O documento discute as principais turbomáquinas usadas em plantas de separação de gases, especificamente compressores e turbinas de expansão. Explica os princípios de funcionamento destas máquinas, seus tipos, aplicações e aspectos construtivos.
1. XVIII ENCONTRO DE PRODUTORES E CONSUMIDORES DE GASES INDUSTRIAIS
TURBOMÁQUINAS – PRINCIPAIS MODELOS E TIPOS USADOS EM PLANTAS DE
SEPARAÇÃO DE GASES - TEORIA E PRÁTICA
SUMÁRIO
As turbomáquinas são provavelmente os componentes mais críticos em
termos construtivos e para a disponibilidade operacional de qualquer
Planta de Processo e apesar disso são bem conhecidas de apenas uns
poucos “experts”. Este trabalho pretende mostrar de maneira didática e
simples, os seus principais tipos (compressores e turbinas de expansão, já
que trataremos daqueles utilizados em Plantas de Separação de Gases do
Ar), cobrindo desde seus princípios de funcionamento termodinâmico,
formas construtivas, usos e vantagens de um modelo sobre outro até
aspectos e cuidados a serem tomados quando de sua compra e
manutenção.
PALAVRAS CHAVE: “MÁQUINAS DE FLUXO”, COMPRESSORES, TURBINAS
XVIII ENCONTRO DE PRODUTORES E CONSUMIDORES DE GASES INDUSTRIAIS
- Armando Juliani é engenheiro mecânico graduado pela ESCOLA
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, em 1986 tendo
realizado diversos cursos de especialização na área de turbomáquinas
no Vibration Institute (Chicago-IL-USA) e Bently Nevada (Houston-TXUSA) e participado de diversos “Turbomachinery Simposyum” realizados
pela Texas A&M University – Houston-TX-USA; está na CEGELEC desde
então, onde ocupa a Gerência Operacional das Regiões S-SE.
2. 1-CLASSIFICAÇÃO DAS TURBOMÁQUINAS
As turbomáquinas ou máquinas de fluxo podem ser de vários tipos e servir
para várias aplicações industriais. A maneira mais simples de tentar
classificá-las pode ser vista de um modo bastante didático no esquema
abaixo:
TU R B O M Á Q U IN A S
F O R N E C E M E N E R G IA
C O N S O M E M E N E R G IA
(C om pres s ores , B om b as ,
V en tilad ores , S op radores
E tc .)
D IN Â M IC A S
V O L U M É TR IC A S
D IN Â M IC A S
V O L U M É TR IC A S
(D E S L O C A M E N TO P O S ITIV O )
TU R B IN A S
E X PA N D E RS
M Á Q U IN A S D E
E X PA NS ÃO
M Á Q U IN A S C E N TR ÍFU G A S
S O P R A D O R E S A X IA IS
A L TE R N A TIV A S
ENG RENA G EM
PA R A FUS O
LÓ B U L O S
A ÇÃ O
REA ÇÃ O
F L U X O A X IA L
F L U X O A X IA L , R A D IA L
O U M IS TO
F L U X O A X IA L
F L U X O R A D IA L
Neste trabalho, como já dissemos, daremos ênfase àquelas de maior uso
em plantas de gases industriais, a saber turbinas de expansão ou
“expanders” e compressores.
2-PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
As máquinas de fluxo do tipo “dinâmico” (em oposição às “volumétricas”)
são aquelas em que o intercâmbio de energia entre o fluido e o eixo
ocorre por transferência de quantidade de movimento e essa energia é
transformada (do tipo “cinético” para “de pressão” e vice-versa) por meio
da mudança das seções de escoamento do fluido. Já as “volumétricas”
ou “de deslocamento positivo” caracterizam-se pela alteração do estado
de energia interna do fluido ocorrer em volumes discretos a cada ciclo de
operação.
2.1-Turbinas, “Expanders” e Máquinas de Expansão
3. São os equipamentos que fornecem energia ao meio externo retirando-a
do fluido veiculado através da mudança de seu estado, podendo com ela
acionar outras máquinas.
O processo de expansão de um fluido através de uma turbina ou
“expander” (máquinas dinâmicas) pode ser explicado da seguinte
maneira:
Cada estágio de expansão do fluido é composto de uma fileira de
palhetas fixas (bocais ou “nozzles”) e outra de palhetas móveis que agem
em conjunto de modo a permitir que o fluxo do gás veiculado realize
“trabalho” sobre o eixo. Há dois tipos clássicos de projeto de turbinas e
expanders:
i) Ação ou Impulso: a expansão do gás dá-se apenas nas palhetas fixas,
sendo esta “energia de pressão” convertida em cinética (o fluido é
acelerado) e então impulsiona o eixo (transferência de quantidade de
movimento) por meio das palhetas móveis.
ii) Reação: a expansão do gás dá-se tanto nas palhetas fixas quanto nas
móveis .
Fig. 1 – Tipos de Turbina
Na prática há hoje apenas raros casos de uma turbina que seja de ação
ou reação “pura”.
4. Já as máquinas de expansão (hoje raramente usadas), funcionam como
um compressor alternativo operando no sentido inverso: o gás expande-se
num cilindro à custa do aumento de seu volume específico.
2.2-Compressores
São os equipamentos que transferem a energia recebida do meio externo
ao fluido veiculado visando aumentar seu estado de energia interna.
O processo de compressão de um fluido num equipamento do tipo
dinâmico é o seguinte:
i) A “roda” do compressor transfere a energia mecânica que recebe do
acionador através de seu eixo para o gás por transferência de quantidade
de movimento, acelerando as partículas do gás (que, assim, tem sua
velocidade aumentada). Na saída da “roda”, o gás tem, portanto, apenas
sua energia cinética ( de velocidade) aumentada e não de pressão.
ii) Os “difusores” que existem em cada estágio, após cada “roda”,
convertem a energia cinética do gás em energia de pressão através do
direcionamento e frenagem deste, fazendo essa transformação de acordo
com o “Princípio da Conservação da Energia”. Caso o aumento de
pressão ocorrido seja suficiente para vencer a pressão reinante à saída do
difusor em qualquer estágio, a operação do compressor é normal, ou seja,
o fluxo de gás continua em seu sentido “correto” até a descarga final para
a tubulação de processo.
Fig. 2 – Fluxo de gás em um compressor centrífugo
Já num equipamento do tipo volumétrico, o processo de compressão do
gás dá-se num espaço confinado, cujo volume é reduzido por ação
5. mecânica através do movimento de um êmbolo (máquinas alternativas)
ou de engrenagens, lóbulos etc. a cada ciclo.
3-“EXPANDERS” E TURBINAS DE EXPANSÃO
3.1-Aplicação
Chamamos de Criogenia a ciência das “temperaturas muito baixas”. Há
ainda certa divergência sobre a quais seriam estas temperaturas ou sobre
qual o limite entre a Criogenia e a Refrigeração; alguns especialistas
sugerem o valor de 173 K (- 100 ºC), outros 143 K (- 130 ºC), outros ainda a
temperatura “abaixo da qual os materiais não apresentam um
comportamento normal ou esperado”. De qualquer forma, a criogenia
deve preocupar-se com uma série de problemas de natureza tecnológica,
a saber: materiais de construção (os quais apresentam características
diferentes quando trabalham a temperaturas muito baixas), métodos e
materiais requeridos para a perfeita isolação térmica, equipamentos para
a expansão e compressão de gases, processos, armazenagem, transporte
e uso do produto.
A criogenia envolve a liquefação e uso de vários gases que têm
temperatura de condensação muito baixas. Estes só são liqüefeitos
quando resfriados a temperaturas iguais ou menores que suas
temperaturas críticas (ponto no qual os estados de líquido e vapor
saturado são idênticos independentemente da pressão). O ar seco é uma
mistura de gases (notadamente o nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono
e argônio), todos eles com larga aplicação industrial, cuja separação é
feita pelo processo de liquefação. Uma vez que tal processo, pelo exposto,
só ocorre a “temperaturas muito baixas” resulta a necessidade do frio em
plantas de separação de ar. Nitrogênio e Oxigênio são os principais gases
obtidos do ar líquido através da destilação fracionada; em muitos casos
eles são liqüefeitos para sua purificação e/ou simplificar seu
armazenamento.
Para que as “temperaturas muito baixas” sejam atingidas é necessário que
o gás (ou a mistura de gases) seja expandido (ou apresente uma queda
de pressão) de uma forma brutal. Esta expansão pode ser obtida de dois
modos: seu “estrangulamento” através de uma válvula de expansão
(efeito Joule-Thomson) ou o uso de uma turbina de expansão.
A turbina de expansão é o meio mais efetivo de se conseguir
“temperaturas muito baixas” em comparação com a válvula de
expansão, uma vez que para a mesma queda de pressão, a diminuição
6. de temperatura é maior. Isso se deve ao fato de a expansão do gás que
ocorre na válvula de expansão ser isoentálpica (queda de pressão
adiabática irreversível), enquanto que na turbina esta seja isoentrópica
(adiabática reversível), idealmente, isto é sem admitir perdas. Além disso,
há também o fato da expansão realizada através da turbina de expansão
poder gerar trabalho mecânico.
Há também máquinas de expansão alternativas com características
semelhantes às das turbinas de expansão, hoje em desuso dada a baixa
vazão de gás obtida e dificuldades construtivas.
3.2-Principais Características
O princípio termodinâmico ideal de funcionamento de uma turbina de
expansão (expansão adiabática reversível) exposto no item anterior é um
pouco diferente do real uma vez que as perdas existentes no processo
(atritos, folgas etc.) reduzem a queda de temperatura já que o mesmo não
é na realidade isoentrópico. A eficiência que pode ser conseguida é da
ordem de 80 a 90% e será tanto melhor quanto maior for a queda de
temperatura atingida (de acordo com a 2ª Lei da Termodinâmica).
A grande maioria das turbinas de expansão são de “reação” com fluxo
radial ou misto. Suas faixas de operação são as mais variadas possíveis,
uma vez que sua vazão e pressões de admissão podem ser controladas
pelo uso de “VIGV” (“variable inlet guide vanes”), como exemplificamos a
seguir:
Rotação
Entre 10 000 e 60 000 rpm
Pressão de Admissão
Até 50 kgf/cm2 abs
Pressão de Escape
Até 0,8 kgf/cm2 abs
Diâmetro do Rotor
De 25 a 500 mm
Temperatura de Escape
Até -230 ºC
Potência na Ponta de Eixo
De 100 a 2 000 HP
A energia gerada na expansão do gás deve de algum modo ser dissipada
ou aproveitada, sem o que, para uma dada vazão de gás, a velocidade
de rotação irá aumentar indefinidamente até a destruição do rotor.
Quando o processo é realizado apenas para a se conseguir “frio” num
resfriador (por exemplo num ciclo simples de separação de ar), a energia
gerada é dissipada por um “freio hidráulico”, que consiste num hélice
imerso em óleo montado no mesmo eixo e do lado oposto à roda da
turbina de expansão; de outro modo (o mais comum), quando além de ser
utilizado para se conseguir “frio” num resfriador o gás deve ser novamente
comprimido em um “booster”, a energia gerada é utilizada para este fim:
7. a roda do compressor é bastante parecida à da turbina e montada no
mesmo eixo e do lado oposto a esta última (“back to back”).
3.3-Aspectos Construtivos
Fig. 3 – Desenho em corte do Expander
3.3.1-Conjunto Rotativo (Rotor)
Composto basicamente pelo eixo, rodas da turbina e compressor ou,
eventualmente do “freio hidráulico”.
As rodas são normalmente fundidas em ligas leves (magnésio, alumínio ou
titânio) e montadas, quando há o compressor, em oposição (“back to
back”) de modo a reduzir o impulso axial, podendo ser tanto abertas
quanto fechadas.
O eixo é normalmente fabricado em aço-liga, tendo o níquel como
principal elemento de liga, uma vez que o mesmo reduz o ponto de
transição de fratura dúctil para fratura frágil (AISI 3140, 4340, 2317 ou 2330).
Vale a pena mencionar que dadas as altas rotações de trabalho, o
conjunto opera normalmente acima de sua segunda rotação crítica;
visando reduzir os efeitos deste fato, entre outras coisas, a região entre
mancais apresenta um diâmetro grande para aumentar sua rigidez.
3.3.2-Parte Estacionária (Estator)
8. Do estator, os elementos mais importantes são os mancais, labirintos de
selagem e os “VIGV” (“variable inlet guide vanes”) também chamados de
palhetas diretivas ou bocais.
Os mancais radiais, devido às altas rotações, baixas cargas estáticas e
características dinâmicas advindas das altas rotações têm o formato
“trilobular”. Observa-se também o mancal de escora, normalmente
integral aos mancais radiais, destinado a suportar a carga axial originada
na expansão do gás. Como já dissemos anteriormente, quando há turbina
e compressor, tal efeito é minorado através da montagem das rodas em
oposição (“back to back”).
Os labirintos de selagem servem para “separar” o gás do óleo dos mancais
e para reduzir as perdas na expansão e localizam-se no eixo e nas rodas
(nas costas e no lado do “olho” desta); podem ser fabricados de alumínio
ou metal patente (quando o labirinto é na própria roda) e são feitos assim
para que em caso de eventuais “roçamentos”, o conjunto rotativo não
seja danificado. Há ainda casos em que a selagem é feita por anéis de
carvão.
As “VIGV” ou palhetas diretrizes servem para controlar a vazão e expandir
o gás (“palheta estacionária”). São normalmente fabricadas em aço
inoxidável austenítico, devido à presença de altos teores de níquel.
3.4-Pontos Importantes na Especificação de Compra
3.4.1-Aspectos Dinâmicos
Conforme já dissemos, as elevadas rotações de trabalho deste tipo de
equipamento fazem com que os mesmos operem, muitas vezes, acima de
sua segunda rotação crítica. Tal fato, associado aos baixos níveis de
vibração admissíveis (da ordem de 25 µm p-p ou 1 mil p-p para vibrações
de eixo), obrigam o fabricante do equipamento a realizar uma série de
estudos que visam a não ocorrência de problemas, conforme pode ser
observado no quadro abaixo:
TIPO
RESULTADOS
OBJETIVO
9. Rotações Críticas
Análise
Mancais
Estabilidade
Resposta
Desbalanço
- Rotações críticas não - Selecionar a faixa de
amortecidas
rotações de operação a fim
- Modos de vibrar
de mantê-las afastadas das
críticas com uma margem
de segurança
- Posicionar os mancais fora
dos pontos nodais
dos - Coeficientes dinâmicos Melhorar a estabilidade do
dos mancais (rigidez e sistema
mediante
a
amortecimento)
modificação do projeto dos
- Vazão de óleo de mancais
lubrificação
Decrementos Verificar a capacidade do
logarítmicos
sistema
de
absorver
Rigidez
“cruzada” excitações
dinâmicas
devido
a
efeitos transitórias (aerodinâmicas
aerodinâmicos
por exemplo)
- Freqüências naturais
amortecidas
ao Amplitudes relativas de Verificar as amplitudes de
vibração em função da vibração
síncrona
e
rotação
minimizá-las por meio da
otimização
do
projeto,
devidas
a
desbalanços
colocados
em
pontos
importantes do sistema
3.4.2-Materiais
As ligas de níquel são normalmente utilizadas uma vez que a presença
deste elemento ajuda a reduzir a temperatura de transição da fratura
dúctil para a fratura frágil. Os tratamento térmicos utilizados são os de
normalização e revenimento e eventualmente solubilização (aços
inoxidáveis).
O uso de ligas fundidas leves (alumínio, magnésio ou titânio) nas rodas é
feito, entre outras coisas, para melhorar as características dinâmicas do
conjunto rotativo, uma vez que a redução de massa nessas regiões altera
substancialmente as rotações críticas e modos de vibrar.
3.4.3-Facilidade de Manutenção
Um aspecto muito importante a ser observado na especificação deste tipo
de equipamento dada sua importância é a facilidade de manutenção.
10. Há usuários que mantêm outro equipamento reserva completamente
montada pronta para substituição, em caso de falha, em poucas horas.
3.5-Cuidados de Operação
3.5.1-Cuidados na Partida
Durante a partida, certos cuidados devem ser tomados, a saber:
•
•
•
•
•
Verificar a limpeza do filtro de óleo;
Verificar a pressão do óleo e a temperatura dos mancais que não
pode ser menor que 0 ºC;
Verificar, antes do início do procedimento, se a válvula de “corte
rápido” opera normalmente;
Em algumas unidades é necessário gás de selagem externo durante a
partida; sendo este o caso, deve ser verificado se o mesmo está
alinhado;
A elevação da rotação deve ser feita gradativamente (por exemplo
em degraus de 2 000 em 2 000 rpm, evitando-se parar próximo das
rotações críticas).
3.5.2-Cuidados Durante a Operação
•
•
•
Verificar periodicamente as temperaturas de óleo de lubrificação após
os resfriadores e dos mancais;
Verificar a evolução dos níveis de vibração periodicamente;
Verificar através das temperaturas de admissão e escape o rendimento
da turbina.
Uma das causas mais comuns de falhas em turbinas de expansão é o
“arraste de líquido” que danifica a roda desbalanceando o conjunto. Isso
se dá por problemas de processo e/ou condições operacionais e o melhor
modo de se detectar o fato é posicionar a instrumentação (TIs e PIs)
adequadamente na admissão do gás, além da existência de um vaso
separador de condensado na admissão.
Outro importante problema de operação é a formação de “gelo” na
admissão ou escape da turbina, afetando seu rendimento e, em alguns
casos, causando o roçamento entre este e o conjunto rotativo,
danificando-o. O acompanhamento das condições operacionais e o
correto posicionamento da instrumentação previnem e ajudam a
identificar tal ocorrência.
3.6-Cuidados na Manutenção
11. 3.6.1-Conjunto Rotativo (Rotor)
Após a desmontagem do equipamento, o conjunto rotativo deve ser
submetido a um controle dimensional (notadamente na região dos
moentes e selagem) e de empeno; além disso, quando a máquina
apresenta sensores de vibração tipo “não-contato”, a região de leitura
deve ter seu “run out” verificado e corrigido se for o caso.
Dadas as elevadas rotações a que estes equipamentos podem atingir,
especial cuidado deve ser tomado no balanceamento do conjunto
rotativo. Este pode ser realizado em máquinas de baixa rotação, desde
que sua sensibilidade seja adequada (compatível com o peso do rotor),
havendo várias metodologias a serem seguidas dependendo do seu tipo e
forma construtiva. Recomendamos que tal procedimento seja realizado
por empresas idôneas e com o acompanhamento de especialistas.
3.6.2-Parte Estacionária
Todos os labirintos, anéis de selagem e mancais devem ser
cuidadosamente inspecionados quanto a desgastes e roçamentos e
controlados dimensional e geometricamente (notadamente o formato
multilobular dos mancais).
4-COMPRESSORES
4.1-Aplicação e Principais Tipos
Máquinas do tipo alternativo são utilizadas há séculos, enquanto que as
centrífugas têm menos de 80 anos de emprego. Inicialmente, os
compressores do tipo centrífugo foram largamente utilizados na indústria
siderúrgica (anos 1930s) comprimindo ar para o alto-forno ou na coqueria
e daí passaram a ter múltiplos usos. Sua aplicação original foi estendida
para todos os outros gases, incluindo-se o vapor d’água (permitindo o
reaproveitamento de energia que, de outra forma, seria perdida), indo
desde o fornecimento de ar comprimido para instrumentação ou serviço
até a compressão de gases de refrigeração (plantas criogênicas). Dentre
os usuários deste tipo de equipamento, mencionamos:
•
•
•
•
plantas de separação de gases do ar;
indústrias químicas e petroquímicas;
indústrias automotivas;
plantas de papel e celulose;
12. •
•
•
indústrias siderúrgicas;
exploração e refino de petróleo e gás;
mineração e metalurgia etc.
Os compressores centrífugos são tão usados hoje quanto os alternativos,
sendo o número de máquinas instaladas, hoje em dia, dos dois tipos,
praticamente igual.
Hoje em dia, os compressores de todos os tipos são utilizados dentro de
uma vasta gama de pressões (até 800 kgf/cm2a) e vazões que variam
entre 300 e 400 000 m3/h, em oposição aos alternativos usados em vazões
menores (até 20 000 m3/h). A potência absorvida pode variar até um valor
que, hoje, chega a cerca de 30 MW. O acionamento deste tipo de
equipamento pode ser feito por meio de turbina a vapor ou a gás,
“expanders” ou motores elétricos.
Os compressores alternativos (“volumétricos” ou de “deslocamento
positivo”), diferenciam-se dos compressores dinâmicos (centrífugos e axiais)
por serem capazes de atingir taxas de compressão muito elevadas em
contraposição a uma vazão mais limitada.
Os compressores centrífugos diferenciam-se dos axiais não só pelo sentido
predominante do fluxo do gás (que nos primeiros é eminentemente radial),
mas também pela vazão e pressão de gás que se alcança nestes tipos de
máquinas.
Nos compressores centrífugos podem ser atingidas altas taxas de
compressão em relação às alcançadas pelos axiais; em compensação,
nestes últimos as vazões veiculadas são bem maiores que as dos
centrífugos (ver fig. 4).
13. Fig. 4 – “Ranges” típicos de pressão e vazão de vários tipos de
compressores
Esse fato se reflete em suas curvas características: enquanto que nos
compressores centrífugos, para uma redução pequena na vazão, há um
aumento pequeno na pressão de descarga (ou “head”), nos axiais, a
elevação é brusca, como pode ser observado comparando-se as figuras 5
e 6.
Como importante bibliografia para consulta na especificação e compra
de compressores, recomendamos que sejam consultadas as seguintes
normas do “American Petroleum Institute”:
-API 617: “Centrifugal Compressors for General Refinery Services”
-API 618: “Reciprocating Compressors for General Refinery Services”
-API 672: “Packaged, Integrally, Geared, Centrifugal Plant and Instrument
Air Compressor for General Refinery Services”
14. Fig. 5 – Curvas características
de compressor centrífugo
Fig. 6 – Curvas características
de compressor axial
4.2-Compressores Alternativos
Os compressores alternativos, como já dissemos, são máquinas que têm
uma concepção muito antiga e ainda hoje apresentam algumas
vantagens sobre os centrífugos, a saber:
•
•
•
•
menores custos de aquisição e manutenção;
maior confiabilidade operacional
grande flexibilidade em termos de capacidade e razão de compressão
menor sensibilidade a variações nas condições do gás veiculado
15. Fig. 7 – Compressor Alternativo
4.2.1-Considerações de Projeto
O elemento mais importante dos compressores alternativos são seus
cilindros que dependendo do tipo e tamanho da máquina podem ser de
“simples” ou “duplo” efeito. Há equipamentos em que os cilindros de duplo
efeito são utilizados para os estágios de mais baixa pressão enquanto que
os de simples efeito para os de pressões mais altas.
Fig. 8 – Cilindro
Os cilindros são fabricados normalmente de materiais selecionados por sua
resistência, resistência à corrosão, resistência ao choque e outras; a tabela
abaixo nos dá uma idéia dos materiais mais empregados em função da
pressão de trabalho:
MATERIAL DO CILINDRO
Ferro Fundido Cinzento
Ferro Fundido Nodular
Aço Fundido
Aço Forjado
PRESSÃO DE DESCARGA
Até 80 kgf/cm2 g
Cerca de 100 kgf/cm2 g
De 80 a 170 kgf/cm2 g
Acima de 170 kgf/cm2 g
A norma API 618 recomenda 70 kgf/cm2 g como sendo a pressão limite
para o uso de ferros fundidos nodular e cinzento.
Outro aspecto importante no projeto é o uso de cilindros lubrificados ou
não, sendo estes últimos utilizados para a compressão de ar ou gases onde
16. seja essencial que não ocorra sua contaminação por óleo lubrificante.
Nestes casos, o fabricante prevê que o cilindro seja projetado com anéis
de grafite ou outro material resistente ao desgaste (TFE por exemplo) de
modo a manter a vedação (e eficiência) durante a operação.
No caso de compressores não lubrificados, a seleção apropriada do
material das válvulas também é essencial para prevenir seu desgaste
excessivo.
Gostaríamos de enfatizar aqui a absoluta necessidade de em que
compressores que operem com oxigênio, nitrogênio e hélio todos os traços
de hidrocarbonetos sejam removidos: no primeiro caso por razões de
segurança e nos demais para evitar a contaminação do sistema.
De um modo geral, as tubulações de sucção e descarga do cilindro são
projetadas de um só diâmetro e classe pelas seguintes razões:
•
•
•
Facilidade de fabricação (fundição e usinagem)
Realização do teste hidrostático
As garrafas de pulsação de sucção e descarga são projetadas em
função da pressão de descarga devido a regulamentação
governamental por questões de segurança.
4.2.2-Dispositivos de Controle
As condições de descarga de um compressor alternativo devem ser
controladas de modo a satisfazer as condições da demanda requerida.
Para manter a vazão constante a despeito de variações de pressão (ou o
contrário), o dispositivo deve atuar alterando sua capacidade. A natureza
do controle dependerá, naturalmente, da variável a ser controlada e do
acionador.
- Partida
A carga durante a partida deve ser limitada de modo que o torque do
acionador não exceda seus limites. Isso é feito através de “unloaders”
automáticos ou manuais que podem apenas “ventilar” ou aliviar a
descarga ou alinhar o gás da descarga para a sucção.
- Controle de Capacidade
Há muitas maneiras de se controlar a capacidade de um compressor
alternativo em operação a partir da medida da pressão de descarga: se
esta cai é um indicativo de que mais gás é requerido, em oposição, se a
pressão de descarga sobe, a vazão deve ser reduzida.
17. Em casos onde o acionador pode ter sua rotação variável (turbinas a
vapor) , o controle de capacidade é feito sobre a mesma.
Quando o acionador é um motor elétrico, o controle de capacidade
pode ser feito das seguintes maneiras:
•
•
•
Dispositivo de partida e parada automática em função da demanda
de gás: utilizado apenas em máquinas até 100 hp
“Inlet valve unloaders” que mantêm as válvulas de sucção abertas
durante todo o ciclo
“clearence unloaders” que nada mais são que bolsas utilizadas para
aumentar ou reduzir o “espaço nocivo” do compressor (ver fig.9)
Fig. 9 – “Clearence Unloaders”
- Controle de Pulsação de Gás
A pulsação é um fenômeno inerente ao modo de trabalho de um
compressor alternativo dado que as válvulas de sucção e descarga
permanecem abertas durante apenas parte do ciclo.
A pulsação deve ser controlada de modo a:
•
•
•
manter um fluxo de gás suave
prevenir a ocorrência de sobrecargas
reduzir a vibração global do sistema
18. Normalmente o problema é controlado através do uso de um vaso de
pressão dimensionado adequadamente para amortecer a pulsação
montado próximo dos cilindros de sucção e/ou descarga.
4.3-Compressores Centrífugos
Neste capítulo tentaremos mostrar de modo bastante simplificado, dada a
complexidade do tema, as principais considerações a este tipo de
equipamento que como vimos acima tem larga aplicação em todas as
áreas industriais.
4.3.1-Projeto das Rodas
A roda (“impeller”) de um equipamento dinâmico é seu principal
componente e consequentemente sua geometria tem um grande
impacto sobre a “performance” da máquina.
As rodas podem ser classificadas (fig. 10 e 11) quanto ao sentido
predominante do fluxo do gás (radial, misto e axial) e forma construtiva
(abertas e fechadas). Em termos práticos, o projeto das rodas caminha do
sentido radial para o axial quando se desejam maiores vazões e ao
contrário quando o que se quer são pressões mais elevadas; da mesma
maneira, as rodas fechadas são utilizadas para pressões mais altas e
rotações mais elevadas.
O ângulo de curvatura das pás em relação a tangente à roda é o
elemento fundamental para seu projeto. Como as pás são sempre
inclinadas para “trás” com relação à rotação, essa forma construtiva é
conhecida como “Backward Lean” (fig. 12).
Fig. 10 – “Rodas” de compressores de fluxo radial, misto e axial
19. Fig. 11 – “Rodas” tipo aberta e fechada
Fig. 12 – Roda de compressor tipo “Backward lean”
O “Backward Lean” determina o quanto se pode aumentar a pressão ou
reduzir a vazão antes da ocorrência do “surge” da seguinte forma: quanto
maior o ângulo (ou menos “Backward Lean” for a roda), menor será a
variação possível no fluxo e maior será o aumento de pressão possível
antes do “surge”; da mesma forma, quanto mais “Backward Lean”, o
“range” possível de variação de vazão é maior e o de pressão é menor
(ver fig. 13).
O uso de rodas fechadas também é importante dada sua maior eficiência
com relação às abertas; o problema é que a velocidade periférica
admissível é menor.
20. Fig. 13 – Influência do “Backward lean” no “range” operacional
4.3.2-Formas Construtivas
Os compressores centrífugos apresentam-se, basicamente, sob três formas
construtivas, a saber:
4.3.2.1-”Horizontalmente Partidos”
É a forma construtiva mais comum, caracterizando-se por ter a sua
carcaça partida horizontalmente ao longo de todo o comprimento do
eixo e aparafusada em seu plano de juntas. Possui várias rodas
(“impellers”) montadas em um único eixo. Normalmente, seu projeto
permite a fácil inspeção dos mancais e selagens externas.
São utilizados quando se requer baixa ou média pressão de descarga.
21. Fig. 14 – Vista de um compressor centrífugo “horizontalmente partido”
4.3.2.2-”Barrel”
Utilizados em serviços de média e alta pressão diferenciam-se dos
anteriores por possuírem duas carcaças, uma exterior à outra. A carcaça
interna, bipartida horizontalmente, tem a forma de um barril, é montada
na externa “verticalmente”, daí seu nome. Normalmente, seu projeto
também permite a fácil inspeção dos mancais e selagens externas, sem a
necessidade de se remover o “barrel”.
22. Fig. 15 – Vista de um compressor centrífugo tipo “Barrel”
4.3.2.3-”Gear Type”
Também conhecidos como “integrally geared centrifugal compressor”
foram inicialmente desenvolvidos e patenteados pela Mannesmann
DEMAG em 1949 e hoje fabricados por diversas outras empresas
(INGERSOLL RAND, ALSTOM, JOY, HITACHI, NUOVO PIGNONE, GHH etc.) são
constituídos por uma engrenagem motriz de baixa rotação (coroa) que
aciona duas ou mais engrenagens de alta rotação (pinhões) montadas
em eixos em cujas extremidades localizam-se rodas de compressor.
Fig. 16 – Vista de um compressor centrífugo “Gear type”
Este tipo de compressor apresenta características bastante interessantes
entre as quais citamos:
•
•
•
•
•
tamanho compacto;
resfriamento após cada estágio (melhor rendimento);
possibilidade de controle individual para cada estágio;
baixo custo comparativo;
alta confiabilidade.
4.3.3-Compressores de Eixo Único X “Gear Type”
23. De modo a compararmos ambos os “gear type” e eixo único, numa
mesma base, consideramos as seguintes configurações:
• um único estágio de compressor “gear type” e de eixo único com a
mesma capacidade (vazão) e taxa de compressão;
• um compressor “gear type” de um único estágio versus um compressor
de eixo único com um único estágio.
• compressor “gear type” de vários estágios com resfriamento
interestágio versus compressor de eixo único com vários estágios e
resfriamento interestágio.
- Vazão
Compressores “gear-type” são geralmente capazes de veicular maiores
vazões volumétricas através de si, especialmente os de múltiplos estágios,
devido à orientação axial de suas rodas (“impellers”) e maiores
velocidades (rotações). Os compressores de eixo-único têm sua rotação
limitada a aproximadamente 16 000 rpm, enquanto que os “gear type”
operam normalmente (ou mais) a até 50 000 rpm.
- Razão de Compressão
Embora ambos os tipos possam atingir altas razões de compressão, os
compressores de eixo-único, especialmente os tipo “barrel” atingem níveis
de pressão de descarga muito mais elevados devido ao projeto de sua
carcaça que é cilíndrica, enquanto que a dos compressores “gear type”
têm um formato tridimensional mais complexo. A forma cilíndrica reduz as
tensões, embora já se tenha atingido valores de até 300 bars em
compressores “gear type”.
- Faixa de Operação e “Turndown”
Em geral, compressores de eixo-único têm um range de operação mais
estreito devido à mais baixa razão de compressão por estágio e ao uso de
difusores de geometria fixa. Compressores “gear type” podem ter seu
range operacional aumentado pelo uso de difusores de geometria
variável (“IGVs” e “OGVs”); entretanto esta solução introduz maior
complexidade ao projeto além de aumentar seu custo.
24. Fig. 17 – Estágio de compressor com “IGV”
Fig. 18 – Influência do uso de IGVs” e “DVs” de geometria variável no
“range” operacional
(a API define o “turndown” como sendo a relação entre a vazão de
projeto à pressão de descarga “rated” e a vazão em que ocorre o “surge”
nesta pressão)
25. - Consumo Específico
Na grande maioria dos casos, o consumo específico (ou a potência
consumida por unidade de vazão mássica de gás veiculada) é mais baixa
em unidades “gear type” porque as perdas internas são menores e
também devido à possibilidade deste tipo de equipamento poder ter
“IGVs” de geometria variável que aumentam a performance a baixas
vazões.
- Empuxo Axial
Compressores de eixo-único necessitam para o equilíbrio do empuxo axial
gerado na compressão de um “pistão de balanço” que reduz
consideravelmente a carga sobre o mancal de escora; isso faz com que o
equipamento permaneça “axialmente equilibrado” em qualquer
condição de carga (mesmo em transitórios de partida ou parada). Já os
compressores “gear type” apresentam cargas axiais elevadas
notadamente na partida; a compensação destas cargas é feita em parte
pelos mancais de escora e em parte pela própria engrenagem de
acionamento (força axial gerada pelo ângulo da hélice). Há dois tipos de
projeto para absorver a carga axial excedente: um utiliza mancais de
escora de alta eficiência e o outro transfere a carga axial dos eixos-pinhão
para a coroa (“bull gear”) por meio de “colares” de escora localizados nos
extremos dos pinhões.
- Operação a Rotação Variável
A variação da rotação é utilizada em compressores de eixo único para
aumentar o “range” operacional do equipamento de modo a adaptá-lo à
diferentes condições do gás na sucção (vazão e pressão); a variação da
rotação entretanto passa a perder eficiência em função de existência de
resfriamento interestágios e de um maior número de estágios.
Compressores “gear type” de um modo geral não têm rotação variável,
especialmente em configurações multi-estágios; a compensação
necessária para eventuais alterações nas condições de sucção do gás é
obtida através da presença de “IGVs” de geometria variável.
- Características Dinâmicas
Os compressores “gear type” operam geralmente acima de seu “primeiro
modo rígido” na configuração de um estágio e acima de seu “segundo
modo rígido” para configurações de dois estágios; também pode operar
acima de seu “primeiro modo flexível”. Compressores de eixo único
26. operam normalmente acima de seu “segundo modo rígido” e do “primeiro
modo flexível”. Os mancais dos dois tipos de compressores são projetados,
em termos de rigidez e amortecimento, de modo que os conjuntos “rotormancais” dos compressores “gear type” operem como corpo rígido, em
oposição aos conjuntos rotor-mancais de compressores de eixo único,
facilitando muito sua análise dinâmica lateral; as cargas radiais adicionais
geradas nos mancais dos compressores “gear type” devidas às
engrenagens reduzem a necessidade de pré-cargas em seus projetos,
tornando seu projeto mais simples. De outro lado, por estarem associados a
engrenagens, os compressores “gear type” necessitam sempre a
realização de análise dinâmica torcional.
- Requerimentos de Limpeza
Os compressores “gear type” são menos tolerantes à entrada de sólidos e
líquidos devido ã alta velocidade de suas rodas (o impacto e erosão
decorrentes são muito maiores). A velocidade maior, por outro lado reduz
a probabilidade de deposição de sujeira nos rotores, embora também
amplie o efeito de desbalanço causado por possíveis depósitos que se
formem.
- Partida e Parada
Ambos os tipos de compressor não apresentam em si limitações para
partida ou parada a plena condição de carga. As recomendações para a
redução de pressão durante a procedimentos de partida devem-se mais a
limitações do acionador que do tipo de compressor. Compressores “gear
type” possuem mais inércia de partida devido as altas relações de
transmissão entre “bull gear” e eixos-pinhão.
- Manutenção
As principais diferenças sobre o modo como os dois tipos de compressor
irão responder a condições anormais são as seguintes:
•
Compressores de eixo único
- danos nos mancais devido a elevado desalinhamento entre eixos
(acoplamento);
- depósitos de “sujeira” nos difusores devido à presença de líquidos
condensáveis no gás;
- erosão em labirintos interestágio e do pistão de balanço devido à sucção
de partículas, resultando na redução da performance e sobrecarga do
mancal de escora;
27. - os danos no conjunto rotativo devido a falhas nos mancais normalmente
atingem todos ao estágios, já que eles estão sobre um mesmo eixo.
•
Compressores “gear type”
- forte erosão nas rodas (“impellers”) causada pela sucção de líquidos ou
partículas sólidas amplificada pelas maiores velocidades atingidas;
- formação de depósitos nos mancais radiais devidos às altas velocidades
nas superfícies moentes-mancais, tornando os mancais mais sensíveis à
qualidade do óleo lubrificante;
- sobrecarga axial causada por pressão de descarga excessiva em
partidas ou condições de trabalho extremas;
- falhas no conjunto rotor-mancais devem resultar em danos nos pares
engrenados.
- Conclusões
Como pudemos observar acima, os compressores “gear type” apresentam
uma forma construtiva mais simples (e portanto mais “eficiente”) que os
compressores de eixo único; no entanto, as altas rotações envolvidas
tornam este tipo de equipamento mais suscetíveis a pequenas falhas,
tornando-as potencialmente perigosas. Isso faz com que os compressores
“gear type” sejam usados essencialmente para o ar e gases inertes em
condições de pressão de descarga menores que os de eixo único e em
maiores vazões de gás veiculadas.
4.3.4-Seleção e Especificação Técnica
Os principais cuidados que devem ser levados em conta na seleção e
especificação dos compressores são os seguintes:
• Lista de referências do fabricante, com os compressores de sua linha em
uso em aplicações similares (gás veiculado, pressão e vazão);
• Tipo de gás para definição das características do compressor e da sua
selagem;
• As várias condições operacionais desejadas: pressão, temperatura e
vazão de sucção e as necessidades de pressão e temperatura de
descarga;
• Número de estágios compatível com a relação de pressões necessária.
Deve-se evitar uma relação de pressões muito elevada por estágio;
• Tipo de mancais adequado à rotação;
• Faixa operacional adequada às possíveis variações de vazão que se
façam necessárias;
• Materiais utilizados em sua construção;
28. • Tipo de “roda” ou “impeller” (aberta ou fechada, radial ou mista,
“backward lean” ou “forward lean” etc.);
• Presença ou não de IGVs ou difusores de geometria variável;
• Sistemas de óleo de lubrificação e selagem;
• Sistema de monitoração e controle: vibração, temperatura dos mancais,
pressões, temperaturas e vazões de gás etc.;
• Sistema “anti-surge”.
É extremamente importante que a especificação do compressor seja
elaborada pelo usuário, uma vez que ninguém melhor que ele sabe o que
necessita do equipamento.
Uma boa e completa indicação dos cuidados a serem tomados na
seleção e especificação de compressores centrífugos pode ser obtida
com a consulta das normas API 617 e 672.
4.3.5-Manutenção
4.3.5.1-Generalidades
Os compressores centrífugos são, de um modo geral, equipamentos de
elevada confiabilidade, podendo operar continuamente por longos
períodos cobrindo uma ou mais campanhas de operação anuais. Isso se
deve em parte à sua concepção mecânica relativamente simples, com,
praticamente, ausência total de partes móveis em contato com partes
estacionárias. Salientamos, ainda, que são máquinas de tecnologia
avançada que incorporam desenvolvimentos de engenharia com vistas a
torná-las cada vez mais confiáveis e eficientes. Periodicamente,
entretanto, dever-se-á efetuar uma revisão geral no equipamento visando
a verificação detalhada de seu estado interno e a preparação para novas
campanhas de longa duração.
Os intervalos para execução dessa manutenção geral dependem muito
das condições de operação da máquina e do gás veiculado. Se, por
exemplo, o gás for muito “sujo” e/ou com elementos contaminantes,
recomenda-se a realização de inspeções mais freqüentes, em prazos de 2
a 3 anos de operação. Para a tomada de decisão recomendamos que
sejam analisados, periodicamente, os níveis de vibração e a eficiência do
compressor. Com “gases limpos”, as campanhas de operação podem ser
bem maiores; nesses casos, o ideal seria efetuar-se uma revisão completa
a cada 5 ou 6 anos de operação para se verificar se nenhuma
anormalidade está-se desenvolvendo nas partes estacionárias.
29. Conhecemos casos de máquinas em operação há mais de 10 anos sem
terem sido abertas havendo, porém, um risco potencial que não pode ser
desprezado: o longo tempo de operação resulta em probabilidade de
aparecimento de problemas devido a envelhecimento de componentes.
Nas revisões recomenda-se, no ato de abertura da carcaça, observar o
estado interno do rotor, difusores, planos de junta etc. e efetuar medição
de folgas entre as partes fixas e móveis antes da remoção do rotor. Isso
possibilitará a análise criteriosa de detalhes importantes que serão perdidos
após sua limpeza. Em seguida, o rotor e os difusores devem ser removidos
para limpeza (normalmente, o rotor é “jateado” com óxido de alumínio),
cuidadosa inspeção com líquido penetrante para a pesquisa de eventuais
fissuras e controle dimensional e geométrico.
Deve-se ainda examinar os mancais e sistemas de selagem quanto a seu
estado, folgas, aparência e aderência do metal-patente etc.
Os equipamentos auxiliares, como os sistemas de óleo de lubrificação e
selagem, devem também ser revisados; o óleo do tanque precisa ser
cuidadosamente avaliado quanto a seu estado. Na montagem, após a
revisão, deverá ser realizado um cuidadoso “oil flushing” com o fluxo
desviado dos mancais com telas de malha fina, para avaliação do estado
de limpeza do sistema de lubrificação como um todo.
4.3.5.2-Mancais
Os mancais radiais normalmente são dos tipos multilobulares ou de sapatas
oscilantes para eixos que operam a maiores rotações e cilíndricos para
rotações menores. Os mancais de escora podem ter sapatas fixas ou
oscilantes.
Fig. 19 – Tipos de mancais radiais
Na montagem deve-se tomar extremo cuidado quanto à orientação das
sapatas e cunhas de óleo, uma vez que seu projeto leva em conta a
30. direção da carga que atua sobre os mesmos a qual é composta por duas
parcelas: uma estática e outra dinâmica.
Fig. 20 – Mancal axial
4.3.5.3-Selagens
O sistema de selagem utilizado depende muito do gás veiculado. Entre
estágios são utilizados “labirintos” (buchas com lâminas circunferenciais
que apresentam folga mínima em relação ao eixo, formando câmaras de
expansão do gás que minimizam sua fuga); os selos externos podem ser
também por meio de “labirintos” (ar ou nitrogênio, por exemplo), selos
mecânicos, com anéis flutuantes ou de carvão ou ainda os “dry seals” que
dispensam o uso de óleo de selagem utilizando gás de barragem.
31. Fig. 21 – “Labirintos”
Os danos que podem ocorrer dependem do tipo da selagem (labirintos ou
“selo mecânico”), sendo os originados por contato mecânico indevido,
em qualquer caso, os mais comuns.
32. Fig. 22 – “Selos Diversos”
Podemos encontrar lâminas de labirintos amassadas ou soltas (quando as
mesmas são cravadas no rotor ou estator), travamento ou desgaste de
anéis flutuantes causados, por exemplo, por montagem inadequada,
roçamentos devido a folgas muito reduzidas ou elevada vibração, etc.
Fig. 23 – “Dry seal”
4.3.5.4-Acoplamentos
Normalmente para este tipo de máquina são utilizados do tipo de
engrenagem ou diafragma que permitem acomodar um certo grau de
desalinhamento. Em virtude das próprias características construtivas, o
“carretel” do acoplamento é relativamente longo, o que permite maior
tolerância para desalinhamentos; entretanto, um carretel longo significa
maior peso podendo tornar-se uma fonte de excitação de vibrações.
33. Fig. 24 – Tipos de acoplamentos utilizados
4.3.5.5-BALANCEAMENTO DINÂMICO
Após qualquer serviço de limpeza e/ou recuperação do conjunto rotativo,
este deve ser submetido a um procedimento de balanceamento
dinâmico. Este deve ser feito seguindo-se os procedimentos e cuidados
adequados para cada tipo de rotor (rígido ou flexível, rodas entre mancais
ou em balanço, etc.).
Quanto a isso, vale a pena mencionar que temos observado algumas
dúvidas entre nossos clientes sobre a adequabilidade de se efetuar o
balanceamento de rotores que operem acima de suas rotações críticas
em máquinas de balancear de baixa rotação. Tais dúvidas parecem
decorrer de informações parciais ou incompletas fornecidas por terceiros,
dando margem a interpretações incorretas. O receio nesse caso é de que
o rotor balanceado em baixa rotação não irá se comportar bem em sua
rotação normal de operação. Entretanto, o balanceamento em máquina
de balancear de baixa rotação é praticado há muito tempo por
fabricantes de turbinas e compressores centrífugos, por meio de técnicas
apropriadas sempre com bons resultados. Temos executado,
rotineiramente, balanceamentos dessa natureza sem qualquer problema.
O custo de se enviar o rotor para o exterior apenas para execução do
balanceamento em alta rotação (em câmaras de vácuo que não existem
no Brasil) torna essa solução economicamente inviável, além do prazo de
execução ser sempre longo.
4.3.6-Cuidados Especiais
4.3.6.1-O “Surge”
Todos os compressores chamados “dinâmicos” (tipo centrífugo ou axial)
são susceptíveis a um fenômeno de instabilidade operacional conhecido
34. como “surge” (em inglês) ou “pompage” (em francês”). Tal fenômeno é
bastante prejudicial e necessita ser evitado a qualquer custo uma vez que,
quando um compressor “entra em surge”, as pressões e vazões do gás
pulsam erraticamente, o(s) rotor(es) entra(m) em vibração anormal e a
intensidade de ruído pode atingir níveis assustadores; as temperaturas de
sucção elevam-se consideravelmente. Com o aumento da vibração
podem ocorrer danos por contato entre partes fixas e móveis sendo,
geralmente, afetados os labirintos e até mesmo os mancais radiais e de
escora (axial).
A explicação de como o mesmo ocorre não é muito simples. Ele está
ligado ao modo como opera o compressor tipo “dinâmico” (ver item 2.2).
O fenômeno do “surge” acontece, exatamente, quando a pressão que o
gás adquire na saída do difusor não é suficiente para vencer aquela
existente no meio seguinte (pressão de descarga do estágio). Aí há, então,
a frenagem da corrente de gás mesmo com o rotor do compressor
girando. Instantaneamente ocorrem problemas de turbilhonamento do
gás dentro dos estágios e inicia-se o seu refluxo para a sucção. Nesse
ponto, entretanto, a pressão na descarga do difusor começa a se reduzir
uma vez que ela era mantida com o fluxo constante do gás da sucção
para a descarga. Quando essa pressão cai , o conjunto “roda-difusor”,
imediatamente, fica em condições de fazer o gás vencer a nova pressão
do meio, restabelecendo o fluxo em direção à descarga. Em
conseqüência, a pressão no meio começa a se elevar outra vez até a
mesma condição inicial, repetindo-se o processo. O intervalo de tempo,
entre cada ciclo, varia, em geral, de caso para caso, não passando,
porém, de frações de segundo, fazendo com que o compressor oscile e
trepide com violência, gerando ondas sonoras características. O problema
só pode ser resolvido reduzindo-se a pressão na descarga ou alterando-se
sua rotação para uma nova condição de equilíbrio.
A partir da compreensão de como e porquê o “surge” ocorre, fica fácil
entender a importância de se saber em que condições ele acontece para
um determinado compressor. Conhecendo-se sua “linha” podemos
determinar a curva de proteção ao “surge” (aquela que regula a abertura
das válvulas de alívio atmosférico ou “blow-off” e/ou as de reciclo) e o
“range” operacional do compressor. A API define o “turndown” como
sendo a relação entre a vazão de projeto à pressão de descarga “rated”
e a vazão em que ocorre o “surge” nesta pressão, estabelecendo que ele
deve ser de no mínimo 60% para compressores “gear type”.
Da maneira como foi descrito, percebe-se que o “surge” pode ocorrer em
qualquer dos estágios do compressor, pois cada estágio “preocupa-se”
35. apenas com as suas condições de sucção e descarga. Em geral, quando
o “surge” ocorre, não sabemos, “a priori”, dizer em qual dos estágios.
Entretanto, a redução da pressão de descarga do compressor, como um
todo, reflete-se em todos os estágios, sendo esta a forma mais comum
para o controle do fenômeno.
As pressões de sucção, descarga e vazão do compressor dependem do
sistema ao qual o mesmo está ligado, portanto a condição em que o
“surge” ocorre depende da instalação e varia de um compressor para
outro e do gás que está sendo comprimido.
Nas curvas características do compressor são assinalados os pontos de
ocorrência do “surge” e a linha que une esses pontos é chamada de
“linha de surge”. Através do conhecimento da “linha de surge” são
desenvolvidos sistemas automatizados
de proteção contra a ocorrência desse fenômeno.
Fig. 25 – Curvas características
Tais sistemas são conhecidos como “sistemas de controle anti-surge” e
constam basicamente do seguinte: um sensor de vazão do gás, outro de
pressão de descarga e um dispositivo lógico que compara essas
informações com a posição da linha de segurança contra o “surge”.
Quando o compressor estiver operando numa condição sobre ou “à
esquerda” dessa linha de proteção, o dispositivo lógico comanda a
abertura da válvula “anti-surge” que aumenta a vazão e/ou reduz a
pressão de descarga. Essa válvula é conhecida como “válvula de reciclo”
para sistemas fechados ou “blow-off” para sistemas abertos (ar).
Normalmente, essa linha de segurança situa-se 10% em vazão a mais do
que a “linha de surge” para se evitar qualquer risco. Salientamos que a
36. válvula “anti-surge” deve permanecer fechada quando a máquina estiver
em operação normal para economia de energia.
Fig. 26 – Sistema de controle “Anti – Surge”
4.3.6.2- Filtros de Sucção (ar)
Nos compressores de ar é importante que o filtro de sucção esteja sempre
em boas condições e que seja adequado para evitar a entrada de
partículas que possam vir a depositar-se nas rodas, provocando o
desbalanceamento dinâmico do conjunto rotativo. Já houve casos em
que esse problema trouxe muita intranqüilidade a um cliente, por este
desconhecer a causa do aumento gradual da vibração. Uma análise de
vibrações levou à conclusão de que o problema era desbalanço residual
simples e, conhecidas suas causas e características da máquina, decidiuse pela sua operação controlada até uma parada programada para
limpeza das rodas, resolvendo-se o problema.
4.3.6.3-Monitoração
De um modo geral, os compressores apresentam no mínimo os seguintes
sistemas de monitoração:
•
•
•
•
Temperatura dos mancais radiais e axial;
Deslocamento axial do eixo;
Vibração de eixo;
Proteção contra o “surge”.
É muito importante que todos esses sistemas funcionem adequadamente
de modo a impedir uma análise falsa das condições do equipamento. São
inúmeros os casos de que problemas na monitoração levaram nossos
clientes a uma intervenção desnecessária no equipamento.