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einstein. 2014;12(2):242-4
RELATO DE CASO
Intoxicação por vitamina D: relato de caso
Vitamin D intoxication: case report
Tatiana Aporta Marins1
, Tatiana de Fátima Gonçalves Galvão1
, Fernando Korkes1
,
Domingos Augusto Cherino Malerbi1
, Arnaldo José Ganc1
, Davi Korn1
, Jairo Wagner1
,
João Carlos de Campos Guerra1
, Wladimir Mendes Borges Filho1
, Fábio Teixeira Ferracini1
, Hélio Korkes1
1
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Tatiana Aporta Marins − Avenida Albert Einstein, 627 − Morumbi – CEP: 05651-901 − São Paulo, SP, Brasil − Tel.: (11) 2151-1233 − E-mail: tatiana.marins@einstein.br
Data de submissão: 10/6/2013 – Data de aceite: 9/12/2013
DOI: 10.1590/S1679-45082014RC2860
RESUMO
A hipervitaminose D é pouco relatada. Geralmente, só é percebida
quando o quadro de hipercalcemia não se resolve. Em razão de
seus benefícios, o uso de vitamina D aumentou nos últimos anos;
consequentemente, os casos de intoxicação também tiveram aumento.
Este relato destacou um caso em que o paciente apresentava piora da
função renal e hipercalcemia. Após investigação, ficou confirmada a
intoxicação por vitamina D devido a um erro de manipulação da droga.
Descritores: Vitamina D/envenenamento; Hipercalcemia; Relato de
casos
ABSTRACT
Hypervitaminosis D is a rarely reported condition. In general it is only
perceived when hypercalcemia is not resolved. The use of vitamin
D has increased in recent years because of its benefits, but as a
result, intoxication cases have occurred more frequently. This report
describes a patient who presented worsening of renal function
and hypercalcemia. After investigation, vitamin D intoxication was
confirmed and it was due to an error in compounding.
Keywords: Vitamin D/poisoning; Hypercalcemia; Case reports
INTRODUÇÃO
Condições clínicas envolvendo intoxicação por vitamina
D são pouco relatadas, uma vez que a hipercalcemia
sugere outras hipóteses diagnósticas.(1)
Ultimamente, o
número de casos relatados tem aumentado, pois essa vi­
tamina tem sido mais prescrita em razão do tratamento
da hipovitaminose D. A escassez desses produtos co­
mercializados pela indústria farmacêutica faz aumentar
a procura pelos medicamentos manipulados, propor­
cionando erros de manipulação conforme o caso rela­
tado, no qual o paciente desenvolveu hipercalcemia e
piora do quadro de insuficiência renal devido a ingestão
de uma dose duas mil vezes maior do que a prescrita.
RELATO DO CASO
Paciente do gênero masculino de 53 anos, com antece­
dentes de diabetes mellitus, hipertensão arterial, insu­
ficiência renal crônica não dialítica e antecedente pré­
vio de tabagismo. Internado em setembro de 2011 para
investigação de piora de função renal, prurido, fraque­
za, inapetência e emagrecimento. Na tabela 1, podemos
verificar os resultados dos exames bioquímicos anterio­
res à internação.
Tabela 1. Exames bioquímicos anteriores à internação
Mês/ano
Cálcio Cálcio iônico Paratormônio Creatinina
(8,4-10,4)
mg/dL
(1,14-1,31)
mmol/L
(12,0-65,0)
pg/mL
(0,6-1,2)
mg/dL
Março/2011 9,0 - - 1,30
Julho/2011 14,7 - - 3,71
Agosto/2011 - 2,11 18,0 3,84
Setembro/2011 13,4 - - 4,67
Ao exame físico inicial, encontramos: peso 86kg,
altura 1,93cm, pressão arterial 140x70mmHg e frequên­
cia cardíaca 80bpm. Nos exames bioquímicos, foram
encontrados os seguintes valores: 4,67mg/dL para crea­
tinina, 13,4mg/dL para cálcio, 1,88mmol/L para cálcio
iônico, 15,3pg/mL para paratormônio (PTH). A ultras­
sonografia revelou a presença de cálculos renais, sendo
um deles obstrutivo, com dilatação de vias urinárias.
Foi realizada cirurgia para implante de cateter duplo J
243Intoxicação por vitamina D
einstein. 2014;12(2):242-4
e ureterolitotripsia. A colonoscopia revelou neoplasia
de cólon de 3cm. A cintilografia de paratireoide, o mie­
lograma e a tomografia por emissão de pósitrons (PET)
oncológico apresentaram resultados normais.
Foram adotadas as seguintes condutas: hiper-hidra­
tação; administração de furosemida, corticoide e ferro;
e substituição da eritropoetina pela betaepoetina-meto­
xipolietilenoglicol, devido à suspeita de quadro alérgico
dermatológico. Foi também introduzida calcitonina
intranasal e subcutânea.
O quadro de hipercalcemia persistiu mesmo após a
exérese do adenocarcinoma de cólon. A investigação de
adenoma de paratireoide por ultrassom, cintilografia e
biópsia de paratireoide afastou a hipótese de hiperpa­
ratireoidismo primário. Exames bioquímicos mostra­
ram creatinina de 2,69mg/dL, cálcio de 13,0mg/dL, cálcio
iônico de 1,67mmol/L, PTH de 17,5pg/mL, vitamina D
>100ng/mL.
Os exames laboratoriais de metabolismo ósseo
apre­sentavam-se inconclusivos, persistindo PTH ina­
propriadamente “normal” em vigência de hipercal­
ce­mia. O diagnóstico laboratorial provavelmente foi
in­­­fluenciado pela insuficiência renal ou pela possível in­
toxicação por vitamina D, medicamento utilizado pelo
paciente alguns meses antes da internação, na dose de
2.000UI por dia. Pela suspeita de hipervitaminose, op­
tou-se por monitorar função renal, nível sérico de cálcio
e vitamina D, introduzindo ibandronato de sódio, que
foi substituído, posteriormente, pelo cinacalcete.
Diante da suspeita de intoxicação, as cápsulas do
medicamento foram submetidas à análise laboratorial.
A metodologia analítica e a especificação utilizada
foram baseadas na farmacopeia americana (USP 34)
Oil-soluble vitamins capsules, por meio da técnica de
cromatografia líquida de alta eficiência. O teor de vita­
mina D encontrado foi duas mil vezes superior ao que
deveria conter por cápsula.
Conforme podemos observar na tabela 2, os resul­
tados dos exames laboratoriais foram se reduzindo e o
nível de vitamina D diminuindo lentamente, conforme
o esperado, em razão de seu perfil de eliminação.(1,2)
DISCUSSÃO
Atualmente, a suplementação de vitamina D tem sido
realizada com maior frequência, pois, além de aumen­
tar a absorção de cálcio no organismo, reduz o risco
de doenças, como raquitismo e osteoporose. Estudos
recentes têm mostrado que sua deficiência está asso­
ciada a um risco aumentado para doenças cardiovas­
culares, certos tipos de câncer, doenças inflamatórias
e au­toimunes.(3-5)
O organismo só é capaz de produzir
vitamina D após exposição à luz solar. Na falta de uma
exposição regular, apenas as fontes alimentares não são
suficientes para manter níveis adequados. Por isso, a
suplementação com medicamentos se faz necessária. A
dose recomendada pode variar de 800 a 4.000UI por
dia, conforme a idade.(5,6)
Os suplementos de vitamina D podem ser adquiri­
dos facilmente sem receita médica, podendo estar na
forma de ergocalciferol ou colecalciferol, em apresen­
tações e dosagens variadas. Os casos de hipervitamino­
se D geralmente ocorrem em situações de excesso de
suplementação.(3,7,8)
O limite superior de ingestão diária
de vitamina D necessária para causar toxicidade é des­
conhecido; no entanto, até 10.000UI por dia foi consi­
derado seguro em uma população saudável(3)
.
A dose tóxica de vitamina D estimada deve ser
maior que 100.000UI por dia, durante um período de
pelo menos 1 mês.(9)
No presente relato, a dose utiliza­
da era 40 vezes maior que a recomendada. Foram rela­
tadas condições clínicas em que a quantidade atingia 8 e
18 vezes a dose máxima recomendada(9)
. Os exames ini­
ciais revelaram cálcio elevado e níveis de PTH indetec­
táveis. Posteriormente, constatou-se a intoxicação, pois
o resultado do nível sérico de vitamina D foi superior a
1.000ng/mL. Em outro relato, um paciente apresentou
diagnóstico de insuficiência renal aguda secundária à
hipercalcemia, nível de PTH normal e o nível de vitami­
na D elevado.(3)
Pelo levantamento dos medicamentos
que a paciente utilizava, verificou-se que o frasco de
vitamina D3 era de 50.000UI ao invés de 1.000UI por
cápsula, um agravante adicional era que o mesmo uti­
lizava outros dois suplementos que também continham
vitamina D3, ingerindo, por dia, cerca de 50.400UI.
O diagnóstico de intoxicação por vitamina D não é
habitual diante de casos de hipercalcemia, por ser infre­
quente, principalmente antes do advento da suplemen­
tação dessa vitamina. Tende-se a associar esse estado
a hiper-paratireoidismo primário, mieloma múltiplo
ou a outras neoplasias. O caso relatado era paradoxal,
pois, diante da hipercalcemia, a tendência seria o PTH
estar baixo ou, no caso de hiperparatireoidismo típico,
o PTH estaria elevado. No entanto, o PTH do paciente
Tabela 2. Exames bioquímicos após alta hospitalar
Mês/ano
Cálcio Cálcio iônico Paratormônio Creatinina 25(OH)D
(8,4-10,4)
mg/dL
(1,14-1,31)
mmol/L
(12,0-65,0)
pg/mL
(0,6-1,2)
mg/dL
(30-100)
ng/mL
Janeiro/2012 12,0 1,63 2,48 226
Fevereiro/2012 10,7 1,51 2,40 196
Março/2012 10,0 1,37 25,2 3,50 70
Junho/2012 1,49 2,40
25(OH)D: vitamina D.
einstein. 2014;12(2):242-4
244 Marins TA, Galvão TF, Korkes F, Malerbi DA, Ganc AJ, Korn D, Wagner J, Guerra JC, Borges Filho WM, Ferracini FT, Korkes H
encontrava-se em níveis normais, dificultando o diag­
nóstico, por isso investigaram-se todas as possibilidades
de causa da hipercalcemia.
O paciente fez uso de uma fórmula de colecalcife­
rol manipulada. A superdosagem ficou constatada por
meio da análise laboratorial das cápsulas, que conti­
nham 4.000.000UI ao invés de 2.000UI por cápsula.
Esse tipo de erro de manipulação pode ocorrer prin­
cipalmente quando se trata de produtos em dosagens
muito pequenas; nesses casos, não se pesa o insumo
puro, sendo realizada uma diluição. Especificamente a
vitamina D é produzida com uma potência muito alta −
1mg equivale a 40.000UI. Assim, o farmacêutico deve
tomar todos os cuidados exigidos quanto aos procedi­
mentos de diluição, pesagem e realização correta da
conversão. As farmácias de manipulação devem esti­
mular as boas práticas, adequar seus critérios de quali­
dade e fiscalizar, de forma rigorosa, todas as etapas do
processo de produção. Houve falha grave da farmácia,
que foi notificada como medida preventiva para evitar
novos casos.
CONCLUSÃO
A suplementação de vitamina D, principalmente quan­
do realizada por medicamentos manipulados, deve ser
adequadamente monitorada em razão do potencial
risco de intoxicação.
REFERÊNCIAS
1.	 Taskapan H, Vieth R, Oreopoulos DG. Unusually prolonged vitamin D
intoxication after discontinuation of vitamin D: possible role of primary
hyperparathyroidism. Int Urol Nephrol. 2008;40(3):801-5.
2.	 Jones G. Pharmacokinetics of vitamin D toxicity. Am J Clin Nutr.
2008;88(2):582S-586S. Review.
3.	 Jacobsen RB, Hronek BW, Schmidt GA, Schilling ML. Hypervitaminosis
D associated with a vitamin D dispensing error. Ann Pharmacother.
2011;45(10):e52.
4.	 Baeke F, Takiishi T, Korf H, Gysemans C, Mathieu C. Vitamin D: modulator of
the immune system. Curr Opin Pharmacol. 2010;10(4):482-96.
5.	 Holick MF. Vitamin D deficiency. N Engl J Med. 2007;19;357(3):266-81.
Review.
6.	 Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney
RP, Murad MH, Weaver CM; Endocrine Society. Evaluation, treatment, and
prevention of vitamin D deficiency: an Endocrine Society clinical practice
guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(7):1911-30.
7.	 Granado-Lorencio F, Blanco-Navarro I, Pérez-Sacristán B, Donoso-Navarro E,
Silvestre-Mardomingo R. Serum levels of 3-epi-25-OH-D3 during hypervitaminosis
D in clinical practice. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(12):E2266-70.
8.	 Lowe H, Cusano NE, Binkley N, Blaner WS, Bilezikian JP. Vitamin D toxicity
due to a commonly available “over the counter” remedy from the Dominican
Republic. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(2):291-5.
9.	 Araki T, Holick MF, Alfonso BD, Charlap E, Romero CM, Rizk D, et al. Vitamin
D intoxication with severe hypercalcemia due to manufacturing and labeling
errors of two dietary supplements made in the United States. J Clin Endocrinol
Metab. 2011;96(12):3603-8.

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Intoxicação por vitamina d

  • 1. einstein. 2014;12(2):242-4 RELATO DE CASO Intoxicação por vitamina D: relato de caso Vitamin D intoxication: case report Tatiana Aporta Marins1 , Tatiana de Fátima Gonçalves Galvão1 , Fernando Korkes1 , Domingos Augusto Cherino Malerbi1 , Arnaldo José Ganc1 , Davi Korn1 , Jairo Wagner1 , João Carlos de Campos Guerra1 , Wladimir Mendes Borges Filho1 , Fábio Teixeira Ferracini1 , Hélio Korkes1 1 Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. Autor correspondente: Tatiana Aporta Marins − Avenida Albert Einstein, 627 − Morumbi – CEP: 05651-901 − São Paulo, SP, Brasil − Tel.: (11) 2151-1233 − E-mail: tatiana.marins@einstein.br Data de submissão: 10/6/2013 – Data de aceite: 9/12/2013 DOI: 10.1590/S1679-45082014RC2860 RESUMO A hipervitaminose D é pouco relatada. Geralmente, só é percebida quando o quadro de hipercalcemia não se resolve. Em razão de seus benefícios, o uso de vitamina D aumentou nos últimos anos; consequentemente, os casos de intoxicação também tiveram aumento. Este relato destacou um caso em que o paciente apresentava piora da função renal e hipercalcemia. Após investigação, ficou confirmada a intoxicação por vitamina D devido a um erro de manipulação da droga. Descritores: Vitamina D/envenenamento; Hipercalcemia; Relato de casos ABSTRACT Hypervitaminosis D is a rarely reported condition. In general it is only perceived when hypercalcemia is not resolved. The use of vitamin D has increased in recent years because of its benefits, but as a result, intoxication cases have occurred more frequently. This report describes a patient who presented worsening of renal function and hypercalcemia. After investigation, vitamin D intoxication was confirmed and it was due to an error in compounding. Keywords: Vitamin D/poisoning; Hypercalcemia; Case reports INTRODUÇÃO Condições clínicas envolvendo intoxicação por vitamina D são pouco relatadas, uma vez que a hipercalcemia sugere outras hipóteses diagnósticas.(1) Ultimamente, o número de casos relatados tem aumentado, pois essa vi­ tamina tem sido mais prescrita em razão do tratamento da hipovitaminose D. A escassez desses produtos co­ mercializados pela indústria farmacêutica faz aumentar a procura pelos medicamentos manipulados, propor­ cionando erros de manipulação conforme o caso rela­ tado, no qual o paciente desenvolveu hipercalcemia e piora do quadro de insuficiência renal devido a ingestão de uma dose duas mil vezes maior do que a prescrita. RELATO DO CASO Paciente do gênero masculino de 53 anos, com antece­ dentes de diabetes mellitus, hipertensão arterial, insu­ ficiência renal crônica não dialítica e antecedente pré­ vio de tabagismo. Internado em setembro de 2011 para investigação de piora de função renal, prurido, fraque­ za, inapetência e emagrecimento. Na tabela 1, podemos verificar os resultados dos exames bioquímicos anterio­ res à internação. Tabela 1. Exames bioquímicos anteriores à internação Mês/ano Cálcio Cálcio iônico Paratormônio Creatinina (8,4-10,4) mg/dL (1,14-1,31) mmol/L (12,0-65,0) pg/mL (0,6-1,2) mg/dL Março/2011 9,0 - - 1,30 Julho/2011 14,7 - - 3,71 Agosto/2011 - 2,11 18,0 3,84 Setembro/2011 13,4 - - 4,67 Ao exame físico inicial, encontramos: peso 86kg, altura 1,93cm, pressão arterial 140x70mmHg e frequên­ cia cardíaca 80bpm. Nos exames bioquímicos, foram encontrados os seguintes valores: 4,67mg/dL para crea­ tinina, 13,4mg/dL para cálcio, 1,88mmol/L para cálcio iônico, 15,3pg/mL para paratormônio (PTH). A ultras­ sonografia revelou a presença de cálculos renais, sendo um deles obstrutivo, com dilatação de vias urinárias. Foi realizada cirurgia para implante de cateter duplo J
  • 2. 243Intoxicação por vitamina D einstein. 2014;12(2):242-4 e ureterolitotripsia. A colonoscopia revelou neoplasia de cólon de 3cm. A cintilografia de paratireoide, o mie­ lograma e a tomografia por emissão de pósitrons (PET) oncológico apresentaram resultados normais. Foram adotadas as seguintes condutas: hiper-hidra­ tação; administração de furosemida, corticoide e ferro; e substituição da eritropoetina pela betaepoetina-meto­ xipolietilenoglicol, devido à suspeita de quadro alérgico dermatológico. Foi também introduzida calcitonina intranasal e subcutânea. O quadro de hipercalcemia persistiu mesmo após a exérese do adenocarcinoma de cólon. A investigação de adenoma de paratireoide por ultrassom, cintilografia e biópsia de paratireoide afastou a hipótese de hiperpa­ ratireoidismo primário. Exames bioquímicos mostra­ ram creatinina de 2,69mg/dL, cálcio de 13,0mg/dL, cálcio iônico de 1,67mmol/L, PTH de 17,5pg/mL, vitamina D >100ng/mL. Os exames laboratoriais de metabolismo ósseo apre­sentavam-se inconclusivos, persistindo PTH ina­ propriadamente “normal” em vigência de hipercal­ ce­mia. O diagnóstico laboratorial provavelmente foi in­­­fluenciado pela insuficiência renal ou pela possível in­ toxicação por vitamina D, medicamento utilizado pelo paciente alguns meses antes da internação, na dose de 2.000UI por dia. Pela suspeita de hipervitaminose, op­ tou-se por monitorar função renal, nível sérico de cálcio e vitamina D, introduzindo ibandronato de sódio, que foi substituído, posteriormente, pelo cinacalcete. Diante da suspeita de intoxicação, as cápsulas do medicamento foram submetidas à análise laboratorial. A metodologia analítica e a especificação utilizada foram baseadas na farmacopeia americana (USP 34) Oil-soluble vitamins capsules, por meio da técnica de cromatografia líquida de alta eficiência. O teor de vita­ mina D encontrado foi duas mil vezes superior ao que deveria conter por cápsula. Conforme podemos observar na tabela 2, os resul­ tados dos exames laboratoriais foram se reduzindo e o nível de vitamina D diminuindo lentamente, conforme o esperado, em razão de seu perfil de eliminação.(1,2) DISCUSSÃO Atualmente, a suplementação de vitamina D tem sido realizada com maior frequência, pois, além de aumen­ tar a absorção de cálcio no organismo, reduz o risco de doenças, como raquitismo e osteoporose. Estudos recentes têm mostrado que sua deficiência está asso­ ciada a um risco aumentado para doenças cardiovas­ culares, certos tipos de câncer, doenças inflamatórias e au­toimunes.(3-5) O organismo só é capaz de produzir vitamina D após exposição à luz solar. Na falta de uma exposição regular, apenas as fontes alimentares não são suficientes para manter níveis adequados. Por isso, a suplementação com medicamentos se faz necessária. A dose recomendada pode variar de 800 a 4.000UI por dia, conforme a idade.(5,6) Os suplementos de vitamina D podem ser adquiri­ dos facilmente sem receita médica, podendo estar na forma de ergocalciferol ou colecalciferol, em apresen­ tações e dosagens variadas. Os casos de hipervitamino­ se D geralmente ocorrem em situações de excesso de suplementação.(3,7,8) O limite superior de ingestão diária de vitamina D necessária para causar toxicidade é des­ conhecido; no entanto, até 10.000UI por dia foi consi­ derado seguro em uma população saudável(3) . A dose tóxica de vitamina D estimada deve ser maior que 100.000UI por dia, durante um período de pelo menos 1 mês.(9) No presente relato, a dose utiliza­ da era 40 vezes maior que a recomendada. Foram rela­ tadas condições clínicas em que a quantidade atingia 8 e 18 vezes a dose máxima recomendada(9) . Os exames ini­ ciais revelaram cálcio elevado e níveis de PTH indetec­ táveis. Posteriormente, constatou-se a intoxicação, pois o resultado do nível sérico de vitamina D foi superior a 1.000ng/mL. Em outro relato, um paciente apresentou diagnóstico de insuficiência renal aguda secundária à hipercalcemia, nível de PTH normal e o nível de vitami­ na D elevado.(3) Pelo levantamento dos medicamentos que a paciente utilizava, verificou-se que o frasco de vitamina D3 era de 50.000UI ao invés de 1.000UI por cápsula, um agravante adicional era que o mesmo uti­ lizava outros dois suplementos que também continham vitamina D3, ingerindo, por dia, cerca de 50.400UI. O diagnóstico de intoxicação por vitamina D não é habitual diante de casos de hipercalcemia, por ser infre­ quente, principalmente antes do advento da suplemen­ tação dessa vitamina. Tende-se a associar esse estado a hiper-paratireoidismo primário, mieloma múltiplo ou a outras neoplasias. O caso relatado era paradoxal, pois, diante da hipercalcemia, a tendência seria o PTH estar baixo ou, no caso de hiperparatireoidismo típico, o PTH estaria elevado. No entanto, o PTH do paciente Tabela 2. Exames bioquímicos após alta hospitalar Mês/ano Cálcio Cálcio iônico Paratormônio Creatinina 25(OH)D (8,4-10,4) mg/dL (1,14-1,31) mmol/L (12,0-65,0) pg/mL (0,6-1,2) mg/dL (30-100) ng/mL Janeiro/2012 12,0 1,63 2,48 226 Fevereiro/2012 10,7 1,51 2,40 196 Março/2012 10,0 1,37 25,2 3,50 70 Junho/2012 1,49 2,40 25(OH)D: vitamina D.
  • 3. einstein. 2014;12(2):242-4 244 Marins TA, Galvão TF, Korkes F, Malerbi DA, Ganc AJ, Korn D, Wagner J, Guerra JC, Borges Filho WM, Ferracini FT, Korkes H encontrava-se em níveis normais, dificultando o diag­ nóstico, por isso investigaram-se todas as possibilidades de causa da hipercalcemia. O paciente fez uso de uma fórmula de colecalcife­ rol manipulada. A superdosagem ficou constatada por meio da análise laboratorial das cápsulas, que conti­ nham 4.000.000UI ao invés de 2.000UI por cápsula. Esse tipo de erro de manipulação pode ocorrer prin­ cipalmente quando se trata de produtos em dosagens muito pequenas; nesses casos, não se pesa o insumo puro, sendo realizada uma diluição. Especificamente a vitamina D é produzida com uma potência muito alta − 1mg equivale a 40.000UI. Assim, o farmacêutico deve tomar todos os cuidados exigidos quanto aos procedi­ mentos de diluição, pesagem e realização correta da conversão. As farmácias de manipulação devem esti­ mular as boas práticas, adequar seus critérios de quali­ dade e fiscalizar, de forma rigorosa, todas as etapas do processo de produção. Houve falha grave da farmácia, que foi notificada como medida preventiva para evitar novos casos. CONCLUSÃO A suplementação de vitamina D, principalmente quan­ do realizada por medicamentos manipulados, deve ser adequadamente monitorada em razão do potencial risco de intoxicação. REFERÊNCIAS 1. Taskapan H, Vieth R, Oreopoulos DG. Unusually prolonged vitamin D intoxication after discontinuation of vitamin D: possible role of primary hyperparathyroidism. Int Urol Nephrol. 2008;40(3):801-5. 2. Jones G. Pharmacokinetics of vitamin D toxicity. Am J Clin Nutr. 2008;88(2):582S-586S. Review. 3. Jacobsen RB, Hronek BW, Schmidt GA, Schilling ML. Hypervitaminosis D associated with a vitamin D dispensing error. Ann Pharmacother. 2011;45(10):e52. 4. Baeke F, Takiishi T, Korf H, Gysemans C, Mathieu C. Vitamin D: modulator of the immune system. Curr Opin Pharmacol. 2010;10(4):482-96. 5. Holick MF. Vitamin D deficiency. N Engl J Med. 2007;19;357(3):266-81. Review. 6. Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney RP, Murad MH, Weaver CM; Endocrine Society. Evaluation, treatment, and prevention of vitamin D deficiency: an Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(7):1911-30. 7. Granado-Lorencio F, Blanco-Navarro I, Pérez-Sacristán B, Donoso-Navarro E, Silvestre-Mardomingo R. Serum levels of 3-epi-25-OH-D3 during hypervitaminosis D in clinical practice. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97(12):E2266-70. 8. Lowe H, Cusano NE, Binkley N, Blaner WS, Bilezikian JP. Vitamin D toxicity due to a commonly available “over the counter” remedy from the Dominican Republic. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(2):291-5. 9. Araki T, Holick MF, Alfonso BD, Charlap E, Romero CM, Rizk D, et al. Vitamin D intoxication with severe hypercalcemia due to manufacturing and labeling errors of two dietary supplements made in the United States. J Clin Endocrinol Metab. 2011;96(12):3603-8.