1. O Que é o Novo Testamento?
O Novo Testamento é a segunda parte da Bíblia Sagrada que registra a história
da redenção a partir da vinda do Senhor Jesus Cristo ao mundo. A expressão
“Novo Testamento” vem de uma designação grega que pode ser melhor
traduzida por “Nova Aliança”.
Aqui vale lembrar que a Bíblia Cristã é dividida em duas porções: Antigo e Novo
Testamentos. O Antigo Testamento é a porção que corresponde à Bíblia hebraica,
e diz respeito ao antigo pacto de Deus com o seu povo escolhido. Logo, o Novo
Testamento é a porção que traz o novo pacto firmado por Deus com a
humanidade na pessoa de Cristo.
Em certo sentido, há um contraste entre o Antigo e o Novo Testamento, mas isso
não quer dizer que há uma contradição entre um e outro. Esse contraste implica
no fato de que o Novo Testamento traz a aliança de Deus com o homem sob uma
nova forma. Em outras palavras, o Novo Testamento se mostra ser o cumprimento
do Antigo Testamento.
Isso fica muito claro no episódio em que Jesus instituiu a Ceia do Senhor como
ordenança para sua Igreja. Naquela ocasião, Jesus falou da nova aliança como
sendo a nova base do relacionamento entre o homem e Deus, estabelecida
através de sua obra redentora (Lucas 22:20; 1 Coríntios 11:25).
Essa nova aliança, no entanto, só faz sentido se for tomada como cumprimento
da antiga aliança, já que ela apresenta um sacrifício perfeito e definitivo que é
adequado para resolver o problema do pecado de uma vez por todas, e que foi
apenas prenunciado no antigo pacto através de seu sistema sacrifical transitório
(Hebreus 9:11-22; 10:16-25; cf. Jeremias 31:31-34).
Quem escreveu o Novo Testamento?
Algumas das pessoas que escreveram os livros do Novo Testamento foram
testemunhas oculares do ministério do Senhor Jesus Cristo. Já outras pessoas,
foram contemporâneas e associadas àquelas que foram testemunhas oculares.
Então alguns dos escritores do Novo Testamento foram apóstolos que
pertenceram ao grupo dos doze discípulos de Jesus, como Pedro, João e Mateus.
2. Outros, no entanto, viveram naquele mesmo período, mas não acompanharam o
ministério de Jesus.
O evangelista Marcos, por exemplo, segundo uma antiga tradição teria sido um
jovem nos dias do ministério de Jesus, mas não foi alguém que se envolveu de
forma ativa com ele. Algo semelhante também pode ser dito sobre Tiago e Judas,
que acredita-se que foram irmãos de Jesus e, portanto, foram pessoas que
conviveram com o Senhor, mas não foram citadas como seus seguidores durante
seu ministério.
O apóstolo Paulo, que é o maior escritor no Novo Testamento, também foi
contemporâneo de Jesus, mas não acompanhou seu ministério. Na
verdade, Paulo de Tarso aparece primeiro no Novo Testamento como um
perseguidor dos cristãos, e só depois como um convertido a Cristo.
Já o evangelista Lucas também foi alguém que não acompanhou o ministério de
Jesus como testemunha ocular, mas ele teve contato com pessoas que
acompanharam. O mesmo também pode ser dito do anônimo escritor da Carta
aos Hebreus, que recebeu o Evangelho de pessoas que ouviram diretamente de
Jesus (Hebreus 2:3-4).
Então apesar de a mensagem central do Novo Testamento girar em torno dos
eventos e dos ensinos de Cristo, o próprio Cristo não deixou nenhum livro escrito
de próprio punho para nós. Portanto, todas as pessoas que escreveram os escritos
do Novo Testamento foram escolhidas por Deus para a tarefa de registrar a sua
santa Palavra de forma inspirada e infalível.
Como e quando o Novo Testamento foi
escrito?
O Novo Testamento foi escrito num período de mais de cinquenta anos, com o
primeiro livro tendo sido escrito provavelmente a partir de 44 d.C., e o último livro
em aproximadamente 96 d.C.
Naquele tempo o idioma falado na Palestina era o aramaico, mas o grego koiné
era o idioma comum do mundo greco-romano. Então os escritores bíblicos
escreveram os livros do Novo Testamento em grego, que era o idioma mais
difundido.
3. Alguns estudiosos acreditam que talvez a única exceção tenha sido o Evangelho
de Mateus, que existe a possibilidade de ter sido escrito primeiro em aramaico
ou hebraico, e depois traduzido ou reescrito em grego.
O material utilizado para o registro dos livros do Novo Testamento foi o papiro,
que era feito basicamente de fibras vegetais. Embora muito comum naquele
tempo, o papiro não tinha uma boa resistência ao uso. Por isso, os documentos
originais do Novo Testamento — chamados de “autógrafos” — não existem mais,
porém o seu conteúdo foi preservado em muitas cópias antiguíssimas que
possuem coesão e fidelidade inquestionáveis.
Como o Novo Testamento está organizado?
O Novo Testamento é formado por um total de 27 livros que foram organizados
em quatros categorias:
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Histórico: Atos dos Apóstolos.
Epístolas: Romanos, 1 e Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom,
Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.
Profético: Apocalipse.
Essas categorias possuem ainda algumas particularidades. Os Evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas, por exemplo, são chamados de “Evangelhos Sinóticos”,
por causa da similaridade de seus conteúdos.
A categoria das epístolas também é subdividida em categorias menores. Por
exemplo: entre Romanos e Filemom, temos as chamas “Epístolas Paulinas”;
enquanto entre Hebreus e Judas, temos as “Epístolas Gerais”.
As cartas de Paulo ainda são organizadas em diferentes grupos. Por
exemplo: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom são as “Cartas da Prisão”. Por
fim, 1 e 2 Timóteo e Tito são as “Cartas Pastorais”.
A formação do Cânon do Novo Testamento
O processo de formação do Cânon do Novo Testamento foi muito natural. Desde
muito cedo a Igreja recebeu os escritos neotestamentários como Escritura
Sagrada. Em sua maioria, os livros do Novo Testamento foram escritos
4. especialmente para servirem de forma específica à várias comunidades cristãs do
primeiro século, e conforme essas comunidades receberam esses escritos, elas
também aceitaram a autoridade deles.
Mas naquele tempo outros escritos também circulavam entre os cristãos.
Inclusive, alguns desses escritos, no entanto, eram produzidos por falsos mestres
que desejavam corromper o Evangelho que estava sendo pregado. Outros
escritos até contavam com algum valor devocional, mas não eram inspirados.
Contudo, à medida que o tempo foi passando, a Igreja foi identificando essas
obras e rejeitando-as por não possuírem autoridade divina.
Então provavelmente ainda no final do primeiro século, a Igreja Primitiva já tinha
reunido uma coleção de escritos contendo pelo menos os quatro Evangelhos e
as epístolas de Paulo. Mais tarde, em aproximadamente 170 d.C., o Cânon
Muratóriano já era formado pelos quatro Evangelhos, o livro de Atos dos
Apóstolos, as epístolas de Paulo e Judas, duas epístolas de João e o livro do
Apocalipse.
Por fim, no século 4 d.C. o Cânon do Novo Testamento já estava completamente
formado com os seus 27 livros tendo sido amplamente reconhecidos pela Igreja
Cristã. Esse reconhecimento foi reafirmado nos Concílios de Cartago (397) e
Calcedônia (451).
Mas é importante entender que o Cânon do Novo Testamento definitivamente
não foi criado ou decidido de forma arbitrária. Algumas pessoas pensam que um
grupo de líderes da Igreja se reuniu e decidiu o que era ou não canônico, mas
não foi assim. Os Concílios simplesmente reconheceram o que já tinha sido
naturalmente aceito pela Igreja como um todo.
O contexto do Novo Testamento
O contexto histórico do Novo Testamento foi o mundo greco-romano do primeiro
século. Nesse período, toda a região do Mediterrâneo estava helenizada e governada
pelo Império Romano que despontou após a fragmentação do antigo Império Grego.
5. O Império Romano conseguiu promover paz em suas províncias, além de uma
infraestrutura jamais vista que facilitava o transporte, o comércio e as
comunicações.
A Judéia, governada pelo rei Herodes, era uma dessas províncias romanas. A
narrativa do Novo Testamento tem início exatamente nesse contexto
histórico. Quando Jesus nasceu, Herodes ainda era o monarca da Judeia. Porém,
pouco depois Herodes acabou morrendo, e seu filho, Arquelau, assumiu o seu
lugar.
Mas tão logo Arquelau foi banido de sua posição e a Judeia e Samaria foram
colocadas sob administração direta de Roma através de uma série de
governadores. Um desses governadores foi Pôncio Pilatos, que governou a Judeia
durante o ministério de Jesus.
Já a província da Galileia, onde Jesus cresceu, era governada por Herodes Antipas,
filho do rei Herodes. Já na época da Igreja Primitiva descrita no livro de Atos dos
Apóstolos, a Galileia era governada pelo neto do rei Herodes, o Herodes Agripa.
Foi esse Herodes Agripa que perseguiu os apóstolos nos primeiros anos da Igreja
Primitiva, e depois morreu comido por vermes por ter tentado receber para si a
glória de Deus.
Com a morte de Herodes Agripa, a administração daquele território ficou sob os
cuidados dos governantes romanos. Apenas uma pequena área foi deixada sob
o governo de Agripa II.
À medida que o Evangelho se espalhou por todo o Império, muitas outras cidades
e províncias romanas serviram como pano de fundo histórico do Novo
Testamento, como por exemplo, as províncias da Galácia e a da Ásia Menor.
No tempo do Novo Testamento ainda havia diferentes grupos religiosos e/ou
políticos entre os judeus, como os fariseus, os saduceus, os essênios e os zelotes.
Em 66 d.C. os conflitos entre judeus e romanos resultaram numa revolta, e em 70
d.C. a cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos. Provavelmente apenas as
obras do apóstolo João foram escritas após esse período.
A mensagem do Novo Testamento
A mensagem central do Novo Testamento é o Evangelho do Senhor Jesus Cristo
e os desdobramentos do seu ensino para a sua Igreja. Toda a mensagem do Novo
Testamento possui um caráter de instrução.
6. Evangelhos
Os quatro Evangelhos são as principais fontes de informação sobre a vida de
Jesus. Os quatro Evangelhos abrem o Novo Testamento mostrando que o evento
que dividiu a história para sempre foi o advento de Cristo.
Embora Cristo fosse eterno, houve um momento em que Ele entrou na história
humana. Os Evangelhos registram o mistério da maravilhosa encarnação divina,
quando o Verbo de Deus “se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória,
glória como do Unigênito do Pai, repleto de graça e de verdade” (João 1:14).
Então os quatro Evangelhos cobrem os principais eventos do ministério de Jesus,
de modo a mostrar um panorama geral de sua obra redentora até sua morte,
ressurreição e ascensão ao Céu. Cada qual com sua ênfase teológica particular,
os quatro Evangelhos mostram o caráter real, profético e divino da obra de Cristo,
destacando sua plena humanidade e sua plena divindade.
Atos dos Apóstolos
O livro de Atos dos Apóstolos registra os eventos que tiveram lugar após
a ascensão de Jesus ao Céu. Então o livro narra os primeiros passos da Igreja
Primitiva e informa como o Evangelho se espalhou de Jerusalém para todo o
território romano, chegando até mesmo à cidade de Roma, a capital do Império.
Grande parte da narrativa do livro de Atos dos Apóstolos enfoca os ministérios
dos apóstolos Pedro e Paulo. Inclusive, é o livro de Atos dos Apóstolos que
registra as notáveis viagens missionárias de Paulo.
Epístolas
As epístolas são os escritos que trazem importantes formulações doutrinária para
a Igreja. As epístolas do Novo Testamento foram escritas pelos apóstolos e outros
autores ligados a eles, e contam com a total inspiração divina.
Então sob a autoridade divina, essas cartas foram enviadas a várias igrejas locais
ou indivíduos que precisavam de orientação da parte do Senhor. Essas cartas
foram preservadas e, com sua mensagem atemporal, continuam essenciais para
a Igreja de todas as épocas e lugares.
7. Apocalipse
A mensagem do Novo Testamento termina com o livro do Apocalipse, o último
dos vinte e sete livros a ser escrito. O livro do Apocalipse registra as visões que
o apóstolo João recebeu da parte do Senhor enquanto estava exilado na Ilha de
Patmos.
De forma primária, o livro registra a situação das sete igrejas da Ásia Menor no
final do primeiro século, bem como o conflito dos cristãos com o Império
Romano. Mas através de uma linguagem simbólica, no livro do Apocalipse tudo
isso também é colocado como um quadro profético que ilustra a realização do
propósito divino na história, e apresenta um presságio dos acontecimentos finais
da presente era.