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RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E
POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HISTÓRIA1
Gislaine da Nóbrega Chaves*
INTRODUÇÃO
As relações de gênero afetam homens e mulheres, podendo ser encontradas em
vários espaços do nosso cotidiano: nos movimentos sociais, nas relações familiares, nas
escolas, nas igrejas etc. Dos estudos da mulher às relações de gênero, nas décadas de
1970 e 1980, a historiografia tem se renovado ao incorporar problemáticas,
metodologias e fontes relacionadas ao conceito de gênero. Nesse sentido, as diversas
práticas sócio-históricas e culturais, de mulheres e homens, constituíram-se em objeto
de investigação de historiadores e historiadoras.
Após o período de redemocratização brasileira, assistimos a uma mobilização
nas universidades em torno de formulações teóricas sobre a História das Mulheres e as
Relações de Gênero. No Brasil, a produção acadêmica sobre esse campo do
conhecimento obteve um recrudescimento considerável nas duas últimas décadas. A
criação de cursos de pós-graduação, de núcleos de estudos e pesquisa, a organização de
eventos científicos, o estímulo de departamentos do governo à produção de textos por
meio de concursos, com concessão de premiações, têm contribuído para a disseminação
dos Estudos da Mulher e das Relações de Gênero em diversas áreas do conhecimento.
Embora, atualmente, possamos considerar esse campo de estudos mais definido em seus
contornos teórico-metodológicos, ele ainda carece de legitimidade acadêmica, como
bem afirmam as historiadoras Rachel Soihet e Joana Maria Pedro (2007), ao se
reportarem à História das Mulheres e às Relações de Gênero.
*Profa. Dra. Gislaine da Nóbrega Chaves (Universidade Federal do Tocantins-Campus de
Araguaína/Curso de Licenciatura em História).
1
Convém destacar que não é nosso propósito e nem os limites deste artigo nos permitem discorrer sobre
uma vastidão de obras que fazem parte da historiografia nacional e internacional sobre História das
Mulheres e das Relações de Gênero (campos de estudos indissociáveis), em suas diferentes abordagens,
perspectivas teóricas e fontes de pesquisa, mas mencionar algumas possibilidades de investigação
seguidas do uso de uma bibliografia básica que tem acompanhado nossa prática de ensino, pesquisa e
extensão no cotidiano profissional. Assim, para os que se interessam por essa discussão, indico o
primoroso estado da arte escrito pelas historiadoras SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A
emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de
História. São Paulo, vol. 27, n. 54, jul.-dez., 2007.
2
O texto da historiadora estadunidense Joan Wallach Scott, Gênero: uma
categoria útil para análise histórica, publicado na revista Educação e Realidade, em
1990, tornou-se emblemático para os estudos de gênero no Brasil, por ser talvez a sua
autora uma das primeiras a se preocupar com questões de cunho teórico. Certamente
esse artigo figura como um dos mais utilizados por quem se interessa pelo campo de
estudos feministas e das relações de gênero no país. Em Scott (1990), as relações de
gênero figuram como relações de poder e nos reportam a um contexto amplo que
atravessa várias dimensões da realidade, a exemplo da história, da cultura, da economia
e da política. Nas relações de gênero, o poder é exercido sobre sujeitos, individuais ou
coletivos, terreno onde se cruzam práticas, saberes e instituições, resultando em efeitos
de poder-saber, que se traduzem em diferenças de toda ordem utilizadas para forjar
discriminações e hierarquias.
Indicamos também o artigo de autoria das historiadoras brasileiras Rachel Soihet
e Joana Maria Pedro, A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações
de gênero, publicado pela Revista Brasileira de História, em 2007, que constitui
material bibliográfico imprescindível aos (às) pesquisadores (as) cujas preocupações se
atenham a temas relacionados à História das Mulheres e às Relações de Gênero. A essa
bibliografia podem ser acrescentadas outras, específicas a estudos e pesquisas de áreas
afins ao campo dos estudos históricos, cuja indicação dependerá das peculiaridades do
objeto de pesquisa e da metodologia adotada pelo (a) pesquisador (a). Sob esse prisma,
faz-se necessário frisar que a bibliografia sobre determinado objeto de estudo deve
partir de um projeto, pressupondo uma visão de mundo e escolhas, sugerindo-nos um
devir que envolve a prática de pesquisa na produção do conhecimento histórico. Assim,
o (a) estudante não deve abrir mão da elaboração do projeto de pesquisa, enquanto um
exercício fundamental à sua formação profissional e humana.
O CONCEITO DE GÊNERO: algumas considerações
O gênero é uma das dimensões estruturantes das relações sociais que nos remete
a um conjunto de comportamentos expressos em práticas, atitudes, valores e qualidades
atribuídas a homens ou a mulheres. O sistema sexo/gênero produz hierarquias, situando
os homens (metade positiva) numa posição privilegiada, em detrimento das mulheres
(metade negativa) (CRANNY-FRANCIS, 2003). Relações de gênero são relações de
poder em que o princípio masculino é tomado como parâmetro universal. As
3
desigualdades forjadas a partir do gênero estão presentes em nosso cotidiano (HELLER,
2000), mas, como foram naturalizadas pela cultura androcêntrica, muitas vezes não são
percebidas.
O conceito de gênero está relacionado à construção sociocultural do sexo. Isso
coloca as diferenças entre homens e mulheres no campo das relações de gênero, uma
vez que são utilizadas para justificar as desigualdades sociais. Essa concepção
diferencia-se da compreensão estrita do sexo em sua dimensão biológica, justificadora
de essencialismos, atribuindo a homens e mulheres uma “natureza imutável”. Assim,
conforme Carvalho (2009, p. 19-20), “(...) se lançarmos um olhar mais atento ao
cotidiano provavelmente vamos perceber que não existe essa relação „natural‟: há
homens masculinos que são gays, há homens femininos que são heterossexuais, há
mulheres masculinas heterossexuais; ou seja, há uma diversidade sexual e de gênero”.
Aqui compreendemos que o conceito de gênero eclodiu no campo de estudos
feministas e dos estudos da mulher (WomenStudies), configurando-se como fruto do
Movimento Feminista. Nos seus primórdios, focalizou sua atenção no sujeito “mulher”
e foi questionado pelas mulheres negras, lésbicas, índias e pobres, uma vez que essas
mulheres não se sentiam contempladas em suas demandas. A teoria feminista passou a
articular tal conceito, a partir das décadas de 1980 e 1990, aos conceitos de classe,
etnia/raça, geração, orientação sexual, na tentativa de compreender as várias estruturas e
dinâmicas de desigualdade. Por isso, podemos considerar os estudos feministas como
multidisciplinares, uma vez que focalizam diversas temáticas, práticas sociais e
experiências de mulheres. Portanto, o conceito de gênero como contribuição da teoria
feminista está ligado à história recente do Movimento Feminista (LOURO, 1997).
Assim, o Movimento Feminista ocupou espaço na sociedade, nos organismos
governamentais e não governamentais, influenciando o planejamento e a efetivação de
políticas públicas direcionadas às mulheres, bem como a atuação de outros movimentos
sociais.
Corroboramos Saffioti (2003, p. 54) quando afirma que não se pode pensar o
sujeito feminino como um ser unificado, porque é múltiplo, sendo mais contraditório do
que dividido. Assim “o sujeito constituído em gênero o é também em classe social e em
raça/etnia”. Nesse sentido, o tripé gênero, raça/etnia e classe faz parte das contradições
básicas da sociedade e estrutura as relações de poder. Na perspectiva de Saffioti (2003),
essas dimensões, ao se fundirem em um nó, alimentam-se mutuamente, agudizando os
conflitos e dificultando as alianças.
4
O conceito de gênero se inscreve em um universo relacional. Por conseguinte,
há que se considerar o binômio igualdade/diferença na construção de gênero. A mulher,
sujeito oprimido, vivencia um processo de dominação/exploração, e contra ela a
ideologia de gênero, com fins de discriminação, busca atingir eficácia política,
naturalizando diferenças que foram socialmente construídas, e que podem, por isso, ser
transformadas. Para Saffioti (2003, p. 57), “a superação das atuais contradições é
representada por um outro estágio de desenvolvimento que, eventualmente, desse lugar
a outras contradições, mas que também pudesse permitir uma convivência mais humana
entre os diferentes”. Foi por meio dos estudos feministas que a categoria gênero, em sua
historicidade, aliou expressão política a desempenho teórico, problematizando uma série
de questões nas quais homens e mulheres estão imersos no seu cotidiano, na sua história
e na sua cultura. De acordo com Saffioti (2003), o feminismo remeteu as relações de
gênero a sujeitos coletivos, a exemplo do que ocorreu com o conceito de “classe social”.
Nesse sentido, destacamos o caráter educativo dos movimentos sociais progressistas que
adotaram o conceito de gênero ao propiciar, a mulheres e homens, formas plurais de ser,
agir e pensar, rumo à construção de um mundo de paz ou menos desigual.
Logo, a construção de um mundo de paz sob o enfoque de gênero exige a
globalização da solidariedade e da resistência, a extensão da ação do Movimento
Feminista para outros movimentos sociais, o fortalecimento de vínculos entre o local e o
global, e a luta contra as várias dimensões da opressão (MATTE, 2005). Ainda de
acordo com Saffioti (2003, p. 57), para quem as utopias de igualdade chegaram a
fracassar porque não admitiam diferenças, havendo portanto que reformular essas
ideias, “tende-se a imaginar uma sociedade equânime (ou quase) com grandes variações
de atividades, mas com pequenas diferenças no que tange ao padrão de vida,
garantindo-se serviços de educação, saúde, lazer etc. de boa qualidade”.
Sob essa perspectiva e sem desmerecer outras concepções igualmente profícuas,
consideramos a concepção de Saffioti (2003) sobre o conceito de gênero como uma das
mais completas, por transitar entre os aspectos micro e macroestruturais, quando aborda
que a importância desses estudos está diretamente relacionada à construção de um
mundo de paz, onde exista a convivência entre a diferenciação e a homogeneização.
A partir daqui, abordaremos as relações de gênero, por meio da análise de
algumas fontes históricas, como narrativas da literatura de cordel, ditos e músicas
populares, livros didáticos e cartilhas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). Vale destacar que, dados os limites deste artigo, não nos cabe analisar o
5
conjunto dos aspectos relacionados à produção, recepção e disseminação dessas fontes,
mas sugerir ao (a) pesquisador (a) algumas de suas possibilidades. Consideramos que
isso é válido para as todas as seções deste artigo.
SÁBIA, VIRTUOSA... MUNDANA, PÉRFIDA: dicotomias e transversalidades das
relações de gênero na literatura de cordel2
Os folhetos de cordel podem ser analisados sob diversos prismas, desde a sua
autoria, os aspectos técnicos de sua produção (a xilogravura ou as novas formas de
impressão em imagens coloridas, a poética, a métrica e a rima), a recepção de suas
mensagens, a história da literatura de cordel, o contexto histórico em que foram
produzidos, a diversidade de temas e gêneros narrativos que envolvem a disseminação e
assimilação desse tipo de literatura pelo público leitor. Considerando a delimitação do
universo temático com foco nas relações de gênero, temos a visão paradigmática
espelhada no binômio da mulher: santa (Maria) x pecadora (Eva), seguida de algumas
derivações estereotipadas contidas na literatura de cordel, como exemplificamos abaixo:
Maria (Santa) Eva (Pecadora)
.
1. Esposa-mãe 1. Infiel
2. Carinhosa 2. Ciumenta
3. Sábia 3. Namoradeira
4. Curandeira-conselheira 4. Imoral
5. Viúva 5. Bêbada
A título de ilustração, analisamos aqui o emblemático folheto de cordel História
da Donzela Teodora, de autoria de Leandro Gomes de Barros, em que a mulher ocupa o
lugar de sábia, revelando o autor uma visão enaltecedora, seguindo o paradigma da
mulher-santa.
A donzela Teodora figura no romance como sábia, escrava/serva, portanto cativa
e submissa. Em momento algum a sua condição social de serva – “ser a serviço do
outro” – é questionada; antes, as qualidades que possui são apresentadas como valores
em demonstração-vitrine: a donzela, surpreendentemente, é bela e sábia para que todos
2
Seção adaptada da monografia elaborada por CHAVES, Gislaine da Nóbrega. A Mulher na Literatura
de Cordel: uma questão de Gênero. João Pessoa, 1997. 53 p. Monografia (Curso de Especialização em
Sociologia) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba.
6
possam vê-la. A história retrata o saber de uma bela donzela vendida a um negociante
que mandou educá-la bem, como revela o trecho abaixo:
(...)
Admirou todo mundo
o saber dessa donzela
tudo que era em ciência
podia se encontrar nela
o professor que ensinou-a
depois aprendeu com ela
(...)
Mas o mercador perde toda a sua fortuna e pede conselhos à donzela, que
planeja a sua própria venda ao rei Almansor. Ardilosamente, ela vence três sábios
renomados e volta com o seu senhor ao ter recuperado a fortuna dele. Interessa-nos
observar como vários sábios foram vencidos pela donzela que consultada sobre o peso,
a idade e a conduta de todas as mulheres, responde de forma preconceituosa e
estereotipada que:
(...)
-As de trinta e quarenta
que dizes tu que elas são?
disse ela: uma dessas
é de consideração
-Das de 50 o que dizes?
-Só prestam para oração.
-Que dizes das 70
-Deviam estar num castelo
rezando por quem morreu
lamentando o tempo belo;
-Que dizes das de 80?
-Só prestam para o cutelo.
-Que me dizes das donzelas
de vinte anos de idade?
respondeu: sendo formosa
parece uma divindade
principalmente ao homem
que lhe tiver amizade
Disse a Donzela: a mulher
é sempre a arca do bem
porém só quem a criou
sabe o pêso que ela tem
isso é uma coisa ignota
disso não sabe ninguém.
(...)
É válido salientar que, seja a aparência ou mesmo a conduta feminina, retratada
pela donzela, se faz sentir sob a voz do autor que é masculina. Como as ideias que
predominam, numa sociedade estratificada, são as ideias da classe dominante, o ideal de
beleza e conduta da mulher presente no cordel seria justamente aquele pautado em um
modelo ocidentalizado. A donzela, então, ao ser indagada sobre quais sinais são
necessários para que uma mulher seja formosa responde com uma descrição que se
enquadra em certo ideal de beleza feminina, pautado em um modelo europeu
semelhante à “Virgem de Nazaré”:
7
(...)
- Há de ter 3 partes negras
de côres bem reluzentes
sobrancelhas, olhos, cabelos
de negras cores e ardentes
branco o lacrimal dos olhos
ter branca a face e os dentes.
(...)
Terá 3 partes pequenas
o nariz, a bôca e o pé
largas as cadeiras e ombros
ninguém dirá que não é;
cujos sinais teve-os todos
uma Virgem de Nazaré.
A tradição ibérica influenciou demasiadamente as concepções embasadoras dos
romances de folhetim, e por decorrência legou à nossa cultura valores que reforçam
comportamentos voltados para a submissão. Na literatura de cordel encontramos visões
distintas sobre a mulher - ora ela é representada como mãe virtuosa, cumpridora de seus
deveres, ora como mundana, "cangalheira", pérfida... - o que por si só exige
aprofundamentos sobre as relações de gênero em manifestações da cultura popular
como a literatura de cordel.
“PRENDAM SUAS CABRITAS, POIS MEU BODE ESTÁ SOLTO”: relações de
gênero em polos distintos
A cultura popular está repleta de visões de mundo que reforçam práticas
androcêntricas e patriarcais, a exemplo dos ditos populares que podem ser utilizados
como fontes de pesquisa em diversos campos do conhecimento, a exemplo da máxima:
“Prendam suas cabritas, pois meu bode está solto”. Sob o ponto de vista das relações de
gênero, depreendemos pelo menos dois significados decorrentes da análise do referido
dito popular: 1) Que um jovem adolescente deve pôr à prova sua virilidade
(masculinidade) por meio do maior número possível de relações sexuais que possa ter,
mantendo sempre uma postura dinâmica em relação ao ato sexual e a sua sexualidade3
,
considerando ainda que não deverá ter qualquer tipo de responsabilidade sobre seus
atos, inclusive se dessa relação ocorrer uma gravidez. Nesse caso, ao jovem, que se
tornará um homem, lhe é atribuído o espaço público, porque ele é educado com maior
3
Em meados do século XX, têm-se evidências de uma sociedade conservadora e moralista, como revela o
trecho de Del Priore (2011, p. 165-166): “Mantendo a velha regra, eram os homens que escolhiam e, com
certeza, preferiam as recatadas, capazes de se enquadrar nos padrões da „boa moral‟ e da „boa família‟. A
moça de família manteve-se como modelo das garotas dos anos 50 e seus limites eram bem conhecidos,
embora as atitudes condenáveis variassem das cidades grandes para as pequenas, nos diferentes grupos e
camadas sociais. (...). Em contrapartida, relações sexuais de homens com várias mulheres não só eram
permitidas, como frequentemente desejadas. Tinha-se horror ao homem virgem, inexperiente. Os rapazes
procuravam aventuras com as „galinhas ou biscates‟, com as quais desenvolviam todas as familiaridades
proibidas com as „moças de família‟. Sua virilidade era medida pelo número e desempenho nessas
experiências (...)”.
8
trânsito e com possibilidades de se preparar e ocupar inúmeros espaços4
; 2) Por outro
lado, essa assertiva evidencia também apelos a aprendizagens inspiradas em uma
educação diferenciada e sexista, uma vez que à jovem adolescente é atribuído um papel
social cuja postura esperada é a de total inércia frente ao ato sexual, à sua sexualidade e
sobretudo aos atos do jovem, porque é ele quem sempre deve estar à frente das decisões.
É como se ela não pudesse ter nenhum poder no relacionamento, devendo manter uma
posição de submissão diante dele. Nesse caso, a jovem, que se tornará uma mulher, deve
ser educada no confinamento do espaço doméstico ou mesmo com inúmeras restrições,
tendo seu trânsito limitado, e, não raras vezes, enfrentando dificuldades quando se
depara com a necessidade de ocupar espaços de poder. Além disso, uma gravidez
indesejada, ou não planejada, pode acarretar dificuldades para a jovem adolescente,
interferindo na permanência dela no espaço escolar e na sua qualidade de vida.
Como bem assinala Del Priore (2011, p. 125-126), quando se refere às mudanças
ocorridas nos anos de 1930, a dupla moral apresenta-se como uma continuidade
histórica na educação dos (as) jovens. Nesse momento, ocorreu o despertar dos médicos
para a necessidade de educação sexual dos jovens, tendo a Igreja um papel considerável
nessa formação. Assim,
Até então, o sexo era um segredo. A sexualidade individual era vivida em
silêncio e com culpa. Por isso, crescia entre os médicos – afinal essa é a época
de ouro dos higienistas, os especialistas em sanitarismo – a conscientização
sobre a necessidade de educação sexual entre os jovens. Os anos 1930 foram o
cenário para os primeiros trabalhos sobre o tema. Mais e mais jovens
adquiriam seus conhecimentos de forma autônoma, pois sua curiosidade
esbarrava no sigilo dos pais. Na cidade grande, longe das galinhas, vacas e
bananeiras, a iniciação dos meninos se fazia de outra maneira. Se a Igreja
continuava insistindo na „pureza‟ de crianças e adolescentes – o termo já era
empregado, então – para preservá-los dos „vícios‟, uma corrente dentro dela
procurava combater a dupla moral. Como funcionariam os casamentos de
forma saudável se as jovens continuassem educadas „para nada saber‟ e os
rapazes indo ao bordel? Resposta: explicando tudo direitinho, mas treinando a
castidade. Fundamental era que eles não contraíssem moléstias venéreas e elas
aprendessem mais sobre a maternidade.
Os argumentos de Del Priore (2011, p. 129), indicando que até os anos de 1940
o sexo era sinônimo de higiene, tornando-se difícil romper seus tabus e segredos, nos
4
Aqui não é demais dizer que o sexo e a sexualidade foram marcados por uma educação repressora e
moralista. Historicamente, as mudanças de mentalidade são extremamente difíceis de serem rompidas.
Assim, de acordo com Del Priore (2011, p. 163), “(...) Em meados do século XX, continuava-se a
acreditar que ser mãe e dona de casa era o destino natural das mulheres, enquanto a iniciativa, a
participação no mercado de trabalho, a força e o espírito de aventura definiriam a masculinidade (...)”.
9
faz refletir sobre as aprendizagens de gerações que foram educadas sob os moldes de
uma educação sexista, e, não raras vezes, sob a égide do ocultamento e da ignorância.
Conforme a autora, com a reprodução em grande escala da fotografia e das primeiras
projeções públicas de filmes, a pornografia e o erotismo foram incentivados a tomar
novos caminhos. Exemplos citados sugerem algumas funções desses recursos visuais e
audiovisuais, a exemplo das revistas “para homens” e dos estereótipos relacionados às
mulheres nas projeções fílmicas. Assim,
Acusadas de oferecer uma forma de pornografia individual e despida de
sentimentos, as revistas „para homens‟ tinham funções: descoberta ou ativação
da sexualidade para aqueles inibidos ou inexperientes. Reativação, para os
entediados. E substituição, graças ao voyeurismo e à masturbação, para aqueles
que se encontrassem abandonados ou desejosos de satisfazer desejos
mantendo-se fiéis às companheiras (DEL PRIORE, 2011, p. 130).
E, mais adiante, referindo-se às primeiras projeções fílmicas, acrescenta: “(...)
Tal como na fotografia, os estereótipos estavam sempre presentes: a ninfeta, a mulher
madura, a sofisticada, a camponesa, a exótica (...)”. (DEL PRIORE, 2011, p. 132). Del
Priore (2011, p. 133) esclarece-nos ainda que:
Imagens licenciosas em quadrinhos, filmes e fotos demonstravam a lenta, mas
inevitável liberação dos espíritos pela prática do prazer físico. Vagarosamente,
ficariam para trás higienistas e moralistas. Pois a maioria queria comer do fruto
proibido. Mal sabiam que teriam que esperar mais de setenta anos até ouvir o
grito: „É proibido proibir!‟.
Depreendemos ainda de Del Priore (2011) que a fotografia e o cinema
propiciaram, além da disseminação de estereótipos sexistas, escapar à repressão sexual,
contribuindo para a formação da cultura histórica de homens e mulheres no Brasil.
“AMOR DE RAPARIGA NÃO VINGA, NÃO”: relações de gênero em um mesmo
polo
As fontes auditivas constituem farto material em que encontramos evidências
históricas da participação de indivíduos na sociedade. Produções musicais, divulgadas
pela mídia, com refrãos de fácil memorização, fazem parte do arsenal de produtos de
consumo que se adéquam ao gosto popular. Além disso, mobilizam subjetividades,
representações e sentimentos na formação de diversos sujeitos, caracterizando-se como
fenômeno de massa. Essas fontes podem ser analisadas, a partir de seu contexto de
10
produção e recepção, das mensagens veiculadas por meio de suas letras, da performance
de seus intérpretes em shows, de suas melodias e ritmos, de sua linguagem e dos meios
técnicos e históricos que envolvem a materialização desses recursos, além da própria
história da música.
A disseminação de estereótipos sexistas pode ser encontrada em letras de
músicas, como “Amor de Rapariga” 5
, na qual percebemos o reforço a juízos
maniqueístas, inspirados nas figuras de Maria e de Eva (com derivações já abordadas na
seção inicial deste artigo), cuja oposição se baseia na conduta sexual de uma suposta
“esposa” e de uma “amante”. Ao se referir ao Brasil dos anos de 1950, Del Priore
(2011, p. 160-161) deixa entrever a construção de modelos similares a esses:
A mulher ideal era definida a partir dos modelos femininos tradicionais –
ocupações domésticas e o cuidado dos filhos e do marido – e das características
próprias da „feminilidade‟, como instinto materno, pureza, resignação e doçura.
Na prática, a moralidade favorecia as experiências sexuais masculinas
enquanto procurava restringir a sexualidade feminina aos parâmetros do
casamento convencional. Nesse cenário, moviam-se moças de família versus
levianas, galinhas versus moças para casar, vassourinhas e maçanetas.
„Dar-se ao respeito‟ era uma palavra de ordem. „Não casar‟ era sinônimo de
fracasso e interromper carreira, na chegada do primeiro filho, considerado
normal. As esposas dos „anos dourados‟ eram valorizadas por sua capacidade
de responsabilizar-se pela felicidade doméstica, „conquistando o homem pelo
coração, mas conservando-o pelo estômago‟. Os casais viviam o dia a dia (sic)
em mundos diferentes, partilhando poucos interesses comuns fora do âmbito
familiar (grifo nosso).
Essa reprodução dos estereótipos contra a mulher, inspirados nos papéis da
mulher “santa” e da mulher “pervertida”, refletem oposições e desvalorização no
interior de um mesmo polo, mulher/mulher, tendo sido o homem o alvo da contenda
entre as duas mulheres – uma é a rapariga, que: “Não tem sentimento, não tem coração”
– equivale à mulher vulgar, destruidora de lares, fútil e diferente da esposa, identificada
à guardiã do lar, submissa, passiva, “à espera de” e sempre disposta a aceitar as traições
do marido6
, quando a letra afirma: “Tô esperando ele vindo de você”. Do verso,
depreendemos pelo menos três mensagens subliminares: 1) É natural que o homem
5
Composição e interpretação de Rafaella Liz no estilo forró gravada pela MD Music em 2003.
Disponível em: http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/mulheres-perdidas/amor-de-
rapariga/1117517 Acesso em: 01 mar 2013.
6
Expressão de uma educação diferenciada e sexista também pode ser observada em trecho de Del Priore
(2011, p. 161) sobre as relações extraconjugais: “As aventuras extraconjugais das mulheres eram
severamente punidas. Como a honra do marido dependia do comportamento da esposa, se ela a
manchasse era colocada de lado. Já a infidelidade masculina era explicada pelo comportamento
„naturalmente poligâmico‟ do homem. Em casa, a paz conjugal deveria ser mantida a qualquer preço e as
„aventuras‟ consideradas como passageiras”.
11
possa trair; 2) É mais natural ainda que a mulher (esposa) aceite traições, pois ela é
diferente da “rapariga”, concepção reveladora de simplificações da realidade e
endossada no verso: “Essa é a diferença entre nós duas”7
; no papel de “esposa”, ela
precisa atender às expectativas do marido8
, uma vez que: “Todo homem quer uma
mulher só sua”; afirmação generalizante, uma vez que alguns homens preferem o
celibato ou a companhia de outro homem9
. Ademais, a “esposa” está disposta a aceitar
não somente as traições, na expectativa de que ele irá voltar e fazê-la feliz, mas também
se dispõe a retornar a um relacionamento cotidiano de humilhações e maus-tratos; 3)
percebemos ainda a existência de uma dupla moral masculina, pois ele para se realizar
sexual e afetivamente mantém dois relacionamentos, explorando as duas mulheres - a
amante e a esposa. Além disso, no refrão abaixo, não se percebe que entre um polo e
outro (feminino) existam variadas matizes:
Amor de rapariga não vinga não
Não tem sentimento não tem coração
Eu sei que logo ele vai perceber
Essa é a diferença entre nós duas
Todo homem quer uma mulher só sua
Tô esperando ele vindo de você.
Assim, a multiplicidade do “ser” mulher pode se assemelhar à santidade, à
perversão, ou mesmo não se enquadrar em nenhum desses paradigmas. A mulher, em
7
O cenário modifica-se após a revolução sexual, mas Del Priore (2011, p. 185) chama-nos a atenção para
os apelos ao tradicional papel de esposa e mãe, em revista de época (Ele e Ela de 1969), como próprios à
natureza feminina, apesar do reconhecimento de sua dimensão intelectual. Desse modo, evidenciava-se a
diferença entre namorada e amada: “Vida doméstica, passividade? Sim. Pois essa revolução tinha sua face
oculta: o discurso normativo, a pressão do grupo, a culpa, a diferença entre mulheres certas – as que „não
davam‟ – e erradas – „as que davam‟”.
8
Trecho elucidativo, quanto a essa questão, encontra-se em Del Priore (2011, p. 167-168), quando aborda
a visão de conselheiras sentimentais sobre a infidelidade masculina e o papel de submissão da mulher:
“(...) Nada de enfrentamentos, conversa entre iguais ou franqueza excessiva. Se quisesse comprar um
vestido, realizar uma viagem ou recuperá-lo depois de um affair extraconjugal, que usasse o jeitinho.
Nada de ser „exigente ou dominadora‟. O melhor era sempre colocá-lo em primeiro lugar, agindo de
forma „essencialmente feminina‟. O „temperamento poligâmico‟ dos homens justificava tudo”:
„mantenha-se no seu lugar, evitando a todo o custo cenas desagradáveis que só servirão para exacerbar a
paixão de seu marido pela outra (...)”.
9
O fato é que, na contemporaneidade, observamos continuidades e descontinuidades nas relações afetivas
de homens e mulheres. Corroboramos Del Priore (2011, p. 235-236) que nos chama a atenção para as
transformações da intimidade, destacando: “(...) A „fidelidade incondicional‟ de outrora foi trocada pela
„fidelidade enquanto se ama‟. De juramento solene, ela passou a consciência do provisório.
Transformações econômicas, demográficas, culturais e sociais agiram para modificar tais relações. Os
álbuns de retratos ganharam novos atores: madrastas, padrastos, meios-irmãos e produções
independentes. (...). Os avós têm novo papel: criar e educar os netos, repartindo com pais biológicos
responsabilidades, inclusive financeiras. Uma mudança importante se dá para as minorias: os
homossexuais começam a sair do armário e a ocupar a cena pública. (...). É o começo do fim de uma
sociedade que produzia sofrimento graças ao jogo da repressão, do interdito, da miséria sexual” (grifo
nosso).
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seu cotidiano, vivencia dilemas, dissabores, angústias, mas também momentos de
contentamento, sonhos, expectativas, podendo transcender qualquer padrão derivado
desses modelos.
TRAÇOS DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NOS LIVROS DIDÁTICOS:
continuidades e rupturas
Os livros didáticos podem ser analisados a partir de seu contexto de produção,
circulação e recepção, focalizando o (a) pesquisador (a) autoria, linguagem e conteúdos,
capas e imagens, tendências do mercado, abordagem teórico-metodológica, público
leitor, além dos objetivos propostos nos exercícios contidos neles.
Assim, não nos são desconhecidas as raras imagens de mulheres presentes nos
livros didáticos destinados a crianças e adolescentes. Apesar das mudanças ocorridas
nesse tipo de material didático, a mulher ainda figura ocupando o espaço doméstico, no
tradicional papel de esposa e mãe, compondo o quadro de uma típica família ideal – a
nuclear burguesa, modelo composto pelo casal homem/mulher/filhos e filhas10
. Quanto
ao espaço público, as imagens presentes em alguns livros ainda reforçam os estereótipos
profissionais da mulher, que ocupa as profissões de professora ou de enfermeira, de
forma geral desempenhando funções que envolvem a abnegação e o cuidado com o
outro.
Já em uma parte dos livros didáticos de História, destinados aos (às) pré-
adolescentes e adolescentes, quem não se lembra do remetimento esporádico a mulheres
“gloriosas” e destacadas por sua presença emblemática na história? Ora, nos referidos
livros didáticos aparecia uma ou outra imagem de mulher, a exemplo de Anita Garibaldi
(personagem feminina que lutou ao lado do marido Giuseppe Garibaldi na Guerra dos
Farrapos e em outras frentes de luta no Brasil e no exterior) e da Princesa Isabel
(considerada “a redentora” por ter, por meio da Lei Áurea, abolido a escravidão no
Brasil).
10
Embora tenhamos observado tendências à mudança, como em PASSOS, Célia Maria Costa; SILVA,
Zeneide Albuquerque Inocêncio da. Coleção Eu Gosto Integrado. 3º ano Ensino Fundamental. São
Paulo: IBEB, 2009, que apresentam diferenças na extensão e composição familiar: “(...) Muitas vezes
a criança vive com a mãe ou com o pai, quando estes moram em casas diferentes. Há crianças que
vivem com os avós ou os tios. Outras crianças são adotadas por uma família. Há ainda crianças que
vivem em orfanatos, formando uma grande família (...)” (PASSOS e SILVA, 2009, p. 281).
13
Não nos esqueçamos também de Joana d‟Arc (queimada viva, acusada de
heresia, vista como feiticeira, bruxa, e depois beatificada pela Igreja Católica) e de
Maria Quitéria (a Joana d‟Arc brasileira, ou o “Soldado Medeiros”, que atuou nas lutas
pela independência do Brasil, no estado da Bahia). Essas mulheres, numa época em que
o exército não permitia o ingresso delas nos seus quadros, usaram indumentária e
adotaram comportamentos masculinos, motivando debates em sua época e no século
XX. Há relatos de que usavam roupas masculinas não só para ingressar no exército, mas
para se proteger contra abusos sexuais e estupros. Assim, de acordo com Dekker & Pol
(apud Burke, 2002, p. 78), o processo de construção social ou cultural do gênero
também está sob escrutínio histórico:
Maria van Antwerpen, por exemplo, de fato nascida em Breda, em 1719, era
órfã e foi acolhida, porém maltratada, por sua tia. Começou a trabalhar como
empregada doméstica, mas foi despedida, e decidiu-se alistar como soldado.
Conforme sua autobiografia, tomou essa atitude porque ouvira falar sobre
outras mulheres que haviam feito o mesmo e por temer ser obrigada a
prostituir-se (DEKKER & POL apud BURKE, 2002, p. 78).
De forma geral, o lugar que a mulher ocupa nos livros didáticos é extremamente
restrito, apesar dos “Estudos da Mulher e das Relações de Gênero” terem avançado
bastante no nosso país. Nos livros didáticos de História, essas mulheres eram destacadas
pelos seus “feitos grandiosos” ou mesmo como apêndice das ações protagonizadas pelos
homens, ou ainda por sua postura “excepcional” e fora do comum para uma mulher. Em
suma, ora aparecia a mulher branca, de elite, ora aquela que por seus feitos grandiosos,
“excepcionais para uma mulher”, seria merecedora de destaque na história. Todavia, a
mulher comum, do nosso cotidiano, não aparecia; menos ainda mulheres militantes de
movimentos sociais ou participantes de manifestações populares. Um elemento
inovador nessa aparição refere-se ao papel ocupado por essa mulher; ela aparece
inserida na família, mas também como um sujeito participativo e de direitos,
desmontando os estereótipos tradicionais de esposa e mãe11
.
As mulheres sofreram interdições e restrições. Todavia, os obstáculos por elas
encontrados não funcionaram como determinantes de sua condição, uma vez que as
relações de poder têm, como afirma Foucault (1979, p. 248), não somente a função de
repressão, mas também de produção, gerando fenômenos de resistência no interior do
poder que se busca contestar. A compreensão de Foucault acerca do poder como um
11
Como podemos observar no livro didático elaborado por MORISSAWA, Mitsue. A história da luta
pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001.
14
feixe aberto, presente nas relações, faz-nos pensar sobre as possíveis brechas e margens
ocupadas pelas mulheres no transcorrer da história, considerando sua diversidade em
épocas e culturas diferentes. Essa abertura é reforçada pela concepção foucaultiana de
poder como uma prática social. Nesse sentido, Foucault (1979, p. 248) afirma:
O poder não existe. Quero dizer o seguinte: a idéia (sic) de que existe, em
determinado lugar, ou emanado de um determinado ponto, algo que é um
poder, me parece baseada em uma análise enganosa e que, em todo caso, não
dá conta de um número considerável de fenômenos. Na realidade, o poder é
um feixe de relações mais ou menos organizado, mais ou menos
piramidalizado, mais ou menos coordenado. [...]. Mas se o poder na realidade
é um feixe aberto, mais ou menos coordenado (e sem dúvida mal
coordenado) de relações, então o único problema é munir-se de princípios de
análise que permitam uma analítica das relações de poder.
Quanto à história vivida, não podemos nos esquecer da opressão histórica às
mulheres, principalmente à mulher negra e à índia, submetidas à escravização no
período colonial, condição que se estendeu até o século XIX. No século XX, com o
advento do processo de modernização brasileira e o crescimento econômico, o papel de
subordinação destinado a elas não se modificou substancialmente; a desvalorização de
sua força de trabalho, os altos índices de prostituição, as condições precárias de saúde e
educação continuaram fazendo parte do cotidiano delas e dificultando sua plena
autonomia. Esse panorama começou a se modificar em meados da década de 1970 com
a participação dessas mulheres no Movimento Feminista e na vida política nacional,
tendo essa organização tomado maior impulso de 1992 a 2002 (HERINGER, 2006).
Sob esse prisma, o Movimento Feminista e o campo de estudos feministas
colocaram à educação contemporânea alguns desafios, dentre eles a necessidade de se
discutir e pautar as lutas sociais contra as várias dimensões da opressão, além da
opressão de classe. Ou seja, estabeleceu-se a necessidade de se compreender as relações
de poder para além das relações macroestruturais da luta de classes, e de se evidenciar
outras esferas nas quais ocorrem ou se expressam relações de poder.
A CONSTRUÇÃO DE “NOVAS” RELAÇÕES DE GÊNERO NAS FONTES
ESCRITAS DO MST: percurso e possibilidade das fontes12
12
Para um entendimento aprofundado consultar a tese de CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito
de Gênero no MST: um estudo da sua produção escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) –
Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
15
Do conjunto de fontes deste artigo que versam sobre mulheres e relações de
gênero, não podemos relegar as cartilhas do Movimento de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST)13
. Seu interesse por elaborar uma produção
escrita sobre essa temática surgiu de demandas do Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais (MMTR)14
, assim como da adoção de linhas políticas que visam à
democratização das relações de gênero. O MST, pressionado pelo MMTR e pela própria
organização de mulheres em seu interior, não poderia correr o risco de fragmentar-se,
arriscando sua existência. Consequentemente, julgou preferível manter uma postura
aberta, arriscando-se por meio do diálogo com outras organizações.
Portanto, das fontes temos sua apresentação gráfica e estética, assim como sua
formulação teórico-metodológica e conceitual. Assim, alguns elementos podem ser
utilizados pelo (a) historiador (a) na análise das cartilhas, tais como: ano e local de
produção, autoria, parcerias para a publicação, recortes temáticos, abordagem,
objetivos, simbologia, intertextualidade, contexto histórico propiciador da elaboração do
documento e, sobretudo, a quem se destinam as mensagens contidas nessas fontes.
Podemos considerar também como objeto de análise suas propostas de ação e
investigação. Nesse sentido, não é demais dizer que as fontes podem ser trabalhadas a
partir de sua historicidade, das condições de produção, circulação e difusão das
informações nelas contidas, revelando-se em sua materialidade.
13
Segundo o Calendário Histórico dos Trabalhadores (1998, p. 18-19), o MST foi fundado, oficialmente,
em 24 de janeiro de 1984 e “Nessa data o MST se constituiu como um movimento nacional, depois
de um longo período de lutas (1979-1983) localizadas em vários estados. A fundação aconteceu
durante o 1º Encontro Nacional do MST, realizado em Cascavel, Paraná, de 21 a 24 de janeiro de
1984. Nesse encontro foram definidos os objetivos gerais, as principais reivindicações e as formas de
organização e de luta do MST. Participaram lideranças de luta pela terra de 13 estados do Brasil”. Mas
o mesmo Calendário (1998, p. 65) considera a data 7 de setembro de 1979 como do surgimento do
movimento, uma vez que nela ocorreu a primeira ocupação do MST, quando centenas de famílias
haviam sido expulsas da reserva indígena de Nonai-RS e ocuparam as fazendas Macali e Brilhante, no
município de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul.
14
A década de 1990 aponta para uma redefinição do genérico “Mulher” para “Mulher Trabalhadora
Rural” nas fontes de 1996 e 1998 do MST. Isso porque as “Mulheres Trabalhadoras Rurais” entraram
em cena na década de 1980, e seu movimento foi sendo ampliado graças à mobilização popular em
torno da Assembleia Constituinte de 1988, ocasião em que, pela primeira vez, foi realizada, em nível
nacional, uma negociação de políticas públicas que considerou a questão das mulheres trabalhadoras
rurais. A partir daí, os movimentos de mulheres rurais foram visibilizados e adquiriram caráter
nacional. Ao longo dos anos 1990, multiplicaram-se movimentos sociais que envolviam as mulheres
trabalhadoras rurais (HEREDIA e CINTRÃO, 2006). Surgem, com o MMTR, suas demandas
específicas, a exemplo do reconhecimento da profissão de agricultora, do direito ao título da terra, da
aposentadoria, do salário-maternidade e de questões relacionadas à saúde da mulher, revelando a
necessidade de afirmação de uma identidade coletiva das mulheres rurais, mesmo que esta se
configure em identidades diferentes e agregadas em diversos movimentos de mulheres trabalhadoras
rurais, a exemplo do MST.
16
A elaboração de exercícios reflexivos evidencia uma preocupação do
Movimento não somente com a apresentação textual, mas, também, com a produção, a
reflexão, o questionamento e a aprendizagem das mulheres. A concepção de uma
educação popular como dimensão formativa humana, isto é, como uma prática social,
enquanto devir, educa para a luta e propicia, aos trabalhadores e trabalhadoras rurais,
oportunidades para refletir, descobrir as contradições dos processos que envolvem as
relações de gênero e de classe social, e, diante delas, posicionar-se criticamente,
contribuindo, assim, para o fortalecimento de suas lutas. No quadro abaixo,
evidenciamos a periodização das fontes e seus objetivos:
QUADRO I - Cartilhas do MST sobre Mulher e Relações de Gênero (1988-2004)
ANOS TÍTULO OBJETIVOS
1988 Caderno de Formação nº 15: A mulher nas
diferentes sociedades
“[...] capacitar adequadamente, de tal forma
que sua contribuição às lutas seja cada vez
mais importante. [...] despertar sua atenção
para questões que interessam à mulher e a
toda a classe trabalhadora. [...] servir como
orientação de estudos nos núcleos de
mulheres, nas comunidades, nos
assentamentos e, se possível, discutido junto
com os companheiros” (p. 3).
1996 Cartilha: A questão da mulher no MST “[...] para aprofundarmos nos estados, nas
instâncias, nos grupos de base, etc. o debate
sobre a questão da mulher no MST”.
1998 Cartilha/coletânea de textos: Compreender e
construir novas relações de gênero. Texto:
A questão das mulheres no MST
“Esperamos que as companheiras e
companheiros, estudam e debatam esse
material nas instâncias, nos cursos de
formação, nos coletivos... enfim, que
multipliquem esse estudo e debate em nossa
base e que isso possa ajudar a avançarmos na
construção de novas relações de gênero” (p.
5).
2000 Cartilha: Mulher Sem Terra “[...] fortalecer a participação e a organização
das mulheres. [...]. Refletirmos sobre nossa
realidade e juntas, organizadas, buscaremos
saídas para estudar, debater, enfim, fortalecer
a organicidade do MST” (p. 4).
2001 Caderno do Núcleo nº 20: Mulheres
Trabalhadoras Rurais Construindo um novo
Brasil
“[...] render uma homenagem às mulheres
lutadoras. Ao mesmo tempo que queremos
avançar na compreensão do momento atual
da luta pela reforma agrária [...]” (p. 1)
17
2001 Livro/Resenha: Construindo o caminho “Quisemos reunir num único volume, de
forma didática, o resultado dessas reflexões
para que a militância do MST pudesse
estudar de forma mais organizada e didática.
Esperamos que possa ser um instrumento a
mais no trabalho de formação. Esperamos
que cada companheiro/a possa ter esse
material como uma ferramenta de trabalho
pedagógico, para multiplicar muito mais
militantes” (p. 6).
2003 Coletânea de textos: Construindo novas
relações de gênero: desafiando relações de
poder -
2004 Cartilha: Mulheres Sem Terra: lutando e
semeando novas relações de gênero
“[...] subsidiar os encontros preparatórios do
Acampamento de Mulheres Sem Terra [...]”
(p. 5).
FONTE: CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito de Gênero no MST: um estudo da sua produção
escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba,
João Pessoa, 2009.
As propostas de ação, ancoradas nas fontes produzidas pela direção nacional do
Movimento, são importantes para a formação das trabalhadoras e trabalhadores rurais.
Mas essa produção poderia ser descentralizada (nos casos em que isso pudesse ser
realizado), refletindo dilemas e embates significativos para a cultura histórica das
comunidades do campo em sua diversidade de gênero, étnico-racial, de classe,
geracional, regional, local etc., e, principalmente, com possibilidades de impactar,
amplamente, a formação de seus sujeitos preferenciais - as mulheres da base. Este seria
mais um meio de visibilização do Movimento enquanto sujeito coletivo inserido em um
contexto histórico-cultural, cuja atuação ocorre através de contradições, embates,
dilemas e conquistas de direitos das mulheres.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações de gênero constituem uma das dimensões estruturantes da realidade
vivenciada pelos sujeitos e como tal se constitui em um tema de pesquisa com variados
desdobramentos. Evidenciamos, portanto, algumas pistas para que o (a) estudante do
Curso de História possa ser encaminhado (a) pelas veredas que o (a) conduzirão rumo à
elaboração de seu trabalho monográfico.
18
As fontes apresentadas desafiam a criatividade do (a) historiador (a), sobretudo
no que concerne ao diálogo com a história dessas fontes, ao contexto de época, às
relações estabelecidas entre sujeitos no transcorrer do processo histórico, à relação entre
temporalidade/espacialidade, objetividade/subjetividade, e à interface entre áreas do
conhecimento, artesanato que envolve o ofício do (a) historiador (a) na tessitura de um
projeto de pesquisa, que, grosso modo, pressupõe o contato inicial com as fontes, a
identificação de um problema, a escolha de um marco teórico-metodológico, o exercício
de reflexão e da escrita no desvelamento de aspectos da realidade.
Destarte, as fontes apontadas representam o registro de uma memória, as marcas
de um tempo, de um contexto e de uma mentalidade que embora já tenham sido objeto
de investigação por estudiosos (as) de diversas áreas, inclusive por historiadores (as),
ainda se apresentam como fontes desafiadoras à criatividade do (a) historiador (a) e à
produção do conhecimento histórico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de; ANDRADE, Fernando César Bezerra de;
JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Gênero e Diversidade Sexual: um glossário. João
Pessoa: Editora Universitária, 2009.
CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito de Gênero no MST: um estudo da sua
produção escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
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(Especialização em Sociologia) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 1997.
CRANNY-FRANCIS, Anne. Gender studies: terms and debates. New York: Palgrave
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DEL PRIORE, Mary. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. 2
ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. Tradução por Carlos Nelson Coutinho e
Leandro Konder. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
19
HEREDIA, B. M. A. de; CINTRÃO, R. P. Gênero e acesso a políticas públicas no meio
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UNIFEM, 2006.
HERINGER, Rosana. Diversidade racial e relações de gênero no Brasil contemporâneo.
2006. In: PUGLIA, Júnia. (Coord.). O progresso das mulheres no Brasil. Brasília:
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LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-
estruturalista. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
MATTE, Diane. Estrategias de lãs mujeres para La humanidade [online].Disponível:
<http://alainet.org/publica/mujresis/muj-d.pdf>. Acesso em: 10 fev 2011.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Conceituando o gênero. In: Gênero e Educação.
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Realidade, v. 16, n. 2, p. 5-22. jul./dez. 1990.
SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das
Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol. 27,
n. 54, jul.-dez. 2007.
LIVROS DIDÁTICOS
MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão
Popular, 2001.
PASSOS, Célia Maria Costa; SILVA, Zeneide Albuquerque Inocêncio da. Coleção Eu
Gosto Integrado. 3º ano Ensino Fundamental. São Paulo: IBEB, 2009.
CARTILHAS
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Caderno de formação nº 15: a
mulher nas diferentes sociedades. São Paulo: Secretaria Nacional do MST, 1988.
_____. A questão da mulher no MST. São Paulo: Coletivo Nacional de Mulheres do
MST, 1996.
_____. A questão das mulheres no MST. In: Compreender e construir novas relações
de gênero. 2. ed. São Paulo: Peres, 1998.
_____. Mulher Sem Terra. São Paulo: GH, 2000.
_____. Caderno do núcleo nº 20 mulheres trabalhadoras rurais construindo um novo
Brasil: 8 de março dia internacional da mulher. 2001.
_____. Construindo o caminho. São Paulo: Secretaria Nacional do MST, 2001.
20
_____. Construindo novas relações de gênero: desafiando relações de poder. São Paulo:
ANCA, 2003.
_____. Mulheres Sem Terra: lutando e semeando novas relações de gênero, 2004.
MÚSICA
Banda Ovelha Negra. Amorderapariga [online].
Disponível:<http://www.radio.uol.com.br/album/banda-ovelha-negra/banda-ovelha-
negra-amor-de-rapariga/3547?cmpid=clink-rad-al>Acesso em: 10 fev 2011.
LITERTURA DE CORDEL
História da Donzela Teodora. Leandro Gomes de Barros. Proprietário: José Bernardo
da Silva. 31 p. Disponível em: <
http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/jn000012.pdf>.Acesso em: 20 dez.
2012.

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RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HISTÓRIA.

  • 1. 1 RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HISTÓRIA1 Gislaine da Nóbrega Chaves* INTRODUÇÃO As relações de gênero afetam homens e mulheres, podendo ser encontradas em vários espaços do nosso cotidiano: nos movimentos sociais, nas relações familiares, nas escolas, nas igrejas etc. Dos estudos da mulher às relações de gênero, nas décadas de 1970 e 1980, a historiografia tem se renovado ao incorporar problemáticas, metodologias e fontes relacionadas ao conceito de gênero. Nesse sentido, as diversas práticas sócio-históricas e culturais, de mulheres e homens, constituíram-se em objeto de investigação de historiadores e historiadoras. Após o período de redemocratização brasileira, assistimos a uma mobilização nas universidades em torno de formulações teóricas sobre a História das Mulheres e as Relações de Gênero. No Brasil, a produção acadêmica sobre esse campo do conhecimento obteve um recrudescimento considerável nas duas últimas décadas. A criação de cursos de pós-graduação, de núcleos de estudos e pesquisa, a organização de eventos científicos, o estímulo de departamentos do governo à produção de textos por meio de concursos, com concessão de premiações, têm contribuído para a disseminação dos Estudos da Mulher e das Relações de Gênero em diversas áreas do conhecimento. Embora, atualmente, possamos considerar esse campo de estudos mais definido em seus contornos teórico-metodológicos, ele ainda carece de legitimidade acadêmica, como bem afirmam as historiadoras Rachel Soihet e Joana Maria Pedro (2007), ao se reportarem à História das Mulheres e às Relações de Gênero. *Profa. Dra. Gislaine da Nóbrega Chaves (Universidade Federal do Tocantins-Campus de Araguaína/Curso de Licenciatura em História). 1 Convém destacar que não é nosso propósito e nem os limites deste artigo nos permitem discorrer sobre uma vastidão de obras que fazem parte da historiografia nacional e internacional sobre História das Mulheres e das Relações de Gênero (campos de estudos indissociáveis), em suas diferentes abordagens, perspectivas teóricas e fontes de pesquisa, mas mencionar algumas possibilidades de investigação seguidas do uso de uma bibliografia básica que tem acompanhado nossa prática de ensino, pesquisa e extensão no cotidiano profissional. Assim, para os que se interessam por essa discussão, indico o primoroso estado da arte escrito pelas historiadoras SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol. 27, n. 54, jul.-dez., 2007.
  • 2. 2 O texto da historiadora estadunidense Joan Wallach Scott, Gênero: uma categoria útil para análise histórica, publicado na revista Educação e Realidade, em 1990, tornou-se emblemático para os estudos de gênero no Brasil, por ser talvez a sua autora uma das primeiras a se preocupar com questões de cunho teórico. Certamente esse artigo figura como um dos mais utilizados por quem se interessa pelo campo de estudos feministas e das relações de gênero no país. Em Scott (1990), as relações de gênero figuram como relações de poder e nos reportam a um contexto amplo que atravessa várias dimensões da realidade, a exemplo da história, da cultura, da economia e da política. Nas relações de gênero, o poder é exercido sobre sujeitos, individuais ou coletivos, terreno onde se cruzam práticas, saberes e instituições, resultando em efeitos de poder-saber, que se traduzem em diferenças de toda ordem utilizadas para forjar discriminações e hierarquias. Indicamos também o artigo de autoria das historiadoras brasileiras Rachel Soihet e Joana Maria Pedro, A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero, publicado pela Revista Brasileira de História, em 2007, que constitui material bibliográfico imprescindível aos (às) pesquisadores (as) cujas preocupações se atenham a temas relacionados à História das Mulheres e às Relações de Gênero. A essa bibliografia podem ser acrescentadas outras, específicas a estudos e pesquisas de áreas afins ao campo dos estudos históricos, cuja indicação dependerá das peculiaridades do objeto de pesquisa e da metodologia adotada pelo (a) pesquisador (a). Sob esse prisma, faz-se necessário frisar que a bibliografia sobre determinado objeto de estudo deve partir de um projeto, pressupondo uma visão de mundo e escolhas, sugerindo-nos um devir que envolve a prática de pesquisa na produção do conhecimento histórico. Assim, o (a) estudante não deve abrir mão da elaboração do projeto de pesquisa, enquanto um exercício fundamental à sua formação profissional e humana. O CONCEITO DE GÊNERO: algumas considerações O gênero é uma das dimensões estruturantes das relações sociais que nos remete a um conjunto de comportamentos expressos em práticas, atitudes, valores e qualidades atribuídas a homens ou a mulheres. O sistema sexo/gênero produz hierarquias, situando os homens (metade positiva) numa posição privilegiada, em detrimento das mulheres (metade negativa) (CRANNY-FRANCIS, 2003). Relações de gênero são relações de poder em que o princípio masculino é tomado como parâmetro universal. As
  • 3. 3 desigualdades forjadas a partir do gênero estão presentes em nosso cotidiano (HELLER, 2000), mas, como foram naturalizadas pela cultura androcêntrica, muitas vezes não são percebidas. O conceito de gênero está relacionado à construção sociocultural do sexo. Isso coloca as diferenças entre homens e mulheres no campo das relações de gênero, uma vez que são utilizadas para justificar as desigualdades sociais. Essa concepção diferencia-se da compreensão estrita do sexo em sua dimensão biológica, justificadora de essencialismos, atribuindo a homens e mulheres uma “natureza imutável”. Assim, conforme Carvalho (2009, p. 19-20), “(...) se lançarmos um olhar mais atento ao cotidiano provavelmente vamos perceber que não existe essa relação „natural‟: há homens masculinos que são gays, há homens femininos que são heterossexuais, há mulheres masculinas heterossexuais; ou seja, há uma diversidade sexual e de gênero”. Aqui compreendemos que o conceito de gênero eclodiu no campo de estudos feministas e dos estudos da mulher (WomenStudies), configurando-se como fruto do Movimento Feminista. Nos seus primórdios, focalizou sua atenção no sujeito “mulher” e foi questionado pelas mulheres negras, lésbicas, índias e pobres, uma vez que essas mulheres não se sentiam contempladas em suas demandas. A teoria feminista passou a articular tal conceito, a partir das décadas de 1980 e 1990, aos conceitos de classe, etnia/raça, geração, orientação sexual, na tentativa de compreender as várias estruturas e dinâmicas de desigualdade. Por isso, podemos considerar os estudos feministas como multidisciplinares, uma vez que focalizam diversas temáticas, práticas sociais e experiências de mulheres. Portanto, o conceito de gênero como contribuição da teoria feminista está ligado à história recente do Movimento Feminista (LOURO, 1997). Assim, o Movimento Feminista ocupou espaço na sociedade, nos organismos governamentais e não governamentais, influenciando o planejamento e a efetivação de políticas públicas direcionadas às mulheres, bem como a atuação de outros movimentos sociais. Corroboramos Saffioti (2003, p. 54) quando afirma que não se pode pensar o sujeito feminino como um ser unificado, porque é múltiplo, sendo mais contraditório do que dividido. Assim “o sujeito constituído em gênero o é também em classe social e em raça/etnia”. Nesse sentido, o tripé gênero, raça/etnia e classe faz parte das contradições básicas da sociedade e estrutura as relações de poder. Na perspectiva de Saffioti (2003), essas dimensões, ao se fundirem em um nó, alimentam-se mutuamente, agudizando os conflitos e dificultando as alianças.
  • 4. 4 O conceito de gênero se inscreve em um universo relacional. Por conseguinte, há que se considerar o binômio igualdade/diferença na construção de gênero. A mulher, sujeito oprimido, vivencia um processo de dominação/exploração, e contra ela a ideologia de gênero, com fins de discriminação, busca atingir eficácia política, naturalizando diferenças que foram socialmente construídas, e que podem, por isso, ser transformadas. Para Saffioti (2003, p. 57), “a superação das atuais contradições é representada por um outro estágio de desenvolvimento que, eventualmente, desse lugar a outras contradições, mas que também pudesse permitir uma convivência mais humana entre os diferentes”. Foi por meio dos estudos feministas que a categoria gênero, em sua historicidade, aliou expressão política a desempenho teórico, problematizando uma série de questões nas quais homens e mulheres estão imersos no seu cotidiano, na sua história e na sua cultura. De acordo com Saffioti (2003), o feminismo remeteu as relações de gênero a sujeitos coletivos, a exemplo do que ocorreu com o conceito de “classe social”. Nesse sentido, destacamos o caráter educativo dos movimentos sociais progressistas que adotaram o conceito de gênero ao propiciar, a mulheres e homens, formas plurais de ser, agir e pensar, rumo à construção de um mundo de paz ou menos desigual. Logo, a construção de um mundo de paz sob o enfoque de gênero exige a globalização da solidariedade e da resistência, a extensão da ação do Movimento Feminista para outros movimentos sociais, o fortalecimento de vínculos entre o local e o global, e a luta contra as várias dimensões da opressão (MATTE, 2005). Ainda de acordo com Saffioti (2003, p. 57), para quem as utopias de igualdade chegaram a fracassar porque não admitiam diferenças, havendo portanto que reformular essas ideias, “tende-se a imaginar uma sociedade equânime (ou quase) com grandes variações de atividades, mas com pequenas diferenças no que tange ao padrão de vida, garantindo-se serviços de educação, saúde, lazer etc. de boa qualidade”. Sob essa perspectiva e sem desmerecer outras concepções igualmente profícuas, consideramos a concepção de Saffioti (2003) sobre o conceito de gênero como uma das mais completas, por transitar entre os aspectos micro e macroestruturais, quando aborda que a importância desses estudos está diretamente relacionada à construção de um mundo de paz, onde exista a convivência entre a diferenciação e a homogeneização. A partir daqui, abordaremos as relações de gênero, por meio da análise de algumas fontes históricas, como narrativas da literatura de cordel, ditos e músicas populares, livros didáticos e cartilhas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Vale destacar que, dados os limites deste artigo, não nos cabe analisar o
  • 5. 5 conjunto dos aspectos relacionados à produção, recepção e disseminação dessas fontes, mas sugerir ao (a) pesquisador (a) algumas de suas possibilidades. Consideramos que isso é válido para as todas as seções deste artigo. SÁBIA, VIRTUOSA... MUNDANA, PÉRFIDA: dicotomias e transversalidades das relações de gênero na literatura de cordel2 Os folhetos de cordel podem ser analisados sob diversos prismas, desde a sua autoria, os aspectos técnicos de sua produção (a xilogravura ou as novas formas de impressão em imagens coloridas, a poética, a métrica e a rima), a recepção de suas mensagens, a história da literatura de cordel, o contexto histórico em que foram produzidos, a diversidade de temas e gêneros narrativos que envolvem a disseminação e assimilação desse tipo de literatura pelo público leitor. Considerando a delimitação do universo temático com foco nas relações de gênero, temos a visão paradigmática espelhada no binômio da mulher: santa (Maria) x pecadora (Eva), seguida de algumas derivações estereotipadas contidas na literatura de cordel, como exemplificamos abaixo: Maria (Santa) Eva (Pecadora) . 1. Esposa-mãe 1. Infiel 2. Carinhosa 2. Ciumenta 3. Sábia 3. Namoradeira 4. Curandeira-conselheira 4. Imoral 5. Viúva 5. Bêbada A título de ilustração, analisamos aqui o emblemático folheto de cordel História da Donzela Teodora, de autoria de Leandro Gomes de Barros, em que a mulher ocupa o lugar de sábia, revelando o autor uma visão enaltecedora, seguindo o paradigma da mulher-santa. A donzela Teodora figura no romance como sábia, escrava/serva, portanto cativa e submissa. Em momento algum a sua condição social de serva – “ser a serviço do outro” – é questionada; antes, as qualidades que possui são apresentadas como valores em demonstração-vitrine: a donzela, surpreendentemente, é bela e sábia para que todos 2 Seção adaptada da monografia elaborada por CHAVES, Gislaine da Nóbrega. A Mulher na Literatura de Cordel: uma questão de Gênero. João Pessoa, 1997. 53 p. Monografia (Curso de Especialização em Sociologia) - Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba.
  • 6. 6 possam vê-la. A história retrata o saber de uma bela donzela vendida a um negociante que mandou educá-la bem, como revela o trecho abaixo: (...) Admirou todo mundo o saber dessa donzela tudo que era em ciência podia se encontrar nela o professor que ensinou-a depois aprendeu com ela (...) Mas o mercador perde toda a sua fortuna e pede conselhos à donzela, que planeja a sua própria venda ao rei Almansor. Ardilosamente, ela vence três sábios renomados e volta com o seu senhor ao ter recuperado a fortuna dele. Interessa-nos observar como vários sábios foram vencidos pela donzela que consultada sobre o peso, a idade e a conduta de todas as mulheres, responde de forma preconceituosa e estereotipada que: (...) -As de trinta e quarenta que dizes tu que elas são? disse ela: uma dessas é de consideração -Das de 50 o que dizes? -Só prestam para oração. -Que dizes das 70 -Deviam estar num castelo rezando por quem morreu lamentando o tempo belo; -Que dizes das de 80? -Só prestam para o cutelo. -Que me dizes das donzelas de vinte anos de idade? respondeu: sendo formosa parece uma divindade principalmente ao homem que lhe tiver amizade Disse a Donzela: a mulher é sempre a arca do bem porém só quem a criou sabe o pêso que ela tem isso é uma coisa ignota disso não sabe ninguém. (...) É válido salientar que, seja a aparência ou mesmo a conduta feminina, retratada pela donzela, se faz sentir sob a voz do autor que é masculina. Como as ideias que predominam, numa sociedade estratificada, são as ideias da classe dominante, o ideal de beleza e conduta da mulher presente no cordel seria justamente aquele pautado em um modelo ocidentalizado. A donzela, então, ao ser indagada sobre quais sinais são necessários para que uma mulher seja formosa responde com uma descrição que se enquadra em certo ideal de beleza feminina, pautado em um modelo europeu semelhante à “Virgem de Nazaré”:
  • 7. 7 (...) - Há de ter 3 partes negras de côres bem reluzentes sobrancelhas, olhos, cabelos de negras cores e ardentes branco o lacrimal dos olhos ter branca a face e os dentes. (...) Terá 3 partes pequenas o nariz, a bôca e o pé largas as cadeiras e ombros ninguém dirá que não é; cujos sinais teve-os todos uma Virgem de Nazaré. A tradição ibérica influenciou demasiadamente as concepções embasadoras dos romances de folhetim, e por decorrência legou à nossa cultura valores que reforçam comportamentos voltados para a submissão. Na literatura de cordel encontramos visões distintas sobre a mulher - ora ela é representada como mãe virtuosa, cumpridora de seus deveres, ora como mundana, "cangalheira", pérfida... - o que por si só exige aprofundamentos sobre as relações de gênero em manifestações da cultura popular como a literatura de cordel. “PRENDAM SUAS CABRITAS, POIS MEU BODE ESTÁ SOLTO”: relações de gênero em polos distintos A cultura popular está repleta de visões de mundo que reforçam práticas androcêntricas e patriarcais, a exemplo dos ditos populares que podem ser utilizados como fontes de pesquisa em diversos campos do conhecimento, a exemplo da máxima: “Prendam suas cabritas, pois meu bode está solto”. Sob o ponto de vista das relações de gênero, depreendemos pelo menos dois significados decorrentes da análise do referido dito popular: 1) Que um jovem adolescente deve pôr à prova sua virilidade (masculinidade) por meio do maior número possível de relações sexuais que possa ter, mantendo sempre uma postura dinâmica em relação ao ato sexual e a sua sexualidade3 , considerando ainda que não deverá ter qualquer tipo de responsabilidade sobre seus atos, inclusive se dessa relação ocorrer uma gravidez. Nesse caso, ao jovem, que se tornará um homem, lhe é atribuído o espaço público, porque ele é educado com maior 3 Em meados do século XX, têm-se evidências de uma sociedade conservadora e moralista, como revela o trecho de Del Priore (2011, p. 165-166): “Mantendo a velha regra, eram os homens que escolhiam e, com certeza, preferiam as recatadas, capazes de se enquadrar nos padrões da „boa moral‟ e da „boa família‟. A moça de família manteve-se como modelo das garotas dos anos 50 e seus limites eram bem conhecidos, embora as atitudes condenáveis variassem das cidades grandes para as pequenas, nos diferentes grupos e camadas sociais. (...). Em contrapartida, relações sexuais de homens com várias mulheres não só eram permitidas, como frequentemente desejadas. Tinha-se horror ao homem virgem, inexperiente. Os rapazes procuravam aventuras com as „galinhas ou biscates‟, com as quais desenvolviam todas as familiaridades proibidas com as „moças de família‟. Sua virilidade era medida pelo número e desempenho nessas experiências (...)”.
  • 8. 8 trânsito e com possibilidades de se preparar e ocupar inúmeros espaços4 ; 2) Por outro lado, essa assertiva evidencia também apelos a aprendizagens inspiradas em uma educação diferenciada e sexista, uma vez que à jovem adolescente é atribuído um papel social cuja postura esperada é a de total inércia frente ao ato sexual, à sua sexualidade e sobretudo aos atos do jovem, porque é ele quem sempre deve estar à frente das decisões. É como se ela não pudesse ter nenhum poder no relacionamento, devendo manter uma posição de submissão diante dele. Nesse caso, a jovem, que se tornará uma mulher, deve ser educada no confinamento do espaço doméstico ou mesmo com inúmeras restrições, tendo seu trânsito limitado, e, não raras vezes, enfrentando dificuldades quando se depara com a necessidade de ocupar espaços de poder. Além disso, uma gravidez indesejada, ou não planejada, pode acarretar dificuldades para a jovem adolescente, interferindo na permanência dela no espaço escolar e na sua qualidade de vida. Como bem assinala Del Priore (2011, p. 125-126), quando se refere às mudanças ocorridas nos anos de 1930, a dupla moral apresenta-se como uma continuidade histórica na educação dos (as) jovens. Nesse momento, ocorreu o despertar dos médicos para a necessidade de educação sexual dos jovens, tendo a Igreja um papel considerável nessa formação. Assim, Até então, o sexo era um segredo. A sexualidade individual era vivida em silêncio e com culpa. Por isso, crescia entre os médicos – afinal essa é a época de ouro dos higienistas, os especialistas em sanitarismo – a conscientização sobre a necessidade de educação sexual entre os jovens. Os anos 1930 foram o cenário para os primeiros trabalhos sobre o tema. Mais e mais jovens adquiriam seus conhecimentos de forma autônoma, pois sua curiosidade esbarrava no sigilo dos pais. Na cidade grande, longe das galinhas, vacas e bananeiras, a iniciação dos meninos se fazia de outra maneira. Se a Igreja continuava insistindo na „pureza‟ de crianças e adolescentes – o termo já era empregado, então – para preservá-los dos „vícios‟, uma corrente dentro dela procurava combater a dupla moral. Como funcionariam os casamentos de forma saudável se as jovens continuassem educadas „para nada saber‟ e os rapazes indo ao bordel? Resposta: explicando tudo direitinho, mas treinando a castidade. Fundamental era que eles não contraíssem moléstias venéreas e elas aprendessem mais sobre a maternidade. Os argumentos de Del Priore (2011, p. 129), indicando que até os anos de 1940 o sexo era sinônimo de higiene, tornando-se difícil romper seus tabus e segredos, nos 4 Aqui não é demais dizer que o sexo e a sexualidade foram marcados por uma educação repressora e moralista. Historicamente, as mudanças de mentalidade são extremamente difíceis de serem rompidas. Assim, de acordo com Del Priore (2011, p. 163), “(...) Em meados do século XX, continuava-se a acreditar que ser mãe e dona de casa era o destino natural das mulheres, enquanto a iniciativa, a participação no mercado de trabalho, a força e o espírito de aventura definiriam a masculinidade (...)”.
  • 9. 9 faz refletir sobre as aprendizagens de gerações que foram educadas sob os moldes de uma educação sexista, e, não raras vezes, sob a égide do ocultamento e da ignorância. Conforme a autora, com a reprodução em grande escala da fotografia e das primeiras projeções públicas de filmes, a pornografia e o erotismo foram incentivados a tomar novos caminhos. Exemplos citados sugerem algumas funções desses recursos visuais e audiovisuais, a exemplo das revistas “para homens” e dos estereótipos relacionados às mulheres nas projeções fílmicas. Assim, Acusadas de oferecer uma forma de pornografia individual e despida de sentimentos, as revistas „para homens‟ tinham funções: descoberta ou ativação da sexualidade para aqueles inibidos ou inexperientes. Reativação, para os entediados. E substituição, graças ao voyeurismo e à masturbação, para aqueles que se encontrassem abandonados ou desejosos de satisfazer desejos mantendo-se fiéis às companheiras (DEL PRIORE, 2011, p. 130). E, mais adiante, referindo-se às primeiras projeções fílmicas, acrescenta: “(...) Tal como na fotografia, os estereótipos estavam sempre presentes: a ninfeta, a mulher madura, a sofisticada, a camponesa, a exótica (...)”. (DEL PRIORE, 2011, p. 132). Del Priore (2011, p. 133) esclarece-nos ainda que: Imagens licenciosas em quadrinhos, filmes e fotos demonstravam a lenta, mas inevitável liberação dos espíritos pela prática do prazer físico. Vagarosamente, ficariam para trás higienistas e moralistas. Pois a maioria queria comer do fruto proibido. Mal sabiam que teriam que esperar mais de setenta anos até ouvir o grito: „É proibido proibir!‟. Depreendemos ainda de Del Priore (2011) que a fotografia e o cinema propiciaram, além da disseminação de estereótipos sexistas, escapar à repressão sexual, contribuindo para a formação da cultura histórica de homens e mulheres no Brasil. “AMOR DE RAPARIGA NÃO VINGA, NÃO”: relações de gênero em um mesmo polo As fontes auditivas constituem farto material em que encontramos evidências históricas da participação de indivíduos na sociedade. Produções musicais, divulgadas pela mídia, com refrãos de fácil memorização, fazem parte do arsenal de produtos de consumo que se adéquam ao gosto popular. Além disso, mobilizam subjetividades, representações e sentimentos na formação de diversos sujeitos, caracterizando-se como fenômeno de massa. Essas fontes podem ser analisadas, a partir de seu contexto de
  • 10. 10 produção e recepção, das mensagens veiculadas por meio de suas letras, da performance de seus intérpretes em shows, de suas melodias e ritmos, de sua linguagem e dos meios técnicos e históricos que envolvem a materialização desses recursos, além da própria história da música. A disseminação de estereótipos sexistas pode ser encontrada em letras de músicas, como “Amor de Rapariga” 5 , na qual percebemos o reforço a juízos maniqueístas, inspirados nas figuras de Maria e de Eva (com derivações já abordadas na seção inicial deste artigo), cuja oposição se baseia na conduta sexual de uma suposta “esposa” e de uma “amante”. Ao se referir ao Brasil dos anos de 1950, Del Priore (2011, p. 160-161) deixa entrever a construção de modelos similares a esses: A mulher ideal era definida a partir dos modelos femininos tradicionais – ocupações domésticas e o cuidado dos filhos e do marido – e das características próprias da „feminilidade‟, como instinto materno, pureza, resignação e doçura. Na prática, a moralidade favorecia as experiências sexuais masculinas enquanto procurava restringir a sexualidade feminina aos parâmetros do casamento convencional. Nesse cenário, moviam-se moças de família versus levianas, galinhas versus moças para casar, vassourinhas e maçanetas. „Dar-se ao respeito‟ era uma palavra de ordem. „Não casar‟ era sinônimo de fracasso e interromper carreira, na chegada do primeiro filho, considerado normal. As esposas dos „anos dourados‟ eram valorizadas por sua capacidade de responsabilizar-se pela felicidade doméstica, „conquistando o homem pelo coração, mas conservando-o pelo estômago‟. Os casais viviam o dia a dia (sic) em mundos diferentes, partilhando poucos interesses comuns fora do âmbito familiar (grifo nosso). Essa reprodução dos estereótipos contra a mulher, inspirados nos papéis da mulher “santa” e da mulher “pervertida”, refletem oposições e desvalorização no interior de um mesmo polo, mulher/mulher, tendo sido o homem o alvo da contenda entre as duas mulheres – uma é a rapariga, que: “Não tem sentimento, não tem coração” – equivale à mulher vulgar, destruidora de lares, fútil e diferente da esposa, identificada à guardiã do lar, submissa, passiva, “à espera de” e sempre disposta a aceitar as traições do marido6 , quando a letra afirma: “Tô esperando ele vindo de você”. Do verso, depreendemos pelo menos três mensagens subliminares: 1) É natural que o homem 5 Composição e interpretação de Rafaella Liz no estilo forró gravada pela MD Music em 2003. Disponível em: http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/mulheres-perdidas/amor-de- rapariga/1117517 Acesso em: 01 mar 2013. 6 Expressão de uma educação diferenciada e sexista também pode ser observada em trecho de Del Priore (2011, p. 161) sobre as relações extraconjugais: “As aventuras extraconjugais das mulheres eram severamente punidas. Como a honra do marido dependia do comportamento da esposa, se ela a manchasse era colocada de lado. Já a infidelidade masculina era explicada pelo comportamento „naturalmente poligâmico‟ do homem. Em casa, a paz conjugal deveria ser mantida a qualquer preço e as „aventuras‟ consideradas como passageiras”.
  • 11. 11 possa trair; 2) É mais natural ainda que a mulher (esposa) aceite traições, pois ela é diferente da “rapariga”, concepção reveladora de simplificações da realidade e endossada no verso: “Essa é a diferença entre nós duas”7 ; no papel de “esposa”, ela precisa atender às expectativas do marido8 , uma vez que: “Todo homem quer uma mulher só sua”; afirmação generalizante, uma vez que alguns homens preferem o celibato ou a companhia de outro homem9 . Ademais, a “esposa” está disposta a aceitar não somente as traições, na expectativa de que ele irá voltar e fazê-la feliz, mas também se dispõe a retornar a um relacionamento cotidiano de humilhações e maus-tratos; 3) percebemos ainda a existência de uma dupla moral masculina, pois ele para se realizar sexual e afetivamente mantém dois relacionamentos, explorando as duas mulheres - a amante e a esposa. Além disso, no refrão abaixo, não se percebe que entre um polo e outro (feminino) existam variadas matizes: Amor de rapariga não vinga não Não tem sentimento não tem coração Eu sei que logo ele vai perceber Essa é a diferença entre nós duas Todo homem quer uma mulher só sua Tô esperando ele vindo de você. Assim, a multiplicidade do “ser” mulher pode se assemelhar à santidade, à perversão, ou mesmo não se enquadrar em nenhum desses paradigmas. A mulher, em 7 O cenário modifica-se após a revolução sexual, mas Del Priore (2011, p. 185) chama-nos a atenção para os apelos ao tradicional papel de esposa e mãe, em revista de época (Ele e Ela de 1969), como próprios à natureza feminina, apesar do reconhecimento de sua dimensão intelectual. Desse modo, evidenciava-se a diferença entre namorada e amada: “Vida doméstica, passividade? Sim. Pois essa revolução tinha sua face oculta: o discurso normativo, a pressão do grupo, a culpa, a diferença entre mulheres certas – as que „não davam‟ – e erradas – „as que davam‟”. 8 Trecho elucidativo, quanto a essa questão, encontra-se em Del Priore (2011, p. 167-168), quando aborda a visão de conselheiras sentimentais sobre a infidelidade masculina e o papel de submissão da mulher: “(...) Nada de enfrentamentos, conversa entre iguais ou franqueza excessiva. Se quisesse comprar um vestido, realizar uma viagem ou recuperá-lo depois de um affair extraconjugal, que usasse o jeitinho. Nada de ser „exigente ou dominadora‟. O melhor era sempre colocá-lo em primeiro lugar, agindo de forma „essencialmente feminina‟. O „temperamento poligâmico‟ dos homens justificava tudo”: „mantenha-se no seu lugar, evitando a todo o custo cenas desagradáveis que só servirão para exacerbar a paixão de seu marido pela outra (...)”. 9 O fato é que, na contemporaneidade, observamos continuidades e descontinuidades nas relações afetivas de homens e mulheres. Corroboramos Del Priore (2011, p. 235-236) que nos chama a atenção para as transformações da intimidade, destacando: “(...) A „fidelidade incondicional‟ de outrora foi trocada pela „fidelidade enquanto se ama‟. De juramento solene, ela passou a consciência do provisório. Transformações econômicas, demográficas, culturais e sociais agiram para modificar tais relações. Os álbuns de retratos ganharam novos atores: madrastas, padrastos, meios-irmãos e produções independentes. (...). Os avós têm novo papel: criar e educar os netos, repartindo com pais biológicos responsabilidades, inclusive financeiras. Uma mudança importante se dá para as minorias: os homossexuais começam a sair do armário e a ocupar a cena pública. (...). É o começo do fim de uma sociedade que produzia sofrimento graças ao jogo da repressão, do interdito, da miséria sexual” (grifo nosso).
  • 12. 12 seu cotidiano, vivencia dilemas, dissabores, angústias, mas também momentos de contentamento, sonhos, expectativas, podendo transcender qualquer padrão derivado desses modelos. TRAÇOS DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NOS LIVROS DIDÁTICOS: continuidades e rupturas Os livros didáticos podem ser analisados a partir de seu contexto de produção, circulação e recepção, focalizando o (a) pesquisador (a) autoria, linguagem e conteúdos, capas e imagens, tendências do mercado, abordagem teórico-metodológica, público leitor, além dos objetivos propostos nos exercícios contidos neles. Assim, não nos são desconhecidas as raras imagens de mulheres presentes nos livros didáticos destinados a crianças e adolescentes. Apesar das mudanças ocorridas nesse tipo de material didático, a mulher ainda figura ocupando o espaço doméstico, no tradicional papel de esposa e mãe, compondo o quadro de uma típica família ideal – a nuclear burguesa, modelo composto pelo casal homem/mulher/filhos e filhas10 . Quanto ao espaço público, as imagens presentes em alguns livros ainda reforçam os estereótipos profissionais da mulher, que ocupa as profissões de professora ou de enfermeira, de forma geral desempenhando funções que envolvem a abnegação e o cuidado com o outro. Já em uma parte dos livros didáticos de História, destinados aos (às) pré- adolescentes e adolescentes, quem não se lembra do remetimento esporádico a mulheres “gloriosas” e destacadas por sua presença emblemática na história? Ora, nos referidos livros didáticos aparecia uma ou outra imagem de mulher, a exemplo de Anita Garibaldi (personagem feminina que lutou ao lado do marido Giuseppe Garibaldi na Guerra dos Farrapos e em outras frentes de luta no Brasil e no exterior) e da Princesa Isabel (considerada “a redentora” por ter, por meio da Lei Áurea, abolido a escravidão no Brasil). 10 Embora tenhamos observado tendências à mudança, como em PASSOS, Célia Maria Costa; SILVA, Zeneide Albuquerque Inocêncio da. Coleção Eu Gosto Integrado. 3º ano Ensino Fundamental. São Paulo: IBEB, 2009, que apresentam diferenças na extensão e composição familiar: “(...) Muitas vezes a criança vive com a mãe ou com o pai, quando estes moram em casas diferentes. Há crianças que vivem com os avós ou os tios. Outras crianças são adotadas por uma família. Há ainda crianças que vivem em orfanatos, formando uma grande família (...)” (PASSOS e SILVA, 2009, p. 281).
  • 13. 13 Não nos esqueçamos também de Joana d‟Arc (queimada viva, acusada de heresia, vista como feiticeira, bruxa, e depois beatificada pela Igreja Católica) e de Maria Quitéria (a Joana d‟Arc brasileira, ou o “Soldado Medeiros”, que atuou nas lutas pela independência do Brasil, no estado da Bahia). Essas mulheres, numa época em que o exército não permitia o ingresso delas nos seus quadros, usaram indumentária e adotaram comportamentos masculinos, motivando debates em sua época e no século XX. Há relatos de que usavam roupas masculinas não só para ingressar no exército, mas para se proteger contra abusos sexuais e estupros. Assim, de acordo com Dekker & Pol (apud Burke, 2002, p. 78), o processo de construção social ou cultural do gênero também está sob escrutínio histórico: Maria van Antwerpen, por exemplo, de fato nascida em Breda, em 1719, era órfã e foi acolhida, porém maltratada, por sua tia. Começou a trabalhar como empregada doméstica, mas foi despedida, e decidiu-se alistar como soldado. Conforme sua autobiografia, tomou essa atitude porque ouvira falar sobre outras mulheres que haviam feito o mesmo e por temer ser obrigada a prostituir-se (DEKKER & POL apud BURKE, 2002, p. 78). De forma geral, o lugar que a mulher ocupa nos livros didáticos é extremamente restrito, apesar dos “Estudos da Mulher e das Relações de Gênero” terem avançado bastante no nosso país. Nos livros didáticos de História, essas mulheres eram destacadas pelos seus “feitos grandiosos” ou mesmo como apêndice das ações protagonizadas pelos homens, ou ainda por sua postura “excepcional” e fora do comum para uma mulher. Em suma, ora aparecia a mulher branca, de elite, ora aquela que por seus feitos grandiosos, “excepcionais para uma mulher”, seria merecedora de destaque na história. Todavia, a mulher comum, do nosso cotidiano, não aparecia; menos ainda mulheres militantes de movimentos sociais ou participantes de manifestações populares. Um elemento inovador nessa aparição refere-se ao papel ocupado por essa mulher; ela aparece inserida na família, mas também como um sujeito participativo e de direitos, desmontando os estereótipos tradicionais de esposa e mãe11 . As mulheres sofreram interdições e restrições. Todavia, os obstáculos por elas encontrados não funcionaram como determinantes de sua condição, uma vez que as relações de poder têm, como afirma Foucault (1979, p. 248), não somente a função de repressão, mas também de produção, gerando fenômenos de resistência no interior do poder que se busca contestar. A compreensão de Foucault acerca do poder como um 11 Como podemos observar no livro didático elaborado por MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001.
  • 14. 14 feixe aberto, presente nas relações, faz-nos pensar sobre as possíveis brechas e margens ocupadas pelas mulheres no transcorrer da história, considerando sua diversidade em épocas e culturas diferentes. Essa abertura é reforçada pela concepção foucaultiana de poder como uma prática social. Nesse sentido, Foucault (1979, p. 248) afirma: O poder não existe. Quero dizer o seguinte: a idéia (sic) de que existe, em determinado lugar, ou emanado de um determinado ponto, algo que é um poder, me parece baseada em uma análise enganosa e que, em todo caso, não dá conta de um número considerável de fenômenos. Na realidade, o poder é um feixe de relações mais ou menos organizado, mais ou menos piramidalizado, mais ou menos coordenado. [...]. Mas se o poder na realidade é um feixe aberto, mais ou menos coordenado (e sem dúvida mal coordenado) de relações, então o único problema é munir-se de princípios de análise que permitam uma analítica das relações de poder. Quanto à história vivida, não podemos nos esquecer da opressão histórica às mulheres, principalmente à mulher negra e à índia, submetidas à escravização no período colonial, condição que se estendeu até o século XIX. No século XX, com o advento do processo de modernização brasileira e o crescimento econômico, o papel de subordinação destinado a elas não se modificou substancialmente; a desvalorização de sua força de trabalho, os altos índices de prostituição, as condições precárias de saúde e educação continuaram fazendo parte do cotidiano delas e dificultando sua plena autonomia. Esse panorama começou a se modificar em meados da década de 1970 com a participação dessas mulheres no Movimento Feminista e na vida política nacional, tendo essa organização tomado maior impulso de 1992 a 2002 (HERINGER, 2006). Sob esse prisma, o Movimento Feminista e o campo de estudos feministas colocaram à educação contemporânea alguns desafios, dentre eles a necessidade de se discutir e pautar as lutas sociais contra as várias dimensões da opressão, além da opressão de classe. Ou seja, estabeleceu-se a necessidade de se compreender as relações de poder para além das relações macroestruturais da luta de classes, e de se evidenciar outras esferas nas quais ocorrem ou se expressam relações de poder. A CONSTRUÇÃO DE “NOVAS” RELAÇÕES DE GÊNERO NAS FONTES ESCRITAS DO MST: percurso e possibilidade das fontes12 12 Para um entendimento aprofundado consultar a tese de CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito de Gênero no MST: um estudo da sua produção escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.
  • 15. 15 Do conjunto de fontes deste artigo que versam sobre mulheres e relações de gênero, não podemos relegar as cartilhas do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST)13 . Seu interesse por elaborar uma produção escrita sobre essa temática surgiu de demandas do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR)14 , assim como da adoção de linhas políticas que visam à democratização das relações de gênero. O MST, pressionado pelo MMTR e pela própria organização de mulheres em seu interior, não poderia correr o risco de fragmentar-se, arriscando sua existência. Consequentemente, julgou preferível manter uma postura aberta, arriscando-se por meio do diálogo com outras organizações. Portanto, das fontes temos sua apresentação gráfica e estética, assim como sua formulação teórico-metodológica e conceitual. Assim, alguns elementos podem ser utilizados pelo (a) historiador (a) na análise das cartilhas, tais como: ano e local de produção, autoria, parcerias para a publicação, recortes temáticos, abordagem, objetivos, simbologia, intertextualidade, contexto histórico propiciador da elaboração do documento e, sobretudo, a quem se destinam as mensagens contidas nessas fontes. Podemos considerar também como objeto de análise suas propostas de ação e investigação. Nesse sentido, não é demais dizer que as fontes podem ser trabalhadas a partir de sua historicidade, das condições de produção, circulação e difusão das informações nelas contidas, revelando-se em sua materialidade. 13 Segundo o Calendário Histórico dos Trabalhadores (1998, p. 18-19), o MST foi fundado, oficialmente, em 24 de janeiro de 1984 e “Nessa data o MST se constituiu como um movimento nacional, depois de um longo período de lutas (1979-1983) localizadas em vários estados. A fundação aconteceu durante o 1º Encontro Nacional do MST, realizado em Cascavel, Paraná, de 21 a 24 de janeiro de 1984. Nesse encontro foram definidos os objetivos gerais, as principais reivindicações e as formas de organização e de luta do MST. Participaram lideranças de luta pela terra de 13 estados do Brasil”. Mas o mesmo Calendário (1998, p. 65) considera a data 7 de setembro de 1979 como do surgimento do movimento, uma vez que nela ocorreu a primeira ocupação do MST, quando centenas de famílias haviam sido expulsas da reserva indígena de Nonai-RS e ocuparam as fazendas Macali e Brilhante, no município de Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. 14 A década de 1990 aponta para uma redefinição do genérico “Mulher” para “Mulher Trabalhadora Rural” nas fontes de 1996 e 1998 do MST. Isso porque as “Mulheres Trabalhadoras Rurais” entraram em cena na década de 1980, e seu movimento foi sendo ampliado graças à mobilização popular em torno da Assembleia Constituinte de 1988, ocasião em que, pela primeira vez, foi realizada, em nível nacional, uma negociação de políticas públicas que considerou a questão das mulheres trabalhadoras rurais. A partir daí, os movimentos de mulheres rurais foram visibilizados e adquiriram caráter nacional. Ao longo dos anos 1990, multiplicaram-se movimentos sociais que envolviam as mulheres trabalhadoras rurais (HEREDIA e CINTRÃO, 2006). Surgem, com o MMTR, suas demandas específicas, a exemplo do reconhecimento da profissão de agricultora, do direito ao título da terra, da aposentadoria, do salário-maternidade e de questões relacionadas à saúde da mulher, revelando a necessidade de afirmação de uma identidade coletiva das mulheres rurais, mesmo que esta se configure em identidades diferentes e agregadas em diversos movimentos de mulheres trabalhadoras rurais, a exemplo do MST.
  • 16. 16 A elaboração de exercícios reflexivos evidencia uma preocupação do Movimento não somente com a apresentação textual, mas, também, com a produção, a reflexão, o questionamento e a aprendizagem das mulheres. A concepção de uma educação popular como dimensão formativa humana, isto é, como uma prática social, enquanto devir, educa para a luta e propicia, aos trabalhadores e trabalhadoras rurais, oportunidades para refletir, descobrir as contradições dos processos que envolvem as relações de gênero e de classe social, e, diante delas, posicionar-se criticamente, contribuindo, assim, para o fortalecimento de suas lutas. No quadro abaixo, evidenciamos a periodização das fontes e seus objetivos: QUADRO I - Cartilhas do MST sobre Mulher e Relações de Gênero (1988-2004) ANOS TÍTULO OBJETIVOS 1988 Caderno de Formação nº 15: A mulher nas diferentes sociedades “[...] capacitar adequadamente, de tal forma que sua contribuição às lutas seja cada vez mais importante. [...] despertar sua atenção para questões que interessam à mulher e a toda a classe trabalhadora. [...] servir como orientação de estudos nos núcleos de mulheres, nas comunidades, nos assentamentos e, se possível, discutido junto com os companheiros” (p. 3). 1996 Cartilha: A questão da mulher no MST “[...] para aprofundarmos nos estados, nas instâncias, nos grupos de base, etc. o debate sobre a questão da mulher no MST”. 1998 Cartilha/coletânea de textos: Compreender e construir novas relações de gênero. Texto: A questão das mulheres no MST “Esperamos que as companheiras e companheiros, estudam e debatam esse material nas instâncias, nos cursos de formação, nos coletivos... enfim, que multipliquem esse estudo e debate em nossa base e que isso possa ajudar a avançarmos na construção de novas relações de gênero” (p. 5). 2000 Cartilha: Mulher Sem Terra “[...] fortalecer a participação e a organização das mulheres. [...]. Refletirmos sobre nossa realidade e juntas, organizadas, buscaremos saídas para estudar, debater, enfim, fortalecer a organicidade do MST” (p. 4). 2001 Caderno do Núcleo nº 20: Mulheres Trabalhadoras Rurais Construindo um novo Brasil “[...] render uma homenagem às mulheres lutadoras. Ao mesmo tempo que queremos avançar na compreensão do momento atual da luta pela reforma agrária [...]” (p. 1)
  • 17. 17 2001 Livro/Resenha: Construindo o caminho “Quisemos reunir num único volume, de forma didática, o resultado dessas reflexões para que a militância do MST pudesse estudar de forma mais organizada e didática. Esperamos que possa ser um instrumento a mais no trabalho de formação. Esperamos que cada companheiro/a possa ter esse material como uma ferramenta de trabalho pedagógico, para multiplicar muito mais militantes” (p. 6). 2003 Coletânea de textos: Construindo novas relações de gênero: desafiando relações de poder - 2004 Cartilha: Mulheres Sem Terra: lutando e semeando novas relações de gênero “[...] subsidiar os encontros preparatórios do Acampamento de Mulheres Sem Terra [...]” (p. 5). FONTE: CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito de Gênero no MST: um estudo da sua produção escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009. As propostas de ação, ancoradas nas fontes produzidas pela direção nacional do Movimento, são importantes para a formação das trabalhadoras e trabalhadores rurais. Mas essa produção poderia ser descentralizada (nos casos em que isso pudesse ser realizado), refletindo dilemas e embates significativos para a cultura histórica das comunidades do campo em sua diversidade de gênero, étnico-racial, de classe, geracional, regional, local etc., e, principalmente, com possibilidades de impactar, amplamente, a formação de seus sujeitos preferenciais - as mulheres da base. Este seria mais um meio de visibilização do Movimento enquanto sujeito coletivo inserido em um contexto histórico-cultural, cuja atuação ocorre através de contradições, embates, dilemas e conquistas de direitos das mulheres. CONSIDERAÇÕES FINAIS As relações de gênero constituem uma das dimensões estruturantes da realidade vivenciada pelos sujeitos e como tal se constitui em um tema de pesquisa com variados desdobramentos. Evidenciamos, portanto, algumas pistas para que o (a) estudante do Curso de História possa ser encaminhado (a) pelas veredas que o (a) conduzirão rumo à elaboração de seu trabalho monográfico.
  • 18. 18 As fontes apresentadas desafiam a criatividade do (a) historiador (a), sobretudo no que concerne ao diálogo com a história dessas fontes, ao contexto de época, às relações estabelecidas entre sujeitos no transcorrer do processo histórico, à relação entre temporalidade/espacialidade, objetividade/subjetividade, e à interface entre áreas do conhecimento, artesanato que envolve o ofício do (a) historiador (a) na tessitura de um projeto de pesquisa, que, grosso modo, pressupõe o contato inicial com as fontes, a identificação de um problema, a escolha de um marco teórico-metodológico, o exercício de reflexão e da escrita no desvelamento de aspectos da realidade. Destarte, as fontes apontadas representam o registro de uma memória, as marcas de um tempo, de um contexto e de uma mentalidade que embora já tenham sido objeto de investigação por estudiosos (as) de diversas áreas, inclusive por historiadores (as), ainda se apresentam como fontes desafiadoras à criatividade do (a) historiador (a) e à produção do conhecimento histórico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: UNESP, 2002. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de; ANDRADE, Fernando César Bezerra de; JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Gênero e Diversidade Sexual: um glossário. João Pessoa: Editora Universitária, 2009. CHAVES, Gislaine da Nóbrega. O Conceito de Gênero no MST: um estudo da sua produção escrita. 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009. _____. A Mulher na Literatura de Cordel: uma questão de Gênero. 1997. Monografia (Especialização em Sociologia) – Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1997. CRANNY-FRANCIS, Anne. Gender studies: terms and debates. New York: Palgrave Macmillan, 2003. DEL PRIORE, Mary. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil. 2 ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. Tradução por Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
  • 19. 19 HEREDIA, B. M. A. de; CINTRÃO, R. P. Gênero e acesso a políticas públicas no meio rural brasileiro. In: PUGLIA, J. (Org.). O progresso das mulheres no Brasil. Brasília: UNIFEM, 2006. HERINGER, Rosana. Diversidade racial e relações de gênero no Brasil contemporâneo. 2006. In: PUGLIA, Júnia. (Coord.). O progresso das mulheres no Brasil. Brasília: UNIFEM, 2006. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós- estruturalista. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. MATTE, Diane. Estrategias de lãs mujeres para La humanidade [online].Disponível: <http://alainet.org/publica/mujresis/muj-d.pdf>. Acesso em: 10 fev 2011. SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Conceituando o gênero. In: Gênero e Educação. Caderno de apoio para a educadora e o educador. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Especial da Mulher. Prefeitura de São Paulo. Junho de 2003. SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação e Realidade, v. 16, n. 2, p. 5-22. jul./dez. 1990. SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol. 27, n. 54, jul.-dez. 2007. LIVROS DIDÁTICOS MORISSAWA, Mitsue. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular, 2001. PASSOS, Célia Maria Costa; SILVA, Zeneide Albuquerque Inocêncio da. Coleção Eu Gosto Integrado. 3º ano Ensino Fundamental. São Paulo: IBEB, 2009. CARTILHAS Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Caderno de formação nº 15: a mulher nas diferentes sociedades. São Paulo: Secretaria Nacional do MST, 1988. _____. A questão da mulher no MST. São Paulo: Coletivo Nacional de Mulheres do MST, 1996. _____. A questão das mulheres no MST. In: Compreender e construir novas relações de gênero. 2. ed. São Paulo: Peres, 1998. _____. Mulher Sem Terra. São Paulo: GH, 2000. _____. Caderno do núcleo nº 20 mulheres trabalhadoras rurais construindo um novo Brasil: 8 de março dia internacional da mulher. 2001. _____. Construindo o caminho. São Paulo: Secretaria Nacional do MST, 2001.
  • 20. 20 _____. Construindo novas relações de gênero: desafiando relações de poder. São Paulo: ANCA, 2003. _____. Mulheres Sem Terra: lutando e semeando novas relações de gênero, 2004. MÚSICA Banda Ovelha Negra. Amorderapariga [online]. Disponível:<http://www.radio.uol.com.br/album/banda-ovelha-negra/banda-ovelha- negra-amor-de-rapariga/3547?cmpid=clink-rad-al>Acesso em: 10 fev 2011. LITERTURA DE CORDEL História da Donzela Teodora. Leandro Gomes de Barros. Proprietário: José Bernardo da Silva. 31 p. Disponível em: < http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/jn000012.pdf>.Acesso em: 20 dez. 2012.