SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Baixar para ler offline
CARTA ENCÍCLICA DO PAPA JOÃO XXIII

                                  PAENITENTIAM AGERE

                               CONVITE À PENITÊNCIA PARA O
                                 BOM ÊXITO DO CONCÍLIO




Aos veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos, bispos
e outros ordinários do lugar em paz e comunhão com a Sé Apostólica.

Veneráveis irmãos: saúde e bênção apostólica

1. Fazer penitência pelos próprios pecados é, para o homem pecador, segundo o explícito
ensinamento de nosso Senhor Jesus Cristo, a primeira condição, não apenas para solicitar o perdão
mas ainda para chegar à salvação eterna. Evidente se torna, pois, quão justificada seja a atitude da
Igreja católica, dispensadora dos tesouros da divina Redenção, a qual sempre considerou a
penitência como condição indispensável para o aperfeiçoamento da vida de seus filhos e para seu
melhor futuro.

2. Por este motivo, na constituição apostólica de convocação do concílio ecumênico Vaticano II,
quisemos dirigir aos fiéis o convite para dignamente se prepararem para o grande acontecimento
não só com a oração e com a prática ordinária das virtudes cristãs, mas também com a mortificação
voluntária. (1)

3. Aproximando-se a abertura do concílio, bem natural se nos afigura renovarmos com maior
insistência a mesma exortação, visto que, embora estando presente na sua Igreja "todos os dias até à
consumação dos séculos" (Mt 28,20), o Senhor tornar-se-á então ainda mais próximo das mentes e
dos corações dos homens através da pessoa dos seus representantes, segundo a sua própria palavra:
"Quem vos escuta a mim escuta" (Lc 10,16).

4. Na realidade, sendo o concílio ecumênico a reunião dos sucessores dos apóstolos, a quem o
Salvador divino confiou o mandato de ensinar todas as gentes, ensinando-as a observarem todas as
coisas que ele mandara (cf. Mt 28,19-20), quer ele significar uma mais alta afirmação dos direitos
divinos sobre a humanidade redimida pelo sangue de Cristo, e dos deveres que ligam os homens ao
seu Deus e Salvador.

Apelos à penitência no Antigo Testamento

5. Ora, se interrogarmos os livros do Antigo e do Novo Testamento, vemos que todo gesto de mais
solene encontro entre Deus e a humanidade - para nos exprimirmos em linguagem humana - sempre
foi precedido de um mais persuasivo apelo à oração e à penitência. Com efeito, Moisés não entrega
ao povo hebreu as tábuas da lei divina senão depois de haver ele feito penitência pelos seus pecados
de idolatria e de ingratidão (cf. Ex 32,6-35; lCor 10,7). Os profetas exortam incessantemente o povo
de Israel a implorar Deus com coração contrito, a fim de cooperar na realização do desígnio da
providência que acompanha toda a história do povo eleito. Comovente é entre todas, a voz do
profeta Joel, que ressoa na sagrada liturgia quaresmal: "Agora, portanto, oráculo de Iahweh:
retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e com lamentação. Rasgai os
vossos corações, e não as vossas roupas. Entre o pórtico e o altar chorem os sacerdotes ministros de
Iahweh e digam: Iahweh, tem piedade de teu povo! Não entregues ao opróbrio a tua herança, para
que as nações zombem deles!" (Jl 2,1213.17).

A penitência no ensino de Jesus Cristo e dos Apóstolos

6. Antes que se atenuarem, tais convites à penitência fazem-se mais solenes com a vinda do Filho
de Deus à terra. Eis, com efeito, que João Batista, o Precursor do Senhor, dá início à sua pregação
com o grito: "Fazei penitência, pois está próximo o Reino dos Céus" (Mt 3,1). E o próprio Jesus não
inicia o seu ministério com a imediata revelação das sublimes verdades da fé, e sim com o convite a
purificar a mente e o coração de tudo o que pudesse impedir o frutuoso acolhimento da boa-nova:
"A partir desse momento começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o
Reino dos Céus" (Mt 4,17). Ainda mais do que os profetas, o Salvador exige dos seus ouvintes à
mudança total do espírito, no reconhecimento sincero e integral dos direitos de Deus: "Eis que o
Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17,21); a penitência é força contra as forças do mal;
ensina-nos o próprio Jesus Cristo: "O Reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam
dele " (Mt 11,12).

7. Igual apelo ressoa na pregação dos apóstolos. Efetivamente, s. Pedro assim fala às turbas depois
de pentecostes, no intuito de as dispor para também receberem o sacramento da regeneração em
Cristo e os dons do Espírito Santo: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo" (At
2,38). E o Apóstolo das Gentes adverte os Romanos de que o Reino de Deus não consiste na
prepotência e nos desenfreados gozos dos sentidos, mas sim no triunfo da justiça e na paz interior:
"Portanto o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito
Santo" (Rm 14,17-18).

8. Não se deve crer que o convite à penitência seja dirigido somente àqueles que pela primeira vez
devem entrar a fazer parte do Reino de Deus. Na realidade, todos os cristãos têm o dever e a
necessidade de fazer violência a si mesmos, ou para repelir os seus inimigos espirituais, ou para
conservar a inocência batismal, ou para readquirir a vida da graça perdida com a transgressão dos
preceitos divinos. De fato, se é verdade que todos os que se tornaram membros da Igreja pelo santo
batismo participam da beleza que Cristo a ela conferiu, segundo as palavras de s. Paulo: "Cristo
amou a Igreja, e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela
Palavra para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante,
mas santa e irrepreensível (Ef 5, 26-27); é também verdade que todos os que com graves culpas
mancharam a cândida veste batismal devem temer grandemente os castigos de Deus se não
procurarem tornar a fazer-se cândidos e resplendentes no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,14) pelo
sacramento da penitência e pela prática das virtudes cristãs. Também a esses, portanto, se endereça
o severo aviso do apóstolo s. Paulo: "Quem transgride a lei de Moisés, é condenado a morte sem
piedade, com base em duas ou três testemunhas. Podeis, então, imaginar que castigo mais severo
ainda merecerá aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança no qual
foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?... Quão terrível é cair nas mãos do Deus vivo! " (Hb
10,28-30).

O pensamento e a praxe da Igreja

9. Veneráveis irmãos, a Igreja, esposa dileta do Salvador divino, sempre permaneceu santa e
imaculada em si mesma, pela fé que a ilumina, pelos sacramentos que a santificam, pelas leis que a
governam, pelos numerosos membros que a embelezam com o adorno de virtudes heróicas. Mas há
nela também filhos esquecidos da sua vocação e eleição, os quais em si mesmos deturpam a beleza
celestial, e não refletem em si mesmos o semblante divino de Jesus Cristo.

10. Pois bem: a todos, mais do que palavras de reprovação e de ameaça, apraz-nos dirigir uma
paternal exortação a terem presente este consolador ensinamento do concílio de dento, eco
fidelíssimo da doutrina católica: "Revestidos, com efeito, de Cristo no batismo (Gl 3,27), por meio
dele nos tornamos uma criatura inteiramente nova, obtendo a remissão plena e integral de todos os
pecados; a tal novidade e integridade não podemos, todavia, chegar por meio do sacramento da
penitência sem nossa grande dor e trabalho, sendo isto reclamado pela justiça divina, de modo que a
penitência foi justamente chamada pelos santos Padres um certo batismo laborioso".(2)

O exemplo nos concílios precedentes

11. O apelo à penitência, portanto, como instrumento de purificação e de renovação espiritual, não
deve ressoar qual voz nova ao ouvido do cristão, mas como convite do próprio Jesus, convite que
com freqüência tem sido repetido pela Igreja através da voz da sagrada liturgia, dos santos Padres e
dos concílios. Assim, há séculos que a Igreja suplica a Deus no tempo de quaresma: "a nossa alma
que se mortifica pela penitência corporal viva junto de ti com o desejo de possuir-te" (3) e também:
"Fazei que mitigando os afetos terrenos compreendamos mais facilmente as coisas celestes".(4)

12. Não há, portanto, que admirar se os nossos predecessores, ao prepararem a celebração dos
concílios ecumênicos, preocuparam-se com exortar os fiéis à penitência salutar. Baste-nos lembrar
alguns exemplos. Inocêncio III, ao se aproximar o concílio Lateranense IV, exortava os filhos da
Igreja com estas palavras: "À oração junte-se o jejum e a esmola, a fim de que, por meio destas duas
asas, a nossa oração mais fácil e mais celeremente voe aos ouvidos de Deus misericordiosíssimo, e
ele nos atenda benevolamente no momento oportuno".(5) Gregório X, com uma carta endereçada a
todos os seus prelados e capelães, dispôs que a solene abertura do II concílio ecumênico de Lião
fosse precedida de três dias de jejum.(6) Pio IX, enfim, exortou todos os féis a que, na purificação
da alma de toda mancha de culpa ou reato de pena, dignamente e em perfeita alegria se preparassem
para a celebração do concílio ecumênico Vaticano: "Visto ser coisa manifesta que as orações dos
homens são mais aceitas a Deus se estes a ele se volvem com coração limpo, isto é, com a alma
purificada de toda culpa".(7)

Oportunas sugestões em preparação ao concílio ecumênico Vaticano II

13. Seguindo o exemplo dos nossos predecessores, também nós, veneráveis irmãos, ardentemente
desejamos convidar todo o mundo católico, clero e laicato, a preparar-se para a grande celebração
conciliar com a oração, com as boas obras e com a penitência. E, já que a oração pública é o meio
mais eficaz para obter as graças divinas, segundo a própria promessa de Cristo: "Onde dois ou três
estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18,20), mister se torna portanto que os
fiéis todos sejam "um só coração e uma só alma" (At 4,32) como nos primeiros tempos da Igreja, e,
com a oração e com a penitência, impetrem de Deus que este extraordinário acontecimento produza
aqueles frutos salutares que estão na expectativa de todos; isto é, um reavivamento tal da fé católica,
um tal reflorescimento de caridade e incremento dos costumes cristãos, que até mesmo nos irmãos
separados despertem um vivo e eficaz desejo de unidade sincera e operosa, num único redil e sob
um só pastor (cf. Jo 10,16).

14. Para este fim, exortamo-vos, ó veneráveis irmãos, a que, na imediata vizinhança do mesmo
concílio, em cada paróquia das dioceses a cada um de vós confiadas, promovais uma solene novena
em honra do Espírito Santo, para invocar sobre os padres do concílio a abundância das luzes
celestes e das graças divinas. A este respeito, queremos pôr à disposição dos fiéis os bens que fazem
o tesouro espiritual da Igreja, e, por isto, a todos os que tomarem parte na supradita novena será
concedida a indulgência plenária, a ser lucrada nas condições habituais.

15. Oportuno será também promover nas diversas dioceses uma função penitencial propiciatória.
Esta função deverá ser um fervoroso convite, acompanhado com particular curso de pregação, a
obras de misericórdia e de penitência, com as quais procurem todos os féis tornar propício Deus
onipotente e implorar dele a renovação do espírito cristão, que é um dos escopos precípuos do
concílio. Com efeito, justamente observava nosso predecessor Pio XI, de venerada memória: "A
oração e a penitência são os dois poderosos meios postos por Deus à nossa disposição em nossa
época para reconduzir a ele a mísera humanidade errante sem guia aqui e acolá; são elas que tiram e
reparam a causa primeira e principal de toda perturbação, isto é, a rebelião do homem a Deus".(8)

Necessidade da penitência interna e externa

16. Antes de tudo é necessária a penitência interior, isto é, o arrependimento e a purificação dos
próprios pecados, o que especialmente se obtém com uma boa confissão e comunhão, e com a
assistência ao sacrifício eucarístico. A este gênero de penitência deverão ser convidados todos os
fiéis durante a novena ao Espírito Santo. Vãs seriam, com efeito, as obras exteriores de penitência
se não fossem acompanhadas da limpeza interior da alma e do sincero arrependimento dos próprios
pecados. Neste sentido deve-se entender o severo aviso de Jesus: "Se não fizerdes penitência, todos
igualmente perecereis" (Lc 13,5). Afaste Deus este perigo de todos aqueles que nos foram
confiados!*

17. Além disto, devem os fiéis ser convidados também à penitência exterior, quer para sujeitarem o
corpo ao comando da reta razão e da fé, quer para expiarem as suas culpas e as dos outros. Com
efeito, o próprio s. Paulo, que subira ao terceiro céu e atingira as culminâncias da santidade, não
hesita em armar de si mesmo: "Mortifico o meu corpo e mantenho-o em servidão" (1Cor 9,27); e
alhures adverte: "Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos"
(Gl 5,24). E desta maneira santoAgostinho insiste nessas mesmas recomendações: "Não basta
melhorar a própria conduta e deixar de fazer o mal, se também não se dá satisfação a Deus pelas
culpas cometidas, por meio da dor da penitência, dos gemidos da humildade, do sacrifício do
coração contrito, juntamente com as esmolas". (9)

18. A primeira penitência exterior que todos devemos fazer é a de, com ânimo resignado e confiante,
aceitarmos de Deus todas as dores e sofrimentos que se nos deparam na vida, e tudo o que importa
fadiga e incômodo no exato cumprimento das obrigações do nosso estado, no nosso trabalho
cotidiano e no exercício das virtudes cristãs. Esta penitência necessária não somente vale para nos
purificar, para nos tornar propício o Senhor e para impetrar o seu auxílio para o feliz e frutuoso
êxito do próximo concilio ecumênico, como também torna mais leves e quase suaves as nossas
penas, pondo diante de nós a esperança do prêmio eterno: "Os sofrimentos do tempo presente nâo
têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8,18).

Cooperar na divina redenção

19. Além das penitências que necessariamente temos de enfrentar pelas dores inevitáveis desta vida
mortal, mister se faz que os cristãos sejam tão generosos a ponto de também oferecerem a Deus
mortificações voluntárias, à imitação do nosso divino Redentor, que, segundo a expressão do
príncipe dos apóstolos, "morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos
conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no espírito" (1Pd 3,18). "Pois que Cristo sofreu na
carne, deveis também vós munir-vos desta convicção" (1Pd 4,1). Sirvam nisto de exemplo e de
incitamento também os santos da Igreja, cujas mortificações infligidas ao seu corpo, não raro
inocentíssimo, enchem-nos de admiração e quase nos assustam. Ante esses campeões da santidade,
cristã, como não oferecer ao Senhor alguma privação ou pena voluntária da parte também dos fiéis,
que talvez tantas culpas tenham a expiar? Elas são tanto mais agradáveis a Deus quanto não vêm da
enfermidade natural da nossa carne e do nosso espírito, mas espontânea e generosamente são
oferecidas ao Senhor em holocausto de suavidade.

20. Sabido é, enfim, que o concílio ecumênico tende a incrementar de nossa parte a obra da
redenção, que nosso Senhor Jesus Cristo, "oferecendo-se... porque ele mesmo o quis" (Is 53,7), veio
trazer entre os homens não só com a revelação da sua celeste doutrina, mas também com o
derramamento voluntário do seu sangue precioso. Ora, podendo cada um de nós armar com s. Paulo
apóstolo: "Eu me regozijo nos meus sofrimentos... e completo, na minha carne, o que falta das
tribulações de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24), também nós devemos portanto
alegrar-nos de poder oferecer a Deus os nossos sofrimentos "para a edificação do corpo de Cristo"
(Ef 4,12) que é a Igreja. Antes, devemos sentir-nos imensamente alegres e honrados de sermos
chamados a esta participação redentora da pobre humanidade, sobejas vezes desviada do reto
caminho da verdade e da virtude.

21. Infelizmente muitos, em vez da mortificação e da renegação de si impostas por Jesus Cristo a
todos os seus seguidores com estas palavras: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz cada dia e siga-me" (Lc 9,23), antes procuram desenfreadamente os prazeres
terrenos, e deturpam e debilitam as energias mais nobres do espírito. Contra este modo de viver
desregrado, que não raro desencadeia as paixões mais baixas e leva a grave perigo da salvação
eterna, é preciso que os cristãos reajam com a fortaleza dos mártires e dos santos que sempre
ilustraram a Igreja católica. Desta forma todos poderão contribuir, segundo o seu estado particular,
para o melhor êxito do concílio ecumênico Vaticano II, que justamente deve conduzir a um
reflorescimento da vida cristã.

Convites conclusivos

22. Depois destas paternais exortações, confiamos, veneráveis irmãos, que não somente as
acolhereis com entusiasmo em vós mesmos, mas também estimulareis nossos filhos do clero e do
laicato espalhados pelo mundo todo a acolhê-las. Com efeito - se, como está na expectativa de todos,
o próximo concílio ecumênico deverá acarretar um grandíssimo incremento da religião católica; se
nele ressoará de modo ainda mais solene a "palavra da reino" de que se fala na parábola do
semeador (Mt 13,19); se queremos que por meio dele "o Reino de Deus" se consolide e se estenda
sempre mais no mundo - o bom êxito de tudo isso dependerá, em grande parte, das disposições
daqueles a quem serão dirigidos os seus ensinamentos de verdade, de virtude, de culto público e
privado para com Deus, de disciplina, de apostolado missionário.

23. Por isto, veneráveis irmãos, aplicai-vos sem demora, por todos os meios ao vosso alcance, a fim
de que os cristãos confiados aos vossos cuidados purifiquem seu espírito pela penitência e se
inflamem em maior ardor de piedade; de modo que a "boa semente", que naqueles dias será mais
larga e abundantemente esparzida, não seja por eles dispersada nem sufocada, mas por todos seja
acolhida com ânimo bem disposto e perseverante, e desse grande acontecimento tirem eles copiosos
e duradouros frutos para a sua eterna salvação.

24. Por último, pensamos que ao próximo concílio possam justamente aplicar-se as palavras do
Apóstolo: "Eis agora o tempo aceitável, eis agora o dia da salvação" (2Cor 6,2). Corresponde,
porém, aos desígnios da Providência de Deus que os seus dons sejam distribuídos segundo as
disposições de ânimo de cada um. Portanto, aqueles que querem ser filialmente dóceis a nós, que de
longo tempo nos esforçamos por preparar os corações dos cristãos para esse grandioso evento,
diligentemente prestem atenção também a este nosso último convite. Assim, seguindo o nosso e o
vosso exemplo, veneráveis irmãos, os féis - e em primeiro lugar os sacerdotes, os religiosos, as
religiosas, as crianças, os doentes, os que sofrem - elevem súplicas e façam obras de penitência com
o fim de obterem de Deus para a sua Igreja aquela abundância de luzes e de auxílios sobrenaturais
de que naqueles dias terá ela especial necessidade. Com efeito, como podemos pensar que Deus não
se mova à largueza de graças celestes quando recebe de seus filhos tal abundância de dons que
respiram fervor de piedade e perfume de mirra?

25. Além disso, todo o povo cristão, em obséquio à nossa exortação, dedicando-se mais
intensamente à oração e à prática da mortificação, oferecerá um admirável e comovedor espetáculo
desse espírito de fé que deve animar indistintamente todo filho da Igreja. Isto não deixará também
de abalar salutarmente o ânimo daqueles que, excessivamente preocupados e distraídos com as
coisas terrenas, deixaram-se levar à negligência dos seus deveres religiosos.

26. Se, como está nos nossos desejos, tudo isto acontecer, e vós puderdes deslocar-vos das vossas
dioceses rumo a Roma, para a celebração do concílio, trazendo convosco um tão rico tesouro de
bens espirituais, legitimamente poder-se-á esperar que surja uma nova e mais feliz era para a Igreja
católica.

Animados desta esperança, de todo coração concedemos a vós, veneráveis irmãos, ao clero e ao
povo comado aos vossos cuidados, a bênção apostólica, penhor dos celestes favores e testemunho
da nossa benevolência paternal.

Dado em Roma, junto a s. Pedro, a 1° de julho de 1962, festa do Preciosíssimo Sangue de N. S. J.
C., quarto ano do nosso Pontificado.



                                            JOÃO PP. XXIII




Notas

1. Cf. Constituição Apostólica Humanae salutis; AAS 54(1962), p. 12; ver neste volume às pp. 251-
259.

2. Conc. Trid., Sess. 14, Doctrina de Sacramento Paenitentiae, cap. 2: COD 704; cf. S. Greg. Naz.,
Orat. 39 in sancta lumina, n.17: PG 36, 355-356; S. João Dam., De fide orthod. 4, 9: PG 94,11.24.

3. Oração da Fer. III depois do I Dom. da Quaresma.

4. Oração da Fer. IV depois do IV Dom. da Quaresma.

5. Epist. ad concil. Later IV spectantes, Epist. 28 ad fideles per Monguntinas provincias constitutos:
Mansi, Sacrorum Conciliorum... amplissima Collectio. Paris e Leipzig,1903, vol. 22, col. 959.

6. Cf. Mansi, op. mem., vol. 24, col. 62.
7. Cf. Act. et decr. Sacr. Concil. Recent.: Coll. Lac. t. VII, Friburgi Brisg. 1890.

8. Carta Enc. Caritate Christi compulsi: AAS 24(1932), p.191.

* Esta frase não tem correspondente no texto latino.

9. Serm. 351, 5,12: PL 39,1549.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Devocao ao Sagrado Coracao de Jesus
Devocao ao Sagrado Coracao de JesusDevocao ao Sagrado Coracao de Jesus
Devocao ao Sagrado Coracao de JesusJMVSobreiro
 
A ceia do Senhor - Thomas Watson
A ceia do Senhor - Thomas WatsonA ceia do Senhor - Thomas Watson
A ceia do Senhor - Thomas WatsonHilton da Silva
 
Eucaristia
EucaristiaEucaristia
EucaristiaJean
 
Sagrado Coracao de Jesus
Sagrado Coracao de JesusSagrado Coracao de Jesus
Sagrado Coracao de JesusJMVSobreiro
 
12 tribulação e a esperança da igreja
12   tribulação e a esperança da igreja12   tribulação e a esperança da igreja
12 tribulação e a esperança da igrejaDiego Fortunatto
 
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRAFORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRAJosé Luiz Silva Pinto
 
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014Pr. Andre Luiz
 
05 interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia
05   interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia05   interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia
05 interpretação dos apóstolos do cumprimento da profeciaDiego Fortunatto
 
Carta apostólica porta fidei
Carta apostólica porta fideiCarta apostólica porta fidei
Carta apostólica porta fideiVanessa Almeida
 
Lição 7 - O Lugar Santo
Lição 7 - O Lugar SantoLição 7 - O Lugar Santo
Lição 7 - O Lugar SantoHamilton Souza
 
Sacramento da eucaristia
Sacramento da eucaristiaSacramento da eucaristia
Sacramento da eucaristiaJorge Pereira
 
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de PazLição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de PazÉder Tomé
 

Mais procurados (20)

Missa paixão
Missa paixãoMissa paixão
Missa paixão
 
Devocao ao Sagrado Coracao de Jesus
Devocao ao Sagrado Coracao de JesusDevocao ao Sagrado Coracao de Jesus
Devocao ao Sagrado Coracao de Jesus
 
A ceia do Senhor - Thomas Watson
A ceia do Senhor - Thomas WatsonA ceia do Senhor - Thomas Watson
A ceia do Senhor - Thomas Watson
 
Carta apostolica-porta-fideli
Carta apostolica-porta-fideliCarta apostolica-porta-fideli
Carta apostolica-porta-fideli
 
Eucaristia
EucaristiaEucaristia
Eucaristia
 
Sagrado Coracao de Jesus
Sagrado Coracao de JesusSagrado Coracao de Jesus
Sagrado Coracao de Jesus
 
12 tribulação e a esperança da igreja
12   tribulação e a esperança da igreja12   tribulação e a esperança da igreja
12 tribulação e a esperança da igreja
 
O batismo em nome de jesus
O batismo em nome de jesusO batismo em nome de jesus
O batismo em nome de jesus
 
Christi matri Rosarii
Christi matri RosariiChristi matri Rosarii
Christi matri Rosarii
 
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRAFORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
 
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014
A Consagração Dos Sacerdotes-Lição 12 1º 2014
 
Curso de-ministros
Curso de-ministrosCurso de-ministros
Curso de-ministros
 
Dominum et Vivificantem
Dominum et VivificantemDominum et Vivificantem
Dominum et Vivificantem
 
05 interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia
05   interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia05   interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia
05 interpretação dos apóstolos do cumprimento da profecia
 
Carta apostólica porta fidei
Carta apostólica porta fideiCarta apostólica porta fidei
Carta apostólica porta fidei
 
Lição 7 - O Lugar Santo
Lição 7 - O Lugar SantoLição 7 - O Lugar Santo
Lição 7 - O Lugar Santo
 
Sacramento da eucaristia
Sacramento da eucaristiaSacramento da eucaristia
Sacramento da eucaristia
 
Espaço Litúrgico - Mistagogia da Igreja
Espaço Litúrgico - Mistagogia da IgrejaEspaço Litúrgico - Mistagogia da Igreja
Espaço Litúrgico - Mistagogia da Igreja
 
Porta fidei
Porta fideiPorta fidei
Porta fidei
 
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de PazLição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
Lição 10 - Ofertas Pacíficas para um Deus de Paz
 

Semelhante a Carta Encíclica do Papa João XXIII convida à penitência para o bom êxito do Concílio Vaticano II

Constituição apostólica doutrina das indulgências
Constituição apostólica   doutrina das indulgênciasConstituição apostólica   doutrina das indulgências
Constituição apostólica doutrina das indulgênciasDiêgo De Lima Dantas
 
Sexta feira semana de formação
Sexta feira   semana de formaçãoSexta feira   semana de formação
Sexta feira semana de formaçãoLuciano852456
 
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por Jesus
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por JesusOs Sacramentos da Nova Lei Instituídos por Jesus
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por JesusWalben
 
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de Leitor
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de LeitorMissa Guião Instituição no Ministério Laical de Leitor
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de LeitorJoão Pereira
 
Constituição conciliar vaticano ii
Constituição conciliar vaticano iiConstituição conciliar vaticano ii
Constituição conciliar vaticano iiAntonio Soares
 
9 Ideias Para Viver A Eucaristia
9 Ideias Para Viver A Eucaristia9 Ideias Para Viver A Eucaristia
9 Ideias Para Viver A Eucaristialoboastuto
 
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVI
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVIExortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVI
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVIJosé Eduardo
 
Lição 8 - A ordenança da Ceia do Senhor
Lição 8 - A ordenança da Ceia do SenhorLição 8 - A ordenança da Ceia do Senhor
Lição 8 - A ordenança da Ceia do SenhorÉder Tomé
 
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhor
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhorVerbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhor
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhorBernadetecebs .
 
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...FASBAM
 
Batismo o que significa sua importância para você
Batismo   o que significa sua importância para vocêBatismo   o que significa sua importância para você
Batismo o que significa sua importância para vocêLuiz Ferreira
 

Semelhante a Carta Encíclica do Papa João XXIII convida à penitência para o bom êxito do Concílio Vaticano II (20)

Constituição apostólica doutrina das indulgências
Constituição apostólica   doutrina das indulgênciasConstituição apostólica   doutrina das indulgências
Constituição apostólica doutrina das indulgências
 
Sacramentos
SacramentosSacramentos
Sacramentos
 
Pré revisão 2
Pré revisão 2Pré revisão 2
Pré revisão 2
 
4 Fase e 2 ANO - 2023.docx
4 Fase e 2 ANO - 2023.docx4 Fase e 2 ANO - 2023.docx
4 Fase e 2 ANO - 2023.docx
 
Sexta feira semana de formação
Sexta feira   semana de formaçãoSexta feira   semana de formação
Sexta feira semana de formação
 
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por Jesus
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por JesusOs Sacramentos da Nova Lei Instituídos por Jesus
Os Sacramentos da Nova Lei Instituídos por Jesus
 
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de Leitor
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de LeitorMissa Guião Instituição no Ministério Laical de Leitor
Missa Guião Instituição no Ministério Laical de Leitor
 
Constituição conciliar vaticano ii
Constituição conciliar vaticano iiConstituição conciliar vaticano ii
Constituição conciliar vaticano ii
 
9 Ideias Para Viver A Eucaristia
9 Ideias Para Viver A Eucaristia9 Ideias Para Viver A Eucaristia
9 Ideias Para Viver A Eucaristia
 
Porta Fidei
Porta FideiPorta Fidei
Porta Fidei
 
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVI
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVIExortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVI
Exortação Apostólica Verbum Domini - Papa Bento XVI
 
Lição 8 - A ordenança da Ceia do Senhor
Lição 8 - A ordenança da Ceia do SenhorLição 8 - A ordenança da Ceia do Senhor
Lição 8 - A ordenança da Ceia do Senhor
 
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhor
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhorVerbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhor
Verbum domini carta_sobre_a_palavra_do_senhor
 
Verbum Domini
Verbum DominiVerbum Domini
Verbum Domini
 
Principes Pastorum
Principes PastorumPrincipes Pastorum
Principes Pastorum
 
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...
Curso sobre o Missal Romano | Aula 2 | Desenvolvimento histórico da doutrina...
 
Lumen gentium
Lumen gentium Lumen gentium
Lumen gentium
 
Sacrosanctum Concilium
Sacrosanctum ConciliumSacrosanctum Concilium
Sacrosanctum Concilium
 
Estudo
EstudoEstudo
Estudo
 
Batismo o que significa sua importância para você
Batismo   o que significa sua importância para vocêBatismo   o que significa sua importância para você
Batismo o que significa sua importância para você
 

Mais de Carlinhos Pregador (20)

Santa missa
Santa missaSanta missa
Santa missa
 
Centesimus Annus
Centesimus AnnusCentesimus Annus
Centesimus Annus
 
A eterna dei sapientia
A eterna dei sapientiaA eterna dei sapientia
A eterna dei sapientia
 
Catecismo da Igreja Católica
Catecismo da Igreja CatólicaCatecismo da Igreja Católica
Catecismo da Igreja Católica
 
Catecismo da Igreja Católica
Catecismo da Igreja CatólicaCatecismo da Igreja Católica
Catecismo da Igreja Católica
 
Salvifici Doloris
Salvifici DolorisSalvifici Doloris
Salvifici Doloris
 
Sacerdotalis Caelibatus
Sacerdotalis CaelibatusSacerdotalis Caelibatus
Sacerdotalis Caelibatus
 
Populorum Progressio
Populorum ProgressioPopulorum Progressio
Populorum Progressio
 
Pacem in Terris
Pacem in TerrisPacem in Terris
Pacem in Terris
 
Fides et Ratio
Fides et RatioFides et Ratio
Fides et Ratio
 
Mysterium Fidei
Mysterium FideiMysterium Fidei
Mysterium Fidei
 
Mater et Magistra
Mater et MagistraMater et Magistra
Mater et Magistra
 
Grata Recordatio
Grata RecordatioGrata Recordatio
Grata Recordatio
 
Evangelium Vitae
Evangelium VitaeEvangelium Vitae
Evangelium Vitae
 
Dives in Misericordia
Dives in MisericordiaDives in Misericordia
Dives in Misericordia
 
Ecclesiam Suam
Ecclesiam SuamEcclesiam Suam
Ecclesiam Suam
 
Centesimus Annus
Centesimus AnnusCentesimus Annus
Centesimus Annus
 
A eterna dei Sapientia
A eterna dei SapientiaA eterna dei Sapientia
A eterna dei Sapientia
 
Documento Aparecida
Documento AparecidaDocumento Aparecida
Documento Aparecida
 
Exercícios Espirituais para Total Consagração a Santíssima Virgem
Exercícios Espirituais para Total Consagração a Santíssima VirgemExercícios Espirituais para Total Consagração a Santíssima Virgem
Exercícios Espirituais para Total Consagração a Santíssima Virgem
 

Último

9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19PIB Penha
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAInsituto Propósitos de Ensino
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresNilson Almeida
 
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...MiltonCesarAquino1
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoRicardo Azevedo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...PIB Penha
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPIB Penha
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)natzarimdonorte
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.LucySouza16
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfAgnaldo Fernandes
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfJacquelineGomes57
 

Último (18)

9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
 
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina EspíritaMediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
 
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
2 joão (1) 1.pptx As TRÊS CARTAS DO APÓSTOLO JOÃO têm uma mensagem solene e u...
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
 
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmoAprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
 

Carta Encíclica do Papa João XXIII convida à penitência para o bom êxito do Concílio Vaticano II

  • 1. CARTA ENCÍCLICA DO PAPA JOÃO XXIII PAENITENTIAM AGERE CONVITE À PENITÊNCIA PARA O BOM ÊXITO DO CONCÍLIO Aos veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos, bispos e outros ordinários do lugar em paz e comunhão com a Sé Apostólica. Veneráveis irmãos: saúde e bênção apostólica 1. Fazer penitência pelos próprios pecados é, para o homem pecador, segundo o explícito ensinamento de nosso Senhor Jesus Cristo, a primeira condição, não apenas para solicitar o perdão mas ainda para chegar à salvação eterna. Evidente se torna, pois, quão justificada seja a atitude da Igreja católica, dispensadora dos tesouros da divina Redenção, a qual sempre considerou a penitência como condição indispensável para o aperfeiçoamento da vida de seus filhos e para seu melhor futuro. 2. Por este motivo, na constituição apostólica de convocação do concílio ecumênico Vaticano II, quisemos dirigir aos fiéis o convite para dignamente se prepararem para o grande acontecimento não só com a oração e com a prática ordinária das virtudes cristãs, mas também com a mortificação voluntária. (1) 3. Aproximando-se a abertura do concílio, bem natural se nos afigura renovarmos com maior insistência a mesma exortação, visto que, embora estando presente na sua Igreja "todos os dias até à consumação dos séculos" (Mt 28,20), o Senhor tornar-se-á então ainda mais próximo das mentes e dos corações dos homens através da pessoa dos seus representantes, segundo a sua própria palavra: "Quem vos escuta a mim escuta" (Lc 10,16). 4. Na realidade, sendo o concílio ecumênico a reunião dos sucessores dos apóstolos, a quem o Salvador divino confiou o mandato de ensinar todas as gentes, ensinando-as a observarem todas as coisas que ele mandara (cf. Mt 28,19-20), quer ele significar uma mais alta afirmação dos direitos divinos sobre a humanidade redimida pelo sangue de Cristo, e dos deveres que ligam os homens ao seu Deus e Salvador. Apelos à penitência no Antigo Testamento 5. Ora, se interrogarmos os livros do Antigo e do Novo Testamento, vemos que todo gesto de mais solene encontro entre Deus e a humanidade - para nos exprimirmos em linguagem humana - sempre foi precedido de um mais persuasivo apelo à oração e à penitência. Com efeito, Moisés não entrega ao povo hebreu as tábuas da lei divina senão depois de haver ele feito penitência pelos seus pecados de idolatria e de ingratidão (cf. Ex 32,6-35; lCor 10,7). Os profetas exortam incessantemente o povo de Israel a implorar Deus com coração contrito, a fim de cooperar na realização do desígnio da providência que acompanha toda a história do povo eleito. Comovente é entre todas, a voz do
  • 2. profeta Joel, que ressoa na sagrada liturgia quaresmal: "Agora, portanto, oráculo de Iahweh: retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e com lamentação. Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas. Entre o pórtico e o altar chorem os sacerdotes ministros de Iahweh e digam: Iahweh, tem piedade de teu povo! Não entregues ao opróbrio a tua herança, para que as nações zombem deles!" (Jl 2,1213.17). A penitência no ensino de Jesus Cristo e dos Apóstolos 6. Antes que se atenuarem, tais convites à penitência fazem-se mais solenes com a vinda do Filho de Deus à terra. Eis, com efeito, que João Batista, o Precursor do Senhor, dá início à sua pregação com o grito: "Fazei penitência, pois está próximo o Reino dos Céus" (Mt 3,1). E o próprio Jesus não inicia o seu ministério com a imediata revelação das sublimes verdades da fé, e sim com o convite a purificar a mente e o coração de tudo o que pudesse impedir o frutuoso acolhimento da boa-nova: "A partir desse momento começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus" (Mt 4,17). Ainda mais do que os profetas, o Salvador exige dos seus ouvintes à mudança total do espírito, no reconhecimento sincero e integral dos direitos de Deus: "Eis que o Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17,21); a penitência é força contra as forças do mal; ensina-nos o próprio Jesus Cristo: "O Reino dos Céus sofre violência, e os violentos se apoderam dele " (Mt 11,12). 7. Igual apelo ressoa na pregação dos apóstolos. Efetivamente, s. Pedro assim fala às turbas depois de pentecostes, no intuito de as dispor para também receberem o sacramento da regeneração em Cristo e os dons do Espírito Santo: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos vossos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo" (At 2,38). E o Apóstolo das Gentes adverte os Romanos de que o Reino de Deus não consiste na prepotência e nos desenfreados gozos dos sentidos, mas sim no triunfo da justiça e na paz interior: "Portanto o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17-18). 8. Não se deve crer que o convite à penitência seja dirigido somente àqueles que pela primeira vez devem entrar a fazer parte do Reino de Deus. Na realidade, todos os cristãos têm o dever e a necessidade de fazer violência a si mesmos, ou para repelir os seus inimigos espirituais, ou para conservar a inocência batismal, ou para readquirir a vida da graça perdida com a transgressão dos preceitos divinos. De fato, se é verdade que todos os que se tornaram membros da Igreja pelo santo batismo participam da beleza que Cristo a ela conferiu, segundo as palavras de s. Paulo: "Cristo amou a Igreja, e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5, 26-27); é também verdade que todos os que com graves culpas mancharam a cândida veste batismal devem temer grandemente os castigos de Deus se não procurarem tornar a fazer-se cândidos e resplendentes no sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,14) pelo sacramento da penitência e pela prática das virtudes cristãs. Também a esses, portanto, se endereça o severo aviso do apóstolo s. Paulo: "Quem transgride a lei de Moisés, é condenado a morte sem piedade, com base em duas ou três testemunhas. Podeis, então, imaginar que castigo mais severo ainda merecerá aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança no qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?... Quão terrível é cair nas mãos do Deus vivo! " (Hb 10,28-30). O pensamento e a praxe da Igreja 9. Veneráveis irmãos, a Igreja, esposa dileta do Salvador divino, sempre permaneceu santa e imaculada em si mesma, pela fé que a ilumina, pelos sacramentos que a santificam, pelas leis que a
  • 3. governam, pelos numerosos membros que a embelezam com o adorno de virtudes heróicas. Mas há nela também filhos esquecidos da sua vocação e eleição, os quais em si mesmos deturpam a beleza celestial, e não refletem em si mesmos o semblante divino de Jesus Cristo. 10. Pois bem: a todos, mais do que palavras de reprovação e de ameaça, apraz-nos dirigir uma paternal exortação a terem presente este consolador ensinamento do concílio de dento, eco fidelíssimo da doutrina católica: "Revestidos, com efeito, de Cristo no batismo (Gl 3,27), por meio dele nos tornamos uma criatura inteiramente nova, obtendo a remissão plena e integral de todos os pecados; a tal novidade e integridade não podemos, todavia, chegar por meio do sacramento da penitência sem nossa grande dor e trabalho, sendo isto reclamado pela justiça divina, de modo que a penitência foi justamente chamada pelos santos Padres um certo batismo laborioso".(2) O exemplo nos concílios precedentes 11. O apelo à penitência, portanto, como instrumento de purificação e de renovação espiritual, não deve ressoar qual voz nova ao ouvido do cristão, mas como convite do próprio Jesus, convite que com freqüência tem sido repetido pela Igreja através da voz da sagrada liturgia, dos santos Padres e dos concílios. Assim, há séculos que a Igreja suplica a Deus no tempo de quaresma: "a nossa alma que se mortifica pela penitência corporal viva junto de ti com o desejo de possuir-te" (3) e também: "Fazei que mitigando os afetos terrenos compreendamos mais facilmente as coisas celestes".(4) 12. Não há, portanto, que admirar se os nossos predecessores, ao prepararem a celebração dos concílios ecumênicos, preocuparam-se com exortar os fiéis à penitência salutar. Baste-nos lembrar alguns exemplos. Inocêncio III, ao se aproximar o concílio Lateranense IV, exortava os filhos da Igreja com estas palavras: "À oração junte-se o jejum e a esmola, a fim de que, por meio destas duas asas, a nossa oração mais fácil e mais celeremente voe aos ouvidos de Deus misericordiosíssimo, e ele nos atenda benevolamente no momento oportuno".(5) Gregório X, com uma carta endereçada a todos os seus prelados e capelães, dispôs que a solene abertura do II concílio ecumênico de Lião fosse precedida de três dias de jejum.(6) Pio IX, enfim, exortou todos os féis a que, na purificação da alma de toda mancha de culpa ou reato de pena, dignamente e em perfeita alegria se preparassem para a celebração do concílio ecumênico Vaticano: "Visto ser coisa manifesta que as orações dos homens são mais aceitas a Deus se estes a ele se volvem com coração limpo, isto é, com a alma purificada de toda culpa".(7) Oportunas sugestões em preparação ao concílio ecumênico Vaticano II 13. Seguindo o exemplo dos nossos predecessores, também nós, veneráveis irmãos, ardentemente desejamos convidar todo o mundo católico, clero e laicato, a preparar-se para a grande celebração conciliar com a oração, com as boas obras e com a penitência. E, já que a oração pública é o meio mais eficaz para obter as graças divinas, segundo a própria promessa de Cristo: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18,20), mister se torna portanto que os fiéis todos sejam "um só coração e uma só alma" (At 4,32) como nos primeiros tempos da Igreja, e, com a oração e com a penitência, impetrem de Deus que este extraordinário acontecimento produza aqueles frutos salutares que estão na expectativa de todos; isto é, um reavivamento tal da fé católica, um tal reflorescimento de caridade e incremento dos costumes cristãos, que até mesmo nos irmãos separados despertem um vivo e eficaz desejo de unidade sincera e operosa, num único redil e sob um só pastor (cf. Jo 10,16). 14. Para este fim, exortamo-vos, ó veneráveis irmãos, a que, na imediata vizinhança do mesmo concílio, em cada paróquia das dioceses a cada um de vós confiadas, promovais uma solene novena em honra do Espírito Santo, para invocar sobre os padres do concílio a abundância das luzes
  • 4. celestes e das graças divinas. A este respeito, queremos pôr à disposição dos fiéis os bens que fazem o tesouro espiritual da Igreja, e, por isto, a todos os que tomarem parte na supradita novena será concedida a indulgência plenária, a ser lucrada nas condições habituais. 15. Oportuno será também promover nas diversas dioceses uma função penitencial propiciatória. Esta função deverá ser um fervoroso convite, acompanhado com particular curso de pregação, a obras de misericórdia e de penitência, com as quais procurem todos os féis tornar propício Deus onipotente e implorar dele a renovação do espírito cristão, que é um dos escopos precípuos do concílio. Com efeito, justamente observava nosso predecessor Pio XI, de venerada memória: "A oração e a penitência são os dois poderosos meios postos por Deus à nossa disposição em nossa época para reconduzir a ele a mísera humanidade errante sem guia aqui e acolá; são elas que tiram e reparam a causa primeira e principal de toda perturbação, isto é, a rebelião do homem a Deus".(8) Necessidade da penitência interna e externa 16. Antes de tudo é necessária a penitência interior, isto é, o arrependimento e a purificação dos próprios pecados, o que especialmente se obtém com uma boa confissão e comunhão, e com a assistência ao sacrifício eucarístico. A este gênero de penitência deverão ser convidados todos os fiéis durante a novena ao Espírito Santo. Vãs seriam, com efeito, as obras exteriores de penitência se não fossem acompanhadas da limpeza interior da alma e do sincero arrependimento dos próprios pecados. Neste sentido deve-se entender o severo aviso de Jesus: "Se não fizerdes penitência, todos igualmente perecereis" (Lc 13,5). Afaste Deus este perigo de todos aqueles que nos foram confiados!* 17. Além disto, devem os fiéis ser convidados também à penitência exterior, quer para sujeitarem o corpo ao comando da reta razão e da fé, quer para expiarem as suas culpas e as dos outros. Com efeito, o próprio s. Paulo, que subira ao terceiro céu e atingira as culminâncias da santidade, não hesita em armar de si mesmo: "Mortifico o meu corpo e mantenho-o em servidão" (1Cor 9,27); e alhures adverte: "Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e seus desejos" (Gl 5,24). E desta maneira santoAgostinho insiste nessas mesmas recomendações: "Não basta melhorar a própria conduta e deixar de fazer o mal, se também não se dá satisfação a Deus pelas culpas cometidas, por meio da dor da penitência, dos gemidos da humildade, do sacrifício do coração contrito, juntamente com as esmolas". (9) 18. A primeira penitência exterior que todos devemos fazer é a de, com ânimo resignado e confiante, aceitarmos de Deus todas as dores e sofrimentos que se nos deparam na vida, e tudo o que importa fadiga e incômodo no exato cumprimento das obrigações do nosso estado, no nosso trabalho cotidiano e no exercício das virtudes cristãs. Esta penitência necessária não somente vale para nos purificar, para nos tornar propício o Senhor e para impetrar o seu auxílio para o feliz e frutuoso êxito do próximo concilio ecumênico, como também torna mais leves e quase suaves as nossas penas, pondo diante de nós a esperança do prêmio eterno: "Os sofrimentos do tempo presente nâo têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós" (Rm 8,18). Cooperar na divina redenção 19. Além das penitências que necessariamente temos de enfrentar pelas dores inevitáveis desta vida mortal, mister se faz que os cristãos sejam tão generosos a ponto de também oferecerem a Deus mortificações voluntárias, à imitação do nosso divino Redentor, que, segundo a expressão do príncipe dos apóstolos, "morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na carne, foi vivificado no espírito" (1Pd 3,18). "Pois que Cristo sofreu na carne, deveis também vós munir-vos desta convicção" (1Pd 4,1). Sirvam nisto de exemplo e de
  • 5. incitamento também os santos da Igreja, cujas mortificações infligidas ao seu corpo, não raro inocentíssimo, enchem-nos de admiração e quase nos assustam. Ante esses campeões da santidade, cristã, como não oferecer ao Senhor alguma privação ou pena voluntária da parte também dos fiéis, que talvez tantas culpas tenham a expiar? Elas são tanto mais agradáveis a Deus quanto não vêm da enfermidade natural da nossa carne e do nosso espírito, mas espontânea e generosamente são oferecidas ao Senhor em holocausto de suavidade. 20. Sabido é, enfim, que o concílio ecumênico tende a incrementar de nossa parte a obra da redenção, que nosso Senhor Jesus Cristo, "oferecendo-se... porque ele mesmo o quis" (Is 53,7), veio trazer entre os homens não só com a revelação da sua celeste doutrina, mas também com o derramamento voluntário do seu sangue precioso. Ora, podendo cada um de nós armar com s. Paulo apóstolo: "Eu me regozijo nos meus sofrimentos... e completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo, pelo seu corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24), também nós devemos portanto alegrar-nos de poder oferecer a Deus os nossos sofrimentos "para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4,12) que é a Igreja. Antes, devemos sentir-nos imensamente alegres e honrados de sermos chamados a esta participação redentora da pobre humanidade, sobejas vezes desviada do reto caminho da verdade e da virtude. 21. Infelizmente muitos, em vez da mortificação e da renegação de si impostas por Jesus Cristo a todos os seus seguidores com estas palavras: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me" (Lc 9,23), antes procuram desenfreadamente os prazeres terrenos, e deturpam e debilitam as energias mais nobres do espírito. Contra este modo de viver desregrado, que não raro desencadeia as paixões mais baixas e leva a grave perigo da salvação eterna, é preciso que os cristãos reajam com a fortaleza dos mártires e dos santos que sempre ilustraram a Igreja católica. Desta forma todos poderão contribuir, segundo o seu estado particular, para o melhor êxito do concílio ecumênico Vaticano II, que justamente deve conduzir a um reflorescimento da vida cristã. Convites conclusivos 22. Depois destas paternais exortações, confiamos, veneráveis irmãos, que não somente as acolhereis com entusiasmo em vós mesmos, mas também estimulareis nossos filhos do clero e do laicato espalhados pelo mundo todo a acolhê-las. Com efeito - se, como está na expectativa de todos, o próximo concílio ecumênico deverá acarretar um grandíssimo incremento da religião católica; se nele ressoará de modo ainda mais solene a "palavra da reino" de que se fala na parábola do semeador (Mt 13,19); se queremos que por meio dele "o Reino de Deus" se consolide e se estenda sempre mais no mundo - o bom êxito de tudo isso dependerá, em grande parte, das disposições daqueles a quem serão dirigidos os seus ensinamentos de verdade, de virtude, de culto público e privado para com Deus, de disciplina, de apostolado missionário. 23. Por isto, veneráveis irmãos, aplicai-vos sem demora, por todos os meios ao vosso alcance, a fim de que os cristãos confiados aos vossos cuidados purifiquem seu espírito pela penitência e se inflamem em maior ardor de piedade; de modo que a "boa semente", que naqueles dias será mais larga e abundantemente esparzida, não seja por eles dispersada nem sufocada, mas por todos seja acolhida com ânimo bem disposto e perseverante, e desse grande acontecimento tirem eles copiosos e duradouros frutos para a sua eterna salvação. 24. Por último, pensamos que ao próximo concílio possam justamente aplicar-se as palavras do Apóstolo: "Eis agora o tempo aceitável, eis agora o dia da salvação" (2Cor 6,2). Corresponde, porém, aos desígnios da Providência de Deus que os seus dons sejam distribuídos segundo as disposições de ânimo de cada um. Portanto, aqueles que querem ser filialmente dóceis a nós, que de
  • 6. longo tempo nos esforçamos por preparar os corações dos cristãos para esse grandioso evento, diligentemente prestem atenção também a este nosso último convite. Assim, seguindo o nosso e o vosso exemplo, veneráveis irmãos, os féis - e em primeiro lugar os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, as crianças, os doentes, os que sofrem - elevem súplicas e façam obras de penitência com o fim de obterem de Deus para a sua Igreja aquela abundância de luzes e de auxílios sobrenaturais de que naqueles dias terá ela especial necessidade. Com efeito, como podemos pensar que Deus não se mova à largueza de graças celestes quando recebe de seus filhos tal abundância de dons que respiram fervor de piedade e perfume de mirra? 25. Além disso, todo o povo cristão, em obséquio à nossa exortação, dedicando-se mais intensamente à oração e à prática da mortificação, oferecerá um admirável e comovedor espetáculo desse espírito de fé que deve animar indistintamente todo filho da Igreja. Isto não deixará também de abalar salutarmente o ânimo daqueles que, excessivamente preocupados e distraídos com as coisas terrenas, deixaram-se levar à negligência dos seus deveres religiosos. 26. Se, como está nos nossos desejos, tudo isto acontecer, e vós puderdes deslocar-vos das vossas dioceses rumo a Roma, para a celebração do concílio, trazendo convosco um tão rico tesouro de bens espirituais, legitimamente poder-se-á esperar que surja uma nova e mais feliz era para a Igreja católica. Animados desta esperança, de todo coração concedemos a vós, veneráveis irmãos, ao clero e ao povo comado aos vossos cuidados, a bênção apostólica, penhor dos celestes favores e testemunho da nossa benevolência paternal. Dado em Roma, junto a s. Pedro, a 1° de julho de 1962, festa do Preciosíssimo Sangue de N. S. J. C., quarto ano do nosso Pontificado. JOÃO PP. XXIII Notas 1. Cf. Constituição Apostólica Humanae salutis; AAS 54(1962), p. 12; ver neste volume às pp. 251- 259. 2. Conc. Trid., Sess. 14, Doctrina de Sacramento Paenitentiae, cap. 2: COD 704; cf. S. Greg. Naz., Orat. 39 in sancta lumina, n.17: PG 36, 355-356; S. João Dam., De fide orthod. 4, 9: PG 94,11.24. 3. Oração da Fer. III depois do I Dom. da Quaresma. 4. Oração da Fer. IV depois do IV Dom. da Quaresma. 5. Epist. ad concil. Later IV spectantes, Epist. 28 ad fideles per Monguntinas provincias constitutos: Mansi, Sacrorum Conciliorum... amplissima Collectio. Paris e Leipzig,1903, vol. 22, col. 959. 6. Cf. Mansi, op. mem., vol. 24, col. 62.
  • 7. 7. Cf. Act. et decr. Sacr. Concil. Recent.: Coll. Lac. t. VII, Friburgi Brisg. 1890. 8. Carta Enc. Caritate Christi compulsi: AAS 24(1932), p.191. * Esta frase não tem correspondente no texto latino. 9. Serm. 351, 5,12: PL 39,1549.