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IiPródigo
revista
w w w . i p r o d i g o . c o m | o u t u b r o 2 0 1 1 | n . 0 1
vA p a r á b o l a d o
Pai Pródigo
iPródigo | Outubro 20112
O Pai Pródigo
Emgeral,quandofalamosdepródigo,associamosrapidamente
a palavra à ideia daquele que retorna para casa. Os juristas,
por outro lado, nos lembram do sentido original da palavra –
aquele que gasta de maneira irresponsável ou, num sentido mais
positivo, generosamente.
	 Tim Keller ouviu algumas reclamações ao divulgar seu
livro, O Deus Pródigo. Dizia-se que era uma blasfêmia falar que o
Senhor age de maneira irresponsável. Porém, não foi isso que o
pastor presbiteriano quis dizer. Keller observou que, na parábola
do Filho Pródigo, aquele que mais abriu mão de seus bens não foi
o filho que saiu de casa, mas o pai.
	 Aos olhos humanos, pode-se até dizer que o pai agiu de
maneira irresponsável – ele recebe sua criança perdida com uma
grande festa, nada cobra da fortuna que o menino desperdiçou,
não pensa em sua reputação ou no preço do bezerro cevado e dos
outros alimentos servidos na comemoração.
	 Da mesma forma, Deus, por amor aos pecadores, aos
rebeldes e mentirosos, entregou seu único Filho. Nosso Pai
permitiu que aquele a quem ele amava, o ser mais doce, belo,
puro, amoroso, glorioso, sábio e amável, fosse trocado por
pessoas amargas, irresponsáveis, mentirosas, tolas, hipócritas,
imorais e fofoqueiras. Deus não poupou nem seu Filho, pois
perdoar envolve perder – por amor.
	 Nosso Deus é semelhante ao pai pródigo da parábola.
Como nos ensina Paulo, o Criador não poupou seu próprio
Filho por amor a filhos perdidos e ainda nos promete muito
mais (Romanos 8.32). O nome disso é Graça: generosidade para
rebeldes que saíram de casa.
	 Nossa revista fala das implicações dessa graça divina e
chama cada leitor a meditar sobre essa maravilhosa disposição
do Salvador. Minha oração é que você esteja entre aqueles que
estavam mortos e reviveram, estavam perdidos, mas foram
encontrados (Lucas 15.32). O pai pródigo nos chama para seu
grande banquete. Como recusar?
por Josaías Júnior
oprogressodoperegrino
Capa: Detalhe de O Filho Pródigo, de Julius Schnorr von Carolsfeld, 1860.
Josaías Jr. é mestre em comunicação social pela Universidade de Brasília e
editor-chefe da revista iPródigo
iprodigo.com 3
Sumário
edição n. 01 | outubro 2011 | A Parábol a do Pai Pródigo
 Ele recebe pecadores YAGO MARTINS
 Por que o filho pôde voltar AlexANdRe MeNdeS
 Ódio e assassinato WIlSON PORTe JR.
 Perdido na casa de seu próprio pai ROSTheR GUIMARãeS
 Encontrados para Sua alegria IvONeTe SIlvA PORTO
 A vida até parece uma festa eMIlIO GAROfAlO NeTO
 Seria Deus bipolar? fIlIPe NIel
 Checklist AlleN PORTO
 O abuso da graça ISAíAS lObãO
 Graça e consumação dIlSIleI MONTeIRO
 Pregando o Evangelho para “irmãos mais velhos” JUAN de PAUlA
I
REVISTA IPRÓDIGO é uma publicação do site IPRÓDIGO | iprodigo.com
CRIADO POR Gustavo Vilela, Rafael Bello, Josaías Júnior, Filipe Schulz e Daniel Torres
EDITOR-CHEFE E DIAGRAMAÇÃO Josaías Júnior REVISÃO Filipe Schulz e Carla Ventura
Agradecemos aos nossos voluntários, articulistas, anunciantes, à Editora Fiel e a todos que doaram tempo e
recursos ao nosso projeto. Agradecemos também aos nossos irmãos da Congregação Presbiteriana Semear
pelo apoio e pela orientação. Tiragem: 2000 exemplares.
iPródigo | Outubro 20114
ELE
recebe
pecadores
“E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os
escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles” (Lc 15.1,2).
Quando lemos a Bíblia e passamos,
por vezes rapidamente, por esses
dois versos do livro de Lucas,corremos
o risco de não darmos a esse texto a
atenção que ele merece. Reconheço
que, à primeira vista, ele pode parecer
desinteressante. Porém, é de uma
profundidade incalculável.
	 Era um sábado (14.1). Jesus
foi contra os costumes dos Judeus e
curou um homem no dia do descanso
(v. 3,4). Os fariseus ficaram mudos
(v. 6) e o Mestre repreendeu-os com
parábolas(v.7-24).Naquelemomento,
uma multidão ia com Cristo (v. 25)
e todos os publicanos e pecadores
chegavam-se a Ele para ouvir seu
ensino (15.1). O texto diz que os
fariseus e escribas, que já estavam
desgostosos, começaram a murmurar
contra Cristo, acusando-o de receber
pecadores e de comer com eles – o
que Jesus estava realmente fazendo.
Existe uma realidade incrível nesta
breve denúncia contra Cristo.Sabendo
que essa acusação era verdadeira, só
podemos exultar diante de tão gloriosa
declaração: Jesus recebe pecadores.
	 Se você, amigo leitor, não é
servo de Cristo, não busca viver uma
vida completamente voltada para Ele e
não tem professado-o, com palavras e
ações, como Senhor de sua existência,
essaéamelhornotíciaquevocêpoderia
receber em toda sua vida: Jesus recebe
pecadores. Você pode ser aceito por
Deus através da obra de Cristo naquela
Cruz. Chore aos pés do Senhor em
oração e clame para que Ele te receba
como filho.Ele mesmo declara: “Todo...
o que vem a mim, de maneira nenhuma
o lançarei fora” (Jo 6.37).
	 Ainda que você, caro
irmão, seja cristão e já viva submisso
ao Grande Rei, essa verdade ainda
precisa estar ressoando por toda sua
mentalidade. Nunca esqueça: Jesus
recebe pecadores. Quando você, em
POR YAGO MARTINS
iprodigo.com 5
momentos de fraqueza, embriagar-se
com o veneno do pecado e for contra
os mandamentos de nosso Legislador,
não esqueça que Ele te recebe. Ouça
a doce voz de Cristo, dizendo: “Não
te deixarei, nem te desampararei” (Hb
13.5).Busque o Senhor nos momentos
de fraqueza e de pecaminosidade. Ele
estará contigo todos os dias, até a
consumação dos séculos (Mt 28.20).
	 Caso você já tenha,em algum
momento, entregado sua vida a Cristo
e hoje vive com se nunca o tivesse feito,
se você está desviado dos passos de
Jesus,saibaqueaindaháumaesperança
para você: Jesus recebe pecadores.
Não importa se você quebrou todas
as promessas que fez para Deus, Ele
continua dizendo: “Vinde a mim!”
(Mt 11.28). Ouça a voz do Grande
Pastor, te convocando de volta para o
aprisco. Jesus está disposto a receber-
te, mas“buscai ao SENHOR enquanto
se pode achar, invocai-o enquanto está
perto” (Is 55.6), pois amanhã pode ser
tarde demais.
	 Algo mais pode ser dito sobre
esse curto texto do livro de Lucas. Os
judeus não acusaram Jesus apenas de
receber pecadores, mas também de
alimentar-se com eles. Para a época,
comer junto de alguém era um ato
imenso de amizade e relacionamento.
Tão glorioso quanto o fato de Jesus
receber pecadores é nosso Cristo ser
amigo de pecadores (Lc 7.23).
	 Amigo não-cristão, eu
imploro, torne-se amigo de Jesus.
Vivendo como hoje vive, você é um
inimigo de Deus (Rm 5.10) e a Ira dEle
está sobre você (Jo 3.36)! Arrependa-
se de seus maus caminhos e abrace o
manancial de glória que é saber que
Cristo é amigo de pecadores. Busque,
pela fé, achegar-se a Deus e Ele estará
disposto a relacionar-se com você.
	 Você,irmãoemCristo,alegre-
se na verdade de que Jesus é amigo de
pecadores. Ele mesmo nos presenteou
com tão graciosas palavras: “Já vos
não chamarei servos... mas tenho-
vos chamado amigos” (Jo 15.15).
Dedique-se à oração e à leitura bíblica.
Busque relacionar-se com Cristo. Ele
é um amigo amoroso, por graça, de
pecadores como nós. “Não há maior
prova de amor de que dar a própria vida
por seus amigos” (Jo 15.13).
	 E, finalmente, você que é
desviado dos passos de Cristo; que já
tentou seguir ao Pai, mas desviou-se
do caminho – eu clamo: seja amigo
de Jesus! Ainda que sua amizade com
Deus esteja por um fio, ainda que
exista a possibilidade de esta amizade
nunca ter existido, não desista de
relacionar-se com o Salvador. Se você
já esteve verdadeiramente no aprisco
de Deus, Ele te trará novamente à casa
do Pai (Lc 15.4,5).
	 Quão gloriosas são estas
verdades! Cristo recebe e se relaciona
com pecadores. Foi para explicar essas
verdades que Jesus usou as parábolas
da Ovelha Perdida, da Drácma Perdida
edoFilhoPródigo;parábolasqueserão
tratadas nesta revista e que falam sobre
Deus resgatando o que estava perdido.
Aprendersobreparábolasqueensinam
verdades relacionadas com o Filho de
Deus salvando homens como nós é o
maior ensino que poderíamos desejar.
Continue lendo com cuidado, essa
pode ser a voz do Pastor te chamando
de volta para casa.
Yago Martins é Diretor-fundador do Cante
as Escrituras.
Visite: www.canteasescrituras.com
DetalhedeORetornodoFilhoPródigo,deRembrandtvanRijin,1636
iPródigo | Outubro 20116
Aigreja estava lotada. O pastor,
que tinha um microfone potente
nas mãos, gritava sem parar: “Você
é muito precioso para Deus, ele quer
realizar os seus sonhos, por isso ele lhe
trouxe aqui nessa noite!”. As pessoas
choravam e algumas afirmavam que
Deus havia falado com elas. Esse tipo
de pregação, muito comum nas igrejas
evangélicas atuais, me preocupa e
entristece. Mensagens assim revelam
que estamos perdendo o zelo pela
glória de Deus. Estamos tão focados
em realizar nossos sonhos, em nos
sentirmos especiais, que esquecemos o
propósito da vida de todo ser humano:
a glória de Deus.
	 Nesse sentido, as narrativas
de Lucas 15 têm muito a nos ensinar.
São três histórias: na primeira, um
homem possui 100 ovelhas e, quando
percebe que falta uma, deixa as 99
no deserto e vai atrás da que estava
perdida. Ao encontrá-la, reúne amigos
e vizinhos para se alegrarem com ele.
Na segunda, uma mulher possui 10
moedas e quando perde uma, acende
uma luz e procura até encontrá-la.
Quando encontra, reúne amigos e
vizinhos para se alegrarem com ela.
Na última, o pai possui dois filhos.
O mais novo deles pede sua parte
na herança, sai de casa e gasta tudo.
Quando começa a passar fome, decide
retornar à casa de seu pai, que o espera
de braços abertos e oferece a ele roupas
limpas e uma festa. O filho mais velho,
vendo a situação, fica chateado, pois
sempre foi fiel ao pai. Amorosamente,
o pai o convida a se alegrar também
com o retorno do irmão.
	 As três histórias têm pontos
em comum:
	 As narrativas possuem
Deus como o personagem principal:
Por várias vezes, ouvi pregações
nessas parábolas e, na maioria delas,
o personagem principal destacado é
sempre o filho, a ovelha ou a moeda.
Os próprios títulos das parábola,como
POR ivonete silva porto
Encontrados para Sua alegria
iprodigo.com 7
aparecem em Bíblias, nos fazem ir por
esse caminho. Porém, o personagem
principal em cada uma é aquele que
representa Deus: o homem, a mulher
e o pai. É o homem quem vai em
busca da ovelha perdida até encontrá-
la; é a mulher que acende uma luz e
procura a moeda até achá-la e é o pai
quem espera, perdoa e dá de volta ao
filho dignidade. Deus é o personagem
principal aqui e em toda narrativa
bíblica. A inciativa de salvar o homem
é sempre dele, por isso ele deve ser
glorificado.
	 As narrativas apresentam
o Evangelho: Não podemos nos
esquecer de que, antes de proferir
essas histórias, os publicanos se
aproximaram de Jesus para ouvir, e os
escribas e fariseus criticavam Jesus por
se juntar aos que eram considerados
pecadores. A intenção de Jesus era
apresentar o Evangelho aos perdidos,
e nessa categoria se enquadravam
tantos os publicanos quanto os
fariseus e escribas. Os publicanos
não conheciam a Deus e coletavam
impostos de maneira abusiva, por isso
sofriam repúdio dos judeus.
	 Os fariseus e os escribas
conheciam a lei de Deus e pareciam
devotos, mas suas atitudes
demonstravam o contrário. A
maravilhosa história da salvação é
demonstrada em cada uma dessas
parábolas de forma belíssima,
destacando: (1) Que o homem está
perdido; (2) A iniciativa divina em
salvar o homem1
; (3) A alegria da
salvação.
	 As narrativas possuem a
alegria como tema unificador: Creio
que o último ponto destacado é o
tema unificador das três parábolas. O
pastor e a mulher reúnem os amigos
e vizinhos para se alegrarem com o
que foi achado. E o pai faz uma festa
e convida o filho mais velho, que havia
ficado triste com o perdão do irmão,
a se alegrar porque o perdido reviveu
e foi achado. Merece destaque ainda
a menção do júbilo nos céus e diante
dos anjos nas parábolas da mulher e
do pastor. O autor John Piper, em seu
livro “Alegrem-se os povos”, nos chama
a atenção para a centralidade de Deus
na pregação do Evangelho. Segundo o
autor, o propósito principal de Deus é
glorificar-se e alegrar-se em si mesmo
para sempre. Por isso ele nos criou,
nos chamou,ofereceu seu filho,perdoa
nossos pecados, envia o Espírito e
nos sustenta para sua glória, para sua
alegria.
	 O fato de percebermos que
fomos encontrados para a alegria de
Deus é um tapa em nosso egoísmo e
em pregações como a citada acima.
Diante do evangelho da alegria, nossos
sonhos e a maneira como nos sentimos
ficam pequenos, porque as boas novas
nos levam a nos satisfazermos em
Deus. Essa alegria divina nos preenche
e impulsiona o nosso coração, embora
ainda cheio de pecados, a glorificar
a Deus em tudo que fazemos. As
narrativas apresentam o evangelho e
exigem uma resposta, e esta é a única
que podemos dar: Alegria, satisfação e
glória somente a Deus.
Ivonete Silva Porto é Mestranda em Teologia
Filosófica pelo Centro de Pós-graduação
Andrew Jumper.
1
Embora as parábolas não destaquem, isso se dá pela morte e
ressurreição de Jesus. Em outros textos bíblicos, como Efésios
2, Romanos 3-6, o perdão que é oferecido ao filho pródigo, só
é possível em Cristo Jesus.
iPródigo | Outubro 20118
Por que o filho pôde
Foi num contexto de murmuração
por parte de fariseus e escribas
que Jesus contou uma série de três
parábolas mostrando a alegria do
Pai no arrependimento de pecadores
(Lc 15.1, 2). A terceira parábola é o
ponto alto do ensino direcionado
aos seus críticos sempre presentes.
Tradicionalmente conhecida como a
parábolado“FilhoPródigo”(Lc15.11-
32), seus versículos desenvolvem o
que muitos já chamaram na história
da Igreja de “o Evangelho dentro do
Evangelho”. Sem dúvida alguma,
trata-se de uma parábola amplamente
conhecida e frequentemente contada.
	 No entanto, estudar uma
história como essa traz seus desafios.
Normalmente, impomos à leitura do
textooseufinal.Jásabemosqueofilho
pródigo retorna ao lar e que o filho
mais velho se mostra amargurado.
Enquanto lemos, aguardamos
ansiosamente o momento em que
o Pai corre, abraça e beija o caçula.
Ficamos até mesmo indignados
com a reação do filho mais velho
e somos consolados com a mesma
O pedido do caçula é rápido e sem
detalhes. O texto não entra nos
pormenores da partilha dos bens nem
retrata a reação do Pai. Porém, dá para
imaginar o que o pedido do filho mais
novo deve ter causado. Assim como
hoje, a herança era algo recebido no
momento da morte de alguém. O
pedido não era um adiantamento de
mesada, mas uma ruptura total com
a família. O filho estava considerando
seu Pai como morto. Em nome de sua
cobiça, o filho mais novo abriu mão de
seu relacionamento familiar.
	 Fisgado! A cobiça tomou
conta de sua vontade e cegou seu
entendimento. O desejo por aquilo
que o aguardava na “terra distante”
ofuscou sua razão. Ele não enxergava
mais nada. Não viu a tristeza do Pai,
muito menos os riscos de viver longe
de sua família. O que ele via era apenas
o desejo de satisfação imediata dos
O pedido do filho mais novo
demonstração de graça do Pai. Então,
qual o ponto?
iprodigo.com 9
voltar por Alexandre “Sacha” Mendes
prazeres da carne. Em apenas três
versículos (Lc 15.11-13), Jesus narra
a manifestação externa da cegueira
interna. Kris Lundgaard explica esse
processo mostrando que “a carne
tem uma visão muito peculiar. Ela vê
um mundo livre da tirania do governo
de Deus. Ela imagina a liberdade
de levar a efeito todos os seus planos
sem a interferência da lei, preceito ou
mandamento. E ela propõe aquela visão
à sua imaginação, ajudando você a
enxergar as suculentas possibilidades”.1
	 Depois de receber sua parte
da herança, o filho mais novo passou
poucos dias em casa (Lc 15.13).
Provavelmente, ele vislumbrou um
mundo sem restrições. Com dinheiro
no bolso e sem a intervenção da
família, estaria finalmente livre para
dar vazão a todos os seus desejos.
	 Isso é engano. E o maior
problema do engano é que ele engana.
Pode parecer óbvio, mas nem todos
enxergam esse perigo. Também é algo
A punição merecida do filho
mais novo
simples, mas extremamente profundo.
O problema do engano é que engana,
e isso significa que quem é enganado
não sabe disso. O enganado pode até
ter alguma noção do seu pecado, mas
nutreafalsaesperançaque,noseucaso,
serádiferente.Suaimaginaçãotrabalha
tão forte que até as conseqüências do
pecado são ofuscadas. O filho mais
novo não via o que estava pedindo,
apenas o que estava sentindo. Seu
pedido tinha como objetivo dar vazão
aos seus sentimentos em detrimento
do conhecimento. Mas, na verdade, ele
pedia sua própria destruição.
Imagine a reação dos fariseus nesse
ponto. Como homens conhecedores
da Lei, eles deviam ter facilmente
lembrado de passagens como
Deuteronômio 21.18-21: “Se alguém
tiver um filho contumaz e rebelde,
que não obedece à voz de seu pai e à
de sua mãe, e, ainda castigado, não
lhes dá ouvidos, pegarão nele seu pai
1
Lundgaard, Kris. O mal que habita em mim. São Paulo:
Cultura Cristã, 90.
Foto de Scott Liddell. Retirado de sxc.hu
iPródigo | Outubro 201110
e sua mãe e o levarão aos anciãos da
cidade, à sua porta, e lhe dirão: ‘Este
nosso filho é rebelde e contumaz, não
dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto
e beberrão.’ Então todos os homens
da sua cidade o apedrejarão, até
que morra; assim eliminarás o mal
do meio de ti: todo o Israel ouvirá e
temerá”. Ou ainda, Deuteronômio
27.16: “Maldito aquele que desprezar
a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo
dirá: Amém”.
	 Mas não é isso que acontece.
O filho mais novo não é apedrejado,
mas segue o seu caminho em busca
de seus prazeres. A história não
está no fim, mas alguns fariseus
provavelmenteseguravamsuaspedras
pensando: “Não pegamos o filho mais
novo agora, mas o pegaremos num
outro momento”.
O filho mais novo é tratado
O filho enganado seguiu seus sonhos.
Ele correu para realizar tudo aquilo
que planejou. Mais uma vez, não
temos muitos detalhes de como ele
usou seu dinheiro. O texto bíblico
nos informa que ele gastou tudo
vivendo dissolutamente (RA) ou
irresponsavelmente (NVI). Ou seja,
o dinheiro foi gasto de forma que
não deveria ter sido. O filho mais
novo viveu buscando gratificação
imediata, sem enxergar que o pecado
viria cobrar a conta – e ela seria alta
demais.
	 O dinheiro se foi e as
circunstâncias mudaram. “Sobreveio
àquele país uma grande fome” (Lc
15.14). Note, o problema não era que
odinheirohaviaacabado.Oproblema
era que o dinheiro havia acabado
num contexto de grande fome
naquelepaís.Alémdasconseqüências
de sua irresponsabilidade com o
dinheiro, o filho mais novo passa a
enfrentar novas circunstâncias que
foram soberanamente administradas
por Deus: a fome. Sua dor é
intensificada, conduzindo-o num
processo de amorosa disciplina. O
pródigo começa a passar necessidade
e é levado a uma situação de grande
humilhação. Judeu nenhum gostaria
de estar em sua pele. Comer debaixo
da esperança de sobrar algo dos
porcos era o fim da linha para
qualquer um.
A recepção imerecida do filho
mais novo
A história do filho mais novo é
parte de uma história maior. Deus
é Deus de graça, que Se alegra no
arrependimento de pecadores. O
filho mais novo foi conduzido em
amor para a completa restauração.
A parábola descreve o processo de
arrependimento com elementos
de reconhecimento e confissão
de pecado, mudança de mente,
disposição em arcar com as
conseqüências e mudança de
comportamento (Lc 15.17-20).
O filho agora enxerga como tudo
realmente é. Prazeres são passageiros
e o pecado dói. Ele retorna ao lar.
	 Mas e sua punição? Os
fariseus seguravam pedras em seus
corações, prontos para encontrar
alívio ao ouvir Jesus relatando o
apedrejamento do filho rebelde. Que
a justiça seja feita! Porém, não é isso
que Jesus conta! O filho mais novo
encontrou seu Pai de braços abertos,
iprodigo.com 11
O preço foi pago
O filho mais novo foi recepcionado
porque o Filho que contava a
história se fez maldito por ele. A
história do Pródigo conta com um
Pai de graça e um Filho de amor
que se fez maldito num madeiro,
sofrendo a pena de morte que estava
sobre o rebelde. O filho mais novo
teve sua dívida cancelada porque o
Filho de Deus, narrador da história,
tomou o seu lugar.
	 Gálatas 2.20: “...vivo pela fé
no Filho de Deus, que me amou e a si
mesmo se entregou por mim”.
	 Agora, e você? Como o
filho mais novo, o engano também
pode lhe enganar. Talvez, enquanto
pronto para reintregrá-lo na família
(Lc 15.20-24)! Mas como? E a Lei?
	 Deuteronômio 21.22-23:
“Se alguém houver pecado, passível
da pena de morte, e tenha sido morto,
e o pendurares num madeiro, o seu
cadáver não permanecerá no madeiro
durante a noite, mas certamente o
enterrarás no mesmo dia: porquanto
o que for pendurado no madeiro é
maldito de Deus...”
você lê esse pequeno artigo, sua
imaginação pode estar brincando
com o pecado já por um bom tempo,
neutralizando suas defesas para
fisgá-lo na próxima oportunidade
para dar vazão à cobiça. Lentamente,
sua mente encontra entretenimento
nas fantasias do pecado. Você está
fisgado! Cada vez mais cego para
as conseqüências de longo prazo e
iludido pelo prazer de curto prazo.
Nesse ponto, você é como o Pródigo.
Pode até mesmo professar que Cristo
Jesus é Senhor, mas pelas obras nega
a Sua existência (Tt 1.16). Cuidado,
falsas crenças enganam e destroem.
	 Em Lucas 15.11-32,
encontramos graça e esperança
para restauração. A restauração é
possível porque temos um Pai de
graça e contamos com o Filho de
amor. Volte para a casa do Pai pois
o Filho já pagou o preço! Acredite,
deixe o engano e viva na casa do
Pai!
Alexandre “Sacha” Mendes serve como
pastor na Igreja Batista Maranata - em
São José dos Campos (SP)
A história do Pródigo conta com um Pai
de graça e um Filho de amor que se fez
maldito num madeiro, sofrendo a pena
de morte que estava sobre o rebelde.
iPródigo | Outubro 201112
por Wilson Porte Jr.
OFilho Pródigo é a parábola mais
conhecida da Bíblia. Todavia,
embora conhecida, poucos têm
atentado para a triste semelhança
entre o irmão do filho pródigo e os
cristãos de nossos dias. O ódio entre os
cristãos, infelizmente, tornou-se algo
comum. Pessoas que não controlam
suas línguas na hora de resolverem
um problema com seus irmãos na fé.
Pessoas que lançam palavras torpes
(como um torpedo) para destruírem
aqueles a quem deveriam suportar e,
emespíritodemansidão,corrigir,amar
e perdoar. E, quando confrontados,
dizem: “Ah, eu sou assim mesmo...
semprefui...minhafamíliaéespanhola
(italiana, portuguesa, japonesa, russa,
gaúcha, nordestina, etc.)”. Quando, na
verdade, essas são apenas desculpas
que mantêm vivo o pecado em nossos
corações.
	 Aqui está um resumo da
parábola mais amada da Bíblia: “um
homem tem dois filhos. O mais novo
pede sua parte da herança e vai embora
de casa. Gasta-a de forma irresponsável
e pecaminosa. Quando o dinheiro
acaba, arruma um emprego para cuidar
de porcos. Neste momento, cai em si
e se lembra de seu pai. Arrependido,
decide voltar e se sujeitar a todas as
humilhações resultantes de sua atitude.
Todavia, ao reencontrar-se com seu pai,
é tratado com amor e, rapidamente, é
restaurado em meio à grande festa. Em
meio à festa, o filho mais velho nega
participar da alegria de todos. Sente
ciúmes da graça do pai dispensada sobre
seu irmão mais novo. Nesse momento,
percebe-se grande indignação e ira em
seu coração. Embora o filho mais novo
tenha estado morto e agora estava vivo,
paraofilhomaisvelho,erapreferívelque
seu irmão continuasse morto e perdido
para sempre”.
	 Vejamos como o ódio e o
assassinato estão presentes na história.
iprodigo.com 13
	 “Ora, o filho mais velho
estivera no campo; e, quando voltava,
ao aproximar-se da casa, ouviu a
música e as danças. Chamou um dos
criados e perguntou-lhe que era aquilo.
E ele informou: Veio teu irmão, e teu
pai mandou matar o novilho cevado,
porque o recuperou com saúde. Ele se
indignou e não queria entrar; saindo,
porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas
ele respondeu a seu pai: Há tantos anos
que te sirvo sem jamais transgredir
uma ordem tua, e nunca me deste
um cabrito sequer para alegrar-me
com os meus amigos; vindo, porém,
esse teu filho, que desperdiçou os teus
bens com meretrizes, tu mandaste
matar para ele o novilho cevado.
Então, lhe respondeu o pai: Meu filho,
tu sempre estás comigo; tudo o que é
meu é teu. Entretanto, era preciso que
nos regozijássemos e nos alegrássemos,
porque esse teu irmão estava morto e
reviveu, estava perdido e foi achado”.
(Lc 15.25-32 ARA)
	 O filho mais velho estava tão
perdido quanto seu irmão mais novo.
Ele desejaria fazer tudo o que seu
irmão fez,mas,religiosamente,sempre
“obedeceu” a vontade do pai. Todavia,
quando o filho mais novo, cheirando à
lavagem de porco, volta da indigência
para casa e é recebido com tanta graça
e perdão, ele se irrita por nunca ter
sido tratado da mesma forma.
	 Em suas próprias palavras,
o filho mais velho demonstra ódio
contra seu pai e seu irmão.Eles estavam
desonrando a família. O irmão, por
ter saído de casa como saiu e ter
desperdiçado os bens de seu pai entre
prostitutas e bêbados. E o pai, por não
punir seu filho mais novo com o rigor
da cultura e da sociedade da época.
	 Todavia, o pai o veste com
seu manto e lhe põe no dedo um
anel. Particularmente, vejo aqui a
misericórdia e a graça, um manto de
misericórdia e uma aliança de graça.
Isso provocou ódio!
	 O filho mais velho não
suportou isso. “Como pode o senhor
perdoá-lo?” A mensagem da graça e
do perdão não trouxeram alegria para
seu coração. Ele tinha sede por uma
falsa justiça. O pai, todavia, ainda vai
até ele para tratar de sua ira. Perceba
que Cristo, quando relata o coração
do irmão mais velho, diz que ele se
indignou (ὠργίσθη - se irar; tornar-
se muito irado). Em seguida, Cristo
diz que o pai tenta fazê-lo entrar por
meio de convites e encorajamento
(παρεκάλει).
	 Mas de nada adianta. Cheio
de ira contra seu irmão, o filho mais
velho reclama ao pai acerca de seus
anos de serviço sem nenhuma ajuda.
Reivindica que nunca teve nada e
que o pai nunca lhe deu nada. Sabe
por quê? Porque o filho mais velho
não tinha nenhum relacionamento
com seu pai. Ele tinha o estilo de
vida de um filho, mas não possuía
nenhum relacionamento com seu
pai, nem o pai tinha relacionamento
com ele. Sabe como a Bíblia chama
isso? Hipocrisia! Os hipócritas
vivem na casa, têm tudo nas mãos
(as Escrituras), mas não desfrutam
de nada. Têm a aparência, mas não
a essência - têm a casca, mas não o
miolo.
	 De maneira impressionante,
a parábola não apresenta um final
para a situação entre o filho mais velho
e seu pai. Jesus conhecia o final dessa
história, pois seus ouvintes, os fariseus,
iPródigo | Outubro 201114
Conclusão
Essa história é maravilhosa. De fato, é
nela que os arrependidos encontram
fonte de descanso e paz. É ela que
nos garante que a vida eterna não
depende de nosso mérito, de nossas
boas decisões ou atitudes. É ela que
nos lembra quão grande vergonha
e dor suportou Cristo para a nossa
redenção.
	 Contudo, não devemos nos
esquecer que é ela também que nos
lembra do quão capaz nosso coração
é de se irar e se desviar do caminho
da graça. Nossa ira pecaminosa é
pecado perante Deus. Deus a vê como
assassinato! Assim como o irmão mais
velhomatouseuirmãonocoração,eue
você somos plenamente capazes de nos
odiarmos e matarmos mutuamente.
Precisamos meditar nisso, pois cresce
a tendência de que, se você está irado,
vá lá e fale para a pessoa o que está em
seu coração,ponha para fora,fale tudo,
soque o travesseiro, enfim, faça o que
for necessário para que você se sinta
melhor. Eu lhe digo solenemente: não
faça isso! Aprenda com o pai do filho
pródigo o amor, o perdão, a sabedoria
no falar e a paciência.
	 A atitude de Deus é um
exemplo de como devemos nos
esforçar para tratarmos uns aos outros.
Pensamos em Deus como alguém com
a face pesada, com as mãos cerradas,
pronto para julgar, disciplinar e enviar
ao inferno. Sofonias 3.17, todavia,
apresenta uma outra face de Deus. “O
representavam o irmão mais velho e
os arrependidos, o filho pródigo. Jesus
é a figura do pai. O que os fariseus
fizeram com o Pai? Mataram-no.
John MacArthur apresenta em seu
livro A tale of two sons (Um conto de
dois filhos) que, possivelmente, Jesus
poderia encerrar a parábola dizendo
que, “após ouvir as palavras de seu
pai, o filho mais velho pega um pedaço
de pau e bate em seu pai até a morte”.
Este é o final verdadeiro da história na
“vida real”: os fariseus matam Jesus
com dois pedaços de pau.
	 Com seu ódio, o filho mais
velho estava matando seu irmão e
seu pai em seu coração. O assassinato
já havia acontecido dentro dele. E, na
culturaruraldaquelesdiasnaPalestina,
o ódio e o assassinato do filho pródigo
viriam para manter a honra da família.
O pródigo deveria morrer, mas como
o pai lhe aceitou com amor,o pai torna
a vergonha ainda maior. Por isso, que
o pai morra! A graça é insuportável
numa cultura de vaidades.
	 Parte da ira do irmão mais
velho vem por causa de sua percepção
de que, embora tenha servido seu pai
a vida toda, nunca foi agraciado como
seu irmão mais novo. Daí entende-se
que, para o filho mais velho, as graças
do pai deveriam vir por causa de seus
anos de obediência a ele.
	 Por isso, o Evangelho da
Graça é um escândalo para quem
acreditaquepodealcançarsuasalvação
por decisões pessoais ou boas atitudes.
O Evangelho da Graça é injusto, é
uma verdadeira vergonha para o
senso de justiça humano. Jesus foi
morto numa cruz não fazendo caso da
vergonha pela qual passaria: “olhando
firmemente para o Autor e Consumador
da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria
que lhe estava proposta, suportou a cruz,
não fazendo caso da ignomínia” (Hb
12.2a ARA).
iprodigo.com 15
etc. Todavia, se queremos um coração
mais cheio de santidade (sem a qual
ninguém verá o Senhor), precisamos
nos interessar em estudar mais o
que a Bíblia ensina sobre o ódio e o
assassinatoquemuitostemoscometido
em nossos corações em nossos dias.
Eis um assunto a ser explorado
pelos escritores de nosso tempo.
Eis uma verdade a ser aprendida e
uma fraqueza a ser transformada
em nossos corações. Que Deus nos
ajude!
Wilson Porte Jr. é Pastor da Igreja Batista
Liberdade, em Araraquara-SP. Bacharel e Mestre
em Teologia pelo SBPV e CPAJ (Mackenzie).
Senhor, teu Deus, está no meio de ti,
poderoso para salvar-te; ele se deleitará
em ti com alegria; renovar-te-á no seu
amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.”
(Sf 3.17, ARA). Deus se alegra com
os arrependidos da mesma forma
como um noivo se alegra com sua
noiva. “Porque, como o jovem desposa a
donzela, assim teus filhos te desposarão
a ti; como o noivo se alegra da noiva,
assim de ti se alegrará o teu Deus.” (Is
62.5, ARA). Obviamente, Deus não se
alegra com pecadores e seus pecados,
mas com pecadores arrependidos que
o buscam humildemente.
	 Assassinato, infelizmente,
não faz parte dos assuntos que os
cristãos gostam de estudar. Estuda-se
sobre cura, poder, prosperidade, dons,
milagres, profecias, fim dos tempos,
iPródigo | Outubro 201116
Perna casa de se
p o r R o s t h e r
Oclímax da Parábola do Filho
Pródigo foi um duro golpe no
orgulho dos fariseus ao mostrar-lhes
que eles pecavam por ter motivações
erradas em relação a Deus e por não
exercerem misericórdia com aqueles
que deveriam ser pastoreados por eles.
Não obstante, Jesus oferece Graça para
eles, ao mostrar que o mesmo Pai que
corre para abraçar o pródigo é o Pai
que sai de casa ao resgate do legalista
religioso irado.
	 Com esta mensagem, Jesus
está mostrando que também veio
em busca deles, que Ele também veio
para salvar os legalistas, para que
estes deixem de tentar justificar-se em
suas obras, pois isso é impossível. A
justificação é fruto da livre e soberana
Graça, e Jesus mostra-lhes que o
evangelho da Graça também se aplica
a eles.
	 O que essa história tem a ver
conosco?Existealgodelaqueseaplicaà
nossavida?Temoqueemnossasigrejas
existam muitos irmãos que possuem
a teologia do irmão mais velho, uma
teologia legalista, maldosa e contrária
ao ensino correto das Escrituras.
	 Em primeiro lugar, Jesus
nos ensina que os legalistas são tão
pecadores quanto os perdulários. Há
muita gente na igreja que adota uma
imagem de certinho só para ser bem
aceito socialmente no meio do povo de
Deus e ter proeminência no meio do
rebanho. É certo que os legalistas são
trabalhadores e geralmente produzem
muito. Mas sua “obediência” não é
perfeita, pois ela afronta a Maravilhosa
Graça de Deus. Eles não entendem
que não podem conquistar as bênçãos
do Senhor, pois todas elas nascem da
bondade graciosa de Deus, revelado
na pessoa de Jesus. O legalista é tão
pecador quanto o esbanjador, pois
sua motivação é tão egoísta como a
do outro. Ele obedece para ser aceito
por Deus e bem visto pelos homens.
De maneira que, ao atuar assim, ele
não confia na Graça de Jesus para ser
aceito pelo Senhor. Para o legalista,
iprodigo.com 17
doiu próprio pai
G u i m a r ã e s
o evangelho não é suficiente e, por
isso, ele precisa ter uma imagem
de perfeição diante de Deus e dos
homens, pois crê que só por meio da
manipulação mediada pela obediência
ele será aceito.
	 Assim, por não confiar na
Graça de Jesus para viver diante de
Deus e diante dos homens, o legalista
está dentro da igreja, mas está perdido
dentro da casa do Pai, uma vez que
não confia de coração no Evangelho
gracioso de Jesus. Que tragédia! Tão
perto de Deus, mas, ao mesmo tempo,
eternamente longe do Senhor.
	 A segunda lição que
aprendemos com o Senhor é que
legalistas se ofendem com a graça de
Deus.Elessãoinsultadosporela.Ficam
irados porque Deus abençoa os outros
que não merecem e não lhes abençoa
como deveria, pois eles merecem a
bênção de Deus. Muitos não têm
coragem de afirmar, mas se rebelam
contra Deus, pensando que o Senhor
é injusto. Já outros dizem: “Tenho sido
tão fiel a Deus, mas Ele se esqueceu de
mim”.Elessãoextremamenteinvejosos,
pois crêem que bênçãos, dons, talentos
e oportunidades são concedidas por
mérito e não por Graça. Portanto, eles
dizem: “Estou há tanto tempo na Igreja,
mas porque Deus escolhe usar esse que
chegou há poucos anos e se esquece
de mim?”. Essa inveja também é
demonstrada quando alguém começa
a se destacar na obra mais do que eles.
Dizem: “Isso é fogo do primeiro amor.
Quero ver até quando isso vai durar.
Quero ver quando a máscara cair”.
	 Esses irmãos legalistas são
extremamente acusadores, ressaltam
o pecado dos outros, pois estes estão
mais à vista que os deles. É triste, mas
às vezes se alegram no íntimo quando
umirmãotropeçaouérepreendidopor
outrem. Ao se tornarem acusadores,
condenam-se a si mesmos, revelando-
se hipócritas. Portanto, não têm
capacidade de exercer misericórdia,
pois não entenderam a misericórdia
do Senhor.
iPródigo | Outubro 201118
	 Em terceiro lugar, o texto
nos revela que os legalistas só podem
ser salvos pela graça do Senhor! O
mesmo Pai que sai correndo para
abraçar o pródigo é o Pai que sai de
casa para reconciliar-se com o mais
velho. O Jesus que deixou a glória
para salvar os descarados é o mesmo
Jesus que morreu na cruz para salvar
os religiosos. Há esperança para os
legalistas e esta reside na Graça de
Jesus! Eles podem ser perdoados! Há
lugar de arrependimento para eles,
pois Cristo Jesus veio buscar e salvar
o perdido, inclusive o perdido que se
perde na religiosidade, que se perde na
casa de seu próprio Pai.
	 Quando os legalistas se
arrependem, eles são ensinados
pelo Pai que eles não precisam fazer
nada para conquistar as bênçãos do
Senhor, pois “tudo que é meu é teu”.
Eles podem servir por amor e por
gratidão. O serviço do Senhor para
eles já pode ser marcado pela alegria,
pois o que eles fazem para Deus não
tem mais o objetivo de justificarem-
se a si mesmos, mas sim, de expressar
um amor maravilhoso que brota no
fundo do coração, como fruto do
amor de Deus.
	 Quando o legalista é
encontrado pelo Pai, ele pode
entender que a maior bênção que
Cristo Jesus veio buscar
e salvar o perdido,
inclusive o perdido que
se perde na religiosidade,
que se perde na casa de
seu próprio Pai.
possui é a companhia do Senhor,
“tu sempre estás comigo”. A maior
de todas as bênçãos é a comunhão
íntima com o Senhor. Quando o
legalista é salvo, ele está livre para ser
amigo de Deus! Quando o legalista é
encontrado pela graça, ele está livre
para ser misericordioso, pois como
objeto da bondade do Senhor, ele
sabe que o que está morto precisa ser
ressuscitado pelo evangelho, que o
perdido precisa ser achado. Então, tal
como Deus e os seu anjos, ele estará
livre para se alegrar com a salvação
e com todas bênçãos que Deus dá
àqueles que não têm mérito algum.
	 Se você é alguém que está
perdido na casa do Pai, há esperança
para você! Arrependa-se hoje do seu
desejo de manipular a Deus e ao
próximo. Arrependa-se hoje de viver
uma religião estereotipada, mas vazia
de graça no coração.Arrependa-se da
sua obediência egoísta. Arrependa-se
por se achar melhor do que os outros
e não reconhecer sua maldade.
Confesse os seu pecado a Deus e
creia que Deus tem salvação, bênção,
graça, vida eterna para você e que
isso lhe é dado somente através da
mediação de nosso Senhor Jesus.
	 Creia no Evangelho gracioso
do Senhor e você será achado ainda
que esteja perdido na casa do próprio
Pai. Que você seja encontrado em
Cristo Jesus!
Rosther Guimarães é Pastor da Igreja
Presbiteriana do Guará II e professor do
Seminário Presbiteriano de Brasília
iprodigo.com 19
Faça parte deste ministério
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iPródigo | Outubro 201120
Sou um amante do audiovisual e da tecnologia.
Isso significa que tento desenvolver hobbies
relacionados a fotografia, filmagem, música,
além de colecionar milhares de cabos, conectores,
extensões, microfones, fones, instrumentos,
tripés etc.
	 Você deve imaginar o quanto a minha
esposa ama entrar na sala de estudos do nosso
minúsculo apartamento e encontrar todos estes
itens dispostos em uma lógica que apenas eu sei
compreender. Cérebro elaborado? Duvido.
	 Para complicar um pouco mais, eu tento
usar o máximo de recursos possível em minha
prática ministerial. Não apenas na internet, mas
envolvendo muitos desses equipamentos em
nossos encontros semanais de estudo bíblico. E
eis que o problema aparece.
	 Uma mente “privilegiada” como a minha
consegue esquecer vários itens importantes,
especialmente se eles forem pequenos e soltos
nessa parafernália tecnológica. É por isso que a
checklist se apresenta tão fundamental. Passo e
repasso mentalmente os itens que precisam estar
na mochila e nas bolsas auxiliares (outro ponto
que a minha esposa a-d-o-r-a. Não.), até que
finalmente me sinta seguro para sair. O detalhe
é que, mesmo com toda a segurança, consigo
deixar em casa o que deveria ter levado.
	 Muitos usam as checklists para os mais
variados fins, e eu sou realmente grato por isso.
Compras de mercado, remédios, roupas para
uma viagem, livros para ler, ações e projetos a
serem desenvolvidos na igreja etc. etc. Ótimo. Há
quem tenha extremo prazer em ver, ao final de
um dia de serviço, uma lista indicando tudo o
que foi realizado e alcançado.
	 Mas há uma ocasião em que a checklist é
não apenas desnecessária, mas prejudicial.
por Allen Porto
C
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e
c
k
l
i
s
t
iprodigo.com 21
Lucas 181
ilustra perfeitamente o
ponto. Nos versículos 9 a 14 está
registrada a clássica “parábola do
fariseu e o publicano”. Lembra? A
história vai mais ou menos assim: Um
fariseu e um publicano subiram ao
templo para orar. O primeiro falava
“de si para si mesmo”, como a edição
Revista e Atualizada traz, e “agradecia”
por suas qualidades morais, enquanto
apresentava o checklist de suas boas
obras como religioso. Do outro lado
estava o fariseu, também em pé, mas
em postura completamente diferente.
Nem levantava a cabeça e orava
batendo no peito, pedindo graça a
Deus, e se reconhecendo pecador.
	 Ao contar esta parábola,Jesus
afirma que o publicano desceu dali
justificado, enquanto o fariseu não, e
conclui com a conhecida expressão:
“todo o que se exalta será humilhado;
mas o que se humilha será exaltado”
(Lc 18.14).
Esta não é uma declaração fácil, e nem
deveserfeitasemadevidacompreensão
dos vícios e características marcantes
do comportamento farisaico. Jesus
descreve o fariseu como alguém zeloso
pela religião judaica – subia ao templo
paraorar,cumprindoosmandamentos
e expressando seu compromisso;
orava em pé, segundo o costume
dos judeus e a tradição estabelecida,
refletindo, assim, conhecimento e
fidelidade às raízes históricas a ele
deixadas; demonstrava elevado padrão
moral, cumprindo externamente os
mandamentos e sendo tão consistente
em seu comportamento público
que não temia declarar sua vida em
alta voz. Ia além do cumprimento
do decálogo2
, observando mesmo
outras leis acessórias com impecável
lealdade, sem esquecer das expressões
voluntárias de piedade – jejuava
duas vezes por semana e era um fiel
dizimista.
Uma olhadinha antes e depois da
parábola indica que Jesus está falando
sobre uma percepção adequada de si,
bem como de Deus. No verso 9, Lucas
descreve a intenção de Jesus como
falar “a alguns que confiavam em si
mesmos, por se considerarem justos, e
desprezavam os outros”.
	 A intenção do Messias ao
descrever a história em foco era, de
algum modo, denunciar uma postura
inconsistente de quem se diz servo,
mas age como senhor, ou de quem,
estranhamente, orgulha-se de sua
humildade.
Uma parábola
Qual a idéia?
Eu sou um fariseu
	 Enquanto Jesus conta a
história e nós recebemos o registro
inspiradoporDeus,algunsitenssaltam
à vista e oferecem a nós recursos para
uma compreensão adequada de nossa
postura e das pessoas à nossa volta,
indicam um caminho mais adequado
para a vida com Deus e nos capacitam
para o ministério cristão diante de
problemasexistentesnaquelecontexto,
mas potencializados na cultura
contemporânea.
1
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 2. ed. Barueri, SP:
Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
2
Os 10 mandamentos.
iPródigo | Outubro 201122
	 Qual é o problema, então?
Comparado com os carinhas que
sentam ao nosso lado na igreja, o
sr. F(ariseu) é um crente exemplar.
Provavelmente o comportamento dele
seja mais belo do que o meu e o seu
(juntos). Mas o cristianismo é uma
religião do coração. E isso significa
que não basta um comportamento
adequado, é preciso fé correta e
motivações ajustadas.
	 Aqui começam a aparecer os
defeitos da postura farisaica:
	 1. Fariseus são ótimos em
cumprir tarefas. Como os MBAs em
administração, marketing e áreas
relacionadas, eles são propositivos,
pró-ativos, disciplinados e ativistas.
Seriam contratados no programa “O
Aprendiz”. Contudo, os seus olhos
estão voltados para estas tarefas, que
chamamos “boas obras”. O foco de
seu compromisso e obediência às leis
está na arquitetura da legislação (nas
leis em si), ou na figura do fariseu, que
consegue cumpri-las dedicadamente.
	 2. Fariseus são ótimos em se
orgulhar do cumprimento das tarefas.
Ao observar atentamente o checklist
de obras realizadas, o fariseu respira
fundo e diz:“eu consegui”.Aos poucos,
aquilo que era uma frase silenciosa
na mente passa a ganhar voz, seja por
meio de declarações verbais diante de
outros, ou por posturas que revelam
um coração que se orgulha pelo que
tem cumprido.
	 Você percebe o caminho que
está sendo trilhado aqui? O sr. F, que
começou obedecendo a lei de Deus,
transformou a sua obediência em
instrumento de auto-glorificação e
passou a usar a Lei de Deus em prol de
si mesmo.
	 3. Fariseus são ótimos em
marketing pessoal. Como descrito
acima, não basta estar satisfeito com
o cumprimento de boas obras. O
“relações públicas” dentro do fariseu
encontra sua expressão e passa a
noticiar os seus feitos, para que o
orgulho e a exaltação do eu sejam
reforçados. Não basta fazer, é preciso
anunciar.
	 4. Fariseus são ótimos em
expressar o seu narcisismo. Na confusão
de identidade, o mundo é visto pelo
fariseu como um espelho no qual ele
se observa. Todas as coisas funcionam
como um elemento para ele mandar
mensagens para o “eu”. A Bíblia o
descreve como falando de si para
si mesmo – o espelho era Deus e a
oração. O fariseu usa boas obras para
enviar a si a mensagem de que é fiel e
bom. Usa a oração para enviar a si o
recado de que está cumprindo a cota
de devoção. Usa Deus para comunicar
a si que é querido, amado e justo. Ele é
o centro da relação.
	 5. Fariseus são ótimos em
crer e proclamar autojustiça. A oração
farisaica é um anúncio a Deus de que o
sr.F já fez tudo o que precisava ser feito,
e agora somente agradece a Deus por
recebê-lo, pela pessoa íntegra que ele é
(que outra opção o Pai teria, afinal?).
Na base das boas obras e orações, bem
como de todo o resto, está um coração
voltado para si, que busca promover a
própria justiça e não depender da graça
divina para sobreviver. O fariseu está
na eterna busca de fabricar a própria
redenção e,quando se vê satisfeito com
as obras de suas mãos, anuncia a sua
justiça.
	 Mas provavelmente você já
sabia disso tudo. Afinal, a marca do
iprodigo.com 23
nossotempo,sejaemigrejashistóricas
ou nas inovadoras, é a “rotulação
do comportamento farisaico”. Nós
sabemos diagnosticá-los e descrevê-
los como ninguém. Existem livros
escritos sobre isso, e, provavelmente,
quando você estiver na próxima
reunião de jovens em sua igreja ou em
alguma outra conversa relacionada a
esses assuntos, vai ouvir uma crítica
sobre a hipocrisia no meio cristão e o
comportamento farisaico. Em suma:
eu não trouxe nada novo, e já se
tornou hobby falar mal dos fariseus.
	 O problema é que, na
mesma proporção em que nos
tornamos PhDs em rotular e criticar
o comportamento farisaico, ficamos
desatentos para as manifestações de
farisaísmo em nossa vida. A coisa é
tão forte que passamos a condenar os
fariseus e logo em seguida vamos orar,
agradecendo a Deus por não sermos
como eles. Lembra de uma história
parecida?
	 Tradicionais podem se
orgulhar de não ser como emergentes
e desigrejados e ter, na base de sua
crítica, a autojustiça. Da mesma
forma,emergentesesemigrejapodem
condenar o “farisaísmo” das igrejas
históricas, ao mesmo tempo em
que manifestam o comportamento
farisaico e confiam na justiça de suas
obras e seu estilo “sofisticado”.
	 Ninguém está livre de
tal postura. O mais honesto é
começarmos a identificar as sementes
de farisaísmo em nossa vida, olhando
Enquanto a câmera vai lentamente
desfocando o fariseu na frente, o foco
se ajusta no segundo plano, ao fundo:
um publicano, também em pé, mas
em atitude bastante diferente – com a
cabeça baixa e semblante triste, apenas
repete e ora uma frase, quase em
sussurros, enquanto bate no peito: “sê
propício a mim, pecador!”.
	 A história é escandalosa
porque os fariseus eram reconhecidos
socialmente pela fidelidade e zelo
à religião judaica, enquanto os
Em direção ao publicano
para Jesus e o evangelho como a cura
exclusiva para a autojustiça. Como
alguém já afirmou, “nossa justiça está
nos céus”.
publicanos, servindo à Roma na
cobrança de impostos dos judeus,
eram vistos como traidores e ladrões,
porque também era comum a prática
de levar uma “grana extra” enquanto
se cobrava o imposto.Se o judeu é esse
cara que odeia tanto perder dinheiro,
como pensamos hoje,o repúdio social
pelos publicanos era ainda maior.
	 O ponto é que, se alguém
quisesse dar qualquer exemplo
positivo, jamais usaria um publicano,
por sua imagem estar tão associada
aos elementos negativos já listados.
Somente um louco faria isso. Ou Jesus.
	 Como o esporte do Messias
era subverter o pensamento dos
escribas e fariseus, ele mandou mais
uma. Na parábola, quem tem obras
Passamos a condenar os fariseus, e logo em seguida vamos
orar, agradecendo a Deus por não sermos como eles.
iPródigo | Outubro 201124
condenáveis, mas um coração
adequado, é o publicano. É preciso
cuidado para analisar a questão: Jesus
não está ensinando uma dicotomia do
tipo “você pode viver em pecado, mas
se tiver um bom coração isso basta”.
Pelo contrário, a Escritura ensina
que a conversão do coração promove
transformação real nas posturas e
ações concretas do dia a dia. O que
Jesus pretende ensinar é que as boas
obras não são o elemento de salvação,
que a autojustiça é a negação da justiça
deJesusequeumcoraçãoquebrantado
tem mais valor do que uma mão cheia
de boas ações.
	 Aqui podemos até usar a
palavra da moda: “espiritualidade”.
Jesus nos apresenta um modelo de
espiritualidade que poderia/deveria
ser imitado por mim e você. A
postura do publicano é teorreferente3
,
autoconsciente e humilde. Palavras
complicadas para posturas simples.
	 Ateorreferênciadopublicano
indicaqueopontodereferênciaúltimo
para a avaliação de sua vida em todos
os aspectos é o Deus eterno. Ele está
ali, de fato, não para enviar mensagens
ao “eu”, mas para orar ao “Outro”, a
Deus. Os critérios de avaliação da sua
conduta não são estabelecidos por si,
mas pelo Senhor. Ele vive coram Deo:
diante da face de Deus.
	 Opublicanoéautoconsciente.
Isso significa que reconhece quem é e
percebe os ídolos de seu coração, bem
como os pecados que tem cometido.
Mais do que isso,enquanto ora a Deus,
ele se declara“pecador”. É mais do que
apresentar coisas erradas a Deus, é
se afirmar em uma condição da qual
somente o Senhor pode salvá-lo por
sua graça e misericórdia. O publicano
pecador se reconhece como tal, e
assim não lhe restam obras e orgulho
para apresentar ao Pai. Contempla-se
afundando na maldade e nos desvios
de sua conduta. Só lhe resta suplicar.
Não há méritos, beleza, nem coisa
alguma a que possa recorrer. Não há
botes salva-vida e nem pranchas de
isopor. O peso de sua culpa e pecado o
levamaafundar,esóháumaesperança
de redenção,um recurso,uma fonte de
graça: Jesus.
	 O publicano se apresenta
diante de Deus nessa perspectiva de
quem sabe que somente Ele pode
salvá-lo e perdoá-lo. A expressão “sê
propício” está relacionada ao desvio
da ira divina. O que o sr. P solicita é
que a justa ira de Deus pelos pecados
dele não lhe seja derramada, com base
exclusivamente na vontade e favor
divinos. É um pedido meio estranho
de se fazer, mas que outro recurso ele
possuía? Por saber quem é, nada lhe
restava, senão clamar por graça, um
favor imerecido.
	 O publicano é humilde.
Em seu pedido não há espaço para
arrogância e autoproclamação. Não há
lugar para o narcisismo e apresentação
de méritos. Ele não tem a coragem
de levantar os olhos aos céus, bate
continuamente no peito, anuncia sua
condição de pecador e suplica por
misericórdia.
	 Contra alguns projetos
mirabolantes (de um lado)
ou monásticos (do outro) de
espiritualidade, um pouco de
teorreferência, autoconsciência e
humildade cairiam bem em nossa
vida com Deus.
3
O termo foi cunhado pelo Dr. Davi Charles Gomes, diretor do
Centro de Pós-graduação Andrew Jumper (CPAJ - Mackenzie)
iprodigo.com 25
Por meio desta antiga história,
aprendemos que nossos checklists de
boas obras não apenas não contam,
como são empecilhos para um
adequado relacionamento com o Pai,
na medida em que rejeitam a graça.
Deus não está tão interessado no que
você fez por Ele, como está interessado
em que você saiba o que Ele fez por
você.
	 Existem dimensões do
comportamento farisaico que hoje
encontram mais estrutura social
para sua manifestação. Refiro-me
ao narcisismo. Estudiosos como
Christopher Lasch4
, classificaram
a cultura norte-americana como
“a cultura do narcisismo”. Outros
pesquisadores, como Andrew Fellows5
e Guilherme de Carvalho6
(ambos de
L’Abri7
), têm desenvolvido estudos
de análise dos desdobramentos do
narcisismoparaanossacultura.Dentre
osváriositenspercebidos,destacamque
na“cosmovisão do eu”, como Fellows a
denomina,existedesprezopelahistória,
autorreferência, afastamento do
mundo, relacionamentos superficiais,
utilização de tudo à volta para enviar
mensagens ao “eu”, crescimento de
mentalidade terapêutica, exagero
na introspecção, subjetivismo e
consumismo.Dessemodo,oindivíduo
narcisista de nossos dias pode
Publicanos e fariseus hoje frequentar a igreja e fazer boas obras e
orações,sem perceber que faz tudo isso
para enviar mensagens a si mesmo de
comoébom,comprometido,ortodoxo
etc., e cai no comportamento farisaico
sem autoconsciência.
	 Aprendemos que fariseus e
publicanos sobem juntos ao templo
e oram no mesmo ambiente. Isso
significa que nossas igrejas são espaços
de manifestação para fariseus e
publicanos - e por mais que desejemos
ser observadores “neutros” na história,
sempre somos um deles, ou um pouco
de cada. Daí a necessidade constante
de suplicarmos a Deus para purificar
o nosso coração e o de nossos irmãos,
para que a autojustiça seja extirpada
de nosso pensamento e atitude.
	 Por fim, e mais importante,
o antídoto para a autojustiça é o
evangelho. Ele nos ensina que Jesus
desceu de Seu ambiente eterno de
glória e se fez carne. Viveu uma vida
perfeita em nosso lugar e morreu nos
substituindo – levando sobre si a nossa
culpa e colocando sobre a nós a Sua
justiça. Venceu a morte e ao terceiro
dia ressuscitou, para subir ao Pai e
interceder por nós continuamente.
Nossa redenção e justiça não é
conquistada pelo que fazemos de bom,
ou por nossas posturas ativas, mas por
uma atitude passiva de crer e receber
pela fé o que Jesus já cumpriu de uma
vez por todas.
	 Sejamos, então, “bons
publicanos”, e, conscientes de nossa
maldade, olhemos unicamente para
Jesus. Solus Christus.
4
LASCH, Christopher. A cultura do narcisismo. Rio de Janeiro:
Imago, 1985.
6
Em estudos e palestras proferidas no L’Abri Brasil e congressos
da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares (AKET).
5
FELLOWS,Andrew. O narcisismo como cosmovisão
dominante no Ocidente.AMORIM; Rodolfo; et. al. Fé Cristã
e cultura contemporânea: cosmovisão cristã, igreja local e
transformação integral.Viçosa, MG: Ultimato, 2009.
7
Comunidade fundada por Francis Schaeffer, na década de 50,
que busca trabalhar o ser humano em sua integralidade diante
de Deus – (cf. www.labribrasil.org)
Allen Porto é Pastor da Igreja Presbiteriana
do Renascença, e está plantando a Igreja
Presbiteriana do Araçagy, em São Luís (MA).
iPródigo | Outubro 201126
Seria Deus Bipolar?
por filipe niel
Resgatando uma visão bíblica do caráter gracioso de Deus
Não importa se você é budista,
espírita, católico ou evangélico,
algum dia você já se perguntou,
ou foi questionado, se o Deus do
Antigo Testamento seria o mesmo
do Novo Testamento. A base deste
questionamento é a aparente
contradição no modo de agir de Deus
em cada uma das épocas citadas. Desde
que o Novo Testamento existe, cristãos
de todas as épocas transformaram Deus
em um Fernando Pessoa cósmico. Na
visão de muitos, Deus não poderia ser
apenas Yahweh, Ele deveria ter pelo
menos dois heterônimos bastante
distintos que o representaram em cada
um dos Testamentos da Bíblia.
	 Marcião era um mestre
cristão que defendia que uma cirurgia
deveria ser feita na Bíblia. Segundo ele,
o problema era o Antigo Testamento.
Para Marcião, o Deus do A.T. era um
“semideus tribal que não merecia
adoração ou culto dos cristãos”1
. Ele via
o Deus do A.T. como um adolescente
temperamental ou alguém muito mais
demoníaco do que divino.
	 Tenho certeza que você nunca
chegou ao extremo que levou Marcião a
ser condenado como herege pelo Bispo
de Sinope, seu próprio pai2
. Entretanto,
é comum questionarmos as aparentes
diferenças entre o “Deus do A.T.” e
“o Deus do N.T.”. Mas será que essas
diferenças realmente existem? Será que
podemos afirmar que o Deus do A.T.
era um Deus inflexível, sem compaixão
e sanguinário, enquanto o Deus do
N.T. era completamente amoroso,
compassivo, quase um bonachão
natalino?
	 Quando Deus se apresenta
a Moisés, os adjetivos empregados em
sua autodescrição são muito diferentes
dos que costumam vir à nossa mente
quando pensamos em Yahweh: “Senhor,
Senhor,Deuscompassivoemisericordioso,
paciente, cheio de amor e de fidelidade,
que mantém o seu amor a milhares e
perdoa a maldade, a rebelião e o pecado.
(Êxodo 34.6,7).
	 Compassivo? Misericordioso?
Paciente? Cheio de amor e fidelidade?
Essas palavras não se encaixariam
melhor em uma oração do Apóstolo
Paulo? Será que encontramos noAntigo
Testamento esses atributos em ação?
	 A realidade é que Deus age
assim desde a eternidade e para sempre.
Não tenho como narrar as diversas3
situações em que vemos isso, mas
gostaria que observássemos uma delas.
Vamos pensar na história do profeta
Jonas e da“grande cidade de Nínive”.
	 Você conhece a história
de Jonas. Você aprendeu na Escola
Dominical que ela nos ensina a não
1
OLSON, Roger, História da Teologia Cristã, São Paulo:
Editora Vida, 2001. p. 137
2
DRISCOLL, Mark, Jesus Vintage, Niterói: Editora Tempo de
Colheita, 2011. p. 45
3
Gn 6.5-8; 18.22-33; Ne 9.17-31; Sl 86.15; 103.8; Jl 2.13
foto:shutterstock.com
iprodigo.com 27
desobedecermos a Deus, caso contrário
Ele irá nos punir como puniu a Jonas,
enviando a tempestade e o peixe para
engoli-lo.Não é isso? Não,não é isso!
	 A história de Jonas é muito
mais profunda. Na verdade, o propósito
do livro é bem diferente das lições que
a maioria dos professores de EBD tira
dele.
	 Fomos ensinados que o ponto
central do livro é a tempestade e o
grande peixe engolindo Jonas, quando
na verdade o ponto central do livro é
o caráter gracioso, misericordioso e
perdoador de Deus em contraste com a
justiça própria, o egoísmo e a idolatria
do homem.
	 Você já parou para pensar
quais foram os motivos que levaram
Jonas a fugir em desobediência a Deus?
Estaria Jonas com medo de entrar na
grande cidade de Nínive e pregar contra
ela? Será que temia ser escorraçado,
apedrejado, encarcerado? Não! O que
fez Jonas fugir foi o caráter compassivo,
bondoso e perdoador deYahweh:
	 “Senhor,nãofoiissoqueeudisse
quando ainda estava em casa? Foi por
isso que me apressei em fugir para Társis.
Eu sabia que tu és Deus misericordioso
e compassivo, muito paciente, cheio de
amor e que promete castigar mas depois
se arrepende” (Jonas 4.2).
	 Jonas fugiu para Társis não
por medo do fracasso, mas por ter
certeza do sucesso4
. O que gerou a sua
fuga desenfreada foi a certeza de que
Deus, mais uma vez, agiria com graça
e misericórdia, diante de corações
contritos e arrependidos. A fuga foi
errada,mas o raciocínio foi perfeito.
	 Jonas conhecia Deus e já havia
sido usado por Ele para salvar Israel de
seus inimigos (2 Reis 14.23-28). Jonas
sabia quem era Deus e foi exatamente
isso que o fez fugir. Ele não suportava
a ideia de que pecadores como os
moradores de Nínive pudessem ser
alvo da graça e da misericórdia de Deus
assim como ele foi. Seu nacionalismo
idólatra o fazia detestar a ideia de ver
povos pagãos perdoados e restaurados
por Deus. Jonas sabia que Deus detesta
e pune os orgulhosos de coração, mas
concede graça aos humildes5
. Ele não
aplicava essas verdades à sua própria
vida,ainda que as conhecesse.
	 Isso fica claro na forma
como cada personagem encerra sua
participação na história. A ímpia,
porém arrependida Nínive acaba sendo
alvo do perdão e da graça de Deus (Jn
3.10). Os marinheiros idólatras, porém
arrependidos,recebemgraçaparaadorar
a Deus com temor e se comprometem
com Ele (Jn 1.5,16). Já o soberbo, auto
justificado e idólatra Jonas continua
amargurado, preferindo morrer a ver a
misericórdia de Deus sendo derramada
na vida dos ímpios ninivitas.
	 Esse é o Deus do A.T., tão
gracioso e misericordioso quanto no
N.T. Seria Deus Bipolar? Longe disso;
na verdade, nosso Deus é coerente
e consistente! Que tal passar o dia
alistando as diferentes formas da graça
de Deus em sua vida e pensando em
outras passagens do A.T. onde a graça
de Deus se manifesta?
Filipe Niel é Pastor da Segunda Igreja
Batista em Caldas Novas (GO).
4
TCHIVIDJIAN, Tullian, Surprised by Grace. Wheaton, IL –
USA: Crossway, 2010
5
Provérbios 16.5, 3.34
iPródigo | Outubro 201128
Conheci o Evangelho com vinte
anos de idade. Foi lindo demais!
Apósumaadolescênciavividadeforma
desregrada, em revolta por perdas
familiares, um amigo compartilhou o
Evangelho comigo (na hora fui muito
resistente, claro) e aquelas palavras
não saíram do meu coração. Um ano e
meio depois, já frequentando a igreja,
Deus abriu meus olhos para enxergar a
beleza do Evangelho da glória de Deus
revelado na face de Cristo (2 Co 6.4).
Fui tomado por uma paixão radical
pelo Evangelho, o que me levou a
quererviverintegralmenteparaganhar
outros para Cristo.
Antes, preciso definir o uso do termo
“religião”. Na época de Agostinho de
Hipona (354-430), o termo “religião”
significava religare (latim), dando
a entender a reconciliação que o
Evangelho faz entre Deus e os homens
(1 Tm 2.5). Na pós-modernidade,
“religião” significa a tentativa do
homem de chegar a Deus através dos
Para exemplificar1
melhor as três vias
de procura da felicidade, tomarei o
livro escrito pelo Pastor Tim Keller
intitulado “O Deus Pródigo”2
. Ele
aborda, com base na parábola do filho
pródigo, a procura da felicidade por
dois caminhos: a conformidade moral
e o autoconhecimento.3
O ser religioso
é ilustrado pelo filho mais velho, que
“ilustra o caminho da conformidade
moral”4
.
“Os irmãos mais velhos obedecem a
Deus apenas para atingir objetivos.
Não obedecem para conseguirem
chegar ao próprio Deus – para a ele
se assemelharem, para amá-lo, para
conhecê-lo, e para nele se deleitarem.”5
O que é uma pessoa religiosa?
Ela não é uma pessoa boa?
Um convite ao banquete
próprios méritos e obediência numa
autojustificação (ou justiça própria)
para ser aceito por Deus (a exemplo
da torre de Babel em Gênesis 11.1-9).
Isso é impossível para os homens
(Mt 19.26) e esse modelo é similar
ao seguido pelos fariseus no Novo
Testamento.
	 Um ensinamento muito
claro nas Sagradas Escrituras é que
o homem pós-Adão é corrompido
pela Queda (Sl 51.5; Rm 3.23, 5.12-
18) e, por causa disso, seu coração
é corrupto, enganoso (Jr 17.9) e
insuficiente para conseguir a salvação
por si próprio (Jo 6.44).
	 Entretanto, ao peregrinar
por várias comunidades, servindo e
pregando o Evangelho, esbarrei com
um estilo de vida que não conhecia.Eu
achava que existiam somente pessoas
devassas ou crentes. Mas conheci um
terceiro tipo: a religiosa.
Pregando o Evangelho para “
Detalhe de O Retorno do Filho Pródigo, de Rembrandt van Rijin, 1669
iprodigo.com 29
Uma coisa que o Evangelho deixa claro
équeestamostodos“nomesmobarco”.
Todos somos pecadores carentes da
graça do Pai encarnada no Evangelho
de Jesus. Os fariseus precisam também
do “amor acolhedor de Deus”9
, pois o
pai vai ao encontro de ambos os filhos.
“Ele não é farisaico com os fariseus; ele
A cura
“Porque o filho mais velho se revela
mais cego para os acontecimentos, ser
um fariseu com espírito de irmãos
mais velho é uma condição ainda mais
espiritualmente desesperada.”6
“Os irmãos mais velhos acreditam que,
seviveremcorretamente,terãoumavida
boa, que Deus lhes deve um caminho
suave quando tentam com grande afinco
viver de acordo com as suas normas.”7
“A incapacidade dos irmãos mais velhos
de lidar com o sofrimento provém do
fato de a obediência moral ser baseada
nos resultados.”8
Essas citações são suficientes para
pintar o quadro de como um religioso
funciona em seu comportamento. A
questãoéqueoconviteparaobanquete
serve para os dois filhos. Na leitura da
parábola, o Pai convida os dois filhos
para o banquete. Mas não sabemos se
o mais velho entra porque Jesus deixa
a pergunta no ar para os fariseus.
não é orgulhoso com os orgulhosos”.10
O Evangelho é a cura para a
transformação de todas as pessoas,
incluindoasreligiosas.OamordeDeus
“traz alegria, ânimo e consolo. Ele o
reerguerá e o libertará de todo o medo,
como nada jamais conseguiu fazer
antes”.11
A única forma para pastorear
religiosos e o único conteúdo a pregar
é o Evangelho.As pessoas religiosas em
contextos eclesiásticos cristãos tendem
a “abraçar” o Evangelho e depois
colocá-lo em segundo plano. Não! “O
Evangelho é, portanto, não apenas o
ABC da vida cristã, mas também todo
o dicionário da vida”12
.
“irmãos mais velhos”
por JUAN DE PAULA
1
Agradeço ao pastor Rodrigo Almeida Rezende (de Cabo Frio
– RJ) pelos insights em relação à análise do Pastor Tim Keller
e ao livro “O Deus Pródigo” tanto em conversa pessoal quanto
em mensagem proclamada na Igreja Batista Central em Iguaba
Grande, onde sirvo como pastor.
2
Tim Keller. O Deus Pródigo: Descubra a essência da fé cristã na
parábola mais tocante de Jesus. Tradução André Jenkino. – Rio
de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2010.
3
Tim Keller. O Deus Pródigo, p. 15.
4
Op. Cit.
5
Op Cit p. 65.
6
Op Cit p. 70.
7
Op Cit p. 74.
8
Op Cit p. 75.
9
Op Cit p. 101.
10
Op Cit p. 102.
11
Op Cit p. 142.
12
Op Cit p. 154.
Juan de Paula é Pastor da Convenção Batista
Brasileira e professor de Teologia na ETR
(Escola Teológica Reformada) no RJ.
iPródigo | Outubro 201130
por emilio Garofalo Neto
Avida até parece uma festa - assim
começa a música Diversão do
grupo de rock Titãs. O refrão é muito
interessante: “Às vezes qualquer um
faz qualquer coisa por sexo, drogas
e diversão, e tudo isso só aumenta
a angústia e a insatisfação; às vezes
qualquer um enche a cabeça de álcool,
atrás de distração, mas nada disso às
vezesdiminuiador.”Esserefrãoatinge
importantes verdades que devemos
tratarpelaslentesdasescrituras.Todos
os homens buscam diversão, buscam
jogar, brincar, se entreter—se não
em extremos pródigos, no mínimo
em doses pequenas. Isso pode ser
observado em qualquer idade e em
qualquer cultura da Terra.
A parábola do filho pródigo
fala acerca de um homem que deixou
sua família e sua terra para ir atrás de
viver prodigamente. Ele julgou que o
melhor para si era aproveitar e curtir
a vida de maneira despreocupada,
em busca de quaisquer formas de
diversão que desejasse. Neste artigo
iremos tratar desse desejo humano.
Como outros autores vão tratar dos
por emilio Garofalo Neto
ÍconesdesenhadosporJanCavan|DawghouseDesignStudio
iprodigo.com 31
temas centrais da parábola (graça e
perdão), fico à vontade para examinar
uma questão um tanto periférica à
parábola, mas importantíssima em
nossas vidas: gastamos enorme parte
de nosso tempo, nosso dinheiro e
nossas vidas em busca de diversão.
Como ele poderia ser tão tolo em
deixar sua família, sua casa, sua
comunhão para levar uma vida que
resulta em miséria e destruição? Mais
sério ainda, nós fazemos o mesmo,
seja em grande ou pequena escala:
quando optamos por clicar no site
que não devemos, quando utilizamos
substâncias que teoricamente vão nos
fazer curtir mais a festa ou a viagem
ou quando negligenciamos nossa
família por coisas que prometem
nos dar alegria. Veremos que a busca
por diversão tem raízes na criação, é
distorcida pela queda e mesmo assim
aponta para a redenção.
O filho pródigo fez uma coisa que
todos nós já fizemos em algum ponto
de nossas vidas, em verdade, algo que
fazemostodososdias:buscoudiversão,
quis satisfazer seus desejos por lazer.
Mas de onde vêm tais desejos? Eles são
necessariamente pecaminosos em sua
raiz? Não, o interesse por recreação
é um elemento criado no homem.
Temos algumas pistas bíblicas que
apontam para isto; iremos apontar
algumas direções, mas não será um
tratamento exaustivo.
	 A Bíblia não tem uma
passagem clara dizendo “podeis
brincar”. O caso a favor de diversão,
jogos e brincadeira é feito através
de diversos textos que tocam no
Abuscapordiversãoeacriação
assunto tangencialmente e por temas
relacionados. Trataremos brevemente
de alguns destes elementos.
	 Um componente importante
é o do descanso, uma grande parte da
diversão. Ao criar o homem, Deus
o fez com necessidade de descanso;
de fato, estabeleceu a regra de que
deveria trabalhar seis dias e descansar
no sétimo. Esse dia, desde o princípio,
envolvia culto, mas vai além disto,
tratando-se de um dia para celebrar
a Deus e sua criação e descansar dos
afazeres da semana. Como diz Leland
Ryken: “Assim como o descanso de
Deus, o lazer nos liberta de uma
necessidade de produtividade e nos
permite aproveitar o que já foi feito.”
(Ryken 1987, 183).
	 Os diversos festivais de Israel
no Antigo Testamento apontavam
também para tempo de alegria e
descanso na providência de Deus.
Os profetas falam de instâncias onde
brincadeira é vista como uma coisa
natural e, principalmente, como parte
de situações onde se mostra a bênção
restauradora de Deus.Isaías profetizou
acerca de uma convivência pacífica
durante o reino do cordeiro em um
período de reconciliação entre Deus e
homem que se reflete na reconciliação
entre homem e criação—e isto envolve
até mesmo crianças brincando com
animais ferozes (Is 11.6-10). Zacarias
fez promessas parecidas; ao falar
acerca da restauração de Jerusalém
ele diz que “as praças da cidade se
encherão de meninos e meninas, que
nelas brincam” (Zc 8.5).
	 Jesus em certas ocasiões
(mesmoforadoSábado)seretiroupara
descansareserecompor.Curiosamente,
Jesus foi acusado de ser um glutão e
iPródigo | Outubro 201132
beberrão; essas acusações eram falsas,
mas foram motivadas pelo fato de
que era comum que Jesus gastasse
tempo em comunhão e comida junto
com as pessoas. Seu primeiro milagre
público envolveu assegurar que uma
festa não se encerrasse pela falta de
vinho (o que não nega os profundos
significados bíblicos e teológicos desse
feito). A própria parábola do filho
pródigo aponta para música e dança
como reações apropriadas para alegria
(Lc 15.25). Temos ainda Paulo usando
figuras esportivas para ilustrar suas
asserções em diversos momentos.
Paulo não estava com isto dizendo que
tínhamos de nos tornar maratonistas
ou atletas, mas há uma aceitação tácita
de que o mundo esportivo tinha para
oferecer no mínimo figuras válidas
para a caminhada (ou corrida!) cristã.
	 Deus nos criou com instintos
naturais para desejar descanso,
interação e lazer; coisas que a Bíblia
não condena se feitas dentro de seus
parâmetros. Deus fez um mundo
que vai além de simplesmente
satisfazer as necessidades humanas de
sobrevivência, ele criou diversidade,
beleza, deleite; ele fez um mundo
prazeroso ao homem, intelectual e
sensorialmente; um mundo para ser
aproveitado. Não haveria nenhuma
restrição a Adão e Eva quanto a
nadarem nos rios, brincarem com os
elefantes, comerem quase todos os
frutos ou aproveitarem a companhia
um do outro em sua tarefa de povoar a
terra.
	 Outro elemento importante
nesta discussão é que fomos
criados à imagem de Deus e isto
implica que somos receptivamente
criativos1
. Isso significa que Deus
nos criou semelhantes a ele, com
a capacidade de criarmos coisas
com nossas mentes e mãos. Todas
as nossas criações necessariamente
refletem a criação original em certos
pontos, pois não somos criadores
autônomos, mas criamos dentro do
campo de possibilidades que Deus
criou. Ninguém pode imaginar uma
cor que Deus não imaginou antes,
ninguém pode criar um universo
fantástico que surpreenda a Deus com
sua criatividade. Trabalhemos com
uma noção útil e interessante: nossos
produtos culturais de lazer e diversão
são subcriações, feitas diante de Deus,
parte em rebelião, parte em submissão
à sua vontade.
	 Nosso interesse por diversão
envolve o fato de que em nossos
jogos e brincadeiras exercemos nosso
chamado a sermos subcriadores. Em
eventos grandes como as Olimpíadas
ou a Copa do Mundo, podemos
encontrar diversos pontos de contato
entrenossascriaçõeseacriaçãodivina2
.
Mas mesmo em coisas menores como
um filme, uma peça de teatro ou
uma história infantil, encontraremos
sempre elementos que remetem à
forma e à estrutura pelas quais Deus
criou o mundo; seja afirmando e
repetindo o que Deus fez, negando
e distorcendo tudo isto ou mesmo
elaborando sobre o original. Ocasiões
mais simples e corriqueiras refletem
a criação de Deus em menos pontos,
mas continuam refletindo (positiva
ou negativamente): quando amigos se
1
Devo a meus mentores Wadislau e Davi Gomes as expressões
“receptivamente criativo” e “ativamente redentivo.”
2
Para um tratamento mais longo da questão do amor humano por
diversão e de como a Copa do Mundo é uma subcriação que reflete
a criação divina ver minha dissertação: The 2010 Soccer World Cup as
Sub-creation: An analysis of human play through a theological grid of
creation-fall-redemption. 2011. Reformed Theological Seminary.
iprodigo.com 33
juntam para jogar pingue-pongue ou
assistir um episódio de Doctor Who,
eles estão se deleitando num mundo
com suas próprias regras, com seus
valores, suas noções de certo e errado,
regras de relacionamento e satisfação.
	 Por que buscamos diversão?
Porque ali encontramos coisas
para as quais fomos criados como
descanso, alegria e relacionamentos.
Porque na recreação temos a
possibilidade de exercer nosso papel
como subcriadores. Não sabemos
exatamente o que a parábola implica
a respeito de como era a vida dissoluta
do filho pródigo; por certo envolvia
gasto de dinheiro com prostituição
(v. 30) e provavelmente não estava
muito longe do refrão da música dos
Titãs. Quando o filho pródigo buscou
diversão, recreação e descanso, ele fez
seguindo desejos embutidos em seu
coração desde a criação; o problema
é que esses desejos foram distorcidos
pela queda.
A queda de Adão e Eva teve efeitos
catastróficos. O maior deles é a
separação entre Deus e o homem. Ela
resultouaindanacorrupçãodocoração
humano; todos nascem pecadores e
isso afeta nossos desejos, pensamento
e ações. Pela escolha que nossos pais
fizeram, nós sofremos e habitamos
numa realidade cheia de erros, onde
nossas atividades são naturalmente
corrompidas.
	 Nossa busca por diversão é
naturalecriadaporDeus,masemnossa
rebelião espiritual, pegamos as coisas
boas criadas por ele e distorcemos
segundo nossos desejos pecaminosos
Abuscapordiversãoeaqueda
para nossas finalidades. Utilizamos as
boas coisas deste mundo para o mal.
Essas distorções se mostram em todo
tipodeassunto.Porexemplo,distorções
em diversão e sexualidade. Deus nos
criou para amarmos e fazermos sexo,
dentro das limitações do casamento.
Mas, em nossa rebelião, utilizamos
a sexualidade de maneira errada, e
isso vai muito além de simplesmente
dormir com quem não é sua esposa.
Nossos esportes, nossos filmes, nossas
interações no Facebook, nosso tempo
de relaxamento na internet, tudo
isso é fortemente influenciado por
uma sexualização fora dos padrões
estabelecidos por Deus. Vamos além
dos limites que Deus estabelece no
uso de bebida, de comida e outras
coisas – liberdade cristã se torna
escravidão. Coisas que deveríamos
usar para celebrar a bondade de Deus
em sua criação acabam servindo para
destruição, para escândalo e causam o
tropeço de nossos irmãos.
	 Outro tipo de distorção
aparece na questão de violência e
crueldade. Passamos a amar algo
que é resultado da queda como se
fosse original. Não entenda errado;
em certas passagens bíblicas, Deus
comanda a violência e ele mesmo
pune seu Filho de maneira violenta no
lugar de seu povo. Mas essa violência
existe porque o pecado existe. Nossa
diversão neste mundo é misturada
com violência porque o mundo é caído
e nós gostamos disso. Para alguns,
esse interesse não passa de filmes e
videogames violentos; para outros,
vai além e envolve machucar, matar e
afligir pessoas ou animais por diversão.
Assim, por exemplo, nosso desejo
legítimo de jogar bola com os amigos
iPródigo | Outubro 201134
pode ser usado para impressionar
e levar meninas para a cama, para
nos deliciarmos machucando o
adversário ou expressando ódio, raiva
e mesmo preconceito étnico. Somos
enormemente criativos em utilizar as
criações de Deus e as nossas para o
mal.
	 Uma maneira especialmente
perniciosa pela qual a queda afeta
nossa diversão é ao utilizarmos nossas
subcriações para pecar de maneira
que não pecaríamos no mundo real.
Dentro destas subcriações, muitas
vezes nos sentimos mais livres para
exercer nossos desejos pecaminosos
do que fora delas. Por exemplo, há
muitos homens que não adulteram
fisicamente, mas julgam que podem
brincar com pornografia porque ela
“não afeta ninguém” – enquanto
adulteram no coração. Ou o pai que
não permite que o filho xingue, mas
no estádio não vê problema que isso
ocorra; ou a pessoa que não rouba em
seu trabalho mas não vê problema em
roubar no jogo de Banco Imobiliário,
pois o jogo não é“pra valer.”
	 O filho pródigo buscou viver
de maneira a dar vazão a seus desejos
criados e distorcidos pelo pecado; o
resultado foi miséria no bolso e no
coração. Ele foi criado para desejar
sexo, mas deu vazão a seu desejo fora
da esfera de permissão bíblica. Ele foi
criado para desejar descanso e alegria,
mas, para isso, gastou tudo o que tinha
e deixou sua família.
	 Por que buscamos diversão?
Porque por meio dela podemos
satisfazerdiversosdesejospecaminosos
e exercer nossa pretensa autonomia em
criarnossosmundinhos,ondefazemos
o que queremos.
Além de sermos receptivamente
criativos,somosativamenteredentivos.
Isso quer dizer que, mesmo em nosso
estado de queda,ainda temos impulsos
de criar coisas boas e de consertar
coisas ruins. Isso está ligado ao fato
de que o homem é a imagem de Deus
(Gn 1.27) e tem a eternidade em seu
coração (Ec 3.11). O homem caído é
uma inconsistência ambulante; ele
proclama que Deus não existe mesmo
sabendo que ele existe (Rm 1.18-
23). Ele tenta se ver livre de Deus,
mas opera num mundo criado por
Deus com mente e corpo criados por
Deus, vivendo segundos as leis físicas
de Deus. Ele deseja fugir de Deus em
sua arte, trabalho e diversão, mas não
consegue deixar de refletir aquilo para
o que foi criado.
	 Nossos filmes, novelas e
revistas em quadrinhos estão repletos
de temas como reconciliação, justiça,
recompensa, graça, salvação e nova
vida. Seguindo o pensamento de
CorneliusVanTil,vemosqueohomem,
mesmo negando a verdade de Deus, se
utiliza dela em tudo o que faz. Van Til
usou a idéia de “capital emprestado”.
O descrente, de qualquer cultura, não
é consistente com sua rebelião. Criado
para refletir e glorificar a Deus em
tudo o que faz, o homem é incapaz
de se comprometer completamente
com sua cosmovisão rebelde. Van Til
frequentemente usava a figura de uma
criança que só é capaz de esbofetear
seu pai porque este a segura no colo.
O homem rebelde tenta, mas não
consegue se desvencilhar de Deus e da
noção de eternidade (Van Til, 2007,
153).
Abuscapordiversãoearedenção
iprodigo.com 35
	 Ohomemusaacriatividade,a
matéria-prima,ostemaseestruturasda
criação de Deus para suas subcriações
(filosóficas, científicas literárias,
cinematográficas... ); essa idéia de
capitalemprestadoémuitoimportante
para analisarmos qualquer produto
cultural como filmes, literatura,
rituais e tudo que se possa imaginar,
pois o homem criado diante de Deus
é incapaz de negar plenamente que é
imagem de Deus com a eternidade
gravada em seu coração. Cada uma de
suas criações necessariamente conterá
relances,fragmentos da verdade eterna
que apontam para o passado no Éden
e para o futuro eterno.
	 Nosso lazer e entretenimento
estãoimiscuídoscomtemas,estruturas
e promessas que são semelhantes aos
nossos desejos mais profundos de
libertação do mal, liberdade do medo
e da dor, eternidade, reconciliação e
assim por diante. Uma das razões pela
qual buscamos diversão é porque ali
encontramos coisas como redenção,
reconciliação, paz, alegria e união.
Claro, sempre de maneira imperfeita
e manchada pelo pecado. O homem
busca na diversão suprir a necessidade
que tem de Deus e de sua eternidade.
Voltando a Eclesiastes, parte integral
da mensagem do livro é que o homem
busca satisfazer seu desejo por coisas
maiores por meio de todo tipo de coisa
criada, mas isso tudo é apenas vapor,
que não mata a sede. Blaise Pascal
escreveu bem:
“O que essa busca e inquietação
revelam senão que havia um dia em nós
verdadeira alegria, da qual o que resta
é apenas um esboço e traços vazios? O
homem tenta sem sucesso preencher o
vazio com tudo o que o cerca, buscando
em coisas ausentes a ajuda que não
encontra nas que são presentes, mas
todas são incapazes de fazê-lo. Este
abismo infinito só pode ser preenchido
com um objeto infinito e imutável,
quer dizer, o próprio Deus. Apenas ele
é nosso verdadeiro bem. Desde o tempo
que o largamos, é curioso que nada
foi capaz de tomar seu lugar: estrelas,
céu, Terra, elementos, plantas, repolho,
alho-poró, animais, insetos, bezerros,
cobras, febre, pragas, guerra, fome, vício,
adultério,incesto.Desde o tempo em que
perdemos o verdadeiro bem, o homem
pode vê-lo em todo lugar, mesmo em
sua própria destruição, embora seja tão
contrário a Deus, à razão e à natureza.
Alguns buscam este bem último na
autoridade, outros na busca intelectual
por conhecimento e outros no prazer”.
(Pascal, 1999, 52).
	 Os Titãs estavam certos,
“tudo isso só aumenta a angústia
e a insatisfação”. Deus nos fez com
a capacidade de criar, mas nossas
subcriações não foram feitas para
assumir o lugar de Deus e nem
mesmo da criação em nossas vidas;
ao tentarmos criar mundos onde nos
divertimos sem Deus, estamos apenas
nos enganando. Podemos detectar
resquícios da realidade suprema e
O homem caído deseja fugir de Deus em sua
arte, trabalho e diversão, mas não consegue
deixar de refletir aquilo para o que foi criado.
iPródigo | Outubro 201136
pensamos que eles são a própria
realidade; em nossa rebelião, achamos
que seremos mais felizes se pudermos
viver de acordo com nossas tolas
paixões em nossas fantasias, ao invés
de nos regozijarmos em Deus, sua
criação e em submetermos a Ele nossas
subcriações.
	 Buscamos lazer e diversão,
pois achamos que ali encontraremos
o que buscamos. Pensamos que
dançando com os amigos, boiando
no oceano, correndo atrás de uma
bola, fantasiando numa partida de
RPG, brincando com nossas crianças
encontraremos um pouco daquela
alegria e finalidade para a qual fomos
criados. E de fato podemos vislumbrá-
la, podemos quase apalpá-la em
nossas atividades. Como falou C.S
.Lewis acerca de sua busca por alegria
e beleza: “Os livros ou música em
que achávamos que estava a beleza
irão nos trair se esperarmos neles;
não era neles, era através deles, e o
que vinha através deles era um anelo.
Essas coisas — a beleza, a memória
de nosso passado—são boas imagens
daquilo que realmente desejamos; se as
confundirmos com a coisa em si, eles
se tornam ídolos mudos e vão partir
o coração de seus adoradores. Pois
eles não são a coisa em si, são apenas
o aroma da flor que não encontramos,
notícias de um país que ainda não
visitamos” (Lewis, 2001, 29).
	 No uso autônomo de fé-
amor-esperanca, o homem rebelde
a Deus põe sua fé em si mesmo e em
seus feitos, exercitando seu amor
em dedicação a diferentes formas de
diversão, na esperança de que através
de jogar e brincar ele encontrará
significado e satisfação. O teólogo
Herman Bavinck falou acerca dessa
situação complexa: “O homem almeja
a verdade, mas é falso por natureza.
Anela por descanso e se lança em uma
diversão após a outra.Suspira por uma
bênção permanente e eterna, porém se
agarra aos prazeres do momento. Ele
busca a Deus,mas se perde na criatura.
Nasce filho da casa, mas se alimenta
dos sabugos dos porcos numa terra
distante...” (Bavinck, 1977, 22).
	 Buscamos diversão, pois
ali encontramos um pouco do que
sabemos que a eternidade redentiva
reservapranós;nasnossassubcriações,
tentamos replicar estas realidades sem
ter de nos submetermos ao Deus
Criador, tolamente achando que essas
coisas podem ser separadas.
Os Rolling Stones, por décadas, têm
rugido “não consigo satisfação, e eu
tento, eu tento eu tento”. Eles nunca
irão encontrar enquanto procurarem
onde procuram; vão achar coisas que
parecem satisfazer, mas que o fazem
de maneira imperfeita e temporária,
um ídolo cruel. O filho pródigo se deu
conta de que, em sua situação, não
havia mais satisfação – sua solução
foi voltar. Será que ele percebeu que
havia satisfação verdadeira na casa do
pai ou ele simplesmente continuava
olhando com os mesmos olhos,apenas
buscando outra fonte? Ele achou que
seu problema era falta de recursos
financeiros. Lembrou que na casa de
seu pai havia recursos e que mesmo os
empregados comiam melhor que ele e
resolveu voltar. Quando confrontado
com o amor do pai é que percebeu
que ali estava a verdadeira vida, numa
Conclusão
iprodigo.com 37
Agostinho. 1998. Saint Augustine’s
Confessions. Trans. Henry Chadwick.
Oxford World’s Classics. Oxford, UK:
Oxford University Press.
Bavinck,Herman.1977.Our reasonable
faith. Trans. Henry Zylstra. Grand
Rapids, MI: Baker Book House.
Garofalo Neto, Emilio. 2011. The 2010
Soccer World Cup as sub-creation:
an analysis of human play through
a theological grid of creation-fall-
redemption. PhD diss., Reformed
Theological Seminary.
Lewis, C.S. 2001. The weight of glory:
And other addresses. New York, NY:
HarperCollins Publishers.
Pascal, Blaise. 1999. Pensées and other
writings. Trans. Honor Levi. Oxford
World’s Classics. Oxford, UK: Oxford
University Press.
Ryken, Leland. 1987. Work and leisure
in Christian perspective. Portland, OR:
Multnomah Press.
Van Til, Cornelius. 2007. An
introduction to systematic theology:
Prolegomena and the doctrines of
revelation, scripture, and God. 2nd
ed. Ed. William Edgar. Phillipsburg,
NJ: Presbyterian and Reformed
Publishing.
Bibliografiafesta onde graça se mostra para quem
não merece.Seu problema,na verdade,
era achar que podia viver em sua
autonomia pecaminosa.
	 A tragédia é que, em nossa
rebelião idólatra, tentamos atribuir à
subcriação o lugar que é do Criador;
buscamos adorar a criação no lugar
do Criador e terminamos com um
paliativo por vezes saboroso, mas que
não satisfaz a fome.
	 Muitos cristãos são
totalmente avessos ou críticos à
diversão como se fosse sempre
pecaminosa ou, no mínimo, um mau
uso do tempo. Outros buscam sua
diversão, mas escondidos dos irmãos
por vergonha ou incompreensão. A
música do Titãs começa com a frase
“A vida até parece uma festa”. De fato
nossavidaémarcadaporfestasformais
ou informais. Festas de casamento, de
aniversário, de promoção, de estação,
deaprovação,defim-de-semana.Festas
em que temos, de fato, um aperitivo
de uma festa maior, reservada para os
que são recebidos pelo pai gracioso,
pelo único caminho do Filho que se
entregou por filhos pródigos e por
filhos que se achavam obedientes.
	 Compreender que nossa
busca por diversão está enraizada
na nossa noção imperfeita de uma
realidade superior irá nos ajudar a
encontrar o caminho de retorno.
Entendendo primeiro a redenção
maravilhosa comprada por Cristo
poderemos então aplicá-la neste
mundo caído redimindo o tempo e o
mundo, enquanto caminhamos – não
para a criação original, mas para a re-
criação de todas as coisas, onde enfim
teremos perfeitos descanso, trabalho e
adoração.
Emilio Garofalo Neto é Pastor da
Congregação Presbiteriana Semear, em
Brasília (DF).
iPródigo | Outubro 201138
Há duas tendências perniciosas
que vez por outra abatem a fé
cristã. Uma delas é associar a salvação
com a exigência de regras e leis. Isto é
chamado de legalismo. Os legalistas
não acreditam que somente um
relacionamento pessoal e profundo
com Cristo é suficiente para satisfazer
a Deus. Eles acrescentam regras e
deveres para os verdadeiros crentes.
Regras sobre o comer, o beber, o vestir
e a aparência em geral.
	 A outra tendência é a
licenciosidade. O desprezo pelo padrão
de santidade exigido por Deus para
seu povo. É também conhecido como
antinominianismo, que significa
literalmentesercontraalei.Oprincipal
erro dos libertinos é confiar no ensino
da “livre graça” como direito de
continuarnopecado.Buscamsatisfazer
os seus interesses, desejos e valores.
	 Observe o contraste entre o
legalismo e o evangelho da graça.
	 O legalismo é obra humana
e se fundamenta na blasfema noção de
que o ser humano pode agradar a Deus
com suas penitências e campanhas
de fé, enquanto que o evangelho da
graça foi nos dado por Deus e não
exige nenhum esforço da parte do ser
humano para alcançar a salvação. O
legalismo enfatiza o que o homem faz
por Deus, enquanto o evangelho da
graça ensina que Deus fez tudo pelo
ser humano para salvá-lo. O legalismo
pode ser ilustrado com a imagem da
escada da salvação. O ser humano
zelosamente tenta subir a escada de
sua justiça própria, na esperança de
encontrar-se com Deus no último
degrau. Já o evangelho da graça pode
ser ilustrado com Deus descendo a
escada da encarnação de Jesus Cristo e
encontrando-se conosco, na condição
de pecadores, no primeiro degrau.
	 O legalismo diz: alcance; o
evangelho diz: obtenha. O legalismo
diz: tente; o evangelho diz: receba.
O legalismo diz: desenvolva-se a si
mesmo; o Evangelho diz: negue-se a si
mesmo.
	 O conceito de só pela graça
é um golpe mui severo ao orgulho
humano. Aqui não há lugar para a
autossuficiência,nemparaaarrogância
do que pretende salvar-se a si mesmo e
a outros, mesmo por meio de esforços
que aos olhos da sociedade parecem
mui nobres e heroicos.
	 No Evangelho, não temos
o homem buscando a Deus, porque
o homem está morto em seus delitos
e pecados: “Ele vos deu vida, estando
O Abuso da Graça
POR isaías lobão
iprodigo.com 39
vós mortos nos vossos delitos e pecados”
(Efésios2.1).Elefogedesesperadamente
Daquele que lhe pode dar a vida eterna.
No Evangelho, não temos um homem
bom, querendo seguir o melhor
caminho e se entregando sinceramente
a Deus. Temos a dura realidade da
indiferença e da rebeldia, que rejeita a
oferta divina.
	 O pecado não é uma fraqueza
ou um vício pelo qual não somos
responsáveis. É um antagonismo
ativo e intencional contra Deus.
Millard Erickson apresenta a seguinte
definição: “Pecado é qualquer falta de
conformidade, ativa ou passiva, com
a lei moral de Deus. Isso pode ser uma
questão de ato, de pensamento ou de
disposição”.
	 É importante lembrar que
amamos nosso pecado; temos prazer
nele, buscamos oportunidades para
praticá-lo. No entanto, por sabermos
instintivamente que somos culpados
diante de Deus, inevitavelmente
tentamos camuflar ou negar nossa
própria pecaminosidade. Há muitas
maneiras de fazer isso. Elas podem
ser resumidas, grosso modo, a três
categorias: encobri-lo, justificá-lo e
ignorá-lo.
	 Pecar não nos dá liberdade
– nos escraviza, e nos prende num
círculo de outros pecados. Adão
comeu o fruto proibido e tentou fugir
de Deus, escondendo sua nudez com
folhas de parreira. Caim matou o
irmão e em seguida mentiu para Deus.
Pedro chorou amargamente depois de
negar Jesus.Exemplos da escravidão do
pecado.
	 Paulo escreveu aos Romanos
sobre os riscos do pecado: “Mas graças
a Deus porque, outrora, escravos do
pecado, contudo, viestes a obedecer de
coração à forma de doutrina a que fostes
entregues” (Romanos 6.17). O Cristão
não deve se submeter ao pecado visto
que fomos completamente libertados
através do precioso sacrifício de Cristo:
“Porque a lei do Espírito da vida, em
Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e
da morte” (Romanos 8.2).
	 Graça é uma palavra de raiz
latina – gratia, traduzida do grego
charis, e que significa graciosidade,
benevolência, favor ou bondade.
Ela significa favor imerecido, favor
concedido àqueles que nada merecem.
A graça de Deus aos pecadores revela-
se no fato de que Ele mesmo pela
expiação de Cristo pagou toda a pena
do pecado. Por conseguinte, ele pode
justamente perdoar o pecado sem levar
em conta os merecimentos ou não
merecimentos.
	 Os reformadores protestantes
do século XVI bradaram a uma só voz:
Somente a Graça! Eles combateram
a degenerada religião medieval que
apresentava Cristo como um regente
feroz que ameaçava os seres humanos
com a condenação eterna. A única
esperança encontrada pelas pessoas
era o sistema sacramental romano. No
entanto, era uma esperança vazia. Os
jejuns, as confissões, as peregrinações,
o enxame de relíquias veneradas, o
panteão de santos e intercessores não
conseguiam acalmar as almas aflitas.
Elas em desespero encontravam a
morte, incertas de seu destino final.
	 O grande mérito dos
reformadores não foi criar algo novo,
masaredescobertadaantigamensagem
do evangelho,que ficou obscurecida na
maior parte do período medieval. O
catolicismo medieval ocasionalmente
iPródigo | Outubro 201140
se degenerava numa religião folclórica
da natureza. Os reformadores
denunciaram esse erro e propuseram
um novo (antigo) caminho: o retorno
às Escrituras.
	 De acordo com a Palavra de
Deus, a graça está intimamente ligada
ao amor e a eleição soberana. Leia o
que Deus revelou a Moisés durante o
período que a Igreja da antiga aliança
atravessava o deserto.
	 “Porque tu és povo santo ao
SENHOR, teu Deus, te escolheu, para
que lhe fosse o seu povo próprio, de todos
ospovosquehásobreaterra.Nãovosteve
o SENHOR afeição, nem vos escolheu
porque fôsseis mais numerosos do que
qualquer povo, pois éreis o menor de
todos os povos, mas porque o SENHOR
vos amava e, para guardar o juramento
que fizera a vossos pais, o SENHOR vos
tirou com mão poderosa e vos resgatou
da casa da servidão, do poder de Faraó,
rei do Egito” (Deuteronômio 7.6-8).
	 Ao Israel de Deus da nova
aliança, a Bíblia ensina que o amor de
Deuséperfeito,desinteressado,gratuito
e livre: Deus nada tem a ganhar com
ele, já que ele é infinito e perfeito. Pelo
contrário, Deus se sacrificou por nós,
enviando Jesus, para morrer a nossa
morte. Não houve outra razão, a não
ser o amor (Rm 5.8).
	 Deus não nos ama em função
do que somos,porque senão ele amaria
somente os amáveis, perfeitos, bons,
justos e bonitos.O amor de Deus é para
aqueles que nada são, para os sujos,
malcriados,perversosesemescrúpulos.
A pessoa amada por Deus não tem
nenhum valor em si; o que lhe dá valor
é o fato de ser amada por Deus.
	 Você conhece o hino Amazing
Grace de John Newton? Newton
escreveu-o em 1779.A letra diz:
	 Maravilhosa Graça / Como é
doce o som que salvou um desventurado
como eu / Estava perdido, mas agora fui
encontrado / Fui cego, mas agora vejo. /
Sua Graça ensinou meu coração temer /
E aliviou os meus medos / Quão preciosa
foi a revelação no primeiro momento
em que eu acreditei / Através de muitos
perigos, labutas e armadilhas eu já
passei, esta Graça trouxe-me até aqui /
E a Graça me conduzirá ao meu lar.
	
	 Newton foi traficante
de escravos africanos. Depois de
convertido se tornou pastor.Ele baseou
o hino em I Crônicas 17.16-17, onde o
Rei Davi expressa sua convicção de não
ser digno de construir a casa do Senhor,
e clama: “Quem sou eu, ó Senhor Deus,
e que é a minha casa, para que me tenha
trazido até aqui?”.
	 Anos depois,ao crescer muito
mais na fé, lamentou profundamente
ter feito parte deste nefando tráfico.
Tornou-se forte e eficaz guerreiro
contra a escravatura.
	 Newton nunca se esqueceu
do seu passado. Colocou na parede do
seu escritório uma placa com versículo:
“Pois lembrar-te-ás de que foste servo
na terra do Egito, e de que o Senhor teu
Deus te resgatou” (Dt 15.15). Achou
importante relembrar a si mesmo e aos
outros o quanto a maravilhosa graça de
Jesus havia feito por ele.
	 Em seu túmulo, lê-se: “John
Newton, uma vez um infiel e um
libertino, um mercador de escravos na
África, foi, pela misericórdia de nosso
senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado
e inspirado a pregar a mesma fé que ele
tinha se esforçado muito por destruir”.
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  • 2. iPródigo | Outubro 20112 O Pai Pródigo Emgeral,quandofalamosdepródigo,associamosrapidamente a palavra à ideia daquele que retorna para casa. Os juristas, por outro lado, nos lembram do sentido original da palavra – aquele que gasta de maneira irresponsável ou, num sentido mais positivo, generosamente. Tim Keller ouviu algumas reclamações ao divulgar seu livro, O Deus Pródigo. Dizia-se que era uma blasfêmia falar que o Senhor age de maneira irresponsável. Porém, não foi isso que o pastor presbiteriano quis dizer. Keller observou que, na parábola do Filho Pródigo, aquele que mais abriu mão de seus bens não foi o filho que saiu de casa, mas o pai. Aos olhos humanos, pode-se até dizer que o pai agiu de maneira irresponsável – ele recebe sua criança perdida com uma grande festa, nada cobra da fortuna que o menino desperdiçou, não pensa em sua reputação ou no preço do bezerro cevado e dos outros alimentos servidos na comemoração. Da mesma forma, Deus, por amor aos pecadores, aos rebeldes e mentirosos, entregou seu único Filho. Nosso Pai permitiu que aquele a quem ele amava, o ser mais doce, belo, puro, amoroso, glorioso, sábio e amável, fosse trocado por pessoas amargas, irresponsáveis, mentirosas, tolas, hipócritas, imorais e fofoqueiras. Deus não poupou nem seu Filho, pois perdoar envolve perder – por amor. Nosso Deus é semelhante ao pai pródigo da parábola. Como nos ensina Paulo, o Criador não poupou seu próprio Filho por amor a filhos perdidos e ainda nos promete muito mais (Romanos 8.32). O nome disso é Graça: generosidade para rebeldes que saíram de casa. Nossa revista fala das implicações dessa graça divina e chama cada leitor a meditar sobre essa maravilhosa disposição do Salvador. Minha oração é que você esteja entre aqueles que estavam mortos e reviveram, estavam perdidos, mas foram encontrados (Lucas 15.32). O pai pródigo nos chama para seu grande banquete. Como recusar? por Josaías Júnior oprogressodoperegrino Capa: Detalhe de O Filho Pródigo, de Julius Schnorr von Carolsfeld, 1860. Josaías Jr. é mestre em comunicação social pela Universidade de Brasília e editor-chefe da revista iPródigo
  • 3. iprodigo.com 3 Sumário edição n. 01 | outubro 2011 | A Parábol a do Pai Pródigo  Ele recebe pecadores YAGO MARTINS  Por que o filho pôde voltar AlexANdRe MeNdeS  Ódio e assassinato WIlSON PORTe JR.  Perdido na casa de seu próprio pai ROSTheR GUIMARãeS  Encontrados para Sua alegria IvONeTe SIlvA PORTO  A vida até parece uma festa eMIlIO GAROfAlO NeTO  Seria Deus bipolar? fIlIPe NIel  Checklist AlleN PORTO  O abuso da graça ISAíAS lObãO  Graça e consumação dIlSIleI MONTeIRO  Pregando o Evangelho para “irmãos mais velhos” JUAN de PAUlA I REVISTA IPRÓDIGO é uma publicação do site IPRÓDIGO | iprodigo.com CRIADO POR Gustavo Vilela, Rafael Bello, Josaías Júnior, Filipe Schulz e Daniel Torres EDITOR-CHEFE E DIAGRAMAÇÃO Josaías Júnior REVISÃO Filipe Schulz e Carla Ventura Agradecemos aos nossos voluntários, articulistas, anunciantes, à Editora Fiel e a todos que doaram tempo e recursos ao nosso projeto. Agradecemos também aos nossos irmãos da Congregação Presbiteriana Semear pelo apoio e pela orientação. Tiragem: 2000 exemplares.
  • 4. iPródigo | Outubro 20114 ELE recebe pecadores “E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles” (Lc 15.1,2). Quando lemos a Bíblia e passamos, por vezes rapidamente, por esses dois versos do livro de Lucas,corremos o risco de não darmos a esse texto a atenção que ele merece. Reconheço que, à primeira vista, ele pode parecer desinteressante. Porém, é de uma profundidade incalculável. Era um sábado (14.1). Jesus foi contra os costumes dos Judeus e curou um homem no dia do descanso (v. 3,4). Os fariseus ficaram mudos (v. 6) e o Mestre repreendeu-os com parábolas(v.7-24).Naquelemomento, uma multidão ia com Cristo (v. 25) e todos os publicanos e pecadores chegavam-se a Ele para ouvir seu ensino (15.1). O texto diz que os fariseus e escribas, que já estavam desgostosos, começaram a murmurar contra Cristo, acusando-o de receber pecadores e de comer com eles – o que Jesus estava realmente fazendo. Existe uma realidade incrível nesta breve denúncia contra Cristo.Sabendo que essa acusação era verdadeira, só podemos exultar diante de tão gloriosa declaração: Jesus recebe pecadores. Se você, amigo leitor, não é servo de Cristo, não busca viver uma vida completamente voltada para Ele e não tem professado-o, com palavras e ações, como Senhor de sua existência, essaéamelhornotíciaquevocêpoderia receber em toda sua vida: Jesus recebe pecadores. Você pode ser aceito por Deus através da obra de Cristo naquela Cruz. Chore aos pés do Senhor em oração e clame para que Ele te receba como filho.Ele mesmo declara: “Todo... o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37). Ainda que você, caro irmão, seja cristão e já viva submisso ao Grande Rei, essa verdade ainda precisa estar ressoando por toda sua mentalidade. Nunca esqueça: Jesus recebe pecadores. Quando você, em POR YAGO MARTINS
  • 5. iprodigo.com 5 momentos de fraqueza, embriagar-se com o veneno do pecado e for contra os mandamentos de nosso Legislador, não esqueça que Ele te recebe. Ouça a doce voz de Cristo, dizendo: “Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13.5).Busque o Senhor nos momentos de fraqueza e de pecaminosidade. Ele estará contigo todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20). Caso você já tenha,em algum momento, entregado sua vida a Cristo e hoje vive com se nunca o tivesse feito, se você está desviado dos passos de Jesus,saibaqueaindaháumaesperança para você: Jesus recebe pecadores. Não importa se você quebrou todas as promessas que fez para Deus, Ele continua dizendo: “Vinde a mim!” (Mt 11.28). Ouça a voz do Grande Pastor, te convocando de volta para o aprisco. Jesus está disposto a receber- te, mas“buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55.6), pois amanhã pode ser tarde demais. Algo mais pode ser dito sobre esse curto texto do livro de Lucas. Os judeus não acusaram Jesus apenas de receber pecadores, mas também de alimentar-se com eles. Para a época, comer junto de alguém era um ato imenso de amizade e relacionamento. Tão glorioso quanto o fato de Jesus receber pecadores é nosso Cristo ser amigo de pecadores (Lc 7.23). Amigo não-cristão, eu imploro, torne-se amigo de Jesus. Vivendo como hoje vive, você é um inimigo de Deus (Rm 5.10) e a Ira dEle está sobre você (Jo 3.36)! Arrependa- se de seus maus caminhos e abrace o manancial de glória que é saber que Cristo é amigo de pecadores. Busque, pela fé, achegar-se a Deus e Ele estará disposto a relacionar-se com você. Você,irmãoemCristo,alegre- se na verdade de que Jesus é amigo de pecadores. Ele mesmo nos presenteou com tão graciosas palavras: “Já vos não chamarei servos... mas tenho- vos chamado amigos” (Jo 15.15). Dedique-se à oração e à leitura bíblica. Busque relacionar-se com Cristo. Ele é um amigo amoroso, por graça, de pecadores como nós. “Não há maior prova de amor de que dar a própria vida por seus amigos” (Jo 15.13). E, finalmente, você que é desviado dos passos de Cristo; que já tentou seguir ao Pai, mas desviou-se do caminho – eu clamo: seja amigo de Jesus! Ainda que sua amizade com Deus esteja por um fio, ainda que exista a possibilidade de esta amizade nunca ter existido, não desista de relacionar-se com o Salvador. Se você já esteve verdadeiramente no aprisco de Deus, Ele te trará novamente à casa do Pai (Lc 15.4,5). Quão gloriosas são estas verdades! Cristo recebe e se relaciona com pecadores. Foi para explicar essas verdades que Jesus usou as parábolas da Ovelha Perdida, da Drácma Perdida edoFilhoPródigo;parábolasqueserão tratadas nesta revista e que falam sobre Deus resgatando o que estava perdido. Aprendersobreparábolasqueensinam verdades relacionadas com o Filho de Deus salvando homens como nós é o maior ensino que poderíamos desejar. Continue lendo com cuidado, essa pode ser a voz do Pastor te chamando de volta para casa. Yago Martins é Diretor-fundador do Cante as Escrituras. Visite: www.canteasescrituras.com DetalhedeORetornodoFilhoPródigo,deRembrandtvanRijin,1636
  • 6. iPródigo | Outubro 20116 Aigreja estava lotada. O pastor, que tinha um microfone potente nas mãos, gritava sem parar: “Você é muito precioso para Deus, ele quer realizar os seus sonhos, por isso ele lhe trouxe aqui nessa noite!”. As pessoas choravam e algumas afirmavam que Deus havia falado com elas. Esse tipo de pregação, muito comum nas igrejas evangélicas atuais, me preocupa e entristece. Mensagens assim revelam que estamos perdendo o zelo pela glória de Deus. Estamos tão focados em realizar nossos sonhos, em nos sentirmos especiais, que esquecemos o propósito da vida de todo ser humano: a glória de Deus. Nesse sentido, as narrativas de Lucas 15 têm muito a nos ensinar. São três histórias: na primeira, um homem possui 100 ovelhas e, quando percebe que falta uma, deixa as 99 no deserto e vai atrás da que estava perdida. Ao encontrá-la, reúne amigos e vizinhos para se alegrarem com ele. Na segunda, uma mulher possui 10 moedas e quando perde uma, acende uma luz e procura até encontrá-la. Quando encontra, reúne amigos e vizinhos para se alegrarem com ela. Na última, o pai possui dois filhos. O mais novo deles pede sua parte na herança, sai de casa e gasta tudo. Quando começa a passar fome, decide retornar à casa de seu pai, que o espera de braços abertos e oferece a ele roupas limpas e uma festa. O filho mais velho, vendo a situação, fica chateado, pois sempre foi fiel ao pai. Amorosamente, o pai o convida a se alegrar também com o retorno do irmão. As três histórias têm pontos em comum: As narrativas possuem Deus como o personagem principal: Por várias vezes, ouvi pregações nessas parábolas e, na maioria delas, o personagem principal destacado é sempre o filho, a ovelha ou a moeda. Os próprios títulos das parábola,como POR ivonete silva porto Encontrados para Sua alegria
  • 7. iprodigo.com 7 aparecem em Bíblias, nos fazem ir por esse caminho. Porém, o personagem principal em cada uma é aquele que representa Deus: o homem, a mulher e o pai. É o homem quem vai em busca da ovelha perdida até encontrá- la; é a mulher que acende uma luz e procura a moeda até achá-la e é o pai quem espera, perdoa e dá de volta ao filho dignidade. Deus é o personagem principal aqui e em toda narrativa bíblica. A inciativa de salvar o homem é sempre dele, por isso ele deve ser glorificado. As narrativas apresentam o Evangelho: Não podemos nos esquecer de que, antes de proferir essas histórias, os publicanos se aproximaram de Jesus para ouvir, e os escribas e fariseus criticavam Jesus por se juntar aos que eram considerados pecadores. A intenção de Jesus era apresentar o Evangelho aos perdidos, e nessa categoria se enquadravam tantos os publicanos quanto os fariseus e escribas. Os publicanos não conheciam a Deus e coletavam impostos de maneira abusiva, por isso sofriam repúdio dos judeus. Os fariseus e os escribas conheciam a lei de Deus e pareciam devotos, mas suas atitudes demonstravam o contrário. A maravilhosa história da salvação é demonstrada em cada uma dessas parábolas de forma belíssima, destacando: (1) Que o homem está perdido; (2) A iniciativa divina em salvar o homem1 ; (3) A alegria da salvação. As narrativas possuem a alegria como tema unificador: Creio que o último ponto destacado é o tema unificador das três parábolas. O pastor e a mulher reúnem os amigos e vizinhos para se alegrarem com o que foi achado. E o pai faz uma festa e convida o filho mais velho, que havia ficado triste com o perdão do irmão, a se alegrar porque o perdido reviveu e foi achado. Merece destaque ainda a menção do júbilo nos céus e diante dos anjos nas parábolas da mulher e do pastor. O autor John Piper, em seu livro “Alegrem-se os povos”, nos chama a atenção para a centralidade de Deus na pregação do Evangelho. Segundo o autor, o propósito principal de Deus é glorificar-se e alegrar-se em si mesmo para sempre. Por isso ele nos criou, nos chamou,ofereceu seu filho,perdoa nossos pecados, envia o Espírito e nos sustenta para sua glória, para sua alegria. O fato de percebermos que fomos encontrados para a alegria de Deus é um tapa em nosso egoísmo e em pregações como a citada acima. Diante do evangelho da alegria, nossos sonhos e a maneira como nos sentimos ficam pequenos, porque as boas novas nos levam a nos satisfazermos em Deus. Essa alegria divina nos preenche e impulsiona o nosso coração, embora ainda cheio de pecados, a glorificar a Deus em tudo que fazemos. As narrativas apresentam o evangelho e exigem uma resposta, e esta é a única que podemos dar: Alegria, satisfação e glória somente a Deus. Ivonete Silva Porto é Mestranda em Teologia Filosófica pelo Centro de Pós-graduação Andrew Jumper. 1 Embora as parábolas não destaquem, isso se dá pela morte e ressurreição de Jesus. Em outros textos bíblicos, como Efésios 2, Romanos 3-6, o perdão que é oferecido ao filho pródigo, só é possível em Cristo Jesus.
  • 8. iPródigo | Outubro 20118 Por que o filho pôde Foi num contexto de murmuração por parte de fariseus e escribas que Jesus contou uma série de três parábolas mostrando a alegria do Pai no arrependimento de pecadores (Lc 15.1, 2). A terceira parábola é o ponto alto do ensino direcionado aos seus críticos sempre presentes. Tradicionalmente conhecida como a parábolado“FilhoPródigo”(Lc15.11- 32), seus versículos desenvolvem o que muitos já chamaram na história da Igreja de “o Evangelho dentro do Evangelho”. Sem dúvida alguma, trata-se de uma parábola amplamente conhecida e frequentemente contada. No entanto, estudar uma história como essa traz seus desafios. Normalmente, impomos à leitura do textooseufinal.Jásabemosqueofilho pródigo retorna ao lar e que o filho mais velho se mostra amargurado. Enquanto lemos, aguardamos ansiosamente o momento em que o Pai corre, abraça e beija o caçula. Ficamos até mesmo indignados com a reação do filho mais velho e somos consolados com a mesma O pedido do caçula é rápido e sem detalhes. O texto não entra nos pormenores da partilha dos bens nem retrata a reação do Pai. Porém, dá para imaginar o que o pedido do filho mais novo deve ter causado. Assim como hoje, a herança era algo recebido no momento da morte de alguém. O pedido não era um adiantamento de mesada, mas uma ruptura total com a família. O filho estava considerando seu Pai como morto. Em nome de sua cobiça, o filho mais novo abriu mão de seu relacionamento familiar. Fisgado! A cobiça tomou conta de sua vontade e cegou seu entendimento. O desejo por aquilo que o aguardava na “terra distante” ofuscou sua razão. Ele não enxergava mais nada. Não viu a tristeza do Pai, muito menos os riscos de viver longe de sua família. O que ele via era apenas o desejo de satisfação imediata dos O pedido do filho mais novo demonstração de graça do Pai. Então, qual o ponto?
  • 9. iprodigo.com 9 voltar por Alexandre “Sacha” Mendes prazeres da carne. Em apenas três versículos (Lc 15.11-13), Jesus narra a manifestação externa da cegueira interna. Kris Lundgaard explica esse processo mostrando que “a carne tem uma visão muito peculiar. Ela vê um mundo livre da tirania do governo de Deus. Ela imagina a liberdade de levar a efeito todos os seus planos sem a interferência da lei, preceito ou mandamento. E ela propõe aquela visão à sua imaginação, ajudando você a enxergar as suculentas possibilidades”.1 Depois de receber sua parte da herança, o filho mais novo passou poucos dias em casa (Lc 15.13). Provavelmente, ele vislumbrou um mundo sem restrições. Com dinheiro no bolso e sem a intervenção da família, estaria finalmente livre para dar vazão a todos os seus desejos. Isso é engano. E o maior problema do engano é que ele engana. Pode parecer óbvio, mas nem todos enxergam esse perigo. Também é algo A punição merecida do filho mais novo simples, mas extremamente profundo. O problema do engano é que engana, e isso significa que quem é enganado não sabe disso. O enganado pode até ter alguma noção do seu pecado, mas nutreafalsaesperançaque,noseucaso, serádiferente.Suaimaginaçãotrabalha tão forte que até as conseqüências do pecado são ofuscadas. O filho mais novo não via o que estava pedindo, apenas o que estava sentindo. Seu pedido tinha como objetivo dar vazão aos seus sentimentos em detrimento do conhecimento. Mas, na verdade, ele pedia sua própria destruição. Imagine a reação dos fariseus nesse ponto. Como homens conhecedores da Lei, eles deviam ter facilmente lembrado de passagens como Deuteronômio 21.18-21: “Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e à de sua mãe, e, ainda castigado, não lhes dá ouvidos, pegarão nele seu pai 1 Lundgaard, Kris. O mal que habita em mim. São Paulo: Cultura Cristã, 90. Foto de Scott Liddell. Retirado de sxc.hu
  • 10. iPródigo | Outubro 201110 e sua mãe e o levarão aos anciãos da cidade, à sua porta, e lhe dirão: ‘Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz: é dissoluto e beberrão.’ Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; assim eliminarás o mal do meio de ti: todo o Israel ouvirá e temerá”. Ou ainda, Deuteronômio 27.16: “Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo dirá: Amém”. Mas não é isso que acontece. O filho mais novo não é apedrejado, mas segue o seu caminho em busca de seus prazeres. A história não está no fim, mas alguns fariseus provavelmenteseguravamsuaspedras pensando: “Não pegamos o filho mais novo agora, mas o pegaremos num outro momento”. O filho mais novo é tratado O filho enganado seguiu seus sonhos. Ele correu para realizar tudo aquilo que planejou. Mais uma vez, não temos muitos detalhes de como ele usou seu dinheiro. O texto bíblico nos informa que ele gastou tudo vivendo dissolutamente (RA) ou irresponsavelmente (NVI). Ou seja, o dinheiro foi gasto de forma que não deveria ter sido. O filho mais novo viveu buscando gratificação imediata, sem enxergar que o pecado viria cobrar a conta – e ela seria alta demais. O dinheiro se foi e as circunstâncias mudaram. “Sobreveio àquele país uma grande fome” (Lc 15.14). Note, o problema não era que odinheirohaviaacabado.Oproblema era que o dinheiro havia acabado num contexto de grande fome naquelepaís.Alémdasconseqüências de sua irresponsabilidade com o dinheiro, o filho mais novo passa a enfrentar novas circunstâncias que foram soberanamente administradas por Deus: a fome. Sua dor é intensificada, conduzindo-o num processo de amorosa disciplina. O pródigo começa a passar necessidade e é levado a uma situação de grande humilhação. Judeu nenhum gostaria de estar em sua pele. Comer debaixo da esperança de sobrar algo dos porcos era o fim da linha para qualquer um. A recepção imerecida do filho mais novo A história do filho mais novo é parte de uma história maior. Deus é Deus de graça, que Se alegra no arrependimento de pecadores. O filho mais novo foi conduzido em amor para a completa restauração. A parábola descreve o processo de arrependimento com elementos de reconhecimento e confissão de pecado, mudança de mente, disposição em arcar com as conseqüências e mudança de comportamento (Lc 15.17-20). O filho agora enxerga como tudo realmente é. Prazeres são passageiros e o pecado dói. Ele retorna ao lar. Mas e sua punição? Os fariseus seguravam pedras em seus corações, prontos para encontrar alívio ao ouvir Jesus relatando o apedrejamento do filho rebelde. Que a justiça seja feita! Porém, não é isso que Jesus conta! O filho mais novo encontrou seu Pai de braços abertos,
  • 11. iprodigo.com 11 O preço foi pago O filho mais novo foi recepcionado porque o Filho que contava a história se fez maldito por ele. A história do Pródigo conta com um Pai de graça e um Filho de amor que se fez maldito num madeiro, sofrendo a pena de morte que estava sobre o rebelde. O filho mais novo teve sua dívida cancelada porque o Filho de Deus, narrador da história, tomou o seu lugar. Gálatas 2.20: “...vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. Agora, e você? Como o filho mais novo, o engano também pode lhe enganar. Talvez, enquanto pronto para reintregrá-lo na família (Lc 15.20-24)! Mas como? E a Lei? Deuteronômio 21.22-23: “Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tenha sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas certamente o enterrarás no mesmo dia: porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus...” você lê esse pequeno artigo, sua imaginação pode estar brincando com o pecado já por um bom tempo, neutralizando suas defesas para fisgá-lo na próxima oportunidade para dar vazão à cobiça. Lentamente, sua mente encontra entretenimento nas fantasias do pecado. Você está fisgado! Cada vez mais cego para as conseqüências de longo prazo e iludido pelo prazer de curto prazo. Nesse ponto, você é como o Pródigo. Pode até mesmo professar que Cristo Jesus é Senhor, mas pelas obras nega a Sua existência (Tt 1.16). Cuidado, falsas crenças enganam e destroem. Em Lucas 15.11-32, encontramos graça e esperança para restauração. A restauração é possível porque temos um Pai de graça e contamos com o Filho de amor. Volte para a casa do Pai pois o Filho já pagou o preço! Acredite, deixe o engano e viva na casa do Pai! Alexandre “Sacha” Mendes serve como pastor na Igreja Batista Maranata - em São José dos Campos (SP) A história do Pródigo conta com um Pai de graça e um Filho de amor que se fez maldito num madeiro, sofrendo a pena de morte que estava sobre o rebelde.
  • 12. iPródigo | Outubro 201112 por Wilson Porte Jr. OFilho Pródigo é a parábola mais conhecida da Bíblia. Todavia, embora conhecida, poucos têm atentado para a triste semelhança entre o irmão do filho pródigo e os cristãos de nossos dias. O ódio entre os cristãos, infelizmente, tornou-se algo comum. Pessoas que não controlam suas línguas na hora de resolverem um problema com seus irmãos na fé. Pessoas que lançam palavras torpes (como um torpedo) para destruírem aqueles a quem deveriam suportar e, emespíritodemansidão,corrigir,amar e perdoar. E, quando confrontados, dizem: “Ah, eu sou assim mesmo... semprefui...minhafamíliaéespanhola (italiana, portuguesa, japonesa, russa, gaúcha, nordestina, etc.)”. Quando, na verdade, essas são apenas desculpas que mantêm vivo o pecado em nossos corações. Aqui está um resumo da parábola mais amada da Bíblia: “um homem tem dois filhos. O mais novo pede sua parte da herança e vai embora de casa. Gasta-a de forma irresponsável e pecaminosa. Quando o dinheiro acaba, arruma um emprego para cuidar de porcos. Neste momento, cai em si e se lembra de seu pai. Arrependido, decide voltar e se sujeitar a todas as humilhações resultantes de sua atitude. Todavia, ao reencontrar-se com seu pai, é tratado com amor e, rapidamente, é restaurado em meio à grande festa. Em meio à festa, o filho mais velho nega participar da alegria de todos. Sente ciúmes da graça do pai dispensada sobre seu irmão mais novo. Nesse momento, percebe-se grande indignação e ira em seu coração. Embora o filho mais novo tenha estado morto e agora estava vivo, paraofilhomaisvelho,erapreferívelque seu irmão continuasse morto e perdido para sempre”. Vejamos como o ódio e o assassinato estão presentes na história.
  • 13. iprodigo.com 13 “Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. (Lc 15.25-32 ARA) O filho mais velho estava tão perdido quanto seu irmão mais novo. Ele desejaria fazer tudo o que seu irmão fez,mas,religiosamente,sempre “obedeceu” a vontade do pai. Todavia, quando o filho mais novo, cheirando à lavagem de porco, volta da indigência para casa e é recebido com tanta graça e perdão, ele se irrita por nunca ter sido tratado da mesma forma. Em suas próprias palavras, o filho mais velho demonstra ódio contra seu pai e seu irmão.Eles estavam desonrando a família. O irmão, por ter saído de casa como saiu e ter desperdiçado os bens de seu pai entre prostitutas e bêbados. E o pai, por não punir seu filho mais novo com o rigor da cultura e da sociedade da época. Todavia, o pai o veste com seu manto e lhe põe no dedo um anel. Particularmente, vejo aqui a misericórdia e a graça, um manto de misericórdia e uma aliança de graça. Isso provocou ódio! O filho mais velho não suportou isso. “Como pode o senhor perdoá-lo?” A mensagem da graça e do perdão não trouxeram alegria para seu coração. Ele tinha sede por uma falsa justiça. O pai, todavia, ainda vai até ele para tratar de sua ira. Perceba que Cristo, quando relata o coração do irmão mais velho, diz que ele se indignou (ὠργίσθη - se irar; tornar- se muito irado). Em seguida, Cristo diz que o pai tenta fazê-lo entrar por meio de convites e encorajamento (παρεκάλει). Mas de nada adianta. Cheio de ira contra seu irmão, o filho mais velho reclama ao pai acerca de seus anos de serviço sem nenhuma ajuda. Reivindica que nunca teve nada e que o pai nunca lhe deu nada. Sabe por quê? Porque o filho mais velho não tinha nenhum relacionamento com seu pai. Ele tinha o estilo de vida de um filho, mas não possuía nenhum relacionamento com seu pai, nem o pai tinha relacionamento com ele. Sabe como a Bíblia chama isso? Hipocrisia! Os hipócritas vivem na casa, têm tudo nas mãos (as Escrituras), mas não desfrutam de nada. Têm a aparência, mas não a essência - têm a casca, mas não o miolo. De maneira impressionante, a parábola não apresenta um final para a situação entre o filho mais velho e seu pai. Jesus conhecia o final dessa história, pois seus ouvintes, os fariseus,
  • 14. iPródigo | Outubro 201114 Conclusão Essa história é maravilhosa. De fato, é nela que os arrependidos encontram fonte de descanso e paz. É ela que nos garante que a vida eterna não depende de nosso mérito, de nossas boas decisões ou atitudes. É ela que nos lembra quão grande vergonha e dor suportou Cristo para a nossa redenção. Contudo, não devemos nos esquecer que é ela também que nos lembra do quão capaz nosso coração é de se irar e se desviar do caminho da graça. Nossa ira pecaminosa é pecado perante Deus. Deus a vê como assassinato! Assim como o irmão mais velhomatouseuirmãonocoração,eue você somos plenamente capazes de nos odiarmos e matarmos mutuamente. Precisamos meditar nisso, pois cresce a tendência de que, se você está irado, vá lá e fale para a pessoa o que está em seu coração,ponha para fora,fale tudo, soque o travesseiro, enfim, faça o que for necessário para que você se sinta melhor. Eu lhe digo solenemente: não faça isso! Aprenda com o pai do filho pródigo o amor, o perdão, a sabedoria no falar e a paciência. A atitude de Deus é um exemplo de como devemos nos esforçar para tratarmos uns aos outros. Pensamos em Deus como alguém com a face pesada, com as mãos cerradas, pronto para julgar, disciplinar e enviar ao inferno. Sofonias 3.17, todavia, apresenta uma outra face de Deus. “O representavam o irmão mais velho e os arrependidos, o filho pródigo. Jesus é a figura do pai. O que os fariseus fizeram com o Pai? Mataram-no. John MacArthur apresenta em seu livro A tale of two sons (Um conto de dois filhos) que, possivelmente, Jesus poderia encerrar a parábola dizendo que, “após ouvir as palavras de seu pai, o filho mais velho pega um pedaço de pau e bate em seu pai até a morte”. Este é o final verdadeiro da história na “vida real”: os fariseus matam Jesus com dois pedaços de pau. Com seu ódio, o filho mais velho estava matando seu irmão e seu pai em seu coração. O assassinato já havia acontecido dentro dele. E, na culturaruraldaquelesdiasnaPalestina, o ódio e o assassinato do filho pródigo viriam para manter a honra da família. O pródigo deveria morrer, mas como o pai lhe aceitou com amor,o pai torna a vergonha ainda maior. Por isso, que o pai morra! A graça é insuportável numa cultura de vaidades. Parte da ira do irmão mais velho vem por causa de sua percepção de que, embora tenha servido seu pai a vida toda, nunca foi agraciado como seu irmão mais novo. Daí entende-se que, para o filho mais velho, as graças do pai deveriam vir por causa de seus anos de obediência a ele. Por isso, o Evangelho da Graça é um escândalo para quem acreditaquepodealcançarsuasalvação por decisões pessoais ou boas atitudes. O Evangelho da Graça é injusto, é uma verdadeira vergonha para o senso de justiça humano. Jesus foi morto numa cruz não fazendo caso da vergonha pela qual passaria: “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia” (Hb 12.2a ARA).
  • 15. iprodigo.com 15 etc. Todavia, se queremos um coração mais cheio de santidade (sem a qual ninguém verá o Senhor), precisamos nos interessar em estudar mais o que a Bíblia ensina sobre o ódio e o assassinatoquemuitostemoscometido em nossos corações em nossos dias. Eis um assunto a ser explorado pelos escritores de nosso tempo. Eis uma verdade a ser aprendida e uma fraqueza a ser transformada em nossos corações. Que Deus nos ajude! Wilson Porte Jr. é Pastor da Igreja Batista Liberdade, em Araraquara-SP. Bacharel e Mestre em Teologia pelo SBPV e CPAJ (Mackenzie). Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo.” (Sf 3.17, ARA). Deus se alegra com os arrependidos da mesma forma como um noivo se alegra com sua noiva. “Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus.” (Is 62.5, ARA). Obviamente, Deus não se alegra com pecadores e seus pecados, mas com pecadores arrependidos que o buscam humildemente. Assassinato, infelizmente, não faz parte dos assuntos que os cristãos gostam de estudar. Estuda-se sobre cura, poder, prosperidade, dons, milagres, profecias, fim dos tempos,
  • 16. iPródigo | Outubro 201116 Perna casa de se p o r R o s t h e r Oclímax da Parábola do Filho Pródigo foi um duro golpe no orgulho dos fariseus ao mostrar-lhes que eles pecavam por ter motivações erradas em relação a Deus e por não exercerem misericórdia com aqueles que deveriam ser pastoreados por eles. Não obstante, Jesus oferece Graça para eles, ao mostrar que o mesmo Pai que corre para abraçar o pródigo é o Pai que sai de casa ao resgate do legalista religioso irado. Com esta mensagem, Jesus está mostrando que também veio em busca deles, que Ele também veio para salvar os legalistas, para que estes deixem de tentar justificar-se em suas obras, pois isso é impossível. A justificação é fruto da livre e soberana Graça, e Jesus mostra-lhes que o evangelho da Graça também se aplica a eles. O que essa história tem a ver conosco?Existealgodelaqueseaplicaà nossavida?Temoqueemnossasigrejas existam muitos irmãos que possuem a teologia do irmão mais velho, uma teologia legalista, maldosa e contrária ao ensino correto das Escrituras. Em primeiro lugar, Jesus nos ensina que os legalistas são tão pecadores quanto os perdulários. Há muita gente na igreja que adota uma imagem de certinho só para ser bem aceito socialmente no meio do povo de Deus e ter proeminência no meio do rebanho. É certo que os legalistas são trabalhadores e geralmente produzem muito. Mas sua “obediência” não é perfeita, pois ela afronta a Maravilhosa Graça de Deus. Eles não entendem que não podem conquistar as bênçãos do Senhor, pois todas elas nascem da bondade graciosa de Deus, revelado na pessoa de Jesus. O legalista é tão pecador quanto o esbanjador, pois sua motivação é tão egoísta como a do outro. Ele obedece para ser aceito por Deus e bem visto pelos homens. De maneira que, ao atuar assim, ele não confia na Graça de Jesus para ser aceito pelo Senhor. Para o legalista,
  • 17. iprodigo.com 17 doiu próprio pai G u i m a r ã e s o evangelho não é suficiente e, por isso, ele precisa ter uma imagem de perfeição diante de Deus e dos homens, pois crê que só por meio da manipulação mediada pela obediência ele será aceito. Assim, por não confiar na Graça de Jesus para viver diante de Deus e diante dos homens, o legalista está dentro da igreja, mas está perdido dentro da casa do Pai, uma vez que não confia de coração no Evangelho gracioso de Jesus. Que tragédia! Tão perto de Deus, mas, ao mesmo tempo, eternamente longe do Senhor. A segunda lição que aprendemos com o Senhor é que legalistas se ofendem com a graça de Deus.Elessãoinsultadosporela.Ficam irados porque Deus abençoa os outros que não merecem e não lhes abençoa como deveria, pois eles merecem a bênção de Deus. Muitos não têm coragem de afirmar, mas se rebelam contra Deus, pensando que o Senhor é injusto. Já outros dizem: “Tenho sido tão fiel a Deus, mas Ele se esqueceu de mim”.Elessãoextremamenteinvejosos, pois crêem que bênçãos, dons, talentos e oportunidades são concedidas por mérito e não por Graça. Portanto, eles dizem: “Estou há tanto tempo na Igreja, mas porque Deus escolhe usar esse que chegou há poucos anos e se esquece de mim?”. Essa inveja também é demonstrada quando alguém começa a se destacar na obra mais do que eles. Dizem: “Isso é fogo do primeiro amor. Quero ver até quando isso vai durar. Quero ver quando a máscara cair”. Esses irmãos legalistas são extremamente acusadores, ressaltam o pecado dos outros, pois estes estão mais à vista que os deles. É triste, mas às vezes se alegram no íntimo quando umirmãotropeçaouérepreendidopor outrem. Ao se tornarem acusadores, condenam-se a si mesmos, revelando- se hipócritas. Portanto, não têm capacidade de exercer misericórdia, pois não entenderam a misericórdia do Senhor.
  • 18. iPródigo | Outubro 201118 Em terceiro lugar, o texto nos revela que os legalistas só podem ser salvos pela graça do Senhor! O mesmo Pai que sai correndo para abraçar o pródigo é o Pai que sai de casa para reconciliar-se com o mais velho. O Jesus que deixou a glória para salvar os descarados é o mesmo Jesus que morreu na cruz para salvar os religiosos. Há esperança para os legalistas e esta reside na Graça de Jesus! Eles podem ser perdoados! Há lugar de arrependimento para eles, pois Cristo Jesus veio buscar e salvar o perdido, inclusive o perdido que se perde na religiosidade, que se perde na casa de seu próprio Pai. Quando os legalistas se arrependem, eles são ensinados pelo Pai que eles não precisam fazer nada para conquistar as bênçãos do Senhor, pois “tudo que é meu é teu”. Eles podem servir por amor e por gratidão. O serviço do Senhor para eles já pode ser marcado pela alegria, pois o que eles fazem para Deus não tem mais o objetivo de justificarem- se a si mesmos, mas sim, de expressar um amor maravilhoso que brota no fundo do coração, como fruto do amor de Deus. Quando o legalista é encontrado pelo Pai, ele pode entender que a maior bênção que Cristo Jesus veio buscar e salvar o perdido, inclusive o perdido que se perde na religiosidade, que se perde na casa de seu próprio Pai. possui é a companhia do Senhor, “tu sempre estás comigo”. A maior de todas as bênçãos é a comunhão íntima com o Senhor. Quando o legalista é salvo, ele está livre para ser amigo de Deus! Quando o legalista é encontrado pela graça, ele está livre para ser misericordioso, pois como objeto da bondade do Senhor, ele sabe que o que está morto precisa ser ressuscitado pelo evangelho, que o perdido precisa ser achado. Então, tal como Deus e os seu anjos, ele estará livre para se alegrar com a salvação e com todas bênçãos que Deus dá àqueles que não têm mérito algum. Se você é alguém que está perdido na casa do Pai, há esperança para você! Arrependa-se hoje do seu desejo de manipular a Deus e ao próximo. Arrependa-se hoje de viver uma religião estereotipada, mas vazia de graça no coração.Arrependa-se da sua obediência egoísta. Arrependa-se por se achar melhor do que os outros e não reconhecer sua maldade. Confesse os seu pecado a Deus e creia que Deus tem salvação, bênção, graça, vida eterna para você e que isso lhe é dado somente através da mediação de nosso Senhor Jesus. Creia no Evangelho gracioso do Senhor e você será achado ainda que esteja perdido na casa do próprio Pai. Que você seja encontrado em Cristo Jesus! Rosther Guimarães é Pastor da Igreja Presbiteriana do Guará II e professor do Seminário Presbiteriano de Brasília
  • 19. iprodigo.com 19 Faça parte deste ministério A missão do iPródigo é informar e ajudar pastores de todo o Brasil, além de líderes e membros da igreja interessados em aprender um pouco mais da Palavra de Deus, por meio de uma teologia ortodoxa, pastoral e reformada. Não temos fins lucrativos e utilizamos recursos dos nossos voluntários para pagar hospedagem e manutenção do site, comprar equipamentos de gravação (para podcasts e vídeos) e realizar projetos como a revista. Ao colaborar com o iPródigo, tanto com orações quanto financeiramente, você ajuda a divulgar o Evangelho, para crescimento da igreja, edificação dos santos e a glória de Deus. Saiba como ajudar entrando em contato conosco i iprodigo.com contato@iprodigo.com
  • 20. iPródigo | Outubro 201120 Sou um amante do audiovisual e da tecnologia. Isso significa que tento desenvolver hobbies relacionados a fotografia, filmagem, música, além de colecionar milhares de cabos, conectores, extensões, microfones, fones, instrumentos, tripés etc. Você deve imaginar o quanto a minha esposa ama entrar na sala de estudos do nosso minúsculo apartamento e encontrar todos estes itens dispostos em uma lógica que apenas eu sei compreender. Cérebro elaborado? Duvido. Para complicar um pouco mais, eu tento usar o máximo de recursos possível em minha prática ministerial. Não apenas na internet, mas envolvendo muitos desses equipamentos em nossos encontros semanais de estudo bíblico. E eis que o problema aparece. Uma mente “privilegiada” como a minha consegue esquecer vários itens importantes, especialmente se eles forem pequenos e soltos nessa parafernália tecnológica. É por isso que a checklist se apresenta tão fundamental. Passo e repasso mentalmente os itens que precisam estar na mochila e nas bolsas auxiliares (outro ponto que a minha esposa a-d-o-r-a. Não.), até que finalmente me sinta seguro para sair. O detalhe é que, mesmo com toda a segurança, consigo deixar em casa o que deveria ter levado. Muitos usam as checklists para os mais variados fins, e eu sou realmente grato por isso. Compras de mercado, remédios, roupas para uma viagem, livros para ler, ações e projetos a serem desenvolvidos na igreja etc. etc. Ótimo. Há quem tenha extremo prazer em ver, ao final de um dia de serviço, uma lista indicando tudo o que foi realizado e alcançado. Mas há uma ocasião em que a checklist é não apenas desnecessária, mas prejudicial. por Allen Porto C h e c k l i s t
  • 21. iprodigo.com 21 Lucas 181 ilustra perfeitamente o ponto. Nos versículos 9 a 14 está registrada a clássica “parábola do fariseu e o publicano”. Lembra? A história vai mais ou menos assim: Um fariseu e um publicano subiram ao templo para orar. O primeiro falava “de si para si mesmo”, como a edição Revista e Atualizada traz, e “agradecia” por suas qualidades morais, enquanto apresentava o checklist de suas boas obras como religioso. Do outro lado estava o fariseu, também em pé, mas em postura completamente diferente. Nem levantava a cabeça e orava batendo no peito, pedindo graça a Deus, e se reconhecendo pecador. Ao contar esta parábola,Jesus afirma que o publicano desceu dali justificado, enquanto o fariseu não, e conclui com a conhecida expressão: “todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.14). Esta não é uma declaração fácil, e nem deveserfeitasemadevidacompreensão dos vícios e características marcantes do comportamento farisaico. Jesus descreve o fariseu como alguém zeloso pela religião judaica – subia ao templo paraorar,cumprindoosmandamentos e expressando seu compromisso; orava em pé, segundo o costume dos judeus e a tradição estabelecida, refletindo, assim, conhecimento e fidelidade às raízes históricas a ele deixadas; demonstrava elevado padrão moral, cumprindo externamente os mandamentos e sendo tão consistente em seu comportamento público que não temia declarar sua vida em alta voz. Ia além do cumprimento do decálogo2 , observando mesmo outras leis acessórias com impecável lealdade, sem esquecer das expressões voluntárias de piedade – jejuava duas vezes por semana e era um fiel dizimista. Uma olhadinha antes e depois da parábola indica que Jesus está falando sobre uma percepção adequada de si, bem como de Deus. No verso 9, Lucas descreve a intenção de Jesus como falar “a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros”. A intenção do Messias ao descrever a história em foco era, de algum modo, denunciar uma postura inconsistente de quem se diz servo, mas age como senhor, ou de quem, estranhamente, orgulha-se de sua humildade. Uma parábola Qual a idéia? Eu sou um fariseu Enquanto Jesus conta a história e nós recebemos o registro inspiradoporDeus,algunsitenssaltam à vista e oferecem a nós recursos para uma compreensão adequada de nossa postura e das pessoas à nossa volta, indicam um caminho mais adequado para a vida com Deus e nos capacitam para o ministério cristão diante de problemasexistentesnaquelecontexto, mas potencializados na cultura contemporânea. 1 BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 2. ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 2 Os 10 mandamentos.
  • 22. iPródigo | Outubro 201122 Qual é o problema, então? Comparado com os carinhas que sentam ao nosso lado na igreja, o sr. F(ariseu) é um crente exemplar. Provavelmente o comportamento dele seja mais belo do que o meu e o seu (juntos). Mas o cristianismo é uma religião do coração. E isso significa que não basta um comportamento adequado, é preciso fé correta e motivações ajustadas. Aqui começam a aparecer os defeitos da postura farisaica: 1. Fariseus são ótimos em cumprir tarefas. Como os MBAs em administração, marketing e áreas relacionadas, eles são propositivos, pró-ativos, disciplinados e ativistas. Seriam contratados no programa “O Aprendiz”. Contudo, os seus olhos estão voltados para estas tarefas, que chamamos “boas obras”. O foco de seu compromisso e obediência às leis está na arquitetura da legislação (nas leis em si), ou na figura do fariseu, que consegue cumpri-las dedicadamente. 2. Fariseus são ótimos em se orgulhar do cumprimento das tarefas. Ao observar atentamente o checklist de obras realizadas, o fariseu respira fundo e diz:“eu consegui”.Aos poucos, aquilo que era uma frase silenciosa na mente passa a ganhar voz, seja por meio de declarações verbais diante de outros, ou por posturas que revelam um coração que se orgulha pelo que tem cumprido. Você percebe o caminho que está sendo trilhado aqui? O sr. F, que começou obedecendo a lei de Deus, transformou a sua obediência em instrumento de auto-glorificação e passou a usar a Lei de Deus em prol de si mesmo. 3. Fariseus são ótimos em marketing pessoal. Como descrito acima, não basta estar satisfeito com o cumprimento de boas obras. O “relações públicas” dentro do fariseu encontra sua expressão e passa a noticiar os seus feitos, para que o orgulho e a exaltação do eu sejam reforçados. Não basta fazer, é preciso anunciar. 4. Fariseus são ótimos em expressar o seu narcisismo. Na confusão de identidade, o mundo é visto pelo fariseu como um espelho no qual ele se observa. Todas as coisas funcionam como um elemento para ele mandar mensagens para o “eu”. A Bíblia o descreve como falando de si para si mesmo – o espelho era Deus e a oração. O fariseu usa boas obras para enviar a si a mensagem de que é fiel e bom. Usa a oração para enviar a si o recado de que está cumprindo a cota de devoção. Usa Deus para comunicar a si que é querido, amado e justo. Ele é o centro da relação. 5. Fariseus são ótimos em crer e proclamar autojustiça. A oração farisaica é um anúncio a Deus de que o sr.F já fez tudo o que precisava ser feito, e agora somente agradece a Deus por recebê-lo, pela pessoa íntegra que ele é (que outra opção o Pai teria, afinal?). Na base das boas obras e orações, bem como de todo o resto, está um coração voltado para si, que busca promover a própria justiça e não depender da graça divina para sobreviver. O fariseu está na eterna busca de fabricar a própria redenção e,quando se vê satisfeito com as obras de suas mãos, anuncia a sua justiça. Mas provavelmente você já sabia disso tudo. Afinal, a marca do
  • 23. iprodigo.com 23 nossotempo,sejaemigrejashistóricas ou nas inovadoras, é a “rotulação do comportamento farisaico”. Nós sabemos diagnosticá-los e descrevê- los como ninguém. Existem livros escritos sobre isso, e, provavelmente, quando você estiver na próxima reunião de jovens em sua igreja ou em alguma outra conversa relacionada a esses assuntos, vai ouvir uma crítica sobre a hipocrisia no meio cristão e o comportamento farisaico. Em suma: eu não trouxe nada novo, e já se tornou hobby falar mal dos fariseus. O problema é que, na mesma proporção em que nos tornamos PhDs em rotular e criticar o comportamento farisaico, ficamos desatentos para as manifestações de farisaísmo em nossa vida. A coisa é tão forte que passamos a condenar os fariseus e logo em seguida vamos orar, agradecendo a Deus por não sermos como eles. Lembra de uma história parecida? Tradicionais podem se orgulhar de não ser como emergentes e desigrejados e ter, na base de sua crítica, a autojustiça. Da mesma forma,emergentesesemigrejapodem condenar o “farisaísmo” das igrejas históricas, ao mesmo tempo em que manifestam o comportamento farisaico e confiam na justiça de suas obras e seu estilo “sofisticado”. Ninguém está livre de tal postura. O mais honesto é começarmos a identificar as sementes de farisaísmo em nossa vida, olhando Enquanto a câmera vai lentamente desfocando o fariseu na frente, o foco se ajusta no segundo plano, ao fundo: um publicano, também em pé, mas em atitude bastante diferente – com a cabeça baixa e semblante triste, apenas repete e ora uma frase, quase em sussurros, enquanto bate no peito: “sê propício a mim, pecador!”. A história é escandalosa porque os fariseus eram reconhecidos socialmente pela fidelidade e zelo à religião judaica, enquanto os Em direção ao publicano para Jesus e o evangelho como a cura exclusiva para a autojustiça. Como alguém já afirmou, “nossa justiça está nos céus”. publicanos, servindo à Roma na cobrança de impostos dos judeus, eram vistos como traidores e ladrões, porque também era comum a prática de levar uma “grana extra” enquanto se cobrava o imposto.Se o judeu é esse cara que odeia tanto perder dinheiro, como pensamos hoje,o repúdio social pelos publicanos era ainda maior. O ponto é que, se alguém quisesse dar qualquer exemplo positivo, jamais usaria um publicano, por sua imagem estar tão associada aos elementos negativos já listados. Somente um louco faria isso. Ou Jesus. Como o esporte do Messias era subverter o pensamento dos escribas e fariseus, ele mandou mais uma. Na parábola, quem tem obras Passamos a condenar os fariseus, e logo em seguida vamos orar, agradecendo a Deus por não sermos como eles.
  • 24. iPródigo | Outubro 201124 condenáveis, mas um coração adequado, é o publicano. É preciso cuidado para analisar a questão: Jesus não está ensinando uma dicotomia do tipo “você pode viver em pecado, mas se tiver um bom coração isso basta”. Pelo contrário, a Escritura ensina que a conversão do coração promove transformação real nas posturas e ações concretas do dia a dia. O que Jesus pretende ensinar é que as boas obras não são o elemento de salvação, que a autojustiça é a negação da justiça deJesusequeumcoraçãoquebrantado tem mais valor do que uma mão cheia de boas ações. Aqui podemos até usar a palavra da moda: “espiritualidade”. Jesus nos apresenta um modelo de espiritualidade que poderia/deveria ser imitado por mim e você. A postura do publicano é teorreferente3 , autoconsciente e humilde. Palavras complicadas para posturas simples. Ateorreferênciadopublicano indicaqueopontodereferênciaúltimo para a avaliação de sua vida em todos os aspectos é o Deus eterno. Ele está ali, de fato, não para enviar mensagens ao “eu”, mas para orar ao “Outro”, a Deus. Os critérios de avaliação da sua conduta não são estabelecidos por si, mas pelo Senhor. Ele vive coram Deo: diante da face de Deus. Opublicanoéautoconsciente. Isso significa que reconhece quem é e percebe os ídolos de seu coração, bem como os pecados que tem cometido. Mais do que isso,enquanto ora a Deus, ele se declara“pecador”. É mais do que apresentar coisas erradas a Deus, é se afirmar em uma condição da qual somente o Senhor pode salvá-lo por sua graça e misericórdia. O publicano pecador se reconhece como tal, e assim não lhe restam obras e orgulho para apresentar ao Pai. Contempla-se afundando na maldade e nos desvios de sua conduta. Só lhe resta suplicar. Não há méritos, beleza, nem coisa alguma a que possa recorrer. Não há botes salva-vida e nem pranchas de isopor. O peso de sua culpa e pecado o levamaafundar,esóháumaesperança de redenção,um recurso,uma fonte de graça: Jesus. O publicano se apresenta diante de Deus nessa perspectiva de quem sabe que somente Ele pode salvá-lo e perdoá-lo. A expressão “sê propício” está relacionada ao desvio da ira divina. O que o sr. P solicita é que a justa ira de Deus pelos pecados dele não lhe seja derramada, com base exclusivamente na vontade e favor divinos. É um pedido meio estranho de se fazer, mas que outro recurso ele possuía? Por saber quem é, nada lhe restava, senão clamar por graça, um favor imerecido. O publicano é humilde. Em seu pedido não há espaço para arrogância e autoproclamação. Não há lugar para o narcisismo e apresentação de méritos. Ele não tem a coragem de levantar os olhos aos céus, bate continuamente no peito, anuncia sua condição de pecador e suplica por misericórdia. Contra alguns projetos mirabolantes (de um lado) ou monásticos (do outro) de espiritualidade, um pouco de teorreferência, autoconsciência e humildade cairiam bem em nossa vida com Deus. 3 O termo foi cunhado pelo Dr. Davi Charles Gomes, diretor do Centro de Pós-graduação Andrew Jumper (CPAJ - Mackenzie)
  • 25. iprodigo.com 25 Por meio desta antiga história, aprendemos que nossos checklists de boas obras não apenas não contam, como são empecilhos para um adequado relacionamento com o Pai, na medida em que rejeitam a graça. Deus não está tão interessado no que você fez por Ele, como está interessado em que você saiba o que Ele fez por você. Existem dimensões do comportamento farisaico que hoje encontram mais estrutura social para sua manifestação. Refiro-me ao narcisismo. Estudiosos como Christopher Lasch4 , classificaram a cultura norte-americana como “a cultura do narcisismo”. Outros pesquisadores, como Andrew Fellows5 e Guilherme de Carvalho6 (ambos de L’Abri7 ), têm desenvolvido estudos de análise dos desdobramentos do narcisismoparaanossacultura.Dentre osváriositenspercebidos,destacamque na“cosmovisão do eu”, como Fellows a denomina,existedesprezopelahistória, autorreferência, afastamento do mundo, relacionamentos superficiais, utilização de tudo à volta para enviar mensagens ao “eu”, crescimento de mentalidade terapêutica, exagero na introspecção, subjetivismo e consumismo.Dessemodo,oindivíduo narcisista de nossos dias pode Publicanos e fariseus hoje frequentar a igreja e fazer boas obras e orações,sem perceber que faz tudo isso para enviar mensagens a si mesmo de comoébom,comprometido,ortodoxo etc., e cai no comportamento farisaico sem autoconsciência. Aprendemos que fariseus e publicanos sobem juntos ao templo e oram no mesmo ambiente. Isso significa que nossas igrejas são espaços de manifestação para fariseus e publicanos - e por mais que desejemos ser observadores “neutros” na história, sempre somos um deles, ou um pouco de cada. Daí a necessidade constante de suplicarmos a Deus para purificar o nosso coração e o de nossos irmãos, para que a autojustiça seja extirpada de nosso pensamento e atitude. Por fim, e mais importante, o antídoto para a autojustiça é o evangelho. Ele nos ensina que Jesus desceu de Seu ambiente eterno de glória e se fez carne. Viveu uma vida perfeita em nosso lugar e morreu nos substituindo – levando sobre si a nossa culpa e colocando sobre a nós a Sua justiça. Venceu a morte e ao terceiro dia ressuscitou, para subir ao Pai e interceder por nós continuamente. Nossa redenção e justiça não é conquistada pelo que fazemos de bom, ou por nossas posturas ativas, mas por uma atitude passiva de crer e receber pela fé o que Jesus já cumpriu de uma vez por todas. Sejamos, então, “bons publicanos”, e, conscientes de nossa maldade, olhemos unicamente para Jesus. Solus Christus. 4 LASCH, Christopher. A cultura do narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1985. 6 Em estudos e palestras proferidas no L’Abri Brasil e congressos da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares (AKET). 5 FELLOWS,Andrew. O narcisismo como cosmovisão dominante no Ocidente.AMORIM; Rodolfo; et. al. Fé Cristã e cultura contemporânea: cosmovisão cristã, igreja local e transformação integral.Viçosa, MG: Ultimato, 2009. 7 Comunidade fundada por Francis Schaeffer, na década de 50, que busca trabalhar o ser humano em sua integralidade diante de Deus – (cf. www.labribrasil.org) Allen Porto é Pastor da Igreja Presbiteriana do Renascença, e está plantando a Igreja Presbiteriana do Araçagy, em São Luís (MA).
  • 26. iPródigo | Outubro 201126 Seria Deus Bipolar? por filipe niel Resgatando uma visão bíblica do caráter gracioso de Deus Não importa se você é budista, espírita, católico ou evangélico, algum dia você já se perguntou, ou foi questionado, se o Deus do Antigo Testamento seria o mesmo do Novo Testamento. A base deste questionamento é a aparente contradição no modo de agir de Deus em cada uma das épocas citadas. Desde que o Novo Testamento existe, cristãos de todas as épocas transformaram Deus em um Fernando Pessoa cósmico. Na visão de muitos, Deus não poderia ser apenas Yahweh, Ele deveria ter pelo menos dois heterônimos bastante distintos que o representaram em cada um dos Testamentos da Bíblia. Marcião era um mestre cristão que defendia que uma cirurgia deveria ser feita na Bíblia. Segundo ele, o problema era o Antigo Testamento. Para Marcião, o Deus do A.T. era um “semideus tribal que não merecia adoração ou culto dos cristãos”1 . Ele via o Deus do A.T. como um adolescente temperamental ou alguém muito mais demoníaco do que divino. Tenho certeza que você nunca chegou ao extremo que levou Marcião a ser condenado como herege pelo Bispo de Sinope, seu próprio pai2 . Entretanto, é comum questionarmos as aparentes diferenças entre o “Deus do A.T.” e “o Deus do N.T.”. Mas será que essas diferenças realmente existem? Será que podemos afirmar que o Deus do A.T. era um Deus inflexível, sem compaixão e sanguinário, enquanto o Deus do N.T. era completamente amoroso, compassivo, quase um bonachão natalino? Quando Deus se apresenta a Moisés, os adjetivos empregados em sua autodescrição são muito diferentes dos que costumam vir à nossa mente quando pensamos em Yahweh: “Senhor, Senhor,Deuscompassivoemisericordioso, paciente, cheio de amor e de fidelidade, que mantém o seu amor a milhares e perdoa a maldade, a rebelião e o pecado. (Êxodo 34.6,7). Compassivo? Misericordioso? Paciente? Cheio de amor e fidelidade? Essas palavras não se encaixariam melhor em uma oração do Apóstolo Paulo? Será que encontramos noAntigo Testamento esses atributos em ação? A realidade é que Deus age assim desde a eternidade e para sempre. Não tenho como narrar as diversas3 situações em que vemos isso, mas gostaria que observássemos uma delas. Vamos pensar na história do profeta Jonas e da“grande cidade de Nínive”. Você conhece a história de Jonas. Você aprendeu na Escola Dominical que ela nos ensina a não 1 OLSON, Roger, História da Teologia Cristã, São Paulo: Editora Vida, 2001. p. 137 2 DRISCOLL, Mark, Jesus Vintage, Niterói: Editora Tempo de Colheita, 2011. p. 45 3 Gn 6.5-8; 18.22-33; Ne 9.17-31; Sl 86.15; 103.8; Jl 2.13 foto:shutterstock.com
  • 27. iprodigo.com 27 desobedecermos a Deus, caso contrário Ele irá nos punir como puniu a Jonas, enviando a tempestade e o peixe para engoli-lo.Não é isso? Não,não é isso! A história de Jonas é muito mais profunda. Na verdade, o propósito do livro é bem diferente das lições que a maioria dos professores de EBD tira dele. Fomos ensinados que o ponto central do livro é a tempestade e o grande peixe engolindo Jonas, quando na verdade o ponto central do livro é o caráter gracioso, misericordioso e perdoador de Deus em contraste com a justiça própria, o egoísmo e a idolatria do homem. Você já parou para pensar quais foram os motivos que levaram Jonas a fugir em desobediência a Deus? Estaria Jonas com medo de entrar na grande cidade de Nínive e pregar contra ela? Será que temia ser escorraçado, apedrejado, encarcerado? Não! O que fez Jonas fugir foi o caráter compassivo, bondoso e perdoador deYahweh: “Senhor,nãofoiissoqueeudisse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende” (Jonas 4.2). Jonas fugiu para Társis não por medo do fracasso, mas por ter certeza do sucesso4 . O que gerou a sua fuga desenfreada foi a certeza de que Deus, mais uma vez, agiria com graça e misericórdia, diante de corações contritos e arrependidos. A fuga foi errada,mas o raciocínio foi perfeito. Jonas conhecia Deus e já havia sido usado por Ele para salvar Israel de seus inimigos (2 Reis 14.23-28). Jonas sabia quem era Deus e foi exatamente isso que o fez fugir. Ele não suportava a ideia de que pecadores como os moradores de Nínive pudessem ser alvo da graça e da misericórdia de Deus assim como ele foi. Seu nacionalismo idólatra o fazia detestar a ideia de ver povos pagãos perdoados e restaurados por Deus. Jonas sabia que Deus detesta e pune os orgulhosos de coração, mas concede graça aos humildes5 . Ele não aplicava essas verdades à sua própria vida,ainda que as conhecesse. Isso fica claro na forma como cada personagem encerra sua participação na história. A ímpia, porém arrependida Nínive acaba sendo alvo do perdão e da graça de Deus (Jn 3.10). Os marinheiros idólatras, porém arrependidos,recebemgraçaparaadorar a Deus com temor e se comprometem com Ele (Jn 1.5,16). Já o soberbo, auto justificado e idólatra Jonas continua amargurado, preferindo morrer a ver a misericórdia de Deus sendo derramada na vida dos ímpios ninivitas. Esse é o Deus do A.T., tão gracioso e misericordioso quanto no N.T. Seria Deus Bipolar? Longe disso; na verdade, nosso Deus é coerente e consistente! Que tal passar o dia alistando as diferentes formas da graça de Deus em sua vida e pensando em outras passagens do A.T. onde a graça de Deus se manifesta? Filipe Niel é Pastor da Segunda Igreja Batista em Caldas Novas (GO). 4 TCHIVIDJIAN, Tullian, Surprised by Grace. Wheaton, IL – USA: Crossway, 2010 5 Provérbios 16.5, 3.34
  • 28. iPródigo | Outubro 201128 Conheci o Evangelho com vinte anos de idade. Foi lindo demais! Apósumaadolescênciavividadeforma desregrada, em revolta por perdas familiares, um amigo compartilhou o Evangelho comigo (na hora fui muito resistente, claro) e aquelas palavras não saíram do meu coração. Um ano e meio depois, já frequentando a igreja, Deus abriu meus olhos para enxergar a beleza do Evangelho da glória de Deus revelado na face de Cristo (2 Co 6.4). Fui tomado por uma paixão radical pelo Evangelho, o que me levou a quererviverintegralmenteparaganhar outros para Cristo. Antes, preciso definir o uso do termo “religião”. Na época de Agostinho de Hipona (354-430), o termo “religião” significava religare (latim), dando a entender a reconciliação que o Evangelho faz entre Deus e os homens (1 Tm 2.5). Na pós-modernidade, “religião” significa a tentativa do homem de chegar a Deus através dos Para exemplificar1 melhor as três vias de procura da felicidade, tomarei o livro escrito pelo Pastor Tim Keller intitulado “O Deus Pródigo”2 . Ele aborda, com base na parábola do filho pródigo, a procura da felicidade por dois caminhos: a conformidade moral e o autoconhecimento.3 O ser religioso é ilustrado pelo filho mais velho, que “ilustra o caminho da conformidade moral”4 . “Os irmãos mais velhos obedecem a Deus apenas para atingir objetivos. Não obedecem para conseguirem chegar ao próprio Deus – para a ele se assemelharem, para amá-lo, para conhecê-lo, e para nele se deleitarem.”5 O que é uma pessoa religiosa? Ela não é uma pessoa boa? Um convite ao banquete próprios méritos e obediência numa autojustificação (ou justiça própria) para ser aceito por Deus (a exemplo da torre de Babel em Gênesis 11.1-9). Isso é impossível para os homens (Mt 19.26) e esse modelo é similar ao seguido pelos fariseus no Novo Testamento. Um ensinamento muito claro nas Sagradas Escrituras é que o homem pós-Adão é corrompido pela Queda (Sl 51.5; Rm 3.23, 5.12- 18) e, por causa disso, seu coração é corrupto, enganoso (Jr 17.9) e insuficiente para conseguir a salvação por si próprio (Jo 6.44). Entretanto, ao peregrinar por várias comunidades, servindo e pregando o Evangelho, esbarrei com um estilo de vida que não conhecia.Eu achava que existiam somente pessoas devassas ou crentes. Mas conheci um terceiro tipo: a religiosa. Pregando o Evangelho para “ Detalhe de O Retorno do Filho Pródigo, de Rembrandt van Rijin, 1669
  • 29. iprodigo.com 29 Uma coisa que o Evangelho deixa claro équeestamostodos“nomesmobarco”. Todos somos pecadores carentes da graça do Pai encarnada no Evangelho de Jesus. Os fariseus precisam também do “amor acolhedor de Deus”9 , pois o pai vai ao encontro de ambos os filhos. “Ele não é farisaico com os fariseus; ele A cura “Porque o filho mais velho se revela mais cego para os acontecimentos, ser um fariseu com espírito de irmãos mais velho é uma condição ainda mais espiritualmente desesperada.”6 “Os irmãos mais velhos acreditam que, seviveremcorretamente,terãoumavida boa, que Deus lhes deve um caminho suave quando tentam com grande afinco viver de acordo com as suas normas.”7 “A incapacidade dos irmãos mais velhos de lidar com o sofrimento provém do fato de a obediência moral ser baseada nos resultados.”8 Essas citações são suficientes para pintar o quadro de como um religioso funciona em seu comportamento. A questãoéqueoconviteparaobanquete serve para os dois filhos. Na leitura da parábola, o Pai convida os dois filhos para o banquete. Mas não sabemos se o mais velho entra porque Jesus deixa a pergunta no ar para os fariseus. não é orgulhoso com os orgulhosos”.10 O Evangelho é a cura para a transformação de todas as pessoas, incluindoasreligiosas.OamordeDeus “traz alegria, ânimo e consolo. Ele o reerguerá e o libertará de todo o medo, como nada jamais conseguiu fazer antes”.11 A única forma para pastorear religiosos e o único conteúdo a pregar é o Evangelho.As pessoas religiosas em contextos eclesiásticos cristãos tendem a “abraçar” o Evangelho e depois colocá-lo em segundo plano. Não! “O Evangelho é, portanto, não apenas o ABC da vida cristã, mas também todo o dicionário da vida”12 . “irmãos mais velhos” por JUAN DE PAULA 1 Agradeço ao pastor Rodrigo Almeida Rezende (de Cabo Frio – RJ) pelos insights em relação à análise do Pastor Tim Keller e ao livro “O Deus Pródigo” tanto em conversa pessoal quanto em mensagem proclamada na Igreja Batista Central em Iguaba Grande, onde sirvo como pastor. 2 Tim Keller. O Deus Pródigo: Descubra a essência da fé cristã na parábola mais tocante de Jesus. Tradução André Jenkino. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2010. 3 Tim Keller. O Deus Pródigo, p. 15. 4 Op. Cit. 5 Op Cit p. 65. 6 Op Cit p. 70. 7 Op Cit p. 74. 8 Op Cit p. 75. 9 Op Cit p. 101. 10 Op Cit p. 102. 11 Op Cit p. 142. 12 Op Cit p. 154. Juan de Paula é Pastor da Convenção Batista Brasileira e professor de Teologia na ETR (Escola Teológica Reformada) no RJ.
  • 30. iPródigo | Outubro 201130 por emilio Garofalo Neto Avida até parece uma festa - assim começa a música Diversão do grupo de rock Titãs. O refrão é muito interessante: “Às vezes qualquer um faz qualquer coisa por sexo, drogas e diversão, e tudo isso só aumenta a angústia e a insatisfação; às vezes qualquer um enche a cabeça de álcool, atrás de distração, mas nada disso às vezesdiminuiador.”Esserefrãoatinge importantes verdades que devemos tratarpelaslentesdasescrituras.Todos os homens buscam diversão, buscam jogar, brincar, se entreter—se não em extremos pródigos, no mínimo em doses pequenas. Isso pode ser observado em qualquer idade e em qualquer cultura da Terra. A parábola do filho pródigo fala acerca de um homem que deixou sua família e sua terra para ir atrás de viver prodigamente. Ele julgou que o melhor para si era aproveitar e curtir a vida de maneira despreocupada, em busca de quaisquer formas de diversão que desejasse. Neste artigo iremos tratar desse desejo humano. Como outros autores vão tratar dos por emilio Garofalo Neto ÍconesdesenhadosporJanCavan|DawghouseDesignStudio
  • 31. iprodigo.com 31 temas centrais da parábola (graça e perdão), fico à vontade para examinar uma questão um tanto periférica à parábola, mas importantíssima em nossas vidas: gastamos enorme parte de nosso tempo, nosso dinheiro e nossas vidas em busca de diversão. Como ele poderia ser tão tolo em deixar sua família, sua casa, sua comunhão para levar uma vida que resulta em miséria e destruição? Mais sério ainda, nós fazemos o mesmo, seja em grande ou pequena escala: quando optamos por clicar no site que não devemos, quando utilizamos substâncias que teoricamente vão nos fazer curtir mais a festa ou a viagem ou quando negligenciamos nossa família por coisas que prometem nos dar alegria. Veremos que a busca por diversão tem raízes na criação, é distorcida pela queda e mesmo assim aponta para a redenção. O filho pródigo fez uma coisa que todos nós já fizemos em algum ponto de nossas vidas, em verdade, algo que fazemostodososdias:buscoudiversão, quis satisfazer seus desejos por lazer. Mas de onde vêm tais desejos? Eles são necessariamente pecaminosos em sua raiz? Não, o interesse por recreação é um elemento criado no homem. Temos algumas pistas bíblicas que apontam para isto; iremos apontar algumas direções, mas não será um tratamento exaustivo. A Bíblia não tem uma passagem clara dizendo “podeis brincar”. O caso a favor de diversão, jogos e brincadeira é feito através de diversos textos que tocam no Abuscapordiversãoeacriação assunto tangencialmente e por temas relacionados. Trataremos brevemente de alguns destes elementos. Um componente importante é o do descanso, uma grande parte da diversão. Ao criar o homem, Deus o fez com necessidade de descanso; de fato, estabeleceu a regra de que deveria trabalhar seis dias e descansar no sétimo. Esse dia, desde o princípio, envolvia culto, mas vai além disto, tratando-se de um dia para celebrar a Deus e sua criação e descansar dos afazeres da semana. Como diz Leland Ryken: “Assim como o descanso de Deus, o lazer nos liberta de uma necessidade de produtividade e nos permite aproveitar o que já foi feito.” (Ryken 1987, 183). Os diversos festivais de Israel no Antigo Testamento apontavam também para tempo de alegria e descanso na providência de Deus. Os profetas falam de instâncias onde brincadeira é vista como uma coisa natural e, principalmente, como parte de situações onde se mostra a bênção restauradora de Deus.Isaías profetizou acerca de uma convivência pacífica durante o reino do cordeiro em um período de reconciliação entre Deus e homem que se reflete na reconciliação entre homem e criação—e isto envolve até mesmo crianças brincando com animais ferozes (Is 11.6-10). Zacarias fez promessas parecidas; ao falar acerca da restauração de Jerusalém ele diz que “as praças da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincam” (Zc 8.5). Jesus em certas ocasiões (mesmoforadoSábado)seretiroupara descansareserecompor.Curiosamente, Jesus foi acusado de ser um glutão e
  • 32. iPródigo | Outubro 201132 beberrão; essas acusações eram falsas, mas foram motivadas pelo fato de que era comum que Jesus gastasse tempo em comunhão e comida junto com as pessoas. Seu primeiro milagre público envolveu assegurar que uma festa não se encerrasse pela falta de vinho (o que não nega os profundos significados bíblicos e teológicos desse feito). A própria parábola do filho pródigo aponta para música e dança como reações apropriadas para alegria (Lc 15.25). Temos ainda Paulo usando figuras esportivas para ilustrar suas asserções em diversos momentos. Paulo não estava com isto dizendo que tínhamos de nos tornar maratonistas ou atletas, mas há uma aceitação tácita de que o mundo esportivo tinha para oferecer no mínimo figuras válidas para a caminhada (ou corrida!) cristã. Deus nos criou com instintos naturais para desejar descanso, interação e lazer; coisas que a Bíblia não condena se feitas dentro de seus parâmetros. Deus fez um mundo que vai além de simplesmente satisfazer as necessidades humanas de sobrevivência, ele criou diversidade, beleza, deleite; ele fez um mundo prazeroso ao homem, intelectual e sensorialmente; um mundo para ser aproveitado. Não haveria nenhuma restrição a Adão e Eva quanto a nadarem nos rios, brincarem com os elefantes, comerem quase todos os frutos ou aproveitarem a companhia um do outro em sua tarefa de povoar a terra. Outro elemento importante nesta discussão é que fomos criados à imagem de Deus e isto implica que somos receptivamente criativos1 . Isso significa que Deus nos criou semelhantes a ele, com a capacidade de criarmos coisas com nossas mentes e mãos. Todas as nossas criações necessariamente refletem a criação original em certos pontos, pois não somos criadores autônomos, mas criamos dentro do campo de possibilidades que Deus criou. Ninguém pode imaginar uma cor que Deus não imaginou antes, ninguém pode criar um universo fantástico que surpreenda a Deus com sua criatividade. Trabalhemos com uma noção útil e interessante: nossos produtos culturais de lazer e diversão são subcriações, feitas diante de Deus, parte em rebelião, parte em submissão à sua vontade. Nosso interesse por diversão envolve o fato de que em nossos jogos e brincadeiras exercemos nosso chamado a sermos subcriadores. Em eventos grandes como as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, podemos encontrar diversos pontos de contato entrenossascriaçõeseacriaçãodivina2 . Mas mesmo em coisas menores como um filme, uma peça de teatro ou uma história infantil, encontraremos sempre elementos que remetem à forma e à estrutura pelas quais Deus criou o mundo; seja afirmando e repetindo o que Deus fez, negando e distorcendo tudo isto ou mesmo elaborando sobre o original. Ocasiões mais simples e corriqueiras refletem a criação de Deus em menos pontos, mas continuam refletindo (positiva ou negativamente): quando amigos se 1 Devo a meus mentores Wadislau e Davi Gomes as expressões “receptivamente criativo” e “ativamente redentivo.” 2 Para um tratamento mais longo da questão do amor humano por diversão e de como a Copa do Mundo é uma subcriação que reflete a criação divina ver minha dissertação: The 2010 Soccer World Cup as Sub-creation: An analysis of human play through a theological grid of creation-fall-redemption. 2011. Reformed Theological Seminary.
  • 33. iprodigo.com 33 juntam para jogar pingue-pongue ou assistir um episódio de Doctor Who, eles estão se deleitando num mundo com suas próprias regras, com seus valores, suas noções de certo e errado, regras de relacionamento e satisfação. Por que buscamos diversão? Porque ali encontramos coisas para as quais fomos criados como descanso, alegria e relacionamentos. Porque na recreação temos a possibilidade de exercer nosso papel como subcriadores. Não sabemos exatamente o que a parábola implica a respeito de como era a vida dissoluta do filho pródigo; por certo envolvia gasto de dinheiro com prostituição (v. 30) e provavelmente não estava muito longe do refrão da música dos Titãs. Quando o filho pródigo buscou diversão, recreação e descanso, ele fez seguindo desejos embutidos em seu coração desde a criação; o problema é que esses desejos foram distorcidos pela queda. A queda de Adão e Eva teve efeitos catastróficos. O maior deles é a separação entre Deus e o homem. Ela resultouaindanacorrupçãodocoração humano; todos nascem pecadores e isso afeta nossos desejos, pensamento e ações. Pela escolha que nossos pais fizeram, nós sofremos e habitamos numa realidade cheia de erros, onde nossas atividades são naturalmente corrompidas. Nossa busca por diversão é naturalecriadaporDeus,masemnossa rebelião espiritual, pegamos as coisas boas criadas por ele e distorcemos segundo nossos desejos pecaminosos Abuscapordiversãoeaqueda para nossas finalidades. Utilizamos as boas coisas deste mundo para o mal. Essas distorções se mostram em todo tipodeassunto.Porexemplo,distorções em diversão e sexualidade. Deus nos criou para amarmos e fazermos sexo, dentro das limitações do casamento. Mas, em nossa rebelião, utilizamos a sexualidade de maneira errada, e isso vai muito além de simplesmente dormir com quem não é sua esposa. Nossos esportes, nossos filmes, nossas interações no Facebook, nosso tempo de relaxamento na internet, tudo isso é fortemente influenciado por uma sexualização fora dos padrões estabelecidos por Deus. Vamos além dos limites que Deus estabelece no uso de bebida, de comida e outras coisas – liberdade cristã se torna escravidão. Coisas que deveríamos usar para celebrar a bondade de Deus em sua criação acabam servindo para destruição, para escândalo e causam o tropeço de nossos irmãos. Outro tipo de distorção aparece na questão de violência e crueldade. Passamos a amar algo que é resultado da queda como se fosse original. Não entenda errado; em certas passagens bíblicas, Deus comanda a violência e ele mesmo pune seu Filho de maneira violenta no lugar de seu povo. Mas essa violência existe porque o pecado existe. Nossa diversão neste mundo é misturada com violência porque o mundo é caído e nós gostamos disso. Para alguns, esse interesse não passa de filmes e videogames violentos; para outros, vai além e envolve machucar, matar e afligir pessoas ou animais por diversão. Assim, por exemplo, nosso desejo legítimo de jogar bola com os amigos
  • 34. iPródigo | Outubro 201134 pode ser usado para impressionar e levar meninas para a cama, para nos deliciarmos machucando o adversário ou expressando ódio, raiva e mesmo preconceito étnico. Somos enormemente criativos em utilizar as criações de Deus e as nossas para o mal. Uma maneira especialmente perniciosa pela qual a queda afeta nossa diversão é ao utilizarmos nossas subcriações para pecar de maneira que não pecaríamos no mundo real. Dentro destas subcriações, muitas vezes nos sentimos mais livres para exercer nossos desejos pecaminosos do que fora delas. Por exemplo, há muitos homens que não adulteram fisicamente, mas julgam que podem brincar com pornografia porque ela “não afeta ninguém” – enquanto adulteram no coração. Ou o pai que não permite que o filho xingue, mas no estádio não vê problema que isso ocorra; ou a pessoa que não rouba em seu trabalho mas não vê problema em roubar no jogo de Banco Imobiliário, pois o jogo não é“pra valer.” O filho pródigo buscou viver de maneira a dar vazão a seus desejos criados e distorcidos pelo pecado; o resultado foi miséria no bolso e no coração. Ele foi criado para desejar sexo, mas deu vazão a seu desejo fora da esfera de permissão bíblica. Ele foi criado para desejar descanso e alegria, mas, para isso, gastou tudo o que tinha e deixou sua família. Por que buscamos diversão? Porque por meio dela podemos satisfazerdiversosdesejospecaminosos e exercer nossa pretensa autonomia em criarnossosmundinhos,ondefazemos o que queremos. Além de sermos receptivamente criativos,somosativamenteredentivos. Isso quer dizer que, mesmo em nosso estado de queda,ainda temos impulsos de criar coisas boas e de consertar coisas ruins. Isso está ligado ao fato de que o homem é a imagem de Deus (Gn 1.27) e tem a eternidade em seu coração (Ec 3.11). O homem caído é uma inconsistência ambulante; ele proclama que Deus não existe mesmo sabendo que ele existe (Rm 1.18- 23). Ele tenta se ver livre de Deus, mas opera num mundo criado por Deus com mente e corpo criados por Deus, vivendo segundos as leis físicas de Deus. Ele deseja fugir de Deus em sua arte, trabalho e diversão, mas não consegue deixar de refletir aquilo para o que foi criado. Nossos filmes, novelas e revistas em quadrinhos estão repletos de temas como reconciliação, justiça, recompensa, graça, salvação e nova vida. Seguindo o pensamento de CorneliusVanTil,vemosqueohomem, mesmo negando a verdade de Deus, se utiliza dela em tudo o que faz. Van Til usou a idéia de “capital emprestado”. O descrente, de qualquer cultura, não é consistente com sua rebelião. Criado para refletir e glorificar a Deus em tudo o que faz, o homem é incapaz de se comprometer completamente com sua cosmovisão rebelde. Van Til frequentemente usava a figura de uma criança que só é capaz de esbofetear seu pai porque este a segura no colo. O homem rebelde tenta, mas não consegue se desvencilhar de Deus e da noção de eternidade (Van Til, 2007, 153). Abuscapordiversãoearedenção
  • 35. iprodigo.com 35 Ohomemusaacriatividade,a matéria-prima,ostemaseestruturasda criação de Deus para suas subcriações (filosóficas, científicas literárias, cinematográficas... ); essa idéia de capitalemprestadoémuitoimportante para analisarmos qualquer produto cultural como filmes, literatura, rituais e tudo que se possa imaginar, pois o homem criado diante de Deus é incapaz de negar plenamente que é imagem de Deus com a eternidade gravada em seu coração. Cada uma de suas criações necessariamente conterá relances,fragmentos da verdade eterna que apontam para o passado no Éden e para o futuro eterno. Nosso lazer e entretenimento estãoimiscuídoscomtemas,estruturas e promessas que são semelhantes aos nossos desejos mais profundos de libertação do mal, liberdade do medo e da dor, eternidade, reconciliação e assim por diante. Uma das razões pela qual buscamos diversão é porque ali encontramos coisas como redenção, reconciliação, paz, alegria e união. Claro, sempre de maneira imperfeita e manchada pelo pecado. O homem busca na diversão suprir a necessidade que tem de Deus e de sua eternidade. Voltando a Eclesiastes, parte integral da mensagem do livro é que o homem busca satisfazer seu desejo por coisas maiores por meio de todo tipo de coisa criada, mas isso tudo é apenas vapor, que não mata a sede. Blaise Pascal escreveu bem: “O que essa busca e inquietação revelam senão que havia um dia em nós verdadeira alegria, da qual o que resta é apenas um esboço e traços vazios? O homem tenta sem sucesso preencher o vazio com tudo o que o cerca, buscando em coisas ausentes a ajuda que não encontra nas que são presentes, mas todas são incapazes de fazê-lo. Este abismo infinito só pode ser preenchido com um objeto infinito e imutável, quer dizer, o próprio Deus. Apenas ele é nosso verdadeiro bem. Desde o tempo que o largamos, é curioso que nada foi capaz de tomar seu lugar: estrelas, céu, Terra, elementos, plantas, repolho, alho-poró, animais, insetos, bezerros, cobras, febre, pragas, guerra, fome, vício, adultério,incesto.Desde o tempo em que perdemos o verdadeiro bem, o homem pode vê-lo em todo lugar, mesmo em sua própria destruição, embora seja tão contrário a Deus, à razão e à natureza. Alguns buscam este bem último na autoridade, outros na busca intelectual por conhecimento e outros no prazer”. (Pascal, 1999, 52). Os Titãs estavam certos, “tudo isso só aumenta a angústia e a insatisfação”. Deus nos fez com a capacidade de criar, mas nossas subcriações não foram feitas para assumir o lugar de Deus e nem mesmo da criação em nossas vidas; ao tentarmos criar mundos onde nos divertimos sem Deus, estamos apenas nos enganando. Podemos detectar resquícios da realidade suprema e O homem caído deseja fugir de Deus em sua arte, trabalho e diversão, mas não consegue deixar de refletir aquilo para o que foi criado.
  • 36. iPródigo | Outubro 201136 pensamos que eles são a própria realidade; em nossa rebelião, achamos que seremos mais felizes se pudermos viver de acordo com nossas tolas paixões em nossas fantasias, ao invés de nos regozijarmos em Deus, sua criação e em submetermos a Ele nossas subcriações. Buscamos lazer e diversão, pois achamos que ali encontraremos o que buscamos. Pensamos que dançando com os amigos, boiando no oceano, correndo atrás de uma bola, fantasiando numa partida de RPG, brincando com nossas crianças encontraremos um pouco daquela alegria e finalidade para a qual fomos criados. E de fato podemos vislumbrá- la, podemos quase apalpá-la em nossas atividades. Como falou C.S .Lewis acerca de sua busca por alegria e beleza: “Os livros ou música em que achávamos que estava a beleza irão nos trair se esperarmos neles; não era neles, era através deles, e o que vinha através deles era um anelo. Essas coisas — a beleza, a memória de nosso passado—são boas imagens daquilo que realmente desejamos; se as confundirmos com a coisa em si, eles se tornam ídolos mudos e vão partir o coração de seus adoradores. Pois eles não são a coisa em si, são apenas o aroma da flor que não encontramos, notícias de um país que ainda não visitamos” (Lewis, 2001, 29). No uso autônomo de fé- amor-esperanca, o homem rebelde a Deus põe sua fé em si mesmo e em seus feitos, exercitando seu amor em dedicação a diferentes formas de diversão, na esperança de que através de jogar e brincar ele encontrará significado e satisfação. O teólogo Herman Bavinck falou acerca dessa situação complexa: “O homem almeja a verdade, mas é falso por natureza. Anela por descanso e se lança em uma diversão após a outra.Suspira por uma bênção permanente e eterna, porém se agarra aos prazeres do momento. Ele busca a Deus,mas se perde na criatura. Nasce filho da casa, mas se alimenta dos sabugos dos porcos numa terra distante...” (Bavinck, 1977, 22). Buscamos diversão, pois ali encontramos um pouco do que sabemos que a eternidade redentiva reservapranós;nasnossassubcriações, tentamos replicar estas realidades sem ter de nos submetermos ao Deus Criador, tolamente achando que essas coisas podem ser separadas. Os Rolling Stones, por décadas, têm rugido “não consigo satisfação, e eu tento, eu tento eu tento”. Eles nunca irão encontrar enquanto procurarem onde procuram; vão achar coisas que parecem satisfazer, mas que o fazem de maneira imperfeita e temporária, um ídolo cruel. O filho pródigo se deu conta de que, em sua situação, não havia mais satisfação – sua solução foi voltar. Será que ele percebeu que havia satisfação verdadeira na casa do pai ou ele simplesmente continuava olhando com os mesmos olhos,apenas buscando outra fonte? Ele achou que seu problema era falta de recursos financeiros. Lembrou que na casa de seu pai havia recursos e que mesmo os empregados comiam melhor que ele e resolveu voltar. Quando confrontado com o amor do pai é que percebeu que ali estava a verdadeira vida, numa Conclusão
  • 37. iprodigo.com 37 Agostinho. 1998. Saint Augustine’s Confessions. Trans. Henry Chadwick. Oxford World’s Classics. Oxford, UK: Oxford University Press. Bavinck,Herman.1977.Our reasonable faith. Trans. Henry Zylstra. Grand Rapids, MI: Baker Book House. Garofalo Neto, Emilio. 2011. The 2010 Soccer World Cup as sub-creation: an analysis of human play through a theological grid of creation-fall- redemption. PhD diss., Reformed Theological Seminary. Lewis, C.S. 2001. The weight of glory: And other addresses. New York, NY: HarperCollins Publishers. Pascal, Blaise. 1999. Pensées and other writings. Trans. Honor Levi. Oxford World’s Classics. Oxford, UK: Oxford University Press. Ryken, Leland. 1987. Work and leisure in Christian perspective. Portland, OR: Multnomah Press. Van Til, Cornelius. 2007. An introduction to systematic theology: Prolegomena and the doctrines of revelation, scripture, and God. 2nd ed. Ed. William Edgar. Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing. Bibliografiafesta onde graça se mostra para quem não merece.Seu problema,na verdade, era achar que podia viver em sua autonomia pecaminosa. A tragédia é que, em nossa rebelião idólatra, tentamos atribuir à subcriação o lugar que é do Criador; buscamos adorar a criação no lugar do Criador e terminamos com um paliativo por vezes saboroso, mas que não satisfaz a fome. Muitos cristãos são totalmente avessos ou críticos à diversão como se fosse sempre pecaminosa ou, no mínimo, um mau uso do tempo. Outros buscam sua diversão, mas escondidos dos irmãos por vergonha ou incompreensão. A música do Titãs começa com a frase “A vida até parece uma festa”. De fato nossavidaémarcadaporfestasformais ou informais. Festas de casamento, de aniversário, de promoção, de estação, deaprovação,defim-de-semana.Festas em que temos, de fato, um aperitivo de uma festa maior, reservada para os que são recebidos pelo pai gracioso, pelo único caminho do Filho que se entregou por filhos pródigos e por filhos que se achavam obedientes. Compreender que nossa busca por diversão está enraizada na nossa noção imperfeita de uma realidade superior irá nos ajudar a encontrar o caminho de retorno. Entendendo primeiro a redenção maravilhosa comprada por Cristo poderemos então aplicá-la neste mundo caído redimindo o tempo e o mundo, enquanto caminhamos – não para a criação original, mas para a re- criação de todas as coisas, onde enfim teremos perfeitos descanso, trabalho e adoração. Emilio Garofalo Neto é Pastor da Congregação Presbiteriana Semear, em Brasília (DF).
  • 38. iPródigo | Outubro 201138 Há duas tendências perniciosas que vez por outra abatem a fé cristã. Uma delas é associar a salvação com a exigência de regras e leis. Isto é chamado de legalismo. Os legalistas não acreditam que somente um relacionamento pessoal e profundo com Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Eles acrescentam regras e deveres para os verdadeiros crentes. Regras sobre o comer, o beber, o vestir e a aparência em geral. A outra tendência é a licenciosidade. O desprezo pelo padrão de santidade exigido por Deus para seu povo. É também conhecido como antinominianismo, que significa literalmentesercontraalei.Oprincipal erro dos libertinos é confiar no ensino da “livre graça” como direito de continuarnopecado.Buscamsatisfazer os seus interesses, desejos e valores. Observe o contraste entre o legalismo e o evangelho da graça. O legalismo é obra humana e se fundamenta na blasfema noção de que o ser humano pode agradar a Deus com suas penitências e campanhas de fé, enquanto que o evangelho da graça foi nos dado por Deus e não exige nenhum esforço da parte do ser humano para alcançar a salvação. O legalismo enfatiza o que o homem faz por Deus, enquanto o evangelho da graça ensina que Deus fez tudo pelo ser humano para salvá-lo. O legalismo pode ser ilustrado com a imagem da escada da salvação. O ser humano zelosamente tenta subir a escada de sua justiça própria, na esperança de encontrar-se com Deus no último degrau. Já o evangelho da graça pode ser ilustrado com Deus descendo a escada da encarnação de Jesus Cristo e encontrando-se conosco, na condição de pecadores, no primeiro degrau. O legalismo diz: alcance; o evangelho diz: obtenha. O legalismo diz: tente; o evangelho diz: receba. O legalismo diz: desenvolva-se a si mesmo; o Evangelho diz: negue-se a si mesmo. O conceito de só pela graça é um golpe mui severo ao orgulho humano. Aqui não há lugar para a autossuficiência,nemparaaarrogância do que pretende salvar-se a si mesmo e a outros, mesmo por meio de esforços que aos olhos da sociedade parecem mui nobres e heroicos. No Evangelho, não temos o homem buscando a Deus, porque o homem está morto em seus delitos e pecados: “Ele vos deu vida, estando O Abuso da Graça POR isaías lobão
  • 39. iprodigo.com 39 vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios2.1).Elefogedesesperadamente Daquele que lhe pode dar a vida eterna. No Evangelho, não temos um homem bom, querendo seguir o melhor caminho e se entregando sinceramente a Deus. Temos a dura realidade da indiferença e da rebeldia, que rejeita a oferta divina. O pecado não é uma fraqueza ou um vício pelo qual não somos responsáveis. É um antagonismo ativo e intencional contra Deus. Millard Erickson apresenta a seguinte definição: “Pecado é qualquer falta de conformidade, ativa ou passiva, com a lei moral de Deus. Isso pode ser uma questão de ato, de pensamento ou de disposição”. É importante lembrar que amamos nosso pecado; temos prazer nele, buscamos oportunidades para praticá-lo. No entanto, por sabermos instintivamente que somos culpados diante de Deus, inevitavelmente tentamos camuflar ou negar nossa própria pecaminosidade. Há muitas maneiras de fazer isso. Elas podem ser resumidas, grosso modo, a três categorias: encobri-lo, justificá-lo e ignorá-lo. Pecar não nos dá liberdade – nos escraviza, e nos prende num círculo de outros pecados. Adão comeu o fruto proibido e tentou fugir de Deus, escondendo sua nudez com folhas de parreira. Caim matou o irmão e em seguida mentiu para Deus. Pedro chorou amargamente depois de negar Jesus.Exemplos da escravidão do pecado. Paulo escreveu aos Romanos sobre os riscos do pecado: “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Romanos 6.17). O Cristão não deve se submeter ao pecado visto que fomos completamente libertados através do precioso sacrifício de Cristo: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.2). Graça é uma palavra de raiz latina – gratia, traduzida do grego charis, e que significa graciosidade, benevolência, favor ou bondade. Ela significa favor imerecido, favor concedido àqueles que nada merecem. A graça de Deus aos pecadores revela- se no fato de que Ele mesmo pela expiação de Cristo pagou toda a pena do pecado. Por conseguinte, ele pode justamente perdoar o pecado sem levar em conta os merecimentos ou não merecimentos. Os reformadores protestantes do século XVI bradaram a uma só voz: Somente a Graça! Eles combateram a degenerada religião medieval que apresentava Cristo como um regente feroz que ameaçava os seres humanos com a condenação eterna. A única esperança encontrada pelas pessoas era o sistema sacramental romano. No entanto, era uma esperança vazia. Os jejuns, as confissões, as peregrinações, o enxame de relíquias veneradas, o panteão de santos e intercessores não conseguiam acalmar as almas aflitas. Elas em desespero encontravam a morte, incertas de seu destino final. O grande mérito dos reformadores não foi criar algo novo, masaredescobertadaantigamensagem do evangelho,que ficou obscurecida na maior parte do período medieval. O catolicismo medieval ocasionalmente
  • 40. iPródigo | Outubro 201140 se degenerava numa religião folclórica da natureza. Os reformadores denunciaram esse erro e propuseram um novo (antigo) caminho: o retorno às Escrituras. De acordo com a Palavra de Deus, a graça está intimamente ligada ao amor e a eleição soberana. Leia o que Deus revelou a Moisés durante o período que a Igreja da antiga aliança atravessava o deserto. “Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosse o seu povo próprio, de todos ospovosquehásobreaterra.Nãovosteve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito” (Deuteronômio 7.6-8). Ao Israel de Deus da nova aliança, a Bíblia ensina que o amor de Deuséperfeito,desinteressado,gratuito e livre: Deus nada tem a ganhar com ele, já que ele é infinito e perfeito. Pelo contrário, Deus se sacrificou por nós, enviando Jesus, para morrer a nossa morte. Não houve outra razão, a não ser o amor (Rm 5.8). Deus não nos ama em função do que somos,porque senão ele amaria somente os amáveis, perfeitos, bons, justos e bonitos.O amor de Deus é para aqueles que nada são, para os sujos, malcriados,perversosesemescrúpulos. A pessoa amada por Deus não tem nenhum valor em si; o que lhe dá valor é o fato de ser amada por Deus. Você conhece o hino Amazing Grace de John Newton? Newton escreveu-o em 1779.A letra diz: Maravilhosa Graça / Como é doce o som que salvou um desventurado como eu / Estava perdido, mas agora fui encontrado / Fui cego, mas agora vejo. / Sua Graça ensinou meu coração temer / E aliviou os meus medos / Quão preciosa foi a revelação no primeiro momento em que eu acreditei / Através de muitos perigos, labutas e armadilhas eu já passei, esta Graça trouxe-me até aqui / E a Graça me conduzirá ao meu lar. Newton foi traficante de escravos africanos. Depois de convertido se tornou pastor.Ele baseou o hino em I Crônicas 17.16-17, onde o Rei Davi expressa sua convicção de não ser digno de construir a casa do Senhor, e clama: “Quem sou eu, ó Senhor Deus, e que é a minha casa, para que me tenha trazido até aqui?”. Anos depois,ao crescer muito mais na fé, lamentou profundamente ter feito parte deste nefando tráfico. Tornou-se forte e eficaz guerreiro contra a escravatura. Newton nunca se esqueceu do seu passado. Colocou na parede do seu escritório uma placa com versículo: “Pois lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te resgatou” (Dt 15.15). Achou importante relembrar a si mesmo e aos outros o quanto a maravilhosa graça de Jesus havia feito por ele. Em seu túmulo, lê-se: “John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir”.