3. Renata Ferreira
Um gestor financeiro deve orientar suas decisões
visando maximizar a riqueza dos acionistas e, para tanto,
precisa de informações precisas e atualizadas. Essas informa-
ções podem ser internas ou externas. As internas são obtidas
nas demonstrações financeiras, que fornecem, por exemplo,
informações sobre volume de vendas, contas a receber, contas
a pagar, tributos a recolher, outras receitas possíveis, dívidas
contraídas, possibilidades de captação e aplicações de recur-
sos. Já as informações externas abrangem os dados sobre o
mercado (nacional e internacional), ações da empresa e da
concorrência, política econômica, entre outras.
Os demonstrativos financeiros são produzidos pela
Contabilidade, “ela é o placar das empresas”, pois traduz as
4. 78
Gestãofinanceira
atividades da empresa em “números objetivos que forne-
cem informações sobre o desempenho, problemas e as pers-
pectivas futuras” (HIGGINS, 2007). Cabe à administração
financeira interpretar estes valores contábeis para avaliar o
desempenho e planejar ações futuras.
A análise das demonstrações financeiras é importante
para o diagnóstico empresarial, cuja finalidade é determi-
nar os pontos fortes e pontos críticos da empresa, permi-
tindo a apresentação de um esboço das prioridades para a
solução dos problemas. Além disso, através da análise das
demonstrações financeiras podemos conhecer os objetivos da
empresa e identificar sua política financeira, ou seja, permite
uma visão da estratégia e dos planos traçados pela empresa.
O objetivo desta unidade é apresentar as ferramentas
de análise dos principais demonstrativos financeiros e sua
importância para a gestão financeira de uma empresa.
UsuáriosdaAnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
Dada sua importância, a análise das demonstrações
financeiras interessa a diversos agentes, que interpretarão as
informações com objetivos distintos. Os principais agentes são:
Gestores da
empresa
Empregados
Governo
Concorrentes
Acionistas
Credores
Fornecedores e
clientes
Demonstrações
financeiras
5. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
79
• A análise das demonstrações financeiras para os
administradores da empresa é vista como um ins-
trumento complementar à tomada de decisão, já que
é usada como auxiliar na formulação das estratégias
da empresa e no suporte para o controle gerencial.
Através desta análise, os gestores identificam os fato-
res que afetaram a evolução do patrimônio da empresa,
avaliam o efeito das decisões anteriores, comparam o
desempenho com os concorrentes, confrontam resulta-
dos atuais com as metas projetadas, detectam pontos
fortes e críticos, estabelecem o que deve ser corrigido,
explorado e investido, entre outros.
• Para os acionistas, a análise das demonstrações
financeiras associada à avaliação do comportamento
das ações no mercado de capitais possibilita a ava-
liação do retorno do investimento (determinado pela
valorização das ações nas bolsas e pela distribuição
dos dividendos) e a decisão pela compra de venda de
ações. Também serve para avaliar a atuação dos ges-
tores que integram o quadro de diretores da empresa.
• Os credores podem ser fornecedores, instituições
financeiras, debenturistas etc. Estão preocupados com
a situação atual da empresa e procuram obter alguma
informação sobre a situação futura, para avaliar a capa-
cidade de pagamento na concessão de crédito. O foco,
geralmente, é o grau de endividamento e a liquidez da
empresa. Bancos comerciais, que trabalham mais com
créditos de curto prazo, dão maior peso para a situ-
ação atual. Já os bancos de investimento concedem
financiamentos de longo prazo e a concessão destes
valores depende da situação futura da empresa toma-
dora. Nestas operações de crédito, o risco precisa ser
6. 80
Gestãofinanceira
avaliado de forma rigorosa e os principais instrumen-
tos de informação para tais avaliações são os demons-
trativos financeiros.
• Os fornecedores utilizam a análise das demonstra-
ções financeiras associadas às perspectivas de seu ramo
de negócios para avaliar a capacidade de produção e
venda de seu cliente como subsídio para o fornecimento
de seus produtos (ou serviços). Também analisam a situ-
ação financeira da empresa para a concessão de prazo
para pagamento destes produtos (ou serviços).
• Já os clientes não utilizam a análise das demons-
trações financeiras de forma rigorosa, mas em alguns
casos analisam a situação de seus principais forne-
cedores como garantia para a manutenção do supri-
mento de matérias-primas.
• A análise das demonstrações financeiras dos prin-
cipais concorrentes permite extrair informações sobre
faturamento, margem de rentabilidade das vendas,
prazo médio concedido aos clientes, prazo médio
obtido pelos fornecedores, giro de estoques, investi-
mentos, endividamento, liquidez etc. Além de poder
analisar a sua situação em relação aos concorrentes,
é possível identificar as potencialidades e limitações
dos concorrentes, o que é de extrema importância para
definir as estratégias de uma empresa.
• Os órgãos governamentais utilizam a análise das
demonstrações financeiras em diversas situações:
na fiscalização fazendária das empresas, no con-
trole de preços, no julgamento das qualificações das
empresas participantes de concorrências públicas, no
acompanhamento do desempenho de empresas con-
cessionárias de serviços públicos, no acompanhamento
7. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
81
de setores estratégicos da economia (como por exem-
plo, o setor financeiro e o de seguros) etc.
• Os empregados de uma empresa podem usar a
análise das demonstrações financeiras para verificar a
capacidade de crescimento da empresa, visando a esta-
bilidade no emprego, possíveis promoções e aumentos
de salários. Também é interessante conhecer a situação
financeira de uma empresa em que se está ingressando
ou candidatando-se a uma vaga.
• Além dos empregados, os sindicatos e associações
de classe se interessam pela análise de demonstrativos
financeiros. Os sindicatos, em especial, utilizam esta
análise para negociar novos benefícios, aumentos de
salários para a categoria etc. As associações de classe,
geralmente, utilizam tais análises para elaborar estu-
dos específicos e estabelecimento de padrões e relató-
rios para as próprias empresas.
Estrutura das Demonstrações Financeiras
As demonstrações financeiras são elaboradas seguindo
as práticas contábeis do regime de competência, ou seja, as
receitas e gastos são contabilizados quando ocorre o fato
gerador e não quando há a efetiva entrada ou saída de caixa.
São relatórios anuais obrigatórios, porém sua publicação é
obrigatória somente às empresas S/As, o que não impede que
toda e qualquer empresa apresente seus relatórios quando
necessário.
As publicações destes demonstrativos para as empre-
sas S/As são no mínimo anuais, porém as empresas de capi-
tal aberto também divulgam trimestralmente. Os resultados
apresentados nestes demonstrativos, geralmente, afetam a
cotação das ações da empresa na bolsa de valores.
8. 82
Gestãofinanceira
Os principais demonstrativos financeiros são:
O Relatório da Administração
“É a mensagem descritiva que apresenta a companhia”
(LEMES JR et al, 2010). Através deste relatório, a diretoria presta
conta aos acionistas sobre o desempenho da empresa, sendo
que em alguns casos apresenta as estratégias de crescimento
para a empresa, a política de recursos humanos, os investi-
mentos destinados à pesquisa e desenvolvimento, investimen-
tos para expansão, política financeira, planos, previsões etc.
O relatório da administração é um direito do acionista,
pois lhe possibilita conhecer o desempenho da companhia
por meio das informações detalhadas e fidedignas e, assim,
avaliar a relação com os objetivos da empresa.
Balanço Patrimonial
É uma demonstração financeira estática e sintética
destinada a evidenciar, qualitativa e quantitativamente, em
uma determinada data, a posição patrimonial e financeira
da empresa. Conforme a Lei nº 6.404/76, que regulamenta
a Sociedade por Ações, o Balanço Patrimonial é constituído
pelo Ativo, pelo Passivo e pelo Patrimônio Líquido. O Ativo
é a parte positiva do balanço e representa o conjunto de bens
e direitos do patrimônio e permite analisar como os recur-
sos estão aplicados na empresa, a parte negativa do balanço,
denominada Passivo, é representada pelas obrigações que a
empresa tem junto a terceiros.
O diferencial entre a parte positiva e a negativa é desig-
nada de Patrimônio Líquido, o qual representa os recursos
próprios da empresa. Quando o valor do Passivo for maior
que o valor do Ativo, o resultado é denominado Passivo a
Descoberto. Portanto, a expressão Patrimônio Líquido deve
ser substituída por Passivo a Descoberto.
Com o Decreto-Lei nº 1598/77, as normas para elabo-
ração do Balanço foram estendidas para as demais pessoas
9. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
83
jurídicas, padronizando a classificação e distribuição dos
dados e facilitando as análises. Em 2007, foi promulgada a Lei
nº 11.638 que representa um importante avanço na atualiza-
ção da Lei das Sociedades por Ações e harmonização da lei
societária em vigor com os princípios fundamentais e melho-
res práticas contábeis internacionais, visando a inserção do
Brasil no atual contexto de globalização econômica. O total
das contas registradas no lado esquerdo do balanço patri-
monial é equivalente ao total das contas registradas no lado
direito do balanço, ou seja:
Segundo a Lei 11.638/2007, a estrutura sintética do
balanço patrimonial é apresentada no quadro a seguir:
• Ativo Circulante: Também denominado de capital
de giro ou capital circulante; constitui-se no grupo de
maior liquidez que se apresenta no ativo da empresa,
possuindo duas características: curta duração e rápida
conversão de seus elementos. O ativo circulante
abrange valores realizáveis no exercício social subse-
quente, ou seja, é composto pelos bens e direitos que
Equação de equivalência
ATIVO PASSIVO
PATRIMÔNIO
LÍQUIDO
= +
Ativo Passivo
Ativo Circulante
Ativo Não Circulante
Ativo Realizável a Longo Prazo
Investimentos
Imobilizado
Intangível
Passivo Circulante
Passivo Não Circulante
Patrimômio Líquido
10. 84
Gestãofinanceira
podem ser utilizados a qualquer momento (caixa, ban-
cos, aplicações de liquidez imediata etc.) ou que podem
ser realizados no curto prazo (prazo inferior a 360 dias
– duplicatas/títulos a receber, duplicatas/títulos des-
contadas, estoques etc.).
• Ativo Não Circulante: São incluídos neste grupo
todos os bens de permanência duradoura, destina-
dos ao funcionamento normal da sociedade e do seu
empreendimento, assim como os direitos exercidos
com essa finalidade. O Ativo Não Circulante é com-
posto pelos seguintes subgrupos:
1. Ativo realizável a longo prazo: Inclui as con-
tas representadas pelos bens e direitos realizá-
veis após o término do exercício seguinte (prazo
superior a 360 dias). Incluem-se também nesta
categoria os direitos não derivados de vendas,
as operações realizadas com coligadas, controla-
das, proprietários, sócios, acionistas e diretores.
2. Investimentos: participações em outras socie-
dades (aquisição de ações e outros títulos de
participação societária) com a intenção de
mantê-las em caráter permanente, seja para
se obter o controle societário, seja por interes-
ses econômicos, entre eles, como fonte perma-
nente de renda.
3. Imobilizado: bens destinados à manutenção
da atividade da empresa, caracterizados por
apresentar-se na forma tangível (como imó-
veis, veículos, maquinários e equipamen-
tos, instalações, entre outros). O imobilizado
abrange, também, os custos das benfeitorias
realizadas em bens locados ou arrendados.
11. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
85
4. Intangível: Os ativos intangíveis compreen-
dem os bens incorpóreos destinados à manu-
tenção da companhia ou exercidos com essa
finalidade, inclusive o fundo de comércio
adquirido. Como exemplos de intangíveis, os
direitos de exploração de serviços públicos
mediante concessão ou permissão do Poder
Público, marcas e patentes, softwares e o
fundo de comércio adquirido (ASSAF NETO,
2010).
• Passivo Circulante: Composto de todas as obri-
gações vencíveis no exercício social seguinte (prazo
inferior a 360 dias), como empréstimos, encargos finan-
ceiros a pagar, fornecedores, impostos a recolher, entre
outros. Também é denominado de capital de terceiros
de curto prazo.
• Passivo Não Circulante: Obrigações com venci-
mento após o término do exercício social seguinte, ou
seja, com prazo superior a 360 dias. Também denomi-
nado de capital de terceiros de longo prazo.
• Patrimônio Líquido: É a diferença entre o valor dos
ativos e dos passivos. Representa os recursos próprios
da empresa, é dividido em: Capital Social, Reservas de
Capital, Ajustes de Avaliação Patrimonial, Reservas de
Lucros, Ações em Tesouraria e Prejuízos Acumulados.
Demonstração do Resultado de Exercício (DRE)
A demonstração de resultado do exercício apresenta
o desempenho da empresa no período, possibilitando ava-
liar se houve lucro ou prejuízo. O lucro (ou prejuízo) apu-
rado na DRE é transferido para a conta “Lucros ou Prejuízos
Acumulados”, pertencente ao Patrimônio Líquido, com isso,
12. 86
Gestãofinanceira
a DRE é um demonstrativo importante, porque reflete os
aumentos e reduções causados no Patrimônio Líquido pelas
operações da empresa.
A DRE acumula as receitas, os custos e as despe-
sas relativas a um período de tempo a fim de apresentar o
resultado líquido. Como os lançamentos seguem o regime
de competência, esse demonstrativo retrata apenas o fluxo
econômico e não o fluxo monetário (entrada ou saída efetiva
do dinheiro), razão pela qual é importante confrontar a DRE
com o demonstrativo do fluxo de caixa (DFC).
Enquanto o primeiro aponta a capacidade de realiza-
ção de receita, o segundo permite avaliar a capacidade do
caixa em honrar os compromissos (entradas - saídas).
A Estrutura da Demonstração do Resultado do
Exercício segundo Lei 6404/76, atualizada pela Lei 11.638/07 e
Lei 11.941/09 é a seguinte:
Demonstração do Resultado do Exercício
Receita bruta de vendas e serviços
(-) Dedução, descontos concedidos, devoluções
(-) Impostos sobre vendas
= Receita Líquida
(-) Custos dos produtos vendidos e dos serviços prestados
= Resultado bruto
(-) Despesas de vendas
(-) Despesas gerais e administrativas
(-) Despesas financeiras líquidas
(-) Outras receitas operacionais
= Resultado operacional
(-) Outras despesas
(+) Outras receitas
= Resultado do exercício antes dos impostos, contribuições e
participações
(-) Contribuição social
(-) Provisão para imposto de renda
(-) Participações
(-) Contribuições
= Lucro líquido do exercício
= Lucro por ação
13. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
87
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
(DMPL)
AlegislaçãodasSociedadesAnônimasnãoexigeapubli-
cação desse demonstrativo, porém ele é um importante instru-
mento de análise que demonstra a movimentação de todas as
contas do Patrimônio Líquido ocorridas entre dois balanços
independente da origem da variação, seja ela proveniente de
aumento de capital, de reavaliações do ativo, de lucros, de cor-
reção monetária, ou de simples transferência de contas dentro
do próprio Patrimônio Líquido (MATARAZZO, 2010).
Sua elaboração é simples e seu conteúdo é mais
abrangente que a Demonstração dos Lucros e Prejuízos
Acumulados (DLPA), mas como seu objetivo é apenas mos-
trar a variação nas contas do Patrimônio Líquido, serve muito
mais como um instrumento complementar, o que justifica a
sua não obrigatoriedade de publicação.
Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados
(DLPA)
A DLPA evidencia as alterações ocorridas no saldo
da conta de lucros ou prejuízos acumulados, no Patrimônio
Líquido, integrando o Balanço Patrimonial e a Demonstração
de Resultado. Esse demonstrativo deve discriminar: o saldo
do início do período e os ajustes de exercícios anteriores; as
reversões de reservas e o lucro líquido do exercício; e as trans-
ferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros
incorporada ao capital e o saldo ao fim do período.
Segundo legislação do Imposto de Renda (art. 274 do
RIR/99), a demonstração dos lucros ou prejuízos acumu-
lados é obrigatória para as limitadas e outras sociedades.
Já para as companhias abertas, a CVM estabelece a obri-
gatoriedade da demonstração das mutações do patrimô-
nio líquido (IUDÍCIBUS, 2010). A DMPL pode substituir
14. 88
Gestãofinanceira
a DLPA, pois, além de demonstrar a movimentação ocor-
rida com os lucros ou prejuízos acumulados, apresenta a
movimentação das demais contas que integram o patri-
mônio líquido.
Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos
(DOAR)
A demonstração das origens e aplicações de recursos
mostra de onde vieram os recursos financeiros utilizados na
empresa e onde foram aplicados (qual o seu destino). Este
demonstrativo permite avaliar se a empresa fez novos finan-
ciamentos, se houve aporte de capital dos sócios ou se gerou
recursos próprios, ou seja, a DOAR tem a finalidade de apre-
sentar a posição financeira da empresa no curto prazo, pois
demonstra a variação do Capital Circulante Líquido (CCL)
em determinado período (IUDÍCIBUS, 2010).
O Capital Circulante Líquido é a diferença entre o ativo
circulante (disponível, contas a receber, estoques e despesas
pagas antecipadamente) e o passivo circulante (fornecedores,
contas a pagar e outras exigibilidades do exercício seguinte)
em determinada data.
As informações para elaboração do DOAR são extraí-
das do balanço patrimonial e da demonstração do resultado
do exercício, porém a DMPL também é de grande utilidade,
pois as mutações do patrimônio líquido afetam as origens e
aplicações de recursos.
Até 31.12.2007, a Demonstração das Origens e
Aplicações de Recursos (DOAR) era obrigatória para as com-
panhias abertas e para as companhias fechadas com patri-
mônio líquido superior a R$ 1.000.000 (limite este atualizado
pela Lei nº 9.457/97). A partir de 01.01.2008, a DOAR deixou
de ser obrigatória com a edição da Lei n° 11.638, de 28 de
dezembro de 2007.
15. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
89
Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC)
A Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC), por força
da Lei 11.638/2007, passou a ser um relatório obrigatório pela
contabilidade para todas as sociedades de capital aberto ou
com patrimônio líquido superior a R$ 2.000.000 (dois milhões
de reais), substituindo a DOAR.
A DFC expõe as informações sobre recebimentos e
pagamentos da empresa, em dinheiro, em um dado período
de tempo. A DFC compreende principalmente as disponibi-
lidades da empresa, representadas por caixa, bancos e apli-
cações financeiras de curto prazo (IUDÍCIBUS, 2010). Assim
como a Demonstração de Resultados de Exercícios, a DFC
é uma demonstração dinâmica e também está contida no
balanço patrimonial.
Segundo o Portal de Contabilidade (2010), basica-
mente, o relatório de fluxo de caixa deve ser segmentado em
três grandes áreas:
1. Atividades Operacionais (são explicadas pelas
receitas e gastos decorrentes da industrializa-
ção, comercialização ou prestação de serviços da
empresa. Estas atividades têm ligação com o capi-
tal circulante líquido da empresa);
2. Atividades de Investimento (são os gastos efe-
tuados no Realizável a Longo Prazo ou no Ativo
Permanente, bem como as entradas por venda de
ativos imobilizados);
3. Atividades de Financiamento (são os recursos obti-
dos do Exigível a Longo Prazo e do Patrimônio
Líquido. Devem ser incluídos aqui os empréstimos
e financiamentos de curto prazo. As saídas corres-
pondem à amortização destas dívidas e os valores
pagos aos acionistas a título de dividendos, distri-
buição de lucros).
16. 90
Gestãofinanceira
Demonstração do Valor Adicionado (DVA)
Com a alteração apresentada pela Lei n° 11.638, foi imple-
mentada a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) como
complemento à Demonstração do Resultado do Exercício.
Essa nova demonstração tem o objetivo de demonstrar
a riqueza gerada pelas entidades e sua distribuição entre fun-
cionários, governo, acionistas e credores. A riqueza gerada
pela empresa, medida no conceito de valor adicionado é cal-
culada a partir da diferença entre o valor de sua produção e
o dos bens e serviços produzidos por terceiros utilizados no
processo de produção da empresa.
Segundo Zanluca (2010), a utilização do DVA como
ferramenta gerencial pode ser resumida da seguinte forma:
i) como índice de avaliação do desempenho na geração da
riqueza, ao medir a eficiência da empresa na utilização dos
fatores de produção, comparando o valor das saídas com o
valor das entradas, e ii) como índice de avaliação do desem-
penho social à medida que demonstra, na distribuição da
riqueza gerada, a participação dos empregados, do Governo,
dos Agentes Financiadores e dos Acionistas.
Notas Explicativas
São dados e informações que complementam as
demonstrações financeiras para esclarecimento da situação
patrimonial e dos resultados do exercício, ou seja, fornecem
informações sobre determinada conta, saldo ou transação,
ou de valores relativos aos resultados do exercício, ou para
menção de fatos que podem alterar futuramente tal situação
patrimonial (IUDÍCIBUS, 2010).
Segundo Lemes Jr. et al (2010) e Assaf Neto (2010), as
notas devem indicar:
1. os principais critérios de avaliação dos elementos
patrimoniais, especialmente estoques, dos cálculos
17. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
91
de depreciação, amortização e exaustão, de consti-
tuição de provisões para encargos ou riscos, e dos
ajustes para atender a perdas prováveis na realiza-
ção de elementos do ativo;
2. detalhamento dos investimentos relevantes em
outras empresas;
3. o aumento de valor de elementos do ativo resul-
tante de novas avaliações;
4. os ônus reais constituídos sobre elementos do
ativo, as garantias prestadas a terceiros e outras
responsabilidades eventuais ou contingentes;
5. a taxa de juros, as datas de vencimento e as garan-
tias das obrigações a longo prazo;
6. o número, espécies e classes das ações do capital
social;
7. os ajustes de exercícios anteriores;
8. detalhamento de contas agrupadas no balanço,
tais como despesas financeiras líquidas, ativo imo-
bilizado etc.;
9. cálculo do lucro e do dividendo por ação, e do divi-
dendo mínimo obrigatório; e
10. os eventos subsequentes à data de encerramento
do exercício que tenham, ou possam vir a ter, efeito
relevante sobre a situação financeira e os resulta-
dos futuros da companhia.
Parecer dos Auditores Independentes
Todas as empresas de capital aberto são obrigadas a
publicar, com suas demonstrações financeiras, o parecer dos
auditores independentes.
Os Auditores independentes são contadores que, sem
vínculo empregatício, são contratados para emitir opiniões
sobre a correção e veracidade das demonstrações financeiras
18. 92
Gestãofinanceira
(MATARAZZO, 2010). Assim, os auditores verificam os con-
troles interno da empresa, conferem lançamentos e con-
ciliações contábeis e financeiras, de modo a atestar se as
demonstrações estão dentro dos princípios contábeis em uti-
lização no país e se esses princípios foram aplicados de forma
consistente em relação ao período anterior.
Análise de Desempenho Empresarial
A análise das demonstrações financeiras, ou “análise
de Balanços”, visa o estudo do desempenho econômico-finan-
ceiro de uma empresa em determinado momento e é desen-
volvida mediante a aplicação de técnicas simples e bastante
difundidas, como:
Os principais demonstrativos utilizados na aná-
lise econômico-financeira de uma empresa são o Balanço
Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício.
Análise Vertical e Horizontal
“É uma das técnicas mais simples de aplicação e, ao
mesmo tempo, mais importante no que se refere à riqueza
das informações geradas para a avaliação do desempenho
empresarial refere-se à análise horizontal e vertical” (ASSAF
NETO, 2010).
Análise Vertical
• Baseia-se em valores percentuais das demonstra-
ções financeiras;
Análise das
demonstrações
financeiras
Análise vertical
e horizontal
Índices
Econômico-financeiros
19. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
93
• Calcula-se o percentual de cada conta em relação
a um valor-base;
• No Balanço:
1. Calcula-se o percentual de cada conta em
relação ao total do Ativo;
2. Fornece indicadores que facilitam a avalia-
ção da estrutura do ativo e das suas fontes de
financiamento.
3. No Ativo permite analisar a política da
empresa em relação a estoques, duplicatas
a receber, imobilizado e no Passivo permite
visualizar a política financeira de obtenção
dos recursos.
4. Mostra qual o percentual dos recursos totais
foi destinado ao Ativo Circulante e quanto
ao Ativo Permanente, permitindo comparar a
empresa com seus concorrentes e identificar
se a alocação dos recursos é típica do setor ou
ramos de atividade. Exemplo: No comércio é
maior o investimento em Ativo Circulante do
que em Imobilizado, se uma empresa comer-
cial apresentar situação inversa é preciso
investigar as causas desta situação.
• No Demonstrativo de Resultados:
1. Calcula-se o percentual de cada conta
em relação às vendas (receita operacional
líquida).
2. Possibilita avaliar a participação de cada ele-
mento na formação do lucro ou prejuízo da
empresa.
3. Cada item pode ser controlado em função do
seu percentual em relação às vendas. Como
20. 94
Gestãofinanceira
o percentual do lucro líquido em relação às
vendas é pequeno, o controle das despesas é
de grande relevância, pois qualquer alteração
afeta o lucro gerado (qualquer aumento per-
centual nas despesas é indesejável). Por isso,
muitas empresas controlam rigorosamente
estes percentuais através do estabelecimento
de metas.
Análise Horizontal
• Mostra a evolução no tempo de cada elemento
específico. É realizada a partir de um conjunto de
balanços e demonstrações de resultados consecuti-
vos.
• Análise Horizontal Encadeada:
1. Calculada em relação a uma demonstração
financeira básica (geralmente a mais antiga
da série - técnica dos números-índices. Neste
caso, todas as contas do ano-base são iguais
a 100 e através da regra de três calcula-se os
valores para os anos seguintes.
• Análise Horizontal Anual:
1. Calculada em relação à demonstração ante-
rior. Não substitui o processo encadeado, ape-
nas pode ser usada como complementação.
• No Balanço mostra em quais itens do Ativo a
empresa vem dando ênfase na alocação de seus
recursos e, comparativamente, de quais recursos
adicionais se vem valendo, já que permite identifi-
car o crescimento de cada componente do Ativo e do
Passivo.
• Sob condições inflacionárias, os dados da análise
horizontal estarão distorcidos e deverão ser ajustados
21. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
95
com a utilização de um indexador que reflita ade-
quadamente as variações de preço para a empresa. A
homogeneização pode ser realizada para que ocorra
uma deflação dos valores para a data-base.
ATENÇÃO!
Isoladamente estas duas técnicas poderão indu-
zir a erros de avaliação ou encobrir fatos importantes.
Conjuntamente, essas técnicas se completam e permitem
identificar os elementos merecedores de uma investigação
mais profunda.
Por exemplo, uma conta pode ter apresentado uma
variação de 200% pela análise horizontal e continuar sendo
um item irrelevante dentro da demonstração financeira,
já que na análise vertical representa apenas 1% do total
do seu grupo. Ao contrário, um aumento de 20% em uma
conta que representa 80% do seu grupo é um fato relevante.
As duas análises em questão permitem localizar
pontos específicos de falhas, problemas e características da
empresa. A regularidade de comportamento de diversos
itens das demonstrações financeiras é sinal de estabilidade
e segurança. A excessiva flutuação representa elevação
no risco empresarial e a análise vertical/horizontal pode
detectar isso.
Exemplo:
Considere o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo
de Resultado da Empresa “Primeiros Passos S/A” para os
exercícios de 2009 e 2010.
Análise Vertical - Dividir todas as contas pelo total do Ativo.
Exemplo: Disponibilidades = 50.000/1.500.00 = 0,0333 = 3,33%
22. 96
Gestãofinanceira
Empresa Primeiros Passos S/A
(Reais Mil)
Ativo 2010 AV AH 2009 AV AH
Ativo circulante
Disponibilidades 50.000 3,33% 125,00 40.000 3,33% 100
Créditos/contas
a receber
500.000 33,33% 131,58 380.000 31,67% 100
Estoques 220.000 14,67% 122,22 180.000 15,00% 100
Outros ativos 20.000 1,33% 133,33 15.000 1,25% 100
Subtotal 790.000 52,67% 128,46 615.000 51,25% 100
Ativo Não circulante
Realizável a longo prazo
Contas a receber 110.000 7,33% 129,41 85.000 7,08% 100
Investimentos 150.000 10,00% 125,00 120.000 10,00% 100
Imobilização 350.000 23,33% 126,00 280.000 23,33% 100
Intangível 100.000 6,67% 100,00 100.000 8,33% 100
Subtotal 710.000 47,33% 121,37 585.000 48,75% 100
Ativo Total 1500000 100,00% 125,00 1200000 100,00% 100
23. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
97
Análise Horizontal - Dividir cada conta de 2010 pela sua cor-
respondente de 2009 (ano-base)
Exemplo: Fornecedores = 300.000/250.000 = 1,20 = 120
2009 = 100 - 2010 = 120 - Indica um crescimento de 20% na
conta fornecedor no período.
Empresa Primeiros Passos S/A
(Reais Mil)
Passivo 2010 AV AH 2009 AV AH
Ativo circulante
Empréstimos e
financiamentos
100.000 6,67% 222,22 45.000 3,75% 100
Fornecedores 300.000 20,00% 120,00 250.000 20,83% 100
Contas apagar 220.000 14,67% 110,00 200.000 16,67% 100
Impostos, taxas e
contribuições
1200.00 8,00% 114,00 105.000 8,75% 100
Subtotal 740.000 49,33% 123,33 600.000 50,00% 100
Passivo Não circulante
Empréstimos e
Financiamentos
200000 13,33% 160,00 125000 10,42% 100
Subtotal 200.000 13,33% 160,00 125000 10,42% 100
Patrimônio Líquido
Capital social
realizado
300.000 20,00% 100,00 300.000 25,00% 100
Reservas de capi-
tal e de lucros
100.000 6,67% 133,33 75.000 6,26% 100
Lucros e
Prejuízos acumu-
lados
160.000 10,67% 160,00 100.000 8,33% 100
560.000 37,33% 117,89 475.000 39,58% 100
Passivo total 1500000 100,00% 125,00 12000000 100,00% 100
24. 98
Gestãofinanceira
Análise Vertical - Dividir todas as contas pela receita
líquida. Exemplo:
Custos = -300.000/600.000 = -0,5 = -50%
O Custo do produto vendido ou do serviço prestado
consumiu 50% da receita líquida da empresa em 2010.
Empresa Primeiros Passos S/A
(Reais Mil)
Demonstrativo
de resultado
2010 AV AH 2009 AV AH
Receita bruta de
vendas e serviços
800.000 133,33% 123,08 650.000 131,58% 100
(-) Impostos sobre
vendas
(200000) -33,33% 128,21 (156000) -31,58% (100)
(=) Receita
líquida
600.000 100,00 121,46 494.000 100,00% 100
(-) Custos de bens
e serviços
(300000) -50,00% 115,38 (260000) -52,63% (100)
(=) Resultado
bruto
300.000 50,00 128,21 234.000 47,37% (100)
(-) Despesas/recei-
tas operacionais
(220000) -36,67% 129,41 (170000) -34,41% (100)
Com vendas (60.000) -10,00% 120,00 (50.000) -10,12% (100)
Gerais e adm. (50000) -8,33% 125,00 (40.000) -8,10% (100)
Finaceiras 80.000 -13,33% 133,33 (60.000) -12,15% (100)
Outras despesas
Operacionais
(30.000) -5,00% 150,00 (20.000) -4,05% (100)
(=) Resultado
operacional
80.000 13,33% 125,00 64.000 12,15% 100
(+) Resultado não
operacional
20.000 3,33% 200,00 10.000 2,02% 100
(-) Resultado antes
tributação
100.000 16,67% 135,14 74.000 14,98% 100
(-) Provisão para
IR e contribuição
(15.000) -2,50% 135,14 (11.100) -2,25% (100)
Lucro/prejuízo do
exercício
85.000 14,17% 135,135 62.900 12,73% 100
25. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
99
Análise Horizontal - dividir cada conta de 2010 pela
sua correspondente de 2009 (ano-base)
Exemplo:
Lucro Líquido = 85.000/62.900 = 1,35135 = 135,135 2009 =
100 - 2010 = 135,135
Indica um crescimento do lucro da empresa de 35,135%
Índices Econômico-Financeiros
“Índice é a relação entre contas ou grupos de con-
tas das Demonstrações Financeiras, que visa evidenciar
determinado aspecto da situação econômica ou financeira
de uma empresa” (MATARAZZO, 2010). Os índices consti-
tuem a técnica de análise mais empregada em ‘Análise das
Demonstrações Financeiras’.
Podemos dividir a análise através dos índices em
grupos:
Índices de Liquidez
Estes índices permitem avaliar a capacidade da
empresa de honrar os seus compromissos, ou seja, em cons-
tituir fundos que sejam capazes de amortizar as despesas no
curto e longo prazo.
Os índices de liquidez não são extraídos do fluxo de
caixa que comparam entradas e saídas de dinheiro; são índi-
ces que, a partir do confronto de ativos com dívidas, procu-
ram medir quão sólida é a base financeira da empresa.
Índices
Liquidez
Situação
financeira
Situação
econômica
Gestão de caixa
ou ativos
Endividamento
Rentabilidade
Atividade
26. 100
Gestãofinanceira
Uma empresa com bons índices de liquidez tem capaci-
dade de pagar suas dívidas, mas não estará, obrigatoriamente,
pagando suas dívidas em dia em função de outras variáveis
como prazo, renovação de dívidas etc. (MATARAZZO, 2010).
Os principais indicadores são:
Liquidez Geral
Retrata a saúde financeira a longo prazo da empresa.
Um índice de liquidez geral superior a 1 indica que a empresa
consegue pagar todas as suas dívidas (de curto e de longo
prazos) e ainda dispõe de uma “folga” de recursos, entre-
tanto, um índice inferior a 1 revela que a empresa não conse-
guiria pagar, naquela data, a totalidade de suas dívidas; para
quitar suas dívidas terá que utilizar recursos investidos em
outras contas do Ativo, como, por exemplo, em Imobilizado.
Isto não significa que a empresa esteja em insolvência,
já que as dívidas de longo prazo não vencem de imediato e
que até o seu vencimento a empresa poderá gerar recursos.
Liquidez Corrente
Verifica a capacidade da empresa em honrar seus com-
promissos de curto prazo por meio de suas disponibilidades
financeiras, de contas a receber e dos estoques.
Um índice de liquidez corrente superior a 1 indica que
a empresa consegue pagar todas as suas dívidas de curto
com os investimentos de curto prazo, ou seja, indica a exis-
tência de um capital circulante (capital de giro). Um indicador
inferior a 1 revela que a empresa não possui investimentos
Ativo circulante + Realizável a longo prazo
Passivo circulante + Passivo não circulante
LG =
Ativo circulante
Passivo circulante
LC =
27. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
101
de curto prazo suficientes para quitar seus compromissos de
curto prazo, ou seja, indica a existência de um capital de giro
líquido negativo.
Liquidez Seca
Os estoques não apresentam, normalmente, liquidez
compatível com os demais itens do grupo circulante, afinal,
nem sempre é tão rápido vender os estoques. Visando extrair
a baixa liquidez dos estoques (item de maior risco no ativo
circulante), criou-se o indicador de liquidez seca. O risco
dos estoques deriva da possibilidade de roubo, obsolescên-
cia, deterioração e de não serem vendidos e, portanto, de não
serem convertidos em dinheiro, não servindo para o paga-
mento das dívidas. É um risco que depende da empresa, do
mercado e da conjuntura econômica.
Assim, a liquidez seca mede o volume de dívidas de
curto prazo que pode ser pago mediante o uso de ativos cir-
culantes de alta liquidez.
Liquidez Imediata
Também chamado de índice de caixa, reflete o volume
de dívidas de curto prazo que pode ser saldado imediatamente
pela empresa, utilizando suas disponibilidades de caixa.
É o menos importante dos indicadores de liquidez.
Ativo circulante - Estoques
Passivo circulante
LS =
Disponibilidade
Passivo circulante
LI =
28. 102
Gestãofinanceira
Exemplo: Calculando os indicadores de liquidez para a
empresa “Primeiros Passos S/A”.
Índices de Endividamento
Os índices deste grupo mostram as grandes linhas de
decisões financeiras em termos de obtenção de recursos. Os
principais indicadores são:
Endividamento Geral
Mostra o percentual de dependência de recursos de
terceiros para financiar o ativo. É um bom indicador de risco
para a empresa. Elevadas proporções neste índice revelam
que a empresa se encontra excessivamente endividada.
Podemos desmembrar este indicador em dois:
• Endividamento de Curto Prazo: Mostra a porcenta-
gem dos recursos totais da empresa que é financiada
por recursos de terceiros de curto prazo.
• Endividamento de Longo Prazo: Mostra o percen-
tual do patrimônio da empresa que é financiada por
recursos de terceiros de longo prazo.
Índices de
Liquidez
Fórmula 2010 2009 Variação
Liquidez geral (AC+RLP)/(PC+PNC) 0,957 0,966 -0,84%
Liquidez corrente AC/PC 1,068 1,025 4,15%
Liquidez Seca (AC-estoque)/PC 0,770 0,725 6,24%
Liquidez imediata Disponibilidades/PC 0,068 0,067 1,35%
Capital de terceiros x 100
Ativo total
EG =
Capital de terceiros = Passivo circulante + Passivo não circulante
Passivo Circulante x 100
Ativo total
EGcp
=
29. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
103
Participação de Capitais de Terceiros
Indica quanto a empresa possui de dívidas em relação
aos recursos próprios pertencentes aos acionistas. Em geral,
um índice superior a 100% evidencia desequilíbrio entre as
duas fontes de financiamento do Ativo, mostrando o risco ou
a dependência a terceiros, ou seja, do ponto de vista finan-
ceiro quanto maior este índice, maior a dependência do capi-
tal de terceiros.
Composição do Endividamento
Representa o volume de dívidas que deve ser pago no
curto prazo. Subtraindo esse índice de 100% encontra-se a par-
ticipação das dívidas de longo prazo. Por exemplo, se o índice
for de 40%, indica que 40% das exigibilidades deverão ser
pagas no próximo exercício e 60% são dívidas de longo prazo.
Exemplo:
Calculando os indicadores de endividamento para a
empresa “Primeiros Passos S/A”
Passivo não circulante x 100
Ativo total
EGlp
=
Passivocirculante+Passivonãocirculante x100
Patrimônio líquido
PCT =
Passivocirculante
Passivocirculante+Passivonãocirculante
CE = x100
Índices de
endividamento
Fórmula 2010 2009 Variação
Endividamento geral (PC+PNC)/AT 62,67% 60,42% 3,72%
Endiv. de curto prazo PC/AT 49,33% 50,00% -1,33%
Endiv. de longo prazo PNC/AT 13,33% 10,42% 28,00%
Participação de cap. de terc. (PC+PNC)/PL 167,86% 152,63% 9,98%
Composição do endiv. PC/(PC+PNC) 78,72% 82,76% -4,88%
30. 104
Gestãofinanceira
Índices de Rentabilidade
Os índices deste grupo mostram qual a rentabilidade
dos capitais investidos, ou seja, visam medir o quão eficiente-
mente a empresa usa seus ativos e administra suas operações.
Segundo Assaf Neto (2010), “uma análise baseada exclusiva-
mente no valor absoluto do lucro líquido traz normalmente
sério viés de interpretação ao não se refletir se o resultado
gerado no exercício é condizente ou não com o potencial eco-
nômico da empresa”, daí a importância de se trabalhar com
os indicadores de rentabilidade.
Índice de Lucratividade
Também chamado de Margem de Lucro ou
Rentabilidade das Vendas. Mede a eficiência da empresa em
produzir lucro por meio de suas vendas. Pode ser apurado
em termos de lucratividade, bruta, operacional e líquida.
• Índice de lucratividade bruta: Permite avaliar,
percentualmente, o lucro bruto em relação à receita
líquida da empresa, ou seja, qual o percentual de sobra
após descontados os custos dos produtos ou serviços
vendidos.
• Índice de lucratividade operacional: mede o percen-
tual do lucro operacional em relação à receita operacio-
nal da empresa, permitindo conhecer a lucratividade
antes da incidência do imposto de renda e da contri-
buição social.
Lucro bruto
Receita líquida
ILb = x100
Lucro operacional
Receita líquida
Lop = x100
31. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
105
• Índice de lucratividade líquida: é o indicador mais
usado da eficiência global da empresa. Indica quanto a
empresa obtém de lucro para cada R$ 100 vendidos, ou
seja, quanto realmente restou para a empresa depois
de descontados todos os gastos e tributos.
Rentabilidade do Ativo (ou Retorno sobre o
Investimento Total)
Também conhecido como ROA, do inglês Return on
total assets. Este índice mostra quanto a empresa obteve de
lucro líquido em relação ao Ativo. É uma medida do poten-
cial de geração do lucro da parte da empresa, ou seja, mede a
capacidade que os ativos apresentam de gerar lucros.
Rentabilidade do Patrimônio Líquido
Também conhecido como ROE, do inglês Return on
Equity. Mede a relação do lucro líquido em relação ao patri-
mônio líquido (capital próprio investido). O papel deste
indicador é mostrar qual a taxa de rendimento do capital pró-
prio, e por isso é de grande importância para o acionista da
empresa, já que pode ser comparado com a taxa de outros
rendimentos alternativos no mercado, como Caderneta de
Poupança, CDBs, Ações, Aluguéis etc.
Pode-se avaliar se a empresa oferece rentabilidade
superior ou inferior a essas opções.
Lucro líquido
Receita líquida
IL = x100
Lucro líquido
Ativo total
ROA = x100
Lucro líquido
Patrimônio líquido
ROE = x100
32. 106
Gestãofinanceira
Exemplo: Calculando os índices de Rentabilidade para
a empresa “Primeiros Passos S/A”
Índices de Atividade
Os indicadores de atividade visam “a mensuração das
diversas durações de um ciclo operacional, o qual envolve
todas as fases operacionais típicas de uma empresa, que vão
desde a aquisição de insumos básicos ou mercadorias até o
recebimento das vendas realizadas” (ASSAF NETO, 2010).
Ciclo Operacional = Prazo Médio dos Estoques + Prazo Médio
Contas a Receber
Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional - Prazo Médio Fornecedor
Prazo Médio de Estoque (PME)
Índices de
rentabilidade
Fórmula 2010 2009 Variação
Lucratividade bruta LB/LR 50,00% 47,37% 5,56%
Lucratividade operacional LO/LR 13,33% 12,96% 2,92%
Lucratividade líquida LL/LR 14,47% 12,73% 11,26%
Retorno sobre ativo (ROA) LL/AT 5,67% 5,24% 8,11%
Retorno sobre patrimônio LL/PL 15,18% 13,24% 14,62%
Ciclo operacional
Ciclo financeiro
Compra Vende Recebe
Paga
Dias
Prazo médio estoque
Prazo médio fornecedor
Prazo médio contas a
receber
33. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
107
Mensura o período médio necessário para a completa
renovação dos estoques, ou seja, mede o tempo médio em que
os estoques se transformam em vendas.
Obs.: Estoque médio = (estoque final ano 1 + estoque
final ano anterior)/2
Um prazo maior de estocagem acarreta na necessidade
de maiores investimentos no ativo, o que representa um fator
redutor de seu retorno.
Prazo Médio de Recebimento (PMR)
Destaca a administração das contas a receber de uma
empresa, visto que revela o tempo médio que a empresa des-
pende em receber suas vendas a prazo.
É um prazo bastante importante, na medida em que
enquanto uma empresa vende e não recebe, está gerando um
crédito ao cliente, e esse crédito é, na ótica da empresa, algo que
tem que ser financiado. Assim, quanto mais baixo o prazo médio
de recebimento, maior a eficiência da empresa na sua cobrança.
Prazo Médio de Pagamento (PMP)
Mensura o período médio de pagamento das dívidas
(compras a prazo) de fornecedores.
Compras = Custo das Mercadorias Vendidas - Estoque Inicial +
Estoque Final
Estoque Médio
Custo dos produtos vendidos
PME = x 360
Contas a receber
Receita bruta de vendas
PMR = x 360
Fornecedores
Compras
PMP = x 360
34. 108
Gestãofinanceira
Assim, quanto mais elevado o prazo médio de paga-
mento, maior a fatia da atividade da empresa que é financia-
das pelos fornecedores.
Exemplo: Calculando os indicadores de atividade para
a empresa “Primeiros Passos S/A”:
Obs.: considere o estoque final de 2008 de $ 150.000
Matarazzo (2010) destaca que a análise através de
índices financeiros é genérica, relaciona grandes itens das
demonstrações financeiras e permite dar uma avaliação à
empresa.
A análise vertical e horizontal dá um detalhamento
que permite localizar pontos específicos de falhas, proble-
mas, características da empresa e explicar os motivos de a
empresa estar em determinada situação. Daí a importância
de se trabalhar com todas essas técnicas em conjunto.
Aviso Importante
Como nosso objetivo é analisar os demonstrativos
financeiros como um todo, nosso relatório será descritivo e
por ser o primeiro, detalhado. Procuraremos descrever as
principais contas.
Índices de
atividade
Fórmula 2010 2009 Variação
Prazo médio de estoque
(estoque
médio/CPV)
x360
240 228 5,05%
Prazo médio de contas
a receber
(contas rec/
RB)x360
225 210 6,91%
Prazo médio de
fornecedores
(fornecedor/
compras)x360
318 310 2,35%
OBS: estoque médio = (est. inicial + est. final)/2 200.000 165.000
compras = custo produto vendido - est.
inicial + est. final
340.000 290.000
35. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
109
Em vermelho colocaremos algumas observações que
não pertecem a um relatório comum, mas que estão aponta-
das no exercício para facilitar a localização das informações
para estudo.
É HORA DE FIXAR
Considere a análise vertical, análise horizontal e os
índices econômico-financeiros da empresa nos anos de 2010
e 2009 calculados ao longo desta unidade para a empresa
“Primeiros Passos S/A”. Produza um relatório destacando os
principais pontos observados na análise dos demonstrativos
desta empresa.
Obs.: Não existe um modelo padrão de relatório. Cada
analista o confecciona conforme seus objetivos (conceder cré-
dito, por exemplo). Alguns fazem na forma de texto, outros
na forma de tópicos, podem considerar todos os índices ou
apenas os índices mais relevantes para o objetivo da análise.
RESOLUÇÃO: Sugestão de relatório
Houve um crescimento de 25% no Ativo Total da
Empresa (passando de 1.200.000 em 2009 para 1.500.000 em
2010). O Ativo circulante cresceu 28,46% (passando de 615.000
para 790.000), elevando sua participação no total do patri-
mônio da empresa (antes correspondia a 51,25% e em 2010
passou para 52,67%). Os créditos/contas a receber são a conta
mais significativa do Ativo circulante, visto que correspon-
dem a 33,33% do total do patrimônio. Os estoques, apesar do
crescimento de 22,22% (antes eram 180.000 e passaram para
220.000) tiveram uma pequena queda na representatividade
dentro patrimônio da empresa, passando de 15% em 2009
para 14,67% em 2010.
O Ativo Não Circulante também contribuiu para o
aumento no patrimônio, visto que sofreu uma elevação de
21,37% (em 2009 era 585.000 e em 2010 passou para 710.000).
36. 110
Gestãofinanceira
Apesar deste crescimento, a representatividade dentro do
ativo total sofreu uma ligeira redução, passando de 48,75%
para 47,33%. Esta redução ocorreu pela queda da participa-
ção do Intangível (mesmo com a manutenção do seu valor
monetário em 100.000, a participação passou de 8,33% em
2009 para 6,67% em 2010).
O Passivo Circulante sofreu queda, passando de 50%
para 49,33% do total do Passivo, em decorrência da redução
na participação das contas a pagar. O nível de endividamento
geral da empresa aumentou em virtude da elevação nos
empréstimos de curto e de longo prazos (ver indicadores de
endividamento). O endividamento geral da empresa mostra
que 62,67% dos recursos foram obtidos de terceiros, enquanto
o capital próprio financia apenas 37,33% do ativo total (mos-
trado pelo Patrimônio Líquido que em 2009 era 39,58% e em
2010 passou para 37,33%).
Além disso, cabe ressaltar que a empresa possui
um Capital Circulante Líquido (Ativo Circulante - Passivo
Circulante) positivo, o que mostra que a empresa é capaz de
saldar suas dívidas de curto prazo com seus recursos dispo-
níveis também no curto prazo (perceptível pelos indicadores
de liquidez, especialmente a liquidez corrente).
As vendas brutas cresceram 23,08% no período e ocor-
reu uma pequena e importante redução nos custos dos pro-
dutos vendidos, os quais passaram de 52,63% para 50% de
absorção das vendas, fatos que levaram a um aumento no
lucro bruto (índice de lucratividade bruta – em 2009 era 47,37%
e em 2010 passou para 50%). As despesas operacionais, por
sua vez, sofreram um aumento de 29,41%, passando a consu-
mir 36,67% das vendas líquidas. Mesmo com o aumento nas
despesas, a lucratividade operacional sofreu elevação (índice
de lucratividade operacional: 2009 = 12,96%; 2010 = 13,33%, o
37. AnálisedasDemonstraçõesFinanceiras
111
que mostra que as operações da empresa trouxeram aumento
na rentabilidade). O aumento na rentabilidade operacional,
associado à ampliação das receitas não operacionais, resul-
tou .em um aumento na margem líquida de lucro, que passou
de 12,73% em 2009 para 14,17% em 2010. Merece destaque o
aumento na rentabilidade do ativo e dos acionistas (ver ROA
e ROE).
Referências
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Paulo: Atlas, 2010.
GITMAN, L. Princípios de Administração Financeira. 12.
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HIGGINS, R.C. Análise para Administração Financeira. 8.
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IUDÍCIBUS, S. Análise de Balanços. 10. ed. São Paulo: Atlas,
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LEMES JR., A. B. et al. Administração Financeira: princípios,
fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Cam-
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MATARAZZO, D. C. Análise Financeira de Balanços – abor-
dagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
PORTAL DE CONTABILIDADE. A DFC – Demonstração dos
Fluxos de Caixa. Disponível em: http://www.portaldecon-