1) O documento introduz os quatro evangelhos do Novo Testamento, que narram a vida e mensagens de Jesus Cristo.
2) Cada evangelista é representado por um símbolo animal - Mateus pelo homem, Marcos pelo leão, Lucas pelo touro e João pela águia.
3) Acredita-se que os evangelhos de Mateus e Lucas usaram o evangelho de Marcos e uma fonte hipotética chamada Q como base para seus escritos.
1. Introdução aos Evangelhos
INTRODUÇÃO:
Os cristãos consideram os quatro Evangelhos como o centro do Novo Testamento. A palavra
Evangelho vem do Grego que significa Boa Nova. Entre os cristãos passou a significar a mensagem
de Cristo, “aquilo que Jesus fez e disse” (At 1, 1). A Igreja reconhece 4 narrações dos Evangelhos
como inspirados e canônicas: O Evangelho segundo São Mateus, Marcos, Lucas e João.
OS QUATRO EVANGELISTAS:
Os quatros evangelistas são Mateus, Marcos, Lucas e João Marcos e Lucas não fazem parte
dos Doze Apóstolos. Conforme uma profecia de Ezequiel e uma passagem em Apocalipse (Ez 1, 4-10,
e Ap 4, 6-8). a tradição cristã dos séculos II/IV representa os evangelistas por símbolos ou figuras de
animais, da seguinte maneira:
Mateus - representado pela figura de um homem, porque começou a escrever seu Evangelho
dando a genealogia de Jesus (dimensão da obra prima de Deus; a imagem e semelhança de Deus);
Marcos - representado pela figura de um leão, porque começou a narração de seu Evangelho
no deserto, onde mora a fera (dimensão de força, realeza, poder, autoridade);
Lucas - representado pelo Touro, porque começou a narração pelo templo, onde eram
imolados os bois (dimensão de oferta);
João - representado pela Águia, por causa do elevado estilo de seu Evangelho, que fala da
Divindade e do Mistério altíssimo do Filho de Deus.
A FORMAÇÃO (COMPOSIÇÃO) DOS EVANGELHOS:
Atualmente a teoria das fontes e uma teoria defendida pela maioria dos exegetas, para
explicar a formação dos Evangelhos sinóticos. Esta teoria afirma o seguinte: Marcos é o mais antigo
dos nosso Evangelhos, seguido por Mateus e Lucas, independentemente um do outro, Acredita-se
que existiu um outro documento especial onde havia Palavras e discursos de Jesus. Esse documento
hipotético, que deve ter sido escrito em grego, é chamada “Q”, do alemão Quelle (fonte), teria sido
uma fonte usada para compor, juntamente com o Evangelho de Marcos, os Evangelhos de Mateus e
Lucas. Quanto ao Engelho de São João foi escrito, em grego, por volta do ano 100.
O Evangelho foi anunciado oralmente e depois escrito. Há um intervalo de 30 a 70 anos entre
Jesus e o texto definitivo dos Evangelhos. Na verdade Jesus pregou sem deixar nada por escrito,
nem tampouco mandou os apóstolos escreverem. A Igreja admite três etapas nesse período de
tempo:
a. De Jesus aos Apóstolos - Jesus pregava a Boa Nova usando a linguagem dos rabinos
(Parábolas), Após a ressurreição, Cristo investiu os apóstolos da missão de pregar o Evangelho por
todo o mundo, o que se deu após o dia de Pentecostes.
b. Dos Apóstolos às primeiras Comunidades cristãs - Jesus morreu e ressuscitou não
abandonou os seus discípulos. Enviou o Espírito Santo para orientar os Apóstolos na fiel pregação do
Evangelho. Ele mesmo disse “não vos preocupeis com o que haveis de dizer...” A mensagem de
Jesus foi levada de Jerusalém para Samaria, Galiléia, Síria, Grécia, Roma ... Até os confins da terra.
Depois da morte de Jesus e reunindo comunidades para viver um estilo de vida de acordo com a
Palavra e a ação de Jesus.
Essa pregação inicial era chamada de primeiro anúncio, ou Kerigma, era uma pregação curta,
que gerava frutos de conversão e a adesão a Jesus, cujo tema central era a vitória de Jesus sobre o
pecado e a morte obtida na cruz - Páscoa -, a ressurreição etc...
2. Depois desse anúncio começava a catequese, isto é, de educação para uma vida segundo a
fé. É esta etapa de catequese nas comunidades iniciarem as tradições orais e também os primeiros
escritos que formaram mais tarde os Evangelhos, pois a medida que iam pregando o Evangelho, os
apóstolos sentiram necessidade de escreverem o que pregavam para facilitar a aprendizagem texto
de parábolas, milagre, profecias, narrativas da paixão e ressurreição, para poder transmitir as
verdades da fé.
c. Das primeiras Comunidades cristãs aos Evangelhos - Assim os evangelho são um espelho de
catequese que era feita nas primeiras comunidades cristãs. Essa pregação chamava-se dedachê, nela
estava incluído o conteúdo do querigma, passando porém, a uma formação cristã mais profunda
para aquelas comunidades. O Sermão da Montanha é um exemplo clássico da didachê.
Das diversas compilações feitas nas Comunidades, quatro foram reconhecidas pela Igreja
como canônicas, isto é autêntica Palavra de Deus. Dai surgiu os quatro Evangelhos segundo Mateus,
Marco, Lucas e João. Os quatro Evangelhos são semelhantes entre si porque tratam do mesmo
Jesus. Apresentam variações diferentes porque nasceram em comunidades diferentes. Os
Evangelhos aparecem entre 30 e 70 anos depois da morte de Jesus. A intenção não era fazer uma
biografia, uma história de Jesus. Queriam, sim, converter, esclarecer e manter vivo nas comunidades
o compromisso com Jesus, recordando suas palavras, sua morte e ressurreição.
FIDELIDADE HISTÓRICA DOS EVANGELHOS
Mesmo se fora da Bíblia não tivéssemos testemunho algum sobre a vida de Jesus não seria de
modo algum para se estranhar, levando em conta que para historiografia daquela época, a vida de
Jesus não podia constituir um acontecimento da importância decisiva. Porém tais testemunhos
existem. Flávio José (37-97dC) - nascido em Jerusalém, conheceu a primitiva comunidade cristã de
Jerusalém. Membro de uma família da nobreza sacerdotal, interessou-se em observar, criticar e até
escrever sobre esta nova religião e sobre seu fundador Jesus Cristo. Plínio o Moço (62-114dC) -
governador da Província da Bitínia pediu instruções ao imperador Trajano sobre o comportamento a
adotar com relação aos cristãos.
1. A mensagem de Jesus Cristo se propagou como o acompanhamento dos Apóstolos. - As
comunidades surgiram sempre com a presença de um apóstolo. Lembremo-nos, por exemplo, de
que, “quando os apóstolos souberam em Jerusalém que a Samaria tinha recebido a Palavra de Deus,
enviaram Pedro e João para lá (At 8, 14). “Pedro viajava por toda parte” na terra de Israel, a fim de
atender às necessidades dos cristãos (At 9, 32). São Paulo mantinha intercâmbio com as
comunidades da Ásia Menor, da Grécia e de Roma, recebendo mensageiros e enviando cartas às
mesmas. O mesmo se diga dos outros apóstolos cujos escritos atestam o zelo pela conservação da
integra da doutrina. Veja também outros textos que mostram o contato constante das novas
comunidades com a Igreja-mãe de Jerusalém: At 11, 27-29 - At 15,2 - At 18, 22; I Cor 16, 3; II Cor
8, 14.
2. Os apóstolos tinham consciência de lidar com uma tradição santa e intocável. São Paulo
dizia aos Coríntios: “ Eu vos transmiti aquilo aquilo que eu mesmo recebi” ( I Cor 15,3; 11,23). O
Evangelho pregado por São Paulo aos gentios, foi reconhecido pelos grandes apóstolos de Jerusalém
( Gl 2,7-9) . Os Tessalonicenses eram exortados a manter a tradição recebida e afastar-se de quem
não a seguisse (II Ts 2,15). Antes de morrer, São Paulo recomenda a Timóteo que transmita o
depósito santo a homens de confiança que sejam capazes de o passar a outros( II Tm 2,2) . É dever
dos ministros de Cristo que sejam fiéis ( I Cor 4,1s; Its2,4).
3. Os apóstolos inspirados pelo Espírito Santo discerniram o que era autêntico e o que era
mito. E cuidaram para que tais mitos não se mesclassem com a autêntica doutrina de Cristo. A Igreja
recolheu os mitos, desvios e erros doutrinários ocorridos na pregação da mensagem cristã e chamou
3. de literatura apócrifa. São Paulo tem consciência de que mitos não fazem parte da mensagem
Evangélica, e por isso, devem ser banidos da pregação (I Tim 1, 4; 4, 7; II Tm 4,4; Tt 1, 14 e
também cf I Pd 1, 16).
Apócrifo - Os mitos erros e desvios ocorridos na pregação da mensagem cristã dos primeiros
foram recolhidos na chamada literatura apócrifa, cujo estilo é evidentemente imaginoso e fictício. A
Igreja teve a assistência do Espírito Santo para discernir claramente o autêntico e não autêntico.
Mito - Os mitos todos têm estilo vago, do ponto de vista da cronologia e da topografia.
Refere-se, geralmente como contexto um tempo fora do tempo. Tem como heróis em geral os
primeiros homens à volta com deuses ou seres maus; não podem se referir a uma época histórica
precisa; na maioria das vezes e pessimista ou fatalista; não deixando ao homem o direito de exercer
sua liberdade e responsabilidade. Com os Evangelhos (e toda a Palavra de Deus) dá-se o contrário: o
local é exato - a Palestina -, a cronologia é exata e comprovada pela história, como se pode verificar
menções a César Augusto (Lc 2, 1) Tibério César, Pôncio Pilatos (Lc 3, 1s).
COMO SURGIU O NOVO TESTAMENTO?
Entre a vida de Jesus e a composição dos escritos do Novo Testamento não há um espaço
vazio sem literatura. Entre o período de 30 a 50 dC. houve uma grande tradição oral, e também a
fixação de uma tradição escrita que dava testemunho de Jesus crucificado e ressuscitado dentre os
mortos. Ele tinha contato com a fé, a difundia, vivia em meio às comunidades cristãs, não era
alguém isolado, que observava os fatos “de fora”, era alguém que guardava em seu coração a viva
tradição oral e que depois passou a registrar em escritos inspirados. Assim, primeiro veio a tradição
oral, que era viva e eficaz no seio da Igreja nascente. A Igreja nasceu, os seus primeiros membros,
homens e mulheres “afortunados”, que geralmente conviveram diretamente com Jesus, começaram
a se mexer e foram surgindo as primeiras comunidades e assim a mensagem foi se espalhando.
Depois começa a surgir a tradição escrita; os primeiros escritos, as primeiras cartas.
Muitos pensam que os 4 Evangelhos foram escritos por primeiro, já que falam tão diretamente
das ações de Jesus, mas não foi assim, o escrito mais antigo do Novo Testamento é a I Carta de São
Paulo à comunidade de Tessalônica, na Grécia, no ano 51 dC, ou seja 18 anos depois da Páscoa do
Senhor. É só por volta de 64 dC que aparece o primeiro Evangelho, escrito por Marcos.
O Novo Testamento foi escrito inteiramente em grego, na língua “comum” da época. É
importante notar que toda a riqueza do Novo Testamento veio da Igreja. Primeiro surgiu a Igreja,
primeiro veio a necessidade dos cristãos estarem juntos, unidos, e dessa união, dessa fundação
vieram os escrito inspirados e canônicos.
O que significa a inspiração bíblica (livro inspirado) e revelação?
Distingue-se da inspiração no sentido usual da palavra, pois não é ditado mecânico, nem
comunicação de idéias que o homem ignorava. Inspiração bíblica é a iluminação da mente de um
escritor para que, sob a luz de Deus possa escrever, com as noções religiosas e humanas que possui,
um livro portador de autêntica mensagem divina ou um livro que transmite fielmente o pensamento
de Deus revestido de linguagem humana.
A finalidade da inspiração bíblica é religiosa, e não da ordem das ciências naturais. Toda a
Bíblia é inspirada de ponta a ponta, em qualquer de seus livros. Certas passagens bíblicas, além de
inspiradas, são também portadoras de revelação ou da comunicação de doutrinas que o autor
sagrado não conhecia através da sua cultura. Por exemplo: é uma revelação e não inspiração a
verdade de que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Nunca os homens chegariam por si a conhecer
tais verdades. Por isto o judaísmo e o cristianismo são religiões reveladas. Atenção: Nem todas as
páginas da Bíblia são portadoras de revelação divina, mas todas as páginas são inspiradas.
4. O que é um escrito Canônico?
Cânon vem do grego Kanná, caniço. Significa catálogo, registro. Neste sentido os cristãos
passaram a falar do cânon bíblico ou da Bíblia = catálogo dos livros bíblicos. A Igreja possuía, desde
o primeiro dia de sua existência, um cânon das Escrituras inspiradas: o Antigo Testamento. Porém a
Igreja primitiva tinha três autoridades: o Antigo Testamento, o Senhor e os apóstolos. contudo, a
autoridade maior e decisiva era Cristo, o Senhor. As palavras do Senhor e os relatos dos seus feitos
começaram a ser redigidos. Em sua obra missionária, os apóstolos tiveram a necessidade de escrever
a certas comunidades e estes escritos, passado algum tempo, ganharam a mesma autoridade dos
escritos do Antigo Testamento. Os Evangelhos, embora não sejam os escritos mais antigos do Novo
Testamento, foram os primeiros a serem colocados em pé de igualdade com o Antigo Testamento e
reconhecidos como canônicos. Coube sempre a Igreja a tarefa de reconhecer quais os livros
inspirados, visto que os escritos nasceram da Igreja e com a Igreja.