O autor reflete sobre 30 anos de ministério musical e aprende que o que importa é o que Deus faz através dele, não o que ele faz. A felicidade vem de nos tornarmos "homens e mulheres de fogo, artistas incendiados de amor, pelo Espírito de Deus". A santidade só é encontrada colocando nossa arte no coração de Deus.
1. Nossa Arte no coração do Pai
Dia 19 de Novembro passado completou-se 30 anos que eu toquei pela
primeira vez em uma missa. Eu tinha apenas 10 anos. Estas ocasiões acabam nos
levando a fazer algumas reflexões, tais como: "o quê consegui fazer até aqui?"
Passei dias e dias com isso na cabeça. Olhava para a realidade da Diocese, de
cada paróquia, pensava nos problemas e nas maravilhas que a cada momento chegam
até mim por telefone, carta, e-mail... fiquei imaginando: "Meu Deus, não fiz nada, não fiz
nada!"
Justamente na semana do dia Deus olhou pra mim (o jeito foi eu olhar pra ele
também) e disse, com voz de carinho: "o que você vem fazendo, Luis, importa à medida
que seu coração está totalmente aberto para o que EU venho fazendo. Importa o que
EU faço, em sua vida, em sua família, no seu ministério, importa o que EU faço".
Pronto! Fiquei com aquela expressão de "Ah, é mesmo!" que a gente às vezes
assume quando passa duas horas tentando resolver uma equação de segundo grau e o
professor ou um colega mais esperto vem e mostra em dez segundos como se faz.
Não há dúvidas, podemos ver: em São José brotam novas experiências, novo
ardor, novo jeito. Ministérios que outrora estavam quase acabando acordam de um sono profundo, músicos que tocavam
intrigados uns com os outros se perdoam e passam a ser como uma família, nos mais variados lugares surgem grupos
de dança, teatro, gente que faz quadrinhos para evangelização, eventos são criados pela coragem que viram um Hallel
Vale acontecer.
No entanto isso tudo passa a fazer sentido somente a partir do momento que existe em função do Senhor. Obras
humanas também crescem em todos os lugares. O que nos difere delas é justamente aquilo que Deus faz, e não o que
nós fazemos.
Então fui adentrando no mar, aos poucos, olhei para o céu e perguntei: "E agora?"
De repente ouvi o barulho da água bem próximo a mim e uma onda veio e me derrubou. Agora é mergulhar,
deixar-se envolver!
E é aí que partilho com vocês um segredo que o Pai me revelou, talvez como um presente pelo aniversário de 30
anos: a Comunidade, o grupo, seu ministério... tudo isso existe somente por um motivo: por quê Deus nos quer felizes e
Ele sabe que a felicidade é possível se nos tornarmos homens e mulheres de fogo, artistas incendiados de amor, pelo
Espírito de Deus. Cidadãos de um outro reino, desbravadores dos caminhos da santidade, que é na realidade nosso
verdadeiro Paraíso.
Incendiados por esse amor e atrevendo-nos a embarcar nesta expedição rumo à santidade, inevitavelmente
faremos de cada um que cruzar nosso caminho uma pessoa de louvor e de adoração, não por força (meus esforços
unicamente), não pela espada (querendo convencê-los de que nossa Arte é melhor), mas pelo Espírito de Deus, na
beleza do testemunho de nossos dons.
É também por isso que às vezes encontramos pessoas que participaram de inúmeros Acampamentos,
Congressos, Encontros, Retiros etc e ainda não conseguem dar passos concretos: estão buscando uma santidade
egoísta, no casulo de sua solidão. O Senhor nos coloca em uma Obra – Nossa Comunidade, o Grupo de Oração,
Ministério de mùsica - como que num laboratório, onde somos aperfeiçoados, onde experimentamos o gosto do nosso
verdadeiro lar.
A pessoa que busca a santidade sozinha lá no seu cantinho, ai nos encontros, bebe um pouquinho, volta pra
casa, se esvazia. Logo precisa de um outro encontro, senão se acaba. Pessoas que vivem assim são chamadas de
"cristão bexigão" - enche - esvazia - enche - esvazia. Eu, particularmente, quando vejo esses irmãozinhos que vivem
assim penso logo em "santinhos de 1,99" - e não vou nem comentar...
O segredo está em colocarmos nossa Arte no Coração de nosso Deus, só lá ela é acesa de verdade, somente lá
ela faz sentido.