Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
Judas iscariotes traidor ou traído
1.
2. Judas Iscariotes foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Nascido em
Kerioth, localidade da Judeia, era o único seguidor que não tinha nascido na
Galileia. Foi um dos primeiros a juntar-se ao Cristo e, por ser um dos poucos
instruídos, tornou-se o tesoureiro dos apóstolos, ou seja, foi designado para
cuidar do dinheiro comum do grupo. Judas é o nome de apóstolo que mais
vezes aparece nos Evangelhos (26), depois de Pedro.
Remontando o quadro da última ceia, encontramos Jesus afirmando que seria
traído, e oferecendo o pão para aquele que seria o traidor, isto é, a Judas
Iscariotes.
A partir dessa passagem, podemos deduzir que o Cristo sabia do Seu destino
e o aceitara como algo inevitável, do qual não poderia abrir mão.
3. Depois da última ceia, pouco antes das comemorações da Páscoa hebraica,
Judas parte para alertar os sacerdotes, enquanto Jesus se dirige ao Getsêmani
para orar. Segundo as Escrituras, o Cristo sabia tudo que ia ocorrer, e nesse
momento pedia forças e coragem ao Pai. A troco de trinta moedas de prata,
possivelmente Siclos e não Denários como é divulgado, esse era o preço de
um escravo. O apóstolo conduz os algozes ao encontro do Mestre, pois sabia
com precisão onde Ele estaria. O Messias é delatado por Seu seguidor através
de um beijo, o famoso beijo de Judas. Jesus é então preso, condenado e morto
na cruz. Judas se arrependeu amargamente, depois que viu a crucificação de
Jesus, e joga as trinta moedas aos pés dos sacerdotes e, em seguida, dominado
pelo remorso, suicidou-se enforcado numa figueira.
4. Pelo relato dessas passagens do Evangelho, fica bem claro para nós, que um
ser com o poder e a estatura moral de Jesus jamais poderia ser massacrado
como foi se assim não o permitisse. Entendendo dessa forma, jamais
poderíamos condenar Judas, já que o Cristo não teria sido apanhado de
surpresa pelo suposto gesto de traição do apóstolo, pois sabia de antemão e
que o próprio iria realizá-lo. Quem sabendo-se traído e quem é o traidor,
continuaria relacionando-se com ele até a chegada de sua morte provocada
pela traição, senão por estar de acordo, e esta fazer parte de sua trajetória na
Terra? No reconhecimento dessa verdade e no momento em que a revela a
Seus discípulos, Jesus perdoara Judas.
5. As Escrituras cristãs são sóbrias, porém claras ao mostrar um Jesus que
caminha para Jerusalém sabendo o que o espera, e assumindo a angústia e a
dor de sua hora, confiante no amor do Pai que nunca o abandona, e que lhe
permite ir até o fim em Sua entrega amorosa e total. É importante destacar
que em nenhum momento o Cristo pretende escapar de sua condição humana.
Os discípulos que acompanham assustados o drama que não entendem, têm
diferentes tipos de atitude. Alguns fogem. Poucos ficam.
Agora, duas perguntas: Se Judas tivesse mesmo o firme propósito de trair o
Mestre, para levá-lo à morte, sentiria tamanho remorso, a ponto de se
enforcar? Judas não praticou o mal necessário para que Jesus demonstrasse
todo Seu amor sacrificial?
6. Em seis de abril de 2006, foi publicado na revista National Geographic, uma
cópia do manuscrito encontrado em 1970, com mais de 1700 anos, escrito em
copta (antiga língua dos cristãos do Egito) numa caverna no Egito. Este
documento resistiu ao tempo graças ao clima seco da região. A descoberta
traz uma nova versão sobre a traição de Judas. A análise das vinte e seis
páginas do papiro e das treze pranchas escritas em ambos os lados, sugere,
entre outras coisas, que Judas era o discípulo mais fiel ao Cristo; que Judas
não teria traído Jesus e, sim, cumprindo os desejos do Mestre, como aquele
que conduziria o Cristo à Cruz, transformando o “traidor” em discípulo
preferido de Jesus. Numa passagem, vista como um momento chave da
narrativa, o Cristo diz a Judas: “(...) irás superá-los a todos, pois irás
sacrificar o corpo que me reveste”.
7. Contrariamente à versão dos quatro Evangelhos oficiais, esse novo texto
clama que Judas era o discípulo que mais compreendia os ensinamentos do
Mestre. De acordo com especialistas, o Evangelho de Judas colocaria em
questão certos princípios políticos da doutrina cristã e permitiria uma
revolucionária reabilitação de Judas, que durante séculos carrega o estigma
de traidor de Jesus. Apesar de toda polêmica, dentro e fora da Igreja Católica
sobre o assunto, o Vaticano deixou claro que a divulgação do manuscrito não
representará qualquer mudança de sua posição. O jornal britânico The Times
afirmou que o monsenhor Walter Brandmuller, presidente do Comitê
Pontifício para Ciências Históricas, estaria liderando uma comissão do
Vaticano para reabilitar Judas. Informação rapidamente negada por
Brandmuller.
8. “Não há nenhuma campanha no Vaticano, nenhum movimento para a
reabilitação do traidor de Jesus”, afirmou o monsenhor, que definiu o
documento como um “produto de uma fantasia religiosa”. Segundo
Brandmuller, apesar de lançar luzes para melhor compreensão do
cristianismo primitivo, o texto continuará sendo considerado herético pela
Igreja Católica.
Essa polêmica revela quão pouco ainda sabemos sobre a vida de Jesus Cristo.
Ainda hoje, quase dois milênios depois, o nome Judas, as trinta moedas de
prata que recebeu, e o beijo que deu em Jesus, são símbolos de traição na
cultura ocidental. Apesar da nova versão que veio à tona, a sua imagem
cristalizada no imaginário popular é a do “Vilão”.
9. No folclore brasileiro, condenado por suposta traição, é tradição no sábado de
aleluia a malhação de Judas, representado por um boneco de palha,
pendurado em um poste ou galho de árvore, que depois de derrubado, é
queimado e arrastado pela rua, debaixo de pauladas.
Intrigante: por que esse Evangelho, além de outros tantos, não foi sequer
divulgado para o público? No Concílio de Nicéia, por iniciativa do imperador
cristão Constantino, a igreja limitou a quatro os Evangelhos de Jesus, ou seja,
aqueles atribuídos a Marcos, João, Lucas e Mateus. Convém lembrar que só
Mateus e João tiveram ligação direta com Jesus. Alguns deles foram
descartados porque não estavam de acordo com o que Constantino desejava
como doutrina política.
10. Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo
o Espiritismo