Este documento discute o conceito de paralelismo gramatical, que consiste em criar uma sequência de frases com estrutura idêntica para facilitar a leitura e clareza da expressão. Existem dois tipos de paralelismo: sintático, quando os elementos coordenados apresentam estrutura gramatical idêntica, e semântico, que é a simetria no plano das ideias. Vários exemplos ilustram como corrigir frases que não apresentam o paralelismo adequado.
2. O que é paralelismo?
Paralela é um conceito da Geometria que
define linhas que, num mesmo plano espacial, são
equidistantes em toda sua extensão.
Em gramática, o paralelismo consiste em criar
uma sequência de frases com estrutura idêntica.
O paralelismo facilita a leitura do enunciado e
proporciona clareza à expressão. Pode ser
sintático e semântico.
3. Paralelismo sintático
Ocorre quando os elementos coordenados
apresentam estrutura gramatical idêntica.
Funcionários cogitam uma nova greve e isolar o governador.
Para que tivesse simetria, os núcleos do objeto direto do
verbo cogitar teriam de ser de mesma natureza (ambos
substantivos ou ambos verbos). Ficando, pois, assim:
Funcionários cogitam uma nova greve e o isolamento do governador.
ou
Funcionários cogitam fazer uma nova greve e isolar o governador.
4. Paralelismo sintático
Observe:
A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e que,
na volta, passasse na farmácia.
Sugestão:
A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e, na
volta, passar na farmácia.
ou
A mãe pediu que a menina fosse ao supermercado e que,
na volta, passasse na farmácia.
5. Paralelismo sintático
Observe:
Ricardo estava aborrecido por ter perdido a hora do teste e
porque seu pai não o esperou.
Sugestão:
Ricardo estava aborrecido por ter perdido a hora do teste e
por seu pai não o ter esperado.
ou
Ricardo estava aborrecido porque perdeu a hora do teste e
porque seu pai não o esperou.
6. Paralelismo sintático
Observe:
Manda-me notícias de minha prima Isoldina e se meu pai
resolveu aquele problema que o atormentava.
Sugestão:
Manda-me notícias de minha prima Isoldina e descobre
se meu pai resolveu aquele problema que o atormentava.
7. Paralelismo semântico
É a simetria no plano das ideias.
Ex.: “O presidente brasileiro negocia com os Estados
Unidos as novas propostas sobre a ALCA”.
Sugestão:
“O presidente brasileiro negocia com o presidente
americano as novas propostas sobre a ALCA”
ou
“O Brasil negocia com os Estados Unidos as novas
propostas sobre a ALCA”.
9. Paralelismos mais comuns
Não só... mas (como) também
No período de um ano, não só cresceu o número de assaltos
e roubos na cidade, mas também o de assassinato por armas
de fogo.
Esse tipo de construção, além de apresentar a noção
de adição (no caso, o número de assassinatos
somado ao de assaltos e roubos), introduz com a
expressão mas também a noção de destaque para
um dos elementos – no caso, o crescimento do
número de assassinatos por armas de fogo.
10. Paralelismos mais comuns
Quanto mais... (tanto) mais...
Hoje em dia, quanto mais uma pessoa estuda, (tanto) mais
ela tem condições de competir no mercado de trabalho.
Quanto mais nos esforçamos para sair tudo perfeito, (tanto)
mais aparece gente para atrapalhar.
Utiliza-se essa estrutura paralelística sempre que
houver entre as partes uma noção de progressão
com ou sem oposição.
11. Paralelismos mais comuns
Seja...seja, quer...quer, ora...ora
De qualquer forma, conte comigo, seja para ajudar na
mudança, seja para limpar a nova casa, seja para o
churrasco de inauguração.
Emprega-se esse tipo de paralelismo quando se
quer dar noção de alternância de ações (ora uma
coisa, ora outra) ou de opção (por exemplo: quer
vá, quer não vá...).
12. Paralelismos mais comuns
Primeiro...; segundo...
Ele (Dr. Paes de Barros) afirma que a pobreza no Brasil
é erradicável. Para fazê-lo, são necessárias duas coisas:
“primeiro, decidir que é isso que se quer; segundo, dar
apoios institucionais a quem já trabalha com a pobreza,
para viabilizar a decisão”.
(Folha de S. Paulo)
Utiliza-se esse tipo de recurso quando se deseja
fazer uma enumeração sequencial de vários
aspectos a serem considerados numa
argumentação, ordenando-os por grau de
importância. Entre as partes dessa enumeração, é
comum empregar o ponto-e-vírgula.
13. Paralelismos mais comuns
Tanto...quanto...
As estradas estão muito ruins, tanto para quem vai à
capital quanto para quem vem dela.
Essa estrutura paralelística, ao mesmo tempo que
introduz a noção de adição, acrescenta também
uma noção de equiparação ou de equivalência.
14. Paralelismos mais comuns
Não... e não/nem
Não pudemos viajar no carnaval passado, nem nas
férias de julho, nem nas de janeiro.
Emprega-se esse recurso quando se deseja fazer
uma sequência de negativas.
15. Paralelismos mais comuns
Por um lado... por outro...
Se, por um lado, a venda do sítio resolveu nossos
problemas financeiros, por outro (lado) perdemos
o único meio de lazer da família.
Esse paralelismo introduz uma comparação,
geralmente demonstrando os aspectos negativos e
positivos de algum ato.
16. Paralelismos mais comuns
Correlação entre tempos verbais
Se todos colaborassem, tudo seria mais fácil.
Se todos colaborarem, tudo será mais fácil.
O emprego do pretérito imperfeito do subjuntivo
(colaborassem), na oração subordinada
condicional, obriga o emprego do futuro do
pretérito (seria) na oração principal. Já o emprego
do futuro do subjuntivo obriga o emprego do futuro
do presente do indicativo, na principal.
17. A quebra intencional do paralelismo
Observe esta frase do protagonista da obra
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis:
“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos
de réis, nada menos.”
Nessa frase, intencionalmente o autor quebra o
paralelismo semântico, já que mistura elementos de
natureza diferente: tempo e dinheiro. Como
resultado, a quebra provoca o efeito de sentido
pretendido pelo narrador: ironizar os interesses
financeiros de Marcela.