Chuck Berry foi um dos primeiros e mais influentes guitarristas do rock. Suas músicas como "Johnny B. Goode" e "Maybellene" popularizaram o rock and roll nos anos 1950 e influenciaram inúmeros artistas. Após enfrentar problemas legais, Berry continuou a gravar e se apresentar, ajudando a definir o som do rock.

1. PERSONAGEM
CHUCK
BERRY conta esta é Keith Ri-
chards, o guitarrista dos Rolling Sto-
nes: "É o meu ídolo. Na primeira vez
que o vi, cutuquei suas costas e dis-
se: Hey, man! Ele se virou para mim
e, bang... Uau, foi fantástico. Que
soco na cara eu levei!". Embora pou-
cos artistas nutram por Chuck Berry
uma admiração tão incondicional
quanto a de Keith Richards, a maio-
ria dos roqueiros presta verdadeiro
tributo a esse negro nascido em St.
Louis, Missouri, em 1931.
Chuck Berry é o mais importante
dentre os primeiros guitarristas do
rock. Seus riffs, solos, batida rítmica e
letras satíricas são prontamente reco-
nhecíveis e retraíam a vida adoles-
cente dos EUA nos anos 50 e 60.
Berry é uma pessoa espirituosa,
sagaz, desconfiada, e faz questão de
evitar entrevistas. Parece abominar
a imprensa e adorar sua plateia. Sem
dúvida, seus diversos entreveres
com a lei têm muito a ver com essa
atitude. De família pobre, já tocava
guitarra na adolescência, quando
passou três anos num reformatório.
Motivo: roubo. Depois, fez um cur-
so de cabeleireiro e, enquanto jun-
tava dinheiro para montar seu salão,
chegou a trabalhar algum tempo co-
mo operário na General Motors, pa-
ra poder sustentar sua família.
Em 1953, conseguiu finalmente
abrir seu salão de beleza, o que não
o impediu, porém, de continuar a
praticar sua guitarra. Tocava nos fi-
nais de semana com um trio, ani-
mando os bailes de St. Louis. Dois
anos depois, foi morar em Chicago.
Lá procurou o bluesman Muddy
Waters, que já tinha emprego fixo
numa gravadora de poloneses lou-
cos por música negra, a Chess Re- O legendário Berry, numa das performances de seu célebre "passo do pato".

2. PERSONAGE
cords. Impressionado pelo talento de Sessions". Um ano depois, junto a
Berry, Waters o apresentou a um outros ídolos dos anos 50 — como
dos donos da empresa, Leonard Little Richard e Bill Halley —, parti-
Chess. cipou do filme Lei the Good Times
Na primeira sessão dentro do es- Roll (E os Bons Tempos Voltaram).
túdio , o guitarrista atacou com Após essa fase excelente, o iate no
"Maybellene". Logo a canção pas- qual o guitarrista velejava tranquila-
sou a ser tocada nas rádios e caiu no mente pelos mares do sucesso co-
gosto da juventude americana, fas- meçou a fazer água por todos os la-
cinada pelo som cheio de swing e dos. Contribuiu muito para isso a
pela linguagem direta com que Berry maneira quase amadorística com
falava de temas comuns aos adoles- que Berry sempre encarou sua car-
centes. reira. Chegava às cidades onde tinha
Num curto intervalo, Chuck pas- de tocar e no dia da apresentação re-
sou a despejar vários outros suces- crutava, sem critério, alguns músicos
sos nas paradas americanas, como para formar sua banda de acompa-
"Rock and Roll Music", "RolI over nhamento. Pouco ensaiavam antes
Beethoven", "Sweet Little Sixteen" do show. Algumas vezes isso criava
e "School Days". um interessante clima de espontanei-
No momento em que Berry esta- dade dentro da apresentação. Na
va embalado no sucesso, uma pros- imensa maioria das vezes, porém, o
tituta apache de catorze anos resol- público saía decepcionado.
veu complicar-lhe a vida. Ele conhe- Por problemas com o fisco, passou
ceu a menina em El Paso e contra- nova temporada na cadeia, isso lo-
tou-a para trabalhar em uma casa go após ter se apresentado na Casa
noturna de sua propriedade. Quan- Branca para Jimmy Cárter, então
do foi despedida do emprego, a jo- presidente dos Estados Unidos. Ao
vem deu parte à polícia, que o acu- sair, foi alinhando uma série de dis-
sou de violar o Mann Act, lei que cos medíocres, onde chegou até, a
proibia transportar — com "propó- flertar com ritmos latinos.
sitos imorais" —, pessoas menores Ao completar sessenta anos de
de dezoito anos através de uma fron- idade, em 1986, promoveu um con-
teira interestadual. O julgamento ar- Berry, um dos "inventores" do rock. certo comemorativo, que contou
rastou-se por um longo período e com a presença de, entre outros,
Chuck acabou condenado a passar ternos — eles eram de raiom — es- Eric Clapton e Keith Richards. O
dois anos atrás das grades. tavam todos amassados... Nós tí- show virou filme: Hail! Ha/// Rock'n
Quando saiu da prisão, grupos co- nhamos só um terno, não lembra- Roll (O Mito do Rock). No início dos
mo os Beatles e os Rolling Stones já mos que era preciso trocar de rou- anos 90, Berry segue à risca o que
tinham invadido a cena musical. As pa. Na verdade, fiz aquele passo do parece ter virado tradição em sua
rádios tocavam muitas versões das pato para esconder as dobras do ter- carreira: envolve-se novamente em
músicas de Berry, interpretadas ago- no. Recebi uma ovação, e percebi encrencas. Escapa da prisão pagan-
ra por esses novos conjuntos. Nos que estava agradando ao público. E do fiança, depois de ter sido detido
concertos da época, repetia-se in- fiz de novo, e de novo, e provavel- em casa com armas, drogas e filmes
contáveis vezes o clássico solinho da mente o farei de novo esta noite". pornográficos com menores.
introdução de "Johny Be Goode", Por ser inimitável, Berry teve seu Embora seja uma temeridade, ten-
um grande sucesso de Chuck. Po- espaço assegurado no show-busi- do em conta sua turbulenta carrei-
rém, o que não podia ser imitado era ness. Tratou de aproveitar a maré fa- ra, pode-se dizer que, atuaímente,
a performance de Berry no palco. vorável. Voltou a gravar e, logo de Chuck Berry leva uma vida tranqui-
A começar, pelo duckwalk, o cara, emplacou três hits nas paradas: la, com muitos dólares de direitos
"passo do pato", sua criação exclu- "Nadine", "No Particular Place To autorais acumulados em sua conta
siva. Ele mesmo conta como surgiu: Go" e "You Never Can Tell". Em bancária. Afinal, não é nenhuma ou-
"Eu precisava vestir meu trio, todos 1972, o auge: pela primeira vez, um sadia arriscar que, nesse exato mo-
os três, e sempre me lembro de que compacto de Chuck chega ao pri- mento, algum de seus clássicos está
os ternos me custavam 66 dólares — meiro lugar do hit-parade norte- sendo executado no rádio, em algu-
22 dólares cada um. Precisávamos americano. A música registrada nes- ma parte do mundo. Seja por ele
comprar sapatos e tudo. Então, se disco histórico foi "My Ding-a- próprio ou por algum novo quarte-
quando chegamos a Nova York, os Ling", extraída do álbum "London to de adolescentes rebeldes.