SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 87
Baixar para ler offline
1
NITERÓI
2017
2
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
EDIANA DOS SANTOS RAMOS
HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR
AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO
Niterói
2017
3
EDIANA DOS SANTOS RAMOS
HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR
AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO
Orientadora:
Prof.a Dr.a Andrea Serpa Albuquerque
Niterói
2017
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
curso de Licenciatura em Pedagogia, como
requisito parcial para conclusão do curso.
4
5
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
PARECER SOBRE MONOGRAFIA
HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR
AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO
Autora: Ediana dos Santos Ramos
Orientadora: Prof.ª Drª. Andrea Serpa Albuquerque
Parecerista: Prof.ª Dr.ª Margareth Martins de Araújo
A presente monografia foi desenvolvida mediante análise documental e
entrevistas com leitores da saga Harry Potter e teve na Hogwarts School of Witchcraft and
Wizardry, escola fictícia, como espaço de pesquisa. Investiga, analisar e discutir alguns aspectos
presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando, maior ênfase à brasileira a
autora buscou perceber quais os pontos relevantes do cotidiano escolar são recorrentes na literatura,
no cinema e demais demonstrações artísticas. Também aprofundou alguns questionamentos como:
Qual a razão? O que há de tão fascinante e/ou angustiante que inspira autores a trabalhar com tal
temática e a nós reconhecê-los?
É visível a dedicação de Ediana à realização processual deste estudo. Sugiro a ampliação do
diálogo entre a teoria e a prática, o aprofundamento dos achados da pesquisa e, breve revisão.
Certamente, no que se refere á tradução do movimento captado durante a pesquisa, esse é um estudo
que muito tem a revelar ainda.
Das Considerações finais destaco:
A maior conclusão que tiro deste trabalho, é que o tema abordado não se trata de fatos isolados,
acontecidos pelo acaso, possuem marcas, de tempos em tempos tendem a ressurgir e cabe a nós
ficarmos atentos, não deixar as memórias se apagarem, principalmente as mais dolorosas e as
utilizarmos para mostrar as futuras gerações a face conta qual devemos permanecer lutando,
especialmente neste momento em que torna-se mais difícil preservar a história quando ela é
intencionalmente apagada do currículo escolar. (Ramos, 2017:63)
Por considerar as contribuições trazidas pela autora ao estudo do tema, entendo que esta monografia
deva ser aprovada com nota 8,0 (oito).
Niterói, 30 de junho de 2017.
____________________________
(Parecerista)
6
EDIANA DOS SANTOS RAMOS
HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR
AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO
Aprovada em 30 de junho de 2017.
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Andrea Serpa (orientadora)
UFF - Universidade Federal Fluminense
___________________________________________________
Prof.ª Drª Margareth Martins de Araújo (parecerista)
UFF- Universidade Federal Fluminense
Niterói
2017
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
curso de Licenciatura em Pedagogia, como
requisito parcial para conclusão do curso.
7
À minha mãe por todos os incentivos, a Jo Rowling por
me inspirar todos os dias e ao Dobby, o elfo livre.
8
AGRADECIMENTOS
À meus pais e irmão pelo carinho, apoio, incentivo e investimento, especialmente a
minha mãe que principalmente na reta final, falava o tempo "Ediana vá terminar essa
monografia!" mesmo se eu estivesse dormindo. Rs!
À minha orientadora Andrea por me dizer sim e com isso mesmo sem perceber, renovou
minhas forças e a vontade de continuar.
À Jo Rowling por ser um exemplo e ter nos presenteado com a Saga Harry Potter, responsável
por me inspirar a seguir uma temática diferente neste trabalho de conclusão de curso e por ter
permitido que estudasse sua obra para esta finalidade.
À Silvia, Sabrina, Mattedi e Derek por serem os amigos mais incentivadores e presentes,
sempre com uma palavra de apoio a cada capítulo que liam.
À todos os professores que foram significantes na minha vida e na minha formação, não foi
à toa que escolhi seguir esta carreira.
À FEUFF por ter me ajudado a realizar um sonho de infância, fazer parte do seu corpo
estudantil e sei o quanto amadureci principalmente como ser humano graças a tudo o que aprendi ali
dentro.
À Edith e Esteban pelos puxões de orelhas merecidos. Tourinho, Dácio, Jairo, Léa Calvão,
Lygia Segala, Débora Costa, Isabela Marotto, Delou, Sepulveda, Tania de Vasconcellos, Alessandra
Schueler, Eliane Arenas, Elza Dely, Hustana Vargas, André Martins, Maria Cecília, Percival,
Parada, Jairo, Tânia Muller, Nicholas Davies, Tathianna Dawes, Isabel Fonseca e Maria Vittória por
estimularem minha vontade de aprender cada vez mais.
À Débora Costa, Renata Silva, Céldon e Margareth pelas dicas e percepções acerca do
trabalho.
Á Jéssica por ter estado comigo nos momentos em que mais precisei, foi mais fácil passar por
isto com o seu apoio, sabendo que podia contar com alguém que estava passando pelo mesmo que
eu e que me entendia.
Ao Carlos, Lúcio, Valéria, Erica e Bruno pela disponibilidade, sensibilidade e vontade de
ajudar sempre que recorri.
9
À Emily Muniz, Jéssica, Karen, Dani, Tamiris, Lud, Isis, May, Taye, Thayane, Simone,
Sania, Léo, Stephany , Thai Cobucci, Aline Ribeiro, Carlos, Maryvalda, Tom Fletcher, Dougie
Poynter, Emma Watson, May Nascimento, Aline Mary, Gabi Pant, Ana Salim, Kel, Lola, Diva, Jess,
Monara, Susu, Quérol, Pri, Paola, Armada, Helga Hufflepuff, e a todos que se dispuseram a
responder a entrevista: Liana Klein, Bárbara Ramirez, Silvia Wayne (de novo! Rs!!), Dal Prá, Carla
Priscilla, Ana Beatriz Nunes, Isabelle Dias, Julia Mesquita, Ana Paula Souza, Raíssa Farias, Carla
Cardoso, Marina Valle, Renan Pereira, F.G, Márcio Rebeque, Mayara Nascimento (novamenteee!
Rs!), Jonathan, Claudia Arnéz e Livia Bravo. Vocês foram espetaculares!!!!
E por fim gostaria de agradecer a galera do primeiro semestre de 2010/ Manhã pelas conversas
no térreo, pelas risadas, pela unidade, pelo companheirismo e por ser a melhor turma que poderiam
ser. Não foi por acaso que fomos parar todos juntos no mesmo lugar! Obrigada a todos por tudo!
10
Pode-se encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se a pessoa se lembrar
de acender a luz.
Joanne Kethleen Rowling
11
RESUMO
Pontos relevantes do cotidiano escolar são recorrentes na literatura, no cinema e demais
demonstrações artísticas. Qual a razão? O que há de tão fascinante e/ou angustiante que inspira
autores a trabalhar com tal temática e a nós reconhecê-los? Partindo das minhas inquietações e
questionamentos, decidi utilizar como objeto de estudos, Hogwarts School of Witchcraft and
Wizardry, a escola fictícia pertencente ao best-seller Harry Potter, e através dela tentar encontrar tais
respostas. O presente estudo, tal qual objetivos, justificam-se pelo desejo de investigar, analisar
e discutir alguns aspectos presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando
maior ênfase à brasileira. A pesquisa pôde ser desenvolvida mediante análise documental e
entrevistas com leitores da saga, tendo em vista a elucidação dos objetivos propostos. Cada livro da
saga indiretamente pontua um ano letivo, embora um maior detalhamento no ponto de vista
educacional ocorra no primeiro, quinto e sexto livros. Neste trabalho de conclusão de curso, será
discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar, com a criação de Hogwarts e
consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela muggle
ou bruxa, pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade e suas desigualdades.
Pretendo também relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o Regime Militar,
com os dois maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa que resvalaram fortemente em
Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição, precedida pela
retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981.
Palavras-chave: Hogwarts. Harry Potter. Escola Regular. Ditadura Militar. Movimento Estudantil.
12
ABSTRACT
Relative matters of everyday school life are recurrent in literature, cinema and other artistic
demonstrations. What is the reason? What is so fascinating and / or harrowing that inspires authors
to work on such a topic and us to recognize it? Starting from my worries and questions, I decided to
use as an object of study, Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry, the fictional school
belonging to the bestseller Harry Potter, and through it try to find such answers. The present study,
as its objectives, is justified by the desire to investigate, analyze and discuss some items in
Hogwarts, belonging to the regular school, in this case giving greater emphasis to the brazilian
school. The research could be developed by documentary analysis and interviews with readers of
the saga, in view of the elucidation of the proposed objectives. Each book in the saga indirectly
marks a school year, although it occurs more detail in the educational point of view in the first, fifth
and sixth books. In this work of conclusion of course, will be discussed the relation of the prejudice
present in the daily school with the creation of Hogwarts and consequently, its subdivision in
houses. The intention is to present how the school, whether muggle or witch, can be a reproducer of
social dynamics, legitimizing the society and its inequalities. I intend also, to relevant aspects of
Brazilian education during the Military Regime, with the two major blows suffered by the witch
community that crashed heavily in Hogwarts: the intervention of the Ministry of Magic in the
functioning of the institution, preceded by the retaking of Lord Voldemort to power interrupted in
1981.
Keywords: Hogwarts. Harry Potter. Regular School. Military Dictatorship. Student Movement.
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AD ARMADA DE DUMBLEDORE
ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
OWLs ORDINARY WIZARDING LEVELS EXAMINATION
NWETs NASLITY EXHAUSTING WIZARDING TEST
ECA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
URSS UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS
EUA ESTADOS UNIDOS DAAMÉRICA
UnB UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
AI-5 ATO INSTITUCIONAL NÚMERO CINCO
PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
MG MINAS GERAIS
MIA MOVIMENTO ANTI-ARROCHO
AP AMAPÁ
CPDOC CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA
CONTEMPORÂNEA DO BRASIL
FGV FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ABC SANTO ANDRÉ, SÃO BERNARDO DO CAMPO E SÃO CAETANO DO
SUL
UNE UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES
MEC-Usaid MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-UNITED STATES AGENCY FOR
INTERNATIONAL DEVELOPTMENT
DAs DIRETÓRIOS ACADÊMICOS
CAs CENTROS ACADÊMICOS
DCEs DIRETÓRIOS CENTRAIS DOS ESTUDANTES
UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO
14
CCC COMANDO DE CAÇAAOS COMUNISTAS
USP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
XXX TRIGÉSIMO
UEE UNIÃO ESTADUAL DOS ESTUDANTES
DOPS DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL
DOI-CODI DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA
PM POLÍCIA MILITAR
DEIC DEPARTAMENTO ESTADUAL DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS
DOI-CODI /MG DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / MINAS GERAIS
DOPS/MG DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / MINAS GERAIS
DOI-CODI/PR DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / PARANÁ
DOPS/PR DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / PARANÁ
DOI-CODI/PE DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / PERNAMBUCO
CENIMAR/RJ CENTRO DE INFORMAÇÕES DA MARINHA / RIO DE JANEIRO
DOI-CODI/RJ DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / RIO DE JANEIRO
DOPS/RJ DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / RIO DE
JANEIRO
DOI-CODI/SP DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE
OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / SÃO PAULO
DOPS/SP DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / SÃO PAULO
15
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Charge "seleção justa".............. 30
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 17
2 ESCOLAS BRUXAS, MUGGLES E A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS......................................................................................................................... 21
2.1 EDUCAÇÃO: BEM EXCLUSIVO DA NOBREZA...................................................... 23
2,2 CONFUNDUS: COMO A ESCOLA REPRODUZ AS DESIGUALDADES
SÓCIO- CULTURAIS..................................................................................................... 31
3 HOGWARTS, AME-A OU DEIXE-A ......................................................................... 39
3.1 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL NOS REGIMES DITATORIAIS ......................... 47
3.2 OPOSIÇÃO E MOVIMENTO ESTUDANTIL.............................................................. 52
3.3 TORTURA E DESAPARECIMENTOS ......................................................................... 57
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 63
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 66
APÊNDICE− ENTREVISTAS ..................................................................................... 69
17
1 INTRODUÇÃO
Utilizando a saga Harry Potter como objeto de estudos - mais precisamente a escola em que
os personagens centrais estudam - pude perceber claramente pontos presentes na generalização da
escola que conhecemos, tão evidentes que senti-me motivada a escrever a respeito.
Hogwarts of Witchcraft and Wizardry é uma escola fictícia da literatura britânica,
presente nos livros: Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter
e o Prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix,
Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Harry Potter e as Relíquias da Morte e em filmes
homônimos.
Cada um dos seis primeiros livros representa um ano letivo do trio protagonista ,
embora seja no primeiro, quinto e sexto, que a escola ganha mais notoriedade no âmbito
educacional.
No primeiro, aborda-se a sua fundação, critérios utilizados para a admissão dos alunos,
disciplinas lecionadas, a subdivisão da escola nas quatro casas que levam os nomes dos fundadores
da instituição: Griffyndor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff. Cada uma com ideais próprios
referentes à educação e ao que o indivíduo precisaria ter a priori para integrar uma das casas.
Slytherin admitia os alunos oriundos da mais pura ancestralidade, Ravenclaw os de
inegável inteligência, Griffyndor os de nomes ilustres por grandes feitos e Hufflepuff admitia a
qualquer aluno, tratando-os com igualdade, pois acreditava na importância e no direito de todos
frequentarem a escola, respeitando a subjetividade de cada um e as vivências que traziam consigo.
Nos livros também estão presentes as consequências geradas por esta divisão, entre elas: o
bullying contra os alunos pertencentes à famílias das classes populares; órfãos; inteligentes; a
discriminação contra os muggles (não bruxos); bruxos nascidos em famílias muggles; mestiços1
(que tenha um dos pais muggle) e ainda contra os sangues-puros (descendentes de famílias
genuinamente bruxas) que respeitam e/ou se relacionam com muggles,; a rivalidade entre alunos
das casas distintas; uma parcela de professores priorizando e favorecendo os alunos pertencentes a
suas casas, entre outras.
No quinto livro há uma abordagem mais aprofundada em relação aos exames prestados:
OWLs e NWETs. Os OWLs (Ordinary Wizarding Levels Examinations, em português, Níveis
Trouxas em português1
18
Ordinários em Magia) são realizados pelos alunos no final do quinto ano. Dentre as disciplinas
obrigatórias do ano, devem escolher algumas opcionais, para cada disciplina em que obtém uma
aprovação, o aluno recebe um OWL, que serve como um indicativo das suas aptidões, determinando
que disciplinas estudará no ano seguinte para prestar os NWETs.
Os NEWTs (Nastily Exhausting Wizarding Test, em português, Níveis Incrivelmente
Exaustivos em Magia), são exames finais realizados pelos alunos, no término do sétimo ano, dentre
as matérias em que foram aprovados nos OWLs, os alunos escolhem que provas prestarão nos
NWETs, a cada aprovação o aluno adquire um NWET, que serve como indicativo de aptidões mais
"preciso" que nos OWLs, determinando precocemente o futuro acadêmico e profissional do aluno.
É também neste mesmo livro que ocorre uma maior intervenção do Ministério de Magia em
Hogwarts, o ministro baseado em seus medos e devaneios, acredita que o diretor Dumbledore está
formando um exército com seus alunos para tira-lo do poder, por esta razão criou o cargo da Alta
Inquisidora, que concedia ao ocupante poderes extraordinários sobre professores, alunos,
funcionários e programa de estudos, o que inclui demissões, torturas e alterações na grade de
disciplinas, tudo em nome da ordem. O próprio Ministério extinguiu o cargo quando voltou atrás e
reconheceu o retorno do Lorde das Trevas e que não havia um complô para depô-lo. A única a
ocupar a função foi a bruxa Dolores Umbridge.
Hogwarts ainda foi votada como a 36ª melhor instituição de ensino escocesa em uma lista
online de 2008, superando escolas reais. Segundo um dos diretores da Listagem da Rede de Escolas
Independentes, a escola fictícia foi adicionada ao ranking apenas como "uma brincadeira", e depois
esteve disponível ao voto, surpreendendo a todos com a sua posição na lista.
A instituição é administrada por um diretor, possuidor de total poder sobre a escola, seguido
do vice-diretor cuja função é de auxiliar o diretor e substituí-lo quando necessário. Ambos são
supervisionados pelo conselho diretor, órgão formado por doze pais de alunos. Cada uma das quatro
casas é administrada por um diretor, que possui poderes semelhantes aos do diretor e vice, podendo
inclusive advertir, suspender e expulsar um aluno desde que pertencente a sua casa.
Pode-se dizer que a administração do instituto é marcada por bastantes disputas ideológicas e
de interesses, por todas as partes envolvidas, principalmente do Conselho Diretor, composto
majoritariamente por indivíduos pertencentes às famílias mais tradicionais e influentes da
comunidade bruxa.
Quando nasce uma criança dotada de poderes mágicos, uma pena mágica localizada dentro
do Castelo de Hogwarts escreve o seu nome em um grande livro, sejam essas crianças nascidas em
família bruxas ou não. Anualmente, o diretor ou diretora da instituição consulta este livro e envia
19
corujas para todas as crianças que farão 11 anos, informando-as que possuem vagas asseguradas na
instituição.
O ano letivo inicia-se em 1º de setembro, com pausa no Natal, quando os alunos entram de
férias, retornam após a Páscoa e tem seu término em 30 de junho quando retornam às férias.
Os alunos pontuam ou perdem pontos para a sua casa, de acordo com o seu comportamento,
participação em sala de aula e transgressões. Ao final do ano letivo, a Casa com a maior pontuação
leva a Taça das Casas. Mais um fator considerável que ajuda a acirrar as disputas entre alunos e
professores de Hogwarts.
No último dia de aula quando a pontuação das casas é divulgada, o salão principal é decorado
com as cores da casa campeã, finalizando mais um ano letivo.
Como pudemos observar, Harry Potter fornece material suficiente para a elaboração de
centenas de monografias, dificultando-me inicialmente a delimitação dos objetivos específicos
graças as vastas possibilidades de aprofundamento encontradas no tema, inclusive no que diz
respeito às atividades pedagógicas.
O presente estudo, tal qual objetivos, justificam-se pelo desejo de investigar, analisar e
discutir alguns aspectos presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando
maior ênfase à brasileira.
No segundo capítulo será discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar,
com a criação da escola fictícia Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria, pertencente a saga Harry
Potter e consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela
muggle (real) ou bruxa (fictícia), pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade
como está posta e suas desigualdades.
No terceiro capítulo pretendo relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o
Regime Militar, com os dois maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa que resvalaram
fortemente em Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição,
precedido pela retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981.
Estudos de (ADORNO ET AL. 1965; MARCUSE, 1972; KANT, 1992; FOCAULT, 1978;
PATTO, 1984; OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER ,1986 ;BOURDIEU e PASSERON,
1975) entre outros, contribuíram significativamente para que eu pudesse traçar um caminho e
começar a entender teoricamente a relação que buscava entre essas escolas de distintas realidades.
A pesquisa pôde ser desenvolvida mediante análise documental e entrevistas com leitores da
saga, tendo em vista a elucidação dos objetivos propostos. De acordo com Lakatos e Marconi
(2001), podemos conceituar a pesquisa como procedimento formal com método de pensamento
20
reflexivo que requer um tratamento científico, constituindo-se no caminho para o conhecimento da
realidade ou descobrimento de verdades parciais.
Hogwarts e a Escola Regular marca seu início aqui, com o intuito de apontar que a ficção,
embora não seja regra, pode atuar como um lembrete à sociedade (de modo geral) das suas
conquistas, do preço possivelmente alto pago por elas e como uma amostra de que a qualquer tudo
pode mudar, por um descuido podemos regredir.
Considerando o atual momento político-social enfrentado pelo nosso país, retrocessos
ocorrendo em outras partes do mundo, e a renovação da esperança pelos que persistem na luta e não
nos deixam desistir, finalizo esta introdução com a seguinte citação que muito se faz presente "São
tempos sombrios, não há como negar, nosso mundo jamais enfrentou ameaça maior. Mas agora digo
a vós cidadãos, nós, sempre seus servos iremos continuar defendendo sua liberdade e repelindo as
forças que querem tirá-la de vocês." Rowling (2007)2
Citação retirada do livro Harry Potter e as Relíquias da Morte.2
21
2 ESCOLAS BRUXAS, MUGGLES E A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
Neste capítulo será discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar, com a
criação da escola fictícia Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria, pertencente a saga Harry Potter e
consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela muggle3
ou bruxa, pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade e suas desigualdades.
A relação entre fatores sociais e psíquicos, é um dos principais aspectos sobre como o
preconceito se configura. Estudos de Adorno et al. (1965) apontam o preconceito como
constructo social, não inato. Ele se instala no desenvolvimento individual como um produto
das relações entre os conflitos psíquicos e a estereotipia do pensamento - que já é uma
defesa psíquica contra aqueles - e o estereótipo, o que indica que elementos próprios à
cultura estão presentes.
Conclui-se que o indivíduo propenso ao preconceito, o é, independente dos objetos
sobre os quais recai, pois são inúmeros os estereótipos presentes no preconceito,
constituindo-se de diversas formas, e dirigidos a objetos variados. Algo destes últimos deve
estar presente para a constituição daqueles, ainda que não se refira aos próprios objetos, mas
à percepção que se tem deles.
A divergência contínua entre as minorias sociais traspassada pelo preconceito, é
marcada pela oposição força-fraqueza que diz respeito à proximidade que cada qual é
julgado da natureza que deve ser dominada. No entanto, como a dominação também se dá
entre os homens, entende-se que é a própria natureza inerente ao homem atuando:
O termo preconceito já teve diversos significados no decorrer do tempo:
Refere-se à população não bruxa, em português (brasileiro) são chamados de trouxas.3
Hoje, quando a utopia baconiana de “imperar na prática sobre a natureza”
se realizou uma escala telúrica, tornou-se manifesta a essência da coação
que ele atribuía à natureza não dominada. Era a própria dominação. É a sua
dissolução que pode agora proceder o saber em que Bacon vê a
“superioridade do homem”. (ADORNO e HORKHEIMER, 1986, p. 52)
22
Marcuse (1972) aponta que na contrarreforma, que tinha como objetivo restaurar os bens e
poderes à Igreja e a nobreza, o termo designava a representação dos dogmas, que deveriam ser
aceitos sem questionamentos, de modo que não gerasse um "caos social".
Kant (1992) em oposição, sugeria a "autonomia da razão" como "antídoto ao
preconceito", neste caso os dogmas, que impediam o pensamento livre e a auto reflexão,
Kant ainda dizia que esse processo de pensamento poderia retirar o indivíduo do seu "estado
de menoridade".
Focault (1978), por sua vez, mostra como o discurso sobre a loucura era utilizado
como formas de poder, isolamento e punição. Tanto o saber médico, quanto a internação
psiquiátrica, tornaram-se alguns dos instrumentos de poderes institucionais da época.
Conseqüentemente, este saber médico juntamente com outras ciências podem ter sido os
grandes responsáveis por estabelecerem a fronteira entre a racionalidade e a loucura sem ao
menos ter total conhecimento de o que ela realmente é,.e a transforma em doença mental,
visto que até o século XIX o preconceito era justificado como causa das circunstâncias
sociais, passando então a ser também concebido como resultado da história de vida
individual.
Os valores excludentes e preconceituosos têm vida longa na cultura educacional
brasileira. No início do século passado teorias baseadas em ideais biológicos justificavam as
aptidões escolares como resultado da herança genética dos indivíduos.
Nas décadas seguintes, despontam outras teorias, que vão alegar que os problemas
escolares são: consequência de problemas psicológicos das crianças, carência cultural das
mesmas, entre outras. A culpabilização recai sobre as vítimas.
Segundo Patto (1984), existem dois modelos básicos que integram esta teoria: o
nutricional e o cultural. O modelo nutricional considera que as crianças pobres são mais
propensas a ser portadoras de deficiências, em decorrência de um processo de privação de
determinados estímulos equivalente ao da privação alimentar, enquanto que o modelo
cultural, entende que as crianças pobres têm uma cultura diferente da valorizada pela escola
e, consequentemente, precisam passar por um processo de aculturação para que possam
finalmente ter condições de aprender os conteúdos escolares.
Estes tipos de teorias possibilitam que a escola se isente de suas responsabilidades
quanto a relação ensino/aprendizagem e que os problemas escolares sejam explicados como
23
conseqüência dos problemas dos próprios alunos e/ou de suas famílias. As práticas escolares
deixam de aparecer como algo possível de ser conquistado.
Segundo Adorno (1967/1995), a educação também deve se voltar para a adaptação, e essa
envolve não só a socialização, que é relevante, mas também o desenvolvimento de habilidades e a
assimilação de conteúdos, inevitáveis para a participação na sociedade.
Adorno também aponta, que a educação deve ir além da adaptação, e que a discussão e
a prática da educação inclusiva podem ser determinantes para isso, na medida em que
combatem a discriminação, caberia a elas mostrar como que a desigualdade se configura,
que é construída socialmente.
2.1 EDUCAÇÃO: BEM EXCLUSIVO DA NOBREZA
A educação adquire sua forma característica, com espaços reconhecidos, ministrada por
pessoas especializadas para este fim (curiosamente quase que em sua totalidade religiosas, e pela
primeira vez independente do universo adulto, embora descolada da realidade), a partir da Idade
Média, no continente europeu.
Por séculos este espaço educacional foi exclusivo das grandes elites. Num primeiro momento
era frequentado pelos nobres, quando a burguesia ascendeu financeira e socialmente, passou a
exigir os mesmos privilégios que a fidalguia.
A escola da Nobreza cultuava o passado: atribuía importância central à moral e à
religião, ao domínio da palavra e do saber abstrato. O conhecimento científico,
portador de mudanças, era menos importante que o espírito contemplativo e o
latim, símbolos da tradição a preservar, num mundo que se considera imune à
transformação.
A cultura livresca, refinada e letrada, convivia harmoniosamente com o meio de
origem dos alunos e correspondia às suas aspirações.
Para os herdeiros da aristocracia, seguros de seu poder, educar-se era sinônimo de
aprender a pensar e comporta-se como grandes senhores.
A escola da Nobreza durou até que as estruturas do mundo feudal, rígidas e
hierarquizadas, se tornassem anacrônicas por causa do desenvolvimento do
capitalismo industrial.
A face do mundo transformou-se pela invenção da máquina e a utilização de novas
fontes de energia. Com a revolução tecnológica, novas classes sociais emergiram:
a nascente burguesia industrial, responsável pelo progresso técnico, tomou o poder
da velha aristocracia rural; uma classe operária formada pela concentração, em
torno de novos centros de produção, de uma mão-de-obra pobre e desclassificada.
Neste panorama de um mundo em mudança, a escola mantinha-se reservada às
elites.
No entanto, o desenvolvimento industrial requer um número muito maior de
quadros técnicos e científicos. Esta exigência econômica leva a uma mudança
radical nos conteúdos da escola. Ela é forçada a se modernizar.
24
O preconceito institucionalizado no sistema educacional assim como o ideal de uma educação
diferenciada como bem exclusivo aos detentores de capital sejam eles financeiros, sociais e/ou
culturais perpetua-se. Moura (2007) evidencia-nos uma de suas facetas para a manutenção do status
quo, especialmente no cenário brasileiro, no decurso de sua tese de doutorado intitulada: O recurso
às escolas internacionais como estratégia educativa de famílias socialmente favorecidas.
Através de apontamentos da autora, por intermédio de entrevistas com alunos, pais,
professores e equipe pedagógica de escolas internacionais de renome, destinada às elites, a escola
americana EABH e a escola italiana Fundação Torino, sediadas em Belo Horizonte, no estado de
Minas Gerais, e minha breve pesquisa acerca de duas escolas tradicionais britânicas, em suas
próprias fanpages - Saint Paul's School e The British School - localizadas respectivamente em São
Paulo e Rio de Janeiro, percebemos como se dão na prática a preservação da escola como
instituição mantenedora das desigualdades sociais assim como configuram-se as estratégias de
socialização, estratégias estas que de acordo com Bonnet (2001) buscam favorecer a emergência de
disposições transnacionais, um recurso encontrado pelas elites para perpetuar a sua posição na
estrutura social, por constituirem fator de diferenciação na sociedade.
Com exceção da Fundação Torino inaugurada em 1956, estas instituições internacionais
iniciaram suas atividades no Brasil nos anos 20. Surgem inicialmente como uma tentativa de suprir
as necessidades de atendimento a filhos de imigrantes residentes no Brasil, ligadas à trajetória de
diferenciação e inserção desses grupos no país e em seus países de origem, admitindo
posteriormente de forma gradual, alunos brasileiros e de outras nacionalidades, oriundos das
camadas mais abastadas da sociedade. "Utilizadas pelas frações privilegiadas dos grupos
estrangeiros desde o início do século XX, as escolas internacionais garantiram a acumulação de
As disciplinas científicas adquiriram importância crescente ao lado dos antigos
conteúdos clássicos e literários.
Por outro lado, a burguesia dominante, começou também a perceber a
necessidade de um mínimo de instrução para a massa trabalhadora que se
aglomerava nos grandes centros industriais. Os "ignorantes" deveriam socializar-
se, isto é, deveriam ser educados para tornar-se bons cidadãos e trabalhadores
disciplinados.
Foi assim que, paralelamente à escola dos ricos, foi surgindo uma outra escola, a
escola dos pobres.
Sua função era dar aos futuros operários, o mínimo de cultura necessário à sua
integração por baixo na sociedade industrial.
A coexistência desses dois tipos de escola cria uma situação de verdadeira
segregação social. As crianças do "povo" frequentavam a "escola primária", que
não é concebida para dar acesso a estudos mais aprofundados.
As crianças da elite seguiam um caminho, à parte com acesso garantido ao
ensino superior, monopólio da burguesia. (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON;
HARPER 1986 p.29)
25
capital simbólico por esses sujeitos, essencial à sua distinção social e inserção na sociedade
brasileira." (MOURA, 2007, p.19)
As famílias brasileiras também utilizaram-se de estratégias de acumulação de capital
internacional por via escolar, contribuindo deste modo, na formação de várias gerações de famílias
tradicionais no país. A possibilidade de “escolha do estabelecimento” de ensino capaz de suprir
suas necessidades e expectativas, aflora como uma estratégia que dá-se de maneira desigual entre
grupos sociais distintos, privilegiando os mais favorecidos de capitais social, cultural e econômico.
Confirmando que a posse de tais recursos possibilita a seus detentores reconhecer suas melhores
chances e possibilidades, e por conseguinte tirar o proveito máximo em sua atuação no mercado
escolar. Gewirtz, Ball e Bowe (1994) ressaltam a escolha do estabelecimento como um novo e
considerável fator de manutenção da hierarquia de posições dos sujeitos no espaço social, assim
como das desigualdades sociais. Através de suas pesquisas em escolas suíças, percebem que
Prado (2002) ressalta que a ampliação do acesso à escola para as camadas populares no
Brasil, deu-se paralelamente a redução do ensino de línguas estrangeiras nos currículos escolares,
antes muito presente, em especial estudos de Alemão, Francês e Inglês. A LDB 5692/71 tornou
facultativa o seu oferecimento, desencadeando no seu desaparecimento em boa parte das escolas,
gerando um acesso majoritário ao acesso às línguas estrangeiras para as grandes elites. Quando a
escola pública era privilégio das camadas mais abastadas, o acesso a novos idiomas se dava através
dela, no momento em que a população menos favorecida passa a frequentar os espaços acadêmicos,
surgem cursos privados (Cultura Inglesa,Aliança Francesa, entre outros), as novas instituições
responsáveis pela educação no que se refere ao ensino de idiomas à elite brasileira. O domínio e a
utilização de uma língua estrangeira torna-se mais uma fonte de distinção entre os grupos sociais.
Esse processo de escolha é fortemente influenciado pelas condições sociais, os
estilos de vida e a biografia de quem a efetua. Uma contribuição importante
desses autores é o estabelecimento de uma tipologia que congrega três perfis de
famílias quanto à ação de escolha que, segundo eles, encontram forte
correspondência com as posições de “classe” desses grupos. Os “privileged/
skilled choosers” são, em geral, famílias favorecidas, habilitadas à escolha
porque dotadas dos recursos culturais, econômicos e sociais que possibilitam
discernir entre as melhores oportunidades. Os “semi-skilled choosers” são
famílias que se encontram em posições intermediárias da escala social e revelam
pouca capacidade para realizar tal escolha porque não dispõem dos recursos que
possibilitariam decodificar as diferentes mensagens do mercado escolar. Os
“disconnected choosers”, finalmente, são famílias de trabalhadores manuais, não
inclinados à escolha, “desconectados” do mercado escolar porque não
sensibilizados para as possíveis vantagens que uma ou outra escola possa
oferecer. (MOURA, 2007, p.22)
26
Moura (2007) constata através dos depoimentos colhidos durante às entrevistas, uma
"evidente perseguição de bens culturais mais raros, proporcionados pela escola, diante de outros
percebidos como mais disseminados, menos exclusivos." Alguns recursos têm seu valor simbólico
depreciado, o que representa uma ameaça à distinção daqueles que tinham, até então, seu
monopólio (BOURDIEU, 1979). A pesquisadora acrescenta ainda, que essa desvalorização
corresponde à estratégias e investimentos em produtos ou práticas menos acessíveis, na busca de
manutenção da posição de privilégio já conquistada
Jay (2002) destaca a relevância da variável homogeneidade social e econômica como critério
dos pais no momento da escolha. O alto custo financeiro de determinados estabelecimentos já
exclui, por si só, os grupos sociais que não têm condições de assumir tal investimento. Essa
distinção econômica contribuiria, para assegurar famílias que buscam na escola um prolongamento
das relações sociais protegidas entre iguais. Essa preocupação específica está presente em relatos
que criticam a heterogeneidade social das escolas nacionais.
Moura (2007) discorre acerca da hierarquia assentida e compartilhada "pelos sujeitos
envolvidos nesse jogo escolar - pais, estudantes e professores - não diz respeito somente aos
professores e às disciplinas. Está na origem ainda de diferentes posições que os próprios alunos se
atribuem."
A soma dos relatos dos entrevistados, demonstra a existência de um ambiente hierarquizado
de relações, baseada em disputas e crenças em torno de capitais específicos. Na escola italiana a
relação de conflito ficou mais evidente, seus estudantes mostram-se convictos da singularidade da
instituição e de quem o frequenta, inclusive no ponto de vista econômico, percebendo-se "diferentes
e invariavelmente, superiores."
O evitamento do contato social parece conter,em sua origem, uma espécie de
medo de ser confundido com disposições reconhecidas como próprias dos
estudantes brasileiros, e um desejo de demarcar fronteiras claras de distinção
entre “nós” e “eles” (ELIAS, 1997, p.278)
Essa segurança da superioridade da própria formação ou cultura, porque
européias, não apóia-se, necessariamente, em práticas de investimento pessoal
para tal aquisição. É o caso, por exemplo, de uma aluna que se vê mais culta que
seus amigos que estudam em escolas brasileiras.
Assim, eu, na quinta série, eu aprendi a cantar a nona de Beethoven em dialeto
italiano. Eu, com dezesseis anos ... com ... não, na sétima ou oitava série, eu
estava lendo é ... eu estava lendo ... é ... Odisséia, sabe? Então é assim ... umas
coisas que no colégio brasileiro você nunca vai fazer! Então ... eu estava lendo
Ítalo Calvino, li Italo Calvino ... então ... Ah ... nossa! Isso daí ... minha cultura,
eu tenho certeza que é muito maior do que a das minhas amigas! Bem
maior!' (Ex-aluna do ensino fundamental e médio) (MOURA, 2007, p.117)
27
A aluna deixa transparecer em sua fala, a convicção de que o simples fato de pertencimento ao
colégio, a torna automaticamente "especial, detentora de conhecimentos distintivos, em comparação
aos alunos de outras instituições. O acúmulo de capital cultural pressupõe um trabalho de
inculcação e assimilação que necessita de um investimento de tempo pelo investidor" (BOURDIEU,
1979).
Nas escolas de língua inglesa, a sensação de pertencimento parece se reforçar pelos pares que
se reconhecem (além dos capitais cultural, econômico e social) pelo domínio do idioma. Esta
particularidade em questão também apresenta-se como um fator que separa esses grupos, que se
percebem como "internacionais" dentre os brasileiros. A convivência diária prolongada, atividades
extracurriculares, reuniões, eventos que contam com a presença de pais e responsáveis, reforça a
ideia de pertencimento a uma comunidade, comunidade esta dissociada da que de fato está inserida.
A sensação de não pertencimento é evidenciada na fala da mãe de um aluno da escola
americana. que identifica o "ser vulgar" como característica típica do brasileiro. A escola funciona
para ela como um ambiente capaz de blindar seus filhos de uma espécie de contaminação de traços
brasileiros indignos.
Apesar dos esforços de evitar contato com não semelhantes, alunos bolsistas (embora
minoria), cujas famílias não teriam condições financeiras de arcar com os custos da sua educação na
instituição, estudam na EABH. Este fato aparece no discurso como um ponto positivo, até
romantizado, de acordo com a escola não existe preconceito ou discriminação, todos convivem em
harmonia e recebem tratamento igualitário. Entretanto alunos, ex-alunos e ex-professores, relatam a
exclusão de alunos pelos mais variados motivos, seja por serem muito estudiosos (nerds), bolsistas,
"esquisitos", não possuírem celulares de última geração ou não frequentarem os mesmos espaços,
entre outros, como prática costumeira na instituição.
Lá no [escola confessional brasileira] não existia, era tudo assim, muito
homogêneo, mas eu achava que era homogêneo para baixo. Eu achava assim, que
meus meninos é ... eles tinham condições de conviver num ambiente melhor. Lá
era meio ... eu achava meio misturado, sabe? [...] Eu achei, por exemplo, que o
[nome da escola], por exemplo, é ... os pais ... às vezes, não é gente ... assim
do ... do seu nível, sabe ... é ... econômico, social, cultural ... assim, meio
misturado. Tem também do seu jeito, mas tinha também um pessoal que não era,
sabe? Aí eu achava assim, às vezes eu ia levar os meninos numas casas que ficam
... uns colegas que moravam láááá ... sabe? Uns lugares assim ... difíceis. Aí os
meninos vinham aqui em casa, ficavam achando aqui em casa esquisito. Eu
achava que não ... Tinha outros que tinham até umas coisas melhores, mas eu ...
eu achava muito ... sabe? (Mãe de aluno do ensino médio) (MOURA, 2007, p.
136)
28
Percebemos que a escola tradicional, independente da sua roupagem, tende a prezar pela
manutenção da elite no topo da pirâmide social, consequentemente contribuindo nas práticas de
exclusão dos indivíduos pertencentes às classes menos abastadas. Como bem nos lembram Pinçon e
Pinçon-Charlot (1996) "os mais assegurados de suas posições sociais, são os que dominam as novas
dimensões de regras do jogo."
O sentimento de pertencimento de alguns pais e responsáveis à uma comunidade particular,
privada, e não reconhecimento da macro, onde estão de fato inseridos por considerarem "vulgar",
assim como o preconceito e discriminação dentro e fora da escola, em diversos aspectos, também
estão presentes no universo fantástico de Harry Potter. Através da utilização do mesmo como
ilustração dos conceitos e fatores já abordados neste capítulo, pretendo a partir deste trecho, iniciar
a apresentação de exemplos de como o preconceito pode apresentar-se no sistema educacional,
perceptível , neste caso, inclusive na ficção.
Estima-se que Hogwarts, a instituição fictícia da saga, foi fundada por volta de 990 d.C. na
Escócia por quatro dos bruxos mais brilhantes da história: Godric Gryffindor, Salazar Slytherin,
Helga Hufflepuff e Rowena Ravenclaw. Decidiram que juntos fundariam uma escola de referência e
ensinariam jovens que apresentassem algum talento mágico.
Considerando que a escola bruxa surgiu no final da Idade Média, no continente europeu, é
possível conceber a ideia de que ela foi criada seguindo os padrões das escolas do mesmo período,4
entre eles: o culto a tradição, a educação como sinônimo de aprender a se comportar e pensar como
Hogwarts trata-se de uma escola existente apenas na ficção e no coração dos admiradores da saga.4
Coincidentemente o ano da sua fundação (embora fictícia) ocorreu no mesmo período que as escolas do
mundo real, possibilitando assim as comparações, suposições e ilustrações no decorrer do trabalho.
Eu sou ... eu sou uma não fã da escola americana. Tirando o fato que foi a época
mais infeliz da minha infância, eu convivi com pessoas ignorantes, pessoas
superficiais, materialistas ... preconceituosas, egoístas [...]. Então, o que eu me
lembro, com muita angústia, com muita mágoa, sabe ... se você não tem seu
automóvel, se você não é rico, se você não tem isso [...] Eu detesto a escola
americana, eu não tinha um amigo, as pessoas lá ... sabe, ninguém conversava
comigo ... Mas eu não era assim “a rejeitada” não. Eu era uma das rejeitadas!
(Ex-aluna do ensino fundamental, 19 anos)
E as pessoas de lá são muito assim ... sabe, meio mesquinhas, elas acham que
elas são superiores a todo mundo que [...] Sei lá, acho que pela condição
financeira delas ... se achavam superiores. Eu tinha muito problema de
convivência mesmo. Depois que eu passei pra [escola brasileira que freqüenta
atualmente] eu não tive mais esse problema porque as pessoas são mais ... sei lá,
educadas ... elas não têm muito aquela coisa de ficar exibindo o que têm. (Ex-
aluna D do ensino fundamental) (MOURA, 2017 p.201)
29
"grandes senhores", a manutenção do espaço como um lugar exclusivo à nobreza (na concepção de
Salazar Slytherin) entre outras.
Analisando o contexto, torna-se possível compreender o caráter excludente tão presente nos
seus anos iniciais em algumas de suas casas, assim como a valorização de ideais específicos,
mesmo nos dias atuais.
Para compreender como tais arquétipos se constituem em Hogwarts, é preciso conhecer
a história da criação da escola, assim como a sua subdivisão em casas, Rowling (2003) elucida o5
ocorrido, através da seguinte canção:
Autora da Saga Harry Potter.5
30
A escola inteira aguardava, prendendo a respiração. Então, o rasgo junto a copa
do chapéu escancarou-se como uma boca, e o Chapéu Seletor prorrompeu a
cantar: Antigamente quando eu era novo
E Hogwarts apenas alvorecia
Os criadores de nossa nobre escola
Pensavam que jamais iriam se separar:
Unidos por um objetivo comum,
Acalentavam o mesmo desejo,
Ter a melhor escola de magia do mundo
E transmitir seus conhecimentos.
"Juntos ensinaremos!"
Decidiram os quatro bons amigos
Jamais sonhando que chegasse o dia
Em que poderiam se separar,
Pois onde se encontrariam amigos iguais
A Salazar Slytherin e Godric Griffyndor?
A não ser em outro par semelhante
Como Helga Hufflepuff e Rowena Ravenclaw?
A não ser em outro par semelhante
Então como pôde malogar a ideia
E toda essa amizade fraquejar?
Ora estive presente e posso narrar
Uma história triste e deplorável.
Disse Slythrin: "Ensinaremos só os da mais Pura ancestralidade"
Disse Ravenclaw: "Ensinaremos os de Inegável inteligência"
Disse Griffyndor: " Ensinaremos os de Nomes ilustres por grandes feitos"
Disse Hufflepuff: "Ensinarei todos, E os tratarei com igualdade."
Diferenças que pouco pesaram quando no início vieram a luz
Pois cada fundador ergueu para si
Uma casa em que pudesse admitir
Apenas os que quisesse,
Por isso Slytherin, aceitou apenas os bruxos
De puro-sangue e grande astúcia,
Que a ele pudessem a vir igualar,
E somente os de mente mais aguda
Tornaram-se alunos de Ravenclaw,
Enquanto os mais corajosos e ousados
Foram para o destemido Gryffindor.
A boa Hufflepuff recebeu os restantes
E lhes ensinou tudo que conhecia, Assim casas e idealizadores
31
Salazar Slytherin6
( S o n s e r i n a n a
tradução brasileira),
como evidencia o
texto, considerava a
e s c o l a c o m o
a m b i e n t e
privilegiado, para
eleitos, a inclusão de
alunos pertencentes
as camadas mais
populares do povo
bruxo, ou ainda da
população muggle,
traria desprestígio e
u m a q u e d a
significativa no
a n d a m e n t o d a
instituição, pois tais pessoas não seriam psicologicamente capazes e nem teriam bagagem cultural
suficiente para assimilação de conteúdos específicos presentes numa, como eles intitulavam, escola
de referência.
Jo Rowling viveu alguns anos em Portugal, utilizando alguns aspectos do país para desenvolver a sua6
escrita. O personagem Salazar Slytherin, um dos fundadores de Hogwarts foi inspirado em Antonio de
Oliveira Salazar, um professor e político português, figura máxima do chamado "Estado Novo Português", o
dirigente português que mais tempo permaneceu no poder dentro do período republicano, ditador que infligiu
restrições severas à Portugal e às então colônias portuguesas na África por 50 anos.
Mantiveram a amizade firme e fiel.
Hogwarts trabalhou em paz e harmonia
Durante vários anos felizes,
Mas então a discórdia se insinuou
Nutrida por nossas falhas e medos.
As casas que, como quatro pilares,
Tinham sustentado o nosso ideal,
Voltaram-se umas contra as outras e
Divididas buscaram dominar.
Por um momento pareceu que a escola
Em breve encontraria um triste fim,
Os duelos e lutas constantes
Os embates de amigo contra amigo
E finalmente chegou uma manhã
Em que o velho Slytherin se retirou
E embora a briga tivesse cessado
Deixou-nos todos muito abatidos.
E nunca desde que reduzidos
A três seus quatro fundadores
As Casas retomaram a união
Que de início pretenderam manter.
E agora o Chapéu Seletor aqui está
E todos vocês sabem por quê:
Eu divido vocês entre as casas
Pois esta é minha razão de ser
Mas este ano farei mais que escolher
Ouçam atentamente a minha canção:
Embora condenado a separá-los
Preocupa-me o erro de sempre assim agir
Preciso cumprir a obrigação, sei
Preciso quarteá-los a cada ano
Mas questiono se selecionar
Não poderá trazer o fim que receio.
Ah, conheço os perigos, os sinais
Mostra-nos a história que tudo lembra,
Pois nossa Hogwarts corre perigo
E precisamos unir em seu seio
Ou ruiremos de dentro para fora
Avisei a todos, preveni a todos...
Daremos agora início à seleção. (ROWLING, 2003, p.170/172)
32
2.2 CONFUNDUS :COMO A ESCOLA REPRODUZ AS DESIGUALDADES SÓCIO-7
CULTURAIS
Figura 1:
Fonte: Facebook (2016)
Charges e demais publicações que criticam esta lógica são veiculadas com uma frequência
considerável em redes sociais como: Twitter, Tumblr e o mais difundido, Facebook. Uma delas
apresenta animais de diversas espécies reunidos: macaco, pinguim, elefante, foca, um peixe num
aquário, entre outros. Um professor, informa que todos "numa seleção justa" deverão realizar uma
única tarefa, subir na árvore, dentre todos o macaco é o único presente capaz de realizar a tarefa
sem a necessidade de uma mediação.
Esta charge mesmo apesar de já possuir um certo tempo de publicação, gera muitas discussões
entre apoiadores e opositores, é explícita a crítica ao sistema educacional, que trata os diferentes
como iguais, colocando todos no mesmo patamar, sem mediação, como se não tivessem vida
anterior a escola e fora dela, desconsiderando sua realidade e as vivências que trazem consigo.
Bourdieu ainda afirma que
A escola define seus eleitos, através do capital cultural. Legitimado pela escola, este capital
torna-se valorizado, entendido como algo a ser conquistado pelos indivíduos que buscam
permanecer na escola, desta forma a elite assegura a sua posição.
A criança chega à escola trazendo experiências, atitudes, valores, hábitos de linguagem
compartilhada por seus familiares e o meio social em que está inserida, lugar onde desenvolveu sua
personalidade, afetividade, entre outros.
A cultura valorizada pela escola, é a mesma cultura que permeia a vida das classes abastadas,
ou seja, as crianças desse meio social têm acessos, desde os primeiros momentos de suas vidas,
inclusive à linguagem exigida pela escola. Estas crianças se sentirão muito mais pertencentes ao
ambiente escolar, suas particularidades e suas cobranças.
Feitiço de ação presente no universo bruxo. Faz com que a vítima fique confusa quanto a tudo que se passa7
a sua volta.
[...] não recebendo de suas famílias nada que lhes possa servir em sua
atividade escolar, a não ser uma espécie de boa vontade cultural e
vazia, os filhos das classes medias são forçados a tudo esperar e a tudo
receber da escola, e sujeitos, ainda por cima a ser repreendidos pela
escola por suas condutas por demais “escolares” [...] (BOURDIEU e
PASSERON, 1975, p.55).
33
Em contrapartida, as crianças oriundas das camadas populares podem sentir um
estranhamento quanto os valores, linguagem, normas da escola que em grande maioria são
diferentes dos que estão acostumadas. Se sentirão inferiorizadas por não poderem trazer para a
escola, a sua maneira de falar. "Elas se sentirão perdidas diante da falta de sentido e utilidade
imediata dos exercícios escolares, confusas pelo lado artificial das situações vividas em sala de
aula" (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER 1986 p.75)
Bortoni-Ricardo (2004) enfatiza que devemos considerar que o Brasil é um país monolíngue.
A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas ou tratá-las com indiferença, a
comunidade escolar como um todo deve estar consciente da existência de mais de uma maneira de
se falar a mesma coisa. Cabe a escola incentivar o emprego criativo e competente do Português,
contribuindo, assim, para o desenvolvimento de um sentimento de segurança em relação à
utilização da língua.
No universo literário da franquia Harry Potter, Hogwarts ilustra com clareza as
consequências dessa valorização da elite pela escola, assim como sua cultura, através
principalmente da subdivisão da instituição em casas e o que dela se desencadeia, gerando disputas
e enfrentamentos no decorrer dos anos em diversas instâncias.
Na instituição, por parte de alguns professores protegendo e privilegiando os
alunos pertencentes às suas próprias casas e punindo os demais. Punições certas vezes
acompanhadas de perseguição e humilhação na frente dos colegas. Severus Snape é o
professor que melhor exemplifica a parcialidade e a perseguição. É possível perceber a
ocorrência nos seguintes trechos:
A escola trata a todos da mesma maneira, todos devem ter o mesmo ritmo de
trabalho, com o mesmo livro, mesmo material, todos devem aprender as mesmas
frases, saber as mesmas palavras.
Todos devem adquirir os mesmos conhecimentos, devem fazer os mesmo exames
ao mesmo tempo. (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER 1986 p. 54)
34
Alguns alunos
p o r s u a v e z , s e
empenhavam em fazer
com que seus colegas
pertencentes às
outras casas perdessem os pontos necessários para a conquista da Taça das Casas , outros iam mais8
além, fazendo uso de ameaças, agressões físicas e psicológicas, principalmente os da Sonserina
(Slytherin), por serem quase que em sua totalidade oriundos de famílias abastadas, influentes e de
sangue puro, se achavam superiores ao demais, e beneficiavam-se da posição social para humilhar
os outros, sobretudo os da Lula-Lufa (Hufflepuff) considerados perdedores, sem talento e inferiores
justamente por pertencerem a casa que desconsiderava os dons inatos e adquiridos, essa rejeição
quanto a casa é tão forte que uma parcela considerável dos leitores também a rejeitam por esta9
Taça das Casas trata-se de uma premiação que ocorre no final de cada ano letivo em Hogwarts, recebida pela casa que8
obtiver mais pontuação. Os alunos ganham ou perdem pontos para suas casas através de comportamento, participação
em aula, vitórias no Quadribol (Quidditch) esporte popular entre os bruxos semelhante ao futebol e basquete, e etc.
Através das entrevistas pude comprovar a rejeição de uma parcela significativa dos leitores da saga quanto a casa9
Lufa-Lufa (Hufflepuff).
Snape como Flitwick, começou a aula fazendo a chamada e, como Flitwick, ele
parou no nome de Harry.
- Ah, sim - disse baixinho. - Harry Potter. A nossa nova celebridade.
Draco Malfoy e seus amigos Crabbe e Goyle deram risadinhas escondendo a
boca com as mãos. Snape terminou a chamada e encarou a classe. Seus olhos
eram negros como os de Hagrid, mas não tinham o calor dos de Hagrid. Eram
frios e vazios e lembravam túneis escuros. ...
- Potter! - disse Snape de repente. - o que eu obteria se adicionasse raiz de
asfódelo em pó a uma infusão de losna?
Raiz do quê em pó a uma infusão do quê? Harry olhou para Rony, que parecia
tão embatucado quanto ele; a mão de Hermione se ergueu no ar. - Não sei não
senhor - disse Harry. A boca de Snape se contorceu num riso de desdém.
- Tsc, tsc, a fama pelo visto não é tudo. E não deu atenção à mão de Hermione.
[...] Caminhava imponente com sua longa capa negra, observando-os pesar
urtigas secas e pilar presas de cobras, criticando quase todos, exceto Draco, de
quem parecia gostar. Tinha acabado de dizer a todos que olhassem a maneira
perfeita com que Draco cozinhara as lesmas quando um silvo alto e nuvens de
fumaça acre e verde invadira as masmorras, Neville conseguira derreter o
caldeirão de Simas transformando-o em uma bolha retorcida e a poção dos dois
estava vazando pelo chão de pedra, fazendo furos nos sapatos dos garotos. Em
segundos, a classe toda estava trepada nos banquinhos, enquanto Neville, que se
encharcara de poção quando o caldeirão derreteu, tinha os braços e pernas
cobertos de furúnculos vermelhos que o faziam gemer de dor.
- Menino idiota! - vociferou Snape, limpando a poção derramada com um aceno
de sua varinha. - Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho
antes de tirar o caldeirão do fogo?
Neville choramingou quando os furúnculos começaram a pipocar em seu nariz.
- Levem-no para a ala do hospital - Snape ordenou a Simas. Em seguida voltou-
se zangado para Harry e Rony, que estavam trabalhando ao lado de Neville. -
Você Potter porque não disse a ele para não adicionar as cerdas? Achou que você
pareceria melhor se ele errasse, não foi? Mais um ponto que você perdeu para a
Grifinória.
A injustiça foi tão grande que Harry abriu a boca para argumentar, mas Rony lhe
deu um pontapé por trás do caldeirão. - Não force a barra - cochichou - Ouvi
dizer que Snape pode ser muito indigesto. (ROWLING,, 2000, p.102/104)
35
razão. Os alunos e ex-alunos da Sonserina são descritos em sua grande maioria como pessoas
arrogantes, preconceituosas, egoístas, desleais e não confiáveis.
Durante uma conversa informal entre Draco Malfoy e Harry Potter, antes mesmo do ano início do
ano letivo e de serem selecionados para suas respectivas casas, fica claro nas suas falas o
preconceito com os nascidos muggles e com os alunos da Lufa-Lufa (Hufflepuff), uma reafirmação
à crença de como a escola, mesmo na literatura, pode legítimar apenas os bem nascidos, além de
d e i x a r
transparecer a
pressão familiar
para que pertença
a mesma casa que
o restante da
família:
M a l f o y
p r o t a g o n i z o u
(...)Já sabe em que casa você vai ficar?
- Não - respondeu novamente Harry sentindo-se a cada minuto mais idiota.
- Bom, ninguém sabe mesmo até chegar lá, não é, mas sei que vou ficar na Sonserina,
toda nossa família ficou lá, imagina ficar na Lufa-Lufa, acho que saíria da escola,
Três garotos entraram e Harry reconheceu o do meio na hora: era o garoto pálido da
loja de vestes de Madame Malkin. Olhou para Harry com um interesse muito maior
do que revelara no Beco Diagonal.
- É verdade? - perguntou. - Estão dizendo no trem que Harry Potter está nesta cabine.
Então é você? - Sou - respondeu Harry. Observava os outros garotos. Os dois eram
fortes e pareciam muito maus. Postados dos lados do menino pálido eles pareciam
guarda-costas.
- Ah, este é Crabbe e este outro, Goyle - apresentou o garoto pálido displicentemente,
notando o interesse de Harry. - E meu nome é Draco Malfoy.
Rony tossiu de leve, o que poderia estar escondendo uma risadinha. Malfoy olhou
para ele.
- Acha o meu nome engraçado, é? Nem preciso perguntar quem você é. Meu pai me
contou que na família Weasley todos têm cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que
podem sustentar.
Virou-se para Harry.
- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores
do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso
ajudá-lo nisso.
Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, mas Harry não a apertou.
- Acho que seu dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado - disse com frieza.
Draco não ficou vermelho, mas um ligeiro rosado coloriu seu rosto pálido.
- Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry - disse lentamente. - A não ser que seja
mais educado, vai acabar como os seus pais. Eles também não tinham juízo. Você se
mistura com gentinha como os Weasley e aquele Rúbeo e vai acabar se
contaminando. (ROWLING,2000, p.82)
Já sabem em qual casa vão ficar? Andei perguntando e espero ficar na Grifinória,
me parece a melhor, ouvi dizer que o próprio Dumbledore foi de lá, mas imagino
que a Corvinal não seja muito ruim... Em todo o caso, acho melhor irmos procurar o
sapo de Neville. E é melhor vocês se trocarem, sabe, vamos chegar daqui a pouco.
E foi-se embora, levando o menino sem sapo.
- Seja qual for a minha casa, espero que ela não esteja lá - comentou Rony. E jogou
a varinha de volta na mala. - Feitiço besta. Foi o Jorge que me ensinou, aposto que
sabia que não restava.
- Em que casa estão seus irmãos? - perguntou Harry.
- Grifinória - A tristeza parecia estar se apoderando dele outra vez. - Mamãe e papai
estiveram lá também. Não sei o que vão dizer se eu não estiver. Acho que a Corvinal
não seria muito ruim, mas imagine se me puserem na Sonserina. (ROWLING, 2000,
p.81)
36
outros momentos preconceituosos que merecem destaque:
Considerando o fator familiar, alguns estudantes sofrem bastante pressão da família, velada ou
não, para que pertençam a mesma casa e internalizam-na.10
Harry Potter e Hermione Granger são dois personagens muito interessantes, Hermione por ter
nascido em família muggle e Harry por ter vivido em um lar muggle entre seus 1 e 11 anos,
transitaram por escolas regulares (também fictícias) e do universo bruxo.
No que diz respeito à Hermione, os livros não mencionam sua trajetória discente anterior a
Hogwarts, mas Harry, por sua vez, teve uma vida escolar muito difícil, era discriminado por ser
órfão, por usar as roupas velhas do seu primo que tinha o triplo do seu tamanho e peso, além de ser
perseguido por ele e sua gangue. As crianças na escola evitavam se aproximar para não chatear o
Duddley e não correrem o risco de serem os novos perseguidos da escola. Em casa, Harry era11
responsável pelas tarefas domésticas e manutenção do local em troca de refeições e um teto. Não
era bem alimentado, dormia num armário sob a escada, dividindo o pouco espaço que tinha com
insetos, não recebia algum tipo de afeto, e sofria todo o tipo de abuso psicológico dos tios que
procuravam a todo custo esconder do mundo a sua existência, e quando o contato não podia ser
evitado, apresentavam-no como um "sobrinho retardo".
Alvo Dumbledore, atualmente diretor de Hogwarts. Considerado por muitos o maior bruxo dos tempos10
modernos. Dumbledore é particularmente conhecido por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em
1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de dragão e por desenvolver um trabalho em alquimia em
parceria com Nicolau Flamel. O Professor Dumbledore gosta de música de câmara e boliche. (ROWLING,
2010, p.78)
Primo do Harry, cresceram na mesma casa após o assassinato dos seus pais.11
37
Diria que até o momento que precede seus estudos em Hogwarts, a escola falhou com ele.
Embora não haja registros, é perfeitamente possível concluir que além de se mostrar indiferente aos
maus tratos sofridos por ele (e evidentemente por outras crianças) dentro do espaço escolar e
arredores, mostrou-se também alheia aos abusos sofridos em casa. Neste caso em específico, trata-
se de um estabelecimento fictício de ensino, e como tal, não teria obrigação de seguir a legislação
que assegura os direitos da criança e do adolescente. Porém se a instituição em questão existisse de
fato, estaria ferindo à Declaração Universal do Direito das Crianças, acordo publicado pela ONU
(Organização das Nações Unidas), em 1959, atualizada em 1989 e assinada unanimemente pelos
193 países do planeta, entre eles Brasil e Reino Unido. O acordo entre outros direitos, assegura que:
As Crianças têm Direitos
Direito à igualdade, sem distinção de raça religião ou nacionalidade.
Princípio I
- A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes
direitos serão outorgados a todas as crianças, sem qualquer exceção, distinção ou
discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas
ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição econômica,
nascimento ou outra codição, seja inerente à própria criança ou à sua família.
Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.
[...]
Princípio VI
- A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e
harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o
amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um
ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias
excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe. A
sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do
menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de
subsistência. Convém que se concedam subsídios governamentais, ou de outra
espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas.
38
A declaração
coincide com as
l e g i s l a ç õ e s :
brasileira - Estatuto
da Criança e do
Adolescente (ECA) -
e a britânica -
P r o t e c t i o n o f
Children Act 1989 -
r a t i f i c a d a s
celeremente como
efetivação do acordo.
Um ano após a atualização do texto no que diz respeito aos Direitos Universais da Criança, A
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 foi sancionada no Brasil, assegurando que:
O Estatuto da Criança e do Adolescente ainda determina qual a responsabilidade cabe às escolas
no que diz respeito
aos seus educandos,
a s s i m c o m o o s
Direito á educação gratuita e ao lazer infantil.
[...]
Princípio VII
- A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e
obrigatória, ao menos nas etapas elementares. Dar-se-á à criança uma educação
que favoreça sua cultura geral e lhe permita - em condições de igualdade de
oportunidades - desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu senso de
responsabilidade social e moral. Chegando a ser um membro útil à sociedade.
O interesse superior da criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a
responsabilidade por sua educação e orientação; tal responsabilidade incumbe,
em primeira instância, a seus pais.
A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão
estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão
para promover o exercício deste direito.
Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes.
Princípio VIII
- A criança deve - em todas as circunstâncias - figurar entre os primeiros a
receber proteção e auxílio.
Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho.
Princípio IX
- A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e
exploração. Não será objeto de nenhum tipo de tráfico.
Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima
adequada; em caso algum será permitido que a criança dedique-se, ou a ela se
imponha, qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde ou sua
educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral.
Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e
justiça entre os povos.
Princípio X
- A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a
discriminação racial, religiosa, ou de qualquer outra índole. Deve ser educada
dentro de um espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e
fraternidade universais e com plena consciência de que deve consagrar suas
energias e aptidões ao serviço de seus semelhantes. (ONU. Declaração Universal
do Direito das Crianças. 1959. Atualizada em 1989)
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta
Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (Brasil. Estatuto da
Criança e do Adolescente. 1990)
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão
ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares;
III - elevados níveis de repetência. (BRASIL. Estatuto da Criança e do
Adolescente. 1990)
39
procedimentos a serem tomados:
Ou seja, devemos ter em mente que a instituição de ensino também é responsável por
garantir que seu corpo discente goze dos seus direitos instituídos. Desconfiando da violação à esses
direitos, cabe à direção, e demais gestores, informar às autoridades responsáveis, neste caso, o
Conselho Tutelar, a respeito de qualquer suspeita. Legalmente é inadmissível que crianças ou
adolescentes sofra os mesmos abusos que o personagem Harry sofreu nos livros.
Em suma, a comunidade - por via de regra - deve prezar pelo bem-estar e desenvolvimento
pleno das nossas crianças e adolescentes.
40
3 HOGWARTS - AME-A OU DEIXE-A
O Brasil vivenciou no decorrer do século XX um considerável desenvolvimento industrial,
ao mesmo tempo em que as classes sociais antagônicas, burguesia e proletariado, adquiriam sua
forma mais definitiva.
No início da década de 60, os movimentos sociais emergiam e ganhavam força - movimentos
estudantis, sindicatos, associações de moradores, partidos políticos e entre outros - comprometeram-
se com a elaboração de um projeto político para o país em oposição aos ideais facistas, nazistas e
populistas. Em contrapartida, a burguesia com a assistência do Exército Brasileiro, da Igreja
Católica, classes conservadoras e da classe média, se organizava para abolir esta "efervescência de
ideias", visando a manutenção do poder e interesses de classe.
Segundo Florestan Fernandes (1980), a burguesia propendia obstar a transição de uma
democracia restrita para uma democracia de participação estendida, que ameaçava a consolidação
de um regime democrático-burguês.
No cenário internacional, vivenciávamos a Guerra Fria, a Europa recém saída da 2º Guerra
Mundial com grandes dificuldades econômicas, aliou-se aos Estados Unidos da América (já
recuperado da crise de 1929 e com status de potência). Com o intuito de obter investimentos vira-se
contra a URSS, segundo o governo norte americano, inimiga da democracia e do desenvolvimento
capitalista, surgindo então uma potente aliança anti-comunista, comandada pelos EUA.
No cenário nacional, após a renúncia de Jânio Quadros em 1961 e posse de seu vice João
Goulart (1961-1964), o país experienciou um governo marcado pelas reformas de base, reformas
estas que visavam transformações universitárias, agrárias, administrativas, bancárias e fiscais,
almejando ainda o direito de voto aos analfabetos. O suficiente para preocupar a burguesia, aliados
e inclusive os Estados Unidos que temiam o que chamavam de implantação do comunismo e
aliança do Brasil com o Bloco Socialista.
As décadas de 50/60 foram muito ricas para a educação brasileira. Houve, em
1958,um segundo Manifesto: Mais uma vez Convocados, ampliado com mais de
160 assinaturas de educadores, intelectuais e políticos, que reafirmavam os termos
do Manifesto dos Pioneiros e ampliavam suas reivindicações, exigindo uma
educação pública, gratuita, liberal, sem distinção de classe, raça e crenças, apoiada
nos valores democráticos e, de liberdade, de solidariedade, de cooperação, de
justiça, de cidadania, de igualdade, de respeito, de tolerância, e de convivência
com a diversidade étnico-cultural. Uma educação voltada para o trabalho e o
desenvolvimento econômico. (SILVA, 2005, p. 60).
41
Os anos que antecederam a tomada do poder pelos militares, no âmbito educacional, foram os
mais produtivos, contando com a contribuição de nomes como Paulo Freire e Anísio Teixeira,
perseguidos e exilados posteriormente ao golpe, deflagrado em 31 de março de 1964.
Considerando o breve histórico apresentado, que contextualiza a implantação da ditadura
civil-militar brasileira (1964-1985) e as afirmações de Facini (2004, p.25) acerca do papel social
da literatura, não como "[...] espelho do mundo social, mas parte constitutiva desse mundo" uma
expressão de "[...] visões de mundo que são coletivas de determinados grupos sociais. Essas visões
de mundo são informadas pela experiência histórica concreta desses grupos sociais que as
formulam, mas são também elas mesmas construtoras dessa experiência. Elas compõem a prática
social material desses indivíduos e dos grupos sociais aos quais eles pertencem ou com os quais se
relacionam. Nesse caso, analisar visões de mundo e idéias transformados em textos literários supõe
investigar as condições de sua produção, situando seus autores histórica e socialmente." Pretendo
neste capítulo, relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o regime, com os dois
maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa, nos livros de Jo Rowling, que resvalaram
fortemente em Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição,
precedido pela retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981.
Com a instauração do Regime Militar no Brasil, ocorreu uma crescente onda de perseguição
aos cidadãos contrários ao referido governo, que lutavam em prol da defesa dos direitos civis e
democráticos. Os militares interpretaram as resistências como um convite para interferir no sistema
educacional.
O ideal almejado de educação neste período também se sustentava em um desenvolvimento
econômico pautado no controle da Segurança Nacional e de acordo com (Fonseca, 1993) reprimir
João estava só. Ao amanhecer de 1º de abril, os generais Luís Carlos Guedes e
Olímpio Mourão Filho, com o apoio do governador Magalhães
Pinto,sublevaram Minas Gerais e logo contaram com o apoio militar de outros
estados e dos governadores Carlos Lacerda, da Guanabara, e Ademar de
Barros, de São Paulo. A reação ao golpe foi nula. O governo, sem defesa
militar ou civil, desmoronou (SILVA, 1992: 288).
[...] Assim, surgiu a Lei 5.540/68, baseada nos interesses do regime
estabelecido.Esta foi instaurada pelos militares,e trouxe consigo uma série de
medidas que mudaram em muitos aspectos as políticas educacionais. Através
desta lei, foi oficializado o ensino dos estudos sociais nas escolas brasileiras,
ou seja, a historiografia foi repensada, uma vez que ficando os específicos da
História destinados somente ao segundo grau. (SCHIMIDT e CAIINEL, 2004,
p.11).
42
as opiniões e os pensamentos dos cidadãos, de forma a eliminar toda e qualquer possibilidade de
resistência ao regime autoritário.
Não diferente, no universo Potteriano, Cornélio Fudge, ministro da Magia, nomeara Dolores
Umbridge, num primeiro momento, ao cargo até então vago de professora de Defesa Contra as
Artes das Trevas. A nomeação foi fruto de uma tentativa de manutenção da sua própria posição, ao
supor que o diretor da instituição, Alvo Dumbledore, juntamente com seus alunos, conspirava para
sobrepujá-lo e presidir a comunidade bruxa. Umbridge seria seus "os olhos e ouvidos", uma
infiltrada que mantinha-o informado de tudo o que se passava em Hogwarts.
Dumbledore pareceu surpreso por um instante, então, sentou-se com elegância
e olhou atento para a Profª Umbridge, como se ouvi-la fosse a coisa que mais
desejava na vida. Os outros membros do corpo docente não foram
competentes em esconder sua surpresa. As sobrancelhas da Profº Sprout
chegaram a desaparecer por baixo dos cabelos rebeldes, e Harry nunca vira a
boca da Profª McGonagall mais fina. Nenhum professor novo jamais
interrompera Dumbledore antes. Muitos estudantes sorriam abobados; era
óbvio que essa mulher não conhecia os hábitos de Hogwarts.
- Obrigada, diretor - disse a professora, sorrindo afetadamente -, pelas
bondosas palavras de boas-vindas.
Sua voz era aguda, soprada e meio infantil, e, mais uma vez, Harry sentiu uma
onda de aversão que não conseguia explicar; só sabia que tudo nela o enojava,
desde a voz tola ao casaquinho peludo cor-de-rosa. Ela tossiu mais uma vez
para clarear a voz (hem,hem), e continuou.
- Bem, devo dizer que é um prazer voltar a Hogwarts! - Ela sorriu, revelando
dentes muitos pontiagudos.
- E ver rostinhos tão felizes voltados para mim!
Harry olhou para todos os lados. Nenhum dos rostinhos que viu pareciam
felizes. Pelo contrário, todos pareciam meio chocados ao ver alguém se dirigir
a eles como se tivessem cinco anos de idade.
- Estou muito ansiosa para conhecer todos vocês, e tenho certeza de que
seremos bons amigos!
Os estudantes de entreolharam ao ouvir isso; alguns mal conseguiram
esconder os sorrisos.
- Serei amiga dela desde que não tenha de pedir emprestado aquele
casaquinho - sussurrou Parvati para Lilá, e as duas desataram a rir em
silêncio.
A Profª Umbridge tornou a pigarrear (hem, hem), mas quando continuou, um
pouco do modo soprado de falar desaparecera de sua voz. pareceu muito mais
objetiva, e suas palavras tinham um tom monótono de um discurso decorado.
- O ministro da Magia sempre considerou a educação dos jovens bruxos de
vital importância. os dons raros com que vocês nasceram talvez não
frutifiquem se não forem nutridos e aprimorados por cuidadosa, instrução. As
habilidades antigas, um privilégio da comunidade bruxa, devem ser
transmitidas às novas gerações ou se perderão para sempre. O tesouro oculto
de conhecimentos mágicos acumulados pelos nossos antepassados deve ser
preservado, suplementado e polido por aqueles que foram chamados à nobre
missão de ensinar.
A Profª Umbridge fez uma pausa e uma reverência aos seus colegas, mas
nenhum deles lhe retribuiu o cumprimento. As sobrancelhas escuras da Profª
McGonagall tinham se contraído de tal modo que ela decididamente parecia
uma falcão, e Harry a viu trocar um olhar significativo com a Profª Sprout ser
estimulado, pois as nossas tradições comprovadas raramente exigem
43
O primeiro procedimento tomado por Umbridge como professora de Defesa Contra as Artes
das Trevas, foi substituir as aulas práticas por aulas exclusivamente teóricas, realizadas somente
através da leitura do livro didático.
Em seguida foi nomeada Alta Inquisidora, a primeira conhecida por Hogwarts, acumulando
cargos. Prática também conhecida na realidade brasileira, mais precisamente em 1964 quando a
UNB foi invadida e Anisio Teixeira, o então reitor deposto e substituído por Zeferino Vaz, indicado
remendos. Então um equilíbrio entre o velho e o novo, entre a permanência e
quando Umbridge fez mais um hem,hem, e continuou o discurso.
- Todo diretor e diretora de Hogwarts trouxe algo novo à pesada tarefa de
dirigir esta escola histórica, e assim deve ser, pois sem progresso haverá
estagnação e decadência. Por outro lado progresso pelo progresso não deve
a mudança, entre a tradição e a inovação... Harry percebeu que sua atenção
estava oscilando, como se seu cérebro estivesse entrando e saindo de sintonia.
O silêncio que sempre prevalecia no salão quando Dumbledore falava ia se
rompendo à medida que os alunos aproximavam as cabeças, cochichando e
abafando risinhos. Na mesa da Corvinal, Cho Chang conversava
animadamente com as migas. Alguns lugares adiante de Cho, Luna Lovegood
puxara seu Pasquim. Entrementes, na mesa de Lufa-Lufa, Ernesto Macmillian
era um dos poucos que ainda olhavam para a Profª Umbridge, de olhar
vidrado, e Harry tinha certeza de que estava apenas fingindo ouvir, numa
tentativa de honrar o novo distintivo de monitor que reluzia em seu peito. A
Profº Umbridge não pareceu notar o desassossego da platéia. Harry teve a
impressão de que uma revolta de grandes proporções poderia ter estourado
bem embaixo do nariz dela e a bruxa teria continuado a discursar. Os
professores, porém ainda ouviam com muita atenção, e Hermione parecia
estar bebendo cada palavra que Umbridge dizia, embora, a julgar por sua
expressão, a desagradasse totalmente. - ...porque algumas mudanças serão
para melhor, enquanto outras virão, na plenitude do tempo, a ser reconhecidas
como erros de julgamento. Entrementes, alguns velhos hábitos serão
conservados, e muito acertadamente, enquanto outros, antigos e desgastados,
precisarão ser abandonados. Vamos caminhar para a frente, então, para uma
nova era de abertura, eficiência e responsabilidade, visando a preservar o que
deve ser preservado, aperfeiçoando o que precisa ser aperfeiçoado e cortando,
sempre que encontrarmos, práticas que devem ser proibidas. A bruxa se
sentou. Dumbledore aplaudiu. O corpo docente acompanhou a sua deixa,
embora Harry reparasse que vários professores bateram as mãos apenas uma
ou duas vezes antes de parar. Alguns alunos secundaram os aplausos, mas a
maioria foi apanhada de surpresa pelo fim do discurso, porque não ouvira
mais do que umas poucas palavras do todo, e antes que eles pudessem
começar a aplaudir devidamente, Dumbledore tornou a se erguer. - Muito
obrigado, Profª Umbridge, foi um discurso muito esclarecedor - disse,
curvando-se para a bruxa. - Agora, como eu ia dizendo, os testes de quadribol
serão realizados...
- Certamente que foi esclarecedor - disse Hermione em voz baixa.
- Você está me dizendo que gostou? - perguntou Rony baixinho, virando o
rosto, perplexo para ela. - Foi o discurso mais chato que já ouvi, e olha que fui
criado com o Percy.
- Eu disse esclarecedor e não agradável. Explicou muita coisa.
- Foi? - admirou-se Harry. - me pareceu uma grande enrolação.
- Mas havia coisas importantes no meio da enrolação - disse Hermione, séria.
- Havia? - perguntou Rony sem entender.
-Que tal "o progresso pelo progresso deve ser estimulado"? Ou então
44
por Luiz Antonio da Gama, Ministro da Justiça e Ministro da Educação e Cultura, um colecionador
de funções assim como a Umbridge.
MINISTÉRIO QUER REFORMA NA EDUCAÇÃO
DOLORES UMBRIDGE NOMEADA PRIMEIRAALTA INQUISIDORA
DA HISTÓRIA
- Ontem à noite, o Ministro da Magia surpreendeu a todos aprovando uma lei
que concede ao próprio órgão um nível de controle sem precedentes sobre a
Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
"Já há algum tempo, o ministro tem se mostrado apreensivo com o que
acontece em Hogwarts", comentou seu assistente-júnior, Percy Weasley.
"O decreto é uma resposta às preocupações expressadas por pais ansiosos que
sentem que a escola está trilhando um caminho que desaprovam."
Não é a primeira vez nas últimas semanas que o ministro Cornélio Fudge tem
usado novas leis para realizar aperfeiçoamentos na escola de magia. Em 30
de agosto recente, foi aprovado o Decreto de Educação n.º 22, para assegurar
que, na eventualidade do atual diretor não conseguir apresentar um candidato
a uma vaga de professor, o Ministério selecione uma pessoa habilitada.
"Foi assim que Dolores Umbridge acabou sendo indicada para o corpo
docente de Hogwarts", disse Wasley ontem à noite. "Dumbledore não
conseguiu encontrar ninguém, então o Ministério nomeou Umbridge, e,
naturalmente ela alcançou imediato sucesso..."
- Ela o QUÊ? - exclamou Harry em voz alta.
- Espere, ainda tem mais - disse Hermione séria: - "...imediato sucesso,
revolucionando inteiramente o ensino da Defesa Contra as Artes das Trevas e
informando em primeira mão ao ministro, o que está realmente acontecendo
em Hogwarts."
É esta função que o Ministério está formalizando agora ao aprovar o Decreto
de Educação n° 23, que cria o cargo de Alta Inquisidora de Hogwarts.
"Inicia-se assim uma nova fase no plano ministerial para enfrentar o que
alguns têm chamado de queda nos padrões de Hogwarts", diz Wasley "A
Inquisidora terá poderes para inspecionar seus colegas educadores e se
assegurar de que estejam satisfazendo os padrões desejados.
O cargo foi oferecido à Profº Umbridge, que aceitou a nova incumbência e a
irá acumular com o cargo de docente que ora exerce."
As novas medidas do Ministério receberam o apoio entusiastas dos pais dos
alunos de Hogwarts.
"Eu me sinto muito, mas muito mais tranquilo agora que sei que Dumbledore
está sujeito a avaliações justas e objetivas", declarou o Sr. Lúcio Malfoy, 41,
à noite passada de sua mansão de Wilshire. " Muitos de nós que no fundo
queremos que nossos filhos seja felizes e bem-sucedidos, estávamos
preocupados com algumas decisões excêntricas que Dumbledore andou
tomando nos últimos anos, e ficamos contentes de saber que o Ministério está
atento à situação."
Sem dúvida, entre as decisões excêntricas mencionadas encontram-se as
nomeações controversas apontadas pelo nosso jornal, entre as quais se
incluem a contratação do lobisomem Remo Lupin, do meio-gigante Rúbeo
Hagrid e do ex-auror delirante Olho-Tonto Moody. Naturalmente, correm
boatos de que Alvo Dumbledore, que no passado foi o Chefe Supremo da
Confederação Internacional de Bruxos e Bruxo-presidente da Suprema Corte,
não está mais a altura de administrar a prestigiosa escola de Hogwarts.
"Acho que a nomeação da Inquisidora é o primeiro passo para assegurar que
Hogwarts tenha um diretor em quem possamos depositar nossa confiança",
declarou uma fonte do Ministério à noite passada. Os juízes da Suprema Corte
45
Por trás de todo
golpe há uma mídia
t a m b é m g o l p i s t a ,
manipulando os fatos,
publicando entrevistas
de aliados, "pessoas de
b e m " c o m o
r e p r e s e n t a n t e s d a
opinião da maioria,
travestidos de cidadãos
comuns para aproximá-
los da comunidade e
desacreditar os que se opõem, apresentando-os como ameaças. A imprensa fictícia, assim como a
brasileira, foi crucial para a legitimidade do discurso golpista. O Profeta Diário, jornal de maior
influência na comunidade bruxa foi o veículo de comunicação que mais apoiou os golpes,
principalmente a ascensão de Voldemort, aperfeiçoando uma imagem deturpada dos divergentes, em
especial Harry e Dumbledore, ante a comunidade mágica, difundindo a ilusão de imaculada
segurança e proteção por parte do Ministério.
No Brasil, a Rede Globo de Televisão fundada no regime cumpria este papel, de acordo com
Brasil de Fato (2013) o apoio ao golpe militar não foi um ato isolado. A Globo apoiou,
incondicionalmente, os 20 anos de ditadura em nosso país. Em dezembro de 1968, renovou seu
apoio ao governo ditatorial, tornando-se conivente com o Ato Institucional número 5 (AI-5). As
prisões políticas, os exílios, casos de torturas e assassinatos de militantes políticos não mereceram
uma linha de repúdio ao governo militar, nos noticiários da família Marinho, além de ser uma
beneficiária direta do regime.
- A senhorita é uma especialista educacional do Ministério da Magia, Srta.
Granger? - Não, mas... - Bem, então, receio que não esteja qualificada para
decidir qual é a "questão central" em nenhuma disciplina. Bruxos mais velhos e
mais inteligentes que a senhorita prepararam o nosso programa de estudos. A
senhorita irá aprender a respeito dos feitiços defensivos de um modo seguro e
livre de riscos...
- Para que servirá isso? - perguntou Harry, em voz alta. - Se formos atacados,
não será em um...
- Mão, Sr. Potter! - entoou a Profº Umbridge. Harry empunhou o dedo no ar.
Mais uma vez, a professora prontamente lhe deu as costas, mas agora vários
alunos tinham erguido as mãos.
[...] Agora o Ministério acredita que um estudo teórico será mais do que
suficiente para prepará-los para enfrentar os exames, que, afinal, é para o que
existe a escola. E o seu nome é? - acrescentou ela, fixando o olhar em Parvati,
que acabara de erguer a mão.
- Parvati Patil, e não tem uma pequena parte prática no nosso N.O.M de Defesa
Contra as Artes das Trevas? Não temos de demonstrar que somos capazes de
realizar contra feitiços e coisa assim?
- Desde que tenham estudado a teoria com muita atenção, não há razão para não
serem capazes de realizar feitiços sob condições de exame cuidadosamente
controladas - respondeu a professora, encerrando o assunto.
- Sem nunca ter praticado os feitiços antes? - perguntou Parvati incrédula. - A
senhora está nos dizendo que a primeira vez que poderemos realizar feitiços será
durante o exame?
- Repito, desde que tenham estudado a teoria com atenção...
- E para que serve a teoria no mundo real? - perguntou Harry em voz alta, seu
punho mais uma vez no ar. A professora Umbridge ergueu a cabeça. - Isto é uma
escola, Sr. Potter, não é mundo real - disse mansamente. (ROWLING, 2003, p. )
46
Durante os períodos de golpe no mundo bruxo, mídias opositoras independentes ganharam
notoriedade, como o programa de rádio Potterwatch conhecido por atualizar a lista de12
desaparecidos políticos e a revista coincidentemente intitulada O Pasquim (assim como um dos13
maiores jornais opositores ao governo militar no Brasil) dirigida por Xenophilius Lovegood, editor
chefe e proprietário. Sua filha Luna foi sequestrada a caminho da escola como medida de retaliação
a seus artigos contrários ao governo.
A censura foi uma tentativa satisfatória de domínio. No sistema educacional brasileiro, deu-se
na educação básica através do controle ao conteúdo, livros utilizados e termos mencionados em sala
de aula. Professores que lecionaram durante o período afirmam que os livros didáticos
tratavam-se de manuais contendo questionários que objetivavam respostas prontas, não
estimulavam o pensamento crítico e nem reflexivo, aos alunos cabia apenas a memorização e a
repetição. Os militares transitavam pelas escolas, e caso professores e alunos descumprissem as
ordens, eram perseguidos, torturados psicológica e fisicamente ou até mesmo assassinados.
Em setembro de 1969 a Lei 869 entrou em vigor, estabelecia em caráter obrigatório a inclusão
das disciplinas Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais em todos os sistemas educacionais
brasileiros. O intuito da implementação da Moral e Cívica era fortalecer a unidade nacional,
aprimorar o caráter e preparo para o exercício das atividades cívicas fundamentadas na moral e
patriotismo.
A substituição da História e da Geografia por Estudos Sociais e exclusão da Filosofia visava
desenvolver nos alunos uma postura submissa, meros contempladores da realidade por meio da
observação. De acordo com Helfer e Lenskij (2000) "os alunos não atuavam como sujeitos da
construção do processo histórico e do conhecimento".
Em Hogwarts, instituição de ensino fantástica mencionada no decorrer deste trabalho, a
disciplina Defesa Contra as Artes das Trevas até então prática, foi substituída por monótonas
Em português Observatório Potter.12
Na tradução para a Língua Portuguesa.13
Introduzir as disciplinas sobre civismo significa impor a ideologia da ditadura,
reforçada pela extinção da Filosofia e diminuição da carga horária de História e
Geografia, que exerce a mesma função de diminuir o senso crítico e consciência
política da situação (VEDANA,1997, p.54).
47
leituras do livro didático durante os tempos de aula, não havendo espaço para o surgimento de
dúvidas, perguntas e
questionamentos,
como evidencia o
seguinte fragmento:
- Bom, o ensino que receberam desta disciplina foi um tanto interrompido, e
fragmentário, não é mesmo? - afirmou a Prof° Umbridge, virando-se para
encarar a turma, com as mãos perfeitamente cruzadas diante do corpo. - A
mudança constante de professores, muitos dos quais não parecem ter seguido
nenhum currículo aprovado pelo Ministério, infelizmente teve como
consequência os senhores estarem muito abaixo dos padrões que esperaríamos
ver no ano dos N.O.M.s. "Os senhores ficarão satisfeitos de saber, porém, que
tais problemas serão corrigidos. Este ano iremos seguir um curso de magia
defensiva, aprovada pelo Ministério e cuidadosamente estruturado em torno da
teoria. Copiem o seguinte por favor." Ela tornou a bater no quadro; a primeira
mensagem desapareceu e foi substituída por "Objetivos do Curso".
1. Compreender os princípios que fundamentam a magia defensiva.
2. Aprender a reconhecer as situações em que a magia defensiva pode legalmente
ser usada.
3. Inserir o uso da magia defensiva em contexto de uso.
Por alguns minutos o som das penas arranhando pergaminhos encheu a sala.
Depois que todos copiaram os três objetivos do curso da Profº Umbridge, ela
perguntou: - Todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert
Slinkhard? Ouviu-se um murmúrio baixo de concordância por toda a sala. - Acho
48
que vou tentar outra vez - disse ela. - Quando eu fizer uma pergunta, gostaria que
os senhores respondessem: "Sim, senhora Prof° Umbridge" ou "Não, senhora,
Prof° Umbridge". Então: todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva
de Wilbert Slinkhard?
- Sim, senhora Prof° Umbridge - ecoou a resposta pela sala.
- Ótimo Eu gostaria que os senhores abrissem na página cinco e lessem o
Capítulo Um, "Elementos Básicos para Principiantes". Não precisarão falar.
A Prof° Umbridge deu as costas ao quadro e se acomodou na cadeira, à
escrivaninha, observando todos os alunos, com aqueles olhos empapuçados de
sapo. Harry abriu á página cinco do seu exemplar de teoria da magia defensiva e
começou a ler. Era desesperadamente monótono, tão ruim quanto escutar o Prof.
Bins. Sentiu sua concentração ir fugindo; logo tinha lido a mesma linha meia
dúzia de vezes, sem absorver nada além das primeiras palavras. Vários minutos
se passaram em silêncio. Ao seu lado, Rony virava e revirava a pena entre os
dedos distraidamente, os olhos fixos no mesmo ponto da página. Harry olhou
para a direita e teve uma surpresa que sacudiu o seu torpor. Hermione sequer
abrira seu exemplar de Teoria da magia defensiva. Olhava fixamente a Prof°
Umbridge com a mão levantada. Harry não se lembrava de Hermione jamais ter
deixado de ler quando a mandavam fazê-lo, ou resistir à tentação de abrir
qualquer livro que passasse embaixo do seu nariz. Olhou-a, indagador, mas ela
meramente balançou a cabeça, a indicar que não ia responder perguntas,e
continuou a encarar a professora, que olhava com igual resolução para o outro
lado. Depois de se passarem vários minutos, porém, Harry já não era o único que
olhava para Hermione. O capítulo que a professora os mandara ler era tão
tedioso que um número cada vez maior de alunos estava preferindo observar a
muda tentativa de Hermione de ser notada pela professora a continuar penando
para ler os "Elementos Básicos para Principiantes".
Quando mais da metade da classe estava olhando para Hermione e não para os
livros, a professora pareceu decidir que não podia continuar ignorando a
situação.
- Queria me perguntar alguma coisa sobre o capítulo querida? - perguntou ela a
Hermione como se tivesse acabado de reparar nela.
- Não, não é sobre o capítulo - respondeu Hermione.
- Bem, é que o que estamos lendo agora - disse a professora, mostrando seus
dentinhos pontiagudos. - Se a senhorita tem outras perguntas, podemos tratar
delas no final da aula.
- Tenho uma pergunta sobre os objetivos desse curso - disse Hermione.
A Prof° Umbridge ergueu as sobrancelhas.
- E como é o seu nome?
- Hermione Granger.
- Muito bem, Srta. Granger, acho que os objetivos do curso são perfeitamente
claros se lidos com atenção - respondeu em um tom de intencional meiguice.
- Bem, eu não acho que estejam, concluiu Hermione secamente. - Não há nada
escrito no quadro sobre o uso de feitiços defensivos.
Houve um breve silêncio em que muitos alunos da turma viraram a cabeça para
reler, de testa franzida, os três objetivos do curso ainda escritos no quadro-negro.
- O uso de feitiços defensivos? - repetiu a Prof° Umbridge, dando uma risadinha.
- Ora, não consigo imaginar nenhuma situação que possa surgir nesta sala de
aula que exija o uso de um feitiço defensivo, Srta. Granger. Com certeza não está
esperando ser atacada durante a aula, está?
- Não vamos usar magia? - exclamou Rony em voz alta.
- Os alunos levantam a mão quando querem falar na minha aula Sr...?
- Weasley - respondeu Rony, erguendo a mão no ar.
A Prof° Umbridge, ampliando o seu sorriso, virou as costas para ele. Harry e
Hermione imediatamente ergueram as mãos também. Os olhos empapuçados da
professora se detiveram por um momento em Harry, antes de se dirigir a
Hermione.
- Sim, Srta Granger? Quer me perguntar mais alguma coisa?
- Quero. certamente a questão central na Defesa Contra as Artes das Trevas é a
prática de feitiços defensivos.
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos
Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Resolver problemas conducentes a uma inequação linear
Resolver problemas conducentes a uma inequação linearResolver problemas conducentes a uma inequação linear
Resolver problemas conducentes a uma inequação linearJeremias Manhica
 
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabaritoPriscila Lourenço
 
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1numerosnamente
 
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdf
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdfRAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdf
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdfRoseildoNunesDACruz1
 
Area e perimetro e volume poster
Area e perimetro e volume posterArea e perimetro e volume poster
Area e perimetro e volume posterJose Wilson
 
Ficha de leitura sobre felicidade clandestina
Ficha de leitura sobre felicidade clandestinaFicha de leitura sobre felicidade clandestina
Ficha de leitura sobre felicidade clandestinaDuda Pequena
 
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDS
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDSPregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDS
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDSRogerio Souza
 
Catecismo para crianças
Catecismo para criançasCatecismo para crianças
Catecismo para criançasPeter Aquino
 
Semelhança de triângulos
Semelhança de triângulosSemelhança de triângulos
Semelhança de triângulosRodrigo Carvalho
 

Mais procurados (16)

Felicidade clandestina
Felicidade clandestina Felicidade clandestina
Felicidade clandestina
 
Resolver problemas conducentes a uma inequação linear
Resolver problemas conducentes a uma inequação linearResolver problemas conducentes a uma inequação linear
Resolver problemas conducentes a uma inequação linear
 
Raiz quadrada
Raiz quadradaRaiz quadrada
Raiz quadrada
 
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito
2ª parte da a1 de geometria 8º ano com gabarito
 
Bissetriz
BissetrizBissetriz
Bissetriz
 
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1
Trigonometria - Exercícios resolvidos - ficha 1
 
Equacoes de 7º Ano
Equacoes de 7º AnoEquacoes de 7º Ano
Equacoes de 7º Ano
 
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdf
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdfRAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdf
RAZÕES TRIGONOMÉTRICAS NA CIRCUNFERÊNCIAxxxxxxx.pdf
 
Area e perimetro e volume poster
Area e perimetro e volume posterArea e perimetro e volume poster
Area e perimetro e volume poster
 
Trigonometria
TrigonometriaTrigonometria
Trigonometria
 
Limites do Design...
Limites do Design...Limites do Design...
Limites do Design...
 
Prova do 8º ano
Prova do 8º anoProva do 8º ano
Prova do 8º ano
 
Ficha de leitura sobre felicidade clandestina
Ficha de leitura sobre felicidade clandestinaFicha de leitura sobre felicidade clandestina
Ficha de leitura sobre felicidade clandestina
 
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDS
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDSPregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDS
Pregação Infantil BÍBLIA - Novo Renascer KIDS
 
Catecismo para crianças
Catecismo para criançasCatecismo para crianças
Catecismo para crianças
 
Semelhança de triângulos
Semelhança de triângulosSemelhança de triângulos
Semelhança de triângulos
 

Semelhante a Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos

Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...
Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...
Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...Thelma Oliveira
 
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...Claudio Santos
 
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012citacoesdosprojetosdeotavioluizmachado
 
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comum
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comumA Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comum
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comumDaniel Tavares
 
Brincando de Arqueologia em Pelotas
Brincando de Arqueologia em PelotasBrincando de Arqueologia em Pelotas
Brincando de Arqueologia em PelotasGiullia Anjos
 
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdf
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdfR - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdf
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdfRafaella Florencio
 
Projeto generos[1]carol e patric ia
Projeto generos[1]carol e patric iaProjeto generos[1]carol e patric ia
Projeto generos[1]carol e patric iaCarol Costa
 
Sequência didática piada
Sequência didática piadaSequência didática piada
Sequência didática piadaProfessora Cida
 
PNAIC - Ano 02 unidade 4
PNAIC - Ano 02   unidade 4PNAIC - Ano 02   unidade 4
PNAIC - Ano 02 unidade 4ElieneDias
 
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafios
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafiosParceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafios
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafiosCaroline Burle
 
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?Maria Stela Cavalcante Rabello
 

Semelhante a Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos (20)

Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...
Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...
Oliveira, thelma. é tudo faz de-conta. as relações entre o poder entre o pode...
 
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...
A influência das histórias em quadrinhos no ensino da matemática: um saberfaz...
 
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
Dissertação de patrícia cabral de arruda na sociologia da un b em 2012
 
Dissertação sobre teatro na escola
Dissertação sobre teatro na escolaDissertação sobre teatro na escola
Dissertação sobre teatro na escola
 
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comum
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comumA Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comum
A Educação e a Diversidade Sexual e de Gênero: a academia e o senso comum
 
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
Tese de denise maria antunes cordeiro na educação da uff em 2008
 
LITERATURA
LITERATURALITERATURA
LITERATURA
 
Resumo sieif
Resumo sieifResumo sieif
Resumo sieif
 
Brincando de Arqueologia em Pelotas
Brincando de Arqueologia em PelotasBrincando de Arqueologia em Pelotas
Brincando de Arqueologia em Pelotas
 
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdf
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdfR - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdf
R - D - ANDRESSA GARCIA PINHEIRO DE OLIVEIRA (1).pdf
 
3550
35503550
3550
 
Projeto generos[1]carol e patric ia
Projeto generos[1]carol e patric iaProjeto generos[1]carol e patric ia
Projeto generos[1]carol e patric ia
 
343080
343080343080
343080
 
Sequência didática piada
Sequência didática piadaSequência didática piada
Sequência didática piada
 
PNAIC - Ano 02 unidade 4
PNAIC - Ano 02   unidade 4PNAIC - Ano 02   unidade 4
PNAIC - Ano 02 unidade 4
 
Barbosa mcs
Barbosa mcsBarbosa mcs
Barbosa mcs
 
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafios
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafiosParceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafios
Parceria para Governo Aberto e Relações Internacionais: oportunidades e desafios
 
Dissertação -
Dissertação -Dissertação -
Dissertação -
 
Ano 02 unidade 4
Ano 02 unidade 4Ano 02 unidade 4
Ano 02 unidade 4
 
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?
A transexualidade como motivo de evasão escolar: uma realidade?
 

Último

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfElianeElika
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 

Hogwarts e a Escola Regular - As Implicações da Escola Regular no Cenário Bruxo. Ediana Ramos

  • 2. 2 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA EDIANA DOS SANTOS RAMOS HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO Niterói 2017
  • 3. 3 EDIANA DOS SANTOS RAMOS HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO Orientadora: Prof.a Dr.a Andrea Serpa Albuquerque Niterói 2017 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura em Pedagogia, como requisito parcial para conclusão do curso.
  • 4. 4
  • 5. 5 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA PARECER SOBRE MONOGRAFIA HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO Autora: Ediana dos Santos Ramos Orientadora: Prof.ª Drª. Andrea Serpa Albuquerque Parecerista: Prof.ª Dr.ª Margareth Martins de Araújo A presente monografia foi desenvolvida mediante análise documental e entrevistas com leitores da saga Harry Potter e teve na Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry, escola fictícia, como espaço de pesquisa. Investiga, analisar e discutir alguns aspectos presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando, maior ênfase à brasileira a autora buscou perceber quais os pontos relevantes do cotidiano escolar são recorrentes na literatura, no cinema e demais demonstrações artísticas. Também aprofundou alguns questionamentos como: Qual a razão? O que há de tão fascinante e/ou angustiante que inspira autores a trabalhar com tal temática e a nós reconhecê-los? É visível a dedicação de Ediana à realização processual deste estudo. Sugiro a ampliação do diálogo entre a teoria e a prática, o aprofundamento dos achados da pesquisa e, breve revisão. Certamente, no que se refere á tradução do movimento captado durante a pesquisa, esse é um estudo que muito tem a revelar ainda. Das Considerações finais destaco: A maior conclusão que tiro deste trabalho, é que o tema abordado não se trata de fatos isolados, acontecidos pelo acaso, possuem marcas, de tempos em tempos tendem a ressurgir e cabe a nós ficarmos atentos, não deixar as memórias se apagarem, principalmente as mais dolorosas e as utilizarmos para mostrar as futuras gerações a face conta qual devemos permanecer lutando, especialmente neste momento em que torna-se mais difícil preservar a história quando ela é intencionalmente apagada do currículo escolar. (Ramos, 2017:63) Por considerar as contribuições trazidas pela autora ao estudo do tema, entendo que esta monografia deva ser aprovada com nota 8,0 (oito). Niterói, 30 de junho de 2017. ____________________________ (Parecerista)
  • 6. 6 EDIANA DOS SANTOS RAMOS HOGWARTS E A ESCOLA REGULAR AS IMPLICAÇÕES DA ESCOLA REGULAR NO CENÁRIO BRUXO Aprovada em 30 de junho de 2017. __________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Andrea Serpa (orientadora) UFF - Universidade Federal Fluminense ___________________________________________________ Prof.ª Drª Margareth Martins de Araújo (parecerista) UFF- Universidade Federal Fluminense Niterói 2017 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura em Pedagogia, como requisito parcial para conclusão do curso.
  • 7. 7 À minha mãe por todos os incentivos, a Jo Rowling por me inspirar todos os dias e ao Dobby, o elfo livre.
  • 8. 8 AGRADECIMENTOS À meus pais e irmão pelo carinho, apoio, incentivo e investimento, especialmente a minha mãe que principalmente na reta final, falava o tempo "Ediana vá terminar essa monografia!" mesmo se eu estivesse dormindo. Rs! À minha orientadora Andrea por me dizer sim e com isso mesmo sem perceber, renovou minhas forças e a vontade de continuar. À Jo Rowling por ser um exemplo e ter nos presenteado com a Saga Harry Potter, responsável por me inspirar a seguir uma temática diferente neste trabalho de conclusão de curso e por ter permitido que estudasse sua obra para esta finalidade. À Silvia, Sabrina, Mattedi e Derek por serem os amigos mais incentivadores e presentes, sempre com uma palavra de apoio a cada capítulo que liam. À todos os professores que foram significantes na minha vida e na minha formação, não foi à toa que escolhi seguir esta carreira. À FEUFF por ter me ajudado a realizar um sonho de infância, fazer parte do seu corpo estudantil e sei o quanto amadureci principalmente como ser humano graças a tudo o que aprendi ali dentro. À Edith e Esteban pelos puxões de orelhas merecidos. Tourinho, Dácio, Jairo, Léa Calvão, Lygia Segala, Débora Costa, Isabela Marotto, Delou, Sepulveda, Tania de Vasconcellos, Alessandra Schueler, Eliane Arenas, Elza Dely, Hustana Vargas, André Martins, Maria Cecília, Percival, Parada, Jairo, Tânia Muller, Nicholas Davies, Tathianna Dawes, Isabel Fonseca e Maria Vittória por estimularem minha vontade de aprender cada vez mais. À Débora Costa, Renata Silva, Céldon e Margareth pelas dicas e percepções acerca do trabalho. Á Jéssica por ter estado comigo nos momentos em que mais precisei, foi mais fácil passar por isto com o seu apoio, sabendo que podia contar com alguém que estava passando pelo mesmo que eu e que me entendia. Ao Carlos, Lúcio, Valéria, Erica e Bruno pela disponibilidade, sensibilidade e vontade de ajudar sempre que recorri.
  • 9. 9 À Emily Muniz, Jéssica, Karen, Dani, Tamiris, Lud, Isis, May, Taye, Thayane, Simone, Sania, Léo, Stephany , Thai Cobucci, Aline Ribeiro, Carlos, Maryvalda, Tom Fletcher, Dougie Poynter, Emma Watson, May Nascimento, Aline Mary, Gabi Pant, Ana Salim, Kel, Lola, Diva, Jess, Monara, Susu, Quérol, Pri, Paola, Armada, Helga Hufflepuff, e a todos que se dispuseram a responder a entrevista: Liana Klein, Bárbara Ramirez, Silvia Wayne (de novo! Rs!!), Dal Prá, Carla Priscilla, Ana Beatriz Nunes, Isabelle Dias, Julia Mesquita, Ana Paula Souza, Raíssa Farias, Carla Cardoso, Marina Valle, Renan Pereira, F.G, Márcio Rebeque, Mayara Nascimento (novamenteee! Rs!), Jonathan, Claudia Arnéz e Livia Bravo. Vocês foram espetaculares!!!! E por fim gostaria de agradecer a galera do primeiro semestre de 2010/ Manhã pelas conversas no térreo, pelas risadas, pela unidade, pelo companheirismo e por ser a melhor turma que poderiam ser. Não foi por acaso que fomos parar todos juntos no mesmo lugar! Obrigada a todos por tudo!
  • 10. 10 Pode-se encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se a pessoa se lembrar de acender a luz. Joanne Kethleen Rowling
  • 11. 11 RESUMO Pontos relevantes do cotidiano escolar são recorrentes na literatura, no cinema e demais demonstrações artísticas. Qual a razão? O que há de tão fascinante e/ou angustiante que inspira autores a trabalhar com tal temática e a nós reconhecê-los? Partindo das minhas inquietações e questionamentos, decidi utilizar como objeto de estudos, Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry, a escola fictícia pertencente ao best-seller Harry Potter, e através dela tentar encontrar tais respostas. O presente estudo, tal qual objetivos, justificam-se pelo desejo de investigar, analisar e discutir alguns aspectos presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando maior ênfase à brasileira. A pesquisa pôde ser desenvolvida mediante análise documental e entrevistas com leitores da saga, tendo em vista a elucidação dos objetivos propostos. Cada livro da saga indiretamente pontua um ano letivo, embora um maior detalhamento no ponto de vista educacional ocorra no primeiro, quinto e sexto livros. Neste trabalho de conclusão de curso, será discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar, com a criação de Hogwarts e consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela muggle ou bruxa, pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade e suas desigualdades. Pretendo também relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o Regime Militar, com os dois maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa que resvalaram fortemente em Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição, precedida pela retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981. Palavras-chave: Hogwarts. Harry Potter. Escola Regular. Ditadura Militar. Movimento Estudantil.
  • 12. 12 ABSTRACT Relative matters of everyday school life are recurrent in literature, cinema and other artistic demonstrations. What is the reason? What is so fascinating and / or harrowing that inspires authors to work on such a topic and us to recognize it? Starting from my worries and questions, I decided to use as an object of study, Hogwarts School of Witchcraft and Wizardry, the fictional school belonging to the bestseller Harry Potter, and through it try to find such answers. The present study, as its objectives, is justified by the desire to investigate, analyze and discuss some items in Hogwarts, belonging to the regular school, in this case giving greater emphasis to the brazilian school. The research could be developed by documentary analysis and interviews with readers of the saga, in view of the elucidation of the proposed objectives. Each book in the saga indirectly marks a school year, although it occurs more detail in the educational point of view in the first, fifth and sixth books. In this work of conclusion of course, will be discussed the relation of the prejudice present in the daily school with the creation of Hogwarts and consequently, its subdivision in houses. The intention is to present how the school, whether muggle or witch, can be a reproducer of social dynamics, legitimizing the society and its inequalities. I intend also, to relevant aspects of Brazilian education during the Military Regime, with the two major blows suffered by the witch community that crashed heavily in Hogwarts: the intervention of the Ministry of Magic in the functioning of the institution, preceded by the retaking of Lord Voldemort to power interrupted in 1981. Keywords: Hogwarts. Harry Potter. Regular School. Military Dictatorship. Student Movement.
  • 13. 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AD ARMADA DE DUMBLEDORE ONU ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS OWLs ORDINARY WIZARDING LEVELS EXAMINATION NWETs NASLITY EXHAUSTING WIZARDING TEST ECA ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE URSS UNIÃO DAS REPÚBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS EUA ESTADOS UNIDOS DAAMÉRICA UnB UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA AI-5 ATO INSTITUCIONAL NÚMERO CINCO PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO MG MINAS GERAIS MIA MOVIMENTO ANTI-ARROCHO AP AMAPÁ CPDOC CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL FGV FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ABC SANTO ANDRÉ, SÃO BERNARDO DO CAMPO E SÃO CAETANO DO SUL UNE UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES MEC-Usaid MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-UNITED STATES AGENCY FOR INTERNATIONAL DEVELOPTMENT DAs DIRETÓRIOS ACADÊMICOS CAs CENTROS ACADÊMICOS DCEs DIRETÓRIOS CENTRAIS DOS ESTUDANTES UFRJ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ALERJ ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO
  • 14. 14 CCC COMANDO DE CAÇAAOS COMUNISTAS USP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO XXX TRIGÉSIMO UEE UNIÃO ESTADUAL DOS ESTUDANTES DOPS DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL DOI-CODI DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA PM POLÍCIA MILITAR DEIC DEPARTAMENTO ESTADUAL DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS DOI-CODI /MG DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / MINAS GERAIS DOPS/MG DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / MINAS GERAIS DOI-CODI/PR DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / PARANÁ DOPS/PR DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / PARANÁ DOI-CODI/PE DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / PERNAMBUCO CENIMAR/RJ CENTRO DE INFORMAÇÕES DA MARINHA / RIO DE JANEIRO DOI-CODI/RJ DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / RIO DE JANEIRO DOPS/RJ DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / RIO DE JANEIRO DOI-CODI/SP DESTACAMENTO DE OPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO - CENTRO DE OPERAÇÕES DE DEFESA INTERNA / SÃO PAULO DOPS/SP DEPARTAMENTO DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL / SÃO PAULO
  • 15. 15 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Charge "seleção justa".............. 30
  • 16. 16 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 17 2 ESCOLAS BRUXAS, MUGGLES E A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS......................................................................................................................... 21 2.1 EDUCAÇÃO: BEM EXCLUSIVO DA NOBREZA...................................................... 23 2,2 CONFUNDUS: COMO A ESCOLA REPRODUZ AS DESIGUALDADES SÓCIO- CULTURAIS..................................................................................................... 31 3 HOGWARTS, AME-A OU DEIXE-A ......................................................................... 39 3.1 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL NOS REGIMES DITATORIAIS ......................... 47 3.2 OPOSIÇÃO E MOVIMENTO ESTUDANTIL.............................................................. 52 3.3 TORTURA E DESAPARECIMENTOS ......................................................................... 57 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 63 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 66 APÊNDICE− ENTREVISTAS ..................................................................................... 69
  • 17. 17 1 INTRODUÇÃO Utilizando a saga Harry Potter como objeto de estudos - mais precisamente a escola em que os personagens centrais estudam - pude perceber claramente pontos presentes na generalização da escola que conhecemos, tão evidentes que senti-me motivada a escrever a respeito. Hogwarts of Witchcraft and Wizardry é uma escola fictícia da literatura britânica, presente nos livros: Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Harry Potter e as Relíquias da Morte e em filmes homônimos. Cada um dos seis primeiros livros representa um ano letivo do trio protagonista , embora seja no primeiro, quinto e sexto, que a escola ganha mais notoriedade no âmbito educacional. No primeiro, aborda-se a sua fundação, critérios utilizados para a admissão dos alunos, disciplinas lecionadas, a subdivisão da escola nas quatro casas que levam os nomes dos fundadores da instituição: Griffyndor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff. Cada uma com ideais próprios referentes à educação e ao que o indivíduo precisaria ter a priori para integrar uma das casas. Slytherin admitia os alunos oriundos da mais pura ancestralidade, Ravenclaw os de inegável inteligência, Griffyndor os de nomes ilustres por grandes feitos e Hufflepuff admitia a qualquer aluno, tratando-os com igualdade, pois acreditava na importância e no direito de todos frequentarem a escola, respeitando a subjetividade de cada um e as vivências que traziam consigo. Nos livros também estão presentes as consequências geradas por esta divisão, entre elas: o bullying contra os alunos pertencentes à famílias das classes populares; órfãos; inteligentes; a discriminação contra os muggles (não bruxos); bruxos nascidos em famílias muggles; mestiços1 (que tenha um dos pais muggle) e ainda contra os sangues-puros (descendentes de famílias genuinamente bruxas) que respeitam e/ou se relacionam com muggles,; a rivalidade entre alunos das casas distintas; uma parcela de professores priorizando e favorecendo os alunos pertencentes a suas casas, entre outras. No quinto livro há uma abordagem mais aprofundada em relação aos exames prestados: OWLs e NWETs. Os OWLs (Ordinary Wizarding Levels Examinations, em português, Níveis Trouxas em português1
  • 18. 18 Ordinários em Magia) são realizados pelos alunos no final do quinto ano. Dentre as disciplinas obrigatórias do ano, devem escolher algumas opcionais, para cada disciplina em que obtém uma aprovação, o aluno recebe um OWL, que serve como um indicativo das suas aptidões, determinando que disciplinas estudará no ano seguinte para prestar os NWETs. Os NEWTs (Nastily Exhausting Wizarding Test, em português, Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia), são exames finais realizados pelos alunos, no término do sétimo ano, dentre as matérias em que foram aprovados nos OWLs, os alunos escolhem que provas prestarão nos NWETs, a cada aprovação o aluno adquire um NWET, que serve como indicativo de aptidões mais "preciso" que nos OWLs, determinando precocemente o futuro acadêmico e profissional do aluno. É também neste mesmo livro que ocorre uma maior intervenção do Ministério de Magia em Hogwarts, o ministro baseado em seus medos e devaneios, acredita que o diretor Dumbledore está formando um exército com seus alunos para tira-lo do poder, por esta razão criou o cargo da Alta Inquisidora, que concedia ao ocupante poderes extraordinários sobre professores, alunos, funcionários e programa de estudos, o que inclui demissões, torturas e alterações na grade de disciplinas, tudo em nome da ordem. O próprio Ministério extinguiu o cargo quando voltou atrás e reconheceu o retorno do Lorde das Trevas e que não havia um complô para depô-lo. A única a ocupar a função foi a bruxa Dolores Umbridge. Hogwarts ainda foi votada como a 36ª melhor instituição de ensino escocesa em uma lista online de 2008, superando escolas reais. Segundo um dos diretores da Listagem da Rede de Escolas Independentes, a escola fictícia foi adicionada ao ranking apenas como "uma brincadeira", e depois esteve disponível ao voto, surpreendendo a todos com a sua posição na lista. A instituição é administrada por um diretor, possuidor de total poder sobre a escola, seguido do vice-diretor cuja função é de auxiliar o diretor e substituí-lo quando necessário. Ambos são supervisionados pelo conselho diretor, órgão formado por doze pais de alunos. Cada uma das quatro casas é administrada por um diretor, que possui poderes semelhantes aos do diretor e vice, podendo inclusive advertir, suspender e expulsar um aluno desde que pertencente a sua casa. Pode-se dizer que a administração do instituto é marcada por bastantes disputas ideológicas e de interesses, por todas as partes envolvidas, principalmente do Conselho Diretor, composto majoritariamente por indivíduos pertencentes às famílias mais tradicionais e influentes da comunidade bruxa. Quando nasce uma criança dotada de poderes mágicos, uma pena mágica localizada dentro do Castelo de Hogwarts escreve o seu nome em um grande livro, sejam essas crianças nascidas em família bruxas ou não. Anualmente, o diretor ou diretora da instituição consulta este livro e envia
  • 19. 19 corujas para todas as crianças que farão 11 anos, informando-as que possuem vagas asseguradas na instituição. O ano letivo inicia-se em 1º de setembro, com pausa no Natal, quando os alunos entram de férias, retornam após a Páscoa e tem seu término em 30 de junho quando retornam às férias. Os alunos pontuam ou perdem pontos para a sua casa, de acordo com o seu comportamento, participação em sala de aula e transgressões. Ao final do ano letivo, a Casa com a maior pontuação leva a Taça das Casas. Mais um fator considerável que ajuda a acirrar as disputas entre alunos e professores de Hogwarts. No último dia de aula quando a pontuação das casas é divulgada, o salão principal é decorado com as cores da casa campeã, finalizando mais um ano letivo. Como pudemos observar, Harry Potter fornece material suficiente para a elaboração de centenas de monografias, dificultando-me inicialmente a delimitação dos objetivos específicos graças as vastas possibilidades de aprofundamento encontradas no tema, inclusive no que diz respeito às atividades pedagógicas. O presente estudo, tal qual objetivos, justificam-se pelo desejo de investigar, analisar e discutir alguns aspectos presentes em Hogwarts, pertencentes à escola regular, neste caso dando maior ênfase à brasileira. No segundo capítulo será discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar, com a criação da escola fictícia Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria, pertencente a saga Harry Potter e consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela muggle (real) ou bruxa (fictícia), pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade como está posta e suas desigualdades. No terceiro capítulo pretendo relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o Regime Militar, com os dois maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa que resvalaram fortemente em Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição, precedido pela retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981. Estudos de (ADORNO ET AL. 1965; MARCUSE, 1972; KANT, 1992; FOCAULT, 1978; PATTO, 1984; OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER ,1986 ;BOURDIEU e PASSERON, 1975) entre outros, contribuíram significativamente para que eu pudesse traçar um caminho e começar a entender teoricamente a relação que buscava entre essas escolas de distintas realidades. A pesquisa pôde ser desenvolvida mediante análise documental e entrevistas com leitores da saga, tendo em vista a elucidação dos objetivos propostos. De acordo com Lakatos e Marconi (2001), podemos conceituar a pesquisa como procedimento formal com método de pensamento
  • 20. 20 reflexivo que requer um tratamento científico, constituindo-se no caminho para o conhecimento da realidade ou descobrimento de verdades parciais. Hogwarts e a Escola Regular marca seu início aqui, com o intuito de apontar que a ficção, embora não seja regra, pode atuar como um lembrete à sociedade (de modo geral) das suas conquistas, do preço possivelmente alto pago por elas e como uma amostra de que a qualquer tudo pode mudar, por um descuido podemos regredir. Considerando o atual momento político-social enfrentado pelo nosso país, retrocessos ocorrendo em outras partes do mundo, e a renovação da esperança pelos que persistem na luta e não nos deixam desistir, finalizo esta introdução com a seguinte citação que muito se faz presente "São tempos sombrios, não há como negar, nosso mundo jamais enfrentou ameaça maior. Mas agora digo a vós cidadãos, nós, sempre seus servos iremos continuar defendendo sua liberdade e repelindo as forças que querem tirá-la de vocês." Rowling (2007)2 Citação retirada do livro Harry Potter e as Relíquias da Morte.2
  • 21. 21 2 ESCOLAS BRUXAS, MUGGLES E A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS Neste capítulo será discutida a relação do preconceito presente no cotidiano escolar, com a criação da escola fictícia Hogwarts Escola de Magia e Bruxaria, pertencente a saga Harry Potter e consequentemente a sua subdivisão em casas. O intuito é apresentar como a escola, seja ela muggle3 ou bruxa, pode ser reprodutora da dinâmica social, legitimando a sociedade e suas desigualdades. A relação entre fatores sociais e psíquicos, é um dos principais aspectos sobre como o preconceito se configura. Estudos de Adorno et al. (1965) apontam o preconceito como constructo social, não inato. Ele se instala no desenvolvimento individual como um produto das relações entre os conflitos psíquicos e a estereotipia do pensamento - que já é uma defesa psíquica contra aqueles - e o estereótipo, o que indica que elementos próprios à cultura estão presentes. Conclui-se que o indivíduo propenso ao preconceito, o é, independente dos objetos sobre os quais recai, pois são inúmeros os estereótipos presentes no preconceito, constituindo-se de diversas formas, e dirigidos a objetos variados. Algo destes últimos deve estar presente para a constituição daqueles, ainda que não se refira aos próprios objetos, mas à percepção que se tem deles. A divergência contínua entre as minorias sociais traspassada pelo preconceito, é marcada pela oposição força-fraqueza que diz respeito à proximidade que cada qual é julgado da natureza que deve ser dominada. No entanto, como a dominação também se dá entre os homens, entende-se que é a própria natureza inerente ao homem atuando: O termo preconceito já teve diversos significados no decorrer do tempo: Refere-se à população não bruxa, em português (brasileiro) são chamados de trouxas.3 Hoje, quando a utopia baconiana de “imperar na prática sobre a natureza” se realizou uma escala telúrica, tornou-se manifesta a essência da coação que ele atribuía à natureza não dominada. Era a própria dominação. É a sua dissolução que pode agora proceder o saber em que Bacon vê a “superioridade do homem”. (ADORNO e HORKHEIMER, 1986, p. 52)
  • 22. 22 Marcuse (1972) aponta que na contrarreforma, que tinha como objetivo restaurar os bens e poderes à Igreja e a nobreza, o termo designava a representação dos dogmas, que deveriam ser aceitos sem questionamentos, de modo que não gerasse um "caos social". Kant (1992) em oposição, sugeria a "autonomia da razão" como "antídoto ao preconceito", neste caso os dogmas, que impediam o pensamento livre e a auto reflexão, Kant ainda dizia que esse processo de pensamento poderia retirar o indivíduo do seu "estado de menoridade". Focault (1978), por sua vez, mostra como o discurso sobre a loucura era utilizado como formas de poder, isolamento e punição. Tanto o saber médico, quanto a internação psiquiátrica, tornaram-se alguns dos instrumentos de poderes institucionais da época. Conseqüentemente, este saber médico juntamente com outras ciências podem ter sido os grandes responsáveis por estabelecerem a fronteira entre a racionalidade e a loucura sem ao menos ter total conhecimento de o que ela realmente é,.e a transforma em doença mental, visto que até o século XIX o preconceito era justificado como causa das circunstâncias sociais, passando então a ser também concebido como resultado da história de vida individual. Os valores excludentes e preconceituosos têm vida longa na cultura educacional brasileira. No início do século passado teorias baseadas em ideais biológicos justificavam as aptidões escolares como resultado da herança genética dos indivíduos. Nas décadas seguintes, despontam outras teorias, que vão alegar que os problemas escolares são: consequência de problemas psicológicos das crianças, carência cultural das mesmas, entre outras. A culpabilização recai sobre as vítimas. Segundo Patto (1984), existem dois modelos básicos que integram esta teoria: o nutricional e o cultural. O modelo nutricional considera que as crianças pobres são mais propensas a ser portadoras de deficiências, em decorrência de um processo de privação de determinados estímulos equivalente ao da privação alimentar, enquanto que o modelo cultural, entende que as crianças pobres têm uma cultura diferente da valorizada pela escola e, consequentemente, precisam passar por um processo de aculturação para que possam finalmente ter condições de aprender os conteúdos escolares. Estes tipos de teorias possibilitam que a escola se isente de suas responsabilidades quanto a relação ensino/aprendizagem e que os problemas escolares sejam explicados como
  • 23. 23 conseqüência dos problemas dos próprios alunos e/ou de suas famílias. As práticas escolares deixam de aparecer como algo possível de ser conquistado. Segundo Adorno (1967/1995), a educação também deve se voltar para a adaptação, e essa envolve não só a socialização, que é relevante, mas também o desenvolvimento de habilidades e a assimilação de conteúdos, inevitáveis para a participação na sociedade. Adorno também aponta, que a educação deve ir além da adaptação, e que a discussão e a prática da educação inclusiva podem ser determinantes para isso, na medida em que combatem a discriminação, caberia a elas mostrar como que a desigualdade se configura, que é construída socialmente. 2.1 EDUCAÇÃO: BEM EXCLUSIVO DA NOBREZA A educação adquire sua forma característica, com espaços reconhecidos, ministrada por pessoas especializadas para este fim (curiosamente quase que em sua totalidade religiosas, e pela primeira vez independente do universo adulto, embora descolada da realidade), a partir da Idade Média, no continente europeu. Por séculos este espaço educacional foi exclusivo das grandes elites. Num primeiro momento era frequentado pelos nobres, quando a burguesia ascendeu financeira e socialmente, passou a exigir os mesmos privilégios que a fidalguia. A escola da Nobreza cultuava o passado: atribuía importância central à moral e à religião, ao domínio da palavra e do saber abstrato. O conhecimento científico, portador de mudanças, era menos importante que o espírito contemplativo e o latim, símbolos da tradição a preservar, num mundo que se considera imune à transformação. A cultura livresca, refinada e letrada, convivia harmoniosamente com o meio de origem dos alunos e correspondia às suas aspirações. Para os herdeiros da aristocracia, seguros de seu poder, educar-se era sinônimo de aprender a pensar e comporta-se como grandes senhores. A escola da Nobreza durou até que as estruturas do mundo feudal, rígidas e hierarquizadas, se tornassem anacrônicas por causa do desenvolvimento do capitalismo industrial. A face do mundo transformou-se pela invenção da máquina e a utilização de novas fontes de energia. Com a revolução tecnológica, novas classes sociais emergiram: a nascente burguesia industrial, responsável pelo progresso técnico, tomou o poder da velha aristocracia rural; uma classe operária formada pela concentração, em torno de novos centros de produção, de uma mão-de-obra pobre e desclassificada. Neste panorama de um mundo em mudança, a escola mantinha-se reservada às elites. No entanto, o desenvolvimento industrial requer um número muito maior de quadros técnicos e científicos. Esta exigência econômica leva a uma mudança radical nos conteúdos da escola. Ela é forçada a se modernizar.
  • 24. 24 O preconceito institucionalizado no sistema educacional assim como o ideal de uma educação diferenciada como bem exclusivo aos detentores de capital sejam eles financeiros, sociais e/ou culturais perpetua-se. Moura (2007) evidencia-nos uma de suas facetas para a manutenção do status quo, especialmente no cenário brasileiro, no decurso de sua tese de doutorado intitulada: O recurso às escolas internacionais como estratégia educativa de famílias socialmente favorecidas. Através de apontamentos da autora, por intermédio de entrevistas com alunos, pais, professores e equipe pedagógica de escolas internacionais de renome, destinada às elites, a escola americana EABH e a escola italiana Fundação Torino, sediadas em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, e minha breve pesquisa acerca de duas escolas tradicionais britânicas, em suas próprias fanpages - Saint Paul's School e The British School - localizadas respectivamente em São Paulo e Rio de Janeiro, percebemos como se dão na prática a preservação da escola como instituição mantenedora das desigualdades sociais assim como configuram-se as estratégias de socialização, estratégias estas que de acordo com Bonnet (2001) buscam favorecer a emergência de disposições transnacionais, um recurso encontrado pelas elites para perpetuar a sua posição na estrutura social, por constituirem fator de diferenciação na sociedade. Com exceção da Fundação Torino inaugurada em 1956, estas instituições internacionais iniciaram suas atividades no Brasil nos anos 20. Surgem inicialmente como uma tentativa de suprir as necessidades de atendimento a filhos de imigrantes residentes no Brasil, ligadas à trajetória de diferenciação e inserção desses grupos no país e em seus países de origem, admitindo posteriormente de forma gradual, alunos brasileiros e de outras nacionalidades, oriundos das camadas mais abastadas da sociedade. "Utilizadas pelas frações privilegiadas dos grupos estrangeiros desde o início do século XX, as escolas internacionais garantiram a acumulação de As disciplinas científicas adquiriram importância crescente ao lado dos antigos conteúdos clássicos e literários. Por outro lado, a burguesia dominante, começou também a perceber a necessidade de um mínimo de instrução para a massa trabalhadora que se aglomerava nos grandes centros industriais. Os "ignorantes" deveriam socializar- se, isto é, deveriam ser educados para tornar-se bons cidadãos e trabalhadores disciplinados. Foi assim que, paralelamente à escola dos ricos, foi surgindo uma outra escola, a escola dos pobres. Sua função era dar aos futuros operários, o mínimo de cultura necessário à sua integração por baixo na sociedade industrial. A coexistência desses dois tipos de escola cria uma situação de verdadeira segregação social. As crianças do "povo" frequentavam a "escola primária", que não é concebida para dar acesso a estudos mais aprofundados. As crianças da elite seguiam um caminho, à parte com acesso garantido ao ensino superior, monopólio da burguesia. (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER 1986 p.29)
  • 25. 25 capital simbólico por esses sujeitos, essencial à sua distinção social e inserção na sociedade brasileira." (MOURA, 2007, p.19) As famílias brasileiras também utilizaram-se de estratégias de acumulação de capital internacional por via escolar, contribuindo deste modo, na formação de várias gerações de famílias tradicionais no país. A possibilidade de “escolha do estabelecimento” de ensino capaz de suprir suas necessidades e expectativas, aflora como uma estratégia que dá-se de maneira desigual entre grupos sociais distintos, privilegiando os mais favorecidos de capitais social, cultural e econômico. Confirmando que a posse de tais recursos possibilita a seus detentores reconhecer suas melhores chances e possibilidades, e por conseguinte tirar o proveito máximo em sua atuação no mercado escolar. Gewirtz, Ball e Bowe (1994) ressaltam a escolha do estabelecimento como um novo e considerável fator de manutenção da hierarquia de posições dos sujeitos no espaço social, assim como das desigualdades sociais. Através de suas pesquisas em escolas suíças, percebem que Prado (2002) ressalta que a ampliação do acesso à escola para as camadas populares no Brasil, deu-se paralelamente a redução do ensino de línguas estrangeiras nos currículos escolares, antes muito presente, em especial estudos de Alemão, Francês e Inglês. A LDB 5692/71 tornou facultativa o seu oferecimento, desencadeando no seu desaparecimento em boa parte das escolas, gerando um acesso majoritário ao acesso às línguas estrangeiras para as grandes elites. Quando a escola pública era privilégio das camadas mais abastadas, o acesso a novos idiomas se dava através dela, no momento em que a população menos favorecida passa a frequentar os espaços acadêmicos, surgem cursos privados (Cultura Inglesa,Aliança Francesa, entre outros), as novas instituições responsáveis pela educação no que se refere ao ensino de idiomas à elite brasileira. O domínio e a utilização de uma língua estrangeira torna-se mais uma fonte de distinção entre os grupos sociais. Esse processo de escolha é fortemente influenciado pelas condições sociais, os estilos de vida e a biografia de quem a efetua. Uma contribuição importante desses autores é o estabelecimento de uma tipologia que congrega três perfis de famílias quanto à ação de escolha que, segundo eles, encontram forte correspondência com as posições de “classe” desses grupos. Os “privileged/ skilled choosers” são, em geral, famílias favorecidas, habilitadas à escolha porque dotadas dos recursos culturais, econômicos e sociais que possibilitam discernir entre as melhores oportunidades. Os “semi-skilled choosers” são famílias que se encontram em posições intermediárias da escala social e revelam pouca capacidade para realizar tal escolha porque não dispõem dos recursos que possibilitariam decodificar as diferentes mensagens do mercado escolar. Os “disconnected choosers”, finalmente, são famílias de trabalhadores manuais, não inclinados à escolha, “desconectados” do mercado escolar porque não sensibilizados para as possíveis vantagens que uma ou outra escola possa oferecer. (MOURA, 2007, p.22)
  • 26. 26 Moura (2007) constata através dos depoimentos colhidos durante às entrevistas, uma "evidente perseguição de bens culturais mais raros, proporcionados pela escola, diante de outros percebidos como mais disseminados, menos exclusivos." Alguns recursos têm seu valor simbólico depreciado, o que representa uma ameaça à distinção daqueles que tinham, até então, seu monopólio (BOURDIEU, 1979). A pesquisadora acrescenta ainda, que essa desvalorização corresponde à estratégias e investimentos em produtos ou práticas menos acessíveis, na busca de manutenção da posição de privilégio já conquistada Jay (2002) destaca a relevância da variável homogeneidade social e econômica como critério dos pais no momento da escolha. O alto custo financeiro de determinados estabelecimentos já exclui, por si só, os grupos sociais que não têm condições de assumir tal investimento. Essa distinção econômica contribuiria, para assegurar famílias que buscam na escola um prolongamento das relações sociais protegidas entre iguais. Essa preocupação específica está presente em relatos que criticam a heterogeneidade social das escolas nacionais. Moura (2007) discorre acerca da hierarquia assentida e compartilhada "pelos sujeitos envolvidos nesse jogo escolar - pais, estudantes e professores - não diz respeito somente aos professores e às disciplinas. Está na origem ainda de diferentes posições que os próprios alunos se atribuem." A soma dos relatos dos entrevistados, demonstra a existência de um ambiente hierarquizado de relações, baseada em disputas e crenças em torno de capitais específicos. Na escola italiana a relação de conflito ficou mais evidente, seus estudantes mostram-se convictos da singularidade da instituição e de quem o frequenta, inclusive no ponto de vista econômico, percebendo-se "diferentes e invariavelmente, superiores." O evitamento do contato social parece conter,em sua origem, uma espécie de medo de ser confundido com disposições reconhecidas como próprias dos estudantes brasileiros, e um desejo de demarcar fronteiras claras de distinção entre “nós” e “eles” (ELIAS, 1997, p.278) Essa segurança da superioridade da própria formação ou cultura, porque européias, não apóia-se, necessariamente, em práticas de investimento pessoal para tal aquisição. É o caso, por exemplo, de uma aluna que se vê mais culta que seus amigos que estudam em escolas brasileiras. Assim, eu, na quinta série, eu aprendi a cantar a nona de Beethoven em dialeto italiano. Eu, com dezesseis anos ... com ... não, na sétima ou oitava série, eu estava lendo é ... eu estava lendo ... é ... Odisséia, sabe? Então é assim ... umas coisas que no colégio brasileiro você nunca vai fazer! Então ... eu estava lendo Ítalo Calvino, li Italo Calvino ... então ... Ah ... nossa! Isso daí ... minha cultura, eu tenho certeza que é muito maior do que a das minhas amigas! Bem maior!' (Ex-aluna do ensino fundamental e médio) (MOURA, 2007, p.117)
  • 27. 27 A aluna deixa transparecer em sua fala, a convicção de que o simples fato de pertencimento ao colégio, a torna automaticamente "especial, detentora de conhecimentos distintivos, em comparação aos alunos de outras instituições. O acúmulo de capital cultural pressupõe um trabalho de inculcação e assimilação que necessita de um investimento de tempo pelo investidor" (BOURDIEU, 1979). Nas escolas de língua inglesa, a sensação de pertencimento parece se reforçar pelos pares que se reconhecem (além dos capitais cultural, econômico e social) pelo domínio do idioma. Esta particularidade em questão também apresenta-se como um fator que separa esses grupos, que se percebem como "internacionais" dentre os brasileiros. A convivência diária prolongada, atividades extracurriculares, reuniões, eventos que contam com a presença de pais e responsáveis, reforça a ideia de pertencimento a uma comunidade, comunidade esta dissociada da que de fato está inserida. A sensação de não pertencimento é evidenciada na fala da mãe de um aluno da escola americana. que identifica o "ser vulgar" como característica típica do brasileiro. A escola funciona para ela como um ambiente capaz de blindar seus filhos de uma espécie de contaminação de traços brasileiros indignos. Apesar dos esforços de evitar contato com não semelhantes, alunos bolsistas (embora minoria), cujas famílias não teriam condições financeiras de arcar com os custos da sua educação na instituição, estudam na EABH. Este fato aparece no discurso como um ponto positivo, até romantizado, de acordo com a escola não existe preconceito ou discriminação, todos convivem em harmonia e recebem tratamento igualitário. Entretanto alunos, ex-alunos e ex-professores, relatam a exclusão de alunos pelos mais variados motivos, seja por serem muito estudiosos (nerds), bolsistas, "esquisitos", não possuírem celulares de última geração ou não frequentarem os mesmos espaços, entre outros, como prática costumeira na instituição. Lá no [escola confessional brasileira] não existia, era tudo assim, muito homogêneo, mas eu achava que era homogêneo para baixo. Eu achava assim, que meus meninos é ... eles tinham condições de conviver num ambiente melhor. Lá era meio ... eu achava meio misturado, sabe? [...] Eu achei, por exemplo, que o [nome da escola], por exemplo, é ... os pais ... às vezes, não é gente ... assim do ... do seu nível, sabe ... é ... econômico, social, cultural ... assim, meio misturado. Tem também do seu jeito, mas tinha também um pessoal que não era, sabe? Aí eu achava assim, às vezes eu ia levar os meninos numas casas que ficam ... uns colegas que moravam láááá ... sabe? Uns lugares assim ... difíceis. Aí os meninos vinham aqui em casa, ficavam achando aqui em casa esquisito. Eu achava que não ... Tinha outros que tinham até umas coisas melhores, mas eu ... eu achava muito ... sabe? (Mãe de aluno do ensino médio) (MOURA, 2007, p. 136)
  • 28. 28 Percebemos que a escola tradicional, independente da sua roupagem, tende a prezar pela manutenção da elite no topo da pirâmide social, consequentemente contribuindo nas práticas de exclusão dos indivíduos pertencentes às classes menos abastadas. Como bem nos lembram Pinçon e Pinçon-Charlot (1996) "os mais assegurados de suas posições sociais, são os que dominam as novas dimensões de regras do jogo." O sentimento de pertencimento de alguns pais e responsáveis à uma comunidade particular, privada, e não reconhecimento da macro, onde estão de fato inseridos por considerarem "vulgar", assim como o preconceito e discriminação dentro e fora da escola, em diversos aspectos, também estão presentes no universo fantástico de Harry Potter. Através da utilização do mesmo como ilustração dos conceitos e fatores já abordados neste capítulo, pretendo a partir deste trecho, iniciar a apresentação de exemplos de como o preconceito pode apresentar-se no sistema educacional, perceptível , neste caso, inclusive na ficção. Estima-se que Hogwarts, a instituição fictícia da saga, foi fundada por volta de 990 d.C. na Escócia por quatro dos bruxos mais brilhantes da história: Godric Gryffindor, Salazar Slytherin, Helga Hufflepuff e Rowena Ravenclaw. Decidiram que juntos fundariam uma escola de referência e ensinariam jovens que apresentassem algum talento mágico. Considerando que a escola bruxa surgiu no final da Idade Média, no continente europeu, é possível conceber a ideia de que ela foi criada seguindo os padrões das escolas do mesmo período,4 entre eles: o culto a tradição, a educação como sinônimo de aprender a se comportar e pensar como Hogwarts trata-se de uma escola existente apenas na ficção e no coração dos admiradores da saga.4 Coincidentemente o ano da sua fundação (embora fictícia) ocorreu no mesmo período que as escolas do mundo real, possibilitando assim as comparações, suposições e ilustrações no decorrer do trabalho. Eu sou ... eu sou uma não fã da escola americana. Tirando o fato que foi a época mais infeliz da minha infância, eu convivi com pessoas ignorantes, pessoas superficiais, materialistas ... preconceituosas, egoístas [...]. Então, o que eu me lembro, com muita angústia, com muita mágoa, sabe ... se você não tem seu automóvel, se você não é rico, se você não tem isso [...] Eu detesto a escola americana, eu não tinha um amigo, as pessoas lá ... sabe, ninguém conversava comigo ... Mas eu não era assim “a rejeitada” não. Eu era uma das rejeitadas! (Ex-aluna do ensino fundamental, 19 anos) E as pessoas de lá são muito assim ... sabe, meio mesquinhas, elas acham que elas são superiores a todo mundo que [...] Sei lá, acho que pela condição financeira delas ... se achavam superiores. Eu tinha muito problema de convivência mesmo. Depois que eu passei pra [escola brasileira que freqüenta atualmente] eu não tive mais esse problema porque as pessoas são mais ... sei lá, educadas ... elas não têm muito aquela coisa de ficar exibindo o que têm. (Ex- aluna D do ensino fundamental) (MOURA, 2017 p.201)
  • 29. 29 "grandes senhores", a manutenção do espaço como um lugar exclusivo à nobreza (na concepção de Salazar Slytherin) entre outras. Analisando o contexto, torna-se possível compreender o caráter excludente tão presente nos seus anos iniciais em algumas de suas casas, assim como a valorização de ideais específicos, mesmo nos dias atuais. Para compreender como tais arquétipos se constituem em Hogwarts, é preciso conhecer a história da criação da escola, assim como a sua subdivisão em casas, Rowling (2003) elucida o5 ocorrido, através da seguinte canção: Autora da Saga Harry Potter.5
  • 30. 30 A escola inteira aguardava, prendendo a respiração. Então, o rasgo junto a copa do chapéu escancarou-se como uma boca, e o Chapéu Seletor prorrompeu a cantar: Antigamente quando eu era novo E Hogwarts apenas alvorecia Os criadores de nossa nobre escola Pensavam que jamais iriam se separar: Unidos por um objetivo comum, Acalentavam o mesmo desejo, Ter a melhor escola de magia do mundo E transmitir seus conhecimentos. "Juntos ensinaremos!" Decidiram os quatro bons amigos Jamais sonhando que chegasse o dia Em que poderiam se separar, Pois onde se encontrariam amigos iguais A Salazar Slytherin e Godric Griffyndor? A não ser em outro par semelhante Como Helga Hufflepuff e Rowena Ravenclaw? A não ser em outro par semelhante Então como pôde malogar a ideia E toda essa amizade fraquejar? Ora estive presente e posso narrar Uma história triste e deplorável. Disse Slythrin: "Ensinaremos só os da mais Pura ancestralidade" Disse Ravenclaw: "Ensinaremos os de Inegável inteligência" Disse Griffyndor: " Ensinaremos os de Nomes ilustres por grandes feitos" Disse Hufflepuff: "Ensinarei todos, E os tratarei com igualdade." Diferenças que pouco pesaram quando no início vieram a luz Pois cada fundador ergueu para si Uma casa em que pudesse admitir Apenas os que quisesse, Por isso Slytherin, aceitou apenas os bruxos De puro-sangue e grande astúcia, Que a ele pudessem a vir igualar, E somente os de mente mais aguda Tornaram-se alunos de Ravenclaw, Enquanto os mais corajosos e ousados Foram para o destemido Gryffindor. A boa Hufflepuff recebeu os restantes E lhes ensinou tudo que conhecia, Assim casas e idealizadores
  • 31. 31 Salazar Slytherin6 ( S o n s e r i n a n a tradução brasileira), como evidencia o texto, considerava a e s c o l a c o m o a m b i e n t e privilegiado, para eleitos, a inclusão de alunos pertencentes as camadas mais populares do povo bruxo, ou ainda da população muggle, traria desprestígio e u m a q u e d a significativa no a n d a m e n t o d a instituição, pois tais pessoas não seriam psicologicamente capazes e nem teriam bagagem cultural suficiente para assimilação de conteúdos específicos presentes numa, como eles intitulavam, escola de referência. Jo Rowling viveu alguns anos em Portugal, utilizando alguns aspectos do país para desenvolver a sua6 escrita. O personagem Salazar Slytherin, um dos fundadores de Hogwarts foi inspirado em Antonio de Oliveira Salazar, um professor e político português, figura máxima do chamado "Estado Novo Português", o dirigente português que mais tempo permaneceu no poder dentro do período republicano, ditador que infligiu restrições severas à Portugal e às então colônias portuguesas na África por 50 anos. Mantiveram a amizade firme e fiel. Hogwarts trabalhou em paz e harmonia Durante vários anos felizes, Mas então a discórdia se insinuou Nutrida por nossas falhas e medos. As casas que, como quatro pilares, Tinham sustentado o nosso ideal, Voltaram-se umas contra as outras e Divididas buscaram dominar. Por um momento pareceu que a escola Em breve encontraria um triste fim, Os duelos e lutas constantes Os embates de amigo contra amigo E finalmente chegou uma manhã Em que o velho Slytherin se retirou E embora a briga tivesse cessado Deixou-nos todos muito abatidos. E nunca desde que reduzidos A três seus quatro fundadores As Casas retomaram a união Que de início pretenderam manter. E agora o Chapéu Seletor aqui está E todos vocês sabem por quê: Eu divido vocês entre as casas Pois esta é minha razão de ser Mas este ano farei mais que escolher Ouçam atentamente a minha canção: Embora condenado a separá-los Preocupa-me o erro de sempre assim agir Preciso cumprir a obrigação, sei Preciso quarteá-los a cada ano Mas questiono se selecionar Não poderá trazer o fim que receio. Ah, conheço os perigos, os sinais Mostra-nos a história que tudo lembra, Pois nossa Hogwarts corre perigo E precisamos unir em seu seio Ou ruiremos de dentro para fora Avisei a todos, preveni a todos... Daremos agora início à seleção. (ROWLING, 2003, p.170/172)
  • 32. 32 2.2 CONFUNDUS :COMO A ESCOLA REPRODUZ AS DESIGUALDADES SÓCIO-7 CULTURAIS Figura 1: Fonte: Facebook (2016) Charges e demais publicações que criticam esta lógica são veiculadas com uma frequência considerável em redes sociais como: Twitter, Tumblr e o mais difundido, Facebook. Uma delas apresenta animais de diversas espécies reunidos: macaco, pinguim, elefante, foca, um peixe num aquário, entre outros. Um professor, informa que todos "numa seleção justa" deverão realizar uma única tarefa, subir na árvore, dentre todos o macaco é o único presente capaz de realizar a tarefa sem a necessidade de uma mediação. Esta charge mesmo apesar de já possuir um certo tempo de publicação, gera muitas discussões entre apoiadores e opositores, é explícita a crítica ao sistema educacional, que trata os diferentes como iguais, colocando todos no mesmo patamar, sem mediação, como se não tivessem vida anterior a escola e fora dela, desconsiderando sua realidade e as vivências que trazem consigo. Bourdieu ainda afirma que A escola define seus eleitos, através do capital cultural. Legitimado pela escola, este capital torna-se valorizado, entendido como algo a ser conquistado pelos indivíduos que buscam permanecer na escola, desta forma a elite assegura a sua posição. A criança chega à escola trazendo experiências, atitudes, valores, hábitos de linguagem compartilhada por seus familiares e o meio social em que está inserida, lugar onde desenvolveu sua personalidade, afetividade, entre outros. A cultura valorizada pela escola, é a mesma cultura que permeia a vida das classes abastadas, ou seja, as crianças desse meio social têm acessos, desde os primeiros momentos de suas vidas, inclusive à linguagem exigida pela escola. Estas crianças se sentirão muito mais pertencentes ao ambiente escolar, suas particularidades e suas cobranças. Feitiço de ação presente no universo bruxo. Faz com que a vítima fique confusa quanto a tudo que se passa7 a sua volta. [...] não recebendo de suas famílias nada que lhes possa servir em sua atividade escolar, a não ser uma espécie de boa vontade cultural e vazia, os filhos das classes medias são forçados a tudo esperar e a tudo receber da escola, e sujeitos, ainda por cima a ser repreendidos pela escola por suas condutas por demais “escolares” [...] (BOURDIEU e PASSERON, 1975, p.55).
  • 33. 33 Em contrapartida, as crianças oriundas das camadas populares podem sentir um estranhamento quanto os valores, linguagem, normas da escola que em grande maioria são diferentes dos que estão acostumadas. Se sentirão inferiorizadas por não poderem trazer para a escola, a sua maneira de falar. "Elas se sentirão perdidas diante da falta de sentido e utilidade imediata dos exercícios escolares, confusas pelo lado artificial das situações vividas em sala de aula" (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER 1986 p.75) Bortoni-Ricardo (2004) enfatiza que devemos considerar que o Brasil é um país monolíngue. A escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas ou tratá-las com indiferença, a comunidade escolar como um todo deve estar consciente da existência de mais de uma maneira de se falar a mesma coisa. Cabe a escola incentivar o emprego criativo e competente do Português, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de um sentimento de segurança em relação à utilização da língua. No universo literário da franquia Harry Potter, Hogwarts ilustra com clareza as consequências dessa valorização da elite pela escola, assim como sua cultura, através principalmente da subdivisão da instituição em casas e o que dela se desencadeia, gerando disputas e enfrentamentos no decorrer dos anos em diversas instâncias. Na instituição, por parte de alguns professores protegendo e privilegiando os alunos pertencentes às suas próprias casas e punindo os demais. Punições certas vezes acompanhadas de perseguição e humilhação na frente dos colegas. Severus Snape é o professor que melhor exemplifica a parcialidade e a perseguição. É possível perceber a ocorrência nos seguintes trechos: A escola trata a todos da mesma maneira, todos devem ter o mesmo ritmo de trabalho, com o mesmo livro, mesmo material, todos devem aprender as mesmas frases, saber as mesmas palavras. Todos devem adquirir os mesmos conhecimentos, devem fazer os mesmo exames ao mesmo tempo. (OLIVEIRA; OLIVEIRA; CECCON; HARPER 1986 p. 54)
  • 34. 34 Alguns alunos p o r s u a v e z , s e empenhavam em fazer com que seus colegas pertencentes às outras casas perdessem os pontos necessários para a conquista da Taça das Casas , outros iam mais8 além, fazendo uso de ameaças, agressões físicas e psicológicas, principalmente os da Sonserina (Slytherin), por serem quase que em sua totalidade oriundos de famílias abastadas, influentes e de sangue puro, se achavam superiores ao demais, e beneficiavam-se da posição social para humilhar os outros, sobretudo os da Lula-Lufa (Hufflepuff) considerados perdedores, sem talento e inferiores justamente por pertencerem a casa que desconsiderava os dons inatos e adquiridos, essa rejeição quanto a casa é tão forte que uma parcela considerável dos leitores também a rejeitam por esta9 Taça das Casas trata-se de uma premiação que ocorre no final de cada ano letivo em Hogwarts, recebida pela casa que8 obtiver mais pontuação. Os alunos ganham ou perdem pontos para suas casas através de comportamento, participação em aula, vitórias no Quadribol (Quidditch) esporte popular entre os bruxos semelhante ao futebol e basquete, e etc. Através das entrevistas pude comprovar a rejeição de uma parcela significativa dos leitores da saga quanto a casa9 Lufa-Lufa (Hufflepuff). Snape como Flitwick, começou a aula fazendo a chamada e, como Flitwick, ele parou no nome de Harry. - Ah, sim - disse baixinho. - Harry Potter. A nossa nova celebridade. Draco Malfoy e seus amigos Crabbe e Goyle deram risadinhas escondendo a boca com as mãos. Snape terminou a chamada e encarou a classe. Seus olhos eram negros como os de Hagrid, mas não tinham o calor dos de Hagrid. Eram frios e vazios e lembravam túneis escuros. ... - Potter! - disse Snape de repente. - o que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna? Raiz do quê em pó a uma infusão do quê? Harry olhou para Rony, que parecia tão embatucado quanto ele; a mão de Hermione se ergueu no ar. - Não sei não senhor - disse Harry. A boca de Snape se contorceu num riso de desdém. - Tsc, tsc, a fama pelo visto não é tudo. E não deu atenção à mão de Hermione. [...] Caminhava imponente com sua longa capa negra, observando-os pesar urtigas secas e pilar presas de cobras, criticando quase todos, exceto Draco, de quem parecia gostar. Tinha acabado de dizer a todos que olhassem a maneira perfeita com que Draco cozinhara as lesmas quando um silvo alto e nuvens de fumaça acre e verde invadira as masmorras, Neville conseguira derreter o caldeirão de Simas transformando-o em uma bolha retorcida e a poção dos dois estava vazando pelo chão de pedra, fazendo furos nos sapatos dos garotos. Em segundos, a classe toda estava trepada nos banquinhos, enquanto Neville, que se encharcara de poção quando o caldeirão derreteu, tinha os braços e pernas cobertos de furúnculos vermelhos que o faziam gemer de dor. - Menino idiota! - vociferou Snape, limpando a poção derramada com um aceno de sua varinha. - Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho antes de tirar o caldeirão do fogo? Neville choramingou quando os furúnculos começaram a pipocar em seu nariz. - Levem-no para a ala do hospital - Snape ordenou a Simas. Em seguida voltou- se zangado para Harry e Rony, que estavam trabalhando ao lado de Neville. - Você Potter porque não disse a ele para não adicionar as cerdas? Achou que você pareceria melhor se ele errasse, não foi? Mais um ponto que você perdeu para a Grifinória. A injustiça foi tão grande que Harry abriu a boca para argumentar, mas Rony lhe deu um pontapé por trás do caldeirão. - Não force a barra - cochichou - Ouvi dizer que Snape pode ser muito indigesto. (ROWLING,, 2000, p.102/104)
  • 35. 35 razão. Os alunos e ex-alunos da Sonserina são descritos em sua grande maioria como pessoas arrogantes, preconceituosas, egoístas, desleais e não confiáveis. Durante uma conversa informal entre Draco Malfoy e Harry Potter, antes mesmo do ano início do ano letivo e de serem selecionados para suas respectivas casas, fica claro nas suas falas o preconceito com os nascidos muggles e com os alunos da Lufa-Lufa (Hufflepuff), uma reafirmação à crença de como a escola, mesmo na literatura, pode legítimar apenas os bem nascidos, além de d e i x a r transparecer a pressão familiar para que pertença a mesma casa que o restante da família: M a l f o y p r o t a g o n i z o u (...)Já sabe em que casa você vai ficar? - Não - respondeu novamente Harry sentindo-se a cada minuto mais idiota. - Bom, ninguém sabe mesmo até chegar lá, não é, mas sei que vou ficar na Sonserina, toda nossa família ficou lá, imagina ficar na Lufa-Lufa, acho que saíria da escola, Três garotos entraram e Harry reconheceu o do meio na hora: era o garoto pálido da loja de vestes de Madame Malkin. Olhou para Harry com um interesse muito maior do que revelara no Beco Diagonal. - É verdade? - perguntou. - Estão dizendo no trem que Harry Potter está nesta cabine. Então é você? - Sou - respondeu Harry. Observava os outros garotos. Os dois eram fortes e pareciam muito maus. Postados dos lados do menino pálido eles pareciam guarda-costas. - Ah, este é Crabbe e este outro, Goyle - apresentou o garoto pálido displicentemente, notando o interesse de Harry. - E meu nome é Draco Malfoy. Rony tossiu de leve, o que poderia estar escondendo uma risadinha. Malfoy olhou para ele. - Acha o meu nome engraçado, é? Nem preciso perguntar quem você é. Meu pai me contou que na família Weasley todos têm cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que podem sustentar. Virou-se para Harry. - Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso. Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, mas Harry não a apertou. - Acho que seu dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado - disse com frieza. Draco não ficou vermelho, mas um ligeiro rosado coloriu seu rosto pálido. - Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry - disse lentamente. - A não ser que seja mais educado, vai acabar como os seus pais. Eles também não tinham juízo. Você se mistura com gentinha como os Weasley e aquele Rúbeo e vai acabar se contaminando. (ROWLING,2000, p.82) Já sabem em qual casa vão ficar? Andei perguntando e espero ficar na Grifinória, me parece a melhor, ouvi dizer que o próprio Dumbledore foi de lá, mas imagino que a Corvinal não seja muito ruim... Em todo o caso, acho melhor irmos procurar o sapo de Neville. E é melhor vocês se trocarem, sabe, vamos chegar daqui a pouco. E foi-se embora, levando o menino sem sapo. - Seja qual for a minha casa, espero que ela não esteja lá - comentou Rony. E jogou a varinha de volta na mala. - Feitiço besta. Foi o Jorge que me ensinou, aposto que sabia que não restava. - Em que casa estão seus irmãos? - perguntou Harry. - Grifinória - A tristeza parecia estar se apoderando dele outra vez. - Mamãe e papai estiveram lá também. Não sei o que vão dizer se eu não estiver. Acho que a Corvinal não seria muito ruim, mas imagine se me puserem na Sonserina. (ROWLING, 2000, p.81)
  • 36. 36 outros momentos preconceituosos que merecem destaque: Considerando o fator familiar, alguns estudantes sofrem bastante pressão da família, velada ou não, para que pertençam a mesma casa e internalizam-na.10 Harry Potter e Hermione Granger são dois personagens muito interessantes, Hermione por ter nascido em família muggle e Harry por ter vivido em um lar muggle entre seus 1 e 11 anos, transitaram por escolas regulares (também fictícias) e do universo bruxo. No que diz respeito à Hermione, os livros não mencionam sua trajetória discente anterior a Hogwarts, mas Harry, por sua vez, teve uma vida escolar muito difícil, era discriminado por ser órfão, por usar as roupas velhas do seu primo que tinha o triplo do seu tamanho e peso, além de ser perseguido por ele e sua gangue. As crianças na escola evitavam se aproximar para não chatear o Duddley e não correrem o risco de serem os novos perseguidos da escola. Em casa, Harry era11 responsável pelas tarefas domésticas e manutenção do local em troca de refeições e um teto. Não era bem alimentado, dormia num armário sob a escada, dividindo o pouco espaço que tinha com insetos, não recebia algum tipo de afeto, e sofria todo o tipo de abuso psicológico dos tios que procuravam a todo custo esconder do mundo a sua existência, e quando o contato não podia ser evitado, apresentavam-no como um "sobrinho retardo". Alvo Dumbledore, atualmente diretor de Hogwarts. Considerado por muitos o maior bruxo dos tempos10 modernos. Dumbledore é particularmente conhecido por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em 1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de dragão e por desenvolver um trabalho em alquimia em parceria com Nicolau Flamel. O Professor Dumbledore gosta de música de câmara e boliche. (ROWLING, 2010, p.78) Primo do Harry, cresceram na mesma casa após o assassinato dos seus pais.11
  • 37. 37 Diria que até o momento que precede seus estudos em Hogwarts, a escola falhou com ele. Embora não haja registros, é perfeitamente possível concluir que além de se mostrar indiferente aos maus tratos sofridos por ele (e evidentemente por outras crianças) dentro do espaço escolar e arredores, mostrou-se também alheia aos abusos sofridos em casa. Neste caso em específico, trata- se de um estabelecimento fictício de ensino, e como tal, não teria obrigação de seguir a legislação que assegura os direitos da criança e do adolescente. Porém se a instituição em questão existisse de fato, estaria ferindo à Declaração Universal do Direito das Crianças, acordo publicado pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1959, atualizada em 1989 e assinada unanimemente pelos 193 países do planeta, entre eles Brasil e Reino Unido. O acordo entre outros direitos, assegura que: As Crianças têm Direitos Direito à igualdade, sem distinção de raça religião ou nacionalidade. Princípio I - A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão outorgados a todas as crianças, sem qualquer exceção, distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição econômica, nascimento ou outra codição, seja inerente à própria criança ou à sua família. Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social. [...] Princípio VI - A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência. Convém que se concedam subsídios governamentais, ou de outra espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas.
  • 38. 38 A declaração coincide com as l e g i s l a ç õ e s : brasileira - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - e a britânica - P r o t e c t i o n o f Children Act 1989 - r a t i f i c a d a s celeremente como efetivação do acordo. Um ano após a atualização do texto no que diz respeito aos Direitos Universais da Criança, A LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 foi sancionada no Brasil, assegurando que: O Estatuto da Criança e do Adolescente ainda determina qual a responsabilidade cabe às escolas no que diz respeito aos seus educandos, a s s i m c o m o o s Direito á educação gratuita e ao lazer infantil. [...] Princípio VII - A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e obrigatória, ao menos nas etapas elementares. Dar-se-á à criança uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita - em condições de igualdade de oportunidades - desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral. Chegando a ser um membro útil à sociedade. O interesse superior da criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a responsabilidade por sua educação e orientação; tal responsabilidade incumbe, em primeira instância, a seus pais. A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito. Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes. Princípio VIII - A criança deve - em todas as circunstâncias - figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio. Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho. Princípio IX - A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e exploração. Não será objeto de nenhum tipo de tráfico. Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima adequada; em caso algum será permitido que a criança dedique-se, ou a ela se imponha, qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral. Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. Princípio X - A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa, ou de qualquer outra índole. Deve ser educada dentro de um espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universais e com plena consciência de que deve consagrar suas energias e aptidões ao serviço de seus semelhantes. (ONU. Declaração Universal do Direito das Crianças. 1959. Atualizada em 1989) Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990) Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência. (BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. 1990)
  • 39. 39 procedimentos a serem tomados: Ou seja, devemos ter em mente que a instituição de ensino também é responsável por garantir que seu corpo discente goze dos seus direitos instituídos. Desconfiando da violação à esses direitos, cabe à direção, e demais gestores, informar às autoridades responsáveis, neste caso, o Conselho Tutelar, a respeito de qualquer suspeita. Legalmente é inadmissível que crianças ou adolescentes sofra os mesmos abusos que o personagem Harry sofreu nos livros. Em suma, a comunidade - por via de regra - deve prezar pelo bem-estar e desenvolvimento pleno das nossas crianças e adolescentes.
  • 40. 40 3 HOGWARTS - AME-A OU DEIXE-A O Brasil vivenciou no decorrer do século XX um considerável desenvolvimento industrial, ao mesmo tempo em que as classes sociais antagônicas, burguesia e proletariado, adquiriam sua forma mais definitiva. No início da década de 60, os movimentos sociais emergiam e ganhavam força - movimentos estudantis, sindicatos, associações de moradores, partidos políticos e entre outros - comprometeram- se com a elaboração de um projeto político para o país em oposição aos ideais facistas, nazistas e populistas. Em contrapartida, a burguesia com a assistência do Exército Brasileiro, da Igreja Católica, classes conservadoras e da classe média, se organizava para abolir esta "efervescência de ideias", visando a manutenção do poder e interesses de classe. Segundo Florestan Fernandes (1980), a burguesia propendia obstar a transição de uma democracia restrita para uma democracia de participação estendida, que ameaçava a consolidação de um regime democrático-burguês. No cenário internacional, vivenciávamos a Guerra Fria, a Europa recém saída da 2º Guerra Mundial com grandes dificuldades econômicas, aliou-se aos Estados Unidos da América (já recuperado da crise de 1929 e com status de potência). Com o intuito de obter investimentos vira-se contra a URSS, segundo o governo norte americano, inimiga da democracia e do desenvolvimento capitalista, surgindo então uma potente aliança anti-comunista, comandada pelos EUA. No cenário nacional, após a renúncia de Jânio Quadros em 1961 e posse de seu vice João Goulart (1961-1964), o país experienciou um governo marcado pelas reformas de base, reformas estas que visavam transformações universitárias, agrárias, administrativas, bancárias e fiscais, almejando ainda o direito de voto aos analfabetos. O suficiente para preocupar a burguesia, aliados e inclusive os Estados Unidos que temiam o que chamavam de implantação do comunismo e aliança do Brasil com o Bloco Socialista. As décadas de 50/60 foram muito ricas para a educação brasileira. Houve, em 1958,um segundo Manifesto: Mais uma vez Convocados, ampliado com mais de 160 assinaturas de educadores, intelectuais e políticos, que reafirmavam os termos do Manifesto dos Pioneiros e ampliavam suas reivindicações, exigindo uma educação pública, gratuita, liberal, sem distinção de classe, raça e crenças, apoiada nos valores democráticos e, de liberdade, de solidariedade, de cooperação, de justiça, de cidadania, de igualdade, de respeito, de tolerância, e de convivência com a diversidade étnico-cultural. Uma educação voltada para o trabalho e o desenvolvimento econômico. (SILVA, 2005, p. 60).
  • 41. 41 Os anos que antecederam a tomada do poder pelos militares, no âmbito educacional, foram os mais produtivos, contando com a contribuição de nomes como Paulo Freire e Anísio Teixeira, perseguidos e exilados posteriormente ao golpe, deflagrado em 31 de março de 1964. Considerando o breve histórico apresentado, que contextualiza a implantação da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) e as afirmações de Facini (2004, p.25) acerca do papel social da literatura, não como "[...] espelho do mundo social, mas parte constitutiva desse mundo" uma expressão de "[...] visões de mundo que são coletivas de determinados grupos sociais. Essas visões de mundo são informadas pela experiência histórica concreta desses grupos sociais que as formulam, mas são também elas mesmas construtoras dessa experiência. Elas compõem a prática social material desses indivíduos e dos grupos sociais aos quais eles pertencem ou com os quais se relacionam. Nesse caso, analisar visões de mundo e idéias transformados em textos literários supõe investigar as condições de sua produção, situando seus autores histórica e socialmente." Pretendo neste capítulo, relacionar aspectos relevantes da educação brasileira durante o regime, com os dois maiores golpes sofridos pela comunidade bruxa, nos livros de Jo Rowling, que resvalaram fortemente em Hogwarts: a intervenção do Ministério de Magia no funcionamento da instituição, precedido pela retomada de Lorde Voldemort ao poder interrompido em 1981. Com a instauração do Regime Militar no Brasil, ocorreu uma crescente onda de perseguição aos cidadãos contrários ao referido governo, que lutavam em prol da defesa dos direitos civis e democráticos. Os militares interpretaram as resistências como um convite para interferir no sistema educacional. O ideal almejado de educação neste período também se sustentava em um desenvolvimento econômico pautado no controle da Segurança Nacional e de acordo com (Fonseca, 1993) reprimir João estava só. Ao amanhecer de 1º de abril, os generais Luís Carlos Guedes e Olímpio Mourão Filho, com o apoio do governador Magalhães Pinto,sublevaram Minas Gerais e logo contaram com o apoio militar de outros estados e dos governadores Carlos Lacerda, da Guanabara, e Ademar de Barros, de São Paulo. A reação ao golpe foi nula. O governo, sem defesa militar ou civil, desmoronou (SILVA, 1992: 288). [...] Assim, surgiu a Lei 5.540/68, baseada nos interesses do regime estabelecido.Esta foi instaurada pelos militares,e trouxe consigo uma série de medidas que mudaram em muitos aspectos as políticas educacionais. Através desta lei, foi oficializado o ensino dos estudos sociais nas escolas brasileiras, ou seja, a historiografia foi repensada, uma vez que ficando os específicos da História destinados somente ao segundo grau. (SCHIMIDT e CAIINEL, 2004, p.11).
  • 42. 42 as opiniões e os pensamentos dos cidadãos, de forma a eliminar toda e qualquer possibilidade de resistência ao regime autoritário. Não diferente, no universo Potteriano, Cornélio Fudge, ministro da Magia, nomeara Dolores Umbridge, num primeiro momento, ao cargo até então vago de professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. A nomeação foi fruto de uma tentativa de manutenção da sua própria posição, ao supor que o diretor da instituição, Alvo Dumbledore, juntamente com seus alunos, conspirava para sobrepujá-lo e presidir a comunidade bruxa. Umbridge seria seus "os olhos e ouvidos", uma infiltrada que mantinha-o informado de tudo o que se passava em Hogwarts. Dumbledore pareceu surpreso por um instante, então, sentou-se com elegância e olhou atento para a Profª Umbridge, como se ouvi-la fosse a coisa que mais desejava na vida. Os outros membros do corpo docente não foram competentes em esconder sua surpresa. As sobrancelhas da Profº Sprout chegaram a desaparecer por baixo dos cabelos rebeldes, e Harry nunca vira a boca da Profª McGonagall mais fina. Nenhum professor novo jamais interrompera Dumbledore antes. Muitos estudantes sorriam abobados; era óbvio que essa mulher não conhecia os hábitos de Hogwarts. - Obrigada, diretor - disse a professora, sorrindo afetadamente -, pelas bondosas palavras de boas-vindas. Sua voz era aguda, soprada e meio infantil, e, mais uma vez, Harry sentiu uma onda de aversão que não conseguia explicar; só sabia que tudo nela o enojava, desde a voz tola ao casaquinho peludo cor-de-rosa. Ela tossiu mais uma vez para clarear a voz (hem,hem), e continuou. - Bem, devo dizer que é um prazer voltar a Hogwarts! - Ela sorriu, revelando dentes muitos pontiagudos. - E ver rostinhos tão felizes voltados para mim! Harry olhou para todos os lados. Nenhum dos rostinhos que viu pareciam felizes. Pelo contrário, todos pareciam meio chocados ao ver alguém se dirigir a eles como se tivessem cinco anos de idade. - Estou muito ansiosa para conhecer todos vocês, e tenho certeza de que seremos bons amigos! Os estudantes de entreolharam ao ouvir isso; alguns mal conseguiram esconder os sorrisos. - Serei amiga dela desde que não tenha de pedir emprestado aquele casaquinho - sussurrou Parvati para Lilá, e as duas desataram a rir em silêncio. A Profª Umbridge tornou a pigarrear (hem, hem), mas quando continuou, um pouco do modo soprado de falar desaparecera de sua voz. pareceu muito mais objetiva, e suas palavras tinham um tom monótono de um discurso decorado. - O ministro da Magia sempre considerou a educação dos jovens bruxos de vital importância. os dons raros com que vocês nasceram talvez não frutifiquem se não forem nutridos e aprimorados por cuidadosa, instrução. As habilidades antigas, um privilégio da comunidade bruxa, devem ser transmitidas às novas gerações ou se perderão para sempre. O tesouro oculto de conhecimentos mágicos acumulados pelos nossos antepassados deve ser preservado, suplementado e polido por aqueles que foram chamados à nobre missão de ensinar. A Profª Umbridge fez uma pausa e uma reverência aos seus colegas, mas nenhum deles lhe retribuiu o cumprimento. As sobrancelhas escuras da Profª McGonagall tinham se contraído de tal modo que ela decididamente parecia uma falcão, e Harry a viu trocar um olhar significativo com a Profª Sprout ser estimulado, pois as nossas tradições comprovadas raramente exigem
  • 43. 43 O primeiro procedimento tomado por Umbridge como professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, foi substituir as aulas práticas por aulas exclusivamente teóricas, realizadas somente através da leitura do livro didático. Em seguida foi nomeada Alta Inquisidora, a primeira conhecida por Hogwarts, acumulando cargos. Prática também conhecida na realidade brasileira, mais precisamente em 1964 quando a UNB foi invadida e Anisio Teixeira, o então reitor deposto e substituído por Zeferino Vaz, indicado remendos. Então um equilíbrio entre o velho e o novo, entre a permanência e quando Umbridge fez mais um hem,hem, e continuou o discurso. - Todo diretor e diretora de Hogwarts trouxe algo novo à pesada tarefa de dirigir esta escola histórica, e assim deve ser, pois sem progresso haverá estagnação e decadência. Por outro lado progresso pelo progresso não deve a mudança, entre a tradição e a inovação... Harry percebeu que sua atenção estava oscilando, como se seu cérebro estivesse entrando e saindo de sintonia. O silêncio que sempre prevalecia no salão quando Dumbledore falava ia se rompendo à medida que os alunos aproximavam as cabeças, cochichando e abafando risinhos. Na mesa da Corvinal, Cho Chang conversava animadamente com as migas. Alguns lugares adiante de Cho, Luna Lovegood puxara seu Pasquim. Entrementes, na mesa de Lufa-Lufa, Ernesto Macmillian era um dos poucos que ainda olhavam para a Profª Umbridge, de olhar vidrado, e Harry tinha certeza de que estava apenas fingindo ouvir, numa tentativa de honrar o novo distintivo de monitor que reluzia em seu peito. A Profº Umbridge não pareceu notar o desassossego da platéia. Harry teve a impressão de que uma revolta de grandes proporções poderia ter estourado bem embaixo do nariz dela e a bruxa teria continuado a discursar. Os professores, porém ainda ouviam com muita atenção, e Hermione parecia estar bebendo cada palavra que Umbridge dizia, embora, a julgar por sua expressão, a desagradasse totalmente. - ...porque algumas mudanças serão para melhor, enquanto outras virão, na plenitude do tempo, a ser reconhecidas como erros de julgamento. Entrementes, alguns velhos hábitos serão conservados, e muito acertadamente, enquanto outros, antigos e desgastados, precisarão ser abandonados. Vamos caminhar para a frente, então, para uma nova era de abertura, eficiência e responsabilidade, visando a preservar o que deve ser preservado, aperfeiçoando o que precisa ser aperfeiçoado e cortando, sempre que encontrarmos, práticas que devem ser proibidas. A bruxa se sentou. Dumbledore aplaudiu. O corpo docente acompanhou a sua deixa, embora Harry reparasse que vários professores bateram as mãos apenas uma ou duas vezes antes de parar. Alguns alunos secundaram os aplausos, mas a maioria foi apanhada de surpresa pelo fim do discurso, porque não ouvira mais do que umas poucas palavras do todo, e antes que eles pudessem começar a aplaudir devidamente, Dumbledore tornou a se erguer. - Muito obrigado, Profª Umbridge, foi um discurso muito esclarecedor - disse, curvando-se para a bruxa. - Agora, como eu ia dizendo, os testes de quadribol serão realizados... - Certamente que foi esclarecedor - disse Hermione em voz baixa. - Você está me dizendo que gostou? - perguntou Rony baixinho, virando o rosto, perplexo para ela. - Foi o discurso mais chato que já ouvi, e olha que fui criado com o Percy. - Eu disse esclarecedor e não agradável. Explicou muita coisa. - Foi? - admirou-se Harry. - me pareceu uma grande enrolação. - Mas havia coisas importantes no meio da enrolação - disse Hermione, séria. - Havia? - perguntou Rony sem entender. -Que tal "o progresso pelo progresso deve ser estimulado"? Ou então
  • 44. 44 por Luiz Antonio da Gama, Ministro da Justiça e Ministro da Educação e Cultura, um colecionador de funções assim como a Umbridge. MINISTÉRIO QUER REFORMA NA EDUCAÇÃO DOLORES UMBRIDGE NOMEADA PRIMEIRAALTA INQUISIDORA DA HISTÓRIA - Ontem à noite, o Ministro da Magia surpreendeu a todos aprovando uma lei que concede ao próprio órgão um nível de controle sem precedentes sobre a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. "Já há algum tempo, o ministro tem se mostrado apreensivo com o que acontece em Hogwarts", comentou seu assistente-júnior, Percy Weasley. "O decreto é uma resposta às preocupações expressadas por pais ansiosos que sentem que a escola está trilhando um caminho que desaprovam." Não é a primeira vez nas últimas semanas que o ministro Cornélio Fudge tem usado novas leis para realizar aperfeiçoamentos na escola de magia. Em 30 de agosto recente, foi aprovado o Decreto de Educação n.º 22, para assegurar que, na eventualidade do atual diretor não conseguir apresentar um candidato a uma vaga de professor, o Ministério selecione uma pessoa habilitada. "Foi assim que Dolores Umbridge acabou sendo indicada para o corpo docente de Hogwarts", disse Wasley ontem à noite. "Dumbledore não conseguiu encontrar ninguém, então o Ministério nomeou Umbridge, e, naturalmente ela alcançou imediato sucesso..." - Ela o QUÊ? - exclamou Harry em voz alta. - Espere, ainda tem mais - disse Hermione séria: - "...imediato sucesso, revolucionando inteiramente o ensino da Defesa Contra as Artes das Trevas e informando em primeira mão ao ministro, o que está realmente acontecendo em Hogwarts." É esta função que o Ministério está formalizando agora ao aprovar o Decreto de Educação n° 23, que cria o cargo de Alta Inquisidora de Hogwarts. "Inicia-se assim uma nova fase no plano ministerial para enfrentar o que alguns têm chamado de queda nos padrões de Hogwarts", diz Wasley "A Inquisidora terá poderes para inspecionar seus colegas educadores e se assegurar de que estejam satisfazendo os padrões desejados. O cargo foi oferecido à Profº Umbridge, que aceitou a nova incumbência e a irá acumular com o cargo de docente que ora exerce." As novas medidas do Ministério receberam o apoio entusiastas dos pais dos alunos de Hogwarts. "Eu me sinto muito, mas muito mais tranquilo agora que sei que Dumbledore está sujeito a avaliações justas e objetivas", declarou o Sr. Lúcio Malfoy, 41, à noite passada de sua mansão de Wilshire. " Muitos de nós que no fundo queremos que nossos filhos seja felizes e bem-sucedidos, estávamos preocupados com algumas decisões excêntricas que Dumbledore andou tomando nos últimos anos, e ficamos contentes de saber que o Ministério está atento à situação." Sem dúvida, entre as decisões excêntricas mencionadas encontram-se as nomeações controversas apontadas pelo nosso jornal, entre as quais se incluem a contratação do lobisomem Remo Lupin, do meio-gigante Rúbeo Hagrid e do ex-auror delirante Olho-Tonto Moody. Naturalmente, correm boatos de que Alvo Dumbledore, que no passado foi o Chefe Supremo da Confederação Internacional de Bruxos e Bruxo-presidente da Suprema Corte, não está mais a altura de administrar a prestigiosa escola de Hogwarts. "Acho que a nomeação da Inquisidora é o primeiro passo para assegurar que Hogwarts tenha um diretor em quem possamos depositar nossa confiança", declarou uma fonte do Ministério à noite passada. Os juízes da Suprema Corte
  • 45. 45 Por trás de todo golpe há uma mídia t a m b é m g o l p i s t a , manipulando os fatos, publicando entrevistas de aliados, "pessoas de b e m " c o m o r e p r e s e n t a n t e s d a opinião da maioria, travestidos de cidadãos comuns para aproximá- los da comunidade e desacreditar os que se opõem, apresentando-os como ameaças. A imprensa fictícia, assim como a brasileira, foi crucial para a legitimidade do discurso golpista. O Profeta Diário, jornal de maior influência na comunidade bruxa foi o veículo de comunicação que mais apoiou os golpes, principalmente a ascensão de Voldemort, aperfeiçoando uma imagem deturpada dos divergentes, em especial Harry e Dumbledore, ante a comunidade mágica, difundindo a ilusão de imaculada segurança e proteção por parte do Ministério. No Brasil, a Rede Globo de Televisão fundada no regime cumpria este papel, de acordo com Brasil de Fato (2013) o apoio ao golpe militar não foi um ato isolado. A Globo apoiou, incondicionalmente, os 20 anos de ditadura em nosso país. Em dezembro de 1968, renovou seu apoio ao governo ditatorial, tornando-se conivente com o Ato Institucional número 5 (AI-5). As prisões políticas, os exílios, casos de torturas e assassinatos de militantes políticos não mereceram uma linha de repúdio ao governo militar, nos noticiários da família Marinho, além de ser uma beneficiária direta do regime. - A senhorita é uma especialista educacional do Ministério da Magia, Srta. Granger? - Não, mas... - Bem, então, receio que não esteja qualificada para decidir qual é a "questão central" em nenhuma disciplina. Bruxos mais velhos e mais inteligentes que a senhorita prepararam o nosso programa de estudos. A senhorita irá aprender a respeito dos feitiços defensivos de um modo seguro e livre de riscos... - Para que servirá isso? - perguntou Harry, em voz alta. - Se formos atacados, não será em um... - Mão, Sr. Potter! - entoou a Profº Umbridge. Harry empunhou o dedo no ar. Mais uma vez, a professora prontamente lhe deu as costas, mas agora vários alunos tinham erguido as mãos. [...] Agora o Ministério acredita que um estudo teórico será mais do que suficiente para prepará-los para enfrentar os exames, que, afinal, é para o que existe a escola. E o seu nome é? - acrescentou ela, fixando o olhar em Parvati, que acabara de erguer a mão. - Parvati Patil, e não tem uma pequena parte prática no nosso N.O.M de Defesa Contra as Artes das Trevas? Não temos de demonstrar que somos capazes de realizar contra feitiços e coisa assim? - Desde que tenham estudado a teoria com muita atenção, não há razão para não serem capazes de realizar feitiços sob condições de exame cuidadosamente controladas - respondeu a professora, encerrando o assunto. - Sem nunca ter praticado os feitiços antes? - perguntou Parvati incrédula. - A senhora está nos dizendo que a primeira vez que poderemos realizar feitiços será durante o exame? - Repito, desde que tenham estudado a teoria com atenção... - E para que serve a teoria no mundo real? - perguntou Harry em voz alta, seu punho mais uma vez no ar. A professora Umbridge ergueu a cabeça. - Isto é uma escola, Sr. Potter, não é mundo real - disse mansamente. (ROWLING, 2003, p. )
  • 46. 46 Durante os períodos de golpe no mundo bruxo, mídias opositoras independentes ganharam notoriedade, como o programa de rádio Potterwatch conhecido por atualizar a lista de12 desaparecidos políticos e a revista coincidentemente intitulada O Pasquim (assim como um dos13 maiores jornais opositores ao governo militar no Brasil) dirigida por Xenophilius Lovegood, editor chefe e proprietário. Sua filha Luna foi sequestrada a caminho da escola como medida de retaliação a seus artigos contrários ao governo. A censura foi uma tentativa satisfatória de domínio. No sistema educacional brasileiro, deu-se na educação básica através do controle ao conteúdo, livros utilizados e termos mencionados em sala de aula. Professores que lecionaram durante o período afirmam que os livros didáticos tratavam-se de manuais contendo questionários que objetivavam respostas prontas, não estimulavam o pensamento crítico e nem reflexivo, aos alunos cabia apenas a memorização e a repetição. Os militares transitavam pelas escolas, e caso professores e alunos descumprissem as ordens, eram perseguidos, torturados psicológica e fisicamente ou até mesmo assassinados. Em setembro de 1969 a Lei 869 entrou em vigor, estabelecia em caráter obrigatório a inclusão das disciplinas Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais em todos os sistemas educacionais brasileiros. O intuito da implementação da Moral e Cívica era fortalecer a unidade nacional, aprimorar o caráter e preparo para o exercício das atividades cívicas fundamentadas na moral e patriotismo. A substituição da História e da Geografia por Estudos Sociais e exclusão da Filosofia visava desenvolver nos alunos uma postura submissa, meros contempladores da realidade por meio da observação. De acordo com Helfer e Lenskij (2000) "os alunos não atuavam como sujeitos da construção do processo histórico e do conhecimento". Em Hogwarts, instituição de ensino fantástica mencionada no decorrer deste trabalho, a disciplina Defesa Contra as Artes das Trevas até então prática, foi substituída por monótonas Em português Observatório Potter.12 Na tradução para a Língua Portuguesa.13 Introduzir as disciplinas sobre civismo significa impor a ideologia da ditadura, reforçada pela extinção da Filosofia e diminuição da carga horária de História e Geografia, que exerce a mesma função de diminuir o senso crítico e consciência política da situação (VEDANA,1997, p.54).
  • 47. 47 leituras do livro didático durante os tempos de aula, não havendo espaço para o surgimento de dúvidas, perguntas e questionamentos, como evidencia o seguinte fragmento: - Bom, o ensino que receberam desta disciplina foi um tanto interrompido, e fragmentário, não é mesmo? - afirmou a Prof° Umbridge, virando-se para encarar a turma, com as mãos perfeitamente cruzadas diante do corpo. - A mudança constante de professores, muitos dos quais não parecem ter seguido nenhum currículo aprovado pelo Ministério, infelizmente teve como consequência os senhores estarem muito abaixo dos padrões que esperaríamos ver no ano dos N.O.M.s. "Os senhores ficarão satisfeitos de saber, porém, que tais problemas serão corrigidos. Este ano iremos seguir um curso de magia defensiva, aprovada pelo Ministério e cuidadosamente estruturado em torno da teoria. Copiem o seguinte por favor." Ela tornou a bater no quadro; a primeira mensagem desapareceu e foi substituída por "Objetivos do Curso". 1. Compreender os princípios que fundamentam a magia defensiva. 2. Aprender a reconhecer as situações em que a magia defensiva pode legalmente ser usada. 3. Inserir o uso da magia defensiva em contexto de uso. Por alguns minutos o som das penas arranhando pergaminhos encheu a sala. Depois que todos copiaram os três objetivos do curso da Profº Umbridge, ela perguntou: - Todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard? Ouviu-se um murmúrio baixo de concordância por toda a sala. - Acho
  • 48. 48 que vou tentar outra vez - disse ela. - Quando eu fizer uma pergunta, gostaria que os senhores respondessem: "Sim, senhora Prof° Umbridge" ou "Não, senhora, Prof° Umbridge". Então: todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard? - Sim, senhora Prof° Umbridge - ecoou a resposta pela sala. - Ótimo Eu gostaria que os senhores abrissem na página cinco e lessem o Capítulo Um, "Elementos Básicos para Principiantes". Não precisarão falar. A Prof° Umbridge deu as costas ao quadro e se acomodou na cadeira, à escrivaninha, observando todos os alunos, com aqueles olhos empapuçados de sapo. Harry abriu á página cinco do seu exemplar de teoria da magia defensiva e começou a ler. Era desesperadamente monótono, tão ruim quanto escutar o Prof. Bins. Sentiu sua concentração ir fugindo; logo tinha lido a mesma linha meia dúzia de vezes, sem absorver nada além das primeiras palavras. Vários minutos se passaram em silêncio. Ao seu lado, Rony virava e revirava a pena entre os dedos distraidamente, os olhos fixos no mesmo ponto da página. Harry olhou para a direita e teve uma surpresa que sacudiu o seu torpor. Hermione sequer abrira seu exemplar de Teoria da magia defensiva. Olhava fixamente a Prof° Umbridge com a mão levantada. Harry não se lembrava de Hermione jamais ter deixado de ler quando a mandavam fazê-lo, ou resistir à tentação de abrir qualquer livro que passasse embaixo do seu nariz. Olhou-a, indagador, mas ela meramente balançou a cabeça, a indicar que não ia responder perguntas,e continuou a encarar a professora, que olhava com igual resolução para o outro lado. Depois de se passarem vários minutos, porém, Harry já não era o único que olhava para Hermione. O capítulo que a professora os mandara ler era tão tedioso que um número cada vez maior de alunos estava preferindo observar a muda tentativa de Hermione de ser notada pela professora a continuar penando para ler os "Elementos Básicos para Principiantes". Quando mais da metade da classe estava olhando para Hermione e não para os livros, a professora pareceu decidir que não podia continuar ignorando a situação. - Queria me perguntar alguma coisa sobre o capítulo querida? - perguntou ela a Hermione como se tivesse acabado de reparar nela. - Não, não é sobre o capítulo - respondeu Hermione. - Bem, é que o que estamos lendo agora - disse a professora, mostrando seus dentinhos pontiagudos. - Se a senhorita tem outras perguntas, podemos tratar delas no final da aula. - Tenho uma pergunta sobre os objetivos desse curso - disse Hermione. A Prof° Umbridge ergueu as sobrancelhas. - E como é o seu nome? - Hermione Granger. - Muito bem, Srta. Granger, acho que os objetivos do curso são perfeitamente claros se lidos com atenção - respondeu em um tom de intencional meiguice. - Bem, eu não acho que estejam, concluiu Hermione secamente. - Não há nada escrito no quadro sobre o uso de feitiços defensivos. Houve um breve silêncio em que muitos alunos da turma viraram a cabeça para reler, de testa franzida, os três objetivos do curso ainda escritos no quadro-negro. - O uso de feitiços defensivos? - repetiu a Prof° Umbridge, dando uma risadinha. - Ora, não consigo imaginar nenhuma situação que possa surgir nesta sala de aula que exija o uso de um feitiço defensivo, Srta. Granger. Com certeza não está esperando ser atacada durante a aula, está? - Não vamos usar magia? - exclamou Rony em voz alta. - Os alunos levantam a mão quando querem falar na minha aula Sr...? - Weasley - respondeu Rony, erguendo a mão no ar. A Prof° Umbridge, ampliando o seu sorriso, virou as costas para ele. Harry e Hermione imediatamente ergueram as mãos também. Os olhos empapuçados da professora se detiveram por um momento em Harry, antes de se dirigir a Hermione. - Sim, Srta Granger? Quer me perguntar mais alguma coisa? - Quero. certamente a questão central na Defesa Contra as Artes das Trevas é a prática de feitiços defensivos.