Pressupostos pedagógicos para História no Ensino Fundamental II
1. 2011
Pressupostos
Filosóficos e
Pedagógicos para a
disciplina de História
no Ensino Fundamental II
9º ano
Santos
01/01/2011
2. Objetivos procedimentais, orientadores da disciplina:
ENSINAR A COMPLEXIDADE E A DÚVIDA:
1. Levar os alunos à percepção de que as verdades sobre a História e sobre o presente nacional e
internacional são construções operadas através do contato com as mais variadas fontes: escritas, orais,
iconográficas, etc. Uma das funções primordiais da disciplina é fazer com que os alunos percebam que os
“fatos” são construções operadas através do contato com múltiplas fontes de conhecimento, que a cada
dia surgem novas fontes de conhecimento, e que é preciso saber lidar com elas, com esse volume
ilimitado de informações e pontos de vista.
2. Marxismos: percepção das relações entre a “realidade social” e os aspectos ideológicos.
Hoje já não se pensa mais, quase unanimemente ao menos na Academia, a história desta maneira. Busca-
se perceber a complexidade dos fenômenos e conclui-se que neles interagem, com forças equiparáveis,
dependendo do olhar do pesquisador, aspectos sociais, econômicos, geográficos, políticos, religiosos,
sexuais, etc. Para Serge Gruzinski, além do mais, tal modelo de interpretação tão arraigado deixava de
lado o acidental, o incerto, o aleatório – elementos que, conforme seu ponto de vista, marcam de maneira
decisiva os comportamentos humanos, a história humana.
3. Aliás, em relação à noção de contexto histórico: Atenção! Conforme o historiador Dominick LaCapra
devemos tomar a idéia de “contextualização” não como vem sendo correntemente empregada, como
diálogo entre texto e conjuntura sócio-econômica. Na verdade, a idéia de “contextualização” deve ser
tomada em seu sentido mais amplo, como diálogo entre textos (orais, escritos, iconográficos) do passado
e do presente. Daí, o professor poderá explorar a habilidade dos alunos compreenderem que um mesmo
problema pode se desdobrar no tempo, e ganhar novas especificidades, por vezes ganhar novos sentidos.
Que a história não é uma ciência morta, e sim constantemente relida, reinterpretada.
4. Serge Gruzinski nos lembra, ademais, que tal abordagem nos faz perceber a história como uma mescla
de diversos tempos históricos, concomitantes, perceptíveis ontem e hoje. Paul Ricouer nos dá algumas
dicas de como trabalhar isso em sala de aula: cita a memória transgeracional, passível de ser explorada
numa roda com avós e pais dos alunos, acerta de suas distintas impressões sobre um mesmo
acontecimento histórico; e também cita a arquitetura misturada das cidades, construções clássicas e pós
modernas, que podem ser estudadas numa visita de campo na qual se aponte para os alunos a forma como
passado e presente se misturam a olhos vistos.
ENSINAR A ESPERANÇA:
5. História como processo!
Conforme Paul Ricouer, a visão da história como processo é uma das principais causas do mal estar
sentido em relação ao ensino de história, pelos adolescentes: “o impulso que empurra a juventude de
espírito para frente, em direção ao que é aberto, vem chocar-se contra o rochedo daquilo que não pode
mais ser mudado.”
Resposta do historiador Joseph Fontana: “Temos de elaborar uma visão da história que nos ajude a
entender que cada semente do passado não contém apenas a semente de um futuro pré-determinado e
inescapável, mas sim a de toda a diversidade de futuros possíveis.” A História não nos ajuda a apenas
compreender a razão dos nossos desenganos, mas a perceber que a sociedade humana sempre esteve e
está em mudança.
ENSINAR AS DIFERENÇAS:
6. Ou, mais do que isso: ensinar a diversidade: houve e ainda existem distintas maneiras de se relacionar
socialmente, de se pensar e de se entender o mundo, e elas não podem ser compreendidas como em
chaves bipolares: equivocadas X corretas, menos ou mais “desenvolvidas”.
ENSINAR A ÉTICA DO GÊNERO HUMANO:
7. Porém, Paul Ricouer afirma: “gostaria de exprimir minhas reservas em relação à ênfase sobre a
diferença no pensamento contemporâneo. Diferença de sexos, diferença de classes, diferença de culturas,
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3. diferença de épocas: ótimo! Mas como a semelhança da condição humana é assim paradoxalmente
explorada pelo viés da diferença! A despeito de todo o exotismo da viagem por terras desconhecidas do
espaço e do tempo, é precisamente do homem, meu semelhante, que eu me aproximo a cada vez. Entre o
diferente e o idêntico, a dimensão a explorar é a do semelhante.”
Bom lembrar, então, que Serge Gruzinski fala em “pensamento mestiço” e que Garcia Canclini fala em
“culturas híbridas”, ambos concebendo as sociedades humanas como indiscutivelmente marcadas por
misturas, por contatos, por trocas, desiguais mas inegáveis.
Neste diapasão, Edgar Morin trabalha com a noção de identidade, aberta em leque. Quer dizer: fala nas
relações entre a memória e a história e o compromisso cívico, nacional; porém, afirma que essa
identidade local deve se desdobrar num sentimento, num pensamento de identificação e compromisso,
europeu, e, mais amplamente, “terráqueo”. Assim, podemos pensar para nós, brasileiros, na necessidade
de refletirmos sobre as relações entre os conteúdos de História ensinados em nossas escolas, o modo
como viemos e temos construído de nossa identidade nacional, e articular essa reflexão a um projeto
identitário que inclua outros países da América Latina e, ainda, nosso papel histórico, contemporâneo e
futuro, ante aos problemas (ecológicos, sociais, éticos) enfrentados por todos os habitantes da Terra.
8. Levar os alunos à percepção da sociedade como um tecido articulado, no qual cada um tem sua função,
com a qual deve comprometer-se. Percepção crítica da realidade como um tecido social, construído
historicamente e caracterizado pela injustiça.
Habilidades a serem exploradas:
1. Estimular o aluno a “aprender a aprender”, quer dizer, não centrar-se na mera transmissão de
conhecimentos, mas estudar com os alunos o próprio processo de construção do conhecimento. Como
disse Edgard Morin, citando Montaigne: “Mais vale uma cabeça bem feita do que uma cabeça bem
cheia”.
2. Valorizar os talentos individuais dos alunos, e explorar a possibilidade de desenvolvimento de
múltiplas habilidades, através de situações de aprendizagem diversificadas. Utilizar recursos diferentes,
recorrer a modalidades distintas fontes históricas e a distintos pontos de partida para reflexão
(documentos arquivísticos, textos clássicos, reportagens de jornal, artes plásticas, filmes, músicas).
3. Trabalhar teoria e prática articuladas. Partir e lidar sempre, em sala de aula, com aspectos da realidade
dos alunos.
4. Mas ajudá-los a preparar-se a enfrentar situações novas.
5. Explorar neles as habilidades de:
a) relembrar (identificar e recuperar);
b) compreender (traduzir/ interpretar, exemplificar e classificar, resumir e inferir, comparar,
explicar;
c) avaliar (checar e criticar);
d) aplicar (executar/ implementar);
e) analisar (diferenciar, organizar, atribuir/ desconstruir – relacionar dados, contextualizar pontos de
vista);
f) criar, planejar alternativas para problemas-chaves.
6. Instruí-los a uma melhor utilização das linguagens escrita e oral, para que construam argumentos
lógicos e pertinentes, para que desenvolvam uma visão crítica da realidade contemporânea.
7. Instruí-los a uma melhor utilização das linguagens escrita e oral, visando uma comunicação mais eficaz
e ao mesmo tempo ética com os demais.
8. Estimular nos alunos o respeito às diferenças. Estimular nos alunos uma visão crítica mas flexível em
relação ao Outro. Estimulá-los na busca de soluções em cooperação; o saber ouvir e ser compreendido.
9. Estimular o cuidado com o espaço à volta, considerando do micro ao macro, quer dizer, desde o espaço
físico da escola à cidade onde vivem, o país, o globo.
10. Estimular os alunos, individualmente, a serem responsáveis, a cumprir com seus deveres pró-
ativamente, com pontualidade e eficiência.
Objetivo geral da disciplina:
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4. Analisar os caminhos e descaminhos dos programas de transformação ou melhoria de problemas sociais,
políticos e morais vivenciados por homens, mulheres e crianças, ao longo de todo o século XX. Levar os
alunos a refletir sobre questões herdadas por nós, e sobre possíveis modos de se buscar a paz e a justiça
no mundo de hoje.
Objetivos específicos da disciplina:
1. Levá-los a questionar as proposições e injustiças inerentes ao sistema capitalista no qual vivemos, e
que alimentamos em geral de maneira alienada;
2. Avaliar as várias formas que o sistema capitalista pode assumir, dentre as quais: a liberal, de um lado,
e a fortemente controlada pelo Estado, de outro.
3. Questionar propostas alternativas ao sistema capitalista liberal e à democracia representativa, tais
como o fascismo, o nazismo, o stalinismo, entre outras formas autoritárias assumidas por diversos
Estados latino-americanos ao longo do século passado;
4. Questionar até que ponto esta democracia representativa, alardeada como a alternativa mais justa, não
carrega (ou tem carregado) o germe da desigualdade e da passividade política, sobretudo neste ano de
2010, em que teremos eleições para presidente;
5. Fazer com que os alunos reflitam sobre as razões (monetárias e políticas) e os impactos (sociais e
humanos) das guerras de ontem e de hoje;
6. Repensar a repercussão da rapacidade capitalista das grandes potências européias, e também dos
EUA, e sua repercussão na vida de homens e mulheres de países ditos subdesenvolvidos, sobretudo na
América Latina (nosso continente) e na África (continente que irá sediar a Copa de 2010);
7. Repensar a noção de liberdade, justiça e desenvolvimento, no Brasil de início do século XX até os
dias de hoje. Questionar a idéia do “Brasil vítima” e as noções de passividade e desresponsabilização
nela embutidas.
Atividades:
Estratégias didáticas diferenciadas: debates em sala de aula, a partir da consideração de conhecimentos
prévios, da observação de mapas, da leitura de textos/registros/documentos, e da interpretação de
fotografias, cartazes de publicidade, charges; registro nos cadernos; reflexões a partir de músicas e
filmes; debate sobre reportagens atuais; pesquisa em grupo. Trabalho com fontes primárias e secundárias.
Recursos e materiais de apoio: livro didático; apresentações em PowerPoint; aparelho de som e
televisão/dvd; atividades em folhas avulsas;
Atividades didáticas para os alunos: responder questionários; debater em sala de aula; coletar dados;
pesquisar em grupo; exercícios para casa.
Avaliação:
Instrumentos utilizados: observação individualizada do comportamento dos alunos em sala de aula;
acompanhamento das anotações, pelos alunos, no caderno; acompanhamento da realização, pelos alunos,
dos exercícios para casa; solicitação da entrega, por escrito, da síntese de reflexões desenvolvidas em sala
de aula; realização de pesquisas em grupo;
Critérios: verificar nos alunos comportamento em sala de aula (pontualidade, material, envolvimento
na abordagem das questões propostas, respeito aos demais colegas); capacidade de análise e avaliação de
textos e imagens; capacidade de compreender e relembrar conteúdos trabalhados coletivamente em sala
de aula; capacidade de aplicar as habilidades desenvolvidas em sala de aula na interpretação de
acontecimentos atuais, divulgados pela mídia internacional.
Bibliografia:
BRAICK, Patrícia Ramos & MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio – 7°
ano. São Paulo: Moderna, 2008.
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5. DOSSE, François. O método histórico e os registros memoriais. In: MORIN, Edgard. A religação dos
saberes: o desafio do século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
MARQUES, Ahermar et alli. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2005.
FERNANDES, Luiz Estevam & MORAIS, Marcus Vinícius de. Renovação da História da América. In:
KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
GRUZINSKI, Serge. Acontecimento, bifurcação, acidente e acaso: observações sobre a história a partir
das periferias do Ocidente. In: MORIN, Edgard. A religação dos saberes: o desafio do século XX.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
KARNAL, Leandro. A História Moderna e a sala de aula. In: KARNAL, Leandro (org.). História na
sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
MACEDO, José Rivair. Repensando a Idade Média no ensino de História. In: KARNAL, Leandro (org.).
História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003.
PINSKY, Jaime. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 2004.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica – 6ª série. São Paulo: Nova Geração, 2002.
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos Orixás. Salvador, Corrupio, 1997.
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