O documento discute a falta de planejamento do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014, levando a atrasos nas obras de estádios e infraestrutura. Apesar de anos de antecedência, quase todas as obras foram deixadas para última hora, com suspeitas de superfaturamento. A estrutura de transportes também é precária e ineficiente, podendo comprometer o evento.
Artigo - A Desorganização Brasileira para o Mundial de 2014
1. A Desorganização Brasileira para o Mundial
de 2014
Flávio Moura afirma que o objetivo deste artigo não é discutir política, muito menos o esporte,
mas destacar a falta de planejamento e os malefícios do atraso nas obras da Copa de 2014.
Mesmo sendo o único país pentacampeão mundial de futebol, e o
único a participar de todas as Copas, o Brasil sediou apenas uma
das dezenove edições já realizadas do evento. Agora, sessenta e
quatro anos após a Copa de 1950, finalmente fomos privilegiados
com a incumbência de novamente organizar esse evento, a Copa
de 2014. Além disso, o Rio de Janeiro também foi escolhido como
sede dos Jogos Olímpicos de 2016, outro importante evento
esportivo mundial.
Segundo o COI (Comitê Olímpico Internacional), o fato dessa
capital já ser uma das doze cidades que realizarão os jogos da
Copa de 2014 pesou na decisão, pois a infraestrutura já vai existir e poderá ser perfeitamente reaproveitada
evitando investimentos desnecessários.
Para receber o evento, o então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou um termo na FIFA onde o
país se comprometia em construir ou readequar, em tempo hábil, os doze estádios onde os jogos seriam
realizados e a prover toda a infraestrutura necessária para a realização do evento. A estimativa inicial era que
mais de R$ 25 bilhões fossem investidos em transporte, estádios, segurança, turismo e qualificação profissional,
de modo que o Brasil possa aproveitar ao máximo todas as oportunidades de negócio geradas pelo evento e
receba com qualidade os milhares de turistas que certamente estarão presentes no mundial.
O anúncio oficial do país sede da Copa de 2014 foi feito na Suíça em 2007, ou seja, com sete anos de
antecedência. O fato é que, passados quase cinco anos desde esse importante anúncio percebemos uma
morosidade nos processos de reforma, ampliação e construção dos estádios, onde praticamente tudo foi deixado
para última hora. O estádio onde será, ou deveria ser realizada, a abertura do campeonato, em São Paulo,
somente agora deixou de ser apenas uma maquete.
Em todas as cidades-sedes há suspeitas de superfaturamento e, sob o argumento do exíguo tempo para
realização das obras, até o modelo de licitação foi alterado. No Rio de Janeiro, por exemplo, a obra de reforma
do Maracanã, orçada inicialmente em cerca de R$ 730 milhões já chega perto de R$ 1 bilhão.
A estrutura de transportes, além de precária, é totalmente ineficiente. O transporte aeroviário não consegue
atender nem a demanda doméstica quem dirá um evento dessa importância, basta acompanhar o caos num
feriado com final de semana prolongado, onde a adequação dos aeroportos também passa por atrasos em todos
os cronogramas de reformas e ampliações e muitos ficarão prontos somente para a Olimpíada de 2016.
É óbvio que todos esses projetos foram previamente pensados e discutidos, mas devido ao tempo relativamente
curto várias ações estão sendo realizadas isoladamente e não contemplam os dois eventos, tampouco resolvem
de uma vez por todas os problemas brasileiros de infraestrutura, o que evitaria retrabalho e a necessidade de
futuros investimentos.
O objetivo deste artigo não é discutir política, muito menos o esporte, mas destacar a falta de planejamento e os
malefícios do não cumprimento do cronograma das obras para a Copa de 2014. O governo brasileiro tem um
calendário atrasadíssimo de obras, e se não tomar rapidamente as rédeas da situação esse campeonato se
transformará em mais uma vitrine da desorganização brasileira, restando aos brasileiros torcer para que o
desempenho da nossa seleção seja bem melhor em campo que os envolvidos na organização do mundial, pois
somente assim poderemos sonhar em conquistar o hexacampeonato.
Em relação aos eventos, é bem provável que no final tudo dê certo, como brasileiro assim espero. O problema é
que executando obras às pressas e mudando constantemente os cronogramas, os custos já se elevaram e vão
2. elevar ainda mais, isso é fato. Quanto às empresas, para fazer o melhor, é necessário antes de tudo planejar,
independente do porte da organização, evitando situações que levem alguém a dizer "já que estamos atrasados,
não economizem para entregar o mais rápido possível".
O que tenho percebido é que algumas organizações estão perdendo a oportunidade de aprender com todos os
desafios que têm passado, deixando de utilizar as soluções encontradas em outros momentos, ou seja, achando
que o sucesso ou insucesso é fruto da sorte e do acaso.
Para Harold Kerzner, autor conhecido como o "pai" da gestão de projetos, para que um projeto obtenha bons
resultados é necessário primeiramente que todos compreendam suas responsabilidades, depois que exista uma
identificação dos possíveis riscos, de forma que possam ser gerenciados, planejando assim ações preventivas e
corretivas. Por último, o autor afirma que é necessário estabelecer um plano cuja finalidade seja orientar,
solucionar problemas e facilitar a tomada de decisão, permitindo que os gestores passem mais tempo
gerenciando e não solucionando conflitos e resolvendo problemas.
Existem muitos métodos e padrões, mas é necessário praticar muito e desenvolver um modelo de gestão que
seja mais adequado à empresa. Deixando de planejar, o gestor perde a visão da realidade, tornando-se mais
difícil encontrar e avaliar caminhos que o levem aos objetivos. Vamos explorar nossos erros e acertos, de forma
que o sucesso seja compartilhado e o fracasso consista em uma lição aprendida.
Flávio Moura
Palestrante e consultor empresarial
flavio@caputconsultoria.com.br