2. Vivemos em um mundo que valoriza extremamente os bens materiais. Em sua
maioria, as pessoas valorizam ou não o próximo, a partir do que o outro possui e
aparenta, e não pela essência de seu ser. Em um mundo dominado por nações
materialistas e ainda sem ter alcançado suficiente desenvolvimento espiritual,
grande parte das pessoas dedica sua vida a acumular dinheiro e bens materiais.
Muitos são os que os buscam avidamente, tomando por base o seu bem-estar.
Aquilo que lhe sobra, não importando o quanto, quase nunca é suficiente para
satisfazer. Estamos sempre em busca da satisfação do nosso ego, que só quer
pensar mesmo na posse dos bens materiais. Fato é que a busca desenfreada de
bens coloca o bem-estar material como centro e finalidade de vida, uma
verdadeira idolatria.
3. “Quem gosta de dinheiro nunca se sacia de dinheiro. Quem é apegado às
riquezas, nunca se farta com a renda. Isso também é fugaz!” (Eclesiastes 5,9).
Na busca do dinheiro, há os que se desviam por caminhos que só tardiamente
compreendem serem despenhadeiros para a alma. Alguns aceitam corromper e
serem corrompidos, na estranha aventura da posse do temporário. Agitam-se,
meditam, arquitetam e tecem teias nas quais eles próprios ficarão enredados. O
símbolo do ter é o dinheiro. Todo homem normal, durante toda a sua vida, tem a
ideia fixa de uma busca intensa do dinheiro. Nós até nos tornamos profissionais
de atividades com as quais nós o ganhamos. Aliás, ele é um ganho indispensável
para o nosso próprio sustento e de nossa família. E o sonho de todo mundo é
ganhar uma bolada em dinheiro vivo e rápido, por exemplo, nas loterias.
4. E porque as pessoas, de um modo geral, só pensam mais nelas mesmo, elas se
esquecem da busca dos bens espirituais ou do ser, que são de fato os mais
importantes, pois são desses bens que elas vão tirar proveito para o seu espírito
imortal, depois da morte inevitável do corpo. Mas a busca das coisas do ter,
desde que não sejamos escravos delas, é normal, necessária e até sagrada na
nossa vida. O comunismo fracassou exatamente porque o sonho de toda pessoa é
ser rica. Além disso, esse regime colocava os bens materiais nas mãos duma
minoria formada pelos mandatários do poder e dos apadrinhados do seu partido.
E, se o lucro da produção não era dos produtores e industriários, ninguém tinha
interesse em aumentar a produção e menos ainda em aperfeiçoá-la.
5. O resultado foi, pois, que esse regime acabou emperrando o progresso e a
economia dos seus países. Pode-se dizer que o comunismo foi um capitalismo
estatal pior do que o capitalista, pois, além de se tratar de um patrão todo
poderoso, ou seja, o Estado, ele era ligado às coisas egoísticas do ter, e limitava
a liberdade dos seus cidadãos. É que os patrões desses regimes tinham também,
tais quais os patrões capitalistas, uma sede dos bens materiais ou do ter. E isso
porque, na fase atual da nossa evolução humana terrena, todos nós somos
egoístas. O que ocorre é que, sem reservas morais suficientes, muitos se tornam
verdadeiros escravos da posse material e, muitas vezes, escravizam outros para
atingir seus objetivos. Sem dúvida que as posses materiais são uma conquista
sócioeconômica do ser humano, ao longo de suas inúmeras jornadas na Terra.
6. O desenvolvimento material das sociedades é importante, pois gera melhorias na
qualidade de vida, incentiva o desenvolvimento da indústria, do comércio, das
ciências, das artes. Todas essas conquistas permitem à Humanidade superar
obstáculos de sobrevivência básica e, com isso, a possibilidade de desenvolver
seu lado espiritual e moral. A conquista do ter é dever de todos. A família
depende dos recursos materiais para seu desenvolvimento, bem como a
sociedade. A conquista do ter, contudo, jamais deve ser mais importante que a do
ser, que é a conquista dos valores morais e leva o indivíduo a elevar-se como
Espírito. O risco da posse ou da aquisição da propriedade não está no fato em si,
mas da maneira como isto se dá e no que representa emocionalmente. A
aquisição de bens materiais não deve ter como base a avareza, e como objetivo a
conquista de posição social passível de inveja ou de submissão de outrem.
7. A conquista material deve ser resultado do trabalho digno e constante,
frequentemente oriundo de uma profissão baseada em estudo e preparo. A
conquista material deve prover conforto e equilíbrio àqueles que a possuem, mas
jamais levar ao desequilíbrio das posses supérfluas e do modo de vida de
ostentação e prazeres intermináveis. Quem acumula bens materiais em
quantidade superior àquela necessária à sua dignidade bem como de sua família,
tem uma obrigação moral: dividir seus bens de uma maneira inteligente e
sensata. Obviamente que a doação àqueles que necessitam é necessária e nobre,
mas a verdadeira divisão é baseada na geração de empregos e desenvolvimento.
8. Por outro lado, Desperdiçar a fortuna não é desapegar-se dos bens terrenos, é
descuido e indiferença. O homem, como depositário dos bens que possui, não
tem o direito de dilapidá-los ou de confiscá-los para o seu proveito. A
prodigalidade não é generosidade, mas quase sempre uma forma de egoísmo.
Aquele que joga ouro a mancheias na satisfação de uma fantasia, não dará um
centavo para prestar um auxílio. O desapego dos bens terrenos consiste em
considerar a fortuna no seu justo valor em saber servir-se dela para os outros e
não apenas para si mesmo, a não sacrificar por ela os interesses da vida futura,
em perdê-la sem reclamar, se aprouver a Deus retirá-la. Para ter tal lucidez é
preciso que o indivíduo já tenha maior evolução espiritual a fim de que possa
perceber que de nada serve uma fortuna acumulada em instituições financeiras e
transformada apenas em bens de uso próprio.
9. É preciso ter equilíbrio, é preciso pensar no próximo, é preciso ser mais do que
ter. A felicidade, na Terra, independe do que se tem, mas se constitui naquilo que
o ser cultiva interiormente em termos de amor sincero, ilimitado e em
simplicidade. Numa sociedade que fala da igualdade nos meios de comunicação,
mas que ainda mantém uma estrutura econômica segregacionista, quanto mais
sofisticamos a nossa vida, mais corremos o risco de ter que passar
compulsoriamente a posse dos nossos bens para um sócio indesejado: o ladrão.
Por outro lado, às vezes somos tão cuidadosos com os bens que adquirimos, que
os guardamos em certos lugares, e depois os esquecemos.
10. Quando nos damos conta, um produto que foi comprado com sacrifício já foi
destruído pelo cupim, pela traça ou até pela ação corrosiva de um produto de
limpeza que entornamos por acidente no lugar errado. Diante disso, Jesus nos
incita a juntar tesouros no céu e não na terra. E nos convida a tomar uma decisão
vital de acolher o bem maior da Palavra de Deus e colocá-lo no coração:
“porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. Isto quer
dizer que, enquanto não empenharmos todo o nosso ser em vista de uma escolha
definitiva por aquilo que realmente dá sentido à nossa vida, nossa existência
estará sempre marcada pelo desejo de posse dos bens materiais. O que fazer,
então, para encontrar a saída desse labirinto?
11. Com poucas palavras, Jesus nos pede para abrir os olhos a fim de vermos os
frutos de nossas escolhas com a mesma visão de Deus. O nosso coração, isto é, o
nosso ser somente se converterá para as coisas do alto se for iluminado pelas
esperanças trazidas pelo Cristo. Caso contrário, continuaremos escravos das
coisas materiais. Em outras palavras, Jesus está dando de presente para cada um
de nós palavras preciosas como se fossem pérolas raras. O seu convite para que
nos enriqueçamos com um tesouro verdadeiro é um convite a que nós tenhamos
o foco de nossa vida em coisas que vão além das coisas do mundo. Portanto,
devemos ir além da materialidade das coisas. Aquilo que realmente interessa aos
homens e às mulheres é a posse da vida em Deus e a possibilidade de participar
do seu Reino.
12. É no Reino dos céus que encontraremos o verdadeiro e único bem, que é o seu
amor, e é ali que teremos tudo, ou seja, a posse da nossa salvação. Numa
passagem de Jesus, que alguém no meio da multidão, pede a Ele para intervir
numa questão relacionada a uma herança, Jesus não intervém, mas aproveita
aquela oportunidade para passar um grande ensinamento: Tomai cuidado contra
todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de
um homem não consiste na abundância de bens. E Jesus cita ainda o exemplo de
um homem rico, que gastou sua vida acumulando bens, e com isto não construiu
aqui na terra, a sua morada no céu! Com estas palavras, Jesus nos adverte sobre
o perigo que corremos quando depositamos a nossa segurança nos bens da terra!
O acúmulo de bens, a ostentação, nos torna egoístas, fechados no nosso eu, o
que nos distancia dos verdadeiros valores: os bens eternos!
13. O Evangelho nos orienta sobre a posse dos bens materiais. No de Mateus 6,19-
23. Jesus diz aos discípulos e a nós para fazermos uma inversão singular em
relação à posse dos bens materiais. Deve o Espírito buscar sempre, de forma
honesta, o sustento para si e para os seus, todavia, jamais deve se esquecer de
que a jornada na Terra é, antes e acima de tudo, oportunidade sagrada para um
único enriquecimento, o espiritual. O necessário não lhe faltará, se tudo fizer
corretamente, e para isso precisa entender que a posse desmedida tem raízes
fortes no egoísmo, chaga a exigir combate constante pela vida afora. Deve saber
que a fonte do verdadeiro bem se assenta na fraternidade universal. Precisará
aprender a conversar a linguagem do amor, única fonte que lhe trará a felicidade.
14. Somos todos moradores transitórios nesta casa de Espíritos reencarnados a que
chamamos Terra. Tudo o que seja material a ela pertence e aqui será deixado.
Somente as conquistas espirituais são os verdadeiros tesouros, que seguirão com
o Espírito, na sua jornada rumo à Luz e à felicidade perene. Somente o amor
ilumina. Reflitamos nestas coisas e, transformados para melhor, enfrentemos,
resolutos, as atribulações do dia a dia, administrando com sabedoria esses bens
transitórios.
Muita Paz!
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A serviço da Doutrina Espírita; com estudos comentados de O Livro dos
Espíritos, de O Livro dos Médiuns, e de O Evangelho Segundo o Espiritismo.