro da boca e do fundo, profundidade,
extensão do tabique etc, pode favorecer um bom trabalho de Matemática. Reproduzir no
papel as formas existentes ou mesmo fotografar e construir um painel pode ser uma
preciosa contribuição do professor de Arte.
Tantas possibilidades existem porque a diversidade de fenômenos no local é
vastíssima. Caberia aos professores das diversas áreas discutirem um projeto comum
para a complementação do conhecimento, utilizando imagens, mapas, entrevistas,
visitas de campo, construção de murais, elaboração de relatórios etc.
60
3.3.2 Investigar a origem da povoação da Vila de Ituguaçu e seu entorno
Além de conhecer os aspectos físicos pertinentes à Cachoeira Grande, necessário
se faz analisar a ocupação humana do entorno, principalmente da Vila de Ituguassu,
averiguando-se sua origem e importância para o local.
Nos primeiros momentos de nossas sondagens, recebemos informações que na
citada Vila, há mais de 200 anos, teve início uma fazenda de criação de gado bovino,
com o fazendeiro da época mandando fazer uma capela e o muro do cemitério,
conforme já citamos na introdução. No entanto, apesar da antiguidade do lugar, não
houve desenvolvimento no crescimento, com a aglomeração humana na vila e em seu
entorno dispondo de pequeno contingente populacional.
Para Schiell et al. (2003, p.31),
“As ações dos homens entre si e com o meio ambiente movem a história, os
homens produzem sua história deixando na natureza sua marca. É importante
refletir sobre as relações da história, enquanto conhecimento, com a crise
ambiental, problema complexo que ocorre na atualidade e abrange o planeta
como um todo”.
Necessário se faz entender como o lugar evoluiu historicamente, entrevistando-
se pessoas que saibam das passagens de tempo que marcaram a área, pois em primeiros
momentos de nossas visitas, notamos que alguns moradores guardam na memória o que
viveram e o que seus pais lhes contaram sobre a vila.
“Por intermédio de relatos de histórias de moradores antigos e de
levantamento de documentos históricos em arquivos, bibliotecas, prefeituras
etc. é possível identificar como ocorreu a ocupação do local e como este se
encontrava antes, possibilitando, assim, averiguar o grande impacto
ambiental e propor soluções adequadas” (SCHIELL et al., 2003, p.31).
Por isso, faz-se necessário averiguar esse aspecto, tentando-se realizar um
levantamento histórico da formação da povoação.
3.3.3 Criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas
Pela riqueza dos aspectos já citados neste trabalho, o destaque maior fica para as
marmitas e oriçangas. Claro que para chegar às formas apresentadas foi necessário se
fazer uma averiguação das forças da natureza que atuam no intemperismo local.
A nosso ver, a criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas possibilitaria maior
interesse científico por parte das escolas, divulgando os conhecimentos geográficos
61
entre estudantes e professores. O conhecimento das chamadas ciências da Terra poderia
ser incentivado com o local.
A Cachoeira Grande tem um grande potencial geográfico, didático-pedagógico e
turístico. É normal em épocas de enxentes pessoas se deslocarem de outras cidades e
povoações e desfrutarem de banhos e piqueniques. Claro que tudo isso sem qualquer
orientação ou cuidado com a higiene própria ou com o meio ambiente.
Com a criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas os conhecimentos
geográficos e ambientais particulares à cachoeira seriam conservados e transmitidos. À
criação seriam implantados os critérios de utilização, o que poderia assegurar a proteção
e a valorização do local.
Dependendo da infra-estrutura que se implantasse no parque, programas
educativos poderiam ser desenvolvidos, com sessões temáticas, incluindo desde a
formação do planeta Terra, os tipos de rochas, os agentes de intemperismo, conservação
ambiental, fauna e flora, etc.
No nosso entendimento, com o parque estruturado adequadamente, o estudante
desenvolveria as seguintes capacidades:
- Ampliar a diversidade de interesses;
- Desenvolver a capacidade de observação;
- Despertar o espírito de curiosidade e a reflexão crítica;
- Manifestar o desejo de descobrir e de aprender;
- Respeitar normas de conduta para preservação do local.
As barreiras a tal ideia seriam o convencimento dos proprietários dos terrenos e
as entidades públicas que deveriam ser responsáveis pela implantação como, por
exemplo, a Prefeitura Municipal de Altinho. A propriedade privada é ‘sagrada’ no
Brasil, mas se houver um plano de recuperação ou reconstrução do ambiente natural, o
proprietário poderia ser envolvido na administração e gestão do parque. À prefeitura
caberia o interesse político e a capacidade de criar uma comissão que pudesse
administrar e propor encaminhamentos didático-pedagógicos para o amplo
aproveitamento científico do local.
62
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há anos que o autor deste trabalho encaminha alunos de Ensino Fundamental e
Médio para apreciarem a paisagem da Cachoeira Grande. Nessas visitas, são explicados
os fenômenos naturais e antrópicos que transformam a paisagem local. A concentração
da erosão fluvial num pequeno trecho do rio Una favorece uma particularidade que
ainda não se conhece noutro lugar da mesorregião Agreste Pernambucano.
Presenciamos esses fenômenos erosivos, também, no rio dos Bois, no município de
Venturosa, no rio Ipojuca, no Sítio Malhada das Caveiras, a jusante da cidade de
Caruaru, mas nenhum desses lugares é tão expressivo como a Cachoeira Grande, em
Ituguaçu, Altinho – PE.
O trabalho concluído pode servir de manual ou fonte de pesquisa para os
interessados e estudantes. Nele, foram descritos e analisados os fenômenos naturais
responsáveis por uma paisagem única na nossa região, a qual deve tornar-se conhecida e
valorizada, tanto pelo potencial didático-pedagógico, quanto pelo potencial turístico.
Não devemos cultivar aquela ideia de que o lugar é sagrado e ninguem mais pode entrar.
Deve-se divulgar e utilizar como área de visitação e aprendizagem, além de lazer e
apreciação.
Muito devemos discutir sobre o local. Se é adequado para se tornar um
geoparque, os órgãos públicos responsáveis têm que encaminhar as orientações e
fiscalizar. Se acharem conveniente discutir com os geógrafos sobre a utilização
adequada, devemos estar à disposição. Temos muita capacidade para contribuir na
construção de uma ideia que será formidável para todos. Claro, se a utilização for
correta.
Ao realizar esta pesquisa - que por sinal está incompleta, dada a complexidade
do conhecimento geográfico, tão imensamente abrangente – muitos aspectos foram
descobertos e descritos sobre o local, o que poderá se transformar em motivação para se
estudar o próprio local ou, mesmo, muitos outros que existam na nossa mesorregião,
conhecendo-se e divulgando-se para que possamos valorizar o que é nosso.
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TCC - Laudenor Pereira -2012

  • 1. AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM – FABEJA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA LAUDENOR PEREIRA DA SILVA EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA GRANDE – ALTINHO - PE BELO JARDIM AGOSTO/2012
  • 2. AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM – FABEJA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA LAUDENOR PEREIRA DA SILVA EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA GRANDE – ALTINHO - PE Trabalho de conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Faculdade de Formação de Professores de Belo Jardim – FABEJA, em cumprimento aos requisitos avaliativos para obtenção da graduação em Geografia Orientador: Prof. Dr. Natalício de Melo Rodrigues. BELO JARDIM AGOSTO/2012
  • 3. AUTARQUIA EDUCACIONAL DE BELO JARDIM – AEB FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE BELO JARDIM – FABEJA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA LAUDENOR PEREIRA DA SILVA EROSÃO FLUVIAL EM LEITO ROCHOSO: O CASO DA CACHOEIRA GRANDE – ALTINHO – PE Defendida e aprovada em ______/______/________ BANCA EXAMINADORA: ORIENTADOR: ________________________________________________________ Prof. Dr. Natalício de Melo Rodrigues FABEJA 1ª EXAMINADORA: ____________________________________________________ Profª. Ms. Lindhiane Costa de Farias FABEJA 2º EXAMINADOR: ______________________________________________________ Prof. Ms. Ricardo de Oliveira Ferreira FABEJA
  • 4. Às pessoas de bom coração. Aos apaixonados pelos conhecimentos geográficos. Aos meus irmãos (In Memoriam): Alcione Pereira da Silva (18/02/1975-16/07/2010) e Ezequiel Pereira da Silva (29/12/1978-27/05/2012). À minha família.
  • 5. AGRADECIMENTOS Especialmente aos professores: Dr. Natalício de Melo Rodrigues – orientador; Ms. João José Batista Filho – que incentivou para realizar o curso; José Correia, Valdério, José Othon e Delmiro Sallix, pela grande confiança, amizade e apoio nos trabalhos de campo; Adiane de Jesus Martins e Ricardo Lourenço. Ao Sr. Anatólio, de Ituguaçu, pelo ponto de apoio durante os trabalhos de campo. Aos meus colegas de sala de aula e professores do Curso de Geografia da Fabeja. Ao Fábio, pela orientação de informática.
  • 6. “O mundo altera-se, o valor dos locais varia de acordo com o proveito que deles se possa extrair. A geografia deve acompanhar este processo, para cumprir a sua missão de arquivista do patrimônio e de ciência política ou económica das relações entre as sociedades e entre as sociedades e o seu meio ambiente” (GEORGE, l989, p.10).
  • 7. RESUMO Os rios de leito rochoso ainda não dispõem de estudos suficientes e de qualidade no Brasil. A Cachoeira Grande é um trecho rochoso do curso médio do rio Una, próximo à vila de Ituguaçu, município de Altinho-PE, onde os processos físicos e químicos, juntamente com a energia fluvial nos períodos de enxentes, produzem geoformas curiosas, conhecidas como marmitas de gigantes, oriçangas, flutes, tabiques, entre outras. O presente trabalho tem por finalidade conhecer e analisar os processos de intemperismo que ocorrem e seus resultados no modelado local. Além de trabalho de campo, também foi consultada uma vasta bibliografia abrangendo a Geologia, a Geomorfologia e a Geografia, utilizando conceitos antigos e atuais, dada a complexidade dos fenômenos. Ao final, são sugeridas três propostas de trabalho, baseadas na importância do local: desenvolvimento do conhecimento geográfico disciplinar e multidisciplinar; investigar a origem da povoação da vila de Ituguaçu e seu entorno; e, criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas. Palavras-chave: rio de leito rochoso; erosão fluvial; rio Una; Ituguaçu.
  • 8. ABSTRACT The bedrock rivers still lack sufficient studies and quality in Brazil. The Cachoeira Grande is a rocky road of the middle course of the river Una, near the village of Ituguaçu, city of Altinho – PE, where the physical and chemical processes, along with energy during periods of fluvial flooding, produce curious landforms, known as kettles of giants and oriçangas, flutes, partitions, among others. This study aims to understand and analyze the processes of weathering occurring and their results in the local area. In addition to field work, was also consulted na extensive bibliography covering Geology, Geomorpholophy and Geography, using past and current concepts, given the complexity of the phenomena. At the end, three proposals are suggested work, based on the importance of place: development of geographic knowledge disciplinary and multidisciplinary; investigate the origin of the population of the village and its surroudings Ituguaçu; and creation of Kettles and Oriçangas Geopark. Key words: bedrock river; fluvial erosion; Una River; Ituguaçu.
  • 9. LISTAS DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Localização de Altinho e da área em estudo............................................ 16 FIGURA 02 Igreja bicentenária de Ituguaçu – 2008.................................................... 18 FIGURA 03 Município de Altinho Geológico............................................................. 20 FIGURA 04 Esquema de separação de Gondwana ...................................................... 21 FIGURA 05 Relevo de Pernambuco............................................................................ 22 FIGURA 06 Arboredo situado em fenda rochosa – 2012............................................. 29 FIGURA 07 Água semi-estagnada – Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012.............. 31 FIGURA 08 Colonização de liquens sobre granito – 2012........................................... 32 FIGURA 09 Isoietas da bacia hidrográfica do rio Una................................................. 35 FIGURA 10 Isoietas Médias Anuais no Agreste Pernambucano.................................. 36 FIGURA 11 Vegetação de caatinga –2012.................................................................. 37 FIGURA 12 Climas de Pernambuco............................................................................ 38 FIGURA 13 Vegetação rupestre – Cachoeira Grande –2012 ....................................... 39 FIGURA 14 Bacias hidrográficas de Pernambuco....................................................... 41 FIGURA 15 Bacia hidrográfica do rio Una ................................................................. 42 FIGURA 16 Parte mais elevada da Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012................ 43 FIGURA 17 Fraturamento por descompressão – 2012................................................. 48 FIGURA 18 Fraturamento no sentido do fluxo do rio – 2012 ...................................... 49 FIGURA 19 Oriçanga em migmatito – 2012............................................................... 49 FIGURA 20 Marmita fluvial – 2012 ........................................................................... 52 FIGURA 21 Oriçanga – 2012 ......................................................................................... 53 FIGURA 22 Caldeirões – município de Panelas – 2010............................................... 53 FIGURA 23 Captura de marmitas com o tabique destacado – 2012............................. 54
  • 10. FIGURA 24 Flutes – 2012 .......................................................................................... 55 FIGURA 25 Intrusão de feldspato em elevação – 2012 ............................................... 55 FIGURA 26 Superfícies polidas – 2012 ...................................................................... 56 FIGURA 27 Blocos no leito do rio – 2012 .................................................................. 56 FIGURA 28 Banco de areia grossa – 2012.................................................................. 57 FIGURA 29 Seixos capturados por marmita – 2012.................................................... 58 FIGURA 30 Barroca - 2012........................................................................................ 58 LISTA DE TABELAS TABELA 01 PRECIPITAÇÕES MÉDIAS EM MUNICÍPIOS ADJACENTES A ALTINHO ..........................................................................................................................35
  • 11. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 14 2.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA EM ESTUDO............................................. 16 2.1.1 Origem do município de Altinho .................................................................... 17 2.1.2 Ituguaçu........................................................................................................... 17 2.2 CONDIÇÕES FÍSICAS ............................................................................................ 18 2.2.1 Geologia ........................................................................................................... 18 2.2.2 Relevo............................................................................................................... 20 2.2.3 Solos ................................................................................................................. 23 2.3 AS ROCHAS E OS AGENTES DO INTEMPERISMO ................................................... 24 2.3.1 Tipos de rochas................................................................................................ 24 2.3.2 Rochas do local................................................................................................ 25 2.3.3 Fatores de resistência das rochas à erosão ..................................................... 26 2.3.4 Intemperismo................................................................................................... 26 2.3.5 A variação das temperaturas .......................................................................... 27 2.3.6 A ação mecânica das águas ............................................................................. 28 2.3.7 Abrasão mecânica das águas correntes .......................................................... 29 2.3.8 Intemperismo físico-biológico ......................................................................... 29 2.3.9 Intemperismo químico .................................................................................... 30 2.3.10 Processos de decomposição química ............................................................. 31 2.4 DINÂMICA CLIMÁTICA REGIONAL ...................................................................... 33 2.4.1 Sistemas meteorológicos atuantes em Pernambuco ....................................... 34 2.4.2 Chuvas ............................................................................................................. 34 2.4.3 Clima e vegetação............................................................................................ 36 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES......................................................................... 40
  • 12. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO UNA E DA CACHOEIRA GRANDE ............................................................................................ 40 3.1.1 Cachoeira Grande – cachoeira ou corredeira? .............................................. 43 3.1.2 Perfil longitudinal ou perfil de equilíbrio de um rio ...................................... 44 3.1.3 Canais fluviais de leito rochoso....................................................................... 44 3.2 VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, CONDIÇÕES DO LEITO, FORMAS E RESULTADOS DO INTEMPERISMO ............................................................................... 45 3.2.1 Clima e intemperismo ..................................................................................... 47 3.2.2 Fenômenos que contribuem para as formas na Cachoeira Grande .............. 48 3.2.3 Processos erosivos fluviais............................................................................... 50 3.2.4 Formas e resultados......................................................................................... 51 3.3 PROPOSTAS DE TRABALHO.................................................................................. 59 3.3.1 Desenvolvimento do conhecimento geográfico disciplinar e multidisciplinar ...................................................................................................... 59 3.3.2 Investigar a origem da povoação da Vila de Ituguaçu e seu entorno ............ 60 3.3.3 Criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas............................................... 60 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 62 5 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 63
  • 13. 13 1 INTRODUÇÃO Na nossa sub-região Agreste pouco se valorizam os aspectos geográficos, tanto os construídos pelo homem quanto os construídos pela natureza. Não temos uma cultura de preservação nem de valorização desses aspectos, com alguns ficando desconhecidos do grande público e da academia. A 11 Km da cidade de Altinho, seguindo-se pela estrada de terra para Cachoeirinha, encontramos a Vila de Ituguaçu. Perto da vila passa o rio Una, atravessando um trecho encachoeirado ao qual se deu o nome de Cachoeira Grande, antigo nome da vila acima citada. Segundo sondagens preliminares, há mais de dois séculos formou-se uma fazenda de criação de gado, permanecendo daquela época uma igreja e um cemitério que foram construídos por mão-de-obra escrava contratada de outro local. Na dita cachoeira, o intemperismo elaborou formas curiosas conhecidas como marmitas. As águas do rio Una perfuraram os lajedos, deixando furos com diversas dimensões e profundidades, proporcionando uma beleza natural surpreendente. Segundo informações de visitantes, em certas épocas do ano a temperatura do ambiente pode chegar aos 45°C, graças à irradiação solar sobre as rochas desnudas. A vegetação também se destaca, com grande quantidade de espécies xerófitas. A Cachoeira Grande e a Vila de Ituguaçu, apesar de situarem-se distantes dos núcleos urbanos mais próximos – Altinho e Cachoeirinha, possuem características peculiares que devem ser exploradas por professores e estudantes. Para isso, devem ser melhor conhecidos e analisados, criando-se propostas de utilização adequada, sem descuidar da preservação e, também de uma reconstrução do que já foi destruído, como por exemplo, a vegetação primitiva. Sendo um ambiente tão rico em potencial educativo para a Geografia, deve-se desenvolver uma proposta de ensino que busque analisar e mostrar os fenômenos que ali ocorrem, valorizando-se um bem natural desprezado pelos poderes públicos e maltratado pela população. Não existem registros escritos sobre a evolução da Vila de Ituguaçu, nem sobre os fenômenos naturais que ocorrem na Cachoeira Grande. Essa lacuna motivou-nos a desenvolver um trabalho de descrição e de análise dos fenômenos naturais que ocorrem no local, utilizando a observação de campo e uma bibliografia adequada. Por isso, o principal objetivo da pesquisa é descrever e analisar os processos de intemperismo que ocorrem na área em estudo e seus resultados no modelado local. Como objetivos secundários, mas não de menor importância, analisamos as condições físicas locais e a vegetação e defendemos três propostas de utilização do espaço referente à Cachoeira Grande e seu entorno para o desenvolvimento do ensino de Geografia.
  • 14. 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A área a ser estudada trata-se de um trecho do rio Una que apresenta bastante inclinação, à qual os registros geográficos e a população denominam de Cachoeira Grande. Na literatura geográfica, entende-se por cachoeira um desnível vertical resultante da natureza diferenciada de resistência entre camadas de rochas. “As cachoeiras são o resultado da diferença de resistência de erosão oferecida pelas rochas cortadas pelo curso de água” (FLEURY, 1995, p.114). Além desse aspecto, elas também podem ser formadas por causa de falhas e diques. Tratando-se de um trecho onde a velocidade das águas é bastante rápida no período de enxentes, onde o rio faz seu trabalho de erosão, escavando o leito e deixando como resultado as marmitas, um amontoado de blocos rochosos e várias geoformas, além de bancos de areia. Segundo Fleury, “Os cursos d’água têm ação erosiva em função da velocidade da corrente de suas águas, velocidade esta que é função da topografia ou relevo da região, do regime pluvial da região, da idade do curso de água e da carga transportada” (FLEURY, 1995, p.112). Ainda conforme esse autor, a desagregação das rochas ocorre por causa do intemperismo, porque é um processo geológico formado pelas forças físicas e químicas que atuam na superfície terrestre, as quais transformam as rochas duras e ceosas de qualquer espécie em fragmentos soltos de diversos tamanhos, friáveis e frouxos. Jatobá; Lins (1998, p.78), baseados em Tricart e Cailleux, afirmam que o clima influencia no relevo terrestre de duas maneiras: direta e indireta. “As influências diretas são decorrentes dos principais elementos do clima sobre os corpos rochosos que estão expostos ao ar atmosférico. Esses elementos são sobretudo as precipitações, a umidade, a temperatura do ar e os ventos”. Bigarella et al. (2007) nos permitem analisar os fenômenos físicos que ocorrem no local em estudo, a partir de suas explicações sobre os níveis de base (p.1000) e dos processos de intemperismo mecânico, quando explica os efeitos das mudanças térmicas sobre as rochas da superfície terrestre (p.310-318). De Martonne (1953), com seu Panorama da Geografia, proporciona o conhecimento de vários conceitos aplicáveis aos cursos fluviais rápidos, quando trata do modelado da erosão normal. Para este estudioso, “A torrente é, portanto, um organismo de erosão completo; nela actuam todas as forças que concorrem para o modelado da erosão normal: escavamento do leito, desagregação das vertentes e arrastamento e acumulação de detritos. É na bacia de recepção que parece ser executado o
  • 15. 15 trabalho mais importante; este trabalho depende da incisão do talvegue no canal de escoamento, que evacua os detritos juntamente com as águas. Se o escavamento do leito desempenha um papel essencial nas torrentes, por mais forte razão, deve ser o primeiro factor a considerar na bacia dum rio regular” (DE MARTONNE, 1953, p. 480-481). Explicando sobre o perfil de equilíbrio de um rio e o nível de base, o autor permite aplicar seus conhecimentos em determinados trechos fluviais de escoamento rápido, além de destacar a formação das marmitas e o entalhamento do talvegue fluvial. Lima (2010), investigando sobre os rios de leito rochoso, explica os fenômenos intempéricos mediante uma literatura atualizada em língua inglesa, suprindo uma parte da necessidade em conhecimento desse tipo de leito fluvial, aqui no Brasil, trazendo novos conceitos e alertando para a reutilização de termos antigos que voltaram a ser utilizados para entendimento do assunto. Leinz; Amaral (2001), com a obra Geologia Geral, apresentam com grande clareza as propriedades físicas e químicas dos minerais e as características das rochas. Os intemperismos físico e químico são apresentados, também, de maneira bem didática, simplificando o modo de transmitir os conhecimentos. Ab’Sáber (1956-1957), tratando do significado geomorfológico da rede hidrográfica do Nordeste Oriental brasileiro, destaca o planalto Borborema como o local das cabeceiras dos principais rios nordestinos, que “[...] formam um magro sistema de cursos d’água de áreas semiáridas, intermitentes e irregulares, dotados de fraquíssimo poderio energético” (AB’SÁBER, 1956-1957, p. 2). Este autor destaca que os atuais vales desses rios provavelmente se formaram em épocas de maior pluviosidade, pois pelo que se apresenta na atualidade seria impossível os rios citados terem construído os vales como se apresentam. A nosso ver, os autores acima citados, somando-se a outros, forneceram os subsídios necessários ao desenvolvimento do estudo, envolvendo a caracterização física e os resultados dos processos naturais do local. Dispondo de pesquisa de campo e bibliográfica, o presente trabalho apresentará as seguintes etapas: inicia com a introdução; na segunda parte, faz-se um aprofundamento dos fundamentos teóricos, incluindo a localização e um breve histórico do local a ser estudado e seu entorno, estendendo-se com a apresentação das condições físicas, os tipos de rochas, suas características e os processos de intemperismo que atuam sobre as mesmas, concluindo com a análise da dinâmica climática regional. Em terceiro, apresenta uma caracterização hidrográfica do local em estudo, analisa a importância das variações climáticas, os fenômenos erosivos e as formas resultantes das ações do intemperismo, finalizando com a apresentação de três propostas de utilização do local como área de estudo da geografia. Encerrando o trabalho, a última parte ficou para as considerações finais e as importantes referências da pesquisa.
  • 16. 16 2.1 LOCALIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ÁREA EM ESTUDO O município de Altinho está situado na mesorregião Agreste de Pernambuco, na microrregião Brejo Pernambucano. Participa com 0,46 % da extensão territorial do Estado, possuindo uma área de 452,6km², dos quais 98,52% estão inseridos na Bacia do FIGURA 01 Localização de Altinho e da área em estudo. Fonte: Adaptado de Ministério de Minas e Energia, 2005
  • 17. 17 rio Una, às margens do qual está inserida sua sede. Localiza-se nas seguintes coordenadas geográficas: latitude 08°29’23”Sul e longitude 36°03’34”Oeste de Greenwich, a 454 m de altitude. Distante 163,1 km da capital Recife, limita-se ao Norte com Caruaru e São Caitano, ao Sul com Ibirajuba, Panelas e Cupira, a Leste com Agrestina e a Oeste com Cachoeirinha. 2.1.1 Origem do município de Altinho Anteriormente pertencia ao município de Caruaru, tendo sido desmembrado em 30 de maio de 1881. A cidade de Altinho se originou da antiga Fazenda Nossa Senhora do Ó do Altinho Ribeira d’Una, fundada pelo Capitão Antonio Vieira de Melo, sesmeiro, no final do século XVII. José Vieira de Melo, neto do fundador, que nasceu em 1737, herdou a dita fazenda e, em 1773, construiu uma capela. Relatos sobre o município dizem que o lugar obteve bastante crescimento a partir da construção da capela, quando as cercanias começaram a ser ocupadas por moradias, ampliando o espaço. A passagem da Estrada Geral Recife–Garanhuns pelo local também contribuiu para o crescimento da povoação que despontava. A vila de Altinho foi elevada à categoria de cidade em 28 de junho de 1899, início do Período Republicano, pela Lei Estadual nº 400. Registra-se que o povoamento de Altinho se destacou na história do Brasil durante a Revolução dos Cabanos, pois em 2 de abril de 1833 houve um combate importante no local. Os cabanos, entrincheirados nos alicerces da igreja, trocaram tiros com as tropas do Centro, escondidas em um sobrado. Atualmente, o município possui cerca de 22.370 hab (IBGE, 2011), distribuídos por uma área de 452,6 km2 . O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – é de 0,59, considerado médio (PNUD, 2000) e o PIB per capita é de R$ 3.186,23 (IBGE, 2008). 2.1.2 Ituguaçu Atualmente, o município de Altinho é dividido em dois distritos: Altinho (Sede) e Ituguaçu. Tendo como primeiro nome Cachoeira Grande, o distrito de Ituguaçu foi criado pela Lei Municipal nº 35, de 20 de agosto de 1900. Em 9 de dezembro de 1938, através do Decreto-Lei nº 235, passa a se chamar Ituguaçu, o que significa “cachoeira grande”, em língua indígena.
  • 18. 18 FIGURA 02 Igreja bicentenária de Ituguaçu – 2008 Fonte: Trabalho de campo 2.2 CONDIÇÕES FÍSICAS Para o entendimento do local, é necessário que se conheçam os principais fatores naturais. 2.2.1 Geologia Com a maior parte dos terrenos assentados sobre rochas muito antigas, provenientes do Pré-Cambriano, o embasamento geológico do Estado de Pernambuco é constituído de granitos e gnaisses. “O subsolo pernambucano é formado dominantemente por rochas precambrianas, com idade de até 3,2 bilhões de anos, que ocupam cerca de 90% do seu território” (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA: 2001, p. 82). Observando-se o mapa proposto por Andrade et al. (2003, p. 29), o Estado de Pernambuco está dividido geologicamente em vários terrenos: sedimentares, vulcânicos e ígneos e metamórficos, das mais variadas idades, partindo do Pré-Cambriano até o Quaternário. Grandes falhas são apontadas, destacando-se a de rejeito direcional conhecida por Lineamento Pernambucano, a qual se traduz num dos aspectos mais importantes da estrutura geológica do Nordeste Brasileiro.
  • 19. 19 Para situarmos o local em estudo do ponto de vista geológico, temos que entender alguns aspectos da Província Borborema. Pelas novidades tecnológicas e científicas que aparecem, torna-se muito complexo o entendimento de sua formação, sendo necessário dividi-la. Alguns estudiosos propuseram sua compartimentação em sistemas de dobramento, maciços, domínios e faixas; outros, domínios e faixas de dobramento. Atualmente, alguns reviram e/ou propuseram a compartimentação baseada num processo de colagem de terrenos tectono-estratigráficos distintos. CPRM (s/d, p.4), citando Gibbons, diz que “[...] de acordo com este autor, a palavra terreno, quando usada sem conotação de terreno suspeito, refere-se simplesmente a uma área que possui sua própria e distinta geologia: a área ou superfície na qual um tipo ou grupo particular de rocha é dominante”. Baseada em Almeida, Lins (1989, p. 35) afirma que “[...] o Agreste pernambucano, em quase toda sua totalidade, assenta-se sobre terrenos antigos, de idade pré-cambriana, pertencente ao núcleo nordestino do Escudo Brasileiro, mais especificamente na Província Estrutural da Borborema”. O Terreno Pernambuco-Alagoas é a porção da Província Borborema limitada ao norte pelo Lineamento Pernambuco. A área em estudo está inserida na porção centro- setentrional do TPA. O local e o entorno são de origem Meso e Neoproterozóica (entre 1,6 a 0,54 bilhões de anos) composto de rochas metaplutônicas e plutônicas. São encontradas, mediante mapeamento oficial, áreas de contato litológico, falhas ou zonas de cisalhamento prováveis, com contatos definidos entre as suítes. Segundo Governo do Estado de Pernambuco (1997, p. 89), a bacia hidrográfica do rio Una é constituída pelo Complexo Migmatítico-Granitóide – pCmi, com participação aproximadamente igual entre os granitos e os migmatitos. De acordo com Ministério de Minas e Energia (2005, p. 4), “O município de Altinho encontra-se inserido, geologicamente, na Província Borborema, sendo constituído pelos litotipos da Suíte Serra de Taquaritinga, dos Granitóides Indiscriminados e das suítes Calcialcalinas de Médio a Alto Potássio Itaporanga e Shoshonítica Salgueiro/Terra Nova [...]”.
  • 20. 20 FIGURA 03 Município de Altinho Geológico Fonte: Ministério de Minas e Energia: outubro/2005. 2.2.2 Relevo O relevo pernambucano é composto de planaltos, depressões, chapadas e planícies. Particularizando-se mais ainda, encontramos os tabuleiros costeiros, as colinas da Zona da Mata e maciços residuais. Para entender o relevo estadual é necessário saber um pouco de sua história geológica.
  • 21. 21 Há cerca de 550 milhões de anos, na Era Neoproterozóica, onde hoje é Pernambuco formou-se uma grande cadeia de montanhas, restando algumas evidências em forma de rochas magmáticas intrusivas (granitos) e metamórficas (xistos e gnaisses). Nesse período, chamado de Idade Pré-Cambriana, os supercontinentes Laurásia e Gondwana estavam ainda ligados, formando o Pangeia. Desse tempo até o Cretáceo Superior, cerca de 120 milhões de anos atrás, o território permaneceu estável, sem ocorrência de grandes cataclismos tectônicos. Porém, o supercontinente Gondwana começou a se quebrar em diversas placas tectônicas, iniciando a separação da América do Sul e da África e o aparecimento do Oceano Atlântico. Essas instabilidades permaneceram até cerca de 65 milhões de anos, no Cretáceo Inferior. Com a separação do Paleo-continente Gondwana, a porção leste da América do Sul sofreu um levantamento, ocorrendo um rejuvenescimento e maior ação erosiva na costa do Brasil. A América do Sul continuou a se elevar. No interior, as rochas antigas (ígneas e metamórficas) ficaram cada vez mais elevadas, formando um grande domo (arqueamento), ao qual denominamos de Planalto da Borborema, na atualidade. FIGURA 04 Esquema de separação de Gondwana Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gondwana A área em estudo está inserida nos domínios do Planalto Borborema. Segundo Ministério do Interior (1973, p.54), “a Borborema constitui, em verdade, o mais elevado bloco contínuo do Nordeste Brasileiro e elemento fundamental no relevo regional que, juntamente com a chapada do Araripe, comandam toda a rede de drenagem do Estado”.
  • 22. 22 FIGURA 05 Relevo de Pernambuco Fonte: Governo de Pernambuco: s/data
  • 23. 23 O Planalto Borborema possui altitudes variando entre 400m e 1.100m. Ministério do Interior (1973, p. 55) divide-o nas seguintes partes: a) faixa de contorno; b) plataformas aplainadas e superfícies de níveis elevados. Para simplificação do nosso estudo, dividiremos o segundo item, considerando apenas as plataformas aplainadas, porção onde está inserida a área de nosso interesse. As superfícies podem não parecer que sejam tipicamente de planalto por causa de suas irregularidades. São plataformas cristalinas muito atingidas pela erosão laminar e diferencial. Possuem relevo ondulado com vales abertos e declividades predominantes entre 3 e 8% e topos aplainados (Ministério do Interior: 1973, p.56). Podem ser encontradas algumas significativas elevações ou mesmo trechos planos ou ondulados próximos às linhas de drenagem. 2.2.3 Solos Normalmente, o solo é definido como a camada superficial de terra arável possuidora de vida microbiana. Já o regolito é considerado como o material decomposto que fica diretamente sobre a rocha-matriz sem ter sofrido deslocamento, não dispondo de elementos bióticos. Normalmente os solos apresentam várias camadas distintas, chamadas de horizontes. O regolito é considerado por alguns como o horizonte C, a rocha decomposta ou alterada. O solo é o meio natural no qual os seres humanos cultivam vegetais utilizados em seu consumo. O seu limite superior é a atmosfera e o inferior a rocha ainda inalterada. Os solos são constituídos basicamente de partículas minerais – o que aparece em maior quantidade, matéria orgânica, água e ar. O clima, a rocha, os organismos vivos, o relevo e o tempo, combinados, são os fatores que mais influenciam para a formação dos solos, em qualquer parte do planeta. A denominação do solo em eutrófico refere-se às boas condições que apresenta para o desenvolvimento da vegetação. Quanto à denominação distrófico, representa o contrário. Em nosso Estado, por causa da variedade de rochas, relevo e clima, existe uma grande diversidade de solos. No entanto, na área em estudo e seu entorno, são os seguintes os tipos de solos: Planossolos – são moderadamente ácidos, com grande contraste na textura, com acentuada concentração de argila em seu horizonte B. Compõem-se de saprolito de gnaisses e granitos, destacando-se biotita-gnaisse, milonito gnaisse e biotita-granito, com influência de cobertura de material arenoso. Aparecem em relevo plano ou suavemente ondulado, recoberto pela caatinga hipoxerófila. Associam-se a solos
  • 24. 24 litólicos e afloramento de rochas. Na classificação da Embrapa (1999), refere-se ao PL 22. Regossolos – apresentam uma textura arenosa, medianamente profundos e de perfil pouco desenvolvido. Apresentam-se ácidos, mesmo bem drenados. Compõem-se de saprolito de granitos, granitos gnáissicos, gnaisses e migmatitos. Associam-se aos Planossolos e aos Solos Litólicos e Afloramentos de Rochas. Também aparecem em relevo plano, suavemente ondulado ou mesmo forte ondulado, recobertos pela caatinga hipoxerófila. Na classificação da Embrapa (1999), referem-se aos RE 3, RE 10, RE 15 e RE 22. 2.3 AS ROCHAS E OS AGENTES DO INTEMPERISMO Normalmente as rochas são definidas como agregados naturais de várias espécies de minerais, sendo que a composição mineralógica é o que define seu tipo ou espécie. “São elas nitidamente individualizadas, porque os minerais se agregam obedecendo a leis físicas, químicas ou físico-químicas, dependendo das condições em que se forma esta ou aquela rocha” (LEINZ; AMARAL: 2001, p. 33). 2.3.1 Tipos de rochas Todas as rochas existentes na crosta terrestre podem ser agrupadas da seguinte maneira: 1 - Ígneas ou magmáticas – são as que se originam do magma oriundo das altas profundidades, em estado de fusão por causa das temperaturas elevadas, superiores a 1.000°C. São consideradas rochas primárias por permitirem a formação dos outros tipos. O magma se constitui de silicatos, óxidos, sulfetos, gases, vapor d’água e íons dissociados, ao qual se denomina lava quando chega à superfície terrestre. Quando a formação da rocha ocorre nas camadas litosféricas mais próximas do manto, chamam-se de plutônicas ou intrusivas: diorito, sienito, granito, gabro etc; quando sua formação se dá na superfície ou subsuperfície, por causa da lava expelida por fendas ou fraturas da crosta terrestre, dá-se o nome de extrusiva ou vulcânica: basalto, andesito, riolito, traquito etc. 2 - Metamórficas – originam-se por transformação de rochas preexistentes (magmáticas e sedimentares) por causa das altas pressões e altas temperaturas do interior da litosfera, sem passar pelo estado de fusão. São rochas de origem profunda. São alteradas pelo calor, gases ou fluidos, e pela pressão provocada pelo magma. Em alguns casos, a pressão exercida por espessos capeamentos de rochas sedimentares
  • 25. 25 provocam o metamorfismo. Para Bigarella et al. (2007, p.54), “rocha metamórfica é, pois, aquela que sofreu mudanças na sua constituição mineral e na textura, em consequência de importantes transformações nos ambientes físico e químico do interior da crosta”. São exemplos de rochas metamórficas: gnaisse, mármore, quartzito, ardósia, migmatito etc. 3 - Sedimentares – são aquelas formadas a partir de materiais originados da destruição erosiva das rochas preexistentes. Formam-se por acumulação sucessiva de partículas ou sedimentos nas depressões naturais ou bacias marinhas, oceânicas ou continentais. Este grupo de rochas pode ser subdividido em vários subgrupos, mediante vários princípios, como o ambiente, o tipo de sedimentação, a constituição mineralógica ou o tamanho das partículas. Normalmente são classificadas em: sedimentos clásticos ou mecânicos, sedimentos químicos, e sedimentos orgânicos. Para nosso estudo, interessam os seguintes sedimentos clásticos ou mecânicos: argila, silte, areia e cascalho. 2.3.2 Rochas do local O granito ocorre juntamente com os gnaisses no embasamento cristalino, o qual constitui o substrato da crosta siálica que forma os blocos continentais. Para nosso estudo, centraremos as atenções principalmente na rocha granítica, no migmatito e no gnaisse, os quais se traduzem na predominância do leito rochoso da área. Quanto às areias e cascalho (rochas sedimentares), serão analisadas mais à frente. Os granitos são as principais rochas que constituem a parte superior da crosta terrestre. Também são as rochas ígneas mais frequentes que afloram nos continentes. “O granito constitui uma rocha de coloração clara composta essencialmente de quartzo e feldspato, com pequenas quantidades de outros minerais, principalmente mica (moscovita e/ou biotita) e anfibólio (em geral hornblenda)” Bigarella et al. (2007, p. 42). Possuem granulação grosseira, variando de milimétrica a centimétrica. Os gnaisses formam-se em condições de temperatura e pressão bastante elevadas. São rochas de granulação média a grosseira, com aspecto listrado, onde os componentes minerais dispõem-se em faixas escuras e claras. Como ocorre da transformação do granito, possui os mesmos minerais de composição. Os migmatitos – para Leinz; Amaral (2001, p. 51) são uma variedade de gnaisse, característicos do Pré-Cambriano brasileiro. Possuem faixas reconhecidas macroscopicamente como ígneas, intercaladas em rocha gnáissica (metamórfica), sendo as faixas ígneas mais claras. Para Bigarella et al. (2007, p. 61), são rochas mistas, “[...] constituídas por um componente antigo (hospedeiro), geralmente xisto ou gnaisse e um componente granítico.” O granito forma camadas, bolsões ou veios, ou pode ficar
  • 26. 26 distribuído uniformemente nas rochas. Os minerais dos xistos e gnaisses compõem a parte escura, enquanto os feldspatos alcalinos e o quartzo compõem a parte clara. 2.3.3 Fatores de resistência das rochas à erosão Ter conhecimento da resistência das rochas é de fundamental importância porque as várias características geomorfológicas do relevo têm a ver com a capacidade erosiva dos corpos rochosos. Segundo Castro; Jatobá (2004, p. 88), “a evolução do relevo possui um certo vínculo de natureza genética bastante acentuado com o tipo de rocha subjacente e o processo de meteorização desenvolvido sobre ela”. Esses autores apresentam três fatores de resistência das rochas à erosão física: coesão, permeabilidade e alterabilidade. “A coesão é a maior ou menor solidez da agregação dos elementos constituintes das rochas” (CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87). Quando as rochas apresentam uma grande coesão (junção) dos minerais dos quais se constituem, passam a oferecer resistência mais significativa ao intemperismo mecânico, o que não ocorre com rochas formadas de partículas livres, como a areia. O granito é uma rocha possuidora de grande coesão dos seus minerais constituintes. “A permeabilidade é a propriedade que tem uma rocha de se deixar atravessar pelas águas de infiltração” (CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87). Os granitos e gnaisses pouco alterados apresentam terrenos impermeáveis, onde o escoamento superficial representa mais de 90% do escoamento total. Contribuem para isso os terrenos compactos e coesos que não apresentam fissuras ou as existentes são entupidas de material muito fino. Alterabilidade - “As rochas coerentes, formadas por minerais unidos entre si por um cimento pouco alterado, apresentarão uma maior resistência à erosão [...]” (CASTRO; JATOBÁ: 2004, p. 87). Também existem os fatores de natureza química que influenciam na formação e evolução do relevo terrestre, como a homogeneidade da rocha, a condutibilidade e a solubilidade, mas não são de grande importância para nosso estudo. 2.3.4 Intemperismo A definição a seguir retrata com qualidade o que seja intemperismo: “Intemperismo ou meteorização é o processo geológico constituído pelas ações físicas e químicas que se realizam na superfície dos terrenos,
  • 27. 27 provocando a transformação dos agregados rochosos de qualquer espécie, ceosos e duros, em materiais friáveis e frouxos, totalmente soltos, constituídos de partículas de diversos tamanhos” (FLEURY: 1995, p. 199). Para Leinz; Amaral (2001, p. 55), “o intemperismo constitui o conjunto de processos operantes na superfície terrestre que ocasionam a decomposição dos minerais das rochas, graças à ação de agentes atmosféricos e biológicos.” Leinz; Amaral (2001, p. 57), referindo-se aos processos intempéricos, dizem que “tais fenômenos podem ser físicos, químicos, biológicos e físico-químicos, agindo separada ou conjuntamente, dependendo das condições climáticas locais e da própria rocha em si”. Normalmente são apontados dois tipos de intemperismo: físico e químico. Essas duas ações podem ocorrer isoladamente, alternadamente ou concomitantemente. Com a ação física, dá-se a desintegração; e com a ação química, a decomposição. A desintegração ou intemperismo físico pode ocorrer de várias maneiras: disjunções do corpo rochoso em grandes blocos, desmantelamento da rocha em fragmentos menores e desiguais, e desgaste continuado da rocha. A decomposição ou intemperismo químico ocorre por causa das reações químicas naturais, sempre com a ação da água atacando os minerais, formando novos minerais e liberando vários elementos e íons. Os seres vivos também participam para o intemperismo físico ou químico, no entanto, geralmente o efeito é muito reduzido. A ação mecânica das temperaturas, das águas, dos ventos e do gelo são os principais agentes físicos da desagregação das rochas. As ações dos ventos e do gelo não serão analisadas porque não interferem na área estudada. 2.3.5 A variação das temperaturas Os minerais que compõem as rochas possuem coeficientes de dilatação diferentes. Os esforços intermitentes durante séculos, por causa do aquecimento diurno e do esfriamento noturno, enfraquecem os minerais, desagregando-os e reduzindo-os a pequenos fragmentos. Para Fleury (1995, p. 200), “A ação da temperatura se dá praticamente em todos os climas, mas nas regiões de climas tropicais e subtropicais esta ação é extremamente acentuada, constituindo um agente físico poderoso do intemperismo, porque as variações térmicas diurnas são muito acentuadas.”
  • 28. 28 As temperaturas normalmente altas durante o dia provocam a dilatação dos minerais de maneira irregular; à noite, com o rebaixamento da temperatura, os minerais contraem-se, provocando fadiga nas rochas, o que permite o aparecimento de fissuras, fraturas e esfoliações. As temperaturas, como agentes do intemperismo físico, são mais eficientes nas zonas de pouca umidade, como as áreas desérticas e semidesérticas, provocando intenso fendilhamento nas rochas. As temperaturas podem provocar os seguintes efeitos nas rochas (FLEURY: 1995, p. 200): Fraturamento: fissuras – rachaduras muito pequenas, parecidas com trincamento; diáclases – rachaduras que se abrem, permitindo a livre circulação da água. Esfoliação: as rochas expostas na superfície sofrem descamamentos de forma concêntrica na área exposta, formando blocos arredondados. Diaclasamento horizontal: ocorrem nas partes expostas das rochas, quando se dá um resfriamento rápido de superfície, quebrando o material em linha horizontal, aparecendo as lascas de pedra. Pelas condições de clima tropical que temos, as rochas têm a tendência de se decompor, formando o manto de intemperismo ou regolito. O regolito (do grego, rhegos – manto, cobertura) é todo material incoerente, arenoso ou argiloso, que ainda não foi colonizado por organismos vivos. Quando isso ocore, classifica-se como solo. 2.3.6 A ação mecânica das águas Na tumefação, a umidade absorvida pela rocha, repetidamente, exerce ação mecânica de inchaço por causa da mudança de volume, o que contribui para a desagregação. Ao perder umidade, a rocha sofre a contração. “A ação alternante de umidificação e dessecamento parece ser bastante efetiva, exercendo ações comparáveis, às vezes, mais acentuadas do que aquelas das expansões e contrações térmicas” (BIGARELLA et al.: 2007, p. 325). Bigarella et al. (2007, p. 325) citam os experimentos de Nepper-Christensen, com amostras de basalto, e do laboratório do State Rivers and Water Supply Comission of Victoria, da Austrália, com amostras de arenitos, siltitos, folhelhos e lamitos silurianos, cujas experiências obtiveram resultados diversificados. As amostras de basalto chegaram a sofrer contrações entre 0,015 a 0,02%. Na segunda experiência, a desagregação ocorreu ao longo dos planos de estratificação, de fratura ou diáclases. Apesar da importância da tumefação, Bigarella (2007) alerta que os processos que levam a isso ainda não são bem conhecidos e compreendidos.
  • 29. 29 2.3.7 Abrasão mecânica das águas correntes A abrasão mecânica pode ser provocada pela água corrente, pelas ondas e correntes marinhas, pelo vento e pelas geleiras. Interessa-nos o primeiro agente porque estamos estudando, principalmente, leito rochoso de rio. “Na ação fluvial o aprofundamento do leito do rio em substrato rochoso duro faz-se, em grande parte, pelo atrito mecânico, principalmente através do impacto de fenoclastos (seixos e blocos)” (BIGARELLA: 2007, p. 327). O desgaste pela abrasão mecânica ocorre pela fricção – quando uma rocha desliza sobre outra, ou pelo impacto dos grãos transportados contra o substrato rochoso do leito. Segundo Fairbridge, citado por Bigarella (2007, p. 327), a abrasão é um processo físico de friccionamento, polimento ou raspagem, que provoca erosão nas partículas rochosas. O resultado é um material síltico ou argiloso. 2.3.8 Intemperismo físico-biológico O crescimento das raízes das plantas exerce pressão nas fendas ou diáclases das rochas, favorecendo o ataque dos agentes químicos. Se as fendas o permitirem ou a resistência da rocha não seja muito grande, o próprio vento faz balançar o vegetal, o que FIGURA 06 Arboredo situado em fenda rochosa – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 30. 30 pode aprofundar o processo mecânico que, por sua vez, favorece o processo químico. Minhocas, formigas, cupins e vários animais roedores que fazem buracos no solo, também contribuem para o intemperismo, à medida que afofam o solo, permitindo a ação dos agentes de intemperismo. 2.3.9 Intemperismo químico Para Leinz; Amaral (2001) é a decomposição química. “Este processo de intemperismo é caracterizado pela reação química entre rocha e soluções aquosas diversas” (LEINZ; AMARAL, 2001, p. 60). Para Fleury (1995, p.208), “Por intemperismo químico se entende o conjunto de reações químicas naturais que se processam na superfície da crosta terrestre, decompondo os minerais das rochas desde a superfície até profundidades variáveis, transformando-as em agregados friáveis e formando novos minerais, por substituição e perdas iônicas.” O processo de intemperismo químico torna-se mais eficiente nas rochas previamente fragmentadas pelo intemperismo físico. Os fragmentos menores e as fraturas permitem a percolação da água. A água, nas suas formas líquida e gasosa, são o principal responsável pela decomposição das rochas. Penetrando nos corpos rochosos provoca inúmeras reações químicas naturais. Estas provocam o desmantelamento das estruturas mineralógicas dos componentes das rochas, como afirmam os autores estudados. As águas das chuvas não são puras porque existem gases do ar dissolvidos nelas. O oxigênio e o gás carbônico são poderosos elementos de reação química nas rochas. O nitrogênio, apesar de ser considerado inerte, com a ação das faíscas elétricas e do oxigênio do ar nos dias de chuvas, proporciona a formação de ácido nitroso e nítrico, o que favorece a corrosão nas rochas. Segundo Fleury (1995, p. 209), “A característica principal do intemperismo químico é promover o desaparecimento dos minerais primários ou primitivos das rochas, fazendo aparecer no lugar deles os minerais secundários, que são pobres ou desprovidos das bases iônicas que existem na rede estrutural dos minerais primitivos [...]” Para Leinz; Amaral (2001, p. 61), “[ ] a marcha e o resultado final destes processos dependem principalmente da rocha, do clima, da cobertura vegetal, da topografia e do tempo de duração dos referidos processos”. Estes autores apontam três estádios na evolução do intemperismo químico de uma rocha, tomando como exemplo
  • 31. 31 uma rocha cristalina: 1 – ataque químico ao feldspato – perda do brilho característico. A biotita perde parcialmente a coloração. A textura da rocha é conservada. 2 – os minerais são totalmente decompostos – ainda é percebida a textura original da rocha. O material resultante é o ‘saibro’. 3 – decomposição total da rocha – a textura desaparece por completo. Forma-se o solo ou regolito. 2.3.10 Processos de decomposição química Conforme a natureza da reação química existente no processo de decomposição, normalmente são indicadas as seguintes decomposições/reações: Decomposição por oxidação - pode ser causada tanto por agentes orgânicos como inorgânicos. O metabolismo de bactérias (orgânico), por exemplo, atinge o ferro e o manganês das rochas, aparecendo mudança de cor para vermelho ou amarelo, indicando o primeiro indício de decomposição. O ácido sulfúrico também está neste grupo. Decomposição por hidrólise – segundo Fleury (1995), é a reação química mais importante porque o íon H+ da película de água, por causa do seu pequeno diâmetro, é absorvida pelo mineral e se desloca através dos canais abertos na sua estrutura. “Lá dentro, provoca um desequilíbrio elétrico na estrutura eletricamente satisfeita do silicato, e por ser bem menor e com um campo elétrico mais forte, o íon H+ se mantém na estrutura do mineral, deslocando dele outros íons metálicos, mais fracos eletricamente, como o cálcio, o sódio, o potássio, o magnésio, o ferro e outros” (FLEURY: 1995, p. 213). Decomposição por hidratação – o mineral é atacado pela ação da água e adquire FIGURA 07 Água semi-estagnada – Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 32. 32 uma ou mais moléculas de água. Daí ocorre o aumento de volume do mineral, provocando grandes efeitos mecânicos no corpo rochoso. As micas perdem suas propriedades físicas com facilidade nesse processo. Decomposição pelo ácido carbônico – para Leinz; Amaral (2001), provavelmente é o agente químico mais importante do intemperismo (veja-se decomposição por hidrólise, anteriormente) porque age constantemente sobre os feldspatos, os minerais mais comuns das rochas da crosta terrestre. Segundo os autores acima citados (p. 63), quando a água da chuva dissolve o CO2 da atmosfera, a maior parte continua em solução, “[..] enquanto uma pequena parte se combina com a água para dar ácido carbônico, que se encontra sempre em estado de dissociação”. Decomposição por queluviação (LEINZ; AMARAL: 2001, p. 62) ou redução (FLEURY: 1995, p. 211) – nomes diferentes dados pelos autores citados, significando uma reação contrária à oxidação, ou seja, nos pântanos, alagados ou zona saturada do subsolo, com a oxigenação imperfeita ou ausente, a decomposição de materiais orgânicos produz o carbono, um agente químico redutor bastante eficaz. O lodo verde é resultado de ambiente redutor. Os quelatos são os compostos orgânicos resultantes da decomposição do húmus, segundo Leinz; Amaral (2001, p. 62). Decomposição químico-biológica – segundo Leinz; Amaral (2001, p.64-65), “os primeiros atacantes de uma rocha expostas às intempéries são bactérias e fungos microscópicos. Vêm a seguir os liquens, depois as algas e musgos, formando e preparando o solo para as plantas superiores.” O metabolismo desses seres segrega gás FIGURA 08 Colonização de liquens sobre granito – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 33. 33 carbônico, nitratos, ácidos orgânicos etc., que são incorporados às soluções que percolam os solos e atingem as zonas de intempérie das rochas. 2.4 DINÂMICA CLIMÁTICA REGIONAL Para entender o clima de determinada região, faz-se necessário conhecer a dinâmica das massas de ar. Estas são grandes porções da atmosfera de características bem individualizadas, possuindo grande espessura e dimensões de milhares de quilômetros. As massas de ar podem ser quentes ou frias, secas ou úmidas, dependendo da área de origem. No Brasil, são seis as massas de ar que provocam as variações do tempo e os tipos de clima, mas apenas cinco influem no Nordeste brasileiro: massa Equatorial atlântica (Ea), massa Equatorial continental (Ec), massa Tropical atlântica (Ta), massa Tépida kalaariana (Tk) e massa Polar atlântica (Pa). Mas, apenas as citadas a seguir têm influência na área em estudo. Massa Equatorial atlântica (Ea) – forma-se por causa da convergência dos ventos alísios boreais e austrais que, por causa do efeito térmico, transformam-se em movimentos convectivos ascencionais. O encontro do ar equatorial com o ar tépido provoca a turbulência atmosférica, no hemisfério de verão. As chuvas equatoriais ocorrem por causa da Convergência Intertropical (CIT), acompanhando as variações sazonais de latitude do equador térmico. Massa Tropical atlântica (Ta) e massa Tépida kalaariana (Tk) – originam-se no centro semi-permanente de altas pressões do Atlântico Sul, perto da costa oeste africana. O ar é tépido e límpido, com a umidade relativa abaixo do ponto de orvalho, o que favorece a estabilidade da estrutura vertical. A Ta e a Tk só começam a se diferenciar quando se deslocam advectivamente. Os ventos de SE-E são provenientes da Tk e tocam a faixa litorânea do Nordeste. O ar da Ta toca a costa brasileira mais ao sul. Massa Polar atlântica (Pa) – forma-se próximo à Antártica, abaixo dos 40°S. Possui um ar frio e nevoento, desenvolvendo grande energia ao esbarrar com o ar da Tk, originando a Frente Polar Atlântica (FPA). A FPA avança pelo Brasil através de duas direções: direção continental, interior, podendo atingir até o equador. É responsável pelo fenômeno da “friagem” na região amazônica; direção marítima, ou costeira, atinge a costa oriental nordestina, adentrando pelos vales dos grandes rios.
  • 34. 34 2.4.1 Sistemas meteorológicos atuantes em Pernambuco Pernambuco (1998) afirma que são os seguintes os sistemas meteorológicos que atuam no Estado: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), frentes frias vindas do sul, ondas de leste, ciclones da atmosfera superior, brisas terrestres e marinhas, e oscilações de 30-60 dias. Descartamos as brisas porque não atuam na área pesquisada, e as oscilações de 30-60 dias por não serem conclusivos os estudos de sua atuação sobre o Nordeste. Por isso, interessam-nos: 1 – Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) – é a Convergência Intertropical (CIT), formada pela confluência dos ventos alísios de NE (Hemisfério Norte) e de SE (Hemisfério Sul). Contém alto teor de vapor d’água e tem movimento ascendente. É considerado o principal sistema de produção de chuvas no Sertão e no Agreste, atuando nos meses de fevereiro a maio. 2 – Frentes frias – são as responsáveis, em segundo lugar, pelas chuvas no Nordeste, atuando com mais energia no litoral oriental. De maio a agosto atuam na porção leste do Agreste; de novembro a fevereiro, no extremo oeste do Estado. 3 – Ondas de leste – são pequenas perturbações que ocorrem nos ventos alísios provenientes da Tk. Deslocam-se de leste para oeste, de maio a agosto, e dependem da temperatura da superfície atlântica. 4 – Ciclones da atmosfera superior – também chamados de Vórtices Ciclônicos da Atmosfera Superior (VCAS). São remoinhos que ocorrem por causa da circulação atmosférica, da Alta pressão da Bolívia, da posição da Zona de Convergência do Atlântico Sul e da penetração das frentes frias. Podem agir sobre todo o Estado, geralmente de novembro a fevereiro, podendo produzir chuvas intensas ou secas. 2.4.2 Chuvas Segundo Lins (1989, p. 53), a situação do Agreste pernambucano em baixas latitudes, o que porporciona muita insolação, e o relevo de altitudes modestas, predominantemente abaixo dos 700 m, proporciona temperaturas médias anuais sempre altas, ao contrário dos índices pluviométricos, cujas médias anuais variam entre 500 mm e 1.300 mm. As principais chuvas que ocorrem na área em estudo são as frontológicas, de outono-inverno, provocadas pela FPA e por interferência das ondas de leste, que são
  • 35. 35 ondulações ocorrentes na massa de ar Tépida kalaariana. As chuvas convectivas, de verão-outono, são provocadas pela Convergência Intertropical. Governo de Pernambuco (1997), subdivide a bacia hidrográfica do rio Una em sub-bacia Capivara e sub-bacia Palmares. A precipitação anual média determinada para a sub-bacia Capivara, à qual a área em estudo está inserida, é de 646,6 mm, adotando-se um período comum para os postos de janeiro de 1935 a dezembro de 1985. FIGURA 09 Isoietas da bacia hidrográfica do rio Una Fonte: Governo do Estado de Pernambuco: 1997 A seguir, apresenta-se uma tabela com os índices de pluviosidade média em alguns municípios adjacentes a Altinho, o que contribui para entendermos os 622 mm/ano de chuva de Ituguaçu, segundo a avaliação dos totais muito aproximados entre os dados expostos. TABELA 01 PRECIPITAÇÕES MÉDIAS EM MUNICÍPIOS ADJACENTES A ALTINHO. POSTO PLUVIO- MÉTRICO LATITUDE SUL LONGITUDE OESTE PRECIPITAÇÃO (mm/ano) Altinho 8° 29’ 18,96” 36° 03’ 29,88” 622 Calçado 8° 44’ 25,08” 36° 20’ 3,84” 702 Ibirajuba 8° 34’ 58,08” 36° 10’ 41,16” 654 Jucati 8° 42’ 21,96” 36° 29’ 21,12” 720 Jurema 8° 43’ 5,16” 36° 08’ 15,00” 790 Lajedo 8° 39’ 20,16” 36° 19’ 4,08” 831 São Bento do Una 8° 31’ 37,92” 36° 27’ 33,84” 630 FONTE: Governo do Estado de Pernambuco: s/d. -36.60 -36.40 -36.20 -36.00 -35.80 -35.60 -35.40 -35.20 -8.80 -8.60 -8.40 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200
  • 36. 36 Analisando-se o mapa das isoietas anuais e a tabela anteriormente apresentada, verifica-se que os valores são perfeitamente compatíveis com a precipitação média da região (646,6 mm/ano). FIGURA 10 Isoietas Médias Anuais no Agreste Pernambucano Fonte: Melo, 1980. 2.4.3 Clima e Vegetação Para reconhecer as condições climáticas do Agreste Pernambucano, necessário se faz saber a sua situação em comparação com a linha do Equador: está em baixas latitudes, recebendo intensa insolação o ano inteiro. Ao compararmos a altimetria, o relevo possui altitudes modestas porque predominam os níveis abaixo dos 700 m. A junção desses dois fatores – baixas latitudes e baixas altitudes, contribui para a formação das médias térmicas anuais bastante altas, entre os 22°C e os 24°C, nas superfícies aplainadas. No Agreste, nas superfícies mais elevadas, as médias de temperatura baixam para cerca de 20°C, formando as áreas de brejos.
  • 37. 37 O regime pluviométrico é bastante irregular, tanto nos índices de precipitação quanto às áreas atingidas. A energia da Frente Polar atlântica possibilita as chuvas de outono e inverno da área estudada, traduzindo-se nas principais precipitações, de caráter frontológico. As ondas de leste auxiliam no aumento dos índices pluviométricos do período. As chuvas convectivas que ocorrem na área estudada acontecem por causa da Convergência Intertropical (CIT), no verão-outono. As médias de chuvas no Agreste pernambucano variam entre 500 mm a 1.300 mm (LINS: 1989, p. 55). Considerando-se esses fatores – latitude, altitude, massas de ar e precipitação pluviométrica, além das altas temperaturas anuais, o clima da região em estudo é definido como semiárido, mais propriamente o BShs’ da classificação de Wilhelm Köppen. A maior consequência desse tipo de clima está no regime dos rios, como por exemplo o Una, de regime temporário ou intermitente; e na vegetação original, a caatinga hipoxerófila. No local em estudo, encontramos como representantes da vegetação primitiva os seguintes vegetais: mulungu, umburana, rasga-beiço, espinheiro branco, baraúna, jurema preta, barriguda, ipê amarelo, velame, catingueira, jurubeba, juá, canafístula, coco catolé, umbu, tambor entre outros. FIGURA 11 Vegetação de caatinga – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 38. 38 FIGURA 12 Climas de Pernambuco Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
  • 39. 39 Sobre as lajes cristalinas encontramos vegetação do tipo rupestre: coroa de frade, mandacaru, facheiro, xique-xique, macambira etc. FIGURA 13 Vegetação rupestre – Cachoeira Grande –2012 Fonte: Trabalho de campo No entorno do local, os terrenos foram intensamente explorados pela agricultura e pela pecuária. Os seres humanos derrubaram a vegetação primitiva para fixarem os roçados e a criação de animais. Com os solos de pequena profundidade e o regime climático, a vegetação de alguns trechos traduz-se em capoeira ou capoeirão, tendo dificuldade de se reconstituir com os espécimes mais lenhosos. A algarobeira, planta oriunda de outro país, adaptou-se maravilhosamente às condições naturais do local.
  • 40. 40 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO UNA E DA CACHOEIRA GRANDE Normalmente, rio é definido como um curso natural de água doce, com canal determinado e fluxo permanente ou sazonal, desaguando noutro rio, no mar ou num lago. À Geomorfologia Fluvial interessam os processos e as formas relacionados ao escoamento dos rios. A morfologia de um rio e de sua bacia de drenagem está em constante movimentação, com os materiais sendo removidos, o que acarreta mudanças nas formas dos relevos fluvial e superficial. Os rios são os principais agentes responsáveis pela denudação nos continentes. A bacia hidrográfica do Rio Una localiza-se ao sul do Estado de Pernambuco, entre as latitudes 8°17’14” e 8°55’28” Sul e longitudes 35°07’48” e 36°42’10” Oeste, limitando-se ao Norte com as bacias dos rios Ipojuca e Sirinhaém e o grupo de bacias de pequenos rios litorâneos; ao Sul com a bacia do rio Mundaú, o Estado de Alagoas, o grupo de bacias de pequenos rios litorâneos e o grupo de bacias de pequenos rios interiores; a Leste, com o Oceano Atlântico, a bacia do rio Sirinhaém; a Oeste, com as bacias dos rios Ipojuca e Ipanema. É considerada por Governo do Estado de Pernambuco (1997) como a Unidade de Planejamento Hídrico UP5. A nascente do rio Una localiza-se na Serra da Boa Vista, no município de Capoeiras, a aproximadamente 900 m de altitude. Apresenta-se intermitente até as proximidades da cidade de Altinho, tornando-se perene a partir dali. A extensão do rio é de cerca de 255km e tem como principais afluentes: pela margem direita – riacho Quatis, rio da Chata, rio Pirangi, rio Jacuípe e rio Caraçu; pela margem esquerda – riacho Maracajá (Riachão), riacho Mentirosos, rio do Sapo, rio Camevô e rio Preto. A bacia do rio Una possui uma área aproximada de 6.785,79 km2 , sendo que apenas 6.292,90 km2 estão inseridos no território pernambucano, representando 6,32% do total das terras do Estado. Dos 452,6 km2 de área municipal, Altinho detém 447,2 km2 inseridos na bacia hidrográfica do rio Una, representando 98,8%. Essa bacia abrange 42 municípios, dos quais 11 estão totalmente inseridos na mesma: Belém de Maria, Catende, Cupira, Ibirajuba, Jaqueira, Lagoa dos Gatos, Maraial, Palmares, Panelas, São Benedito do Sul e Xexéu); 15 possuem sede inserida na bacia: Água Preta, Agrestina, Altinho, Barreiros, Bonito, Cachoeirinha, Calçado, Capoeiras, Jucati, Jupi, Jurema, Lajedo, Quipapá, São Bento do Una e São Joaquim do Monte, e 16 estão parcialmente inseridos: Barra de Guabiraba, Bezerros, Caetés, Camocim de São Félix, Canhotinho, Caruaru, Gameleira, Joaquim Nabuco, Pesqueira, Rio Formoso, Sanharó, São Caetano, São José da Coroa Grande, Tacaimbó, Tamandaré e Venturosa.
  • 41. 41 FIGURA 14 Bacias hidrográficas de Pernambuco Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
  • 42. 42 FIGURA 15 Bacia hidrográfica do rio Una Fonte: Governo de Pernambuco, s/data
  • 43. 43 3.1.1 Cachoeira Grande – cachoeira ou corredeira? Importante se faz definir o trecho em estudo, haja vista que a denominação local se refere à cachoeira. No entanto, deve-se ser cuidadoso, pois a terminologia popular, às vezes não condiz com os rigores técnicos ou científicos. Para resolver isso, deve-se considerar o que alguns autores dizem a respeito. Ferreira (1988) diz que cachoeira é um substantivo feminino utilizado no Brasil e significa ‘queda d’água’ ou ‘corredeira’. Guerra (1980) define como “[...] queda d’água no curso de um rio, ocasionada pela existência de um degrau no perfil longitudinal do mesmo”. Mas, quando lemos sua definição de salto, ele diz que é uma “[...] denominação genérica dada a todos os tipos de desnívelamento ou degraus encontrados no perfil longitudinal de um rio, ex: cascata, catarata, catadupa, queda d’água, cachoeira, corredeira etc”. Ele diz, também, que as corredeiras e cascatas são diferentes de cachoeiras, quedas d’água e cataratas porque as primeiras são formadas em desnivelamentos menos acentuados do que as segundas. Alerta aos geomorfólogos que o que interessa é a razão de ser da existência de determinado fenômeno. Os saltos podem ser formados por falhas, dobras, erosão diferencial, diques etc. Leinz; Amaral (2001, p. 101) dizem que “a principal causa da formação de uma cachoeira é a diferença na resistência à erosão oferecida pelas rochas cortadas pelo rio”. As cachoeiras têm duração efêmera, graças aos fenômenos erosivos que atuam no local. FIGURA 16 Parte mais elevada da Cachoeira Grande – Altinho-PE – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 44. 44 No caso da Cachoeira Grande, pecebe-se pela Carta de Belo Jardim (FOLHA SC.24-X-B-III: 1986) que existe um desnível entre a cota de 450 m para a de 400 m. Isso faz com que os agentes erosivos trabalhem com muito vigor, na busca de um equilíbrio, tentando chegar ao nível de base. No caso em estudo, pode-se classificar o local como cachoeira ou queda d’água, graças ao significativo desnível, com a topografia permitindo uma razoável velocidade das águas do rio Una. 3.1.2 Perfil longitudinal ou perfil de equilíbrio de um rio Uma das características do sistema fluvial é funcionar como um conjunto; qualquer modificação numa parte do sistema afeta as outras. Os principais fatores que determinam o escoamento de um rio são: descarga, velocidade, forma do canal, gradiente (declive), nível de base e carga de sedimentos. Esses fatores mudam constantemente em busca do equilíbrio, de forma que, eventualmente, podem ajustar o gradiente para acomodar o volume de água disponível, as características do canal e a velocidade necessária para transportar a carga de sedimentos. Os rios que apresentam declividade cada vez maiores para montante e cada vez menores para jusante são considerados como rios equilibrados. O perfil de equilíbrio de um rio trata-se de sua condição de não mais erodir ou depositar materiais, quando a forma do canal e o gradiente estão balanceados. Sendo uma condição rara de conseguir, os rios continuam o trabalho hidráulico, ajustando-se constantemente para conseguir a condição ideal de equilíbrio. Para De Martonne (1953, p. 484), “[...] “ o perfil de equilíbrio de um curso de água é, em pincípio, aquele cujos declives são suficientemente fracos e regularmente decrescentes para jusante, de modo que toda a força viva (sem dúvida reduzida com o declive) seja utilizada no escoamento”. Segundo esse autor, na busca do perfil de equilíbrio os rios trabalham ativamente para fazer desaparecer as roturas de declive, fazendo-as recuar para montante. 3.1.3 Canais fluviais de leito rochoso Os rios de leito aluvial foram bem estudados desde há muito tempo. Mas os estudos sobre rios de leito rochoso são recentes, partindo da década de 1990 (LIMA: 2010), e ainda não são bem difundidos nos conhecimentos geomorfológicos. Em nosso país ainda existe uma carência enorme desses estudos, o que leva alguns pesquisadores a buscarem fontes estrangeiras.
  • 45. 45 Lima (2010), analisando vasta bibliografia em língua inglesa, traz grande contribuição ao entendimento desse fenômeno, o que pode incentivar as discussões e o interesse pelo tema. Como ele avisa, muitos conceitos novos estão sendo aplicados e antigos conceitos são reavaliados nessa nova perspectiva. De Martonne (1953), quando trata do modelado da erosão normal, provocado pelas torrentes, destaca as seguintes forças: escavamento do leito, desagregação das vertentes e arrastamento e acúmulo de detritos. “Se o escavamento do leito desempenha um papel essencial nas torrentes, por mais forte razão, deve ser o primeiro factor a considerar na bacia dum rio regular” (DE MARTONE: 1953, p. 480). Utilizando uma literatura geomorfológica internacional, Lima (2010, p.340) diz que o termo bedrock denota a ideia de leito rochoso, incluindo também, as margens rochosas. Quanto à expressão bedrock channel (canal rochoso) é flexível para designar os rios com leito rochoso, que tenham ou não margens rochosas. Os canais rochosos sem qualquer tipo de cobertura sedimentar não ocorrem por grandes extensões, sendo mais apropriado designar de canais mistos rochoso-aluvial (mixed bedrock-alluvial channels). Então, o termo rochoso deve referir-se a trechos descobertos de material, enquanto o termo aluvial deve ser empregado a trechos que detenham cobertura sedimentar, mesmo que sejam mobilizáveis durante as enchentes. Utilizando Whipple, Lima (2010, p. 340) diz que “[...] a expressão bedrock channel é comumente aplicada para designar canais de leito misto, enquanto a expressão bedrock reach aplica-se a techos com leito rochoso exposto”. Em geral, os canais rochosos desenvolvem-se em material coesivo e resistente, sofrendo intensa erosão no substrato rochoso. Lima (2010, pp. 340-341) aponta três tipos de canais rochosos: 1 – Canal confinado inteiramente na rocha, com exposição rochosa tanto no leito quanto nas margens; 2 – Canal com margens rochosas, mas com cobertura aluvial no leito; 3 – Canal com exposição rochosa apenas no leito. Mesmo que possam ocorrer trechos rochosos em baixa declividade, a diferenciação destes para os aluviais é justamente a declividade relativamente maior. 3.2 VARIAÇÕES CLIMÁTICAS, CONDIÇÕES DO LEITO, FORMAS E RESULTADOS DO INTEMPERISMO As variações climáticas ocorrem normalmente em ritmos e intensidades variáveis nos diferentes anos.
  • 46. 46 “Dentre os elementos climatológicos, a precipitação é o que diretamente reflete a instabilidade do tempo e a intensidade com que essas variações se processam, podendo ainda ser considerada como um dos principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento dos sistemas morfogenéticos tropicais” (SILVA; SANTOS, 1979, apud BIGARELLA et al., 2007, p.80). Alguns estudiosos acreditam que os eventos climáticos considerados normais não contribuem para as grandes perturbações na dinâmica das paisagens, à medida que os elementos físicos ajustam-se aos padrões mais frequentes nessa distribuição dos eventos climáticos. Para outros estudiosos, nos impulsos climáticos de maior magnitude pode-se constatar imediatamente a eficácia na paisagem. Alguns autores citados por Bigarella (2007, p. 81) afirmam que “[...] a frequência de ocorrência dos eventos determina o montante de trabalho efetuado pelos impulsos de diferentes intensidades [...]”. Bigarella et al., (2007, p. 83) concordam que tanto as pequenas flutuações do clima quanto as profundas mudanças climáticas tiveram grande importância para a construção das paisagens atuais. A partir do Pleistoceno ocorreram instabilidades climáticas extremas. No Brasil, isso representou dois grandes conjuntos de processos que agiram alternadamente: degradação lateral durante os climas semiáridos (épocas glaciais) e dissecação durante climas úmidos (épocas interglaciais). “A ação erosiva seria muito efetiva no período de transição de um tipo de clima para outro” (BIGARELLA et al., 2007, p.84). Na mudança de um tipo de clima úmido para um mais seco, os rios tornam-se intermitentes por causa das chuvas concentradas, havendo grandes variações nas suas descargas. A carga sólida dos rios é aumentada por causa da acelerada erosão das vertentes que ficam desprotegidas. É possível, durante essa mudança, que os sedimentos entulhem, em parte, o fundo dos vales, elevando o nível de base local. Na transição da semiaridez para clima úmido, os processos de alteração química contribuem para a erosão linear. O regime fluvial passa a ser permanente, com aumento progressivo da descarga média dos rios e de sua capacidade de transpotar a carga sólida. O leito pode ser retrabalhado, ocorrendo o rebaixamento do nível de base local. Ab’Sáber (1956-1957), analisando a rede hidrográfica do Nordeste Oriental, considera-a um magro sistema de cursos d’água com fraquíssimo poderio energético, por serem intermitentes e irregulares. Para ele, “é fato absolutamente fora de dúvidas que os rios nordestinos entalharam os grandes boqueirões do interior através de uma superimposição hidrográfica de tipo clássico e à custa de um volume d’água e um poderio de erosão muito maiores do que os atuais, assim como sob um regime hidrológico inteiramente diverso” (AB’SÁBER, 1956-1957, p. 70). Coincidindo com Bigarella et al. (2007), com o qual produziu trabalhos conjuntamente, Ab’Sáber (1956-1957) considera que as mudanças das fases úmidas e
  • 47. 47 semiáridas no Nordeste, a partir do Pleistoceno, foram importantes para os rios entalharem seus vales e desempenharem os trabalhos de superimposição fluvial, formando os boqueirões e cruzando cristas rejuvenescidas. Ele acredita que as condições físicas atuais não permitiriam aos rios oriundos do Planalto Borborema seccionarem as rochas resistentes das formações antigas se no passado não tivessem ocorrido vários ciclos de maior umidade por tempo mais longo, alternados por períodos de semiaridez. Deve-se acreditar que o modelado da Cachoeira Grande recebeu grande contribuição das fases intercaladas de umidade e semiaridez, a partir do Pleistoceno, recebendo os eventos climáticos normais, as pequenas flutuações e as profundas mudanças, contribuindo para o avanço da erosão fluvial para montante e as várias formas que se apresentam no trecho estudado. 3.2.1 Clima e intemperismo A desintegração mecânica e a decomposição química sobre as rochas variam mediante as diferentes zonas e elementos climáticos. Nas áreas quentes e úmidas o intemperismo químico é intenso e constante, agindo até grandes profundidades. Nas áreas desérticas e semidesérticas, o intemperismo químico tem pouco significado, mas o contraste térmico é bem considerável porque provoca a desintegração mecânica. “O clima controla o intemperismo diretamente através da temperatura e da precipitação e, indiretamente, através da vegetação que recobre a paisagem” (BIGARELLA et al., 2007, p. 90). O resultado principal do intemperismo é a formação do solo. Em regiões quentes e úmidas os solos são mais profundos e permitem uma formação florestal. Já nas regiões desérticas e semiáridas, os solos são menos espessos ou mesmo inexistentes, com as rochas originais aflorando à superfície. Na Cachoeira Grande, por ficar localizada no domínio do clima semiárido nordestino, as chuvas são escassas e concentradas, havendo temperaturas elevadas o ano inteiro. Este fato contribui para a ocorrência dos processos mecânicos de intemperismo, resultando na desintegração das rochas. Mas, por ser um trecho de rio com razoável inclinação, as enxentes levam os fragmentos de rocha para outros locais, desnudando o leito, ficando os granitos, gnaisses e migmatitos descobertos. A energia do caudal, mesmo sendo de rio intermitente, permite a formação de depressões que se enchem de águas fluvias, ou mesmo pluviais, as quais ficam estagnadas, permitindo a colonização de seres vivos como: pequenos animais, plantas e
  • 48. 48 liquens, os quais liberam compostos orgânicos que agem quimicamente nas rochas, permitindo a decomposição. Portanto, mesmo sendo uma área de semiaridez, os processos químicos são muito importantes porque facilitam a ação dos processos de intemperismo mecânico. 3.2.2 Fenômenos que contribuem para as formas na Cachoeira Grande Declive – como trata-se de um trecho considerado como corredeira ou cachoeira, a inclinação do leito do rio Una contribui para a rápida passagem das águas fluviais, o que contribui para as ações dos agentes mecânicos do intemperismo, resultando nas formas estudadas. O rio está sempre buscando o equilíbrio do nível de base, por isso o seu leito aprofunda-se a montante. Descompressão da rocha – quando estão em camadas profundas da litosfera as rochas sofrem altas pressões das camadas que estão por cima, mantendo-se coesa e sem falhamento. Com o processo do ciclo rochoso, quando afloram à superfície sofrem um alívio da pressão, fraturando-se em camadas horizontais, contribuindo para maior eficiência dos processos erosivos. FIGURA 17 Fraturamento por descompressão – 2012 Fonte: Trabalho de campo Fraturas e diáclases – as rochas do local (granito, gnaisse e migmatito) são bastante fraturadas, tanto no sentido do fluxo quanto em diagonal ou atravessadas.
  • 49. 49 FIGURA 18 Fraturamento no sentido do fluxo do rio – 2012 Fonte: Trabalho de campo Minerais das rochas – nos granitos, os minerais de quartzo, feldspato e micas estão mais uniformemente distribuídos. Já nos gnaisses e migmatitos encontram-se ‘separações’, graças às características próprias de formação destas. Percebe-se, nestas últimas, as concentrações de mica preta, feldspato e quartzo, cujos minerais possuem coesão e densidade diferentes, o que favorece o fraturamento ou ação erosiva mais FIGURA 19 Oriçanga em migmatito – 2012 Fonte: Trabalho de campo significativa naqueles minerais menos resistentes às condioções do ambiente. Geralmente as concentrações de minerais estão formadas como intrusões magmáticas, com o feldspato apresentando maior resistência. A mica apresenta menor resistência, já
  • 50. 50 as intrusões de quartzo contribuem para as fissuras e fraturamento em suas zonas de contato. Também é importante destacar que as superfícies de rocha escura (máficas) concentram mais calor, com maior possibilidade de fissuras ou descamação; já as claras (leucocráticas) concentram menor temperatura. 3.2.3 Processos erosivos fluviais Segundo Lima (2010), o estudo dos rios de leito rochoso despertou maior interesse a partir da década de 1990, por causa da importância desses para os estudos da evolução das paisagens e da ligação entre erosão fluvial e o soerguimento de montanhas. No nosso país, os rios de leito rochoso são muito comuns, mas os estudos geomorfológicos ainda são incipientes. Os canais rochosos desprovidos de qualquer tipo de material aluvial que os cubram só existem em pequenos trechos. Lima (2010) acha mais adequado considerar os canais rochosos de canais mistos rochoso-aluvial. Baseando-se em Howard e Whipple, este autor afirma que, “em resumo, um canal rochoso ou misto é aquele em que a cobertura aluvial não é contínua no tempo e no espaço e, onde existente, é pouco espessa e mobilizável, de modo que a incisão no substrato rochoso é ativa” (LIMA, 2010, p. 340). Os canais rochosos desenvolvem-se em material rochoso coesivo e resistente, como rochas cristalinas, aluviões e cascalhos cimentados. A ação erosiva no leito rochoso ocorre quando a potência do escoamento é suficiente para transportar a carga do leito. A incisão (desgaste) ocorre em grande parte quando as partículas sedimentares carregadas pelas águas chocam-se com o extrato rochoso. Lima (2010, p.343-348) aponta três grandes categorias de processos erosivos fluviais: corrosão, abrasão (corrasão) e cavitação. - Corrosão – são todos os processos químicos que tenham relação com a reação da água nas rochas do leito fluvial. Também é mencionado como dissolução. A corrosão prepara a rocha para maior eficiência dos outros processos. - Abrasão – trata-se do atrito contínuo das partículas de sedimentos carregadas pela água, atingindo as rochas do leito e das margens. A carga do leito e a carga em suspensão são ferramentas eficientes na ação abrasiva. Esse conjunto de processos ainda pode ser classificado em: macro-abrasão – quando os sedimentos em saltação lascam e fraturam o leito rochoso; micro-abrasão – quando ocorre o fraturamento grão-por-grão, inclusive pelas partículas em suspensão.
  • 51. 51 Um importante processo de macro-abrasão é o arranque, provocado pela força do fluxo fluvial que age destacando fragmentos do leito e das margens. “A erosão por arranque requer a presença de blocos delimitados por descontinuidades estruturais, tais como fraturas e planos de acamamento” (LIMA, 2010, p. 346). - Cavitação – refere-se à formação de bolhas pela diminuição da pressão da água num canal fluvial. As bolhas, “[...] ao estourarem junto à superfície delimitadora do canal, liberam uma grande energia de impacto, que promove a fragmentação das rochas” (BARNES, 1956, apud LIMA, 2010, p. 348). 3.2.4 Formas e resultados A interação dos diversos fenômenos atuantes no local em estudo tem como resultado os seguintes produtos: Marmitas - para Guerra (1980), as marmitas são “Buracos que aparecem no leito dos rios produzidos pelas águas turbilhonares. Esses buracos aparecem, comumente, logo após uma cachoeira, ou então, quando há rápido desnível sendo, no entanto, o leito do rio de rocha dura e compacta. As marmitas são produzidas pelo eixo vertical dos turbilhões”. Leinz; Amaral (2001, p.101) definem os caldeirões e marmitas como “[...] verdadeiras perfurações cilíndricas, profundas, formadas pelo redemoinho das águas, ao turbilhonar após uma cachoeira ou uma corredeira”. Estas são definições generalizadas, pois são registradas as ocorrências de marmitas noutros ambientes, como áreas litorâneas, onde a interferência fluvial nada tem a ver, e em planos verticais de rochas, como nas cataratas do rio Nilo e na cachoeira de Niágara. Alguns morfologistas consideram que o afundamento dos talvegues dos rios é realizado, apenas, pelas marmitas e seus recortamentos. Em nossas pesquisas bibliográficas, encontraram-se os seguintes tipos de marmita: Marmita fluvial – definição que se encaixa ao exposto acima por Guerra. Alguns autores a definem como marmita-de-gigante. São produzidas em movimentos turbilhonares, onde as areias e os clastros (calhaus) são as principais ferramentas utilizadas pelas águas, em movimento giratório, perfurando as rochas mais duras.
  • 52. 52 FIGURA 20 Marmita fluvial – 2012 Fonte: Trabalho de campo Marmita de dissolução – Guerra (1980) considera que são as pequenas cavidades produzidas pela dissolução na superfície das rochas, especialmente as que são ricas em carbonato de cálcio, havendo reação química dos minerais destas com a água. Marmita litorânea – à semelhança das marmitas fluviais, são formadas pelos turbilhões que atingem rochas resistentes, como os recifes de arenito, formando buracos arredondados, os quais capturam materiais clásticos. Em Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, podem ser encontradas na plataforma de arenito em franja (arrecife), perto do Forte dos Três Reis Magos. Oriçangas - Moreira (1999), estudando os rios de leito rochoso ao Sul de Moçambique, no continente africano, destaca a escavação do leito em rochas consolidadas, duras e com minerais alteráveis, apresentando duas microformas embutidas, “mais ou menos largas e profundas”, às quais deu o nome de marmitas e oriçangas, dependendo da posição onde ocorrem. Para ela, “[...] no fundo do leito, onde o processo morfogenético dominante é a erosão mecânica, formam-se as marmitas, comumente designadas por marmitas-de- girante, enquanto nas paredes das margens se desenvolvem as oriçangas, em que o processo morfogénico mais eficaz é a corrosão bioquímica” (MOREIRA, 1999, p. 57). As oriçangas seriam, portanto, formações construídas pela reação química das águas e algas constantes do represamento das chuvas, porque os locais onde estão inseridas, afastadas do leito principal do rio, não teriam a força mecânica das águas e sedimentos, normalmente, nas épocas de cheias fluviais. As oriçangas são - como Guerra define, marmitas de dissolução.
  • 53. 53 FIGURA 21 Oriçanga – 2012 Fonte: Trabalho de campo De Martonne (1953, p. 487) considerou as formações que ficam juntamente com as marmitas, nas cimeiras rochosas (planos mais altos do leito) de “lapiez”. Ainda citando Guerra (1980), ele define caldeirão como “o mesmo que marmita”. No entanto, devemos diferenciar caldeirão de marmita, pois a formação e a morfologia são diferentes. É comum encontrarmos nas áreas rurais do Nordeste buracos feitos em rochas duras, dos quais são retirados os materiais de entupimento, permitindo o acúmulo de água para consumo familiar ou animal, durante parte do ano. Sua formação deve-se, principalmente, à dissolução dos materiais pela ação química da água FIGURA 22 Caldeirões – município de Panelas – 2010 Fonte: Trabalho de campo
  • 54. 54 em fissuras ou fraturas, provocando o alargamento em forma, geralmente, longuilínea, ao contrário das marmitas, que são cavidades aproximadamente cilíndricas. Portanto, para a área em estudo, deve-se considerar os dois fenômenos – marmitas e oriçangas – denominações que devem ter a mesma origem: a energia do turbilhonamento das águas, junto com os sedimentos. No entanto, como as oriçangas comumente não são atingidas pelas cheias por períodos regulares, mas podem receber águas provenientes das chuvas, continuarão a sofrer desgaste através da ação química desse líquido e das substâncias orgânicas provenientes dos organismos vivos que colonizam tais aberturas. Marmitas conjugadas – a erosão das marmitas ocorre expandindo o fundo e as paredes laterais. Com a evolução desse processo, duas ou mais marmitas podem formar uma só ou uma significativa incisão no leito rochoso. É normal encontrar-se esse tipo de captura no local. Tabique - entre duas ou mais marmitas forma-se um septo superior, chamado de tabique, o qual, com a evolução, pode tornar-se um bloco ou fragmento alongado. FIGURA 23 Captura de marmitas com o tabique destacado - 2012 Fonte: Trabalho de campo Flutes – são regos formados pela grande velocidade das águas das enchentes, em superfícies rochosas que não dispõem de obstáculos adequados à formação do turbilhonamento, necessário para o aparecimento das marmitas. A água transportando os sedimentos como areias e cascalhos deixa formas alongadas e pouco profundas, às quais dá-se o nome de flutes.
  • 55. 55 FIGURA 24 Flutes – 2012 Fonte: Trabalho de campo Elevações e depressões – a passagem contínua das águas carregadas de sedimentos desgasta com maior eficiência determinadas partes das superfícies das rochas, deixando algumas mais altas, aquelas mais resistentes ao intemperismo local, e outras mais baixas, por serem menos resistentes. Isto ocorre por causa da resistência dos minerais, principalmente com as intrusões magmáticas de feldspato (mais resistentes) e as de mica (menos resistentes), como se vê na foto a seguir. FIGURA 25 Intrusão de feldspato em elevação – 2012 Fonte: Trabalho de campo Superfícies polidas – com o contato da água em velocidade carregada de sedimentos, principalmente com areia, as rochas ficam com as superfícies polidas,
  • 56. 56 apresentando-se bem lisas, ao contrário do que normalmente ocorre em rochas cristalinas longe das margens, que são crespas. “A textura da superfície de abrasão geralmente é lisa e polida, diferenciando-se da superfície corroída que se apresenta irregular e áspera” (BIGARELLA et al, 2007, p.327). FIGURA 26 Superfícies polidas – 2012 Fonte: Trabalho de campo Enchente de blocos – denomino dessa maneira em oposição aos mares de blocos apresentados por Bigarella et al. (2007, p.348). A constante ação fluvial com seus processos de intemperismo desgasta e fragmenta as rochas que ficam acumuladas a jusante do ponto mais alto. A fragmentação ocorre através de quebra de núcleos, FIGURA 27 Blocos no leito do rio – 2012 Fonte: Trabalho de campo
  • 57. 57 provocada pelas altas temperaturas, e pelo desgaste erosivo que os corpos rochosos sofrem, reduzindo seus tamanhos e facilitando a fragmentação pelo choque dos pedaços maiores transportados ou mesmo pelas temperaturas. Bancos de areia grossa – nos poucos locais onde o declive diminui proporciona a acumulação de areia grossa em forma de bancos. A permanência dos bancos é provisória porque não encontramos evidências de material desse tipo fixado no local, com colonização de plantas sobre ele, compactação ou camadas de argila, o que poderia indicar antiguidade. Dentro de algumas marmitas e oriçangas também podemos encontrar areia grossa, capturada durante as enxentes, acumuladas no fundo. FIGURA 28 Banco de areia grossa – 2012 Fonte: Trabalho de campo Seixos rolados e cascalhos – fragmentos rochosos são encontrados por todo o leito do rio, no local em estudo. Os cascalhos capturados pelas marmitas e oriçangas não conseguem sair com facilidade, principalmente nas mais profundas, sofrendo desgaste em todas as arestas, ficando arredondados. À medida que sofrem o desgaste, também estão desgastando as paredes internas das formas citadas.
  • 58. 58 FIGURA 29 Seixos capturados por marmita – 2012 Fonte: Trabalho de campo Barrocas – depressões criadas pelo intemperismo mecânico ou pelo intemperismo químico ou ambos, que não apresentam formado parecido com os outros fenômenos citados. Podem apresentar-se secas ou cobertas com água estagnada. FIGURA 30 Barroca - 2012 Fonte: Trabalho de campo Geralmente são alongadas, de pequena profundidade, e com bordas suavemente inclinadas para o centro, diferentemente das marmitas, que têm as bordas abruptas.
  • 59. 59 3.3 Material e Métodos Para o estudante e o professor de Geografia, a Cachoeira Grande e a Vila de Ituguaçu oferecem bastante motivação para o desenvolvimento de estudos da citada ciência. Reconhecendo-se que a Cachoeira Grande e seu entorno são propícios ao desenvolvimento do conhecimento, colocamos as seguintes propostas de trabalho: 3.3.1 Desenvolvimento do conhecimento geográfico disciplinar e multidisciplinar “O professor necessita manter o diálogo permanente com o passado, o presente e o futuro para conhecer melhor sua própria ciência e saber constituir projetos disciplinares e interdisciplinares na escola” (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE, 2009, p.145). Pode-se trabalhar todos os aspectos geográficos, desde as características naturais mais gerais como relevo, hidrografia, clima e vegetação; os mais específicos, como os processos de intemperismo e seus resultados no leito rochoso do rio Una, principal averiguação da presente monografia; até as condições humanas, como a modificação do ambiente natural (ação antrópica), a ocupação e a evolução demográfica, as atividades econômicas, a ligação com outros locais etc. Também pode-se trabalhar a multidisciplinaridade, envolvendo principalmente a História, a Biologia, a Física e a Arte. Para o entendimento da evolução da povoação necessário se faz a utilização dos critérios históricos. A Cachoeira Grande funciona como vários ecossistemas, graças ao empoçamento da água nas várias reentrâncias e depressões, permitindo a sobrevivência e reprodução de pequenos animais, algas e bactérias. Impregnadas nas rochas, notamos as marcas da poluição urbana, principalmente a advinda da cidade de Cachoeirinha. As condições de temperatura diferenciada entre as estações do ano e durante o dia podem favorecer um trabalho de Física. Medir as marmitas, observando diâmetro da boca e do fundo, profundidade, extensão do tabique etc, pode favorecer um bom trabalho de Matemática. Reproduzir no papel as formas existentes ou mesmo fotografar e construir um painel pode ser uma preciosa contribuição do professor de Arte. Tantas possibilidades existem porque a diversidade de fenômenos no local é vastíssima. Caberia aos professores das diversas áreas discutirem um projeto comum para a complementação do conhecimento, utilizando imagens, mapas, entrevistas, visitas de campo, construção de murais, elaboração de relatórios etc.
  • 60. 60 3.3.2 Investigar a origem da povoação da Vila de Ituguaçu e seu entorno Além de conhecer os aspectos físicos pertinentes à Cachoeira Grande, necessário se faz analisar a ocupação humana do entorno, principalmente da Vila de Ituguassu, averiguando-se sua origem e importância para o local. Nos primeiros momentos de nossas sondagens, recebemos informações que na citada Vila, há mais de 200 anos, teve início uma fazenda de criação de gado bovino, com o fazendeiro da época mandando fazer uma capela e o muro do cemitério, conforme já citamos na introdução. No entanto, apesar da antiguidade do lugar, não houve desenvolvimento no crescimento, com a aglomeração humana na vila e em seu entorno dispondo de pequeno contingente populacional. Para Schiell et al. (2003, p.31), “As ações dos homens entre si e com o meio ambiente movem a história, os homens produzem sua história deixando na natureza sua marca. É importante refletir sobre as relações da história, enquanto conhecimento, com a crise ambiental, problema complexo que ocorre na atualidade e abrange o planeta como um todo”. Necessário se faz entender como o lugar evoluiu historicamente, entrevistando- se pessoas que saibam das passagens de tempo que marcaram a área, pois em primeiros momentos de nossas visitas, notamos que alguns moradores guardam na memória o que viveram e o que seus pais lhes contaram sobre a vila. “Por intermédio de relatos de histórias de moradores antigos e de levantamento de documentos históricos em arquivos, bibliotecas, prefeituras etc. é possível identificar como ocorreu a ocupação do local e como este se encontrava antes, possibilitando, assim, averiguar o grande impacto ambiental e propor soluções adequadas” (SCHIELL et al., 2003, p.31). Por isso, faz-se necessário averiguar esse aspecto, tentando-se realizar um levantamento histórico da formação da povoação. 3.3.3 Criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas Pela riqueza dos aspectos já citados neste trabalho, o destaque maior fica para as marmitas e oriçangas. Claro que para chegar às formas apresentadas foi necessário se fazer uma averiguação das forças da natureza que atuam no intemperismo local. A nosso ver, a criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas possibilitaria maior interesse científico por parte das escolas, divulgando os conhecimentos geográficos
  • 61. 61 entre estudantes e professores. O conhecimento das chamadas ciências da Terra poderia ser incentivado com o local. A Cachoeira Grande tem um grande potencial geográfico, didático-pedagógico e turístico. É normal em épocas de enxentes pessoas se deslocarem de outras cidades e povoações e desfrutarem de banhos e piqueniques. Claro que tudo isso sem qualquer orientação ou cuidado com a higiene própria ou com o meio ambiente. Com a criação do Geoparque Marmitas e Oriçangas os conhecimentos geográficos e ambientais particulares à cachoeira seriam conservados e transmitidos. À criação seriam implantados os critérios de utilização, o que poderia assegurar a proteção e a valorização do local. Dependendo da infra-estrutura que se implantasse no parque, programas educativos poderiam ser desenvolvidos, com sessões temáticas, incluindo desde a formação do planeta Terra, os tipos de rochas, os agentes de intemperismo, conservação ambiental, fauna e flora, etc. No nosso entendimento, com o parque estruturado adequadamente, o estudante desenvolveria as seguintes capacidades: - Ampliar a diversidade de interesses; - Desenvolver a capacidade de observação; - Despertar o espírito de curiosidade e a reflexão crítica; - Manifestar o desejo de descobrir e de aprender; - Respeitar normas de conduta para preservação do local. As barreiras a tal ideia seriam o convencimento dos proprietários dos terrenos e as entidades públicas que deveriam ser responsáveis pela implantação como, por exemplo, a Prefeitura Municipal de Altinho. A propriedade privada é ‘sagrada’ no Brasil, mas se houver um plano de recuperação ou reconstrução do ambiente natural, o proprietário poderia ser envolvido na administração e gestão do parque. À prefeitura caberia o interesse político e a capacidade de criar uma comissão que pudesse administrar e propor encaminhamentos didático-pedagógicos para o amplo aproveitamento científico do local.
  • 62. 62 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Há anos que o autor deste trabalho encaminha alunos de Ensino Fundamental e Médio para apreciarem a paisagem da Cachoeira Grande. Nessas visitas, são explicados os fenômenos naturais e antrópicos que transformam a paisagem local. A concentração da erosão fluvial num pequeno trecho do rio Una favorece uma particularidade que ainda não se conhece noutro lugar da mesorregião Agreste Pernambucano. Presenciamos esses fenômenos erosivos, também, no rio dos Bois, no município de Venturosa, no rio Ipojuca, no Sítio Malhada das Caveiras, a jusante da cidade de Caruaru, mas nenhum desses lugares é tão expressivo como a Cachoeira Grande, em Ituguaçu, Altinho – PE. O trabalho concluído pode servir de manual ou fonte de pesquisa para os interessados e estudantes. Nele, foram descritos e analisados os fenômenos naturais responsáveis por uma paisagem única na nossa região, a qual deve tornar-se conhecida e valorizada, tanto pelo potencial didático-pedagógico, quanto pelo potencial turístico. Não devemos cultivar aquela ideia de que o lugar é sagrado e ninguem mais pode entrar. Deve-se divulgar e utilizar como área de visitação e aprendizagem, além de lazer e apreciação. Muito devemos discutir sobre o local. Se é adequado para se tornar um geoparque, os órgãos públicos responsáveis têm que encaminhar as orientações e fiscalizar. Se acharem conveniente discutir com os geógrafos sobre a utilização adequada, devemos estar à disposição. Temos muita capacidade para contribuir na construção de uma ideia que será formidável para todos. Claro, se a utilização for correta. Ao realizar esta pesquisa - que por sinal está incompleta, dada a complexidade do conhecimento geográfico, tão imensamente abrangente – muitos aspectos foram descobertos e descritos sobre o local, o que poderá se transformar em motivação para se estudar o próprio local ou, mesmo, muitos outros que existam na nossa mesorregião, conhecendo-se e divulgando-se para que possamos valorizar o que é nosso.