O documento discute as influências centro-europeias nos conceitos e métodos propostos por Sergio Buarque de Holanda e Samuel Ramos sobre a modernidade latino-americana. Analisa como eles recorreram a um aparato teórico plural tanto em relação ao contexto quanto à categoria, para dar conta da pluralidade da realidade latino-americana. Também discute os universos políticos e acadêmicos dos autores.
1. Raízes e perfis do homem e da
modernidade na América Latina
Uma história dos Conceitos e Métodos
propostos nos clássicos livros de Sergio
Buarque de Holanda e Samuel Ramos
2. Hipótese central:
• Junto ao lado de importantes referenciais
locais, o pensamento centro-europeu teve
primordial importância nas interpretações de
RdB e OphcM sobre a modernidade latino-
americana como uma modernidade autêntica.
3. Eles recorreram a um aparato teórico plural:
a) tanto no que diz respeito ao contexto no qual são
formulados (América Latina e Europa Central);
b) quanto no que diz respeito à categoria na qual se
insere tal aparato
(ensaísmo, Literatura, Psicanálise, Sociologia)...
Para dar conta de uma realidade plural.
DEMANDAS PLURAIS
ESPAÇO DE EXPERIÊNCIA MARCADO PELA PLURALIDADE
HORIZONTE DE EXPECTATIVA MARCADO PELA
PLURALIDADE
4. I. Estruturação do texto da Qualificação
a) Conceitos, abordagens, teorizações
b) Justificativas – importância atual:
integração/identificação (cultural) » integração
institucional/econômica
revisão dos modos de se escrever História
c) Objetos centrais de análise
d) Objetos tangentes (embora fundamentais): biografia dos
autores, universo acadêmico que os envolveu, questões político
institucionais em vigor na época... Enfim: o que denomino
“demandas”.
5. a) Conceitos, abordagens e
teorizações
a.1. conceitos:
Raízes e perfis # passado e presente # construção e vivência #
identidade e atualidade # processo e modus operandi.
Homem e modernidade # identidade e modernidade #
latinoamericanidade e latino-americanidade em novos tempos #
continuidades e descontinuidades # arcaísmos e avanços # homem
médio e projetos de desenvolvimento.
Conceitos e Métodos # elaborações e procedimentos = textos X
“contextos” # construção e vivência # o que está dado e algumas
movimentações interpretativas # o que se pode ler a algumas
correlações.
Mais adiante, de maneira mais clara e evidente, também: subjetividade
e objetividade # individual e coletivo # espiritual e material #
psicogênese e sociogênese # subjetividade no homem
latinoamericano, do homem moderno e também dos intelectuais que
analisam.
6. Conceito fundamental: “Modernidade”:
» Para Koseleck:
“dimensão histórica e antropológica inerente a toda
conceituidade”; porque todo conceito é criado e cria
realidade.
“tempo histórico” como conceito.
“modernidade” como conceito: referente à
Alemanha, entre outros países, e referente ao século
XIX (Romantismo).
“modernidade” como conceito: presente constrói o
passado e elabora futuro.
» Para Berman:
“modernidade” 1: referente à Alemanha, entre outros
países, e referente ao século XIX – otimismo crítico.
“modernidade” 2: referente à Alemanha, entre outros
países, e referente ao pós 1960 – ceticismo.
7. » Para Sergio e Ramos:
“modernidade”: América Latina, início do século
XX.
“modernidade”: construção do passado e
projeção do futuro.
mas um passado ainda muito presente; e um
futuro que se teme e se deseja ansiosamente.
noção de identidade latino-americana
X
noção de tempo histórico koselleckiana
=
noção de modernidadeS
(dentre as quais, a latino-americana).
8. Me pergunto se nós, latino-americanos, não
teríamos, afinal, em nossa própria cultura política e
literária, essas bases (...) Me pergunto se a história de
nosso pensamento latino-americano não seria
largamente caracterizada por visões de ação, modos
de encontro, conflito e diálogos tensos mas de
qualquer maneira encontrados, e, por fim, concepções
de enfrentamento da ordem estabelecida. Me
pergunto, enfim, se nossa intelectualidade, desde o
início do século XX, já não trabalhava com uma visão
crítica da civilização ocidental. Sim, aqui se trabalhava
sob o signo de uma identidade/modernidade
periféricas; porém, o trauma da irresolução em meados
da década de 1930 passou a inspirar avaliações acerca
do passado num viés não derrotista, mas crítico e
marcado por uma suave esperança em relação ao
futuro...
9. a.2. abordagens:
» Para Berman e Koselleck: foco nos clássicos
europeus e norte-americanos.
» Para Silviano Santiago:
Toma dois textos produzidos em conjunturas
diversas, impedindo maiores especulações sobre
a dimensão temporal que envolve a produção de
cada um.
» Para Claudia Wasserman: conjuntura (dada) X
texto (construção voluntária), separadamente.
Nada sobre conceitos.
Nada sobre métodos.
10. Concordo que considerar a conjuntura na qual
clássicos são elaborados é fundamental, tanto
para que tomemos dimensão das demandas
econômicas, políticas e sociais que os envolvem e
viabilizam; quanto para que compreendamos com
maior radicalidade os conceitos, vocábulos e
leituras compartilhados.
Mas
Não se deve obliterar aquilo que os autores
apresentam acerca da vida, da sociedade e da
intelectualidade que experimentaram quando da
elaboração de suas obras; não podemos deixar de
conceder foco intenso às leituras que eles
próprios fizeram do mundo.
11. » Para Dominick LaCapra (Creio que o ocultei
erroneamente).
“CON/TEXTOS” = DIÁLOGOS ENTRE TEXTOS
Tipos de “textos”, na visão de LaCapra:
a) Obras clássicas;
b) Biografias de autores;
c) Estudos e registros sobre o universo acadêmica na qual esses autores
estavam inseridos;
d) Estudos e registros sobre a conjuntura histórico-social na qual estavam
inseridos.
e) Textos produzidos hoje sobre os conceitos e métodos propostos nas
obras clássicas.
f) Etc...
Tudo isso, por fim, aborda demandas; quer dizer: o ponto entre “espaço de
experiência” e “horizonte de expectativa”.
12. • “Estudos”: bibliografia mais recente.
• ”Registros”: cartas, ...
artigos de jornal, ...
os próprios textos de RdB e OphcM, ...
e textos de intelectuais com os quais eles
conviveram, e se referem em suas obras
tanto ao universo acadêmico, quanto a
questões relativas ao momento histórico no
qual estavam inseridos.
13. Nesta Tese, são os textos que inspiram uma
dada possibilidade de análise dos contextos, e
não o contrário.
14. II. Estruturação do texto da Tese
• Partindo da
produção
daqueles dois
jovens ensaístas...
Para os textos
com os quais
possivelmente
dialogaram...
15. • Parte 1: Os objetos que privilegio, e sobre os
quais pretendo, sobretudo, apresentar
entendimentos.
• Parte 2: Estabelecendo pontes entre os textos de
RdB e OphcM e textos brasileiros e mexicanos
que Sergio e Ramos possivelmente leram.
ENSAÍSTAS E POETAS.
• Parte 3: Terceiro movimento saltando para
fora das fronteiras nacionais, em direção à
Europa Central. PSICANALISTAS E SOCIÓLOGOS.
16. Pretensão fundamental 1:
• Com esse movimento, de fora para dentro, busco
demonstrar que, sim, beberam de referenciais
estrangeiros (uma necessidade legítima).
• Busco demonstrar que esse movimento se iniciou
dentro. E que houve uma autêntica busca local
por inspiração e parâmetros. De forma ativa, e
não passiva.
• Caso contrário (se começasse pela Europa
Central), poderia deixar a impressão de que um
dado desenvolvimento ocorreu fora, era
estrangeiro, e invadiu a lógica de produção local.
17. Pretensão fundamental 2
• Começo pela produção ensaística e poética... e depois parto
para autores estrangeiros que trabalham com estruturas mais
“fechadas”.
• Quero dizer, assim, que o ensaísmo e a Literatura foram
definitivas para RdB e OphcM se configurassem como obras
autênticas.
• Ensaísmo e Literatura brasileiros e mexicanos focavam o
subjetivo e a pluralidade. Diferentemente de muito dos
referenciais tidos como “científicos.
• Ensaísmo e Literatura brasileiros e mexicanos, focando o
subjetivo e o plural, levam Sergio e Ramos a escolher
referenciais “científicos” que justamente estavam preocupados
com o subjetivo e o plural.
18. III. RdB e OphcM
• Temas e definições: homem cordial e pelado.
• Forma: o repetitivo e a fluidez.
Contradição: tradição e avanço.
• Um novo olhar: enviesado, mestiço, tensionado.
Contradição: Abertura? Criatividade? Formas fixas?
(pag. 38)
19. Definições:
o homem latino-americano
Ferramentas de
interpretação que dariam
conta de sua dimensão
histórica
poética
psicológica
social
Buscando: “o que está por trás da máscara”.
20. Sergio Ramos
Homem cordial Pelado
Diversos estratos Diversos estrados
sociais sociais
Cordial Violento
Vulnerável e Vulnerável e
mascarado mascarado
Passional Passional
Imediatista Imediatista
Individualista Individualista
21. Forma:
RdB OphcM
Um tipo principal Vários tipos contemporâneos,
contemporâneo. desdobrados do principal.
Outros tipos históricos, que se Não “categorização” dos tipos
desdobram no tipo presente. históricos.
Tipo como conceito interpretativo de determinada conjuntura;
realidade como mutável.
Tipos como conceitos: ferramentas de interpretação das respostas
mais comuns, e não respostas.
Tipos como conceitos: descrição de um “homem” (um indivíduo”)
para melhor entendimento de toda uma cultura (plural).
22. Um novo olhar:
a modernidade mestiça
o brasileiro mestiço de RdB O mexicano mestiço de OphcM
Negro: mão-de-obra; passividade. Índio: “matiz de color”; passividade.
Índio: ociosidade e astúcia.
Português: base civilizacional; aberto à Espanhol: base civilizacional; aberto à
miscigenação e flexível em relação à miscigenação; passional.
hierarquia (cultura da personalidade);
imprevidente (semeador).
Espanhol: previdente (ladrilhador).
Francês: base filosófica/conceitual.
Estados Unidos: ética protestantes (tipo Estados Unidos: paradigma materialista,
trabalhador). pragmático.
23. IV. Pensando os universos políticos/
acadêmicos 1
Antecipando algumas questões:
a) Sobre semelhanças a despeito da
improbabilidade do acesso direto.
b) Sobre demandas comuns:
pessoais, intelectuais, políticas (no âmbito
institucional e simbólico).
24. V. Pensando os universos políticos/
acadêmicos II
Artistas, ensaístas, poetas, psicanalistas, sociólogo
s e instituições
25. América Latina
e seus intelectuais/ ensaístas
Diretrizes Intelectual como carreira Alguns nomes importantes do
ensaísmo
transição do Referenciais Parca especialização, parca O argentino Juan Bautista Alberdi, o
século XIX para estrangeiros: profissionalização; chinelo André Bello, o venezuelano
o século XX romantismo e dependência do Estado, Simon Bolivar, o nicaraguense
cientificismo. mercado consumidor Ruben Darío, o cubano José Martí,
limitado; elitismo. uruguaio José Henrique Rodó.
Como tradição
recorrente, sob um
índice um tanto mais
original: os ensaios.
Pós-guerra Maior liberdade de Vida acadêmica o peruano José Carlos Mariátegui,
atuação tanto política paulatinamente mais e mais os argentinos Ezequiel Marínez
quanto intelectual (no institucionalizada. Mas Estrada e Gabriela Mistral...
que diz respeito à expressiva informalidade.
influência externa dos
EUA e da Europa).
26. Sergio e seus contemporâneos
Princípios motores da Intelectual como carreira Grupos e autores que se
reflexão sobre o homem destacam
nacional
transição do interpretações Elitização, informalidade, Romancistas românticos e
século XIX para o românticas laudatórias e não especialização. realistas. Parnasianos da ABL.
século XX interpretações raciais Pesquisadores do IHGB. Silvio
denegritórias. Romero, Nina Rodrigues,
Oliveira Viana.
início da década a problemática da Informalidade e desejo de Semana da Arte Moderna.
de 1920 modernização ampliação do cardápio de
(referência ocidental e temas e modelos
universalizante) (democratização). Militância.
meados de 1920 a problemática do Informalidade e desejo de poetas modernistas
nacional como ampliação do cardápio de (antropófagos, grupo Verde-
construção temas e modelos amarelo, literatos ligados a
(democratização). Rachas. Graça Aranha), e ensaístas
como Paulo Prado.
década de 1930 discurso romântico de Parca institucionalização da poetas mais autonômos como
sustentação ao poder academia: surgem as Murilo Mendes, Drummond e
institucionalizado, e/ou a primeiras universidades. Manuel Bandeira; ensaístas
crítica das construções Estado como financiador de como Gilberto Freyre, Sergio
operadas políticas culturais de grande e Caio Prado.
alcance.
27. Ramos e seus contemporâneos
Princípios motores da Intelectual como carreira Grupos e autores que se destacam
reflexão sobre o
homem nacional
transição do interpretações Informalidade ou ação técnica Romancistas românticos e realistas.
século XIX para românticas laudatórias como assessores do ditador. Poetas modernistas. Pesquisadores
o século XX e interpretações do IHGB. Técnicos ligados ao
cientificistas e ditador, chamados “científicos”.
modernizantes
(referência ocidental e
universalizante).
início da década Revolução. Militância. Desejo de Ateneo de la Juventud, Los siete
de 1920 institucionalização de novos sábios, e os poetas estridentistas.
padrões de comportamento e
procedimentos políticos.
meados de 1920 a problemática do Institucionalização e desejo Vasconcelos como ministro; Caso,
nacional como de ampliação do cardápio de Ureña e Reyes. Marxistas entre os
construção temas e modelos estridentistas e ao lado de
(democratização ao menos Lombardo Toledano. Poetas e
simbólica). Rachas. ensaístas ligados à revista
Contemporáneos.
década de 1930 discurso romântico de Forte institucionalização; Os callistas Rafael Sáenz e
sustentação ao poder carreira intelectual Lombardo Toledano, e o ensaístas
institucionalizado, e/ oficializada. Samuel Ramos (que dava os
ou crítica das primeiros passos para a legitimação
construções operadas de uma Filosofia Mexicana).
28. Europa Central e seus intelectuais
Questões postas Intelectual como carreira Campos e vertentes
transição do Quem é o homem
século XIX para moderno? Quem é o Vida acadêmica
o século XX homem local? Como institucionalizada. Mas
lidar com a expressiva informalidade, Romantismo na Filosofia e na
diversidade? Como sobretudo, é claro, no caso Literatura.
pensar Estados dos artistas e literatos.
unificados, ordenados
e promissores?
Pós-guerra Quais os fundamentos Poetas expressionistas
dos problemas Relativa independência, no
mentais/espirituais e que diz respeito aos Estados.
sociais/políticos? Na A lógica universitária pautada Psiquiatria e Psicanálise: Freud,
região e no mundo? na diferenciação entre Adler, Jung.
Nos indivíduos e na professores Privatdozent
coletividade?
e Dozent.
História e Sociologia: Simmel,
Weber, Sombart.
Questão política: carisma e
relações de amizade.
Questão “racial” primordial:
anti-semitismo.