1. O COLAPSO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
O filho chega para a mãe todo contente e com um sorriso tão
grande que contamina até a vizinha que olhava pela janela. Entrega um
papel importante e sua mãe ainda com extrema dificuldade de leitura
procura lê-lo da melhor forma possível que aprendeu ainda quando menina
(soletrando). A – PRO – VA – DO. – Valei-me Deus! Diz a mãe toda
intrigada. – Esse minino cabra da pesti fartou 189 vezis na iscola, tirô novi
zerus duranti u anu todo, teve novi paçagi na sala da diretora e ainda diz
que passô? O menino esperto que é e conhecedor das leis educacionais,
olha para a mãe e faz sua defesa esplendorosa: – Aê mãe! Os tempos
mudaram a onda agora é diferente. Eu nem preciso estudar pra passar. Tem um tal de sistema
que toma conta de tudo e faz a vida uma maravilha. Veja só, o meu amigo Chiquinho já
chegou arrasando na escola. Ele está com 14 anos e parou no quinto ano, esse tal de
sistema mandou ele direto pro nono ano, nem se quer precisou fazer prova, isso é
radical. Dizem que é uma tal de enturmação.
A mãe sussurra baixinho: – Vixi Maria! Esse mundo tá doidiu mermo. Tá iguá arguns
políticus: roba roba e cuntinua seno santo.
Parece engraçado e esquisito, mas é simplesmente uma realidade nua e crua da nossa
tão sonhada educação. Como pai, me recuso a acreditar que a educação brasileira vai bem. Não
é verdade. Muito obrigado. Saber que no papel a proposta do ciclo de formação humana é um
sonho tão almejado me deixa feliz, mas ao me deparar com o que vemos e ouvimos em nossas
escolas, me entristece. Não é a toa que no último IDEB (2009) tivemos uma queda
surpreendente entre os alunos do ensino médio. São reflexos do ensino fundamental, é apenas
uma amostra de como anda nosso ensino. Se no ensino fundamental não existe reprovação e
expulsão, logo todos são aprovados. Que me perdoem os bons e entendidos da área: ISSO É
UMA TREMENDA FARSA.
Como queremos que nossos alunos sejam? Será isso realmente um preparo para a vida,
para o mercado de trabalho? O que vejo todo dia são professores fazendo das tripas coração, o
impossível para que seus alunos tenham o desejo de aprender e os pais em grande maioria
perguntando: Como meu filho passou se nem ao menos sabe ler e escrever direito? (não que
eu seja contra a formação humana), mas em parte, eles estão certos. Se todos passarem,
seremos um estado inteiramente alfabetizado. Outra grande farsa. Como educadores precisamos
ir muito mais além. Como superar desafios de aprendizagem se nos faltam suportes e
estruturas necessárias capazes de amenizar pelo menos um pouco dos nossos problemas? O
professor é multi. Multiplicado por dez. Dez problemas, dez soluções, dezPREZADO, porque
não tem o valor que lhe é dado por direito conquistado em longos anos de preparo e estudo.
Uma escola que nem ao menos tem uma biblioteca, uma sala de superação, uma sala de
recursos, que vive no descaso e improviso e faz jus ao povo brasileiro que sempre dá um
jeitinho para cada coisa. Enquanto isso, no PARAÍSO, deitam e rolam no nosso dinheiro pago
com suor tirado do nosso próprio corpo. Quisera eu e muitos outros pais que a educação
brasileira fosse tão admirada quanto o futebol e que tivesse tanto investimento quanto um
estádio ou até mesmo a sua festa de inauguração. Para um país que se encontra em sexto lugar
como potência mundial é lamentável saber que possuímos a 88ª posição em educação. Isso é
contraditório (fonte 2012).
As orientações curriculares (ORIENTATIVO 2013, CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA,
SEDUC-MT) dizem que nas escolas organizadas por Ciclos de Formação Humana, as
responsabilidades são compartilhadas, nesse sentido, todos os profissionais da escola devem
compreender a necessidade/importância de assegurar a permanência do educando na escola e
2. seu avanço nos estudos, neste sentido, ouso perguntar: Será mesmo que estão dando tanta
importância a essa educação? O que fazer então para solucionar tais dificuldades?
1-Que nossos alunos queiram ser lapidados e transformados e que procurem exercer a
sua cidadania de tal forma a alcançar o alvo desejado, uma educação comprometida com seu
direito de ser e viver.
2- Que todos os pais levem a sério o estudo dos seus filhos e que prezem pela qualidade
do aprendizado e que interajam na vida do mesmo, que tornem a escola um pedaço de seu lar e
que se disponham a ajudar quando lhe pedem auxílio.
3- Que nossos professores, comprometidos e capacitados carreguem na alma o desejo
de aprender e ensinar, que se aperfeiçoem a cada dia com o tradicional e o tecnológico. Que
continuem manejando a arma do conhecimento usando toda sua sabedoria para as práticas do
bem comum, que despertem no aluno o interesse e o desejo pelo estudo e pela pesquisa
científica.
4- Queremos também uma gestão que tenha visão, que pense no futuro, que
desenvolva um trabalho cooperativo, que invista no que é necessário, que sonhe alto, que pense
na qualidade, que seja ativa e participativa e que se torne presente no contexto da vida de cada
aluno.
E, por fim,
(5)-Queremos um GOVERNO que faça valer o verdadeiro sentido e significado da
palavra educação. Que zele pelas escolas dando-lhes condições e infraestrutura suficientes
para que as ações pedagógicas sejam menos utópicas e mais reais, menos teóricas e mais
práticas. No País onde o esporte vale um milhão e a educação um sabugo… tá na hora de
revermos esse conceito.
(*) Raimundo Soares de Andrade é pai e educador que pensa que a educação é uma coisa
muito séria para ser levada na brincadeira – prrsoares@hotmail.com
Publicado no Jornal A Tribuna MT, Fevereiro de 2013 - por Raimundo Soares de Andrade.
Disponível em: http://www.atribunamt.com.br/2013/02/o-colapso-da-educacao-brasileira/