[1] O artigo discute a proposta de um administrador municipal para introduzir multas para pessoas que recolhem lixo de contentores públicos, argumentando que isso é sintomático de uma sociedade com menos dignidade humana e solidariedade.
[2] A Europa já passou por períodos semelhantes no início do século XIX quando o capitalismo sem regras dominava a política.
[3] Em vez de propor soluções para a pobreza, o administrador apela aos contribuintes para denunciarem esses que procuram comida
O sr. do lixo fala por nós? Debate sobre desvalorização da dignidade humana
1. OPINIÃO O sr. do lixo fala por nós?
Luís António Santos
Professor da Universidade do Minho
Li há dias que o administrador de uma empresa conflitos mundiais, a Europa encontra para si um
municipal de recolha de resíduos – Pedro Mes- caminho autónomo, sustentado em fundamentos
quita, da Braval – quer a implementação de um social-cristãos ancorados num sentido de equilí-
sistema de multas para as pessoas que “roubem” brio.
lixo dos contentores na via pública. Diz aquele res- O que vivemos, sobretudo de 2009 para cá, é um
ponsável que os resíduos recolhidos pela entidade processo paulatino de desmantelamento desse edi-
que gere diminuíram de 2011 para 2012 e que isso fício complexo. E começou-se pelo mais importan-
leva a um aumento nos custos do te – pela quebra de confiança entre
serviço. Assim sendo, os munícipes O que vivemos, o indivíduo e o Estado. Ao primei-
PÁG. deveriam chamar as autoridades a sobretudo de 2009 ro disse-se que não deve ser lame-
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intervir sempre que se deparassem para cá, é um chas e que deve ser empreendedor
com um destes “crimes”. processo paulatino (sendo que tudo o que de mal lhe
A história é real e está longe de aconteça é apenas culpa sua) e ao
de desmantelamento
ser uma anomalia. É, antes, sinal segundo retiraram-se tarefas e/ou
de um tempo de desvalorização desse edifício competências em áreas vitais da
da dignidade humana, de menori- complexo. E vida comum (a Saúde, o Ensino, a
zação da solidariedade. A Europa começou-se pelo mais Segurança, a Justiça), em nome da
já viveu tempos semelhantes e o importante – pela “agilização” e da “competitivida-
que se lhe seguiu não deveria ser de” do país, ao mesmo tempo que
quebra de confiança
esquecido. se lhe aumentava o caráter fiscali-
Numa altura em que o capitalis- entre o indivíduo e o zador/penalizador.
mo sem regra estava em expansão Estado O sr. da Braval, que podia ter usa-
(início do século XIX), o então Pri- do o seu tempo nos média para
meiro-ministro britânico, William Pitt, respondia anunciar um inovador programa de monitoriza-
aos industriais descontentes com o “alto valor do ção/auxílio das situações limite que levam cada
custo do trabalho” (resultante de jornadas de 18 vez mais pessoas a procurar no lixo migalhas de
horas) dizendo-lhe que contratassem crianças. O sobrevivência escolheu, em vez disso, apelar ao
respeito pela vida humana era ínfimo e a necessi- “contribuinte martirizado” que há em cada um de
dade de alimentar um sistema de acumulação de nós por meio de uma ameaça – “Vejam lá! Se não
riqueza para muito poucos dominava a vida políti- querem taxas (ainda) mais altas ponham-se à ja-
ca por completo. nela a tirar fotos a esses incapazes que pilham o
Abusando de uma generalização excessiva por ra- lixo e a ligar de imediato para o 112!”.
zões de economia de texto poderia dizer-se que é O problemático é que cada nova medida estrutu-
esta deriva social que cria condições para o apare- ral para nos afastar de espaços comuns dá “calor”
cimento das ideias de Karl Marx e que é com base ao surgimento de mais propostas como a do Sr. da
num processo de interação entre estas duas visões Braval. E o assustador, mesmo, é que não tarda
tão distintas que, na sequência de dois grande nada estamos todos a apresentar uma.
Educação
Nuno Crato na China “a trabalhar para o futuro”
O ministro português da Educação e Ciência, Nuno Cra- criação será formalmente acordada na quinta-feira em
to, iniciou, esta manhã, uma visita oficial de cinco dias Hangzhou, capital da província de Zhejiang, leste da
à China, que ficará marcada pela criação de um centro China.
de investigação conjunto. Ainda em Lisboa, o ministro português adiantou à agên-
“Estamos a trabalhar para o futuro”, comentou à agên- cia Lusa que “o centro estará operacional muito em
cia Lusa o embaixador de Portugal na China, José Tadeu breve”. “É uma questão de semanas. Vamos assinar o
Soares. O diplomata referia-se ao Centro de Inovação memorando e a partir daí fica operacional esta coope-
sino-português na área de materiais avançados, cuja ração”, disse.
r/com renascença comunicação multimédia, 2013