4. Jorge Leal Amado de
Faria
* 10 de Agosto de 1913
+ 06 de Agosto de 2001 (87 anos)
5. Jorge Amado foi um dos escritores brasileiros com mais
livros vendidos e obras traduzidas, nesse quesito,
perde apenas para Paulo Coelho. O baiano escreveu
obras de cunho regionalista, enaltecendo o povo, a
terra e a cultura local. Com uma linguagem oralizada, o
escritor transformou em texto suas preocupações e
críticas sociais.
Pertencente ao segundo tempo do modernismo, o autor
teve suas obras transformadas em novelas, filmes,
peças e até quadrinhos. Entre as mais famosas e
reproduzidas estão: “Dona Flor e seus Dois Maridos”,
“Gabriela, Cravo e Canela”, “Tieta do Agreste” e
“Capitães da Areia”.
Sua extensa contribuição para a literatura foi
reconhecida em premiações, Amado ganhou o Prêmio
Camões e o Jabuti. Ainda ocupou a cadeira nº 23 na
Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é José de
6. Movimento Literário
O autor faz parte da segunda geração do
modernismo, marcada pelo neo-realismo
regionalista. Sua literatura pode ser dividida
em três etapas principais: a primeira tem
como temática os problemas sociais, a
segunda traz o ciclo do cacau, produzido em
larga escala na Bahia, e a terceira tem
enfoque no lirismo. A Bahia é muito presente
nos textos de Jorge Amado, em todas as
fases.
O movimento literário teve a contribuição de
outros grandes escritores, como Graciliano
Ramos, Raquel de Queiroz e José Lins do
Rego. No período, a prosa é um gênero
muito popular.
7. Estilo
Um grande contador de histórias. Ao
escrever suas obras, Jorge Amado tinha um
cuidado maior com a narrativa e não com a
estrutura técnica. O autor não demonstrava
preocupação com a estrutura literária ou
mesmo com as normas de ortografia e
gramática, o importante era contar bem a
história.
A linguagem oral ganha espaço na obra do
escritor baiano, dando naturalidade ao texto.
Nota-se uma fidelidade à língua falada pelo
povo que Amado retrata. A linguagem é
direta e popular, mas é importante ressaltar
que o tom poético ainda é percebido.
8. Principais Obras
A Morte e a Morte de Quincas Berro
D'Água
Capitães da Areia
Gabriela, Cravo e Canela
Mar Morte
Tieta do Agreste
9. Capitães de Areia
Capitães da Areia faz referência aos
meninos de rua de Salvador, menores
cuja vida desregrada e marginal é
explicada, de uma forma geral, por
tragédias familiares relacionadas à
condição de miséria. O grupo de
meninos que forma os Capitães se
esconde em um armazém
abandonado em uma das praias da
capital baiana.
10. Contexto
Sobre o autor
Jorge Amado pertence à segunda
geração da literatura modernista
brasileira, identificada como aquela que
abordou a temática nordestina. No caso
do escritor baiano, essa temática foi
focalizada sob o prisma do realismo
socialista, que aplicava à visão artística
da realidade os princípios do Marxismo,
do qual o autor foi adepto, chegando a
eleger-se deputado pelo Partido
Comunista Brasileiro
11. Quando o romance foi publicado, em
1937, autoridades baianas queimaram
exemplares em praça pública. O
episódio dá o tom do clima político da
época, com o início da ditadura
getulista do Estado Novo a repressão
começava a mostrar as suas garras.
12. Dora, a capitã da areia de Jorge
Amado
É em decorrência da bexiga que Dora fica
órfã e desce para a cidade com o seu
irmão Zé Fuinha para procurar trabalho.
Neta de italiano com uma mulata, a
menina dos seus 13 para 14 anos, era
bonita, tinha “olhos grandes, cabelo muito
loiro” (AMADO, 1997, p. 159), e os “seios já
haviam começado a surgir sob o vestido”
(AMADO, 1997, p. 157). A partir do contato
com o Professor e o João Grande, meninos
do bando de Bala, e pelo insucesso na
busca de um ganha-pão, ela se insere
no grupo dos Capitães da Areia.
13. A menina começa a representar, no
imaginário dos meninos, um elo
maternal e familiar, de aconchego e
proteção. Quando todos estão
reunidos, em uma noite chuvosa, para
ouvir as histórias que o Professor
contava, Amado descreve esse
sentimento: “olhavam o rosto sério de
Dora, rosto de quase uma
mulherzinha que os fitava com carinho
de mãe (...) a olharam com amor.
Como crianças olham a mãe muito
amada” (1997, p. 171).
14. “Andava com eles pelas ruas, igual a
um dos Capitães da Areia. Já não
achava a cidade inimiga. Agora a
amava também, aprendia a andar
nos becos, a pongar nos bondes, nos
automóveis em disparada.
Era ágil como o mais ágil. (...) Dizia
o professor:
– Era valente como um
homem...”(AMADO, 1997, p. 178 e 179)
15. VISÃO DE PEDRO BALA EM
RELAÇÃO A DORA
Para Pedro Bala, Dora significou o amor
verdadeiro, a noiva e a esposa. Ela contribuiu
para o crescimento intelectual e
amadurecimento pessoal do líder. A relação
com a nova integrante serviu para que ele
compreendesse o afeto que existe na entrega
sincera e cúmplicidade ao outro, distante dos atos
sexuais coléricos aos que era acostumado. “É a
partir dessa descoberta, que Pedro Bala começa a
entender que, muito além da violência, há outras
formas de demonstrar suas insatisfações com a
sociedade, ou de ajudar os seus amigos e
companheiros”, afirma Luiz de Melo Diniz (2009, p.
10).
16. A DESPEDIDA
“Ela entrega-se a Pedro e amanhece sem vida.
Particularmente, esse é um dos momentos mais tocantes do
livro. Amado escreve,
Ela parecia não sentir a dor da posse. Seu rosto acendido pela
febre se enche de alegria. Agora a paz é só da noite, com
Dora está a alegria. Os corpos se desunem. Dora murmura:
– É bom... Sou tua mulher.
Ele a beija. A paz voltou ao rosto dela. Fita Pedro Bala com
amor.
– Agora vou dormir – diz.
Deita ao lado dela, segura sua mão ardente. Esposa.
A paz da noite envolve os esposos. O amor é sempre doce e
bom, mesmo quando
a morte está próxima. Os corpos não se balançam mais
no ritmo do amor. Mas no coração dos dois meninos não há
mais nenhum medo. Somente paz, a paz da noite da Bahia.”
(1997, p. 210).
17. A violência presente na obra.
capitães da areia
A violência se apresenta
institucionalizada, religiosa, político-
social e revolucionária.
18. Quando o levaram para aquela sala Pedro Bala calculava o que o esperava.
Não veio nenhum guarda. Vieram dois soldados de polícia, um investigador,
o diretor do reformatório. Fecharam a sala. O investigador disse numa voz
risonha:
– Agora os jornalista já foram, moleque. Tu agora vai dizer o que sabe
queira ou não queira..
O diretor do reformatório riu:
– Ora, se diz...
O investigador perguntou:
– Onde é que vocês dormem?
Pedro Bala o olhou com ódio:
–Se tá pensando que vou dizer...
– Se vai...
– Pode esperar deitado.
Virou as costas. O investigador fez um sinal para os soldados. Pedro Bala
sentiu duas chicotadas de uma vez. E o pé do investigador na sua cara. Rolou
no chão, xingando.
– Ainda não vai dizer? – perguntou o diretor do reformatório. – Isso é só o
começo.
–Não – foi tudo o que Pedro Bala disse.
Agora davam-lhe de todos os lados. Chibatadas, socos e pontapés. O diretor do
reformatório levantou-se, sentou-lhe o pé, Pedro Bala caiu do outro lado da sala.
Nem se levantou. Os soldados vibraram os chicotes (AMADO, 2009, p. 194-
195).
19. Lá em cima, na Cidade Alta, os homens ricos e as
mulheres queriam que os Capitães da Areia fossem
para as prisões, para o reformatório, que era pior que
as prisões. Lá embaixo, nas docas, João de Adão
queria acabar com os ricos, fazer tudo igual, dar escola
aos meninos (AMADO, 2009, p. 108-109).
– Não deixam os pobres viver... Não deixam nem o
deus dos pobres em paz. Pobre não pode dançar, não
pode cantar pra seu deus, não pode pedir uma graça a
seu deus – sua voz era amarga, uma voz que não
parecia da mãe-de-santo Don’Aninha. Não se
contentam de matar os pobres a fome... Agora tiram os
santos dos pobres... – e alçava os punhos (AMADO,
2009, p. 94).
20. Catequizar as crianças abandonadas da cidade, os
meninos que, sem pai e sem mãe, viviam do roubo, em
meio a todos os vícios. O padre José Pedro queria
levar aqueles corações todos a Deus. Assim começou a
frequentar o reformatório de menores, onde a princípio
o diretor o recebia com muita cortesia. Mas quando ele
se declarou contra os castigos corporais, contra deixar
as crianças com fome dias seguidos, então as coisas
mudaram (AMADO, 2009, p. 71).
– Que culpa eles têm? – O padre lembrava de João de
Adão. – Quem cuida deles? Quem os ensina? Quem os
ajuda? Que carinho eles têm? – Estava exaltado e o
cônego se afastou mais dele, enquanto o fitava com os
olhinhos duros. – Roubam para comer porque todos
estes ricos que têm para botar fora, para dar as igrejas,
não se lembram que existem crianças com fome... Que
culpa... (AMADO, 1009, p. 151)
21. – A greve está indo muito em ordem. Nós
queremos fazer as coisas com muita ordem,
porque assim venceremos e os operários
conseguirão o aumento. Nós não queremos
armar barulho, queremos mostrar que os
operários são capazes de disciplina. (‘Uma
pena’, pensa Pedro Bala, que ama os
barulhos.) Mas acontece que os diretores da
companhia andam contratando fura-greves
para trabalhar amanhã. Se os operários
dissolverem os grupos de furadores de
greve, darão margem a que a polícia
intervenha e está todo o trabalho perdido...
(AMADO, 2009, p. 253)
22. Autor Regionalista;
Neo-realista;
“[...] caráter de um romancista voltado
para os marginais, os pescadores e
os marinheiros de sua terra que lhe
interessam enquanto exemplos de
atitudes ‘vitais’: românticas e
sensuais...” (BOSI, p. 432-433);
Político;
23. A sociedade rica baiana
“E o lorgnon da velha magra se assestou contra o grupo como arma de guerra.
O padre José Pedro ficou meio sem jeito, os me olhavam com curiosidade os
ossos do pescoço e do peito da velha onde um barret custosíssimo brilhava à
luz do sol. Houve um m to em que todos ficaram calados, até que o padre José
Pedro ânimo e disse:
– Boa tarde, dona Margarida.
Mas a viúva Margarida Santos assestou novamente o lorgnon de ouro.
– O senhor não se envergonha de estar nesse meio, padre? Um sacerdote do
Senhor? Um homem de responsabilidade no meio desta gentalha...
– São crianças, senhora.
A velha olhou superiora e fez um gesto de desprezo com a boca. O padre
continuou:
– Cristo disse: Deixai vir a mim as criancinhas...
– Criancinhas... Criancinhas... – cuspiu a velha.
– Ai de quem faça mala uma criança, falou o Senhor – e o padre José Pedro
elevou a voz acima do desprezo da velha.
– Isso não são crianças, são ladrões. Velhacos, ladrões. Isso não do são
crianças. São capazes até de ser dos Capitães da Areia... Ladrões – repetiu
com nojo.
Os meninos a fitavam com curiosidade. Só o Sem-Pernas, que tinha vindo do
carrossel pois Nhozinho França já voltara, a olhava com raiva. Pedro Bala se
adiantou um passo, quis explicar:
– O padre só quer aju...
24. “– Dona, eu sou um pobre órfão...
A senhora fez com a mão sinal que ele
esperasse e dentro de poucos minutos estava no
portão sem ouvir sequer as desculpas da
empregada por não ter atendido à porta:
– Pode dizer, meu filho olhava os farrapos do
Sem-Pernas.
– Dona, eu não tenho pai, faz só poucos dias
que minha mãe foi chamada pro céu – mostrava
um laço preto no braço, laço que tinha sido feito
com a fita do chapéu novo do Gato, que se
danara. – Não tenho ninguém no mundo, sou
aleijado, não posso trabalhar muito, faz dois dias
que não vejo de comer e não tenho onde dormir.
Parecia que ia chorar. A senhora olhava muito
impressionada:
– Você é aleijado, meu filho?” (p. 120)
25. A sensualidade
“O rapaz puxou um cigarro, acendeu. Jogou a fumaça
para cima estendendo o beiço, deu mais uma espiada
para os peitos de Dora:
– Você está procurando emprego?
– Tou, sim senhor.
O vento levantou um pouco o vestido dela. Ele teve
pensamentos canalhas ao ver o pedaço de coxa. Já se
sonhava na cama, Dora trazendo o café pela manhã, a
safadeza que se seguiria.
– Vou ver se mamãe arranja um lugar pra você...
Ela agradeceu. Mas estava um pouco assustada, se
bem lhe escapasse muito da malícia dos olhares dele.
Dona Laura chegou, os cabelos grisalhos, a filha atrás
dela, espiando Dora com olhos compridos. Era
sardenta, mas tinha certa graça.” (p.170)
26. O caráter dos Capitães de
Areia
“Pedro Bala acordou com um ruído perto de
si. Dormia de bruços e olhou por baixo dos
braços. Viu que um menino se levantava e se
aproximava cautelosamente do canto de
Pirulito. Pedro Bala, no meio do sana em que
estava, pensou, a princípio, que se tratasse
de um caso de pederastia. E ficou atento
para expulsar o passivo do grupo, pois uma
das leis do grupo era que não admitiriam
pederastas passivos. Mas acordou
completamente e logo recordou que era
impossível, pois Pirulito não era destas
coisas. Devia se tratar de furto. Realmente o
garoto já abria o baú de Pirulito. Pedro Bala
se atirou em cima dele.” (p.)
27. A política na obra
“– Cale-se – a voz do Cônego era
cheia de autoridade. – Que, o visse
falar diria que é um comunista que
está falando. E não é difícil. No meio
dessa gentalha o senhor deve ter
aprendido as teorias deles... O senhor
é um comunista, um inimigo da
Igreja...” (p. 155)
28. Referência e comparação à
Lampião
“– Não tão vendo que é uma menina...
– Já tem peito! – gritou uma voz.
Volta Seca saiu de entre o grupo. Trazia os olhos
muito excitado um riso no rosto sombrio:
– Lampião também não respeita cara. Dá ela pra
gente Grande...
Sabiam que Professor era fraco, não agüentava
pancada. Estava doidamente excitados, mas
ainda temiam João Grande, que segurava o
punhal. Volta Seca se via como no meio do
grupo de Lampião, pronto para deflorar junto
com todos uma filha de fazendeiro. A vela
iluminava os cabelos loiros de Dora. Ia um pavor
pelo rosto dela.” (p. 174-175)
29. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009;
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 43ª ed.
São Paulo: Cultrix, 2006.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil – Era Modernista. 7ª
ed. São Paulo: Global, 2004.
GANCHO, Cândida V. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática,
2000;
DINIZ, Luis de Melo. A criança oprimida na literatura: a presença
feminina nos bandos infantis em Oliver Twist de Charles
Dickens e Capitães da areia de Jorge Amado. Paraíba: II
Seminário Nacional sobre Gênero e Práticas Culturais, 2009;
PICCHIO, Luciana Stegagno. História da literatura brasileira. Rio
de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.