1. o DRAMA DA CON STA
NA FESTA:
reflexões sobre resistência
indígena e circularidade cultural
1. Introdução
os últimos anos ampliou-se de ma
neira considerável o âmbito de inte
resse da história. Não mais se observa a
polarização nos grandes temas e nas mani
festações dos grupos.dominantes oomo ob
jeto da produção historiográfica. A este
quadro oontrapõe-se uma tendência ao res
gate da atuação de segmentos até então
excluídos dessa produção, visando-se re
cupernr Sllas manifestações e fonnas de
resistência. Um sério problema decorre
deste fato, devido à escassez e dispersâo
dos registros relativos aos referidos seg
mentos. Os feitos de sua existência pouoo
chegam ao nosso oonbecimento, através de
testemunhos escritos. Cabe ao historiador,
nessas circunstâncias, valer-se de "ele
mentos imponderáveis: o faro, o golpe de
vista, a intuição", a fim de obter as pistas,
OS indícios que lhe possibilitem superar a
I
EsIwlosHi.sf6tYos, RiodeJanci� val. S, D. 9,1992, p. 44-59
Rachei Soihet
opacidade e a fragmentação da documen
tação e desvendaro universo daqueles seg
mentos.
1
O campo cultural adquire significado
especial para esta modalidade de aborda
gem, pois, conforme as pesquisas têm de
monstrado, este se constitui, via de regra,
em canal privilegiado de expressão dos
anseios, necessidades, aspirações dos su
balternos. Também, a cultura se configura
como o seu principal veículo de coesão e
de construção de uma identidade própria.
2
Durante muito tempo o termo cultura
foi empregado unicamente 10 sentido ilu
minista, ou seja, referindo-se às chamadas
expressões superiores do espúito humano
- a arte, a literatura, a música... Hoje, po
rém, oom base na antropologia, a grande
maioria dos historiadores compreende a
cultura como "a história das ações ou n0-
ções subjacentes à vida cotidiana". Con
vergem para uma visuali2JIção deste con
ceito de maneira ampla, social e temalÍca-
2. oDRAMA DAmNQUlSTA NA FESTA 45
mente; como uma totalidade complexa que
inclui conhecimento, crença, arte, moral,
lei, costumes, além de outras capacidades
e hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade. Uma noção
holIstica mas também processual, voltada
para a mudança cultural e suas fonnas de
ocorrência?
Robert Damton, um dos autores mais
entusiasmados com o diálogo antropolo
gia/história, esclarece que a história cultu
ral trata a nossa civilização da mesma ma
neira que os antropólogos estudam as cul
turas exóticas. Cabe ao historiador etno
gráfico estudar o modo como as pessoas
comuns entendiam o mundo. Com tal ob
jetivo busca descobrir sua cosmologia,
apreender como organizavam a realidade
em suas mentes e a expressavam em seu
comportamento.4
Este autor destaca, como contribuição
fundamental da antropologia, a noção de
diferença; com isto concorda Le Goff ao
afirmar que nela reside uma das seduções
fundamentais desta disciplina para os his
toriadores. Consolida-se, a partir dessa
perspectiva, a visão de que os outros povos
são diferentes, não pensam da mesma ma
neira que pensamos, o que, traduzido em
termos do ofício do historiador, identifica
se oom a recomendação contra o anaclu-
. 5
D1Smo.
Discorrendo acerca da similaridade en
tre o trabalbo do historiador e do antropó
logo, o historiador Carlo Ginzburg afIrma
que 'lIas bases são textuais. Ambos se va
Iem de textos, intrinsecamente, dialógicos.
A estrutura dialógica pode ser explícita, o
que ocorre tanto na série de perguntas e
respostas presentes num processo inquisi
torial como na transcrição das conversas
entre o antropólogo e oseu informador.1à1
estrutura pode, também, ser implícita, co
mo, por exemplo, nas notas etnográficas
referentes a um ritual, um mito ou um
utensílio. Para ele a e.«<ência de uma atitu
de antropológica, ou seja, o confronto entre
culturas diferentes, reside numa disposi
ção dialógica.6
Em trabalho anterior Ginzburg nos in
forma sobre o empréstimo do termo cultu
ra feito pela história à antropologia cultu
ral, já num período relativamente tardio.
Só através do conceito de "cultura primiti
va" é que se chegou a reconhecer que
aqueles indivíduos outrora definidos de
forma paternalista como "camadas inferio
res dos povos civilizados" possuíam cultu
ra. Superou-se, assim, a posição daqueles
que distinguiam nas idéias, crenças, visões
de mundo das classes subalternas, nada
mais do que um acúmulo desorgãnico de
fragmentos de idéias, crenças, visões de
mundo elaboradas pelas classes dominan
tes, provavelmente, vários séculos antes7
A concepção de circularidade cultural,
que propõe como recíprocas as influências
entre a cultura dos segInentos dominantes
e subalternos, constitui-se numa outra im
portante contribuição de Giowurg, inspi
rado, como COnfCAA3, em Bakhtin, que bus
caremos adotar em nossa abordagem.8
Dentre os autores que enfatizam o papel
decisivo da cultura como força motivadora
da transformação histórica temos Natalie
Davis e E.P. Thompson. Este, inovando o
marxismo e opondo-se à visão tradicional,
ressalta a impossibilidade de se entender o
que é classe sem que esta seja percebida
como uma formação social e cultural.9
Thompson reconhece a importância da
utilização pelo historiador das contribui
ções dos folcloristas e da antropologia so
cial, particularmente, no trabalho com s0-
ciedades onde predominava o costume.Tal
foi o seu caso ao se dispor a iCcuperar as
formas de consciência plebéia na Inglater
ra do século XVIII. Mantém porém uma
atitude critica, tecendo considerações acer
ca das precauções a serem tomadas para
que este intercâmbio se revele proveitoso.
A atenção às normas, valores e rituais
pode proporcionar um significativo au
mento do conhecimento histórico. Nesse
3. ,
46 ES1lJJX)SIflSTÓRICDS- 199'1.19
sentido, um novo olhar do historiador Cez
se sentir, nos últimos anos, com relação a
inúmeros aspectos da vida considerados
semmaior importância, como o calendário
de ritos e Cestas. O significado do ritual,
contudo, só pode ser interpretado quando
osdados deixamde ser considerados como
fragmentos do Colclore, como "relíquias",
e passam a ser contextualizados. Assim, na
análise do ritual, importa ultrapassarmos a
forma e atentarmos para as relações reais
que nele se expressam. Verificamos que
qualquer que seja a sua origem e seu sim
bolismo maniCesto, este foi adaptado para
um novo [un.
Tais recomendações são da maior rele
vância, pois, como lembra Tbompson:
A história é a disciplina do contexto e
do processo: todo significado é um sig
nificado-no-rontexto, e quando as es
truturas mudam as formas antigas
podem expressar funções novas e as
funções antigas podem encontrar sua
expressão em fonnas novas.
!O
Colocando-se numa posição análoga à
de Keith Tbomas e de Natalie Oavis, escla
rece que para eles "o impulso antropológi
co é percebido não na construção de mo
delos, mas na identificação de novos pro
blemas, na percepção de antigos proble
mas sob novas perspectivas, na ênfase em
normas ou sistemas de valores e rituais, na
atenção às funções expressivas das diver
sas fonoas demotim e revoltae nas expres
sões sirobólicas da autoridade, do controle
e da hegemonia".lt
As modalidades de resistência desen
volvidas pelos populares orupam papel
central na obra de Tbompson e na de inú
meros outros autores. Estes descartam a
visão de uma ação unilateral do poder so
bre os dominados passivos e impotentes.
Os subaItemos náo estariam à mercê de
forças históricas externas e detenninantes,
desempenhando um papel ativo e essencial
na criação de sua própria história e na
definição de sua identidade cultural.
Como assinala Michel de Certeau, tor
na-se necessário inverter as preorupaÇÕes
de Foucault, ou seja, não mais trata de
precisar como a violência da ordem trans
rorma-se em tecnologia disciplinar, mas de
"exumar as fonoas sub-reptícias que assu
me a criatividade dispersa, tática e brico
/euse dos dominados, com vistas a reagir à
opressão que sobre eles incide".12
Esta resistência não se apresenta, neces
sariamente, de fonoa violenta, através de
motins e outros confrontos. Pequenos fur
tos, utilizaçõesjocosas de signos do poder,
cartas anônimas, canções, inversões, irre
verências, representações teatrais, que em
sua maioria encontram expressão nas fes
tas, são exemplos das fonoas simbólicas
nas quais pode se apresentar a resistência.
2. ...e a festa entra na história
A festa se constitui num cenário privi
legiado para a observação desses pressu
postos. Em medida diversa, de acordo com
a modalidade, na festa estão presentes as
pectos expressivos do universo cultural
dominante; por outro lado, aí encontram-se
imbricados elementos próprios da cultura
popular, com suas tradiçóes, seus símbo
los, suas práticas. A resta é local de encon
tro e lazer desses grupos, nela ocorrendo
Ulna influência recíproca entre ambos os
segmentos.
O interesse dos historiadores pela festa
é recente. Até hem pouco tempo, ela era
foco de atenção apenas do Colclore e da
antropologia. Os avanços na história cultu
ral, como já Coi visto, contribuíram para a
mudança desse panorama. De qualquer
fonna, ao ingJessar nos domfnios de aio,
a resta Coi por muitos considerada como
um tema menor, periférico, desmobiliza-
4. o DRAMADA OONQUISTA NA FESTA 47
dor. O diálogo entre Pierre Vilar e Vovelle
é sintomático. Vdar, embora amisto
samente, questiona bveUe - historiador
de temas tão heterodoxos como a morte e
a festa-se não seria muito mais proveitoso
interessar-se pelos processos de tomada de
ronsciência entre as massas. Ainda mais
que VoveUe se dizia marxista!
3
O fato talvez revele o desconhecimento
de Vdar do "paradigma conjecturai"-um
método discutido e batizado por Gin7hurg.
Estudiosos tão diversos como Morelli -
voltado para a história da arte -, Arthur
Conan Doyle-autorde célebres romances
policiais-e Freud-criador da psicanálise
- foram adeptos desse método. Devia-se,
de acordo com esse método, que se revelou
de fundamental importãncia para as ciên
cias humanas, atentar, não para as caracte
rísticas mais aparentes, mas para os deta
lhes secundários, aspectos aparentemente
insignificantes, capazes de fornecer as vias
de acesso a uma realidade mais profunda,
inatingível de outra forma.
14
Muitos autores consideraram a festa co
mo uma válvula de escape para as tensões
do cotidiano, pemútida, controlada e esti
mulada pelos grupos dominantes. Consti
tuir-se-ia, em última instância, em um re
curso utilizado pelo poder para a manipu
lação e o reforço da ordem vigente, capita
lizando em proveito próprio os excessos
nela manifestados. Esta é, porém, uma
perspectiva simplista, unidimensional, que
elide a complexidade dessa forma de ex
pressão, de grande riqueza para o descor
tino das atitudes, valores e comportamen
tos dos diversos grupos sociais. A festa se
const.itui num palco onde a dialética domi
nação/resistência marca sua presença, pos
sibilitando ao historiador, munido do mé
todo acima, alcançar a essência de signifi
cados sociais por vezes inacessíveis atra
vés de outros caminhos.
t5
Micbel bveUe concorda com esta po
sição, ao afirmar ser a festa um maravilho
so campo de observação para o historiador:
momento de verdade em que um grupo
ou uma coletividade projeta simbolica
mente sua representação de mundo, e
até filtra metaforicamente todas as suas
tensões.t6
Também para Natalie Oavis a festa pos
sivelmente se constitui no
elelnento fundamental da vida coletiva,
porque exprime com marcante intensi
dade as dimensões dos papéis sociais e
o confronto dos simbolos que eles "sig
nificam".
l?
Mikhail Bakhtin, no seu belíssimo tra
balhosobre Rabelais, fazemergircom toda
a força a cultura cômica popular da Idade
Média e do Renascimento, que, para o
autor, é fundamental na determinação do
conjunto de seu sistema de imagens. Em
bora Bakhtin focalire essencialmente o pe
ríodo histórico citado, faz algumas genera
lizações que o extrapolam.
Assim, refere-se às festividades como
uma forma primordial, marcante, da civi
lização humana. Discorda daqueles que as
explicam como um produto das condições
e finalidades práticas do trabalho coletivo
ou como um produto da necessidade bio
lógica (fisiológica) do descanso periódico.
Para ele as festas tiveram sempre um sen
tido profundo, exprimindo uma concepção
de mundo, vinculando-se ao mundo dos
ideais.
18
Sob o regime feudal na Idade Média, a
relação da festa com os fins superiores da
existência humana - a ressurreição e a
renovação - alcançava sua plenitude e sua
pureza 110 carnaval e em outras festas po
pulares e públicas. Nestas circunstãncias,
a festa convertia-se na segunda vida do
povo, o qual penetrava temporariamente
no reino utópico da universalidade, liber
dade e abundância.
Estabeleciam-se na ocasião entre os in
divíduos, separados por barreiras intrans-
5. ..
48 ESTUDOS HISTóRICOS-199m
poníveis na vida cotidiana, relações novas
verdadeimmente humanas. Desaparecia,
provisoriamente, a alienação.
19
As festas oficiais se revelavam total
mente opostas a este quadro. Contribuíam,
• • •
apenas, para sancionar o regIme em vigor,
para fortificá-lo. Olhavam para trás, para o
passado, confinnando a ordem social pre
sente. As distinções hierárquicas destaca
vam-se intencionalmente, sendo finalida
de destas festas a consagração da desigual
dade, ao contrário do carnaval em que
todos eram iguais.
2°
A festa revolucionária, visando COffiO
lidar na população a memória da Revolu
ção de seus heróis, tem seu ponto alto no
século XIX. Comemorativa de um aconte
cimento que assinala a instauração de um
novo tempo, tem como preocupação, atra
vés de seus símbolos e ritos, transmitir a
mensagem de que a Revolução chegou a
tenno, buscando garantir coesão social à
-
naçao.
Reviver uma história remanipulada, re
ajustada, reprimida; inventar uma nova sa
crnlidade - o culto cívico em substituição
à antiga religião -são alguns dos objetivos
deste tipo de festa. Segundo Mona Ozouf,
historiadora que com sua fina sensibilida
de desvenda inúmeros significados de fes
ta revolucionária, esta '101era mal a mu
dança", esforçando-se por neutralizá-Ia em
rito.
21
As festas religiosas, as execuções públi
cas com seu teatro de controle e o contra
teatro da multidão, são algumas outras mo
dalidades de festa que empolgavam a po
pulação e que passaram a se constituir em
objeto da atenção dos historiadores. Estes,
através da inventividade na busca de fontes
e na utilização de métodos refinados, têm
conseguido recuperar significativas infor
mações acerca da cultura dos diferentes
grupos sociais, dos conflitos e das fonoas
de interpenetração cultural aí presentes.
3. A originalidade da América
Latina
Após este intróito, que consideramos
fundamental, chegamos enfim à América
Latina, teatro desta abordagem, na qual por
largo tempo buscou-se analisar a participa
ção e organização dos trabalhadores, se
gundo o modelo europeu. As especificida
des do contexto latino-americano vinham
sendo vistas de fonoa negativa. Atribuía-se
aos populares de Sllas diferentes regiões
características de passividade, inação, oque
teria impedido a fonnação de conheci
mentos novos e positivos a seu respeito.
22
Nenhuma preocupação se fez sentir so
bre o conteúdo de classe das reivindicações
populares expressas através de movimen
tos aparentemente "apolílicos". Citam-se,
entre eles, os quebra-quebras de transportes
coletivos, os saques de lojas e annazéns de
gêneros de primeira necessidade e os mo
tins derivados dos motivos mais diversos.
Ocorre, igualmente, que a situação de ten
são e insatisfação destes segmentos tam
bém pode expressar-se em fonnas de resis
tência cotidiana, por vezes comedida, por
outras carnavalesca. O deboche, a paródia,
o teatro, a inversão, são algumas das ex
pressões através das quais os populares tor
nam explícita sua consciência da relativida
de das verdades e das autoridades no poder.
Os populares da América Latina, cientes
de sua marginalidade e das dificuldades na
superação desta condição, como uma de
suas opções preferenciais, investiram sua
energia nestas fonnas algo metafóricas. Va
lendo.>;e de fonoas alternativas de organi
zação, ocorre sua intensa participação em
grandes festas como o carnaval e festivida
des religiosas nas quais a carnaval�ção
também está presente - dentre elas, a de
Nossa Senhora de Guadalupe no México e
a de Nossa Senhora da Penha no Brasil.
Nas áreas de predominância indígena a
dramatização da conquista é um dos even-
6. oDRAMADA CONQULSTANA FESTA 49
tos mais freqüentados, até nossos dias. Em
bora o conteúdo indígena se ache impreg
nado de influências espanholas,muitos dos
fatos históricos apresentam-se modifica
dos,invertidos,sinalizando claramente em
direção a uma fomla de resistência.
Considerando a sua originalidade e ri
queza simbólica, decidimo-nos pelo enfo
que desse tipo de manifestação, na qual a
tragédia indígena é o espetáculo. O fenô
meno da conquista,marcado pelo cboque
entre dllas culturas distintas, uma delas
pretendendo a destruição da outra,é reme
morado anualmente,deixando entrever, de
fOffil3 significativa, a visão do indígena
sobre o acontecimento. Esta representa
ção,por si SÓ, constitui um testemunho do
fracasso daquele objetivo.
4. O drama: a versão popular
da conquista
Até os dias atuais, os indígenas do Peru,
Guatefll3la e México encenam peças tea
trais contendo recitaçÕes,cantos e danças
sobre o tefll3 da conquista. Estas peças
constituem-se em fontes,não apenas para
deslindar a intelPretação indígena da con
quista, mas também para avaliar suas for
mas de resistência; ainda, para tentar ex
trair elementos acerca da visão destes gru
pos ante a dominação num sentido mais
amplo, sem esquecer o contato que oos
proporcionam com a sua riqueza simbóli
ca. As peças apresentam alguma influência
hispânica, em quantidade variável, reve
lando a circularidade cultural; existemver
sões emque esta presença dificilmente será
identificada.
Estas obras foram transmitidas oral
mente,remontando ao século XVI. Desde
então o tefll3 já constava do teatro indíge
na, segundo o testemunho de Las Casas.
Sua transcrição data apenas do século XIX.
No Peru e na Bolívia temos a "Tragédia da
morte de Atabualpa"; na Guatemala, a
uDança da conquista"� e, no México, a
"Dança das plumas" e a "Grande conquis
ta". Todas elas, por sua vez, apresentam
variaçôes regionais. Sua representação, via
de regra, ocorre por ocasião das festas
cristãs; apenas em Oruro também durante
o carnaval ela é levada a efeito.
23
Decidimo-nos pela apresentação fll3is
ponnenorizada do exemplo peruanolboli
viano,apontando nos demais os traços que
mais sobressaem. A exibição do drama é
feita na praça central para Ufll3 multidão de
espectadores, que são mantidos à distância
por dois jovens portadores de máscaras
diabólicas e affil3dos com tridentes. O
acompanhamento musical é feito por ins
trumentos indígenas, (Jautas e pequenos
tambores. Os atores dividem-se em dois
grupos: os indígenas e, à Ufll3 distância
aproximada de vinte metros, os espanhóis.
Os indígenas usam fantasias. Aqueles que
fazem o papel de espanhóis llsam capace
tes semelhantes aos do tempo da conquista
e annaduras da época da independência,ou
unifonnes do exército atual; estão affil3dos
de sabres,bastôes e fuzis de caça.
Na Guatemala,é exaltada,numa parte
do drafll3, a atuação deTecum Uman, herói
nacional que liderou a resistência aos espa
nhóis. Todos llsam máscaras,sendo que as
máscarns indígenas trazem um sorrlso,en
quanto as espanholas,com longos narizes,
têm um semblante fecbado. Os atores
usam fantasias e adereços fll3is trabalha
dos do que aqueles do Peru. A popularida
de desta manifestação é tafll3nha que con
tribuiu para o crescimento de um ativo
artesanato no país. Confeccionam-se tra
jes, máscaras e outros acessórios em ofici
nas especializadas. Desenvolve-se, igual
mente, um comércio bastante intenso.
No Peru, a variação fll3is rica e expres
siva da visão indígena sobre a conquista é
a que apresentamos abaixo, que resume a
primeira parte da''Tragédiade Atabualpa":
7. ,
•
50 ESllJOOSHISTóRICOS- 199V1
A ação COlllC"" com o anúncio de uma
ameaça. Atabualpa relata às nustas24
um sonho que o inquietou: durante dllas
noites seguidas viu o Sol, seu pai, c0-
berto por uma fumaça negra, enquanto
o céu e a montanha queimavam oomo a
plumagem do pi/JaJ;'15 uma buaca26
anunciava-lhe um acontecimento tem
vel: a cbegada de guerreiros vestidos de
ferro, vindos para destruir seu reino. A
princesa Qhora Chinpu sugere-lhe pe
dir ao grande sacerdote que interprete
seu sonho: confrnnando-se o presságio
funesto, deve reunir seus guerreiros pa
ra rechaçar aos invasores.
Atabualpa ordena ao adivinho HuayUa
Huisa que vá donoir em sua habitação
de ouro para interpretar o sonho. En
quanto isso, o Inca evoca seus antepas
sados: Manco Capac, filho do Sol e
Viracoeha, que pela primeira vez anun
ciou a vinda de homens barbudos. Jura
derramar lagos de sangue para expulsar
os inimigos. Ao voltar HuaylJa Huisa
confinna o perigo: sonhou que vinham
homens barbudos pelo mar, sobre em
barcaçóes de ferro. O Inca ordena-lhe
que observe o horizonte. O adivinho
olha em todas as direções, porém nada
descobre e decide donnir de novo. in
tervém então o coro, que anuncia a che
gada dos i nimigos (pelo mar).
Sucedem-se episódios complexos:
HuayUa Huisa, dificilmente desperta
do, volta a dormir. Desperta-{) pela se
gunda vez, com maior dificuldade
todavia, Kishkis (depois de esforços
vãos do coro e de outros personagens).
O adivinho confirma a cbegada dos h0-
mens barbudos e os descreve minucio
samente expressando, por sua vez, seu
terror e sua estupefação. Porém o Inca
tem todavia esperança.
Certos temas, ou mesmo detalhes, re
cordam fatos presentes nas C1Ônicas sobre
a conquista. Em primeiro plano destacam-
se os temveis presságios, que antecederam
à chegada dos espanhóis, anunciando uma
catástrofe iminente. Aqui estes manifes
tam-se no sonho deAtahualpa: o Sol, Deus
Supremo, apresentava-se envolto em fu
maça, o céu e as montanhas em chamas!
OImprir-se-ia a predição do antepassa
do V1f3coeha, Deus criador e civilizador?
Homens desconhecidos viriam destruir o
Império? O sonho do Inca é confinnado
pelo adivinho. Homens estranhos estão
chegando: barbudos, vestidos de ferro, sin
gramo marem grandes embarcaçóes, tam
bém de ferro, como de ferro são as fundas
que carregam e que, ao invés de pedras,
lançam fogo.
O detalhe na descrição da aparenciados
espanhóis é outro dado presente em todas
as CrôniClS e é revelador de um dos ma;o
res abalos dos indígenas. Nunca haviam se
deparado com seres tão bizarros! Alguns,
como Huáscar, innão e rival deAtabualpa
na disputa pelo poder, consideraram-DOS
deuses. Armai, tenninada a sua obra civi
lizadora, Viracocha retirara-se, andando
pelo mar, na direção oeste. Mas prolnetera
voltar. O mito é alimentado por alguns
sacerdotes que o cercavam. Em situação de
inferioridade ante seu rival, Huáscar reani
ma-se. Ainda mais que a imagem de V1f3-
coeha, existente num templo em sua honra,
era a de um homem de elevada estatura,
barbudo, vestido com uma longa túnica.
Este não era porém ocaso deAtabualpa.
Ele não teria chegado a aCleditar que os
espanhóis fossem dellses e, como se veri
fica no trecho da peça acima, ficara preo
cupado. Na sociedade inca, porém, a p0-
tência na guerra era avaliada pelo número
de homens.A desproporção entre o núme
ro de guerreiros incas e espanhóis era
imensa. Além disso, havia o rumor de que
os cavalos perdiam a efICácia durante a
noite. Daí, talvez, a referência no citado
trecho à esperança do Inca?'
Na"Dança da conquista" guatemalteca,
hem como na "Dança das plumas" mexi-
8. o DRAMADA mNQUlSTA NA FESTA 51
cana, também ocorrem os sonhos premo
nitórios. Na primeira, o velho rei Quicbé
mostra grande temor, após sonhar com a
sua própria morte que se seguiriaà chegada
de homeM com armas mágiCls, Seus fi
lhos recomendam a resistêllCia, da qual se
encarregará Terum. Quicbé confia seu es
tandarte a Tecum, que recebe o apoio dos
demais caciques e promete vencer os espa
nhóis. Thcum, por sua vez, terá um sonho
inquietante, na véspera do combate. Uma
pomba a serviço dos espanhóis vence o seu
exército; ele se vê levado três vezes pelos
ares, cai as três vezes, e seu coração cinde
se em duas partes sangrentas.
O espanto com relaçãt> aos espanhóis
apresenta-se aqui muito atenuado, mani
festando-se em duas curtas passageM. Na
primeira, esse espanto fica explicitado
quando é dito que os príncipes, filbos de
Quicbé, Uas.�ombram-se ante seu estranho
semblante". Na outra, é evidenciado o me
do experimentado por Quicbé com relação
ao raio dos ufilhos do sol", ou seja às suas
armas. Através dessa expressão, verifica
se que os consideram deuses.
Na "Dança das plumas", Montezuma
sonha com alguM dos presságios contidos
em documentos mexicanos do século XVI
que se referem à conquista: "as águas cres
cem e se elevam até o céu; uma estrela
desconhecida brilha durante a manhã; uma
águia tenta penetrar no palácio". Os seus
vass.alos advertem-no de que ua tem, a
áglla, o céu e os astros anuociam o fim do
seu Império". Montezuma, porém, armna
que não perdeu a esJl:'rança e diz ter o
mundo em seu poder.
A utilização do sonho como veículo
para previsão dos acontecill-.zntos, uma
coMtante nesses dramas, não revela gran
de distAocia da concepção junguiana; se
gundo]ung, os sonhos possuem umaspec
to prospectivo, ''uma antecipação incons
ciente da realização consciente futura".
Podem não presoagiar ou desafiar, mas
resumiras tarefas neressáriasiara o preen
chimento de uma condição.2
Ressalta-se, também, a presença de ele
mentos de fundamental importância para
tais grupos: os simbolos e os mitos, estes
últimos expressões de formas de vida, de
estruturas de existêocia, ou seja, de parâ
metros que permitem ao home.n inserir- se
na realidade. Deles se utilizam na decifra
ção dos mistérios do mundo, o que lhes
permite a leitura de sua realidade social.
Dessa forma, apoderam-se de seu ambien
te natural e social, sentindo-se parte inte
grante deste mundo. Nas sociedades pré
industrializadas o mito é, portanto, uma
realidade viva e infIuellCiadora do compor
tamento individual e coletivo.
Na segunda parte da ''Tragédia de Ata
hualpa":
Celebram-se ellCOntros preliminares
entre índios e espanhóis. Uma primeira
entrevista reúne HuayUa Huisa e Alrna
gro. O sacerdote pergunta a este último
por que os home.lS barlJUdos invadem o
pa�. Como resposta, Almagro sómove
os lábios. Felipillo traduz estas palavras
silenciosas e declara que os espanhóis,
enviados pelo Senhor mais poderoso da
terra, vieram em busca de ouro e prata.
Aparece então o padre Valverde, que o
interrompe: os espanhóis vieram para
dar a conhecer o verdadeiro Deus. Fi
nalmente, Alrnagro entrega ao adivinho
uma carta para Atahualpa.
Desenvolve-se, a partir daí, uma longa
série de episódios, rujo único tema é a
estupefação e a incompwensão dos ín
dios ante a misteriosa "Colha de milho"
que Alrnagro envia ao Inca. A carta
ci/CUla de mão em mão, porém ninguém
pode decifrar sua mudamellS3gem. Fra
cassam sucessivamente Atahua·lpa,
HuayUa Huisa, e alguns dos seus gene
rais como ChallkLochima e Kishkis. Por
9. 52 F.S1UJX)S HIST'ÓRIa:>s-199m
ordem do Inca, Huaylla Huisa cai nova
mente em sono profundo.
Um último encontro preliminar reúne
Sairi Túpaj e Pizam>. Atabualpa confia
a seu emissário os emblemas reais (fun
da, acha e serpentes de ouro). Sairi Tú
paj ameaça Pizam> e o intima a deixar
o país. Pizarro "só move os lábios";
Felipillo traduz que os espanhóis vie
ram para levarAtahualpa, ousua cabeça
ao Rei de Espanha. Sairi Túpaj não
compreende e sugere a Pizam> que ele
mesmo fale a Atabualpa. Depois de Sai
ri Túpaj retomar ao palácio, Atahualpa
decide reunir seus guerreiros a fim de
expulsar os invasores.
30
Um aspecto fundamental, apresentado
neste trecho, re(ere-se à barreira na comu
nicação entre elementos de culturas tão
díspares. Tal fato é simbolizado, através
das respostas mudas dos espanhóis aos
questionamentos dos Ú1dios, na qual aque
les limitam-se a "mover os lábios". No
episódio da carta, a "folha de milho" que
passa de mão em mão, também fica sim
bolizado esse fato. O choque das culturas
também manifesta-se na falta de com
preensão do emissário de Atahualpa em
relação à pretensão dos espanhóisde"levar
Atahualpa, ou sua cabeça, ao Rei de Espa
nha". O Inca era, aos olhos de seus súditos,
o todo poderoso Filho do Sol, principal
intermediário entre deuses e homens, nu
ma posição superior inclusive à do Grande
Sacerdote. Uma presunção desta natureza
se afigurava impensável!
A cobiça dos espanhóis, tão marcante
na conquista, é expressa pela resposta de
Almagro de que a razão da invasão do país
era a busca de ouro e prata. O padre Val
verde reage, sintomaticamente, a esta res
posta. lntem>mpe Almagro dizendo que os
espanhóis vieram, na verdade, para fazer
conhecer aos indígenas o verdadeiro Deus.
.. Tal afinnação levada a efeito de fonna
arrogante denota a percepção dos indíge-
nas quanto ao autoritarismo da Igreja na
sua pretensão de evangelizar as massas.
Por outro lado, a resposta de Almagro de
monstra a denúncia do índio ante à rapina
cometida pelos espanhóis na sua ânsia de
rique7JIs. Aliás, esta visão do comporta
mento dos conquistadores ante à presença
de riquezas pode ser constatada em outros
depoimentos: "Como se fossem macacos,
levantavam o ouro, faziam trejeitos de sa
tisfação, era como se lhes renovasse e se
lhes iluminasse o coração". De deuses pas
sam a ser vistos como animaisl
3!
Uma nota a acrescentar diz respeito à
simetria no relacionamento dos incas com
os espanhóis. futo na atitude do sacerdote
ao questionar Almagro sobre a invasão,
como na intimação de Sairi Túpaj a Pizam>
para abandonar o país, fica claro, na repre
sentação do drama, que os indígenas não
se subestimavam ante o invasor.
Finalmente, na última parte da "Tragé
dia de Atabualpa", ocorre:
a irrupção de Pizam> no palácio de Ata
hualpa (em Oruro e Toco, os espanhóis
se precipitam disparando suas armas de
fogo). O Inca resiste e ameaça Pizarro.
Este, movendo sempre os lábios (e tra
duzido por Felipillo), intima o Inca para
que o siga até Barcelona. Atahualpa
muda bruscamente de atitude e se ren
de: os espanhóis lhe atam as mãos e o
coro lamenta asua sorte. Atabualpa ofe
rece a Pizam> ouro e prata, numa quan
tidade que cubra a planicie até o limite
do tiro de sua funda. Pizarro exige que
se recubra toda a planície. Atahualpa
indigna-se, porém logo aceita tudo
quanto se lhe exige e suplica que não se
lhe tire a vida. Pizam> recusa.
A tragédia alcança seu ponto culminan
te. Atahualpa despede-se dos seus, lega
seus emblemas reais às princesas e seus
dignitários. Seu filho Inlcaj Churin quer
morrer com ele; Atahualpa o fazprome
ter que se retirará para Vilcabamba com
10. o DIlAMA DACONQU1STA NA FESTA 53
seus fiéis e não reconhecerá a domina
ção espanhola; um dia, seus descen
dentes pers eguirão os inimigos
barbudosrecordando que este país foi o
de Atabualpa, seu pai e único Senhor.
Atabualpa volta-se conb'a Pizarro e lan
ça-lheuma maldição: ficará eternamen
te mancbado porseu sangue e os súditos
do Inca jamais o respeitarão. O padre
Valverde exorta Atabualpa para que
aceite o batismo e confesse seus peca
dos. O Inca não compiOende. O padre
Valverde apresenta-lhe a Bíblia; "Não
me diz absolutamente nada", dizAta
bualpa. O padre Valverde o amsa de
blasfemo e exige seu C3stigo, porém lhe
administra a extrema-unção. Pizarro
atravessaAtabualpa com sua espada.
Seguem-se lamentações do coro e dos
súditos do Inca: o mundo inteiro parti
cipa na morte deAtabualpa. O coro, por
sua vez, lança uma maldição contra Pi-
13rro.A cena final reúne o Rei de Espa
nha e Pizallo: este oferece ao seu
soberano a cabeça e o [IourudeAtabual
pa. O Rei de Espanha se indigna com o
crime, elogia o Inca e anuncia que Pi-
13rro será castigado. Este maldiz sua
espada e o dia que o viu nascer. Logo
cai por terra morto.
Alguns dos temas aqui se repetem e,
lIlesmo, se acentuaOLA incomunicabilida
de entre índios e espanhóis, símbolo do
abismo entre as dllas culturas, está presente
no jogo cênico do movimento dos lábios
realizado por Pizarro, como também no
episódio da Bíblia.
Aliás, esta cena corresponde ao evento
bistórico de Cajamarca, durante a entrevis
ta entre Pizarro e Atabualpa. Segundo ou
tras fontes, ao lbe ser proposta a religião
C3tólica, Atabualpa rtalsa enfaticamente,
alegando "que a sua é muito boa e se dava
muito bem com ela"; além disso, "Jesus
Cristo estava morto, mas o sol e a lua não
morriam". Ao lbe ser entregue a Bíblia
como reveladora dos segredos da criação
do mundo, Atabualpa "pegou-a, abriu-a,
olbou-a de todos os lados e a folbeou".
Dizendo queo livro nada lhe falava,jogou
o no chão. O Padre Vicente, como ocorre
no trecho acima, exige vingança. Esta não
se fez demorar, e o Inca termina por ser
preso.32
A cobiça dos espanhóis tem, igualmen
te, espaço privilegiado no espisódio do
resgate. O seu valor teria sido fabuloso,
conforme muitos bistoriadores o atestam.
Duas das principais fontes da extrema vio
lência do conquistador, a intolerãncia pela
religião do outroe a ambição desenfreada,
são aqui desnudadas?3
Aatitude digna deAtabualpa, sem qual
quer b'açode submissão mesmo nos piores
momentos, é outro aspecto que extravasa
da representação. Pode-se verificá-lo atra
vés de alguns episódios como a exortação
a seu filbo para resistir aos espanhóis; a
rnaldição que lança a Pizarro e a sua rejei
ção lBíblia,já mencionada. lãl atitude não
teria se distanciado da realidade, contra
pondo-se à de Montezuma. Este teria se
mostrado besitante e subserviente, não
opondo resistência a Cortez.34
O alcance cósmiCo do assassinato do
Inca também fica insinuado no drama em
foco. O Império desmoronou, uma vez que
ele assegurava a barmonia universal. O fi
lho do Sol "protegia seus súditos com sua
sombra, fazia falar as montanhas e seu s0-
pro punha o mundo em movimento". Per
deram aqueles s"as referências, lamentan
do o terrfvel acontecimento que desestrutu
rara sllasvidas. Sóo retornodo loca poderá
devolver 80 mundo a barmonia perdida.
Wacbtel informa que, na variante do
drama em Oruro, o coro roga pela ressur
reição do Inca. Em La Paz a representação
frnaliza com a ressurreição e o triunfo de
Atabualpa. Wachtel sugere que o castigo
de Pizarro simbolizaria a expulsão dos es
panhóis anunciada por Atahualpa. Desse
conjunto depreende que um messianismo
11. ,
•
54 ES'IUDOS IOSTÓRlCDS-1991/9
acha-se esboçado na tragédia. Menciona
uma possível associação dessa manifesta
ção com o mito conente entre os índios do
Peru e da Bolívia de que, depois da morte
deAtahualpa, sua cabeça é cortada, levada
a Cuzco e enterrada. Soh a terra, cresce um
corpo; quando estiver inteiramente recons
tituído, o Inca surgirá, a dominação estran
geira terá fim, e será restaurado o antigo
Império?5
A "Dança da conquista" na Guatemala
revela, ao contrário da versão acima foca
lizada, forte influência espanhola, embora
parcialmente conserve a tradição indígena.
Esta tradição está presente no momentoem
que dois emissários deAlvarado exigem de
Tecum o seu batismo, ameaçando-<l com a
perda do seu reino. Tecum indignado ex
pulsa� violentamente, afinnando ser o
rei Dom Carlos algum louco delirante. A
loucura é um tema presente na cultura in
dígena da região, encontrada no Chilam
Balam que expressa a tradição dos maias
do Yucatán. A infelicidade que assolou o
mundo deve-se à loucura dos espanhóis,
segundo esta obra.36
Na batalha decisiva, Tecum, depois de
alçar VÔO duas vezes, tenta cortar a cabeça
deA1varado, apenas conseguindodenubar
seu cavalo; o espanhol disto se aproveita e
o mata, concretizando-se as previsões oní
ricas de Tecum. Este último fato, igual
mente, coincide com as crônicas indíge
nas?7
Porém, em seguida, toda a atmosfera
muda. Zunum, sucessor de Tecum, detém
o combate e decide receber o batismo;
todos os índios seguem seu exemplo. Os
espanhóis dirigem-se a Utatlán, onde o rei
Quiché recebe-<>s com humildade.Estede
clara-se vassalo do rei de Espanha, narran
do que se lhe apareceu o Espírito Santo em
sonhos sob a fonna de uma pomba. Os
antigos adversários confratemizam e os
fudios recebem o batismo.A peça fUlaliza
com louvações aos santos e à Virgem Ma-
•
na.
A tradição indígena está presente, ape
nas, até a morte de Tecum. Em seguida a
este acontecimento, modifica-se totalmen
te o espírito da obra, que passa a integrar o
aporte espanhol. Apesar disso, atualmente,
os fudios tem outra leitura; interpretam-na
como bomenagem à heróica resistência de
Tecum e não como uma glorificação do
cristianismo. As palavras de um "mestre"
guardião destas tradições traduzem esta
percepção:
A conquista recorda que as bostes espa
nholas, não mais fortes, porém melhor
armadas... não tiveram outra missão se
não destruir, para aumentar osdomínios
de sua pátria e os vassalos de seu rei...
E sem saber-se desde quando, anual
mente representa-se a conquista do Rei
no Quiché, como um merecido tributo
à resistência que os antepassados fize
ram ao invasor.38
Já a "Dança das plumas" mexicana ca
racteriza-se poruma total inversão da reali
dade. MonteZllma, que se mostrou de enor
me fraqueza ante os espanhóis, manifesta
se destemido. Reage com determinação às
propostas insólitasdos espanhóis, enquanto
estes são humildes e bajuladores como po
demos verificar no episódio abaixo.
A1varado, levado à presença de Monte
zum., beija seus pés e este o faz sentar à
sua direita. Ao transmitir a mensagem de
Cortez, que exige o seu batismo, Montezu
ma muda bruseamente de atitude e expulsa
A1varado. Cortez, informado do resultado
da missão, prepara-se para o combate.
Montezuma decide enviar um embaixador
oferecendo ouro e prata aos espanhóis em
troca de sua retirada. Cortez, por sua vez,
rechaça-<l violentamente.
Finalmente, MonteZllma e Cortez en
contram-se. Depois de questionado, Cor
tez desmente ter-lhe exigido o batismo.
Montezuma indigna-se e o ameaça: "Pre
tendes que meus deuses são falsos? Até
12. o DRAMA DA CONQUISTA NA FESTA 55
onde chega a tua insolência!" Inicia-se a
batalha. Cortez é vencido e se rende. Mon
tezuma o encarcera,porém recomendaque
seja tratado com respeito. Cortez reconhe
ce sua loucura e deseja a morte. Porém
Montezuma o indulta e é liberado. Cortez
agradece o gesto de Montezuma e lhe su
plica o seu perdão?9
Realmente, temos a conquista do Méxi
co pelo avesso, recurso muito presente na
cultura popular. Aqui, porém, não aparece
a irreverência que também lhe é típica. O
resultado é a reconciliação entre índios e
espanhóis, sob a superioridade indígena.
Justamente, o inverso da realidade. Embo
ra os fatos históricos aí estejam presentes,
estes são recriados, segundo uma outra
lógica. A "Dança das plumas", uma das
variaÇÕes do drama relativo à conquista do
México, revela-se o oposto da "Tragédia
de Atahualpa". Nesta, como vimos, predo
mina a hostilidade entre fudios e espanhóis
e, ao final, observa-se uma situação de
inferioridade indígena, embora prefigu
rando uma vitória posterior de Atahualpa.
A inversão aqui presente significaria uma
forma simbólica dos indígenas se compen
sarem do comportamento submisso de
Monteruma? Estecomportamento foi con
siderado inexplicável por alguns dos cro
nistas e outros testemunhos espanhóis do
momento, e constrangedor para os ú,dios.
A fragilidade demonstrada por Monte
ruma frente aos espanhóis, conJO se prefe
risse não usar seu imenso poder, é assim
comentada por Gomara, capelão e biógra
fo de Cortez:
Nossos espanhóis nunca puderam saber
a verdade, porque na época não com
preendiam a lingua, e, depois, já não
vivia nenhuma pessoa com quem Mon
tezuma pudesse ter compartilhado seu
segredo.
Em alguns momentos o despreza:
Montezuma deve ter sido um homem
fraco e de pouca coragem, para ter se
deixado prender assim e, mais tarde,
preso, por nunca ter tentado fugir, mes
mo quando Cortez lhe oferecia a liber
dade e seus próprios h omens
suplicavam que a aceiCaS5e.
Conclui que este:
ou era muito sábio, passando pelas coi
sas assim, ou tão néscio que não as
sentia.40
Na verdade, os signos pnderiam em
muito ter contribuído para tal comporta
mento, na medida em que talvez tenham
juslificado um certo fatalismo por parte
dos indígenas. Embora, em face dos des
mandos dos espanhóis, grande parte dos
dirigentes astecas tenham passado a pregar
e a travar uma luta encarniçada com os
invasores, cbamando-os de bárbaros, der
rubando-os do pedestal de deuse�. E este
sentimento se manteria, através dos tem
pos, perpetuando-se na sua memória. A tal
ponto que, ainda hoje, assiste-se a uma
representação em que Montezuma é mos
trado como um herói a�errido e Cortez
aparece servil e inglório. 1
5. Considerações finais
A manutenção pelos indígenas de gran
de parte de Sllas tradições, entre elas as
representaÇÕes por nós focalizadas, cons
titui-se em algo digno de nota. Vivendo na
área correspondente aos grandes impérios
pré-colombianos, os indígenas sofreram,
da parte dos espanhóis, um controle que
estes pretendiam total, no qual a violência
foi a tônica. A reação a esta dominação
fez-se se)ltir de múltiplas formas; não ape
nas através de revoltas, mas também de
13. ,
56 ESnmos HlSTóRlCXlS- 1!>921'l
outros tipos de resistência. Em grande me
dida, os indígenas faziamdas aÇÕC5 rituais,
das representações, das leis que lhes eram
impostas, algo diverso do que o conquista
dorpensava obter. Eles as subvertiam, não
rejeitando-as ou mudando-as, mas utili
zando-as com fins e em função de influên
cias estranhas ao sistema do qual não po-
d· fu ' 4213m glf.
Na aparência, aceitavam as normas im
postas pelo colonizador, masna intimidade
do seu cotidiano mantinham seus valores,
suas práticas, crenças. Dessa forma, obser
va-se a persistência significativa de sua
cultura, entremeada por elementos de ori
gem hispânica, configurando uma inter
pretação cultural. A presença até os dias
atuais destas dramatizações configura este
fato, assim como a eficácia da resistência,
levada a afeito por aqueles segmentos.
Wachtel considera que esta presença
revela o trauma provocado pela conquista,
cujos efeitos se fazem sentir sobre os ín
dios até hoje. Tal acontecimento estaria
ínscrito profundamente em suas estruturas
mentais, constituindo-se num vestígio do
passado no presente.43
Este autor parece conceber o fato de
modo tradicional, vendo tais manifesta
çóes como relíquias. Na verdade, a persis
tência dos acontecimentos da conquista na
memória popular não exclui o fato de que
os seus sig.úficados foram sendo atualiza
dos em função das mudanças no contexto
mais amplo; pois qualquer que seja a ori
gem e o seu simbolismo manifesto, este é
adaptado para um novo fim.
Deve-se destacar a organização criada
pelos populares com vistas à realização
desta manifestação. Tal fato sobressai ao
lembrarmos que os indígenas nestes países
ocupam o degrau mais baixo da escala
social, numa posição equivalente aos ne
gros no Brasil. Na Guatemala a tradição é
conservada por um "mestre" de muito
prestígio que possui um ou vários manus
critos, e cuja funçao, geralmente, passa de
pai para filho. Cabe-lhe ensinar a repre
sentação aos atores; decidida a encenação
pelos habitantes de uma determinada loca
lidade, estes chamam-no e retribuem seus
serviços. Pagam-lhe as aulas e o aluguel
das fantasias. A função de organizador da
encenação, por outro lado, implica nume
rosos gastos: a hospedagem do "mestre" a
rcalizaç.ão em sua casa dos ensaios e o
fornecimento de bebida e alimento para os
. . 44
partIcIpantes.
O espetáculo se constitui numa fonte de
significativa importância para detetar a vi
são dos popularessobre os acontecimentos
e personagens da conquista, em que pese a
influência espanhola que modificou mais
intensamente o texto de algumas versões.
De qnalquer forma, através de um cotejo
com outras fontes, podemos realizar uma
decantação das respectivas matrizes.
Emerge destes textos uma atitude deadmi
ração e respeitocom relação aos soberanos
indígenas. Estes são dignos, firmes, na sua
rejeiçao às exigências dos conquistadores.
Recusam com vccmência a imposição da
religião cristã, sempre defendendo as sllas
crenças, ao preço de suas vidas. AlguM
deles têm sua postura confirmada por ou
tros documentos. Tal é ocasode Atahualpa
e de Tecum. No tocante a Montezuma,
como já vimos, é realizada, numa das ver
sões, uma invers.'io total no que tange ao
seu comportamento ante os espanhóis.
Apenas um deles, o rei Quiché na Guate
mala, desde o início é apresentado como
temeroso, claudicante. Sintomaticamente,
ao fiml da "Dança da conquista", ocorre
.. . - . . .
sua apoteohca oonversao ao cnsllarusmo,
quando confraterniza com os conquista
dores entoando loas à Virgem Maria. Daí
se pode especular que se pretenda relacio
nar sua conversão à fragilidade por ele
demonstrada.
Em contraposição, os espanhóis são
vistos como arrogantes, arbitrários, opres
sores, ambiciosos e cruéis. A sua avidez
pelo ouro é explicitada de forma até cari-
14. oDRAMA DA CONQUlSTANA FESTA 57
caturnl, particulannente na "Trngédia de
Atabualpa". Na uDança das plumasu, me
xicana, na qual predomina a inversão, estes
aparecem humildes, submissos e até ser
vis, características que outra documenta
ção atribui a Montezuma. Na "Dança da
ronquista", guatemalteca, na qual a in
fluência espanhola parece ser maior, os
espanhóis são amáveis, atenciosos, embo
rn não se desviem do seu proselitismo no
tocante à religião cristã, indo até à guerrn
parn alcançarseu objetivo. Apesardaquela
influência, as máscarns indígenas apresen
tam um sorriso e as espanholas têm longos
narizes e um semblante carregado.
Inúmeros elementos da mitologia e do
simbolismo indígenas são encontrndos
nestes drnmas. Nota-se uma atitude de re
veréncia parn com os antigos deuses. Já os
sacerdotes católicos, de maneirn idêntica
aos demais espanhóis, são representados
como intrnnsigentes, autoritários e cruéis.
Esclarecedor, neste particular, é atentarpa
rn o comportamento do padre Valverde
com relação a Atahualpa. Aliás, um aspec
to importante é o realce dado no drnma à
intolerância religiosa dos conquistadores e
à recusa enérgica dos sobernnos indígenas.
A ênfase neste aspedO sobrepuja as men
ções relativas à excessiva·cobiça dos espa
nhóis. Denotaria este fato a maior sensibi
lidade dos índios aos esforços de extirpa
ção de sua culturn, fator essencial de coe
são e identidade desses grupos?
A internção culturnl está presente em
inúmeru situações. Destaca-se o fato des
tas representações se realizarem em festas
religiosas do calendário católico, das quais
são a principal atrnção. Na Guatemala são
antecedidas por ritos que lembrnm a antiga
religião dos indígenas da região. Durnnte
várias semanas os atores sobem, à meia
noite,aoaltode uma montanha. Ali, pedem
permissão parn encenar o drnma aos espí
ritos dos reis que vivenciarnm a conquista
e aos deuses da montanha. Queimam co
paI, incenso, recitam o antigo calendário
maia, fazem oferendas, acendem velas pa
rn que nada de mal lhes aconteça. Entre
outrns, a presença deelogios aos espanhóis
e ã conversão dos índios, oomo ocorre na.
própria Guatemala, denota esta internção.
Finalmente, importa ressaltarque esta é
uma forma original de expressão dos po
pulares. Nao encontrnmosexemplo similar
na historiogrnfia sobre culturn relativa aos
referidos segmentos, calcada na experiên
cia européia que nos serve de parâmetro.
Acentua-se, assim, a importância de nos
debruçarmos sobre a culturn popular lati
no-americana, tão rica em simbolismos,
em busca de alguém que os decodifique.
Ton13-se necessário, em particular, obser
var sua contextualização, ultrnpassando a
fonna, atentando-se parn as relações reais
que nela se expressam. A culturn dos po
pulares dessa área emgrnnde medidaainda
se mantém virgem, vista como folclore
com todos os aspectos negativos que esta
noção carrega. Poderemos, então, discer
nir se estes indígenas, ao encenar seus
drnmas, pretendem apenas preservara me
mória de seus antepassados, ou então lhes
acrescentando novos significados, trnns
mutando os espanhóis de ontem naqueles
que hoje os oprimem.
Notas
1. Carlo Ginzburg, MiJos, emblema� sinais;
morfologia e h ist6r;a, São Paulo, Campanhia
das Lelras, t989, p. 179.
2. RacheI Soihet, Um ensaio sobre res;stên·
cia e circularidade cuúural: a festa da Penha
(1890-1920), Cadernos do 1CHF n' 31, Niterói,
UFF, ICHF, 1990; Monica Pimenta Velloso,"As
tias baianas tomam conta do pedaço: espaço e
identidade cultural no Rio de Janeiro", Estudos
Históricos nO 6, Rio de Janeiro, Editora da Fun·
dação Getútio Vargas, p. 207-228.
3. Peter Burke, Cultura popular na Idade
Moderno, São Paulo, Companhia das Letras,
15. ,
58
•
FSlUDOSHISTÓRlCXlS -1992}}
1989, p. 25; Oro F.S. Cardoso, A crise da uni·
versidadeocidOlJal, Niterói, UFF, Dep�de His
tória, p. 4 (mimeo).
4. Robert Damton, O grande massacre de
gaJos, Rio de Janeiro, Graal, 1986, p. XIn.
5. Idem, ibidem, p. XV; Jacques Le Gorr,
Refk:xõe.s sob,.. a história, Usboa, Edições 70,
p. 49.
6. Carlo Ginzburg,A micro-hist6ria e outros
ensaios, Usboa, Direi, 1991, 207.
7. Carla Ginzburg, O queijo eos vermes, São
Paulo, Companhia das Letras, 1987, p. 17.
8. Idem, ibidem, p. 21.
9. E.P. Thompson, A formação da classe
operária inglesa, vaI. 1, São Paulo, Paz e Terra,
1987, p. 10.
10. Idem, ibidem. Ver também "Folklore,
antropologia ehistória n, Entrepassados,Ano U,
rP 2, Buenos Aires, 1992, p. n.
11. Idem, ibidem, p. 64.
12. Michel de Certeau, L'invenlion du quoti
dien, Paris, Uniao Générale D'Editions, 1980,
p. 14.
13. Michel bvelle, Ideologias e mentalida
des, São Paulo, Brasiliense, 1987, p. 10.
14. Carla Ginzburg, MÍlos, emblemas, si
nais, p. 144.
15. Georges Balandier é um exemplo de au
tor que assume uma posição desta natureza no
seu trabalho O poder em cena, Brasília, Ed.
Universidade de Brasília, 1982.
16. Michel Vovelle, op.cit., p. 246.
17. Natalie Zemon Davis, Cu/Juras do povo,
São Paulo, Paz e Terra, 1990, p. 87.
18. Mik,hail Bakhtin, A cu/Jura popular na
Idade Média e no RenascimenJo; o conlex/o de
FrançoisRabeiDis, São Paulo, Hudtec/Ed. Uni
versidade de Brasnia, 1987, p. 7.
19. Idem, ibidem, p. 8.
20. Idem, ibidem,.
21. Mona Ozour, "A resta sob a Revolução
Franc(ss" em História: 110.108 objetos, Rio de
Janeiro, Francism Alves, 1976, p. 230.
22. José Alvaro Moisés, Reflexões sobre o
estudo dopopulismo na América Latina, Nite
rói, p. 10 (mimeo).
23. Nathan Wacbtel, Los vencidos; los in
dias dei Perú frente a la conquista espaiiola
(1530-1570), Madrid, Alianza Editorial, p. 63 el
•
passlm.
24. Asnustas são princesas indígenas e com
põem o coro na representação.
25. Trata-se de um pássaro com plumagem
vermelha.
26. fdolo, lugar sagrado.
27. Tais aspectos enoontram.-se mais detalha
dos, enriquecidos rom citaçôes de fontes, no
trabalho de Jorge Luiz Ferreira, Conquista e
colonização daAmérica Espanhola, São Paulo,
Ática, 1992, p. 38.
28. N. Wacblel, op.cit., p. 74,76, 82.
29. Andrew Samuels et aI., Dicionário críti
co de análisejunguiana, Rio de Janeiro, Imago,
1988, p. 208.
30. O texto do drama em fooo enoontra-se na
obra já citada de N. Wacblel à p. 67.
31. O comportamento de Pizarro e seus com
panheiros encontra-se descrito. a partirdefontes
da éJX)C3, em Josetina Oliva de CoII,A resistên
cia indígena, Porto Alegre, LPM, 1986, p. 209.
32. F. Lopez de Gomara, Histoire génirale
deslndes, 1568, apud Ruggiero Romano, Meca
nismos da conquista espanhola, São Paulo,
Perspectiva, 1973, p.77. TambémemJorge Luiz
Ferreira, op.cit., p. 39.
33. Enlre outros, Miguel-Léon Portilla, A
conquista da América Latina vistapelos índios;
relatosastecas, maiase incas, Petrópolis, bzes,
1984. Através de sua obra verifica.-se que várias
fontes referem-se aos referidos aspectos; segun
do OJaunu, o resgate pago por Atabualpa, ao
qual se refere o trecho, equivaleria a meio século
de roda a produçáo européia. Henri Favreafirma
que transformado em moeda atual, chegaria à
cifra de rem milbões de dólares. Tais observa
çôes encontram-se em Jorge Luiz Ferreira,
op.cit., p. 41.
34. Frei Bartolomé de Las Casas acentua a
altivez de Atabualpa frente ao tratamento de que
lhe deu Pizarro em Brevissima relaçdo da da
truição das Indias; o paraíso destruído, Porto
Alegre, LPM, 1984, p.98. No tocante àhesitação
e debilidade de Montezuma ante aos espanhóis,
ver Tzvetan Todorov, A conquista daAINérica;
a questão do outro, São Paulo, Martins Fontes,
1988, p. 54; também, Josefina Oliva de CoII,
op.cit., p. 67.
35. N. Wachlel, op.cit., p. 69.
16. o DRAMADAmNQUlSTA NA FESTA 59
36. O Chilam Balam de Chumayel é uma
obra maia, coostaooo de vári05 1ilTOS com textos
que datam do século XVI, embora tenham sido
transcritos posteriormente.
37. Josefioa O. de CoII transcreve o relato
promenorizado dos feitos de TeClJm, ClJlminan
do com 8 ap(fseotação de sua morte na página
97.
38. Francisoo Javier Garcia, EI baile de la
ClNlql'islll, Quezalleoango, 1934, .püd N. Wa
chiei, op.cit., p. 83.
39. Wachtel, p. 83.
40. T. Todorov, op.cit., p. 55.
•
•
41. Todorov faz um brilhante tratamento do
comportamento de Montezuma, relaciooaodo-o
com os signos próprios à cultura asteca. a partir
da página 61.
.
42. M. de Certeau, op.cit., p. 12.
43. N. Wachtel, op.cit., p. 63.
44. Idem, ibidem, p. 74.
Rachei Soihet é professora do Departamento
de História da UFF.