O documento discute as visões de Hegel e Marx sobre o trabalho. Enquanto Hegel via o trabalho como forma de autoconstrução do homem, Marx argumentava que no capitalismo o trabalho tornou-se alienante e exploratório, transformando o trabalhador em mercadoria. O texto também aborda como o trabalho pode ser visto como tortura ou condição de humanização, dependendo de como é estruturado na sociedade.
1. Centro de Ensino Urbano Rocha
Professora: Mary Alvarenga Disciplina: Filosofia Série: 3º ano
Trabalho e alienação
O termo trabalho é originário do latim tripalium, que designa instrumento de tortura. Por extensão, significa
aquilo que fatiga ou provoca dor. A partir daí a palavra trabalho também passou a ser entendida não só como
tortura no instrumento específico, mas também como exercer atividades físicas pesadas desenvolvidas
principalmente por camponeses, agricultores ou pedreiros. Só no século XIV que a palavra trabalho começou a ter
o contexto que utilizamos hoje. Que significa utilizar nossas habilidades para criar, desempenhar ou desenvolver
algo para determinado fim.
Friedrich Hegel definiu o trabalho como elemento de autoconstrução do homem, destacando o seu lado
positivo. Através do trabalho o homem pode se formar e se aperfeiçoar, mas também se libertar, pelo domínio que
exerce sobre a natureza.
Max Weber enfatiza o papel negativo que o trabalho tomou nas sociedades capitalistas. Para Marx, o trabalho
usa‐se o termo força de trabalho para tal fim. Passou a ser considerado mercadoria, com a qual o trabalhador sem
opção precisaria vender a quem pudesse custeá‐la. Fica difícil, para alguns, falar que pelo trabalho se
autoconstroem, pois o trabalho é tido unicamente como algo penoso pelo qual todos têm de passar, pois “quem não
trabalha não come”
Trabalho como tortura
O trabalhado é visto como tortura quando o homem passa ser dependente deste, mesmo que cause
infelicidade e alienação ao trabalhador que se submente a condição exploratória.
A humanização pelo trabalho
É pelo trabalho que a natureza é transformada mediante o esforço coletivo para arar a terra, colher seus
frutos, domesticar animais, modificar paisagens e construir cidades. Pelo trabalho surgem instituições como a
família, o Estado, a escola: obras de pensamento como o mito. A ciência, a arte, a filosofia.
Podemos dizer que o ser humano se faz pelo trabalho, porque ao mesmo tempo em que produz coisas, torna-
se humano, constrói a própria subjetividade. Desenvolve a imaginação, aprende a se relacionar com os demais, a
enfrentar conflitos, a exigir de si mesmo a superação de dificuldades. Enfim, com o trabalho ninguém permanece o
mesmo, porque ele modifica e enriquece a percepção do mundo e de si próprio.
Como condição de humanização, o trabalho liberta, ao viabilizar projetos e concretizar sonhos. Se em um
primeiro momento a natureza apresenta-se como destino, o trabalho será a possibilidade da superação dos
determinismos. Nesse sentido, a liberdade humana não é dada, mas resulta da ação humana transformadora.
Alienação do trabalho
A palavra alienação vem do latim alienare, que significa “tornar algo alheio a alguém”, ou seja, “torna algo
pertencente a outro”. Na concepção filosófica contemporânea quer dizer um processo pelo qual os atos de uma
pessoa são influenciados por outros, em uma posição inferior e contrária a quem o influencia. Nesta acepção, a
palavra deve seu uso ao filósofo Karl Marx.
O trabalhador é submetido a um sistema que comumente não lhe permite desfrutar financeiramente de sua
própria atividade. Dessa forma, a meta é produzir para satisfazer as necessidades do mercado não propriamente à
do trabalhador. Fabricam-se para uma elite econômica enquanto o trabalhador mantém-se miseravelmente.
O trabalho alienado costuma ser marcado pelo desprazer, pela exploração e embrutecimento do trabalhador.
O trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade.
Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de trabalho
com uma sensação de sofrimento em vez de bem estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e
2. mentais que provoca cansaço físico e depressão. Nessa situação, o trabalhador só se sente feliz em seus dias de
folga enquanto no trabalhado permanece aborrecido. Seu trabalho não é voluntario, mas imposto e forçado.
Na alienação o ser humano perde sua individualidade, transforma-se em mercadoria, sente-se como uma
“coisa”, que só alcançará sucesso no “mercado das personalidades” (COTRIM, 2010, p. 147)! Cada pessoa vê a
outra segundo critérios e valores definidos por esse mercado
A alienação torna o trabalho estranhado, o trabalhador não se apropria do que é produzido. O indivíduo não se
reconhece no trabalho, se desumaniza, o trabalho longe de ser sua realização enquanto indivíduo é sua escravidão.
Alienação da nossa própria vontade, de nossos sentidos utilizados pelo capitalista.
O trabalho como mercadoria: a alienação
A alienação afeta milhões de trabalhadores nas sociedades capitalistas modernas, onde a produção econômica
transformou-se no objetivo do homem, em vez de o homem ser o objetivo da produção.
Esse processo acentuou-se no século XIX, quando o trabalho na maioria das indústrias começou a tornar-se
cada vez mais rotineiro, automatizado e especializado ao ser subdividido em múltiplas operações. Os empresários
industriais visavam, com isso, economizar tempo e aumentar a produtividade.
Ao executar a rotina do trabalho alienado, o ser humano vai se submetendo ao sistema de produção, sem
desfrutar dos benefícios amplos da sua atividade. No plano econômico, o trabalho alienado produz para satisfazer
as necessidades do mercado e não propriamente do trabalhador. Produz, por exemplo, coisas maravilhosas para os
ricos, enquanto mantém o trabalhador na miséria. Produz palácios, enquanto grande número de trabalhadores mora
em casebres. Produz “inteligência”, mas também estupidez e bitolamento para os trabalhadores.
No mundo das mercadorias, é o homem a principal mercadoria, é através da utilização da força de trabalho,
do trabalho vivo no intercâmbio com as máquinas, trabalho morto, que se cria riqueza a mais-valia que é apropriada
pelo burguês; a venda é quantificada pelo tempo, podendo o capitalista aumentar o ritmo da produção e extrair mais
valia relativa, ou aumentar a jornada de trabalho e extrair mais valia absoluta.
Atividade de Filosofia
1. Explique quais são os argumentos das duas posições antagônicas assumidas com relação ao trabalho:
como tortura e como condição humanização. Em seguida, posicione-se sobre a questão.
2. O que significa dizer que o trabalho é uma atividade tipicamente humana?
3. Comente as diferenças entre a interpretação de Hegel e a de Marx a respeito do trabalho.
4. “O trabalho dignifica o homem” X “O trabalho escraviza o homem”. Interprete essa contradição.
5. O que podemos entender por alienação? Comente.
6. Discuta a seguinte frase: “O trabalho dignifica o homem”
7. O trabalhador só se sente feliz em seus dias de folga, enquanto no trabalho permanece
aborrecido. Interprete essa frase de Marx.
8. Elabore uma dissertação com o tema: “Trabalho e lazer: onde está o equilíbrio e a interação?”
Boa sorte!!!