1. Nº 0
30 Janeiro de 2012
Preço: 100 Escudos
Concorrência traz maiores desafios
Grande Entrevista
“ O Associativismo não é
o forte dos Cabo- verdia-
nos”.
pág.3
Entrevista
“ O mercado caiu e muito, “Não temos, nenhum acor- Quando surgiu a gravidez
devido a falta de fiscaliza- do com o vosso governo ...” houve a necessidade de
ção e também da crise que Lin Xiao Ying trabalhar.
está a ocorrer no mundo”.
pág.4 pág. 13
pág.8
2. 2 EDITORIAL
MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA
siderado uma segunda casa pelos lemática. O facto é que a nossa re-
O comércio é principal fonte de ren- rabidantes. vista durante toda a recolha, apurou
dimento do país. Quando se fala no Há muito que os chineses estão que estes novos investidores troux-
comércio no sucupira pensa-se logo nesse ramo de comércio, no país e eram benefícios, tanto para a sua
no vestuário e no calçado. Mas na não eram vistos como uma concor- população como para a economia
realidade o mercado apresenta di- rência, porque mesmo com a forte do país.
versificações de sectores. presença no sector, o mercado do Assim, de acordo com os dados re-
O centro comercial do sucupira da sucupira nunca deixou de ser pro- colhidos, vamos fornecer informa-
cidade da Praia é considerado o curado. Porém de uns anos para cá ções aos públicos com intuito de
maior mercado do arquipélago. Os devido a crise o mercado sofreu uma fazer-lhes conhecerem os dois lados
rabidantes do mercado são pessoas forte queda de venda. As opiniões envolvidos (chineses versus rabi-
poucas instruídas, com idade com- dos próprios rabidantes divergem- dante), na nossa1ª edição da Revista
preendida entre os 16 aos 60 anos, e se entre eles. Enquanto uns respon- o “O Rabidanti”.
na sua maioria são mulheres chefes sabiliza a queda de venda aos chin- Ângela Santos
de famílias que batalham para o eses, outros aponta-o a crise.
O Rabidante :10 de Janeiro de 2012
próprio sustento. A busca pelo “gan- Sendo assim, o”O Rabidanti” saiu a
ha-pão” começa desde o amanhecer rua da capital para saber as opiniões
até ao pôr-do-sol. O mercado é con- dos cidadãos a cerca dessa prob-
De acordo com o Decreto-Lei nº
O QUE DIZ A LEI?
VII/2009, de 30 de Dezembro que o itos sócias e da protecção reforçada
A
21/2011 de 7 de Março. presente diploma visa em desenvol- dos destinatários dos serviços.
lei diz que, os serviços são vimento do princípios de livre esta- Ainda é de se lembrar, o artigo 11º
o mais importante sector belecimento em consonância com (âmbito territorial e limitação de
da ecónoma nacional em os compromissos advenientes da permissão administrativas) em que
termos económicos e de emprego adesão de Cabo Verde à organização a lei diz. 1 - As permissões admin-
e tem registado um maior desen- mundial do comercio concretamente istrativas concebidas pelos serviços
volvimento nos últimos anos. Ou de acordo geral sobre o comercio de da administração directa e indi-
seja diante dessas circunstâncias, o serviços, assegurar que os regimes recta do estado devem permitir ao
governo ciente de que um merca- jurídicos aplicáveis ao sector dos prestador de serviços o exercício
do competitivo e a eliminação dos serviços respeitem a liberdade do da sua actividade de serviço
entraves ao seu desenvolvimento direito de estabelecimento e da livre em todo o território nacional.
são fundamentais para promover o prestação de serviços ao estabelecer 2- Quando o regime de permissão
crescimento económico e a criação um conjunto de princípios gerais administrativa de uma actividade
de emprego, vem propugnando pela aplicáveis ao procedimentos que assim o exija, o prestador de serviço
liberdade de estabelecimento dos regulamentam o acesso e exercício deve informar a autoridade admin-
serviços no território nacional, em das actividades de serviços, através istrativa competente, através do
ordem à contribuição para a expan- de um adequado equilíbrio entre a balcão único, da criação de sucur-
são e crescimento deste sector. Tam- abertura do mercado e a preserva- sais, filias, agências ou escritórios.
bém a lei diz no artigo 3º da lei nº 49/ ção dos serviços públicos, dos dire-
Ana Brandão
3. 3
FOTO REPORTAGEM
Pedicure
Foto: Ana Brandão
Vendedeira Ambulante
Foto: Ana Brandão
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Vendedeira Ambulante
Foto: Ana Brandão
Vendedeira Ambulante
Foto: Ângela Santos
Clientes
Foto: Ana Brandão
Clientes Muhleres fazendo renda Foto:
Foto: Ângela Santos Ana Brandão
4. 4
Grande Entrevista
“ Falta de fiscalização!”
Mamadou Trouré Vice – Presidente da As-
sociação dos Rabidantes do Sucupira
Cita Trouré. muitas vezes são resolvidos com in-
Nosso entrevistado deixa dividualidade.
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
transparecer que apesar de O orgulho dos rabidantes é maior
existir uma “Associação que qualquer conforto, palavras do
dos Rabidantes”, vice-presidente da associação dos
essa não é bem aceite por rabidantes.
todos ali devido Mamadou não poupa criticas aos
a várias razões que o colegas sobre “a desunião” entre os
próprio diz não vale a pena rabidantes que de uma certa forma
mencionar. Ainda na sua tem sufocado o mercado. Faz-se
opinião o associativismo reuniões da associação não com-
não é o forte dos cabo- parece uma dúzia de colegas cabo-
verdianos e isto tem preju- verdianos, e por este motivo, não
Foto: Ângela Santos dicado a classe. No início vale a pena continuarmos com a as-
que me integrei na Associação, sociação, afirma o rabidante
M amadou Trouré, é Nigeriano
residente em Cabo verde cidade da
um pouco indignado.
«Os“Chineses”começaram Apesar de possuírem qualidades
a fazer-nos concorrência no produto a queixa pela falta
Praia há 22 anos. Comerciante em a partir do momento que de procura é enorme. A dias que
sucupira há mais de uma década e
meio, mostra sua preocupação no
perceberam que o país não nem dinheiro para o transporte se
vende. Hoje nem nas épocas festi-
que tange ao comércio no Sucu- tem controlo, ou melhor vas procura-
pira». não possui uma lei que vi- se o sucupira como antes.
Segundo, o nosso entrevistado a má gia este tipo de comércio. Embora se fala na crise, o facto é
fiscalização dos órgãos competentes
deste sector, é o grande responsável
“A partir daí começaram a fre- que o medo de perder o sustento é
cada vez mais a preocupação dos
pela falta de venda neste mercado. quentar os mesmos mercados rabidantes.
Ainda Mamadou diz que há muito que nós e ainda a copiar Quando o “O Rabidante”, quis
que os “Chineses” entraram os nossos produtos”» saber se a associação já se reuniu
neste comércio no país. E que até alguma vez para tratar
uns dois anos atrás estes não repre- desse tema, de concorrência dos
sentavam muita ameaça ela contava com vinte membros, chineses, a resposta do inquerido
para eles como está agora; fectivos e mais de três dezenas de é “nunca”! «Faz-se os comentários,
«Os “Chineses”começaram a fazer- apoiantes sem contar com os outros mas na hora de colocar
nos concorrência a partir do mo- rabidantes os pingos nos ís ninguém aparece, e
mento que perceberam que o país que participavam nas actividades re- começa aquele furdunço,
não tem controlo, ou melhor não alizadas. Hoje em dia nem o próprio quem está a sentir lesado
possui uma lei que vigia este tipo de Presidente aparece para inteirar dos que vá procurar o seu direito.
comércio. “A partir daí começaram factos ocorridos. Na qualidade de O entrevistado apela à participação
a frequentar vice-presidente, devo dizer-vos que activa dos colegas e aponta que “A
os mesmos mercados que nós e ain- muitas vezes quando a classe passa união faz a força”.
da a copiar os nossos produtos”». por momentos tensos os problemas Ana Brandão
5. 5
Foto Reportagem
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Rabidante fazendo renda Foto:
Ângela Santos Cabeleleiras no sucupira
Foto: Ângela Santos
Pedicure Ambulante Foto: Ana
Brandão
Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão Rabidante
Foto: Ângela Santos
Ficha Técnica
Reporteres:
Ana Brandão e Ângela Santos
Edição e Paginação:
Ângela Santos e Ana Brandão
Imprissão: Multicópia Rabidante Foto: Ângela Santos
Tiragem: 1
6. 6
PONTO DE VISTA
Chineses & Rabidantes
c hinesa, está em Cabo Verde há
7 anos, comercianteproprietária
do que dos Rabidantes
do Sucupira por isso
de duas lojas, uma em Achada San- a vendemos mais em
to António e outra em descida Terra conta. Agora gostaria
Branca. de deixar aqui bem cla-
Lin defende a sua classe, desmentin- ro que nós os comerci-
do antes “Chineses”não
aos “boatos” de que eles não pagam temos, nenhum acordo
alfândega, e de ter qualquer pro- com o vosso governo,
tecção do governo. Porém a com- estamos aqui como in-
erciante explica-nos o que faz com vestidores e pagamos
O Rabidante :10 de Janeiro de 2012
que os Rabidantes do Sucupira ten- as nossas despesas
ham essa visão. como qualquer um»,
«O que leva os Rabidantes do Sucu- frisa Lin. Enquanto, os
pira a pensar que temos protecção Rabidantes do Sucu-
do governo, é o seguinte, nós somos pira, atribui a respons-
muitos e estamos mais bem orga- abilidade da aderência
nizado e preparado do que eles, ad- de venda ao governo e
mito sermos uma concorrência forte a concorrência, Ying,
face aos Rabidantes do Sucupira. culpa a classe de serem
Mas o que acontece é que nós quan- os próprios origina-
do vamos, ou mandamos exportar dores, desta crise uma
de qualquer país para Cabo verde vez que esses não se encontram bem Lin Xiao Ying Foto:Ana Brandão
organizamos em grupo e alugamos organizados, e ainda de serem pes- Assim como os Rabidantes do
contentores dos navios por um preço soas egoístas. Aponta que a único Sucupira, a comerciante chinesa,
mais acessível devido a quantidade objectivo dos Rabidantes também afirma que o momento é
de que alugamos e com isso ex- do Sucupira é ganhar dinheiro, de crise, salientando que antes tinha
portamos mais; 3 empregada em cada uma da sua
também na hora loja, mas hoje só tem uma com ela e
de compra o que a irmã que está a frente da outra loja
estamos a fazer tem dois empregados sem contar
é tentar satis- com o marido da mesma. «Uma vez
fazer o mercado quando cá cheguei e até dois anos
cabo-verdiano. atrás eu vendia muito e às vezes
Não só ven- tomava uma refeição porque não
demos produtos dava tempo, mas hoje como podem
da china, mas ver estou com loja vazio e a tempo
o facto é que até para ler um livro ou ver um
quando vamos filme, mas nem por isso vou acusar
por exemplo ao as outras lojas, temos de consolar
Brasil compramos qualquer produto e de muitas vezes exagerarem nos com “kau mau pa tudo lado». Cita
em grande quantidade o que faz nos preços, não pensando na verdadeira
Ying.
ganhar um desconto bem mais baixa situação financeira do pais.
7. 7
Elisabete Barros, de 34 anos, pai e mãe de uma filha
de 6 anos “diz-nos” que hoje ela tornou rabi-
dante ambulante graças aos “chineses”.Com
quase a mesma idade da filha de experiencia
no ramo “Bety” como ela preferi ser chamada.
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Elisabete Barros Foto: Ana Brandão outras necessidades dos fregueses, prioridades.
a qualidade, foi então que pulei dos
ORabidante – Como é que surgiu chineses para o “iá” (roupas usadas, Na qualidade de rabidante ambu-
esta profissão? provenientes dos estados Unidos da lante quais os benefícios
Elisabete Barros – Quando surgiu América). e as desvantagens que os chineses
a gravidez surgiu a necessidade de trouxeram?
trabalhar, e foi aí que com pouca Após ter deixado de vender grande A meu ver os “chineses” trouxeram
economia parte dos produtos muita alegria aos cabo-verdianos,
que tinha fui comprar nas lojas dos chineses, para vender outros em vários aspectos: por exemplo
chineses no plateau para vender em produtos, como é que você vê os uma família numerosa hoje desde
outros pontos como Tira-chapéu, chineses? que haja mínima condição todos
Fundo Cobom, ASA e etc., no inicio Ainda vendo, mas vendo mais o iá! pode se vestir ou calçar e por um
dava mais lucro, E não tenho preço inferior, e não só eles combat-
porque os fregueses não tinham razões de queixa para com os chin- eram a prostituição e o vandalismo.
tempo para deslocarem eses, porque a qualidade do produto Quanto as desvantagens penso que
ao plateau, comprava em mim e out- é diferente. os rabidantes do sucupira são de
ras colegas depois com abertura de Como estão a decorrer a vendas? uma forma geral os mais prejudica-
lojas nesses pontos começamos Razoável, há dias que se vende e dos porque estavam acostumados a
a perder a nossa clientela, porque já outros não, mas dá para continuar. “matar”com o preço e também en-
não precisavam O momento inspira compreensão, tendo as suas posições como pais de
deslocar, mas com a pratica comecei não há dinheiro. As pessoas querem famílias. Mas devemos ver as coisas
a ver que existem comprar mas no entanto tem outras por duas faces. Ângela Santos
8. 8
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Foto: Ângela Santos Rabidante de Sucupira
Foto: Ângela Santos Comerciante: Chinês
9. 9
Artigo de Opinião
As duas Faces
A concorrência sempre foi investidores a partir do mo- má qualidade por um preço
interpretada ao pé da letra. mento que entraram no país, baixo, os rabidantes de sucu-
Assim como, tudo na vida, fez com que os rabidantes de pira vendem ao custo elevado
tem um lado positivo e outro sucupira perdessem vários devido a boa qualidade.
negativo, a concorrência tam- clientes. Essa perda é negati-
bém tem esses dois lados. vo uma vez são sustento dess- Ana Brandão
Quem beneficia com a con- es rabidantes. Ainda na se-
corrência são os clientes, a quência dos acontecimentos
medida que ela vai aumentan- é de salientar que no meu ver
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
do os preços dos produtos ou a queda de venda no merca-
dos serviços vão diminuindo do sucupira tem muito a ver
e sendo, Cabo Verde um país com a entrada dos chineses.
onde o rendimento é baixo, Se formos ver o arquipélago
qualquer concorrência é sempre viveu em situações
bem aceite. A parte positiva é económicas pouco favorável,
que os chineses diminuíram mas mesmo assim o mercado
o desemprego, aumentou sucupira sempre vendeu.
os números de rabidantes, O factor dessa discorda sem-
trouxe mas oportunidade a pre foi o preço. Mas o que
famílias numerosas de se ve- a população nunca parou
stirem melhor. para ver é que, ao contrário
O lado negativo é que esses dos chineses que vendem
10. 10
Crónica
Um dia no Sucupira
sensação que tive é de me perguntar dantes me fizeram sentir uma angús-
a mim mesma, o que será de nós que tia, ao lembrar que aquela tristeza
sustentamos a casa com venda? de uma certa forma tinha a ver com
Depois, de algum minutinhos de- o sustento de muitas famílias; por
brucei-me sobre uma frisa de parede instante senti vontade chorar, mas
e pus a falar com uma conhecida que não o fiz, coloquei a minha fé e pus
ali vende “Fátima” que assim como a orar no meio da caminhada pedin-
eu encontrava debruçada na mesma do a Deus com coração que fizesse
parede, perguntei-lhe: Fátima agora aqueles pais venderem alguma coi-
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Foto: Ângela Santos
é assim? sa para não desanimarem; o incrível
Já lá vão os tempos áureos da sucu- Ela me respondeu minha filha é ver que estes rabidantes também
pira. Me lembro como se fosse hoje, se não fosse essa distracção de car- ajudam outras pessoas a ganharem
era mais ou menos na mesma época ros a subir e a descer penso que, nós o sustento, não pude deixar de ver
do (Natal) há três anos atrás quando éramos muitos que já tinha deixado e admirar alguns garotos a rolarem
vim estudar na Capital que lá es- os bidões, a car-
tive “Confesso que em parte, aquela tran- regar aquelas
para comprar uma sandália. E
quilidade me deixou contente, mas caixas grandes,
o tempo era outro parecia com outros a cobrirem
o festival da Gamboa «cheia de vendo as caras tristes dos rabidantes
os espinhos em
agitação, movimentação de cen- me fizeram sentir uma angústia, ao forma de tecto
tenas de pessoas onde um pisava lembrar que aquela tristeza de uma onde mais tarde
no “calo” do outro, o mau cheiro
certa forma tinha a ver com o sustento se não cobridas o
de suor, encontro de amigos que
a muito não avistava entre outras de muitas famílias... ” sol batia, e tudo
isso era feito me-
coisas que não vou mencionar diante um custo
devido a limitação de espaço»; que os meus ou-
Mas hoje nesta mesma época lá o sucupira, agora somos rabidantes vidos apurado não pude deixar de
voltei de novo e desta vez não para e rabidantes um a olhar para cara do ouvir.
comprar sapato … foi a passeio mes- outro; me despedi, dizendo aiai e A curiosidade de observar, fez
mo, saber das novidades etc. Minha fui, mais para cima onde um grupo com que eu permanecesse ali mais
gente deparei com um silêncio em de rabidantes se divertia jogando do que o tempo previsto, aí em ter-
termos de tudo que um dia por ali cartas. mos de produto circulava de tudo
tinha avistado, e pelo incrível que Confesso que em parte, aquela um pouco, ou seja este lugar é uma
pareça, por um instante coloquei-me tranquilidade me deixou contente, casa de sustento, durante tempo que
no lugar dos rabidantes e a primeira mas vendo as caras tristes dos rabi- ali fiquei pude ver de tudo um pou-
11. 11
co (em termos de produtos, ora car- lei com uma menina de 9 anos, que sem chão, uma menina de menor fa-
ne, ora peixe, torresmo, sumo, bo- vendia água, e ela me contou coisas zia “sexo” com um idoso em pleno
los, panelas, milho etc.), mas o que inacreditáveis (…), depois dia e quem por ali passava podia
indignou não era a falta de higiene levei ela para uma barraca onde jun- ver e no outro lado mesmo próximo
dos alimentos que vinham cheia de tas almoçamos e também aproveitei dois rapazes e um homem drogava
moscas mas, sim quando vin- e de onde eu estava podia sen-
ha uma criança a fazer aquele “Agora pergunto aonde estão tir aquele cheiro forte vindo em
serviço, tenho filho, e na ci- esses pais, que não são mere- minha direcção;
dade o que se ouve todos os
dias é a onda de violência e
cedores desse lindo nome! ” Agora pergunto aonde estão
esses pais, que não são mere-
me perguntava como é que os cedores desse lindo nome! na
pais podem ser tão irresponsáveis a para descansar as minhas pernas que casa, segundo a pequenina a espera
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
ponto de mandar uma criança vend- já não aguentava. do fruto dessa exploração para mais
er naquele sitio Fartos, me despedi dela, e con- tarde irem fazer o proveito…
onde na maior parte das vezes os tinuei a minha caminhada cheia de … Continuei com a minha oração,
frequentadores são (ladrões, usuári- disposição, mais para cima para o meu Deus enquanto uns mostram-
os de droga, marginais, pedófilos lado do parque 5 de Julho meus ol- se triste por não conseguir ganhar o
entre outros) isso mexeu comigo; hos avistaram duas situações, que pão dos filhos, outros nem aí estão.
e em 1ª oportunidade que tive, fa- me deixaram
Ana Brandão
12. 12 A VOZ DO CIDADÃO
A CONCORÊNCIA É BOA OU NÃO?
O “O Rabidante” recolheu algumas opiniões, sobre o assunto e de acordo com os entrevistados
pode-se ver que as ideias aproximam uma da outra.
Zeca Lopes, um jovem de 26 ano pai Vany Evora, estudante de 20 anos,
Vany Aguenes, maiense residente
de família, proprietário de uma bar- na minha opinião os chineses vier-
na capital, 22anos, esta entrada dos
raca de CDs. Os chineses diminuíram am tarde. Sou a favor dessa entrada
“chineses” foi a melhor coisa que
a venda dos rabidantes do sucupira. porque os rabidantes do sucupira ex-
podia ter acontecido. «Nunca se viu
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
Mas combateu muito desemprego, ageram muitas vezes nos preços. E
os jovens bem vestido como agora e
há muitos jovens que estavam a faz- não eles mesmo compram dos chin-
não só hoje mesmo na minha ilha há
er horrores por aí que hoje, são fun- eses e não tem que reclamar, porque
essa probalidade de se vestir melhor
cionários dos chineses, sou a favor também são clientes dos chinases,
mesmo que seja por um preço mais
dessa concorrência. Além disso ain- mas pede aos mesmos que reflictam,
caro mas, é mais em conta que antes
da ajudam muitas familias carren- vendo a outra parte posi-
que só tínhamos o sucupira». Sou a
ciadas, que não tem um rendimento tiva, que não sejam egoístas
favor dessa entrada dos chineses.
mensal, favoravel ao seu sustento.
Ivá Semedo, de 26 anos, solteira mãe Joana Monteiro, de 37 anos é Li-
de um filho, empregada de uma loja cenciada em matemática, mãe de
chinesa, diz ter conquistado a sua família diz que apesar de não usar
independência com a oportunidade os produtos dos chineses devido ao
que lhe foi concebida pelos chineses. facto de possuir pais emigrantes, é a
Para Semedo a patroa e os cole- favor dos chineses. A mesma realça
gas são geradores de emprego; que nem todos têm possibilidade de
E ainda frisa que na qualidade de mãe comprar no sucupira. “gossi quem
(sustentadora do próprio lar), entende ki ka biste é pamode é ka kré”.
a revolta dos Rabidantes do Sucupira.
13. 13
financeira mas, fone sem pressa. “O que os rabi-
que querem poupar dantes cabo-verdianos precisam
porque não sabe do entender é que não há dinheiro e
dia de amanhã. Pro- aceitar a crise”, cita Lin.
curam qualidade A semelhança de Lin os rabidantes
mas querem gastar do sucupira enquanto
menos”. Mesmo os esperam os clientes, também buscam
chineses apontam o formas de passar o tempo, enquanto
período como des- uns jogam cartas, outros optam por
favorável para o ver televisão, ouvir musica, por a
negócio. Lin lamen- conversa em dia, tirar uma sexta, ou
ta os tempos atrás e até mesmo limitar-se a sentar
diz que ao contrário a porta das barracas, sem fazer nada,
de antigamente, nas apenas a olhar
épocas festivas e o movimento das pessoas que por
não só, nem tempo ali passam, muitas vezes sem sequer
tinha para fazer olhar para os produtos que vendem.
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
uma refeição com Com ou sem crise, o facto é que os
Concorrência aumenta conforto, poderes de compra dos cabo-verd-
número de Rabidantes Am- hoje com menos de uma semana ianos já não é o que era antes, o que
bulantes para as grandes festividades afecta tanto os rabidantes do sucu-
Ao que tudo indica os rabidantes pira como para os que lhes
ambulantes sempre existiram,
mesmo antes da entrada dos chi-
“os rabidantes ambulantes fazem concorrência. é dividir
A todos o que resta
neses no país. Só que com essa sempre existiram, mesmo antes o mercado, visto que cada
entrada, surgiram novos e isso fez
com que a concorrência se ampli-
da entrada dos chineses no país.” um apresenta características
próprias, o que faz com que
asse, dificultando aos rabidantes aja também públicos específi-
do sucupira. Estes dizem prejudica- que é o Natal um dos períodos que cos, e esperar por tempos melhores
dos uma vez que os chineses, lhes ti- mais se vende nas lojas, há tempo
Ângela Santos
raram a maior clientela os rabidantes até para ler livro, ou falar no tele-
ambulantes não só locais também os
de demais Ilhas. Afirmando
que antes eles eram os fornecedores
dos rabidantes
ambulantes. Ainda a classe que se
diz prejudicada, menciona o facto
de os rabidantes ambulantes vend-
erem produtos que eles têm, como
é o caso de (calcinhas, sutiãs, chine-
los etc.) no próprio sucupira, sem
pagar nenhum tostão, enquanto eles
pagam 8.160$00 todos os meses.
Situação de crise
Até esta, neste ano de 2011, Graça,
realça que a procura tem sido ra-
zoável em relação aos anos anteri-
ores. “Verifica-se que existem cli-
entes, aparentemente, vê-se que tem
capacidade
Foto: Ângela Santos
14. 14
Grande Reportagem
A proliferação e a saturação do comércio
Apesar da crise registada nos últi-
mos anos em Cabo Verde, assistiu-se
a uma forte expansão do mercado de
vestuários e de produtos do género. A
proliferação de lojas e comercializa-
ção destes produtos gerou uma satu-
ração do mercado mas, apesar da con-
corrência, há rabidantes que afirmam
que o negócio ainda está de boa saúde.
O sucupira é considerado um dos existe aproximadamente meia cen- ral de Nossa Senhora da Gra-
maiores mercados de vestuário da tena dessas lojas de vestuários dos ça residente em Palmarejo,
O Rabidante 10 de Janeiro de 2012
cidade da Praia. Com cerca de mais chineses. Elas são tantas que muitas (Dá) como ela prefere ser chamada,
de um mil rabidantes. Com diver- vezes pode se sair de um e entrar com mais de duas décadas de profis-
sidades de sectores de comércio, no outro sem mesmo caminhar dois são rabidante do sucupira, a solução
ainda o mercado conta, com out- passos. A distância mais longe de no mercado tão saturado é a diver-
ras actividades como,lavagem um para o outro não chega a uma sificação da oferta, aposta na quali-
de automóveis, câmbios etc. O dezena de metro. Nelas, é possível dade e diferenciação dos produtos.
mercado é visto como uma ver- encontrar todo tipo de produtos, e Dá realça “ o mercado caiu e
dadeira fonte com custo muito, devido a falta de fiscalização
de rendimento. acessível e também da crise que está a ocor-
A entrada dos Chi- “Se formos ver os chineses a todos rer no mundo”. Ainda na sequência
neses no mercado bolsos. O dos acontecimentos a nossa ent-
do sector de ajudou e muito o nosso país. E não que não é
vestuários no só graças a eles hoje as pessoas o caso dos
país aconteceu rabidantes
por volta dos da nossa terra vestem melhor, ...” de sucupira.
anos noventa. De acor-
Apesar de se do com as
tratar de uma informa-
forte concorrência, estes só vi- ções obtidas s preços variam
eram ser considerados como tal, conforme a qualidade e a maté-
alguns anos atrás quando estes ria-prima. Há lojas dos chineses
começaram a importar de outros que vendem boas qualidades assim
mercados. Os rabidantes realçam como o do sucupira, mas por um
sentir-se lesados, com a frequentação preço mais baixo. Segundo Lin isso
destes no mesmo mercado que eles. acontece, não porque não pagam as
Hoje em dia as lojas dos chineses alfandegas como cita os rabidantes
de vendas dos produtos de vestuário e mas, sim, porque com-
do género estão espalhados um pou- pram em grande quantidade.
co por todo arquipélago com forte Como sobreviver a concor- Foto: Ângela Santos
presença na cidade da Praia, capi- rência
tal do Pais, onde se regista o maior Segundo Maria da Graça San-
fluxo de negócios. Só no plateau tos, de 39 anos, casada natu-
15. 15
Ao contrário dos chineses que se
organizem em grupos para im-
portar, os rabidantes do sucupira
mostram estar muito desorganizados.
Perfil dos rabidantes do
sucupira
Os rabidantes são na maio-
ria jovens com idade compreen-
O Rabidante: 10 de Janeiro de 2012
-revistada afirma que a concorrência Embora essa classe possua
pela parte dos chineses assim como uma Associação, é de notar
tudo na vida tem o seu lado positivo que a relação entre membros e os
e negativo. “Se formos ver os chin- demais rabidantes não são boas.
eses ajudou e muito o nosso país.E Várias são as razões que estão na
não só graças a
eles hoje as pes-
dida entre os 16 a 60 anos. Na
soas da nossa terra “Os rabidantes são na maioria
maior parte do sexo feminino,
vestem melhor, e
não digo em ter- jovens com idade compreendida
são mães solteiras em busca do
próprio sustento da família. Pes-
mos de qualidade entre os 16 a 60 anos. Na maior parte
soas de baixo nível de escolaridade,
porque a própria
de do sexo feminino, são mães soltei-
mas com prática no comércio. Os
economia
rabidantes mais antigos que ali se
maioria dos famil- ras em busca do próprio sustento
encontram têm mais de três dé-
iares da cidade da
Praia é baixa, mas da família...”
cadas de exercício da função e os
mais novos com mínimo de cinco
se antes os pais da-
anos. São indivíduos com uma
vam aos filhos só uma sandália hoje base desse desacerto. Uns mencio-
vida estável, proprietários de im-
podem dar mais do que um. O lado nam o egoísmo, a inveja, outros as
óveis, automóveis e outro negócios.
negativo é o facto de eles serem razões políticas, desinteresse mes-
uma concorrência. E com a entrada mo, como causas dessa abnegação.
deles, os nossos lucros di- Ainda para alguns entrevistados,
minuíram e muito, mas ainda como é o caso de Manuel de Pina
dá para o sustento pelo menos de 49 anos, vendedor no mer-
no meu caso”, palavras de Dá. cado de sucupira o melhor a se
Má organização dos rabi- fazer para melhor organizar-se é
dantes harmonizar-se uns com os outros.
Ao que tudo indica, de acor- O mesmo realça que a un-
do com as informações ião faz a força e que todos Foto: Ângela Santos
recolhidas os rabidantes do sucupira ali deviam se entender uns com
se encontra mal organiza- os outros, porque todos estão na Ana Brandão
dos face aos chineses. busca do sustento para a família.