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1738-2003:
ALDERSGATE DEPOIS DE 265 ANOS
Rev. Duncan Alexander Reily, pastor e historiador Metodista
Foi exatamente há 264 anos atrás que John Wesley, na noite de 24 de maio
de 1738, recebeu o dom de fé em Jesus Cristo e, com ela, a segurança de que
tinham sido perdoados seus pecados e ele salvo "da lei do pecado e da morte".
Por ter ocorrido a experiência no salão de uma Sociedade Religiosa à Rua
Aldersgate, em Londres, o evento é conhecido dos metodistas como a
experiência de Aldersgate. Por que relembrar esta data hoje? Entre as muitas
razões que poderiam ser mencionadas, algumas das mais significativas ao meu
ver são essas que indico abaixo:
1 - Aldersgate coloca o Metodismo bem dentro do Protestantismo em geral.
O próprio John Wesley encarou sua experiência de 24 de maio como o clímax
de uma longa caminhada de busca religiosa, o que ocorreu através de uma
confiante entrega do seu próprio ser nas mãos de Jesus Cristo, como seu
Salvador pessoal e Senhor da sua vida. Tão marcante lhe foi o evento que, para
torná-lo mais compreensível para outros, ele o situou numa pequena
autobiografia que, tudo indica, preparou especialmente para Suzana, sua mãe.
É notável a centralidade da Bíblia em toda a narrativa, mormente a
preocupação de Wesley com temas do Apóstolo Paulo. Suas freqüentes
citações, especialmente da Epístola aos Romanos, mostram como Cristo lhe
fazia presente através da Palavra. Não é sem significado que fora ao ler
Romanos 1:17 ("O justo viverá da fé") que Lutero, séculos antes, havia
percebido a natureza graciosa de Deus ou seja, descobria na Palavra o Deus
gracioso que tão avidamente vinha buscando. Na véspera de sua experiência,
John Wesley escreveu uma carta a um amigo, em que toda a sua angústia
espiritual era expressa na linguagem da Epístola de Romanos, concluindo com
as palavras de Paulo que se sentia "vendido sob pecado" (Rm 7:14). Mas se na
véspera, sem fé pessoal em Cristo, só podia se ver condenado, no dia 24 de
maio, foi quando "alguém lia do prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos,
cerca de quinze para as nove horas (da noite), enquanto ele descrevia a
mudança que Deus opera no coração pela fé" que Wesley pode experimentar a
fé pessoal em Cristo.
Como acontecera em Lutero tanto tempo antes, a palavra de Paulo em
Romanos 10:17 ("...a fé é pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus") se cumpriu
em John Wesley. Assim ele não apenas aprendeu de Martinho Lutero a doutrina
máxima da Reforma, a Justificação pela fé, mas também ele havia
experimentado a fé e com ela o perdão dos seus pecados e a paz com Deus
que acompanha o perdão; o que é a essência da doutrina. Portanto, Aldersgate
fala do essencial do protestantismo do movimento Metodista, alicerçado como
foi na Palavra de Deus e na Justificação pela fé, e testemunha a dívida que os
metodistas têm com Martinho Lutero.
2 - Em segundo lugar, Aldersgate define o lugar da experiência no
Metodismo. Isto não o constitui em um molde a ser reproduzido em toda pessoa
a que quer ser reconhecida como metodista. Basta lembrarmos que a
experiência de Carlos Wesley, ocorrida no dia 21 de maio ( portanto, três dias
antes da de John), foi bem diversa da do irmão, mas nem por isso menos
autêntica. A experiência pessoal de fé ( confiança) em Cristo e a conseqüente
salvação sempre têm sido consideradas pelos metodistas não coisas raras para
alguns poucos privilegiados, mas uma ocorrência normal a ser desfrutada por
todo cristão, quer homem, quer mulher, fazendo-lhe nova criação em Cristo.
Este fato tem reais conseqüências em todos os níveis e expressões da vida
religiosa para metodistas. A fé é sempre mais que uma proposição intelectual a
ser aceita como verdadeira; é muito mais um relacionamento pessoal a ser
estabelecido, nutrido e fortalecido, com Deus em Cristo. Uma vez que a
experiência é central, a especulação passa a ser muito menos importante que a
prática. O verdadeiro seguidor de Jesus não é aquele capaz de definir em
termos precisos a maneira exata em que Deus se uniu com a humanidade de
Jesus; pelo contrário, "conhecerão que sois meus discípulos", disse Jesus, "se
vos amardes uns aos outros" (Jo 13:35; Tg 2:18; Mt 25:31-46).
3 - Podemos afirmar finalmente que a experiência fez uma diferença
qualitativa na vida e no ministério de John Wesley. Alguns estudiosos de
Wesley, destacando a rica herança religiosa da família Wesley (inclusive a
profunda influência da mãe Suzana); suas disciplinas já antigas de oração e
devoção; a preocupação com os necessitados; e o fato de o próprio Wesley se
referir a três começos do Metodismo (1729, o "Clube Santo de Oxford"; 1736, a
pequena Sociedade dentro da paróquia de Savana, Geórgia; e 1939, quando da
organização das sociedades metodistas em Londres) não indicando a data de
24 de maio de 1738 como o início do Metodismo, alguns estudiosos, dizíamos,
pelos motivos citados, tendem a minimizar a importância de Aldersgate.
Por que insistir, então, em destacar Aldersgate? Porque o próprio Wesley o
destacou! Contra aqueles que argumentam que Wesley nunca mais se referiu a
Aldersgate, eu reafirmo o que já demonstrei no meu livro Metodismo Brasileiro
Wesleyano, páginas 90 a 94, a saber: a) Suas afirmações verbais,
testemunhadas pelo irmão Carlos e outros; b) o novo espírito e a nova ênfase
da sua pregação ( justificação pela fé); c) o testemunho das suas cartas; e d) o
testemunho dos Journals, especialmente os versículos dos frontispícios. Toda
esta evidência combina para atestar que, pelo menos até setembro de 1740,
Wesley menciona enfaticamente sua experiência do "coração aquecido".
Devo insistir ainda que o próprio Wesley percebeu duas diferenças
essenciais entre seu estado antes e depois de Aldersgate. "Então aprendi que
paz e vitória são essenciais à fé em Cristo... Eu descobri que a diferença entre o
meu atual e antigo estado, principalmente consistia nisso. Eu lutava, sim,
pelejava com todas as minhas forças debaixo da lei como debaixo da graça.
Mas então era às vezes, senão freqüentemente vencido; agora era sempre
vencedor."
Wesley tem razão em insistir que o movimento Metodista tem a ver com
comunidades e não só com indivíduo. Mas o movimento Metodista só passaria
a ter consistência, permanência e real eficácia depois de Aldersgate, quando,
sob a orientação de "novo" Wesley, agora com uma fé vital e atuante, que
começa a organizar pessoas que como ele (antes de Aldersgate) buscam, com
sua ajuda, a "fugir da ira vindoura".
Estas pessoas, cônscias do seu estado pecaminoso, eram encorajadas por
Wesley a "produzir frutos dignos de seu arrependimento" por:
a) evitar o mal (inclusive o de amontoar tesouros sobre a terra);
b) praticar o bem ( inclusive alimentar os famintos, vestir os nus, etc) e;
c) usar os meios de graça como devoção particular e a pública adoração a
Deus.
Nas reuniões metodistas, milhares de mulheres e de homens
experimentaram pessoalmente a fé em Cristo e a transformação que disso
resultava. Assim, já em 1744, os irmãos Wesley, e alguns dos seus mais íntimos
colaboradores concluirão que o próprio Deus havia levantado "o povo chamado
metodista" para "reformar a nação, principalmente a Igreja e a espalhar a
santidade bíblica por toda a terra."
É tudo isso, e não apenas o que aconteceu no coração de um indivíduo,
que os mais de cinqüenta e quatro milhões de metodistas ao redor do mundo
estão sendo chamados a celebrar!

ALGUMAS PALAVRAS FINAIS
Algumas palavras de Martinho Lutero, o Reformador Protestante, que foram
ouvidas naquela noite de 24 de maio de 1738:
“...a fé é uma energia do coração, tão eficaz, viva e inspiradora, que é
incapaz de permanecer inativa. A fé é uma constante confiança na misericórdia
de Deus para conosco, pela qual nos lançamos inteiramente em Cristo e nos
entregamos inteiramente a ele”.
Algumas palavras de Wesley sobre sua experiência naquela noite de 24 de
maio de 1738:
“À noite fui, fui sem grande vontade a uma reunião na Rua Aldergate, onde
alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola ao Romanos. Cerca de um quarto
para as nove, enquanto ele descrevia a mudança que Deus realiza no coração
pela fé em Cristo, senti meu coração estranhamente aquecido. Senti que
confiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação; e uma segurança foime dada, de que Ele havia perdoado os meus pecados, sim os meus pecados,
e salvou-se do pecado e da morte.”
Algumas palavras do livro “Pequena História do Povo Chamado Metodista”,
de João Wesley Dornellas, um metodista do século XXI sobre a experiência de
Wesley naquela noite de 24 de maio de 1738:
“Nessa experiência do coração aquecido, Wesley encontra aquilo que tanto
desejara, a transformação de sua religião de temor numa religião de amor.
Como dizia, relembrando a parábola do Filho Pródigo, ele passou da condição
de escravo a filho. Daí, sua relação com Deus, antes apenas legalista, passa a
ser uma relação de fé e confiança.” 8888

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A experiência de Aldersgate e o nascimento do Metodismo

  • 1. 1738-2003: ALDERSGATE DEPOIS DE 265 ANOS Rev. Duncan Alexander Reily, pastor e historiador Metodista Foi exatamente há 264 anos atrás que John Wesley, na noite de 24 de maio de 1738, recebeu o dom de fé em Jesus Cristo e, com ela, a segurança de que tinham sido perdoados seus pecados e ele salvo "da lei do pecado e da morte". Por ter ocorrido a experiência no salão de uma Sociedade Religiosa à Rua Aldersgate, em Londres, o evento é conhecido dos metodistas como a experiência de Aldersgate. Por que relembrar esta data hoje? Entre as muitas razões que poderiam ser mencionadas, algumas das mais significativas ao meu ver são essas que indico abaixo: 1 - Aldersgate coloca o Metodismo bem dentro do Protestantismo em geral. O próprio John Wesley encarou sua experiência de 24 de maio como o clímax de uma longa caminhada de busca religiosa, o que ocorreu através de uma confiante entrega do seu próprio ser nas mãos de Jesus Cristo, como seu Salvador pessoal e Senhor da sua vida. Tão marcante lhe foi o evento que, para torná-lo mais compreensível para outros, ele o situou numa pequena autobiografia que, tudo indica, preparou especialmente para Suzana, sua mãe. É notável a centralidade da Bíblia em toda a narrativa, mormente a preocupação de Wesley com temas do Apóstolo Paulo. Suas freqüentes citações, especialmente da Epístola aos Romanos, mostram como Cristo lhe fazia presente através da Palavra. Não é sem significado que fora ao ler Romanos 1:17 ("O justo viverá da fé") que Lutero, séculos antes, havia percebido a natureza graciosa de Deus ou seja, descobria na Palavra o Deus gracioso que tão avidamente vinha buscando. Na véspera de sua experiência, John Wesley escreveu uma carta a um amigo, em que toda a sua angústia espiritual era expressa na linguagem da Epístola de Romanos, concluindo com as palavras de Paulo que se sentia "vendido sob pecado" (Rm 7:14). Mas se na véspera, sem fé pessoal em Cristo, só podia se ver condenado, no dia 24 de maio, foi quando "alguém lia do prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos, cerca de quinze para as nove horas (da noite), enquanto ele descrevia a mudança que Deus opera no coração pela fé" que Wesley pode experimentar a fé pessoal em Cristo. Como acontecera em Lutero tanto tempo antes, a palavra de Paulo em Romanos 10:17 ("...a fé é pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus") se cumpriu em John Wesley. Assim ele não apenas aprendeu de Martinho Lutero a doutrina máxima da Reforma, a Justificação pela fé, mas também ele havia experimentado a fé e com ela o perdão dos seus pecados e a paz com Deus que acompanha o perdão; o que é a essência da doutrina. Portanto, Aldersgate fala do essencial do protestantismo do movimento Metodista, alicerçado como foi na Palavra de Deus e na Justificação pela fé, e testemunha a dívida que os metodistas têm com Martinho Lutero. 2 - Em segundo lugar, Aldersgate define o lugar da experiência no Metodismo. Isto não o constitui em um molde a ser reproduzido em toda pessoa a que quer ser reconhecida como metodista. Basta lembrarmos que a experiência de Carlos Wesley, ocorrida no dia 21 de maio ( portanto, três dias antes da de John), foi bem diversa da do irmão, mas nem por isso menos autêntica. A experiência pessoal de fé ( confiança) em Cristo e a conseqüente salvação sempre têm sido consideradas pelos metodistas não coisas raras para
  • 2. alguns poucos privilegiados, mas uma ocorrência normal a ser desfrutada por todo cristão, quer homem, quer mulher, fazendo-lhe nova criação em Cristo. Este fato tem reais conseqüências em todos os níveis e expressões da vida religiosa para metodistas. A fé é sempre mais que uma proposição intelectual a ser aceita como verdadeira; é muito mais um relacionamento pessoal a ser estabelecido, nutrido e fortalecido, com Deus em Cristo. Uma vez que a experiência é central, a especulação passa a ser muito menos importante que a prática. O verdadeiro seguidor de Jesus não é aquele capaz de definir em termos precisos a maneira exata em que Deus se uniu com a humanidade de Jesus; pelo contrário, "conhecerão que sois meus discípulos", disse Jesus, "se vos amardes uns aos outros" (Jo 13:35; Tg 2:18; Mt 25:31-46). 3 - Podemos afirmar finalmente que a experiência fez uma diferença qualitativa na vida e no ministério de John Wesley. Alguns estudiosos de Wesley, destacando a rica herança religiosa da família Wesley (inclusive a profunda influência da mãe Suzana); suas disciplinas já antigas de oração e devoção; a preocupação com os necessitados; e o fato de o próprio Wesley se referir a três começos do Metodismo (1729, o "Clube Santo de Oxford"; 1736, a pequena Sociedade dentro da paróquia de Savana, Geórgia; e 1939, quando da organização das sociedades metodistas em Londres) não indicando a data de 24 de maio de 1738 como o início do Metodismo, alguns estudiosos, dizíamos, pelos motivos citados, tendem a minimizar a importância de Aldersgate. Por que insistir, então, em destacar Aldersgate? Porque o próprio Wesley o destacou! Contra aqueles que argumentam que Wesley nunca mais se referiu a Aldersgate, eu reafirmo o que já demonstrei no meu livro Metodismo Brasileiro Wesleyano, páginas 90 a 94, a saber: a) Suas afirmações verbais, testemunhadas pelo irmão Carlos e outros; b) o novo espírito e a nova ênfase da sua pregação ( justificação pela fé); c) o testemunho das suas cartas; e d) o testemunho dos Journals, especialmente os versículos dos frontispícios. Toda esta evidência combina para atestar que, pelo menos até setembro de 1740, Wesley menciona enfaticamente sua experiência do "coração aquecido". Devo insistir ainda que o próprio Wesley percebeu duas diferenças essenciais entre seu estado antes e depois de Aldersgate. "Então aprendi que paz e vitória são essenciais à fé em Cristo... Eu descobri que a diferença entre o meu atual e antigo estado, principalmente consistia nisso. Eu lutava, sim, pelejava com todas as minhas forças debaixo da lei como debaixo da graça. Mas então era às vezes, senão freqüentemente vencido; agora era sempre vencedor." Wesley tem razão em insistir que o movimento Metodista tem a ver com comunidades e não só com indivíduo. Mas o movimento Metodista só passaria a ter consistência, permanência e real eficácia depois de Aldersgate, quando, sob a orientação de "novo" Wesley, agora com uma fé vital e atuante, que começa a organizar pessoas que como ele (antes de Aldersgate) buscam, com sua ajuda, a "fugir da ira vindoura". Estas pessoas, cônscias do seu estado pecaminoso, eram encorajadas por Wesley a "produzir frutos dignos de seu arrependimento" por: a) evitar o mal (inclusive o de amontoar tesouros sobre a terra); b) praticar o bem ( inclusive alimentar os famintos, vestir os nus, etc) e; c) usar os meios de graça como devoção particular e a pública adoração a Deus.
  • 3. Nas reuniões metodistas, milhares de mulheres e de homens experimentaram pessoalmente a fé em Cristo e a transformação que disso resultava. Assim, já em 1744, os irmãos Wesley, e alguns dos seus mais íntimos colaboradores concluirão que o próprio Deus havia levantado "o povo chamado metodista" para "reformar a nação, principalmente a Igreja e a espalhar a santidade bíblica por toda a terra." É tudo isso, e não apenas o que aconteceu no coração de um indivíduo, que os mais de cinqüenta e quatro milhões de metodistas ao redor do mundo estão sendo chamados a celebrar! ALGUMAS PALAVRAS FINAIS Algumas palavras de Martinho Lutero, o Reformador Protestante, que foram ouvidas naquela noite de 24 de maio de 1738: “...a fé é uma energia do coração, tão eficaz, viva e inspiradora, que é incapaz de permanecer inativa. A fé é uma constante confiança na misericórdia de Deus para conosco, pela qual nos lançamos inteiramente em Cristo e nos entregamos inteiramente a ele”. Algumas palavras de Wesley sobre sua experiência naquela noite de 24 de maio de 1738: “À noite fui, fui sem grande vontade a uma reunião na Rua Aldergate, onde alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola ao Romanos. Cerca de um quarto para as nove, enquanto ele descrevia a mudança que Deus realiza no coração pela fé em Cristo, senti meu coração estranhamente aquecido. Senti que confiava em Cristo, somente em Cristo, para a salvação; e uma segurança foime dada, de que Ele havia perdoado os meus pecados, sim os meus pecados, e salvou-se do pecado e da morte.” Algumas palavras do livro “Pequena História do Povo Chamado Metodista”, de João Wesley Dornellas, um metodista do século XXI sobre a experiência de Wesley naquela noite de 24 de maio de 1738: “Nessa experiência do coração aquecido, Wesley encontra aquilo que tanto desejara, a transformação de sua religião de temor numa religião de amor. Como dizia, relembrando a parábola do Filho Pródigo, ele passou da condição de escravo a filho. Daí, sua relação com Deus, antes apenas legalista, passa a ser uma relação de fé e confiança.” 8888