SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
Estudo de caso / case study / estudio de caso




       Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente
                     pediátrico: relato de caso
                Individualized nutritional care for a pediatric patient: case report
          Cuidado alimenticio individualizado para un paciente pediátrico: relato de caso

                                                                Thaís Morgado Lamonica*
                                                                 Vera Sílvia Frangella**
                                                                     Elen Pessina***




   Resumo: Este acompanhamento nutricional foi realizado com um paciente pediátrico com Insuficiência Renal Crônica, Síndrome Hemolítica
   Urêmica e Hipertensão Arterial, selecionado pela necessidade de se favorecer seu quadro clínico, devido às altas taxas de morbi-mortalidade
   em crianças renais. O objetivo deste trabalho é favorecer crescimento, desenvolvimento e sobrevida com qualidade. Esta pesquisa experimental,
   do tipo caso clínico, foi realizada com um menino de 5 anos. Para tanto, foram analisados dados do prontuário, como farmacoterapia e resul-
   tados dos exames solicitados. Aplicou-se Inquérito Alimentar, sendo o Recordatório Alimentar avaliado e calculado. O diagnóstico nutricional
   foi definido pela avaliação de parâmetros bioquímicos e antropometria. Após o planejamento dietético, foram realizadas adaptações à dieta
   hospitalar para adequá-la às necessidades nutricionais e clínicas do paciente. A análise do recordatório domiciliar sugere que a inadequação do
   consumo alimentar favoreceu o diagnóstico clínico. A avaliação nutricional identificou risco para subnutrição protéica. Devido à inapetência do
   paciente, a dieta oral oferecida foi modificada, promovendo melhor aceitação alimentar sem, contudo, atingir o consumo ideal de nutrientes.
   A persistente inadequação da ingestão favorece a perda ponderal, maior depleção nutricional e sobrevida do paciente. Demonstra-se, assim,
   a necessidade de acompanhamento nutricional contínuo, sugerindo-se a oferta de suplementação via oral.
   Palavras-chave: Avaliação nutricional. Insuficiência renal crônica. Terapia nutricional-criança.
   Abstract: This nutritional care program was carried through with a pediatric patient having Chronic Renal Insufficiency, Hemolytic-Uremic
   Syndrome, and Arterial Hypertension, chosen due to the necessity of favoring her clinical condition, due to the high rates of morbidity-
   mortality in renal children. The aim of this work is to promote growth, development, and survival with life quality. This clinical-case type
   experimental research had as subject a 5-year boy years. For doing this, we examined data from the hospital record such as pharmacotherapy
   and results of the requested exams. An Alimentary Inquiry was applied, and we evaluated and calculated the Alimentary Record. Nutritional
   diagnosis was defined by the evaluation of biochemical and anthropometric parameters. After dietary planning, nutritional and clinical
   necessities of the patient were considered to promote adaptations to the hospital diet. The analysis of the domiciliary record suggests that
   inadequate alimentary consumption favored the clinical diagnosis. Nutritional evaluation identified a risk of malnutrition regarding protein
   intake. Due to the patient’s inapetence, the offered oral diet was modified, promoting a better acceptance of food without, however, reaching
   the ideal consumption of nutrients. The persistent inadequateness of ingestion favors weight loss and a higher nutritional depletion and
   reduces the patient’s survival. The study shows this way the necessity of a continuous nutritional assistance, suggesting that oral nutritional
   supplements be offered.
   Keywords: Nutritional evaluation. Chronic renal insufficiency. Nutritional therapy-children.
   Resumen: Este programa de cuidado alimenticio fue llevado a cabo con un paciente pediátrico que tenía deficiencia renal crónica, síndrome
   urémico hemolítico e hipertensión arterial, elegido debido a la necesidad de favorecer su condición clínica delante de los altos índices de
   morbi-mortalidad en niños con problemas renales. La meta de este trabajo es promover crecimiento, desarrollo y supervivencia con calidad
   de vida. Esta investigación experimental, de tipo caso clínico, tubo como sujeto un niño de cinco años. Para hacerlo, examinamos datos del
   Registro Hospitalario tales como farmacoterapia y resultados de los exámenes solicitados. Un Inquérito Alimenticio fue aplicado, y evaluamos
   y calculamos el Expediente Alimenticio. La diagnosis alimenticia fue definida por la evaluación de parámetros bioquímicos y antropométricos.
   Después de la planificación dietética, se consideraran las necesidades alimenticias y clínicas del paciente para promover adaptaciones en la
   dieta hospitalaria. El análisis del Expediente Domiciliario sugiere que la consumición alimenticia inadecuada favoreciera la diagnosis clínica. La
   evaluación alimenticia identificó un riesgo de desnutrición proteica. Debido a la inapetencia del paciente, la dieta oral ofrecida fue modificada,
   y se promovió una aceptación mejor de los alimentos, sin contodo alcanzar la consumición ideal de alimentos. La inadecuación persistente
   de la ingestión favorece pérdida del peso y un agotamiento alimenticio más alto y reduce la supervivencia del paciente. El estudio demuestra
   de esta manera la necesidad de una ayuda alimenticia continua, sugiriendo que se ofrezcan suplementos alimenticios orales ofrecidos.
   Palabras llave: Evaluación alimenticia. Deficiencia renal crónica. Terapia alimenticia-niños.




                              * Graduanda de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo. E-mail: thaislamonica@yahoo.com.br
  ** Mestre em Gerontologia pela PUC-SP; Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral, Especialista em
         Serviços da Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e Professora do Centro Universitário São Camilo – São Paulo/SP.
                                               *** Nutricionista Graduada pelo Centro Universitário São Camilo.




O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99	                                                                                                           91
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




Introdução                                 ma crônico de diálise mais do que                Arterial Sistêmica (HAS) de evo-
                                           dobrou nos últimos 8 anos, sendo                 lução prolongada (Romão Junior,
     O presente estudo refere-se a         que anualmente a incidência de                   2004). Hipertensão arterial é uma
um Acompanhamento Nutricional              novos casos cresce cerca de 8%.                  entidade multigênica, de etiologia
individualizado realizado durante          Em crianças latinas, estima-se a                 múltipla e fisiopatogenia multifa-
5 dias com um paciente pediátrico          incidência de 2,8 pacientes/ano/                 torial, que causa lesão nos chama-
portador de Insuficiência Renal            milhão de crianças menores de 15                 dos orgãos-alvo (coração, cérebro,
Crônica, atualmente em programa            anos. No Brasil, não existe estatísti-           vasos, rins e retina) por alteração
de Diálise Peritonial Ambulato-            ca específica para a IRC na infância,            no débito cardíaco e/ou resistência
rial Contínua (CAPD), Síndrome                                                              periférica (Costa, 2005).
                                           entretanto estima-se que existem
Hemolítica Urêmica e Hiperten-
                                           cerca de 1000 novos casos por ano                    A ciência da nutrição possui
são Arterial Sistêmica (HAS). O
                                           (Romão Junior, 2004).                            grande importância no controle da
acompanhamento nutricional é,
                                               As perdas de nutrientes durante              progressão da IRC. Assim sendo,
reconhecidamente, de fundamen-
                                           o procedimento dialítico podem ser               este estudo, devido a todos os riscos
tal importância para a melhora do
                                           um fator importante para a deple-                nutricionais que a doença provoca,
quadro clínico dos pacientes. As-
                                           ção nutricional desses indivíduos.               torna-se de extrema relevância à
sim, cabe ao nutricionista o desafio
                                           Pacientes renais crônicos em tra-                comunidade científica e à própria
de estabelecer um plano dietote-
                                           tamento de diálise peritonial ge-                população acometida por estas pa-
rápico, visando à recuperação e à
                                           ralmente apresentam-se em risco                  tologias. Este trabalho, portanto,
reabilitação destes indivíduos. As
                                           nutricional, já que muitos dos nu-               tem por objetivo geral contribuir,
ações necessárias ao atendimento
                                           trientes necessários diariamente                 por meio da conduta dietoterápica
nutricional podem ser agrupadas
de acordo com a conduta dietética          são perdidos juntamente ao diali-                individualizada, para a promoção
versus o tratamento médico, sendo          sato. Há evidências de que a inter-              de: crescimento, desenvolvimen-
classificada de acordo com os níveis       venção nutricional precoce afeta                 to e sobrevida com qualidade para
de assistência nutricional (Macule-        positivamente a taxa de mortalida-               este paciente.
vicius, Baxter, Fornasari, 1994).          de que acomete principalmente as
     A relevância deste estudo, por-       crianças com nefropatias (Pereira,               Material e Métodos
tanto, fundamenta-se na elevada            2001; Carvalhaes, 1998).
taxa de morbi-mortalidade de pa-               A anemia se traduz no orga-                      Trata-se de uma pesquisa expe-
cientes portadores de patologias           nismo humano na incapacidade                     rimental, prospectiva, não contro-
renais crônicas, especialmente             do tecido eritropoético em manter                lada, do tipo estudo de caso clínico
quando se trata de crianças, devi-         uma concentração normal de he-                   (Vieira, 2001). O presente trabalho
do aos diversos fatores de risco re-       moglobina, devido ao suprimen-                   foi realizado com um paciente pe-
lacionados a estas patologias, com         to inadequado de ferro (Martins,                 diátrico do sexo masculino interna-
finalidade de recuperação da saúde         1985). Na IRC, a anemia também                   do em um hospital geral localizado
e melhora da sobrevida destes in-          pode ser causada pela Síndrome                   na zona oeste de São Paulo, no pe-
divíduos.                                  Hemolítica. Devido à perda das                   ríodo de 5 dias.
     A Insuficiência Renal Crônica         funções renais específicas, o orga-                  Foi realizada consulta no pron-
(IRC) consiste na perda progressiva        nismo torna-se incapaz de excretar               tuário do paciente, verificando as
e irreversível da função renal (glo-       os produtos do metabolismo, entre                prescrições diárias, para coleta de
merular, tubular e endócrina), de          eles: a uréia, que passa a circular              dados fundamentais, como: histó-
tal forma que em suas fases mais           livremente na corrente sanguínea                 ria clínica, antecedentes médicos e
avançadas, os rins não conseguem           (Brenner, 2002). Este metabóli-                  familiares, diagnóstico médico, si-
mais manter a normalidade do               to, por ser uma substância tóxica,               nais vitais, acompanhamento dos
meio interno do organismo. Nestas          quando em grande quantidade,                     resultados dos exames bioquími-
condições, os pacientes apresentam         promove hemólise das células san-                cos realizados, prescrição medica-
um comprometimento do estado               guíneas, reduzindo de forma drásti-              mentosa, hábito intestinal, diurese
nutricional, em decorrência não só         ca o número de hemácias presentes                e evolução da enfermagem, que
da inapetência, como também dos            no sangue, agravando o quadro de                 subsidiaram o planejamento die-
distúrbios metabólicos gerados pela        anemia, já próprio do renal crônico              tético.
IRC (Mafra, 2001).                         (Brenner, 2002).                                     Para conhecer a história dieté-
     No Brasil, a prevalência de               Em 27% dos casos, a IRC é cau-               tica, a irmã mais velha do pacien-
pacientes mantidos em progra-              sada pela presença de Hipertensão                te foi entrevistada para fornecer



92	                                                                       O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




informações detalhadas sobre o                    da estimativa sugerida por Pereira         Diálise Peritonial Ambulatorial
hábito alimentar do paciente, por                 (2001) para crianças submetidas            Contínua (CAPD), que consiste em
meio da aplicação de um Inquérito                 ao tratamento de diálise peritonial.       um tratamento que utiliza a mem-
Alimentar composto por: histórico                 Para cálculo de macronutrientes e          brana peritonial como um filtro
psico-social-econômico, histórico                 micronutrientes, utilizou-se como          semipermeável, removendo solutos
clínico, anamnese alimentar e Re-                 base as recomendações de Pereira           acumulados no sangue (Martins,
cordatório Alimentar Domiciliar                   (2001) e Carvalhaes (1998). Para           2001). Até o presente momento,
Habitual.                                         o cálculo da composição química            permanece internado aguardando
    O diagnóstico nutricional foi                 das dietas, foi utilizado o software de    uma máquina cicladora, vinda do
definido por meio da utilização de                nutrição Nutwin versão 1.5.2.51 -          Hospital das Clínicas, para dar con-
Avaliação Antropométrica e Ava-                   2005.                                      tinuidade ao tratamento dialítico
liação de Parâmetros Bioquímicos.                     Após o planejamento dietético,         em sua residência.
Na Avaliação Antropométrica, fo-                  foram realizadas adaptações à dieta            Reconhece-se, neste paciente,
ram mensuradas: dobra cutânea                     padrão do Hospital para ser ofere-         o fator hereditário na etiologia do
tricipital, utilizando o adipômetro               cida ao paciente, a fim de adequá-         diagnóstico que o acomete uma vez
Cescorf® científico, com divisões                 la às suas necessidades nutricionais       que aparentemente ele apresentava
de 1 mm; e para a medida dos perí-                e clínicas.                                um quadro de Hipertensão Arterial
metros utilizou-se uma fita métrica                   Todos os resultados do presen-         Sistêmica, até então não diagnos-
inelástica com escala em milíme-                  te estudo serão apresentados sob a         ticado, e que, possivelmente, re-
tros. A medida da estatura foi ob-                forma de figuras, tabelas e quadros,       sultou em uma lesão renal crônica
tida por meio de um adipômetro                    construídos com o auxílio do Pro-          (Robbins, 1996).
móvel da marca Sanny®, com re-                    grama Microsoft Excel (2002), sendo            A Síndrome Hemolítica Urêmi-
solução de 0,1 cm e altura máxima                 avaliados de acordo com referên-           ca se relaciona com o diagnóstico de
de 2,0 m; enquanto que o peso foi                 cias específicas para cada variável.       IRC, sendo ela a causa primária para
obtido pela utilização de uma ba-                                                            o agravamento do quadro anêmico
lança da marca Plenna®, com ca-                   Casuística                                 encontrado neste indivíduo.
pacidade para 150 kg e resolução                                                                 Durante o período de acom-
de 0,1 kg.                                            O paciente é um menino, com            panhamento, o paciente recebeu
    O critério utilizado para ava-                idade de 5 anos e 7 meses, residen-        alguns medicamentos com o pro-
liação dos resultados do IMC,                     te da Zona Norte da cidade de São          pósito de favorecer seu quadro
percentual de dobras cutâneas e pe-               Paulo. Dorme, aproximadamente,             clínico e nutricional. Assim, para
rímetros foi Frisancho (1990), sen-               10 horas por noite e possui sono           o tratamento da Hipertensão Arte-
do classificado pela OMS (1995).                  tranqüilo. Não pratica atividade fí-       rial, foram prescritos os seguintes
Além disto, a partir da idade e valo-             sica e possui como lazer desenhar          fármacos: Capoten® e Amlodi­ ina.
                                                                                                                            p
res de peso, estatura e IMC, foram                super-heróis e brincar com carros          A interação fármaco nutriente ob-
classificados os indicadores P/I, P/E,            de brinquedo.                              servada consiste na depleção de cál-
E/I e IMC/I, segundo as recomen-                      No dia anterior à data de sua          cio, potássio, vitamina D, além de
dações do National Center for Health              internação, a irmã do paciente re-         perdas protéicas (Martins, 2003).
an Statistics - NCHS (2000).                      lata que ele iniciou com um qua-           Considerando este aspecto, e devi-
    A avaliação nutricional por                   dro de vômitos e dor abdominal,            do às perdas intensas de nutrientes
meio de provas bioquímicas deu-                   procurando o serviço médico. Esta          através do dialisato, bem como o
se pela avaliação dos resultados en-              criança, que até o momento não             aumento da ocorrência de osteodis-
contrados nos exames solicitados,                 apresentava diagnóstico de qual-           trofia em função desta patologia de
sendo analisados segundo referên-                 quer patologia, no dia da interna-         base, este paciente está sendo su-
cias específicas para o diagnóstico               ção obteve a hipótese diagnóstica          plementado com Vitamina D (Ro-
nutricional. Após a análise dos diag-             de Hipertensão Arterial, Síndrome          caltrol®) e Cálcio (Carbonato de
nósticos parciais obtidos em cada                 Hemolítica Urêmica e Insuficiên-           Cálcio). Contudo, esta medicação
indicador e parâmetro de avaliação                cia Renal. Assim, ele foi submeti-         pode ocasionar: uremia, aumen-
nutricional utilizados, concluiu-se               do a uma cirurgia de passagem de           to dos níveis de creatinina sérica,
o diagnóstico nutricional final que               cateter Tenckoff, para iniciação de        hipercolesterolemia e hipoalbu-
subsidiou o estabelecimento das                   programa de tratamento de diálise          minúria, devendo, por esta razão,
necessidades nutricionais. O Valor                peritonial intermitente noturna,           sofrer monitoração destes exames
Energético Total foi obtido por meio              evoluindo, posteriormente, para            (Martins, 2003). Também foram



O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99	                                                                    93
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




administrados fármacos analgé-             neste caso, pode estar associado à                      As refeições preparadas em do-
sicos (Morfina), com o propósito           Síndrome Hemolítica-Urêmica.                       micílio eram temperadas, princi-
de sanar as dores abdominais que               Quanto às dosagens séricas,                    palmente, com alho, cebola e sal.
eventualmente este paciente apre-          verificou-se que o exame de uréia,                 Entretanto, raramente, algumas
senta e um Antiemético (Dramin             creatinina, magnésio e fósforo en-                 preparações eram acrescidas de
B6DL®), devido à ocorrência de             contram-se acima do valor de refe-                 caldos industrializados. Além disto,
vômitos após a infusão do líquido          rência. Segundo Fischbach (1998),                  sua irmã se recorda que, durante
dialítico na cavidade abdominal.           esta alteração se deve à incapacida-               as refeições, o paciente adicionava
Estes medicamentos, de maneira             de do rim em promover filtração e                  mais sal, podendo sugerir que a ali-
geral, apresentam alguns eventos           excreção adequada, retendo algu-                   mentação tenha sido um fator fun-
adversos gastrintestinais predomi-         mas substâncias que permanecem                     damental para o desencadeamento
nantes.                                    circulantes na corrente sanguínea                  da HAS e, como conseqüência, para
    O paciente foi submetido à             devido à IRC. Ainda nos exames de                  o surgimento da IRC.
realização de alguns exames nos            dosagem sérica, observou-se uma                         Analisando o recordatório
dias seguintes à internação, com           redução gradativa com relação aos                  domiciliar referido pela irmã do
o propósito de investigar a causa          valores de referência para sódio,                  paciente, foi possível verificar-se
dos vômitos que o trouxeram até            potássio, cloro e cálcio séricos, justi-           inadequações. Para correção, su-
a unidade médica. Os resultados            ficada pelo fato de que o tratamen-                gere-se um aumento do consumo
do exame de ultra-sonografia de            to de diálise peritonial promove                   diário de cereais, pães, tubérculos e
abdômen total informaram a pre-            perdas de grandes quantidades de                   raízes, pois são fontes de carboidra-
sença de uma inflamação nos seus           nutrientes associadas ao dialisato,                to, fontes primárias de energia para
dois rins, sugerindo a presença de         havendo a necessidade de se repor                  a ocorrência das reações metabóli-
uma nefropatia. Com tal resultado,         estas concentrações, principal-                    cas do organismo; de leite e produ-
associado aos exames bioquímicos           mente com relação ao cálcio, com                   tos lácteos e de carnes, pois são ricos
iniciais, optou-se pela realização         o propósito de evitar osteodistro­     -           em proteínas, que são essenciais na
do programa de Diálise Peritonial          fia renal (Fischbach, 1998; Carva-
                                                                                              infância para a promoção do cresci-
                                           lhaes, 1998). Verificou-se, também,
como forma de tratamento ime-                                                                 mento e desenvolvimentos adequa-
                                           no exame de urina tipo I, presença
diato ao caso avaliado devido à IRC.                                                          dos; e de frutas, já que também são
                                           de proteína e hemoglobina. Este
A confirmação da presença de uma                                                              importantes fontes de fibras e mi-
                                           fato indica, mais uma vez, que o
IRC se deu pelo resultado do exame                                                            cronutrientes, retratando a impor-
                                           rim apresenta incapacidade para
anatomopatológico.                                                                            tância de sua ingestão; assim como
                                           promover filtração e excreção de
    Pode-se observar, na análise dos                                                          a redução no consumo de óleos e
                                           forma adequada, ora retendo subs-
exames bioquímicos, que os piores                                                             gorduras que, quando consumidos
                                           tâncias, ora excretando-as de forma
resultados foram obtidos no dia                                                               em excesso, podem gerar níveis
                                           excessiva (Fischbach, 1998).
posterior à internação, ocorrendo                                                             elevados de colesterol, LDL e trigli-
melhoras gradativas ao longo dos                                                              cérides plasmáticos (Franceschini,
dias devido à eficácia do tratamen-        Planejamento Dietético                             2005). O consumo dos alimentos
to com programa de DPI. Entre-                 O paciente realizava 4 refeições               do grupo de hortaliças, açúcares e
tanto, a melhor alternativa para o         diárias, sendo que o desjejum e o                  leguminosas secas apresentaram-se
cuidado do paciente foi evoluir o          almoço eram feitos na casa de sua                  adequados.
tratamento para um programa de             avó materna, enquanto que o al-                         Avaliando-se os resultados ob-
CAPD, com o propósito de manter            moço e o jantar eram realizados em                 tidos no Recordatório Habi­ ual, t
os resultados laboratoriais o mais         sua residência. Os hábitos alimen-                 percebe-se que a alimentação feita
próximo possível da normalidade,           tares do paciente eram modificados                 pelo paciente apresenta-se quan-
favorecendo a função renal e con-          apenas às sextas-feiras, durante o                 titativamente inadequada, quan-
trolando a sintomatologia.Verifi-          jantar, quando a família consumia                  do comparada às recomendações
cou-se, também, que o exame de             pizza ou lanches do Mc Donald´s®.                  da dieta ideal para gramas/kgPI/
hemoglobina e hematócrito apre-            O consumo de lanches compostos                     dia, caracterizando-se como dieta
sentam-se abaixo do valor de re-           por alimentos ricos em gorduras sa-                Hipoprotéica, Hipoglicídica, Hipo-
ferência. Segundo Carlson (2005),          turadas, sódio e calorias, caracte-                lipídica e Hipocalórica, uma vez
tanto o hematócrito quanto a he-           riza-se como um hábito alimentar                   que atende a apenas 56,1% das
moglobina têm seus valores dimi-           próprio da idade, podendo refletir                 calorias indicadas à patologia de
nuídos em casos de anemia, o que,          uma possível influência da mídia.                  base. Conseqüentemente, esta in-



94	                                                                         O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




   Quadro 1. Análise quantitativa de micronutrientes do Recordatório Alimentar Habitual Domiciliar
                                           São Paulo, 2006
                                                                TOTAL DAS REFEIÇÕES
 Nutriente                     Dieta Ingerida         Dieta Ideal    Adequação     Nutriente     Dieta Ingerida    Dieta Ideal   Avaliação
 Colesterol (mg)               288,90                 < 300          Adequado      Cu (mg)       0,21              1,0 – 1,5     Abaixo
 Cobalamina (ug)               0,90                   0,9            Adequado      Ca (mg)       599,00            800           Abaixo
 Riboflavina (mg)              1,10                   0,5            Adequado      Fe (mg)       5,80              10            Abaixo
 Ác. Fólico (ug)               87,90                  150            Abaixo        Fibra (g)     9,30              25            Abaixo
 Ác. Pantotênico (mg)          2,30                   0,5            Adequado      K (mg)        401,00            500           Abaixo
 Tiamina (mg)                  0,67                   0,5            Adequado      Na (mg)       5067,90           < 3300        Elevado
 Vit. D (mg)                   2,30                   5              Abaixo        Vit. E (mg)   6,00              7             Abaixo
 Vit. A (ug)                   912,30                 500            Adequado      Zn (mg)       2,20              10            Abaixo
 Vit. C (mg)                   27,40                  45             Abaixo        Líquido (ml) 336,70             600 ml        Adequado
Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND


gestão interfere no crescimento e                         ge as necessidades recomendadas                   Entretanto, realizando a aná-
desenvolvimento adequado desta                            para seu estado fisiológico e idade.          lise dos parâmetros bioquímicos,
criança.                                                  Observou-se, também, consumo                  observou-se que em todos os exa-
    Ainda analisando-se quanti-                           excessivo de sódio na dieta do pa-            mes realizados desde o momento
tativamente o recordatório habi-                          ciente. Estudos epidemiológicos               da internação, o paciente apresenta
tual domiciliar, pode-se perceber,                        de populações apontam um papel                depleção protéica pela análise dos
também, uma inadequação no                                etiológico para o sal no agravo da            resultados do exame de proteínas
consumo de alguns micronutrien-                           HAS; sugerindo, desta forma, que              totais do soro. A análise de outros
tes, conforme demonstrado pelo                            a alimentação tenha contribuído               parâmetros bioquímicos também
Quadro 1. No caso deste paciente,                         para o aparecimento da HAS e,                 detectou depleção protéica devido
além de se recomendar adequação                           conseqüentemente, para o desen-               à alteração dos resultados nos exa-
quanto ao consumo dos minerais e                          volvimento da IRC (Costa, 2005;               mes de albumina sérica, hemató-
vitaminas que aparecem abaixo das                         Whitmire, 2005).                              crito e hemoglobina (Kamimura,
necessidades nutricionais, prioriza-                          Para estabelecer o diagnóstico            2005). Assim, indicam o diagnósti-
se aumentar o consumo de alimen-                                                                        co parcial de subnutrição protéica.
                                                          parcial do estado nutricional do pa-
tos fontes de cálcio e fósforo, já que                                                                  Considera-se, então, que este pa-
                                                          ciente é necessário analisar a média
na Insuficiência Renal ocorre uma                                                                       ciente apresenta como diagnóstico
                                                          do Balanço Hídrico observado du-
diminuição da excreção de fósforo                                                                       nutricional final risco de subnutri-
                                                          rante os dias de acompanhamento.
pelo rim, levando a uma diminui-                                                                        ção protéica.
                                                          O Balanço Hídrico é uma relação
ção do cálcio sérico, fato que é agra-                                                                      A partir da obtenção deste
                                                          dos líquidos ingeridos pelo pacien-
vado pela perda destes nutrientes                                                                       diagnóstico, foi proposto como
pelo dialisato. O organismo, por sua                      te no período da internação e sua             peso ideal (PI) a este paciente pe-
vez, retira o cálcio dos ossos, bus-                      excreção pela urina. Observou-                diátrico o valor de 20,9 kg, obtido
cando promover uma adequação,                             se, portanto, que este paciente               pela curva de NCHS (2000) para
levando a uma osteodistrofia renal.                       apresenta uma retenção hídrica,               Peso/ Estatura no percentil 50. O
Por isso, faz-se necessário aumen-                        acarretando aumento do edema                  Valor Energético Total foi estabele-
tar, também, o consumo de Vita-                           e ganho de peso de 208,8 g. Este              cido empregando-se a calorimetria
mina D, já que este micronutriente                        valor, por sua vez, foi descontado            proposta por Pereira (2001) para
é essencial na absorção intestinal                        do peso atual do paciente (20,1 kg),          crianças em tratamento de diálise
do cálcio, sendo deficiente na IRC                        obtendo-se o Peso Atual Seco, de              peritonial, resultando em 1881 Cal.
(Carvalhaes, 1998; Martins, 2001).                        19,9 kg. Realizando, desta forma, a           Este valor foi estimado com o pro-
Este fato é muito preocupante,                            avaliação antropométrica, obteve-             pósito de garantir a oferta de ener-
pois mesmo com o uso da suple-                            se eutrofia em todos os indicadores           gia e nutrientes de forma adequada
mentação de cálcio e vitamina D,                          analisados, o que resultou em um              para que, assim, possa garantir o
este paciente pediátrico não atin-                        diagnóstico parcial de eutrofia.              crescimento e desenvolvimento



O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99	                                                                                   95
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




adequados deste paciente. Os ma-                         portadores de IRC (Pereira, 2001;              favorecer a aceitação alimentar foi
cronutrientes foram estimados de                         Carvalhaes, 1998). Ainda com re-               solicitar que a irmã do paciente
acordo com a patologia de base                           lação aos micronutrientes, deve-se             dissesse quais os alimentos de sua
que o acomete. Assim, estipulou-                         realizar a restrição de sódio devi-            preferência, que foram seleciona-
se a oferta de 13% de proteínas ou                       do à presença do edema e da HAS                dos também frente às necessidades
3,0 g/kgPI, já que ocorrem perdas                        associada. Assim, recomenda-se a               nutricionais do paciente, sendo en-
deste nutriente pelo dialisato, além                     oferta de aproximadamente 3300                 viados para seu consumo.
de ser um nutriente extremamente                         mg de sódio pela dieta, o que cor-                 A análise quantitativa da in-
importante no favorecimento de                           responde a uma dieta com controle              gestão do cardápio oferecido ao
adequado crescimento das crian-                          do sal de adição e isenta de alimen-           paciente antes da intervenção
ças. Com relação aos carboidratos,                       tos embutidos, enlatados e indus-              nutricional indica que esta crian-
a oferta varia de 50% a 57% devi-                        trializados em geral (Costa, Silva,            ça consumiu uma dieta hipopro-
do à alteração quanto à infusão do                       2005). Este paciente também deve-              téica, hipoglicídica e hipolipídica,
dialisato, variando conforme o dia,                      rá realizar restrição hídrica de 600           com adequação de apenas 9% das
considerando que o líquido infun-                        ml/dia, já que apresenta edema,                calorias quando comparadas às re-
dido é à base de glicose e que tam-                      HAS e anúria.                                  comendações estipuladas, como
bém contribui para o fornecimento                            Durante o período de acompa-               mostra a Tabela 1.
de energia. Para os lipídios, oferta                     nhamento deste paciente, a dieta                   Com relação ao consumo de
foi de até 30% do valor energético                       prescrita em prontuário foi para               micronutrientes, observa-se uma
total ou 3,0 g/kgPI (Pereira, 2001;                      Insuficiência Renal com restrição              adequação apenas com relação à
Carvalhaes, 1998).                                       hídrica de 600 ml/dia. A condu-                ingestão de vitamina B12 ou co-
    Com relação à oferta de micro-                       ta nutricional inicialmente era de             balamina e ácido pantotênico. Os
nutrientes, recomenda-se a su-                           dieta hipoprotéica com restrição               demais nutrientes permaneceram,
plementação das vitaminas tanto                          leve de sódio com 2 g NaCl/dia e               em todos os casos, abaixo da reco-
hidrossolúveis quanto lipossolúveis                      restrição hídrica de 500 ml/dia,               mendação, o que demonstra uma
caso não sejam atingidos os valores                      sendo que 100 ml era destinado à               inadequação do cardápio consumi-
preconizados pelas DRI´S (2000)                          administração de medicamentos                  do, podendo trazer, como conse-
pela alimentação. Para os minerais                       pela enfermagem. Após a inter-                 qüência, principalmente um agra-
em geral, utilizaram-se os valores                       venção dietoterápica, a dieta evo-             vo do quadro de anemia, pela de-
estabelecidos, também pelas DRI´S                        luiu apenas para consistência geral,           ficiência do consumo de ferro, e
(2000). Além disto, dá-se atenção                        deixando de apresentar restrições.             aumento da probabilidade de ocor-
especial à oferta de cálcio, estima-                     Esta intervenção nutricional foi               rência de uma Osteodistrofia Renal
da em 800 mg/dia, e fósforo cuja                         realizada com o consentimento dos              de longo prazo.
recomendação é de 500 mg/dia, já                         médicos responsáveis pelo paciente,                Realizando a análise quantita-
que estes são nutrientes essenciais                      devido à sua importante inapetên-              tiva condizente à dieta geral pro-
na prevenção da Osteodistrofia Re-                       cia e anorexia durante a interna-              posta pela intervenção nutricional,
nal, que acomete muitos pacientes                        ção. Outra estratégia utilizada para           observa-se, na Tabela 2, que o con-


            Tabela 1. Avaliação Qualitativa de Macronutrientes da Dieta Ingerida pelo Paciente RSG
                                          do dia 28/04. São Paulo, 2006
                                                               TOTAL DAS REFEIÇÕES
 Nutriente                Dieta Ingerida          Gramas/kg Peso Ideal        % de Energia           Dieta Ideal          % adequação
 Energia (cal)            170,18                  ----                        98                     1881                 9,0
 PRT (g)                  13,56                   0,65                        31,23                  13%                  240,3
 CHO (g)                  22,28                   1,07                        51,32                  50%                  102,6
 LIP (g)                  2,98                    0,14                        6,86                   35%                  19,6
 Sat. (g)                 0,90                    0,04                        2,07                   7%                   29,6
 Mono (g)                 1,04                    0,05                        2,40                   15%                  16,0
 Poli (g)                 0,70                    0,03                        1,61                   10%                  16,1
Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND




96	                                                                                   O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




Tabela 2. Avaliação Qualitativa de Macronutrientes da Dieta Ingerida pelo Paciente RSG do dia 04/05
                                         São Paulo, 2006
                                                               TOTAL DAS REFEIÇÕES
 Nutriente                  Dieta Ingerida        Gramas/kg Peso Ideal        % de Energia     Dieta Ideal       % adequação
 Energia (cal)              693,54                ----                        94,00            1881              36,9
 PRT (g)                    23,86                 1,14                        12,94            13%               99,5
 CHO (g)                    87,29                 4,18                        47,32            51%               92,8
 LIP (g)                    27,66                 1,32                        15,00            30%               50,0
 Sat. (g)                   9,44                  0,45                        5,12             7%                73,1
 Mono (g)                   10,34                 0,49                        5,61             15%               37,4
 Poli (g)                   5,93                  0,28                        3,21             10%               32,1
Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND




sumo do paciente, de acordo com                          Figura 1. Distribuição da Oferta em Calorias Fornecida ao Pacien­
suas necessidades de gramas/kgPI,                        te RSG durante o Período de Acompanhamento. São Paulo, 2006
mantém-se hipoprotéico, hipoli-
pídico e hipoglicídio. Entretanto,
os valores ingeridos encontram-se
mais próximos da recomendação.
Além disso, a ingestão da dieta se
adequou em 36,9% das calorias,
demonstrando uma discreta me-
lhora do consumo alimentar.
    Quanto aos micronutrientes,
além dos nutrientes que se adequa-
ram na análise anterior, a vitamina                           Figura 2. Distribuição Percentual da Oferta de Proteínas
C e o sódio, após a intervenção nu-                              Fornecidas ao Paciente RSG durante o Período de
tricional, também permaneceram                                          Acompanhamento. São Paulo, 2006
adequados quando comparados às
necessidades nutricionais estabele-
cidas ao presente paciente.

Resultados e Discussão
    A Figura 1 demonstra que, após
a intervenção nutricional realizada,
a quantidade calórica consumida
pelo paciente sofreu elevações
significativas. Assim, a média de
consumo durante os dias de acom-                         que, após a intervenção nutricio-         O aumento no consumo ali-
panhamento resulta no valor                              nal a ingestão protéica manteve seu    mentar após a introdução da inter-
de 331,2 Cal, correspondendo a                           valor percentual mais próximo das      venção nutricional se comprova
17,6% de adequação com relação                           necessidades estabelecidas (13% ao     pela análise da Figura 3, observan-
à sua ingestão calórica ideal. Isso                      dia). A média de ingestão percen-      do que nos dois últimos dias ocorre
comprova que, apesar da melhora                          tual deste macronutriente durante      um aumento gradativo da aceitação
em seu consumo alimentar, ainda                          o período de acompanhamento foi        ao cardápio que lhe foi oferecido,
há necessidade de se aumentar o                          de 18,4%, que corresponde à ade-       inferindo sucesso parcial à inter-
consumo calórico.                                        quação de 141,5% das necessida-        venção nutricional realizada.
    Também foi possível observar,                        des nutricionais preconizadas ao          Durante o período de acompa-
conforme demonstra a Figura 2,                           referido paciente.                     nhamento deste paciente, os sinais



O Mundo     da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99	                                                                    97
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




      Figura 3. Distribuição Percentual Estimada da Aceitação da                                 sultados dos exames de admissão
        Oferta de Alimentos ao Paciente RSG. São Paulo, 2006                                     aos dos últimos exames colhidos, o
                                                                                                 paciente apresentou uma melhora
                                                                                                 no eritrograma, que, conseqüen-
                                                                                                 temente, refere-se à melhora do
                                                                                                 quadro de anemia. Isto pode estar
                                                                                                 diretamente relacionado com uma
                                                                                                 diminuição dos níveis de uréia,
                                                                                                 visto que o acúmulo desta toxina
                                                                                                 favorece a hemólise de hemácias.


                                                                                                 Considerações Finais
                                                                                                     Apesar da promoção quanto ao
vitais descritos em prescrição fo-            anúria. A evacuação mantinha-se                    aumento da ingestão calórica e pro-
ram analisados. Em todos os dias              ausente até o dia anterior à intro-                téica para este paciente pediátrico,
observados, os valores referentes à           dução da intervenção nutricional,                  este consumo não atingiu as neces-
temperatura corporal, freqüência              demonstrando adequação em rela-                    sidades nutricionais preconizadas.
cardíaca, freqüência respiratória             ção à dieta ingerida, já que o aporte              Isto, provavelmente, vai favorecer
e pressão arterial mantiveram-se              de fibras tanto solúveis quanto in-                perda de peso, com comprometi-
adequados em relação aos respec-              solúveis foi aumentado. E por fim,                 mento de seu estado nutricional,
tivos valores de referência estipu-           os vômitos mantinham-se presen-                    podendo chegar a um quadro de
lados pelas referências literárias,           tes até o dia anterior à intervenção               subnutrição. Assim, sugere-se ago-
demonstrando estabilidade no                  nutricional, e ausentes nos dias                   ra a adequação da dieta com uso de
seu quadro clínico. Além disso, a             seguintes devido ao sucesso do                     suplementação por via oral.
adequação com relação à pressão               tratamento medicamento pela ad-                        Assim, como integrante da
arterial demonstra o sucesso do tra-          ministração do antiemético, asso-                  equipe multidisciplinar, o profissio-
tamento medicamentoso utilizado               ciado à dietoterapia individualizada               nal nutricionista deve estar atento
no tratamento, assim como a não               aplicada.                                          aos objetivos do tratamento e esta-
interferência negativa da liberação               Ainda é possível se comprovar                  belecer condutas que contribuam
do controle dietético de sal.                 uma melhora no quadro clínico                      para evolução do quadro clínico,
    Observou-se, em todos os dias,            do paciente ao analisar o acompa-                  sugerindo modificações alimenta-
a presença de diurese, mesmo que              nhamento dos exames laborato-                      res pertinentes às suas habilidades,
em baixa quantidade, já que este              riais realizados após a intervenção                a fim de promover a recuperação e
paciente apresenta um quadro de               nutricional. Comparando-se os re-                  melhora da saúde dos pacientes.




                                                        Referências

Brenner BM, Hebert SC. Distúrbios da função renal. In: Isselbacher KJ et al. Harrison: medicina interna. 15ª. ed. São Paulo: McGraw-
Hill; 2002. p.1320-5.
Carlson TH. Dados laboratoriais na avaliação nutricional. In: Escott-Stump S, Mahan LK. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia.
11ª. ed. São Paulo: Roca; 2005. p.419-36.
Carvalhaes JTA, Naghetini AV, Ribeiro AH, Avesani CM, Teixeira LT, Sgarbieri UR et al. Aspectos nutricionais na doença renal crônica.
Rev Paul Pediatria 1998;16(1):43-9.
Centers for Disease Control and Prevention and Nacional Center for Health an Statistics (NCHS); 2000. Disponível em: dtr2004.
saude.gov.br/nutricao/documentos/tabela_completa.pdf.
Costa RP, Silva CC. Doenças cardiovasculares. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto.
2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.287-312.
Franceschini SCC et al. Necessidades e recomendações de nutrientes. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar:
nutrição clínica no adulto. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.03-32.



98	                                                                            O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso




Fischbach FT. Manual de enfermagem: exames laboratoriais e diagnósticos. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
756p.
Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Michigan: University of Michigan;
1990. 198p.
Kaminura MA et al. Avaliação nutricional. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto.
2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.89-115.
Maculevicius J, Fornasari MLL, Baxter YC. Níveis de assistência em nutrição. Rev Hosp Clin Fac Méd São Paulo 1994;49:79-81.
Mafra D, Burini RC. Efeitos da correção da acidose metabólica com bicarbonato de sódio sobre o catabolismo protéico na insuficiência
renal crônica. Rev Nutr 2001;14(1):53-9.
Martins C, Moreira SM, Pierosan SR. Interações droga-nutriente. 2ª. ed. Curitiba: Metha; 2003. 280p.
Martins C, Pecoits Filho RFS, Riella MC. Nutrição e diálise peritonial. In: Riella, MC. Nutrição e o rim. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2001. 438p.
Martins IS, Alvarenga AT, Siqueira AAF, Scarfarc SC, Lima FD et al. As determinações biológica e social da doença: um estudo de
anemia ferropriva. Rev Saúde Pública 1987;21(2):73-89.
Pereira AM, Martins C. Nutrição na criança com insuficiência renal crônica. In: Riella MC. Nutrição e o rim. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2001. 438p.
Robbins SL et al. Patologia estrutural e funcional. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996. 1277p.
Romão Junior JE. Doença renal crônica: definição, epidemiologia e classificação. J Bras Nefrol 2004;16(3):1:1-3.
Vieira S, Hossne WS. Metodologia científica para a área da saúde. Rio de Janeiro: Elsevier; 2001. 200p.
Whitmire SJ. Água, eletrólitos e equilíbrio ácido base. In: Escott-Stump S; Mahan LK Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia.
11ª. ed. São Paulo: Roca; 2005. p.156-171.
WHO – World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of antropometry. Teach Rep Res 1995;854:1-452.




                                                                                                 Recebido em 23 de agosto de 2007
                                                                                      Versão atualizada em 17 de setembro de 2007
                                                                                               Aprovado em 23 de outubro de 2007



O Mundo   da   Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99	                                                                         99

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (16)

XVI Congresso Anual da APNEP - Protocolos de Nutrição em UCI: implementação
XVI Congresso Anual da APNEP - Protocolos de Nutrição em UCI: implementaçãoXVI Congresso Anual da APNEP - Protocolos de Nutrição em UCI: implementação
XVI Congresso Anual da APNEP - Protocolos de Nutrição em UCI: implementação
 
50 fisiopatologia da desnutrição dos pacientes com câncer de estômago, cólo...
50   fisiopatologia da desnutrição dos pacientes com câncer de estômago, cólo...50   fisiopatologia da desnutrição dos pacientes com câncer de estômago, cólo...
50 fisiopatologia da desnutrição dos pacientes com câncer de estômago, cólo...
 
3_revisao_constipacao_intestinal_crianca
3_revisao_constipacao_intestinal_crianca3_revisao_constipacao_intestinal_crianca
3_revisao_constipacao_intestinal_crianca
 
Nutrientes 03
Nutrientes 03Nutrientes 03
Nutrientes 03
 
Cuidados a ter na preparação da Nutrição Artificial (V Curso do GNA)
Cuidados a ter na preparação da Nutrição Artificial (V Curso do GNA)Cuidados a ter na preparação da Nutrição Artificial (V Curso do GNA)
Cuidados a ter na preparação da Nutrição Artificial (V Curso do GNA)
 
TERAPIA NUTRICIONAL
TERAPIA NUTRICIONALTERAPIA NUTRICIONAL
TERAPIA NUTRICIONAL
 
Nutrientes 07
Nutrientes 07Nutrientes 07
Nutrientes 07
 
Nutrientes 02
Nutrientes 02Nutrientes 02
Nutrientes 02
 
Gestantes
GestantesGestantes
Gestantes
 
Nutrientes 01
Nutrientes 01Nutrientes 01
Nutrientes 01
 
1. avaliação estado nutricional
1. avaliação estado nutricional1. avaliação estado nutricional
1. avaliação estado nutricional
 
Manual nutricao profissional3
Manual nutricao profissional3Manual nutricao profissional3
Manual nutricao profissional3
 
Nutrição Enteral vs Nutrição Parenteral
Nutrição Enteral vs Nutrição ParenteralNutrição Enteral vs Nutrição Parenteral
Nutrição Enteral vs Nutrição Parenteral
 
Terapia Nutricional Em Uti Final
Terapia Nutricional Em Uti    FinalTerapia Nutricional Em Uti    Final
Terapia Nutricional Em Uti Final
 
Nutrientes 05
Nutrientes 05Nutrientes 05
Nutrientes 05
 
Publicac_a_oPJN.2014
Publicac_a_oPJN.2014Publicac_a_oPJN.2014
Publicac_a_oPJN.2014
 

Semelhante a Estudo de caso nutricional paciente pediátrico IRC

Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdf
Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdfPedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdf
Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdfInsSilva801685
 
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literatura
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literaturaUlcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literatura
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literaturaMarina3112
 
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade Infantil
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade InfantilEfeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade Infantil
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade InfantilBiblioteca Virtual
 
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...kerenregina1
 
Onco hematologia
Onco hematologiaOnco hematologia
Onco hematologiagisa_legal
 
155121 1269 tcd69
155121 1269 tcd69155121 1269 tcd69
155121 1269 tcd69Mab Davilla
 
Monografia doença celíaca
Monografia doença celíacaMonografia doença celíaca
Monografia doença celíacaJane Saint
 
Projeto De Pesquisa Tecsoma
Projeto De Pesquisa TecsomaProjeto De Pesquisa Tecsoma
Projeto De Pesquisa Tecsomajohnatansi
 
Projeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomaProjeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomajohnatansi
 
Projeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomaProjeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomajohnatansi
 
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica de
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica deObesidade infantil uma abordagem na rede basica de
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica degisa_legal
 
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfe
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfeArtigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfe
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfeMab Davilla
 

Semelhante a Estudo de caso nutricional paciente pediátrico IRC (16)

Nutrição na sepse
Nutrição na sepseNutrição na sepse
Nutrição na sepse
 
Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdf
Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdfPedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdf
Pedro Campos-Protocolo Nutricao Parenterica.pdf
 
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literatura
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literaturaUlcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literatura
Ulcera-de-pressao-e-estado-nutricional-revisao-da-literatura
 
Indicações de Gastrostomia em Pediatria
Indicações de Gastrostomia em PediatriaIndicações de Gastrostomia em Pediatria
Indicações de Gastrostomia em Pediatria
 
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade Infantil
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade InfantilEfeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade Infantil
Efeito Protetor Do Aleitamento Materno Contra A Obesidade Infantil
 
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA ALIMENTAÇÃO NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS C...
 
Onco hematologia
Onco hematologiaOnco hematologia
Onco hematologia
 
155121 1269 tcd69
155121 1269 tcd69155121 1269 tcd69
155121 1269 tcd69
 
486
486486
486
 
Monografia doença celíaca
Monografia doença celíacaMonografia doença celíaca
Monografia doença celíaca
 
369-1063-1-PB.pdf
369-1063-1-PB.pdf369-1063-1-PB.pdf
369-1063-1-PB.pdf
 
Projeto De Pesquisa Tecsoma
Projeto De Pesquisa TecsomaProjeto De Pesquisa Tecsoma
Projeto De Pesquisa Tecsoma
 
Projeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomaProjeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsoma
 
Projeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsomaProjeto de pesquisa tecsoma
Projeto de pesquisa tecsoma
 
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica de
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica deObesidade infantil uma abordagem na rede basica de
Obesidade infantil uma abordagem na rede basica de
 
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfe
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfeArtigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfe
Artigo efeitosdaterapianutricional.pdf.8f6c3f5d308b4f25abfe
 

Estudo de caso nutricional paciente pediátrico IRC

  • 1. Estudo de caso / case study / estudio de caso Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Individualized nutritional care for a pediatric patient: case report Cuidado alimenticio individualizado para un paciente pediátrico: relato de caso Thaís Morgado Lamonica* Vera Sílvia Frangella** Elen Pessina*** Resumo: Este acompanhamento nutricional foi realizado com um paciente pediátrico com Insuficiência Renal Crônica, Síndrome Hemolítica Urêmica e Hipertensão Arterial, selecionado pela necessidade de se favorecer seu quadro clínico, devido às altas taxas de morbi-mortalidade em crianças renais. O objetivo deste trabalho é favorecer crescimento, desenvolvimento e sobrevida com qualidade. Esta pesquisa experimental, do tipo caso clínico, foi realizada com um menino de 5 anos. Para tanto, foram analisados dados do prontuário, como farmacoterapia e resul- tados dos exames solicitados. Aplicou-se Inquérito Alimentar, sendo o Recordatório Alimentar avaliado e calculado. O diagnóstico nutricional foi definido pela avaliação de parâmetros bioquímicos e antropometria. Após o planejamento dietético, foram realizadas adaptações à dieta hospitalar para adequá-la às necessidades nutricionais e clínicas do paciente. A análise do recordatório domiciliar sugere que a inadequação do consumo alimentar favoreceu o diagnóstico clínico. A avaliação nutricional identificou risco para subnutrição protéica. Devido à inapetência do paciente, a dieta oral oferecida foi modificada, promovendo melhor aceitação alimentar sem, contudo, atingir o consumo ideal de nutrientes. A persistente inadequação da ingestão favorece a perda ponderal, maior depleção nutricional e sobrevida do paciente. Demonstra-se, assim, a necessidade de acompanhamento nutricional contínuo, sugerindo-se a oferta de suplementação via oral. Palavras-chave: Avaliação nutricional. Insuficiência renal crônica. Terapia nutricional-criança. Abstract: This nutritional care program was carried through with a pediatric patient having Chronic Renal Insufficiency, Hemolytic-Uremic Syndrome, and Arterial Hypertension, chosen due to the necessity of favoring her clinical condition, due to the high rates of morbidity- mortality in renal children. The aim of this work is to promote growth, development, and survival with life quality. This clinical-case type experimental research had as subject a 5-year boy years. For doing this, we examined data from the hospital record such as pharmacotherapy and results of the requested exams. An Alimentary Inquiry was applied, and we evaluated and calculated the Alimentary Record. Nutritional diagnosis was defined by the evaluation of biochemical and anthropometric parameters. After dietary planning, nutritional and clinical necessities of the patient were considered to promote adaptations to the hospital diet. The analysis of the domiciliary record suggests that inadequate alimentary consumption favored the clinical diagnosis. Nutritional evaluation identified a risk of malnutrition regarding protein intake. Due to the patient’s inapetence, the offered oral diet was modified, promoting a better acceptance of food without, however, reaching the ideal consumption of nutrients. The persistent inadequateness of ingestion favors weight loss and a higher nutritional depletion and reduces the patient’s survival. The study shows this way the necessity of a continuous nutritional assistance, suggesting that oral nutritional supplements be offered. Keywords: Nutritional evaluation. Chronic renal insufficiency. Nutritional therapy-children. Resumen: Este programa de cuidado alimenticio fue llevado a cabo con un paciente pediátrico que tenía deficiencia renal crónica, síndrome urémico hemolítico e hipertensión arterial, elegido debido a la necesidad de favorecer su condición clínica delante de los altos índices de morbi-mortalidad en niños con problemas renales. La meta de este trabajo es promover crecimiento, desarrollo y supervivencia con calidad de vida. Esta investigación experimental, de tipo caso clínico, tubo como sujeto un niño de cinco años. Para hacerlo, examinamos datos del Registro Hospitalario tales como farmacoterapia y resultados de los exámenes solicitados. Un Inquérito Alimenticio fue aplicado, y evaluamos y calculamos el Expediente Alimenticio. La diagnosis alimenticia fue definida por la evaluación de parámetros bioquímicos y antropométricos. Después de la planificación dietética, se consideraran las necesidades alimenticias y clínicas del paciente para promover adaptaciones en la dieta hospitalaria. El análisis del Expediente Domiciliario sugiere que la consumición alimenticia inadecuada favoreciera la diagnosis clínica. La evaluación alimenticia identificó un riesgo de desnutrición proteica. Debido a la inapetencia del paciente, la dieta oral ofrecida fue modificada, y se promovió una aceptación mejor de los alimentos, sin contodo alcanzar la consumición ideal de alimentos. La inadecuación persistente de la ingestión favorece pérdida del peso y un agotamiento alimenticio más alto y reduce la supervivencia del paciente. El estudio demuestra de esta manera la necesidad de una ayuda alimenticia continua, sugiriendo que se ofrezcan suplementos alimenticios orales ofrecidos. Palabras llave: Evaluación alimenticia. Deficiencia renal crónica. Terapia alimenticia-niños. * Graduanda de Nutrição pelo Centro Universitário São Camilo. E-mail: thaislamonica@yahoo.com.br ** Mestre em Gerontologia pela PUC-SP; Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral, Especialista em Serviços da Saúde pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e Professora do Centro Universitário São Camilo – São Paulo/SP. *** Nutricionista Graduada pelo Centro Universitário São Camilo. O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99 91
  • 2. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Introdução ma crônico de diálise mais do que Arterial Sistêmica (HAS) de evo- dobrou nos últimos 8 anos, sendo lução prolongada (Romão Junior, O presente estudo refere-se a que anualmente a incidência de 2004). Hipertensão arterial é uma um Acompanhamento Nutricional novos casos cresce cerca de 8%. entidade multigênica, de etiologia individualizado realizado durante Em crianças latinas, estima-se a múltipla e fisiopatogenia multifa- 5 dias com um paciente pediátrico incidência de 2,8 pacientes/ano/ torial, que causa lesão nos chama- portador de Insuficiência Renal milhão de crianças menores de 15 dos orgãos-alvo (coração, cérebro, Crônica, atualmente em programa anos. No Brasil, não existe estatísti- vasos, rins e retina) por alteração de Diálise Peritonial Ambulato- ca específica para a IRC na infância, no débito cardíaco e/ou resistência rial Contínua (CAPD), Síndrome periférica (Costa, 2005). entretanto estima-se que existem Hemolítica Urêmica e Hiperten- cerca de 1000 novos casos por ano A ciência da nutrição possui são Arterial Sistêmica (HAS). O (Romão Junior, 2004). grande importância no controle da acompanhamento nutricional é, As perdas de nutrientes durante progressão da IRC. Assim sendo, reconhecidamente, de fundamen- o procedimento dialítico podem ser este estudo, devido a todos os riscos tal importância para a melhora do um fator importante para a deple- nutricionais que a doença provoca, quadro clínico dos pacientes. As- ção nutricional desses indivíduos. torna-se de extrema relevância à sim, cabe ao nutricionista o desafio Pacientes renais crônicos em tra- comunidade científica e à própria de estabelecer um plano dietote- tamento de diálise peritonial ge- população acometida por estas pa- rápico, visando à recuperação e à ralmente apresentam-se em risco tologias. Este trabalho, portanto, reabilitação destes indivíduos. As nutricional, já que muitos dos nu- tem por objetivo geral contribuir, ações necessárias ao atendimento trientes necessários diariamente por meio da conduta dietoterápica nutricional podem ser agrupadas de acordo com a conduta dietética são perdidos juntamente ao diali- individualizada, para a promoção versus o tratamento médico, sendo sato. Há evidências de que a inter- de: crescimento, desenvolvimen- classificada de acordo com os níveis venção nutricional precoce afeta to e sobrevida com qualidade para de assistência nutricional (Macule- positivamente a taxa de mortalida- este paciente. vicius, Baxter, Fornasari, 1994). de que acomete principalmente as A relevância deste estudo, por- crianças com nefropatias (Pereira, Material e Métodos tanto, fundamenta-se na elevada 2001; Carvalhaes, 1998). taxa de morbi-mortalidade de pa- A anemia se traduz no orga- Trata-se de uma pesquisa expe- cientes portadores de patologias nismo humano na incapacidade rimental, prospectiva, não contro- renais crônicas, especialmente do tecido eritropoético em manter lada, do tipo estudo de caso clínico quando se trata de crianças, devi- uma concentração normal de he- (Vieira, 2001). O presente trabalho do aos diversos fatores de risco re- moglobina, devido ao suprimen- foi realizado com um paciente pe- lacionados a estas patologias, com to inadequado de ferro (Martins, diátrico do sexo masculino interna- finalidade de recuperação da saúde 1985). Na IRC, a anemia também do em um hospital geral localizado e melhora da sobrevida destes in- pode ser causada pela Síndrome na zona oeste de São Paulo, no pe- divíduos. Hemolítica. Devido à perda das ríodo de 5 dias. A Insuficiência Renal Crônica funções renais específicas, o orga- Foi realizada consulta no pron- (IRC) consiste na perda progressiva nismo torna-se incapaz de excretar tuário do paciente, verificando as e irreversível da função renal (glo- os produtos do metabolismo, entre prescrições diárias, para coleta de merular, tubular e endócrina), de eles: a uréia, que passa a circular dados fundamentais, como: histó- tal forma que em suas fases mais livremente na corrente sanguínea ria clínica, antecedentes médicos e avançadas, os rins não conseguem (Brenner, 2002). Este metabóli- familiares, diagnóstico médico, si- mais manter a normalidade do to, por ser uma substância tóxica, nais vitais, acompanhamento dos meio interno do organismo. Nestas quando em grande quantidade, resultados dos exames bioquími- condições, os pacientes apresentam promove hemólise das células san- cos realizados, prescrição medica- um comprometimento do estado guíneas, reduzindo de forma drásti- mentosa, hábito intestinal, diurese nutricional, em decorrência não só ca o número de hemácias presentes e evolução da enfermagem, que da inapetência, como também dos no sangue, agravando o quadro de subsidiaram o planejamento die- distúrbios metabólicos gerados pela anemia, já próprio do renal crônico tético. IRC (Mafra, 2001). (Brenner, 2002). Para conhecer a história dieté- No Brasil, a prevalência de Em 27% dos casos, a IRC é cau- tica, a irmã mais velha do pacien- pacientes mantidos em progra- sada pela presença de Hipertensão te foi entrevistada para fornecer 92 O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
  • 3. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso informações detalhadas sobre o da estimativa sugerida por Pereira Diálise Peritonial Ambulatorial hábito alimentar do paciente, por (2001) para crianças submetidas Contínua (CAPD), que consiste em meio da aplicação de um Inquérito ao tratamento de diálise peritonial. um tratamento que utiliza a mem- Alimentar composto por: histórico Para cálculo de macronutrientes e brana peritonial como um filtro psico-social-econômico, histórico micronutrientes, utilizou-se como semipermeável, removendo solutos clínico, anamnese alimentar e Re- base as recomendações de Pereira acumulados no sangue (Martins, cordatório Alimentar Domiciliar (2001) e Carvalhaes (1998). Para 2001). Até o presente momento, Habitual. o cálculo da composição química permanece internado aguardando O diagnóstico nutricional foi das dietas, foi utilizado o software de uma máquina cicladora, vinda do definido por meio da utilização de nutrição Nutwin versão 1.5.2.51 - Hospital das Clínicas, para dar con- Avaliação Antropométrica e Ava- 2005. tinuidade ao tratamento dialítico liação de Parâmetros Bioquímicos. Após o planejamento dietético, em sua residência. Na Avaliação Antropométrica, fo- foram realizadas adaptações à dieta Reconhece-se, neste paciente, ram mensuradas: dobra cutânea padrão do Hospital para ser ofere- o fator hereditário na etiologia do tricipital, utilizando o adipômetro cida ao paciente, a fim de adequá- diagnóstico que o acomete uma vez Cescorf® científico, com divisões la às suas necessidades nutricionais que aparentemente ele apresentava de 1 mm; e para a medida dos perí- e clínicas. um quadro de Hipertensão Arterial metros utilizou-se uma fita métrica Todos os resultados do presen- Sistêmica, até então não diagnos- inelástica com escala em milíme- te estudo serão apresentados sob a ticado, e que, possivelmente, re- tros. A medida da estatura foi ob- forma de figuras, tabelas e quadros, sultou em uma lesão renal crônica tida por meio de um adipômetro construídos com o auxílio do Pro- (Robbins, 1996). móvel da marca Sanny®, com re- grama Microsoft Excel (2002), sendo A Síndrome Hemolítica Urêmi- solução de 0,1 cm e altura máxima avaliados de acordo com referên- ca se relaciona com o diagnóstico de de 2,0 m; enquanto que o peso foi cias específicas para cada variável. IRC, sendo ela a causa primária para obtido pela utilização de uma ba- o agravamento do quadro anêmico lança da marca Plenna®, com ca- Casuística encontrado neste indivíduo. pacidade para 150 kg e resolução Durante o período de acom- de 0,1 kg. O paciente é um menino, com panhamento, o paciente recebeu O critério utilizado para ava- idade de 5 anos e 7 meses, residen- alguns medicamentos com o pro- liação dos resultados do IMC, te da Zona Norte da cidade de São pósito de favorecer seu quadro percentual de dobras cutâneas e pe- Paulo. Dorme, aproximadamente, clínico e nutricional. Assim, para rímetros foi Frisancho (1990), sen- 10 horas por noite e possui sono o tratamento da Hipertensão Arte- do classificado pela OMS (1995). tranqüilo. Não pratica atividade fí- rial, foram prescritos os seguintes Além disto, a partir da idade e valo- sica e possui como lazer desenhar fármacos: Capoten® e Amlodi­ ina. p res de peso, estatura e IMC, foram super-heróis e brincar com carros A interação fármaco nutriente ob- classificados os indicadores P/I, P/E, de brinquedo. servada consiste na depleção de cál- E/I e IMC/I, segundo as recomen- No dia anterior à data de sua cio, potássio, vitamina D, além de dações do National Center for Health internação, a irmã do paciente re- perdas protéicas (Martins, 2003). an Statistics - NCHS (2000). lata que ele iniciou com um qua- Considerando este aspecto, e devi- A avaliação nutricional por dro de vômitos e dor abdominal, do às perdas intensas de nutrientes meio de provas bioquímicas deu- procurando o serviço médico. Esta através do dialisato, bem como o se pela avaliação dos resultados en- criança, que até o momento não aumento da ocorrência de osteodis- contrados nos exames solicitados, apresentava diagnóstico de qual- trofia em função desta patologia de sendo analisados segundo referên- quer patologia, no dia da interna- base, este paciente está sendo su- cias específicas para o diagnóstico ção obteve a hipótese diagnóstica plementado com Vitamina D (Ro- nutricional. Após a análise dos diag- de Hipertensão Arterial, Síndrome caltrol®) e Cálcio (Carbonato de nósticos parciais obtidos em cada Hemolítica Urêmica e Insuficiên- Cálcio). Contudo, esta medicação indicador e parâmetro de avaliação cia Renal. Assim, ele foi submeti- pode ocasionar: uremia, aumen- nutricional utilizados, concluiu-se do a uma cirurgia de passagem de to dos níveis de creatinina sérica, o diagnóstico nutricional final que cateter Tenckoff, para iniciação de hipercolesterolemia e hipoalbu- subsidiou o estabelecimento das programa de tratamento de diálise minúria, devendo, por esta razão, necessidades nutricionais. O Valor peritonial intermitente noturna, sofrer monitoração destes exames Energético Total foi obtido por meio evoluindo, posteriormente, para (Martins, 2003). Também foram O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99 93
  • 4. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso administrados fármacos analgé- neste caso, pode estar associado à As refeições preparadas em do- sicos (Morfina), com o propósito Síndrome Hemolítica-Urêmica. micílio eram temperadas, princi- de sanar as dores abdominais que Quanto às dosagens séricas, palmente, com alho, cebola e sal. eventualmente este paciente apre- verificou-se que o exame de uréia, Entretanto, raramente, algumas senta e um Antiemético (Dramin creatinina, magnésio e fósforo en- preparações eram acrescidas de B6DL®), devido à ocorrência de contram-se acima do valor de refe- caldos industrializados. Além disto, vômitos após a infusão do líquido rência. Segundo Fischbach (1998), sua irmã se recorda que, durante dialítico na cavidade abdominal. esta alteração se deve à incapacida- as refeições, o paciente adicionava Estes medicamentos, de maneira de do rim em promover filtração e mais sal, podendo sugerir que a ali- geral, apresentam alguns eventos excreção adequada, retendo algu- mentação tenha sido um fator fun- adversos gastrintestinais predomi- mas substâncias que permanecem damental para o desencadeamento nantes. circulantes na corrente sanguínea da HAS e, como conseqüência, para O paciente foi submetido à devido à IRC. Ainda nos exames de o surgimento da IRC. realização de alguns exames nos dosagem sérica, observou-se uma Analisando o recordatório dias seguintes à internação, com redução gradativa com relação aos domiciliar referido pela irmã do o propósito de investigar a causa valores de referência para sódio, paciente, foi possível verificar-se dos vômitos que o trouxeram até potássio, cloro e cálcio séricos, justi- inadequações. Para correção, su- a unidade médica. Os resultados ficada pelo fato de que o tratamen- gere-se um aumento do consumo do exame de ultra-sonografia de to de diálise peritonial promove diário de cereais, pães, tubérculos e abdômen total informaram a pre- perdas de grandes quantidades de raízes, pois são fontes de carboidra- sença de uma inflamação nos seus nutrientes associadas ao dialisato, to, fontes primárias de energia para dois rins, sugerindo a presença de havendo a necessidade de se repor a ocorrência das reações metabóli- uma nefropatia. Com tal resultado, estas concentrações, principal- cas do organismo; de leite e produ- associado aos exames bioquímicos mente com relação ao cálcio, com tos lácteos e de carnes, pois são ricos iniciais, optou-se pela realização o propósito de evitar osteodistro­ - em proteínas, que são essenciais na do programa de Diálise Peritonial fia renal (Fischbach, 1998; Carva- infância para a promoção do cresci- lhaes, 1998). Verificou-se, também, como forma de tratamento ime- mento e desenvolvimentos adequa- no exame de urina tipo I, presença diato ao caso avaliado devido à IRC. dos; e de frutas, já que também são de proteína e hemoglobina. Este A confirmação da presença de uma importantes fontes de fibras e mi- fato indica, mais uma vez, que o IRC se deu pelo resultado do exame cronutrientes, retratando a impor- rim apresenta incapacidade para anatomopatológico. tância de sua ingestão; assim como promover filtração e excreção de Pode-se observar, na análise dos a redução no consumo de óleos e forma adequada, ora retendo subs- exames bioquímicos, que os piores gorduras que, quando consumidos tâncias, ora excretando-as de forma resultados foram obtidos no dia em excesso, podem gerar níveis excessiva (Fischbach, 1998). posterior à internação, ocorrendo elevados de colesterol, LDL e trigli- melhoras gradativas ao longo dos cérides plasmáticos (Franceschini, dias devido à eficácia do tratamen- Planejamento Dietético 2005). O consumo dos alimentos to com programa de DPI. Entre- O paciente realizava 4 refeições do grupo de hortaliças, açúcares e tanto, a melhor alternativa para o diárias, sendo que o desjejum e o leguminosas secas apresentaram-se cuidado do paciente foi evoluir o almoço eram feitos na casa de sua adequados. tratamento para um programa de avó materna, enquanto que o al- Avaliando-se os resultados ob- CAPD, com o propósito de manter moço e o jantar eram realizados em tidos no Recordatório Habi­ ual, t os resultados laboratoriais o mais sua residência. Os hábitos alimen- percebe-se que a alimentação feita próximo possível da normalidade, tares do paciente eram modificados pelo paciente apresenta-se quan- favorecendo a função renal e con- apenas às sextas-feiras, durante o titativamente inadequada, quan- trolando a sintomatologia.Verifi- jantar, quando a família consumia do comparada às recomendações cou-se, também, que o exame de pizza ou lanches do Mc Donald´s®. da dieta ideal para gramas/kgPI/ hemoglobina e hematócrito apre- O consumo de lanches compostos dia, caracterizando-se como dieta sentam-se abaixo do valor de re- por alimentos ricos em gorduras sa- Hipoprotéica, Hipoglicídica, Hipo- ferência. Segundo Carlson (2005), turadas, sódio e calorias, caracte- lipídica e Hipocalórica, uma vez tanto o hematócrito quanto a he- riza-se como um hábito alimentar que atende a apenas 56,1% das moglobina têm seus valores dimi- próprio da idade, podendo refletir calorias indicadas à patologia de nuídos em casos de anemia, o que, uma possível influência da mídia. base. Conseqüentemente, esta in- 94 O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
  • 5. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Quadro 1. Análise quantitativa de micronutrientes do Recordatório Alimentar Habitual Domiciliar São Paulo, 2006 TOTAL DAS REFEIÇÕES Nutriente Dieta Ingerida Dieta Ideal Adequação Nutriente Dieta Ingerida Dieta Ideal Avaliação Colesterol (mg) 288,90 < 300 Adequado Cu (mg) 0,21 1,0 – 1,5 Abaixo Cobalamina (ug) 0,90 0,9 Adequado Ca (mg) 599,00 800 Abaixo Riboflavina (mg) 1,10 0,5 Adequado Fe (mg) 5,80 10 Abaixo Ác. Fólico (ug) 87,90 150 Abaixo Fibra (g) 9,30 25 Abaixo Ác. Pantotênico (mg) 2,30 0,5 Adequado K (mg) 401,00 500 Abaixo Tiamina (mg) 0,67 0,5 Adequado Na (mg) 5067,90 < 3300 Elevado Vit. D (mg) 2,30 5 Abaixo Vit. E (mg) 6,00 7 Abaixo Vit. A (ug) 912,30 500 Adequado Zn (mg) 2,20 10 Abaixo Vit. C (mg) 27,40 45 Abaixo Líquido (ml) 336,70 600 ml Adequado Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND gestão interfere no crescimento e ge as necessidades recomendadas Entretanto, realizando a aná- desenvolvimento adequado desta para seu estado fisiológico e idade. lise dos parâmetros bioquímicos, criança. Observou-se, também, consumo observou-se que em todos os exa- Ainda analisando-se quanti- excessivo de sódio na dieta do pa- mes realizados desde o momento tativamente o recordatório habi- ciente. Estudos epidemiológicos da internação, o paciente apresenta tual domiciliar, pode-se perceber, de populações apontam um papel depleção protéica pela análise dos também, uma inadequação no etiológico para o sal no agravo da resultados do exame de proteínas consumo de alguns micronutrien- HAS; sugerindo, desta forma, que totais do soro. A análise de outros tes, conforme demonstrado pelo a alimentação tenha contribuído parâmetros bioquímicos também Quadro 1. No caso deste paciente, para o aparecimento da HAS e, detectou depleção protéica devido além de se recomendar adequação conseqüentemente, para o desen- à alteração dos resultados nos exa- quanto ao consumo dos minerais e volvimento da IRC (Costa, 2005; mes de albumina sérica, hemató- vitaminas que aparecem abaixo das Whitmire, 2005). crito e hemoglobina (Kamimura, necessidades nutricionais, prioriza- Para estabelecer o diagnóstico 2005). Assim, indicam o diagnósti- se aumentar o consumo de alimen- co parcial de subnutrição protéica. parcial do estado nutricional do pa- tos fontes de cálcio e fósforo, já que Considera-se, então, que este pa- ciente é necessário analisar a média na Insuficiência Renal ocorre uma ciente apresenta como diagnóstico do Balanço Hídrico observado du- diminuição da excreção de fósforo nutricional final risco de subnutri- rante os dias de acompanhamento. pelo rim, levando a uma diminui- ção protéica. O Balanço Hídrico é uma relação ção do cálcio sérico, fato que é agra- A partir da obtenção deste dos líquidos ingeridos pelo pacien- vado pela perda destes nutrientes diagnóstico, foi proposto como pelo dialisato. O organismo, por sua te no período da internação e sua peso ideal (PI) a este paciente pe- vez, retira o cálcio dos ossos, bus- excreção pela urina. Observou- diátrico o valor de 20,9 kg, obtido cando promover uma adequação, se, portanto, que este paciente pela curva de NCHS (2000) para levando a uma osteodistrofia renal. apresenta uma retenção hídrica, Peso/ Estatura no percentil 50. O Por isso, faz-se necessário aumen- acarretando aumento do edema Valor Energético Total foi estabele- tar, também, o consumo de Vita- e ganho de peso de 208,8 g. Este cido empregando-se a calorimetria mina D, já que este micronutriente valor, por sua vez, foi descontado proposta por Pereira (2001) para é essencial na absorção intestinal do peso atual do paciente (20,1 kg), crianças em tratamento de diálise do cálcio, sendo deficiente na IRC obtendo-se o Peso Atual Seco, de peritonial, resultando em 1881 Cal. (Carvalhaes, 1998; Martins, 2001). 19,9 kg. Realizando, desta forma, a Este valor foi estimado com o pro- Este fato é muito preocupante, avaliação antropométrica, obteve- pósito de garantir a oferta de ener- pois mesmo com o uso da suple- se eutrofia em todos os indicadores gia e nutrientes de forma adequada mentação de cálcio e vitamina D, analisados, o que resultou em um para que, assim, possa garantir o este paciente pediátrico não atin- diagnóstico parcial de eutrofia. crescimento e desenvolvimento O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99 95
  • 6. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso adequados deste paciente. Os ma- portadores de IRC (Pereira, 2001; favorecer a aceitação alimentar foi cronutrientes foram estimados de Carvalhaes, 1998). Ainda com re- solicitar que a irmã do paciente acordo com a patologia de base lação aos micronutrientes, deve-se dissesse quais os alimentos de sua que o acomete. Assim, estipulou- realizar a restrição de sódio devi- preferência, que foram seleciona- se a oferta de 13% de proteínas ou do à presença do edema e da HAS dos também frente às necessidades 3,0 g/kgPI, já que ocorrem perdas associada. Assim, recomenda-se a nutricionais do paciente, sendo en- deste nutriente pelo dialisato, além oferta de aproximadamente 3300 viados para seu consumo. de ser um nutriente extremamente mg de sódio pela dieta, o que cor- A análise quantitativa da in- importante no favorecimento de responde a uma dieta com controle gestão do cardápio oferecido ao adequado crescimento das crian- do sal de adição e isenta de alimen- paciente antes da intervenção ças. Com relação aos carboidratos, tos embutidos, enlatados e indus- nutricional indica que esta crian- a oferta varia de 50% a 57% devi- trializados em geral (Costa, Silva, ça consumiu uma dieta hipopro- do à alteração quanto à infusão do 2005). Este paciente também deve- téica, hipoglicídica e hipolipídica, dialisato, variando conforme o dia, rá realizar restrição hídrica de 600 com adequação de apenas 9% das considerando que o líquido infun- ml/dia, já que apresenta edema, calorias quando comparadas às re- dido é à base de glicose e que tam- HAS e anúria. comendações estipuladas, como bém contribui para o fornecimento Durante o período de acompa- mostra a Tabela 1. de energia. Para os lipídios, oferta nhamento deste paciente, a dieta Com relação ao consumo de foi de até 30% do valor energético prescrita em prontuário foi para micronutrientes, observa-se uma total ou 3,0 g/kgPI (Pereira, 2001; Insuficiência Renal com restrição adequação apenas com relação à Carvalhaes, 1998). hídrica de 600 ml/dia. A condu- ingestão de vitamina B12 ou co- Com relação à oferta de micro- ta nutricional inicialmente era de balamina e ácido pantotênico. Os nutrientes, recomenda-se a su- dieta hipoprotéica com restrição demais nutrientes permaneceram, plementação das vitaminas tanto leve de sódio com 2 g NaCl/dia e em todos os casos, abaixo da reco- hidrossolúveis quanto lipossolúveis restrição hídrica de 500 ml/dia, mendação, o que demonstra uma caso não sejam atingidos os valores sendo que 100 ml era destinado à inadequação do cardápio consumi- preconizados pelas DRI´S (2000) administração de medicamentos do, podendo trazer, como conse- pela alimentação. Para os minerais pela enfermagem. Após a inter- qüência, principalmente um agra- em geral, utilizaram-se os valores venção dietoterápica, a dieta evo- vo do quadro de anemia, pela de- estabelecidos, também pelas DRI´S luiu apenas para consistência geral, ficiência do consumo de ferro, e (2000). Além disto, dá-se atenção deixando de apresentar restrições. aumento da probabilidade de ocor- especial à oferta de cálcio, estima- Esta intervenção nutricional foi rência de uma Osteodistrofia Renal da em 800 mg/dia, e fósforo cuja realizada com o consentimento dos de longo prazo. recomendação é de 500 mg/dia, já médicos responsáveis pelo paciente, Realizando a análise quantita- que estes são nutrientes essenciais devido à sua importante inapetên- tiva condizente à dieta geral pro- na prevenção da Osteodistrofia Re- cia e anorexia durante a interna- posta pela intervenção nutricional, nal, que acomete muitos pacientes ção. Outra estratégia utilizada para observa-se, na Tabela 2, que o con- Tabela 1. Avaliação Qualitativa de Macronutrientes da Dieta Ingerida pelo Paciente RSG do dia 28/04. São Paulo, 2006 TOTAL DAS REFEIÇÕES Nutriente Dieta Ingerida Gramas/kg Peso Ideal % de Energia Dieta Ideal % adequação Energia (cal) 170,18 ---- 98 1881 9,0 PRT (g) 13,56 0,65 31,23 13% 240,3 CHO (g) 22,28 1,07 51,32 50% 102,6 LIP (g) 2,98 0,14 6,86 35% 19,6 Sat. (g) 0,90 0,04 2,07 7% 29,6 Mono (g) 1,04 0,05 2,40 15% 16,0 Poli (g) 0,70 0,03 1,61 10% 16,1 Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND 96 O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
  • 7. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Tabela 2. Avaliação Qualitativa de Macronutrientes da Dieta Ingerida pelo Paciente RSG do dia 04/05 São Paulo, 2006 TOTAL DAS REFEIÇÕES Nutriente Dieta Ingerida Gramas/kg Peso Ideal % de Energia Dieta Ideal % adequação Energia (cal) 693,54 ---- 94,00 1881 36,9 PRT (g) 23,86 1,14 12,94 13% 99,5 CHO (g) 87,29 4,18 47,32 51% 92,8 LIP (g) 27,66 1,32 15,00 30% 50,0 Sat. (g) 9,44 0,45 5,12 7% 73,1 Mono (g) 10,34 0,49 5,61 15% 37,4 Poli (g) 5,93 0,28 3,21 10% 32,1 Fonte: Nutwin, versão 1.5, 2006; Pereira, 2001; UND sumo do paciente, de acordo com Figura 1. Distribuição da Oferta em Calorias Fornecida ao Pacien­ suas necessidades de gramas/kgPI, te RSG durante o Período de Acompanhamento. São Paulo, 2006 mantém-se hipoprotéico, hipoli- pídico e hipoglicídio. Entretanto, os valores ingeridos encontram-se mais próximos da recomendação. Além disso, a ingestão da dieta se adequou em 36,9% das calorias, demonstrando uma discreta me- lhora do consumo alimentar. Quanto aos micronutrientes, além dos nutrientes que se adequa- ram na análise anterior, a vitamina Figura 2. Distribuição Percentual da Oferta de Proteínas C e o sódio, após a intervenção nu- Fornecidas ao Paciente RSG durante o Período de tricional, também permaneceram Acompanhamento. São Paulo, 2006 adequados quando comparados às necessidades nutricionais estabele- cidas ao presente paciente. Resultados e Discussão A Figura 1 demonstra que, após a intervenção nutricional realizada, a quantidade calórica consumida pelo paciente sofreu elevações significativas. Assim, a média de consumo durante os dias de acom- que, após a intervenção nutricio- O aumento no consumo ali- panhamento resulta no valor nal a ingestão protéica manteve seu mentar após a introdução da inter- de 331,2 Cal, correspondendo a valor percentual mais próximo das venção nutricional se comprova 17,6% de adequação com relação necessidades estabelecidas (13% ao pela análise da Figura 3, observan- à sua ingestão calórica ideal. Isso dia). A média de ingestão percen- do que nos dois últimos dias ocorre comprova que, apesar da melhora tual deste macronutriente durante um aumento gradativo da aceitação em seu consumo alimentar, ainda o período de acompanhamento foi ao cardápio que lhe foi oferecido, há necessidade de se aumentar o de 18,4%, que corresponde à ade- inferindo sucesso parcial à inter- consumo calórico. quação de 141,5% das necessida- venção nutricional realizada. Também foi possível observar, des nutricionais preconizadas ao Durante o período de acompa- conforme demonstra a Figura 2, referido paciente. nhamento deste paciente, os sinais O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99 97
  • 8. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Figura 3. Distribuição Percentual Estimada da Aceitação da sultados dos exames de admissão Oferta de Alimentos ao Paciente RSG. São Paulo, 2006 aos dos últimos exames colhidos, o paciente apresentou uma melhora no eritrograma, que, conseqüen- temente, refere-se à melhora do quadro de anemia. Isto pode estar diretamente relacionado com uma diminuição dos níveis de uréia, visto que o acúmulo desta toxina favorece a hemólise de hemácias. Considerações Finais Apesar da promoção quanto ao vitais descritos em prescrição fo- anúria. A evacuação mantinha-se aumento da ingestão calórica e pro- ram analisados. Em todos os dias ausente até o dia anterior à intro- téica para este paciente pediátrico, observados, os valores referentes à dução da intervenção nutricional, este consumo não atingiu as neces- temperatura corporal, freqüência demonstrando adequação em rela- sidades nutricionais preconizadas. cardíaca, freqüência respiratória ção à dieta ingerida, já que o aporte Isto, provavelmente, vai favorecer e pressão arterial mantiveram-se de fibras tanto solúveis quanto in- perda de peso, com comprometi- adequados em relação aos respec- solúveis foi aumentado. E por fim, mento de seu estado nutricional, tivos valores de referência estipu- os vômitos mantinham-se presen- podendo chegar a um quadro de lados pelas referências literárias, tes até o dia anterior à intervenção subnutrição. Assim, sugere-se ago- demonstrando estabilidade no nutricional, e ausentes nos dias ra a adequação da dieta com uso de seu quadro clínico. Além disso, a seguintes devido ao sucesso do suplementação por via oral. adequação com relação à pressão tratamento medicamento pela ad- Assim, como integrante da arterial demonstra o sucesso do tra- ministração do antiemético, asso- equipe multidisciplinar, o profissio- tamento medicamentoso utilizado ciado à dietoterapia individualizada nal nutricionista deve estar atento no tratamento, assim como a não aplicada. aos objetivos do tratamento e esta- interferência negativa da liberação Ainda é possível se comprovar belecer condutas que contribuam do controle dietético de sal. uma melhora no quadro clínico para evolução do quadro clínico, Observou-se, em todos os dias, do paciente ao analisar o acompa- sugerindo modificações alimenta- a presença de diurese, mesmo que nhamento dos exames laborato- res pertinentes às suas habilidades, em baixa quantidade, já que este riais realizados após a intervenção a fim de promover a recuperação e paciente apresenta um quadro de nutricional. Comparando-se os re- melhora da saúde dos pacientes. Referências Brenner BM, Hebert SC. Distúrbios da função renal. In: Isselbacher KJ et al. Harrison: medicina interna. 15ª. ed. São Paulo: McGraw- Hill; 2002. p.1320-5. Carlson TH. Dados laboratoriais na avaliação nutricional. In: Escott-Stump S, Mahan LK. Krause: alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª. ed. São Paulo: Roca; 2005. p.419-36. Carvalhaes JTA, Naghetini AV, Ribeiro AH, Avesani CM, Teixeira LT, Sgarbieri UR et al. Aspectos nutricionais na doença renal crônica. Rev Paul Pediatria 1998;16(1):43-9. Centers for Disease Control and Prevention and Nacional Center for Health an Statistics (NCHS); 2000. Disponível em: dtr2004. saude.gov.br/nutricao/documentos/tabela_completa.pdf. Costa RP, Silva CC. Doenças cardiovasculares. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.287-312. Franceschini SCC et al. Necessidades e recomendações de nutrientes. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.03-32. 98 O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99
  • 9. Acompanhamento nutricional individualizado de um paciente pediátrico: relato de caso Fischbach FT. Manual de enfermagem: exames laboratoriais e diagnósticos. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 756p. Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Michigan: University of Michigan; 1990. 198p. Kaminura MA et al. Avaliação nutricional. In: Cuppari L. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar: nutrição clínica no adulto. 2ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. p.89-115. Maculevicius J, Fornasari MLL, Baxter YC. Níveis de assistência em nutrição. Rev Hosp Clin Fac Méd São Paulo 1994;49:79-81. Mafra D, Burini RC. Efeitos da correção da acidose metabólica com bicarbonato de sódio sobre o catabolismo protéico na insuficiência renal crônica. Rev Nutr 2001;14(1):53-9. Martins C, Moreira SM, Pierosan SR. Interações droga-nutriente. 2ª. ed. Curitiba: Metha; 2003. 280p. Martins C, Pecoits Filho RFS, Riella MC. Nutrição e diálise peritonial. In: Riella, MC. Nutrição e o rim. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 438p. Martins IS, Alvarenga AT, Siqueira AAF, Scarfarc SC, Lima FD et al. As determinações biológica e social da doença: um estudo de anemia ferropriva. Rev Saúde Pública 1987;21(2):73-89. Pereira AM, Martins C. Nutrição na criança com insuficiência renal crônica. In: Riella MC. Nutrição e o rim. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 438p. Robbins SL et al. Patologia estrutural e funcional. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1996. 1277p. Romão Junior JE. Doença renal crônica: definição, epidemiologia e classificação. J Bras Nefrol 2004;16(3):1:1-3. Vieira S, Hossne WS. Metodologia científica para a área da saúde. Rio de Janeiro: Elsevier; 2001. 200p. Whitmire SJ. Água, eletrólitos e equilíbrio ácido base. In: Escott-Stump S; Mahan LK Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia. 11ª. ed. São Paulo: Roca; 2005. p.156-171. WHO – World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of antropometry. Teach Rep Res 1995;854:1-452. Recebido em 23 de agosto de 2007 Versão atualizada em 17 de setembro de 2007 Aprovado em 23 de outubro de 2007 O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: jan/mar 32(1):91-99 99