O documento discute as teorias da ligação química em complexos de metais de transição, incluindo a Teoria da Ligação de Valência, a Teoria do Campo Cristalino e a Teoria dos Orbitais Moleculares. Apresenta exemplos de complexos com diferentes geometrias e propriedades magnéticas para ilustrar os conceitos.
1. Ligação Química nos Complexos - Prof. J. D. Ayala - 1 -
ASPECTOS GERAIS
Tal como todos os demais compostos, os complexos dos metais de transição devem sua
estabilidade à diminuição de energia que ocorre quando elétrons se movem no campo de mais do
que um núcleo. Por isto, as teorias da ligação em complexos de metais de transição não diferem,
fundamentalmente, das teorias empregadas na discussão de outras ligações química. Entretanto, a
ligação química nos compostos de coordenação dos metais de transição envolve algumas
características novas às quais não foi dada ênfase, quando da discussões de outros sistemas:
1) os orbitais d do átomo central estão envolvidos na ligação aos ligantes;
2) é importante levar em conta explicitamente o comportamento dos elétrons não ligantes;
3) é interessante examinar não somente os estados eletrônicos mais baixos, mas também seus
estados eletrônicos excitados, pois é a existência destes estados que é responsável pela absorção
de luz e coloração dos íons.
4) As propriedades magnéticas dos complexos dos metais de transição são muito importante e
deveriam ser explicadas satisfatoriamente pelas teorias de ligação.
Existem três (quatro) maneiras importantes de se chegar ao problema da ligação em
complexos de metais de transição:
1) Teoria da Ligação de Valência (TLV) – Segundo Pauling, a formação de um complexo pode
ser vista como uma reação ácido (metal central) – base (ligantes) de Lewis, formando-se uma
ligação covalente coordenada entre as espécies;
2) Teoria do Campo Cristalino (TCC) – Hans Bethe estabelece que a atração entre a espécie
central e os ligantes é puramente eletrostática, seja na interação íon-íon ou íon-dipolo.
3) Teoria do Campo Ligante – Van Vleck fez uma ampliação da abordagem eletrostática (TCC),
que leva em consideração certas interações entre os orbitais do metal e os ligantes. Há três tipos
de interações possíveis: interação de orbitais do tipo σ; interações do tipo π ou dπ-pπ, estas
devidas à superposição π de orbitais cheios do metal com orbitais p vazios do ligante (“back-
bonding”);
4) Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM) – As ligações são consideradas como sendo
essencialmente covalentes. Os ligantes fornecem elétrons que vão ocupar os orbitais σ e π
ligantes, antiligantes e as vezes não-ligantes do complexo.
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TEORIA DE LIGAÇÃO DE VALÊNCIA (TLV)
A Teoria de Ligação de Valência (TLV), é baseada na suposição que:
a) os níveis eletrônicos de energia de um átomo (orbitais atômicos) são usados quando o átomo
forma uma ligação com outros átomos;
b) um par de elétrons ligados ocupa um orbital em cada um dos átomos simultaneamente;
Para explicar a geometria conhecida dos compostos de coordenação, Pauling propôs que
os orbitais atômicos da espécie central sofram hibridização, de tal forma que os novos orbitais
atômicos híbridos (OAH’s) tenham a simetria do complexo. Os elétrons doados pelos ligantes
ocupam esses OAH’s formados.
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TEORIA DO CAMPO CRISTALINO (TCC)
Essa teoria postula que a única interação existente entre o íon central e os ligantes é de
natureza eletrostática. Os ligantes são considerados cargas ou dipolos pontuais.
No modelo da TCC, a interação eletrostática metal-ligante remove parcialmente a
degeneração dos cinco orbitais d, que existem no íon metálico isolado.
SISTEMA OCTAÉDRICO
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A diferença de energia entre os orbitais eg e t2g, qualquer que seja seu valor em termos
de kJ mol-1
, é definida como 10 Dq ou ∆o e denomina-se desdobramento do campo cristalino.
O valor numérico da energia que corresponde a 10 Dq é uma medida da força do campo
eletrostático. Este valor pode ser determinado a partir de dados espectrais.
ENERGIA DE ESTABILIZAÇÃO DO CAMPO CRISTALINO (EECC)
Considerando o caso mais simples de um complexo com configuração d1
, [Ti(H2O)6]3+
,
a energia necessária para promover o elétron do estado fundamental para o estado excitado,
10
2
01
2 gggg etet → , é por definição 10 Dq, seu valor pode ser obtido através do espectro de absorção
na região do UV-VIS do composto. O espectro de absorção desta amostra revela que a transição
ocorre em um máximo de 20300 cm-1
, o qual corresponde a 243 kJ mol-1
, portanto:
1-
1-
O
molkJ97,2-EECC
molkJ243)
5
2
(-.(1)EECC
)
5
2
(-.(1)EECC
=
=
∆=
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Para um complexo, cuja a configuração do íon central seja d2
:
EECC = 2.(–0,4).∆O = -0,8 ∆O;
para uma configuração d3
:
EECC = 3.(–0,4).∆O = -1,2 ∆O
Nestes casos a regra de Hund é obedecida. Para uma configuração d4
ou d5
, há, em princípio, duas
alternativas:
1) a regra de Hund continua sendo obedecida e o quarto (ou quinto) elétron ocupará um
orbital eg;
2) a regra de Hund deixa de prevalecer e o quarto e quinto elétrons serão emparelhados nos
orbitais t2g.
Estas duas alternativas estão associadas ao valor de ∆O e de P (energia necessária para
forçar o emparelhamento dos elétrons em um mesmo orbital).
Se ∆O < P teremos uma situação de campo fraco (spin-alto) e os elétrons ocuparão os orbitais eg.
Portanto, para as configurações d4
e d5
teremos:
et gg
13
2 EECC = (3 x +0,4 ∆O) - ( 1 x +0,6 ∆O) = 0,6 ∆O;
et gg
23
2 EECC = (3 x +0,4 ∆O) - ( 2 x +0,6 ∆O) = 0,0 ∆O;
Se ∆O > P teremos uma situação de campo forte (spin-baixo) e os elétrons ocuparão os orbitais t2g.
Portanto, para as configurações d4
e d5
teremos:
et gg
04
2 EECC = (4 x +0,4 ∆O) – 1 P = 1,6 ∆O – P;
et gg
05
2 EECC = (5 x +0,4 ∆O) – 2 P = 2,0 ∆O – 2 P;
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Efeito do Campo Cristalino para um Campo Octaédrico Fraco e Forte
Campo Fraco Campo Forte
dn
Configuração
No. Elétrons
Desemparelhados
EECC Configuração
No. Elétrons
Desemparelhados
EECC
d1 1
2gt 1 0,4 ∆O
1
2gt 1 0,4 ∆O
d 2 2
2gt 2 0,8 ∆O
2
2gt 2 0,8 ∆O
d 3 3
2gt 3 1,2 ∆O
3
2gt 3 1,2 ∆O
d 4 1
ge3
2gt 4 0,6 ∆O
4
2gt 2 1,6 ∆O
d 5 2
ge3
2gt 5 0,0 ∆O
5
2gt 1 2,0 ∆O
d 6 2
ge4
2gt 4 0,4 ∆O
6
2gt 0 2,4 ∆O
d 7 2
ge5
2gt 3 0,8 ∆O
1
ge6
2gt 1 1,8 ∆O
d 8 2
ge6
2gt 2 1,2 ∆O
2
ge6
2gt 2 1,2 ∆O
d 9 3
ge6
2gt 1 0,6 ∆O
3
ge6
2gt 1 0,6 ∆O
d10 4
ge6
2gt 0 0,0 ∆O
4
ge6
2gt 0 0,0 ∆O
Energia de Emparelhamento para Alguns Íons Metálicos
Íon P [ kJ mol-1
(cm-1
) ]
Cr2+
244,3 (20425)
.d4
Mn3+
301,6 (25215)
Cr+
211,6 (17687)
Mn2+
285,0 (23825).d5
Fe3+
357,4 (29875)
Mn+
174,2 (14563)
Fe2+
229,1 (19150).d6
Co3+
282,6 (23625)
Fe+
211,5 (17680)
.d7
Co2+
250,0 (20800)
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SISTEMA TETRAGONAL (EFEITO JAHN-TELLER)
Quando a distância metal-ligante, segundo o eixo z, é diferente das distâncias segundo
os outros dois eixos, diz-se que o complexo sofreu uma distorção tetragonal da geometria
octaédrica.
d1
Sim
d 2
Sim
d 3
Não
d 4
Sim (Spin Alto)
Sim (Spin Baixo)
d 5
Não (Spin Alto)
Sim (Spin Baixo)
d 6
Sim (Spin Alto)
Não (Spin Baixo)
d 7
Sim (Spin Alto)
Sim (Spin Baixo)
d 8
Não
d 9
Sim
10. Ligação Química nos Complexos - Prof. J. D. Ayala - 10 -
COMPLEXO QUADRADO PLANAR
NÍVEIS DE ENERGIA DOS ORBITAIS d EM DIFERENTES SIMETRIAS (valores em Dq)
N.C. Estrutura .dz2 .dx2.-y2 dxy dxz dyz
1 Linear (ligante no eixo z) 5,14 -3,14 -3,14 0,57 0,57
2 Linear (ligantes no eixo z) 10,28 -6,28 -6,28 1,14 1,14
3 Trigonal (ligantes no plano xy) -3,21 5,46 5,46 -3,86 -3,86
Tetraédrica -2,67 -2,67 1,78 1,78 1,78
4
Quadrado Planar(ligantes no plano xy) -4,28 12,28 2,28 -5,14 -5,14
Bipirâmide Trigonal (base no plano xy) 7,07 -0,82 -0,82 -2,72 -2,72
5
Piramidal (base no plano xy) 0,86 9,14 -0,86 -4,57 -4,57
Octaédrica 6,00 6,00 -4,00 -4,00 -4,00
6
Prisma Trigonal 0,96 -5,84 -5,84 5,36 5,36
7 Bipirâmide Pentagonal 4,93 2,82 2,82 -5,28 -5,28
Cúbica -5,34 -5,34 3,56 3,56 3,56
8
Antiprisma Quadrado -5,34 -0,89 -0,89 3,56 3,56
9 Prisma Trigonal Triencapuzado -2,25 -0,38 -0,38 3,56 3,56
12 Icosaédrica 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
11. Ligação Química nos Complexos - Prof. J. D. Ayala - 11 -
FATORES QUE AFETAM A MAGNITUDE DO 10 Dq
Estado de Oxidação do Íon Metálico
A magnitude de ∆ aumenta com o aumento da carga iônica do metal, pois este,
apresentando uma carga positiva maior, atrairá os ligantes aniônicos ou polares mais fortemente,
aumentando assim a interação eletrostática entre eles e os elétrons nos orbitais d.
Natureza do Íon Metálico
A magnitude de ∆ aumenta significativamente quando se passa de um período para
outro, em uma mesma família, ou seja, 3d < 4d < 5d. Um importante resultado desta tendência é
que os compostos de coordenação dos metais dos segundo e terceiro períodos da Tabela Periódica
apresentam a grande facilidade de formarem complexos de spin-baixo em relação aqueles da
primeira série de transição.
Número e Geometria dos Ligantes
A magnitude de ∆ depende do número de ligantes e se seu arranjo em torno da espécie
central. Em princípio, quanto maior o número de ligantes, mais forte será o campo. Como foi visto,
um complexo com geometria tetraédrica apresenta um valor de ∆t de aproximadamente 50% do
valor de ∆O (de um complexo octaédrico).
Natureza dos Ligantes
Diferentes ligantes influenciam diferentemente no grau de desdobramento dos orbitais
d. Experimentalmente, foi possível ordenar um grande número de ligantes de acordo com os valores
de ∆. A série obtida recebeu o nome de Série Espectroquímica:
I−
< Br-
< S2-
< SCN-
< Cl-
< N3
-
, F-
< uréia, OH-
< ox, O2-
< H2O < NCS-
<
< py, NH3 < en < bpy, phen < NO2 < CH3
-
, C6H5
-
< CN-
< CO