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PERSONAGEM


PAULINHO
NOGUEIRA   vez, num Dia das Mães, o      Giannini, chegou à definição preci-           mento ocorreu na boate Canto Ter-
cidadão Paulo Arthur Mendes Pupo         sa da craviola: "Na verdade, imagi-           zo, em São Paulo, num show com
Nogueira reuniu mulher e três filhos     nei um instrumento que servisse pa-           a voz de Alaíde Costa e o conjunto
e, com a família completa, resolveu      ra executar desde os prelúdios de             competente do organista Renato
visitar a sua Campinas, no interior de   Chopin até o jazz mais inquietante".          Mendes. O espetáculo em que reve-
São Paulo. De volta, encontrou sua         O lançamento oficial do instru-             lou a craviola representou um mo-
casa paulistana arrombada, vazia de
quase tudo. Tinham ido embora o
aparelho de TV, o equipamento de
som, quadros das paredes, os brin-
quedos das crianças e as jóias da
mulher, Elza. Desesperado, Pauli-
nho rebuscou salas e quartos à pro-
cura do que havia sobrado. Sobre
sua cama, incólume, lá estava o seu
violão. Foi o reencontro mais feliz de
sua vida — apesar dos ciúmes do-
mésticos que seu alívio provocou.
Por via das dúvidas, desde essa da-
ta cruel ele nunca mais deixou o vio-
lão sem companhia.
   Formidável ligação, essa, entre o
músico e seu instrumento. Tão for-
midável, aliás, que em outra ocasião
inesquecível, para melhor aperfei-
çoar sua ligação com o objeto de sua
arte e de sua sobrevivência, Pauli-
nho Nogueira decidiu inventar seu
instrumento mais especial, a sua
marca registrada. Desenhista nas ho-
ras vagas, projetou sua obra-prima
quando mal completara 22 anos de
idade. Trata-se da craviola, cujo no-
me de batismo sugere, por si, a so-
noridade que Paulinho Nogueira
idealizou produzir: uma mistura das
vibrações metálicas do cravo com a
expressão pungente e doce das vio-
las sertanejas do Brasil.
   Na pesquisa, Paulinho Nogueira
gastou vários anos e mais de cin-
quenta esboços diferentes. Final-
mente, nas vésperas de 1970, com
a ajuda indispensável e inestimável
de Rômulo Giorgio, das indústrias        Paulinho Nogueira foi o inventor da craviola (vista ao fundo).
PERSONAGEM
mento particularmente comovedor
na carreira de Paulinho Nogueira.
Uma carreira que, de certa forma,
brotou dentro de sua própria casa,
em Campinas, onde nasceu, em ou-
tubro de 1929. A influência princi-
pal foi seu avô, de família respeita-
da na cidade, um homem que aju-
dou a escrever parte da história cam-
pineira com seus hábitos exóticos e
pioneiros. Foi, entre outras coisas, o
primeiro morador de Campinas a
possuir uma radiovitrola — quer di-
zer, Paulinho cresceu rodeado pe-
la música que, posteriormente, se
transformaria na sua paixão e no seu
ofício.
   Depois de percorrer, ainda em
Campinas, o trajeto corriqueiro dos
principiantes — festinhas nas casas
de amigos, na escola, programetos
de auditório e assim por diante —,
já mais confiante no seu domínio do
instrumento e autor de meia dúzia de
composições razoáveis, mudou-se
em 1952 para a capital. Logo em-         Como professor, Paulinho ajudou a formar diversos músicos, entre eles Toquinho.
pregou-se como violonista da boate
Itapoã. De lá para as rádios Bandei-     não esperava arrebanhar. Conse-                Tudo isso ele conseguiu com es-
rantes e Gazeta foi um pulo.             quência: uma série de LPs muito             forço e aplicação, as únicas regras
   Roberto Corte Real, um dos res-       vendidos. Mas foi somente em 1986           que conhece — e sugere — para o
ponsáveis pelo selo Columbia no          que o violonista teve a oportunida-         domínio de um instrumento musical.
país, foi quem o ajudou a encontrar      de de gravar, por um selo indepen-          "Violão, craviola ou qualquer outra
uma gravadora interessada em in-         dente, seu primeiro disco exclusi-          coisa que produza um som musical,
vestir num jovem violonista. Já na-      vamente instrumental: "Tons e Se-           não um ruído, exige muita paciên-
quela época Paulinho tocava com o        mitons". Detalhe: cada álbum era            cia e muito aprendizado", ensina
estilo que mais tarde o consagraria,     acompanhado com um encarte, con-            Paulinho. "Ser músico significa abra-
e que lhe abriria as portas da turma     tendo as partituras das músicas exe-        çar um ofício como qualquer outro.
da bossa nova.                           cutadas. Como justificou Paulinho,          O torneiro mecânico tem de saber
   Por sua habilidade como instru-       "para contribuir à formação dos vio-        como sua máquina funciona. O pi-
mentista e, principalmente, por seu      lonistas".                                  loto de Fórmula l tem de conhecer
temperamento calmo e acolhedor,             Modesto, contido, o músico não           as minúcias e os limites de seu bóli-
Paulinho Nogueira rapidamente ad-        quis aproveitar-se das sucessivas ex-       do. Com a música é a mesma coi-
quiriu, nos entornos do movimento        plosões que se seguiram à bossa no-         sa. Um bom ouvido representa ape-
em São Paulo, uma função bastan-         va. Comportou-se sempre de ma-              nas um começo, uma vantagem."
te singular: professor de outros vio-    neira sossegada, como o seu toque              Essa definição se encaixa perfei-
lonistas. Gostou. Passou a dar au-       no violão. Foi graças à sua calma,          tamente no próprio estilo que Pauli-
las com constância e metodologia.        todavia, que encontrou tempo para           nho Nogueira foi aprimorando com
Ajudou a formar, por exemplo, pro-       aperfeiçoar um género que logo              o passar da vida. Estudando com
fissionais de talento, como Toquinho     conseguiu seu lugar na MPB dos              afinco de 5 a 6 horas diárias, sem ce-
e Macumbinha. Em 1969, lançou o          anos 60/70: a aproximação entre             der ao brilho fácil das pirotecnias vio-
"Método para violão de Paulinho          clássicos e populares. Fascinado pe-        lonísticas, o músico desenvolveu um
Nogueira", livro que viria a ultrapas-   lo mestre Johann Sebastian Bach,            estilo enxuto, baseado na síntese das
sar a marca de 150 mil exemplares        Paulinho Nogueira desenvolveu uma           harmonias, na clareza dos acordes,
vendidos. Participou, sempre que         longa fiada de obras baseadas nas fu-       na individualidade das notas. Um
pôde, de encontros com estudantes        gas, nos prelúdios è nas cavatinas do       violão simples, sem rebuscamentos,
e músicos jovens. E foi ganhando         génio seiscentista — as suas "Bachia-       mas extremamente sincero, como a
uma popularidade que ele mesmo           ninhas".                                    sua personalidade.

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Paulinho Nogueira

  • 1. PERSONAGEM PAULINHO NOGUEIRA vez, num Dia das Mães, o Giannini, chegou à definição preci- mento ocorreu na boate Canto Ter- cidadão Paulo Arthur Mendes Pupo sa da craviola: "Na verdade, imagi- zo, em São Paulo, num show com Nogueira reuniu mulher e três filhos nei um instrumento que servisse pa- a voz de Alaíde Costa e o conjunto e, com a família completa, resolveu ra executar desde os prelúdios de competente do organista Renato visitar a sua Campinas, no interior de Chopin até o jazz mais inquietante". Mendes. O espetáculo em que reve- São Paulo. De volta, encontrou sua O lançamento oficial do instru- lou a craviola representou um mo- casa paulistana arrombada, vazia de quase tudo. Tinham ido embora o aparelho de TV, o equipamento de som, quadros das paredes, os brin- quedos das crianças e as jóias da mulher, Elza. Desesperado, Pauli- nho rebuscou salas e quartos à pro- cura do que havia sobrado. Sobre sua cama, incólume, lá estava o seu violão. Foi o reencontro mais feliz de sua vida — apesar dos ciúmes do- mésticos que seu alívio provocou. Por via das dúvidas, desde essa da- ta cruel ele nunca mais deixou o vio- lão sem companhia. Formidável ligação, essa, entre o músico e seu instrumento. Tão for- midável, aliás, que em outra ocasião inesquecível, para melhor aperfei- çoar sua ligação com o objeto de sua arte e de sua sobrevivência, Pauli- nho Nogueira decidiu inventar seu instrumento mais especial, a sua marca registrada. Desenhista nas ho- ras vagas, projetou sua obra-prima quando mal completara 22 anos de idade. Trata-se da craviola, cujo no- me de batismo sugere, por si, a so- noridade que Paulinho Nogueira idealizou produzir: uma mistura das vibrações metálicas do cravo com a expressão pungente e doce das vio- las sertanejas do Brasil. Na pesquisa, Paulinho Nogueira gastou vários anos e mais de cin- quenta esboços diferentes. Final- mente, nas vésperas de 1970, com a ajuda indispensável e inestimável de Rômulo Giorgio, das indústrias Paulinho Nogueira foi o inventor da craviola (vista ao fundo).
  • 2. PERSONAGEM mento particularmente comovedor na carreira de Paulinho Nogueira. Uma carreira que, de certa forma, brotou dentro de sua própria casa, em Campinas, onde nasceu, em ou- tubro de 1929. A influência princi- pal foi seu avô, de família respeita- da na cidade, um homem que aju- dou a escrever parte da história cam- pineira com seus hábitos exóticos e pioneiros. Foi, entre outras coisas, o primeiro morador de Campinas a possuir uma radiovitrola — quer di- zer, Paulinho cresceu rodeado pe- la música que, posteriormente, se transformaria na sua paixão e no seu ofício. Depois de percorrer, ainda em Campinas, o trajeto corriqueiro dos principiantes — festinhas nas casas de amigos, na escola, programetos de auditório e assim por diante —, já mais confiante no seu domínio do instrumento e autor de meia dúzia de composições razoáveis, mudou-se em 1952 para a capital. Logo em- Como professor, Paulinho ajudou a formar diversos músicos, entre eles Toquinho. pregou-se como violonista da boate Itapoã. De lá para as rádios Bandei- não esperava arrebanhar. Conse- Tudo isso ele conseguiu com es- rantes e Gazeta foi um pulo. quência: uma série de LPs muito forço e aplicação, as únicas regras Roberto Corte Real, um dos res- vendidos. Mas foi somente em 1986 que conhece — e sugere — para o ponsáveis pelo selo Columbia no que o violonista teve a oportunida- domínio de um instrumento musical. país, foi quem o ajudou a encontrar de de gravar, por um selo indepen- "Violão, craviola ou qualquer outra uma gravadora interessada em in- dente, seu primeiro disco exclusi- coisa que produza um som musical, vestir num jovem violonista. Já na- vamente instrumental: "Tons e Se- não um ruído, exige muita paciên- quela época Paulinho tocava com o mitons". Detalhe: cada álbum era cia e muito aprendizado", ensina estilo que mais tarde o consagraria, acompanhado com um encarte, con- Paulinho. "Ser músico significa abra- e que lhe abriria as portas da turma tendo as partituras das músicas exe- çar um ofício como qualquer outro. da bossa nova. cutadas. Como justificou Paulinho, O torneiro mecânico tem de saber Por sua habilidade como instru- "para contribuir à formação dos vio- como sua máquina funciona. O pi- mentista e, principalmente, por seu lonistas". loto de Fórmula l tem de conhecer temperamento calmo e acolhedor, Modesto, contido, o músico não as minúcias e os limites de seu bóli- Paulinho Nogueira rapidamente ad- quis aproveitar-se das sucessivas ex- do. Com a música é a mesma coi- quiriu, nos entornos do movimento plosões que se seguiram à bossa no- sa. Um bom ouvido representa ape- em São Paulo, uma função bastan- va. Comportou-se sempre de ma- nas um começo, uma vantagem." te singular: professor de outros vio- neira sossegada, como o seu toque Essa definição se encaixa perfei- lonistas. Gostou. Passou a dar au- no violão. Foi graças à sua calma, tamente no próprio estilo que Pauli- las com constância e metodologia. todavia, que encontrou tempo para nho Nogueira foi aprimorando com Ajudou a formar, por exemplo, pro- aperfeiçoar um género que logo o passar da vida. Estudando com fissionais de talento, como Toquinho conseguiu seu lugar na MPB dos afinco de 5 a 6 horas diárias, sem ce- e Macumbinha. Em 1969, lançou o anos 60/70: a aproximação entre der ao brilho fácil das pirotecnias vio- "Método para violão de Paulinho clássicos e populares. Fascinado pe- lonísticas, o músico desenvolveu um Nogueira", livro que viria a ultrapas- lo mestre Johann Sebastian Bach, estilo enxuto, baseado na síntese das sar a marca de 150 mil exemplares Paulinho Nogueira desenvolveu uma harmonias, na clareza dos acordes, vendidos. Participou, sempre que longa fiada de obras baseadas nas fu- na individualidade das notas. Um pôde, de encontros com estudantes gas, nos prelúdios è nas cavatinas do violão simples, sem rebuscamentos, e músicos jovens. E foi ganhando génio seiscentista — as suas "Bachia- mas extremamente sincero, como a uma popularidade que ele mesmo ninhas". sua personalidade.